quarta-feira, 10 de junho de 2020

Nós Matamos o Cão Tinhoso – Luiz Bernardo Honwana - Breve Nota

Nós Matamos o Cão Tinhoso é um conto de Luiz Bernardo Honwana, foi publicado pela primeira vez em 1964 em Moçambique. Esta obra faz parte de um livro de sete contos de Honwana sendo esse o maior deles e o que carrega o titulo do livro. (ou o livro que leva o titulo do conto).
Bom, se não fosse o fato de ser considerado um conto clássico, devido principalmente ao contexto histórico em que foi escrito e lançado, a trama do texto já teria sua importância para pensar na subjetividade do ser humano. Ginho é uma criança esperta para algumas atividades, mas se deixa levar facilmente por determinações que outras pessoas colocam. Ele representa a dúvida, um leque de atitudes para tomar, representa um momento de escolhas e afirmação! Mas qual caminho seguir?
Sua dúvida maior é a de que se deveria ou não matar o cão sujo que todos ignoram, nem outros cães chegam perto dele, por isso Cão Tinhoso, que remete a sujeira/sarna e não a teimosia, como no português brasileiro. Aliás, o texto que li era o português de Moçambique e continha algumas expressões próprias de lá, assim como, por vezes, a linguagem de uma criança, pois Ginho é quem narra o conto.
Apenas Isaura é quem mantém afeto ao cão, que dá carinho e divide seu lanche com o Cão Tinhoso. Não é a toa que ela é tida como louca na escola, assim pensam.
Desse modo, trazendo ao momento político de Moçambique, as décadas de 60 e 70 foram cruciais para as lutas de libertação e de independência, não só em Moçambique como no continente africano. Eram lutas violentas contra o poderio colonial, foi um momento de busca de autodeterminação política e histórica, momento de emancipação, novos rumos a renascer outros caminhos.
Afinal, que lado o Cão Tinhoso representa? Por que matar o cão? Quem mandou matar o cão? O que as crianças armadas representam nesse momento, especialmente Ginho e Isaura? Essas são algumas das reflexões e analogias possíveis a partir desse conto.
Pra mim o cão tinhoso deveria representar o sistema colonial! No entanto, tudo indica que o cão demonstra a situação das pessoas pretas, e Ginho, um menino preto, deveria matar a serviço e a mando do sistema branco, que procuram justificativas para amenizar as culpas. Seria, então, Ginho um capitão do mato? E pior, o que nem recebe nada por isso a não ser o prestígio de ser aceito num grupo...  
Enfim, um conto rápido que evidencia todo esse sistema hierarquizado até os dias de hoje.

Fuca, Insurreição CGPP
2020

Tem a edição de 2017 da editora Kapulana.


Sobre o Autor
LUÍS BERNARDO HONWANA nasceu em 1942, na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), e cresceu em Moamba, cidade do interior, onde seu pai trabalhava como intérprete. 1964 foi o ano da primeira publicação de Nós matamos o Cão Tinhoso!. No mesmo ano, Honwana, militante da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), foi preso por suas atividades anticolonialismo, e permaneceu encarcerado por três anos. Em 1970, foi para Portugal estudar Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Após a Independência de Moçambique, em 1975, foi nomeado Diretor de Gabinete do Presidente Samora Machel, e participou ativamente da vida política do país. Em 1982, tornou-se Secretário de Estado da Cultura de Moçambique e, em 1986, foi nomeado Ministro da Cultura de Moçambique. Em 1987, foi eleito membro do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Em 1991, fundou e foi o primeiro Presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa. Em 1994, foi convidado para entrar para o Secretariado da UNESCO e foi nomeado Diretor do escritório regional da organização, com base na África do Sul. Honwana é membro fundador da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique, da Associação Moçambicana de Fotografia e da Associação dos Escritores Moçambicanos. Atualmente, é o diretor executivo da Fundação para a Conservação da Biodiversidade (BIOFUND).


segunda-feira, 1 de junho de 2020

A Origem do Negro - Tony Browder + Vídeo legendado

- Ensaio extraído do livro From The Browder File (Arquivo do Browder), que é um conjunto de 22 ensaios de Anthony T. Browder.
- como adicional, tem-se um episódio do From The Browder File contendo a transcrição da legenda do vídeo no final do post.




A Origem do Negro

Escolha um nome, qualquer nome - negro, de cor, preto ou afro-americano. Chame as pessoas por qualquer nome e elas ainda são as mesmas, certo? Errado!
O nome ao qual você responde determina o grau de sua autoestima. Da mesma forma, a maneira como as pessoas respondem coletivamente a um nome pode ter efeitos devastadores em suas vidas, principalmente se elas não escolherem seu nome.
Os asiáticos vêm da Ásia e têm orgulho da raça asiática. Os europeus vêm da Europa e têm orgulho das realizações europeias. Os negros, devo presumir, vêm da Negrolândia - um país mítico com um passado incerto e um futuro ainda mais incerto. Como a Negrolândia é um mito, de onde se originou o mito do negro? A chave para entender o significado de negro, é saber a definição dessa palavra e sua origem.
Os portugueses foram os primeiros europeus a escravizar os africanos e foram os primeiros a chamá-los de negros. Quando os espanhóis se envolveram no tráfico de escravos, eles também usaram a palavra negro para descrever os africanos. Negro é um adjetivo que significa preto em português e espanhol. Mas, desde 1444, e o início do tráfico de escravos, o adjetivo negro tornou-se um substantivo e o nome legítimo de um povo recém-escravizado.
As línguas portuguesa e espanhola foram derivadas do latim, que tem sua origem na Grécia clássica. Na maioria dos idiomas europeus, a palavra preto era tipicamente associada a aspectos de morte. A palavra morte é derivada da palavra grega necro, que significa morto, e é semelhante, em som e significado, à palavra negro. Ao longo da história europeia, as palavras necro e negro foram comumente usadas para referenciar a morte física, espiritual ou mental de uma pessoa, lugar ou coisa.
Historicamente, quando os gregos viajaram para a África, 2.500 anos atrás, a civilização egípcia já era antiga. A Grande Pirâmide tinha mais de 3.000 anos e a Esfinge era ainda mais antiga. A escrita, ciência, medicina e religião já faziam parte da civilização e atingiram seu auge.
Os gregos vieram para a África como estudantes e sentaram aos pés dos mestres para descobrir o que os africanos já sabiam. Em qualquer relação aluno/professor, o professor só pode ensinar o quanto o aluno for capaz de entender.
Os egípcios, como outros africanos, entendiam que a vida existia além do túmulo. A adoração ancestral é uma maneira de reconhecer a vida das pessoas que vieram antes de você e a capacidade delas de oferecer orientação e direção aos vivos. Os templos foram projetados como lugares onde os antepassados podiam ser honrados e os feriados (dias santos) eram os dias designados para isso.
Os egípcios tinham centenas de templos e centenas de dias santos para adorar seus ancestrais. Eles estavam preocupados com a vida e comemoravam o legado de seus entes queridos. Mas os gregos pensavam que esses africanos tinham uma preocupação com a morte. Eles [os gregos] consideraram o ato de culto ancestral como necromancia ou comunicação com os mortos.
Como a palavra raiz necro significa morto, outra palavra para necromancia é magia - a Velha Magia Negra que era praticada na África antiga. Quando os gregos voltaram para a Europa, levaram consigo suas crenças distorcidas e a palavra negro acabou evoluindo a partir desse grande mal-entendido.
Menos de 300 anos depois que os primeiros gregos chegaram ao Egito como estudantes, seus descendentes retornaram como conquistadores. Eles destruíram as cidades, os templos e as bibliotecas dos egípcios e reivindicaram o conhecimento africano como deles.
Não apenas o legado africano foi roubado, mas o roubo por atacado do povo africano logo se seguiu. Com o surgimento do tráfico de escravos e a criação [da palavra] negro, tornou-se necessário desumanizar os africanos e desvalorizar seu valor histórico como povo, a fim de garantir seu valor como escravos. O que antes era chamado de cor e condição física, agora é considerado um estado mental adequado para milhões de africanos que residem atualmente na América.
Então, aí está, o negro - uma raça de pessoas mortas, com uma história morta e sem esperança de ressurreição enquanto eles permanecerem ignorantes de seu passado. Foi uma morte tripla - a morte da mente, do corpo e do espírito do povo africano.
Era estritamente proibido os escravos negros aprenderem a ler ou escrever. Esse conhecimento era a chave da libertação e foi colocado firmemente fora de alcance. À medida que os negros eram educados, eles tentavam se redefinir.
A evolução do negro para (pessoa de cor), preto, afro-americano e africano representa uma progressão da autoconsciência. Como povo livre, temos a responsabilidade de nos educar e redescobrir nossas identidades africanas. O conhecimento de si é a chave para abrir a porta para o futuro. Quanto mais cedo entendermos esse fato, mais cedo poderemos dizer graças a Deus que somos um povo africano.

Comentário

De todos os ensaios do From The Browder File (Arquivo do Browder), "A Origem do Negro" foi um dos mais populares. Foi bem recebido por duas razões óbvias, o assunto e a ilustração que o acompanha, especificamente a imagem da figura majestosa que emergia da África.
A ilustração foi desenhada por Malcolm Aaron e recebemos vários pedidos de pessoas que pediram permissão para usar a arte em camisetas e pôsteres. Vários anos atrás, enquanto eu lecionava em uma base da Força Aérea em Misawa, no Japão, me disseram que essa arte era a tatuagem mais popular entre os irmãos nas forças armadas. Esta imagem de um rei africano forte é aquela para a qual qualquer ex-negro seria naturalmente atraído.
Com relação à palavra negro e à legitimidade de seu uso como nome para os africanos, remeto ao livro de Richard Moore, O nome "Negro" sua origem e mau uso. Não há dúvida de que a palavra negro foi criada por pessoas más para propósitos malignos. O falecido John Henrik Clarke costumava nos lembrar de que "cães e escravos eram nomeados por seus senhores e que apenas homens livres se denominavam". Com esse entendimento, qualquer pessoa de mente livre deve ver a palavra negro como um nome inadequado para pessoas pretas e organizações pretas.
Compreendo nossa aceitação do nome anos atrás, quando não sabíamos. Mas, com todo o conhecimento que temos à nossa disposição, não há desculpa para o uso contínuo de uma palavra que é humilhante e obsoleta.
Como um negro em recuperação, prometi a mim mesmo nunca escrever negro com uma maiúscula "N”. Negro não é um substantivo, é um incômodo e deve ser descartado de nosso vocabulário junto com a outra infame palavra "N". Quem optar por usar essas palavras o faz por ignorância ou desrespeito.
O rei ou rainha latente dentro de você não pode coexistir pacificamente com uma mentalidade negra. Ou você escolhe ser livre e pensa, fala e age como uma pessoa livre, ou você é um escravo. Você não pode ser os dois.

Referências e leituras selecionadas
Anderson, S.E., The Black Holocaust For Beginners, New York, N Y and Readers Pub. Inc, 1995.

Diop, Cheikh Anta, African Origin of Civilization: Myth or Reality, New York, NM Lawrence Hill, 1974.

James, George GM., Stolen Legacy, San Francisco, CA, Julian Richardson, 1976.

Moore, Richard B., The Name “Negro” Its Origin and Evil Use, Baltimore, MD, Black Classic Press, 1992.

Williams, Chancellor, The Destruction of Black Civilization, Chicago, IL, Third World Press, 1976.


Arquivo do Browder: Episódio 1

No começo, nossos ancestrais não sabiam nada. Eles estudaram por quatro mil anos. Eles aprenderam tudo o que havia para saber. Eles ensinaram os outros. Depois veio o Maafa, o grande desastre.
Na escravidão era ilegal os africanos ler e escrever. Eles foram forçados a esquecer de tudo o que haviam aprendido e ensinado. Depois de 400 anos esquecendo, eles esqueceram que tinham esquecido.
Isso muda hoje, vou lembrar por eles. Vou ler por eles, vou escrever por eles. Vou ensinar por eles, vou me certificar de que nunca mais serão esquecidos.

Sou Tony Browder e bem-vindo ao primeiro de uma série de programas e ao meu livro From The Browder File. Antes de começarmos o programa, eu gostaria de falar um pouco sobre mim.
Nasci em uma família monoparental, minha mãe tinha 16 anos quando eu nasci. Ela morava com os pais no oeste de Chicago. Minha mãe sempre se interessou em que eu obtivesse uma educação da melhor qualidade que eu pudesse.
Então quando eu entrei no ensino médio. Nós nos mudamos de Chicago para Oak Park, que é um subúrbio ocidental da cidade e durante esse período, éramos a segunda família afro-americana a morar em Oak Park, e em meus três anos na escola Oak Park River Forest de um corpo estudantil de mais de 3000 estudantes, nunca houve mais que dois afro-americanos, em toda a escola.
Eu recebi uma ótima educação. Aprendi a amar a aprender. Aprendi a amar a ler, mas também aprendi que havia uma profunda ausência de informações sobre quem eu era como pessoa de ascendência africana.
Isso foi no final dos anos 60, durante o auge do movimento Poder Preto e o Movimento da Consciência Preta, e então eu estava imbuído de uma sensação de orgulho Preto, vivendo e frequentando uma escola de ambiente totalmente branco.
Após o colegial, frequentei a Universidade de Illinois por um semestre em que me formei em arquitetura e depois, mudei meu curso quando fui para a Universidade Howard. Minha formação é em design gráfico e publicidade. Só me interessei por história e cultura depois de me formar na Universidade Howard. Quando comecei a aprender a verdade sobre quem eu era enquanto uma pessoa de ascendência africana.
Desse modo, esta jornada de iluminação, me levou a começar a saber mais sobre quem eu era como ancestral da África. Documentei meu conhecimento através dos meus escritos, das minhas ilustrações, desenhos. E então comecei a dar palestras e seminários enquanto eu viajava pelo país. E depois eu também viajei por toda a África e pelo mundo. Documentando essas novas informações sobre nossa história e cultura coletiva.
Então eu vim escrever From The Browder File como resultado de minha participação no programa Cathy Hughes Morning Show em 1986 em Washington DC. A sra. Hughes ficou tão impressionada com meu conhecimento que me convidou regularmente ao seu programa.
Mas foi minha primeira aparição no Cathy Heghes Morning Show que motivou uma ligação de Francis Murphy, que lecionava na Escola de Comunicação da Universidade Howard. Ela era a editora do jornal afro-americano de Washington e me convidou para escrever um artigo sobre um dos assuntos da minha primeira entrevista.
O assunto foi “A Origem do Negro” e após nossa conversa inicial, concordei em escrever uma coluna quinzenal sobre vários aspectos sobre a história e cultura Africana e afro-americana. Eu escrevi essas colunas ao longo de dois anos e foi isso que constituiu meu primeiro livro intitulado “Arquivo do Browder: 22 ensaios sobre a experiência Africano-americana”.
O que realmente colocou em movimento este programa, que você está envolvido agora com o estudioso Browder, foram as cartas que recebi de dezenas de afro-americanos encarcerados durante 1990. Todo mês eu recebia dezenas de cartas de jovens irmãos, que estavam trancados atrás das grades e liam pela primeira vez em suas vidas. Que tiveram base em suas vidas pela primeira vez e muitas das cartas diziam que meu livro From The Browder File foi o primeiro livro que eles leram de ponta a ponta.
E como resultado das leituras sobre história e cultura africana e afro-americana. Eles começaram a se orgulhar mais de si mesmos e começaram a entender como e por que eles foram desviados. Foi essencialmente uma falta de conhecimento de si mesmo que resultou em desrespeitar a si próprio cometendo crimes contra pessoas em suas comunidades. Vendendo drogas, brigando, roubando e, as vezes, por fim,  matando outras pessoas.
Contudo, como resultado da leitura, eles começaram a se ver de maneira diferente. E muitas das cartas expressam os mesmos comentários. Que eles gostariam de ter lido este livro mais cedo em suas vidas. De tal forma que não estariam cumprindo 10, 15, 20, anos de prisão ou prisão perpetua.
E outra pergunta frequente em suas cartas foi, como eles conseguiriam levar essas informações para seus filhos para que eles não seguissem os passos de seus pais.
Isso me levou a começar a ver o que eu poderia fazer em levar mais essas informações contidas no The Browder File para nossos rapazes e moças antes que eles sigam o caminho errado e acabem encarcerados.
Por isso, iniciamos o The Browder Scholars Program para reunir principalmente um grupo de estudantes afro-americanos e expô-los ao conhecimento e à informação que eles provavelmente não encontrariam em sua experiência educacional, do ensino fundamental, ensino médio e, infelizmente, até da faculdade.
Há informações proibidas que não podem fazer parte do nosso sistema educacional tradicional. Aprendi a incentivar nosso povo a ler, porque é cultivando o apetite pela leitura que você pode entender o porquê quando nossos ancestrais foram escravizados centenas de anos atrás aqui neste país, nos Estados Unidos da América, era ilegal para pessoas de ascendência africana, que foram roubadas de sua terra natal, ler narrativas sobre de onde elas vieram. Lembrar-se de como elas foram roubada e de como elas estavam sendo abusadas
Nossa incapacidade de acessar um conhecimento preciso de nós mesmos é o que contribui para a nossa contínua falta de respeito um pelo outro e por nós mesmos. Agindo como um povo perdido e assim quando comecei a aprender o poder do conhecimento, o poder da leitura e de que compartilhando essas informações com outras pessoas pode transformar vidas. Organizei uma série de palestras em Washington DC a partir de 1987. E nosso primeiro orador convidado foi o Dr. Asa Hilliard III.
Dr. Hillard era um psicólogo acadêmico. Ele era um historiador e se tornou um amigo muito próximo e meu Jagna. Usamos a palavra Jagna em vez de mentor porque Jagna é um termo amárico originário da Etiópia, na África Oriental. E representa uma pessoa que é defensora da cultura. Alguém que transmite informações culturais e históricas aos jovens, a fim de colocar seus pés em um caminho que os levará a se tornarem adultos positivos e produtivos em suas comunidades.
Foi a minha afinidade com o dr. Hilliard que me levou a convidá-lo a escrever a introdução do From The Browder File, quando foi publicado em 1989. Agora, em 1989, poucas pessoas tinham ouvido falar de Tony Browder ou Anthony Browder. Mas as pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo conheciam o Dr. Hilliard, conheciam seu trabalho como psicólogo, seu trabalho como mestre educador, seu trabalho como historiador. Uma pessoa que levou milhares de professores e administradores para o Egito em seu estudo anual. Onde ele literalmente transformou suas mentes ao mostrar-lhes a história de 5000 anos que nossos ancestrais haviam criado no Vale do Nilo.
O Dr. Hilliard, em sua introdução ao “From The Browder File”, listou os fatores que contribuem para um sentimento de desunião entre as pessoas de ascendência africana. Ele falou sobre a necessidade de estabelecer uma declaração mental de independência, a necessidade de nos tornarmos pensadores conscientes e, assim, esses dez tópicos ajudaram a estabelecer as bases de como as pessoas deveriam usar este livro From The Browder File.
Eu gostaria de referenciar esses 10 pontos muito rapidamente, para que você possa entender os fatores que aconteceram centenas de anos atrás. Eles contribuem para o nosso atual estado de desunião e desordem. E que, ao entender como essas forças ainda nos impactam mais de 100 anos após o fim da escravidão.
Por fim, podemos começar a assumir uma responsabilidade pessoal e mudar a forma de como pensamos. Mudar a forma como agimos e modelar para nós mesmos, nossa comunidade e nossos filhos, o que realmente é empoderamento cultural africano que homens e mulheres devem seguir. E como eles deveriam se comportar.
Quero destacar esses 10 pontos que o Dr. Hilliard disse que contribui para a nossa falta de senso de unidade e direção.
A primeira é que abandonamos nossos nomes. Nós não sabemos quem somos. Não sabemos de onde viemos na África,
O segundo ponto é que renunciamos o modo de vida de nossa cultura. Adotamos os modos de vida das pessoas diferentes de nós.
A terceira é que perdemos nosso ímpeto, porque perdemos nossos nomes e abandonamos nosso modo de vida em nossa cultura. E o que geralmente acontece é que, onde uma pessoa desenvolve uma consciência africana e procura compartilhar essas informações com seus familiares e amigos. Uma das afirmações que é ouvida com frequência é: ”oh, você aqui de novo com essas coisas de Preto.”
Como se houvesse algo errado em falar sobre quem somos e elevar a história de nossos ancestrais. Somos Pretos, seremos pretos por toda a vida e, portanto, a melhor coisa que podemos fazer é celebrar quem somos, estudando nossa história e cultura. Modelando isso para nossos jovens e ensinando-os o orgulho de nossos ancestrais.
O quarto ponto que Dr. Hilliard levantou foi que temos uma perda geral de memória. Poucos de nós conseguem contar a história do povo africano sem começar essa história em nossa escravidão, como se nossa escravização fosse a única coisa que já aconteceu conosco. Esta é uma mentira que foi criada e perpetuada por nossos escravizadores a fim de nos manter mentalmente escravizados e como Dr. Hilliard costumava dizer, a escravidão mental é pior que escravidão física. Porque os escravos mentais pensam que são livres e nunca perceberam os grilhões em nossas mentes.
O quinto ponto que ele levantou é que criamos falsas memórias. Temos lembranças imprecisas do povo africano, da história africana e da cultura africana. Também temos lembranças imprecisas da história europeia, do povo europeu e cultura europeia. Nós, na América, fomos ensinados a acreditar que Cristóvão Colombo descobriu a América e um fato fundamental com o qual devemos nos perguntar é, como alguém pode descobrir uma terra quando as pessoas já estão lá? E o “descobrimento” da América foi em 1492, que definiu o quadro para a dizimação dos povos indígenas desta terra, que por engano ainda nos referimos hoje como Índios. E então, com sua dizimação, estabeleceu o processo europeu de escravização do povo africano. O que resultou na morte de mais de 50 milhões de homens, mulheres, crianças, que foram roubados de suas terras da África Ocidental. Assim, com o roubo do povo africano, depois da destruição da história, cultura e memória dos povos indígenas. Os europeus fabricaram mentiras para se elevarem como heróis, como descobridores, como homens de grande valor. Quando, de fato, o registro histórico documenta que eles estiveram entre os maiores ladrões, mentirosos e manipuladores do mundo. Então, parte da jornada, que encorajo a todos a participarem desta leitura dos ensaios do The Browder File, é uma jornada para a iluminação. Mas começaremos a aprender a verdade sobre nós mesmos e ter uma maior compreensão de quem são os outros. Que continuam a influenciar nossas vidas hoje.
O sexto ponto que Dr. Hilliard levanta é que perdemos nossa terra. Perdemos nossos laços com a terra, perdemos a África há mais de 400 anos. O povo africano foi roubado da pátria. E então, por quase 100 anos, os europeus tomaram, dividiram e colonizaram a África. Aproveitou todos os recursos existentes e os explorou. Para seu próprio ganho pessoal, como resultado de mais de 500 anos de roubo de pessoas, terras e recursos, a África é pobre e a Europa é rica. A única razão pela qual a Europa é rica é que ela roubou o povo africano e os recursos africanos. A única razão pela qual a África é pobre é por causa da perda de mais de 50 milhões de pessoas, e uma quantidade incalculável de ouro, diamantes e outros recursos que abasteceram o mundo por centenas e centenas de anos.
O sétimo ponto da referência do Dr.Hilliard é que perdemos nossa capacidade de produção independente. Nós fomos programados e socializados para sermos consumidores e não produtores. Nossos ancestrais foram responsáveis por criar a civilização documentada mais antiga deste planeta. Fomos os primeiros seres humanos a ler, escrever e raciocinar. Mas agora nos socializamos para consumir tudo o que foi criado por esse mundo europeu e abraçar esse conteúdo ou consumi-lo como se fosse a única coisa de valor. Então temos que começar a entender quem éramos para que possamos nos tornar essas grandes pessoas novamente.
O oitavo ponto da referência do Dr.Hilliard é que perdemos o controle independente de nós mesmos. Não controlamos mais nossos bairros, nossas comunidades. Não controlamos mais os meios de empregar nossa força de trabalho. Não controlamos mais nossos sistemas educacionais, nem mídia que socializa nossos comportamentos. Tudo isso que é essencial para o nosso desenvolvimento como indivíduos e como povo. Tudo isso é muito importante em moldar a mente dos jovens. Quem controla seu sistema educacional determina o que você sabe; e o que você sabe, determina como você pensa e como age. Quem controla a mídia determina sua percepção de si mesmo. Determina quais são os nossos modos legítimos e ilegítimos de comunicação e comportamento. E como sabemos muito bem, olhando para a mídia, seja televisão, rádio, mídia impressa, filme ou vídeo, continuamos a ser apresentados como pessoas indesejáveis, criminosos, traficantes e pessoas que nem em nossa mente queremos nos identificar. Desse modo, temos que recuperar o controle dos sistemas que influenciam nossos pensamentos e nosso comportamento. Nosso sistema educacional nossos sistemas de mídia e os meios de emprego para que possamos nos capacitar e apoiar aqueles indivíduos e instituições que ajudarão a trazer o melhor de nós mesmos e o melhor nas gerações futuras.
E depois Dr. Hilliard disse que perdemos nossa sensibilidade. Esta é a nona referência. Perdemos a capacidade de saber quando outras pessoas estão nos menosprezando e aceitamos retratos imprecisos do povo africano como se fossem verdadeiros. Quando você internaliza percepções negativas da realidade. Você, subconscientemente, abraçará esses aspectos negativos como autênticos para si mesmo. Portanto, é sobre saber quem você é, sobre agir com base nesse conhecimento e compartilhar esse conhecimento com outras pessoas para que você possa iniciar o processo de uma jornada para a iluminação. Semeando pensamentos nesse processo de restaurar sua memória histórica e cultural de que você pode se tornar seu Eu verdadeiro e autêntico.
O décimo ponto que dr. Hilliard diz é o resultado cumulativo de todas essas coisas. Perdemos nosso senso de unidade e direção. E assim, o único recurso para aqueles de nós que tomam tempo para ler e estudar retratos precisos das contribuições contínuas do povo africano à história e às culturas, é apenas redescobrindo essas novas informações que podemos começar a conhecer nosso verdadeiro Eu. Comece a agir e a falar de uma maneira que glorifique nossos ancestrais e apresente-os aos jovens para que tenham capacidade de se tornar gloriosos, da mesma forma.
Portanto, esses são os objetivos básicos dos ensaios do From The Browder File para apresentar a você informações que a maioria de nós nunca receberá em um ambiente educacional formal e para mostrar como internalizar essas informações históricas, realizar mais pesquisas sobre os assuntos referenciados, agora essas novas informações podem te guiar no caminho do conhecimento, e isso fará com que você faça contribuições positivas para sua família, para sua comunidade e para o mundo africano.
Então aproveite a leitura e a discussão do From The Browder File.
Isso levará ao caminho da iluminação.

Fuca, Insurreição CGPP, 2020.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

O Mundo se Despedaça – Chinua Achebe – Breve Nota

Considerado um clássico da literatura mundial, O Mundo se Despedaça, de Chinua Achebe, é uma leitura importantíssima para se ter contato ao universo do povo Ibo no que hoje se situa o país nigeriano. O primeiro ponto a se destacar é que o romance se dá num período pré-colonização. Assim, Achebe escreveu acerca da vida, costumes, crenças e tradições do povo Ibo antes da invasão colonial.

Bom, após a leitura de A Paz dura Pouco, (post anterior) fiquei sabendo que na verdade se tinha uma trilogia de Chinua Achebe sendo O mundo se despedaça o primeiro deles, então ficou invertida a ordem, mas não alterou tanto a compreensão. E ano passado eu tinha iniciado a leitura de A Flecha de Deus e por incrível que pareça não fiquei empolgado de terminar, ainda pretendo, pois fecha a trilogia.

O livro é dividido em três partes ao longo dos seus 25 capítulos, e essas partes se separam conforme a trajetória de Okonkwo. Parte 1: Se refere a trajetória da infância de Okonkwo até se tornar um guerreiro. Parte 2: Okonkwo é condenado a exilar-se em outra aldeia com suas mulheres e filhos, pois cometeu um crime contra um irmão de aldeia. Parte 3: A volta de Okonkwo para sua aldeia Umuófia, agora já com a chegada da igreja dos ingleses.

Em linhas gerais, Okonkwo era um guerreiro Ibo no sentido de que desde jovem se deu bem nas lutas tradicionais da aldeia, e sua inclinação ao trabalho se revelou outra característica de guerreiro, num povo que se estabelecia com títulos, comprovando hierarquicamente o valor de cada homem. O maior medo de Okonkwo era ser um fracassado tal qual fora seu pai, algo que o perseguia a todo instante e o inspirava a ser o oposto disso.

O povo de Umuófia era muito devoto aos deuses e divindades, onde os mais velhos comandavam esse dialogo entre as pessoas e os deuses, e assim tomavam as atitudes necessárias para que se estabelecesse um bem viver e uma justiça conforme as tradições ancestrais. Desse modo, o autor desvelou como aquela sociedade se comportava naquela dada época, aglutinando tradição oral com sua perspicácia literária.

Okonkwo viu seu anseio por títulos em sua aldeia se desmoronar ao ter que se exilar, nesse momento lhe bateu a tristeza, conseguiu sobreviver em sua nova morada e após sete anos pôde retornar à sua terra. No entanto, a aldeia já não era mais a mesma, a intervenção dos brancos já havia ocorrido e estava se consolidando pouco a pouco.

Primeiro os missionários vieram em paz e chegaram num ar de conciliação e convictos de que eles detinham o poder da salvação e o verdadeiro deus, não aquilo tudo que a aldeia dizia ser deus. Num segundo momento se deu a chegada da colonização britânica com a violência, com suas leis e instituições. Daí o mundo de Okonkwo se desmoronou novamente.

Chinua Achebe escreveu o livro em inglês com uma riqueza imensa, pois juntou a oralidade com literatura, chamando a responsabilidade para si ao ter que relatar e escrever sobre seu povo e sobre África, ao invés de se ter que sempre ler textos externos, dos missionários, de escritores europeus e de estudiosos enviesados.

A meu ver, por fim, acredito que o autor buscou tecer criticas aos dois lados, a forma como a trama se desenrolou realmente pôs em cheque toda aquela devoção e boa parte das superstições da tradição ancestral Ibo daquela região. Achei que o autor foi bem sucedido em passar também a imagem que os recém-chegados brancos tiveram do modo de vida daquela aldeia. Onde Umuófia considerava o espaço maldito, foi justamente onde a igreja cristã se erigiu.

Fuca, Insurreição CGPP
2020



Mais infos:
Entrevista- Chinua Achebe, a voz incómoda da não vitimização africana
https://www.buala.org/pt/cara-a-cara/chinua-achebe-a-voz-incomoda-da-nao-vitimizacao-africana

Sobre literatura africana - BOLEKAJA - VAMOS LUTAR...
Bolekaja na Construção da África no Discurso Intelectual
https://insurreicaocgpp.blogspot.com/2018/05/bolekaja-na-construcao-da-africa-no.html

quarta-feira, 20 de maio de 2020

O DILEMA DO PAN-AFRICANISTA, JULIUS NYERERE, (1966)

"O DILEMA DO PAN-AFRICANISTA", JULIUS NYERERE, (1966)

BAIXAR NO LIVRO EM PDF: 
PALAVRAS DE INDEPENDÊNCIA: AZIKIWE, TOURÉ, NYERERE, MACHEL
(AQUI) OU NO LINK:

Em 1966, Julius Kambarage Nyerere era presidente da República da Tanzânia. Quando o Presidente Kenneth Kaunda, da vizinha Zâmbia, se tornou o primeiro Chanceler da Universidade da Zâmbia inaugurada em 13 de julho de 1966, convidou Nyerere, também Chanceler da Universidade da África Oriental, a participar da cerimônia e dar um discurso ao público reunido. O Presidente Nyerere usou a ocasião para descrever o possível conflito entre nacionalismos africanos e pan-africanismo.

Excelências, alcançamos muitas coisas na África nos últimos anos e podemos recordar com certo orgulho a distância que percorremos. No entanto, estamos muito longe de atingir o que originalmente pretendemos alcançar, e acredito que há o perigo de que agora possamos voluntariamente renunciar ao nosso maior sonho de todos.

Pois foi como africanos que sonhavam com a liberdade, e nós pensamos nisso para a África. Nossa real ambição era a liberdade africana e um governo africano. O fato de lutarmos separados em cada área era apenas uma necessidade tática. Nós nos organizamos no Partido da Convenção do Povo, na União Nacional Africana de Tanganyika, no Partido da Independência Nacional das Nações Unidas e assim por diante, simplesmente porque cada governo colonial local tinha que ser tratado separadamente.

A pergunta que temos agora a responder é se a África manterá essa separação interna à medida que derrotarmos o colonialismo, ou se nosso vanglorioso orgulho anterior - 'eu sou africano' - se tornará realidade. Não é uma realidade agora. Pois a verdade é que agora existem 36 nacionalidades diferentes na África livre, uma para cada um dos 36 Estados independentes - para não falar dos ainda sob o domínio colonial ou estrangeiro. Cada Estado está separado dos outros, cada Estado é uma entidade soberana. E isso significa que cada Estado tem um governo que é responsável perante o povo de sua própria área - e somente para ele, assim deve trabalhar para seu bem-estar particular ou provocar o caos dentro de seu território.

A visão do pan-africanismo pode sobreviver a essas realidades?

Não acredito que a resposta seja fácil. Na verdade, acredito que o pan-africanista enfrenta um dilema real. Por um lado, o fato de o pan-africanismo exigir uma consciência africana e uma lealdade africana; por outro lado, é o fato de que cada pan-africanista também deve se preocupar com a liberdade e o desenvolvimento de cada uma das nações da África. Essas coisas podem entrar em conflito. Sejamos honestos e admitamos que elas já entraram em conflito.

Em certo sentido, é claro, o desenvolvimento de parte da África só pode ajudar a África como um todo. O estabelecimento de uma faculdade universitária em Dar es Salaam e de uma universidade em Lusaka significa que a África possui dois centros extras de ensino superior para seus 250 milhões de habitantes. Todo hospital extra significa mais instalações de saúde para a África; todas as estradas, ferrovias ou linhas telefônicas extras significam que a África está mais próxima. E quem pode duvidar que a ferrovia da Zâmbia para a Tanzânia, que estamos determinados a construir, servirá à unidade africana, além de ser do interesse direto de nossos dois países?

Infelizmente, porém, essa não é a história toda. Escolas e universidades fazem parte de um sistema educacional, um sistema educacional nacional. Elas promovem e devem promover uma perspectiva nacional entre os estudantes. São dadas lições sobre o governo, a geografia e a história da Tanzânia ou da Zâmbia. Lealdade à constituição nacional, aos líderes eleitos, aos símbolos da nação, todas essas coisas são incentivadas por todos os dispositivos.

Isso não é apenas inevitável; também está certo. Nenhum dos Estados-nação da África são unidades "naturais". Nossas fronteiras atuais são - como já foi dito muitas vezes - o resultado de decisões europeias na época da corrida pela África. Elas são sem sentido, elas cortam grupos étnicos, geralmente desconsideram divisões físicas naturais e resultam em muitos grupos linguísticos diferentes sendo abrangidos por um Estado. Para que os Estados atuais não se desintegrem, é essencial que sejam tomadas medidas deliberadas para promover um sentimento de nacionalidade. Caso contrário, nossa atual multidão de países pequenos - quase todos nós pequenos demais para sustentar uma economia moderna autossuficiente - poderia se dividir em unidades ainda menores, talvez baseadas no tribalismo. Então, um período adicional de dominação estrangeira seria inevitável. Nossas lutas recentes seriam desperdiçadas.

Deixe-me repetir, a fim de evitar conflitos internos e maior desunião, cada Estado-nação é forçado a promover sua própria nação. Isso não envolve apenas ensinar lealdade a uma unidade específica e uma bandeira específica, embora isso seja sério o suficiente. Também envolve organizar deliberadamente uma parte da África econômica, social e constitucionalmente, para servir aos interesses gerais das pessoas dessa parte da África e (em caso de conflito) não aos interesses de outra parte ou da África como um todo.

Assim, cada Estado da África cria para si uma constituição e uma estrutura política que são mais apropriadas à sua própria história e aos seus próprios problemas. Na Tanzânia, por exemplo, o apoio esmagador ao nosso movimento nacionalista e a completa ausência de um rival a ele significaram que, desde o início da independência, tínhamos de fato um estado de partido único. Mas a existência continuada de uma estrutura política que assumia um Estado bipartidário significava que não podíamos aproveitar a organização do Partido e o entusiasmo de nosso povo para as novas tarefas de combate à pobreza. Havia também algum perigo de que os líderes do Partido ficassem fora de contato com as pessoas que lideravam, porque seriam capazes de abrigar suas próprias falhas pessoais sob a égide do Partido. Por isso, elaboramos uma nova constituição que reconheceu a existência de um partido único e, dentro dessa estrutura, garantimos o controle democrático do povo sobre seu governo. É um novo arranjo e, até agora, parece estar funcionando bem. Mas - e este é o meu ponto - marcou uma diferenciação adicional entre a organização política da Tanzânia e a de outras partes da África, incluindo a de nossos vizinhos. E quanto mais as pessoas da República Unida se envolvem nesse sistema, e quanto mais os povos de outras nações africanas se envolvem nos sistemas que elaboram para si mesmos, maior se torna a divisão entre nós.

Também na economia o mesmo se aplica. Cada governo nacional da África tem que trabalhar pelo desenvolvimento de seu próprio país, pela expansão de suas próprias receitas. Isso deve ser assim. Não se pode estar contente com o desenvolvimento da África Central ou da África Oriental, deve-se trabalhar para o desenvolvimento da Zâmbia ou da Tanzânia. Em certas circunstâncias, o resultado não é apenas um fracasso em crescer juntos, pode ser redução na unidade. Por exemplo, cada país da África Oriental está agora migrando para sua própria moeda, em vez de manter uma moeda comum. Na ausência de um governo federal, isso seria necessário se cada um deles cumprisse suas responsabilidades com as pessoas que o elegeram. Mas é sem dúvida um movimento em direção ao nacionalismo e, mais além, ao super-nacionalismo africano. Ou ainda, cada governo africano tem que trabalhar pela industrialização doméstica; só pode concordar que uma indústria super-nacional comum esteja localizada em outro país se houver uma vantagem compensatória clara e óbvia a seu favor em outra indústria ou em algum outro fator de desenvolvimento.

Nossos nacionalismos podem competir entre si e se afastar também em questões internacionais. Todos os estados da África precisam atrair capital de fora e todos nós desejamos vender mais de nossos produtos para países no exterior. Assim, cada um dos 36 pequenos Estados gasta dinheiro para enviar nossas delegações aos países ricos e nossos representantes para negociações comerciais. Então cada um desses representantes nacionais é forçado a provar por que o investimento deve ser feito em seu país, e não em outro, e forçado a oferecer algumas vantagens ao país rico, se ele comprar seus bens, e não os que emanam de outra parte da África. E o resultado? Não apenas os piores termos para cada um de nós em relação à ajuda ou ao comércio, mas também um tipo de medo um do outro, uma suspeita de que o país vizinho aproveite qualquer fraqueza que tivermos para seu próprio benefício. E o que quero dizer é que este país vizinho fará isso, tem pouca escolha nesse caso. Por mais que possa se simpatizar com nossa dificuldade, apenas em casos raros esse senso de 'unidade' será capaz de transcender as duras necessidades de sua própria carência econômica.

Tudo o que venho dizendo até agora equivale a isso: a atual organização da África em Estados-nação significa inevitavelmente que a África se afaste, a menos que sejam tomadas medidas definitivas e deliberadas de contração/neutralização. Para cumprir suas responsabilidades com o povo que levou à liberdade, cada governo nacionalista deve desenvolver sua própria economia, suas próprias organizações e instituições, e seu próprio nacionalismo dominante. Pois, embora certamente seja verdade que, em longo prazo, toda a África e todos os seus povos seriam mais bem servidos pela unidade, é igualmente verdade, como é relatado por Lord Keynes, que "a longo prazo estamos todos mortos'. A vontade do povo da África de fazer sacrifícios pelo futuro é inquestionável; os planos de desenvolvimento de nossas diferentes nações provam isso. Mas as pessoas deste continente sofrem os efeitos da pobreza há muito tempo. Elas precisam ver algum ataque imediato sendo feito contra essa pobreza. Elas não poderiam e não concordariam com a estagnação ou regressão enquanto buscamos o objetivo da unidade.

De fato, à medida que cada um de nós desenvolve seu próprio Estado, levantamos cada vez mais barreiras entre nós. Nós entrincheiramos as diferenças que herdamos dos períodos coloniais e desenvolvemos novas. Acima de tudo, desenvolvemos um orgulho nacional que pode ser facilmente hostil ao desenvolvimento de um orgulho da África. Este é o dilema do pan-africanista na África agora. Pois, embora o orgulho nacional não exclua automaticamente o desenvolvimento do orgulho da África, é muito fácil distorcer esse efeito. E certamente será deliberadamente reforçado por aqueles que estão ansiosos para manter a África fraca por sua divisão, ou por aqueles que desejam manter a África dividida porque preferem ser pessoas importantes em um estado pequeno do que pessoas menos importantes em um estado maior. Os quenianos e zambianos serão informados - de fato, já estão sendo informados! - que a Tanzânia é comunista e está sob o controle chinês, ou que é tão fraca que é a base relutante e involuntária da subversão chinesa. Os tanzanianos, por outro lado, são informados de que o Quênia está sob o controle americano e a Zâmbia hostil a ele por causa de sua política na Rodésia. E assim por diante. Tudo será feito e dito, o que pode semear suspeitas e desuniões entre nós até que finalmente nosso povo e nossos líderes digam: 'Vamos seguir sozinhos, vamos esquecer essa miragem de unidade e liberdade para toda a África'. E então, dentro de 150 anos, a África estará onde a América Latina está agora, em vez de ter a força e o bem-estar econômico que são usufruídos pelos Estados Unidos da América.

Mas há outro fator que é hostil ao avanço do pan-africanismo por meio e depois do desenvolvimento de nossos nacionalismos separados. Por boas ou más razões, alguns países africanos são e serão mais ricos e poderosos do que outros. Pode ser pela existência acidental de minerais em um lugar e não em outro, pode ser pela história de um desenvolvimento pacífico em um país e divisões internas e dificuldades em outro. Pode ser que apenas alguns de nossos estados africanos se tornem economicamente viáveis, enquanto outros nunca sustentarão mais do que um baixo nível de existência. Mas o resultado líquido será que um Estado terá mais sucesso que outro. E então quem faz o movimento em direção à unidade? Se for o maior e o mais rico, falar-se-á de um novo imperialismo, uma tentativa de "dominar" o pequeno Estado. Se for a pequena nação, haverá boatos de traição e falta de patriotismo. Quais desses líderes serão capazes de superar suas inibições o suficiente para mencionar a ideia de união? Qual deles poderia arriscar ser rejeitado? Quanto mais genuíno seu desejo avulso de unidade real com base na igualdade humana, mais difícil é para qualquer um deles fazer a mudança.

Dessa maneira, ao desenvolver nossas nações separadas é convidar a morte lenta de nosso sonho de unidade, qual é a alternativa?

Claramente, devemos primeiro aceitar os fatos que descrevi. Não faz parte da transformação do sonho em realidade fingir que as coisas não são o que são. Em vez disso, devemos usar nossa situação atual ao nosso favor e alcançar nossos propósitos. Devemos enfrentar os perigos que existem e vencê-los de uma maneira ou de outra.

Não é impossível alcançar a unidade africana através do nacionalismo, assim como não foi impossível para várias associações étnicas ou partidos de base étnica se fundirem em um movimento nacionalista. É difícil, mas pode ser feito se a determinação estiver presente. A primeira coisa para a África, portanto, é determinar que isso seja feito. Mas generalidades/platitudes não são suficientes; assinaturas à Carta da Organização da Unidade Africana não são suficientes. Ambas as coisas ajudam, porque mantêm a atmosfera e as instituições da unidade. Contudo, elas devem ser combinadas com a percepção de que a unidade será difícil de alcançar e difícil de manter, e exigirá sacrifícios das nações e dos indivíduos. Falar em unidade como se fosse uma panaceia de todos os males é andar nu em um covil de leões famintos. Nos estágios iniciais, a unidade traz dificuldades - provavelmente mais do que ela dispõe. É a longo prazo, depois de 15 ou 20 anos, que seus enormes benefícios podem começar a ser sentidos. A determinação de que a unidade irá chegar deve começar com uma aceitação psicológica de seus requisitos. As nações africanas, e particularmente os líderes africanos, devem ser leais uns aos outros. É inevitável que alguns líderes tenham um gosto pessoal e admiração por outros líderes em particular; é igualmente inevitável que eles não gostem, e talvez reprovem os outros. Não imagino que todos os meus opositores regionais na Tanzânia gostem e se admirem - espero que sim, mas não garanto! Mas, por mais que discutam em particular, não se atacam em público. Eles... - pense que um indivíduo em particular tenha provocado problemas, mas, se em coma, eles não se alegram... Eles se reúnem para tentar minimizar o efeito desse problema na nação. E os líderes africanos fazem o mesmo pela África. É mais difícil porque não temos um órgão superior comum, mas ainda pode ser feito.

Isso não significa que possa haver, ou de fato deve haver, políticas internas ou externas idênticas para todos os estados da África. Enquanto estamos separados, podemos levar em consideração as diferentes circunstâncias em diferentes partes da África. Tomemos, por exemplo, diferenças que existem entre algumas das políticas da Tanzânia e da Zâmbia. Ambos os governos estão preocupados em garantir o controle da economia nacional e dobrá-la para servir as massas. Mas as técnicas apropriadas na Tanzânia, onde começamos quase do zero, sem indústria ou mineração herdada - não seriam adequadas para a Zâmbia, que precisa manter sua produção de cobre e usar a indústria na transformação da economia.

Depois, há também a questão da Rodésia e o fato de que a Tanzânia, mas não a Zâmbia, rompeu relações diplomáticas com a Grã-Bretanha no curso dessa disputa. Naturalmente, alguns de nossos oponentes tentaram sugerir que isso revela profundas diferenças entre os governos da União Nacional Africana da Tanganica (TANU em inglês) e do Partido Unido da Independência Nacional (UNIP em inglês), essa crença partindo de qualquer um de nós prejudicaria a causa da África em uma extensão incalculável. No entanto, isso não é verdade e, felizmente, nós dois sabemos que isso não é verdade. Ambos os nossos governos têm um propósito e são igualmente dedicados a ele. Esse proposito é o fim do regime ilegal de Smith e sua substituição pelo regime majoritário e depois a independência de Zimbábue. Mas a Zâmbia é um país sem litoral, com um padrão herdado de comércio e comunicações que lhe impossibilitou impor imediatamente um completo boicote aos produtos rodesianos. A Tanzânia tem portos, comunicações com o norte e nunca teve muito comércio com a Rodésia. Condições tão diferentes exigem as mesmas reações aos eventos na Rodésia do Sul? Seria absurdo que a Zâmbia aja como a Tanzânia, ou que a Tanzânia aja automaticamente como a Zâmbia. O que deve acontecer é que nossos dois países devem trabalhar juntos, na mais próxima cooperação e compreensão. E, em particular, a Tanzânia tem a responsabilidade de fazer o que for humanamente possível para ajudar a Zâmbia a se libertar dessas cadeias herdadas no sul. Talvez eu possa aproveitar esta oportunidade para dizer que isso está sendo feito, e será feito, com o apoio sincero de todo o povo da Tanzânia.

Mas não basta que os Estados africanos cooperem no tratamento de problemas específicos. Devemos deliberadamente avançar para a unidade. Na medida do possível, devemos cooperar em nosso desenvolvimento econômico, nosso comércio e nossas instituições econômicas. Devemos fazer isso, apesar de nossas soberanias separadas, embora tenhamos que reconhecer que há um limite para as possibilidades de integração econômica sem união política. Quando esse ponto chegar, teremos que ficar parados - e assim prejudicar nossas reais esperanças para a África - ou teremos que mergulhar em uma fusão de nossas soberanias internacionais.

Em algumas partes da África, a união política será possível mesmo antes de haver uma grande integração econômica. Acredito firmemente que os estados africanos devem criar essas oportunidades ou aproveitá-las sempre que ocorrerem por si mesmas. As dificuldades permanecerão, atos de União não desfazem décadas ou séculos de separação política e administrativa. Mas um governo responsável por toda a área pode lidar com dificuldades e elementos de separatismo, com justiça para todos, ao mesmo tempo em que desenvolve novos fatores unificadores. As diferenças não desaparecem se forem deixadas de lado, como eu disse, elas crescem. Assim, por exemplo, é verdade que as duas partes componentes da República Unida da Tanzânia ainda não estão totalmente integradas. Desse modo - e esse é o ponto - não há dúvida de que elas estão muito mais integradas do que estariam se dois governos separados apenas tentassem cooperar. Também não há dúvida sobre o benefício que todo nosso povo já está sentindo como um resultado desta União. Certamente ninguém na Tanzânia tem dúvidas sobre este assunto. Agora somos um todo, e à medida que crescemos, estamos crescendo juntos.

A união política de vizinhos nem sempre é uma resposta imediata ou possível. E a cooperação econômica é frequentemente limitada a curto prazo pela falta de comunicação ou outros fatores. Ainda podemos decidir se devemos avançar para a unidade ou voltar para a separação. Por exemplo, é a decisão inteiramente da África se haverá ou não disputas nacionais africanas internas. Nós, os Estados separados, podemos ser enganados sobre eventos em outros lugares, ou podemos nos sentir provocados. Mas somos nós que decidimos o que fazer em tais circunstâncias. É a África que decidirá se os limites pouco claros serão uma ocasião de desunião ou se serão resolvidos por conciliação ou por lei. É a África que decidirá se deve abandonar a única base possível para as fronteiras nacionais - que são as fronteiras coloniais - e se permitirá tornar o brinquedo da política internacional. E da mesma maneira que a própria África pode, se desejar, optar por seguir uma política de 'boa vizinhança' e mostrar em ações que a conversa sobre a unidade africana é significativa.

Falar de cooperação entre estados e de boa vizinhança, com recurso a tribunais ou arbitragem em caso de disputas, não parece muito empolgante. O coração dá um pulo com as palavras "Governo da União", e não com essas outras coisas que exigem paciência, autodisciplina e trabalho duro e obstinado. Mas se uma coisa é impossível - é impossível enquanto todos os estados africanos não estão dispostos a renunciar à sua soberania a um novo corpo - então esta é a única maneira pela qual podemos avançar ao invés de retroagir. Foi em reconhecimento a esses fatos que a Organização da Unidade Africana, em 1963, declarou seu primeiro objetivo como "promover a unidade e a solidariedade dos Estados africanos". Essa foi uma aceitação realista dos fatos e da meta. Mas devemos reconhecer que a declaração por si só não trará o resultado que precisamos. Somente se a OUA for deliberadamente apoiada e fortalecida, e somente se o espírito de sua Carta for honrado em ações positivas, iniciaremos o longo caminho a seguir.

E pode ser um longo caminho, a quantidade de tempo irá depender de nossa coragem e determinação. Certamente, nos últimos anos, houve alguns avanços importantes no sentido de uma maior cooperação na África. Em contrapartida também houve muitos contratempos - alguns dos quais ameaçam a própria existência da OUA. E a mais triste e mais perigosa de todas é a nova tendência de tratar a OUA, e todas as conversas sobre o pan-africanismo, como questões de modelo - movimentos que precisam ser realizados enquanto os negócios sérios da construção de Estados continuam. Isso seria fatal para a África. Pois somente através da unidade a África será capaz de alcançar seu potencial e cumprir seu destino apropriado.

Sr. Chanceler, aqueles que gostariam de defender total concentração nos interesses nacionais e aqueles que exigiam o sacrifício de todos os interesses nacionais pela causa da liberdade e unidade africanas, têm um caminho fácil a seguir. Um pode apelar para o 'realismo' e o 'pragmatismo' e pode parecer ser dedicado aos interesses práticos do povo. O outro pode apelar para o coração dos homens e parecer corajoso, abnegado e revolucionário. Mas ambos levariam a África ao desastre - um à estagnação precoce e à dominação econômica estrangeira, e outro ao caos e desintegração das unidades já existentes. Não, devemos seguir um caminho novo e difícil, para frente e para cima. Devemos evitar a estrada que contorna a cordilheira e leva às terras do pântano; devemos evitar também a excitação da subida à face da rocha, pois isso não pode ser possível com a carga que devemos carregar. Em vez disso, nossa tarefa é abrir uma estrada na encosta da montanha até as terras altas e cortá-la com delicadeza o suficiente para que todo o nosso povo viaje, mesmo que com dificuldade e ajuda nas partes íngremes. Em linguagem mais realista - talvez mais apropriada à tarefa que temos pela frente - devemos manter sempre à nossa frente o objetivo da unidade; devemos reconhecer o perigo de que, sem ação positiva, seremos desviados dela; e devemos tomar essa ação positiva em todos os pontos possíveis. Pois a unidade africana não precisa ser só um sonho, deve ser uma visão que nos inspira. Para que isso se realize, depende de nós.

Sr Chanceler, não falei desse dilema que o pan-africanista enfrenta sem considerar a ocasião. Eu escolhi deliberadamente esse assunto porque acredito que os membros desta universidade e de outras universidades da África têm uma responsabilidade nesse assunto. Apresentamos que os líderes da África estão enfrentando problemas sérios e urgentes em nossos próprios Estados, e temos que lidar com perigos externos. O tempo disponível para uma reflexão séria sobre o caminho a seguir para o pan-africanismo é limitado ao extremo, e quando damos passos nessa direção, somos sempre atacados por 'desperdiçar dinheiro em conferências' ou ser 'irrealistas' em nossa determinação para construir estradas ou ferrovias para conectar nossas nações. Quem nos manterá ativos na luta para converter o nacionalismo em pan-africanismo se não forem os funcionários e estudantes de nossas universidades? Quem é que terá tempo e capacidade para pensar nos problemas práticos de alcançar esse objetivo de unificação, se não forem aqueles que terão a oportunidade de pensar e aprender sem responsabilidade direta pelos assuntos do dia a dia?

E as próprias universidades não podem avançar nessa direção? Cada uma delas deve atender às necessidades de sua própria nação, sua própria área. Mas também não serve a África? Por que não podemos intercambiar estudantes, os tanzanianos se formam na Zâmbia como os zambianos se formam na Tanzânia? Por que não podemos compartilhar conhecimentos sobre assuntos específicos e talvez compartilhar certos serviços? Por que não podemos fazer outras coisas que vinculam indissoluvelmente nossa vida intelectual? Não são apenas coisas para os governos resolverem. Deixe as universidades apresentarem propostas antes de nossos governos e, em seguida, exigir dos políticos uma resposta fundamentada sobre a base da unidade Africana, se nós não concordamos!…

Referências:

BlackPast, B. (2009, August 07) (1966) Julius Nyerere, “The Dilemma of the Pan-Africanist”. Retrieved from https://www.blackpast.org/global-african-history/1966-julius-kambarage-nyerere-dilemma-pan-africanist/

Fonte das informações do autor: J. Ayo Langley, Ideologies of Liberation in Black Africa, 1856-1970 (London: Rex Collings, 1979).