quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Gíria Vermelha - Lutar é Preciso - O Som e o Grupo de Rap Maranhense



LUTAR É PRECISO
Letra:

De pé o vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

Se for pra mim morrer e ter que nascer de novo/ eu prefiro ser novamente o que eu sou/ por isso eu vou escrevendo a minha própria história/ entre pedras e espinhos que no caminho rola/ do núcleo do meu crânio algo me perturba/ meu coração ao em conexão com os meus olhos me diz/ vai a luta pois teu povo é pobre e sofre/ se comover qualquer um se comove/ então, mova-se pra ver se a coisa muda/ a arte pela arte para nós é surda e muda/ não. Não fede e não cheira/ pra periferia tem que ir pra lixeira/ se no Zaire um corpo sem vida cai/ se na faixa de gaza um palestino do Hamas vai/ explodir o próprio corpo não é que seja louco/ é a paz que está em jogo infelizmente, sente/ um cheiro podre no ar/ é a paz da USA/ mortalha armada pra pobre que sofre a ONU/ há muito tempo perturba  o sono / de quem não compactua com os planos tiranos do Tio Sam/ novamente foi covarde/ Irã, Iraque, Hiroxima, Nagashaki/ Libano deus livra-nos/ do mal que se aproxima/ do mal que prega a paz e gera carnificina/ Não! Ditaduras, bombardeios/ novamente deus não veio/ salvar aquele velho de turbante/ que pros cus de olho azul do Ocidente é ignorante/amante da guerra, fantástico/ eu to com o povo palestino e não abro/ pra quem perdeu se filho acredite/ enfrentando armas pesadas com estilingue/  ato heroico e sublime, palmas/ pra burguesia fanatismo, calma/ palavras  são palavras , atitude é atitude/ Kofi Anan, renegada negritude/ negro, branco, índio,mulheres, homens/ uni-vos ô vitimas da fome

De pé o vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

O meu nordeste a muito tem pó é manchete/  no lixão do Irmã Dulce um pivete quase morto/ só pele e osso/ se arrastando pois o crânio é muito grande para o seu franzino corpo/ pareço louco, mas não sou louco/ meu mano nasceu coxo e movimenta-se com os mochos/ mas sua mãe ora e chora todo dia/ seu sonho de papel só chove covardia/ mundão em crise ponta a ponta na gangorra/ Cajapior, saca só que vida loka/ prêmio Nobel da miséria onde a paz agoniza/ e muitos se alimentam com manga e farinha/ aê turista bate a foto miséria absoluta/ só não ver quem não quer ou quem bebeu cicuta/ família ferrabraz, Sarney finge que esquece/Maranhão de ponta a ponta é pior que Bangladesh/ e febre amarela é meningite, é caxumba/ Ei povo sofrido, poder filha da ..../ mas não é isso que eu vejo na Mirante/ um mundo rosa pendurado num podre barbante/ imagem cínica, da moça cínica/ o gás sonífero maligno e mortífero/ televisível em alto novel é um absurdo/ mas o seu dinheiro estava lá nos malotes da Lunus/ a culpa é minha, é sua é nossa?/ infelizmente alguns se vendem ai é foda / mas, minha família é de rocha e não abre/ Quilombo Urbano faz  da guerra uma arte/ com banho de sangue , na benção do padre/ na cruz ou no punhal me diz então quem sabe/ quantos quilates vale a liberdade dos homens/ ô vitimas da fome, ô vitimas da fome/

De pé ô vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

Gíria Vermelha

O Gíria Vermelha é um dos grupos de rap que fazem parte do Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão “Quilombo Urbano” que em 2010 completou 20 anos de existência. O Gíria Vermelha, por sua vez, foi formado em 2002, mas dois de seus membros, Hertz e Verck, são remanescentes dos grupos mais antigos que se formaram no interior do Quilombo Urbano. Na sua atual formação, além de Rosenverck Estrela Santos (Verck), 33 anos, e Hertz da Conceição Dias (Hertz), 39 anos, o grupo conta ainda com a participação da reconhecida cantora de MPB do Maranhão, Luciana Pinheiro, 38 anos.

Na sua filosofia política está claramente presente uma posição que combina a luta de classe com a de raça. Na perspectiva de negação do “sistema fonográfico burguês” (Hip Hop Militante) o discurso rimado do grupo aponta para construção de uma alternativa de esquerda para arte de um modo geral, uma arte que seja engajada na lutas sociais e em defesa da juventude de periferia “a arte pela arte pra nós é surda e muda/ não, não fede e não cheira/ pra periferia tem que ir pra lixeira”, conforme afirmam na música “Lutar é Preciso” um dos rap´s mais apreciado do grupo em diversos estados do país.

Hertz e Verck são formados em história e pós-graduados em educação, já Luciana Pinheiro é formada em Farmácia. No entanto, uma das proezas do Gíria Vermelha é conseguir dialogar, de forma didática/ musical, com setores da classe trabalhadora tanto do universo letrado (das academias) como universo plebeu (das periferias) e do universal sindical.

Os temas tratados em suas letras são sínteses dessa visão que ultrapassam os muros das universidades e as fronteiras das periferias e favelas do Brasil. É possível encontrar em suas músicas, relatos e análises da vida dura de quem vive em meio ao barbarismo da “guerra interna” das periferias brasileiras, como nas canções “Tão Só” e “Liberdade Sem Fronteiras”, como na marcha revolucionária da canção “A Hora do Revide” ou no grito de solidariedade ao povo palestino presente nas canções “Lutar é preciso” e “Coração Destemido”.

O local e o internacional se entremeiam nas poesias cortantes de suas letras e nelas o orgulho negro e a denúncia das desigualdades raciais não são meros apêndices, mas questão de centro como consta na envolvente “Herói de Preto é Preto”, em fim raça e classe não se sobrepõe, mas se mostram como face de uma mesma moeda: a do sistema capitalismo.

Em setembro 2008 o Gíria Vermelha lançou seu primeiro trabalho intitulado “A HORA DO REVIDE” com 16 faixas, em janeiro de 2010 participaram da coletânea de em homenagem aos 20 anos de Quilombo Urbano com duas canções “O flautista e a Rataria” que retrata de maneira crítica e irônica a volta do grupo Sarney ao governo do Maranhão após a cassação do então governador Jackson Lago (PDT) e “ Coração de Mãe” que narra um conflito que resultou em diversas mortes na virada do ano de 2009 para 2010 no bairro da Liberdade, bairro de maioria negra em São Luís do Maranhão cujo ambiente é fonte de inspiração e de convivência social do grupo, haja visto que todos os seus três principais membros tem parentes nessa comunidade.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

CARTA-DENÚNCIA SOBRE A RETALIAÇÃO IMPOSTA PELA PM


CARTA-DENÚNCIA SOBRE A RETALIAÇÃO IMPOSTA PELA PM (COM MANDO DO GABINETE DE VC SABE QUEM) AO COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA E AO FÓRUM DE HIP HOP MSP.

Fala do Fórum de Hip Hop na Reunião da Subcomissão de Juventude da Câmara Municipal de São Paulo 29/09/2013



Antes de fazer qualquer comentário especificamente sobre o tal Plano Juventude Viva, sou obrigado, nesse primeiro momento, a declarar repúdio às últimas opções políticas dessa tal Casa do Povo. Não é apenas um repúdio pessoal, mas um repúdio que expressa o Fórum de Hip Hop, as demais 129 entidades que compõe a frente Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica e demais organizações dos Direitos Humanos, incluindo uma ampla gama de entidades que se colocam ao nosso lado na luta não só pela consolidação da democracia em nosso país, mas pela real emancipação de nossa Juventude Preta, Pobre e Periférica. Esta, ausente de reparação e imersa em uma lógica não distante daquela descrita no período de acumulação primitiva do capital, sustentáculo desta empresa colonial, para nós, longe de ser superada.
No dia 03/09/2013, 37 vereadores desta casa sujaram suas mãos de sangue ao aprovar a tal "Salva de Prata" às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). O proponente da homenagem e seu colega da famosa “Bancada da Bala” são os mesmos que estiveram ao lado de mais 323 PM’s que, sem as respectivas insígnias e crachás massacraram 111 presos no Carandiru há quase 21 anos atrás, 111? O Mano André do Rap disse em 2004 “[...] Vários companheiros foram mutilados pelos cachorros, um deles teve os testículos arrancados, centenas foram triturados no caminhão de lixo [...]”. Esses ninguém contou...

No dia 17/09/2012
Os vereadores aprovaram a concessão da Medalha Anchieta e do Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo ao capitão da PM Dimas Mecca Sampaio. Pior, só 5 vereadores votaram contra. Ele recebeu um diploma e uma medalha justamente por participar da Operação Castelinho onde, segundo o MP os PM’s; “todos previamente ajustados com identidade de propósitos e unidade de desígnios, agindo por motivo fútil, mediante meio do qual resultou perigo comum e valendo-se de emboscada e dissimulação, recursos que dificultaram a defesa dos ofendidos, mataram mediante disparos de armas de fogo.” Assassinaram mais 12 dos nossos. O pedido de votação nominal não aconteceu como nas três tentativas de votação da homenagem à Rota, pois houve acordo para não trancar a pauta.
No dia 26/08 a Câmara Municipal de São Paulo realizou sessão solene para homenagear os 29 policiais militares feridos durante as manifestações de junho nas ruas de São Paulo, promovidas pelo Movimento Passe Livre. É bom lembrar que mais de 200 pessoas foi presas nessas manifestações, o número de feridos entre civis a Secretaria de Segurança pública nem ao menos sabe dizer. Que cerimônia é realizada aos militantes que são reprimidos por exercerem seu livre direito de manifestação?

Para completar temos tramitando aqui o PROJETO DE LEI 0100002/2013
“Proíbe a utilização de vias públicas, praças, parques e jardins e demais logradouros públicos para realização de bailes funks, ou de quaisquer eventos musicais não autorizados e dá outras providências” e a nova obra-prima da Bancada da Bala que visa proibir a utilização de mascaras em manifestações. Tanto essa como aquela, provada na primeira votação com ampla maioria, é expressão daquilo que os movimentos sociais já vinham falando, a Câmara Municipal, não diferente dos demais espaços do exercício político da cidade e do Estado, está militarizada.

Certamente a homenagem ao Desembargador que autorizou a reintegração do Pinheirinho em São José dos Campos vai entrar em pauta...

Isso é reflexo de um desenvolvimento tresloucado. Só isso prá entender como os Capitães do Mato podem chegar ao poder político direto sobre a sociedade.
Que fique registrado, estamos de luto...
Bom, com o tempo que resta, vou trazer um pouco da pequena aproximação que o Fórum, mas também o Comitê vem tendo com o Plano. Pelo pouco que disse antes, é evidente a horrível conjuntura de nossa Cidade para o Movimento Social. Há quase 1 ano eu quase que só conto corpos. O PSDB de São Paulo, não é o mesmo das Alagoas, mas não é só ai que está à disputa de valores e da concepção do programa, ela está em cada palmo institucional da Cidade. Nesse sentido, qual Estado? Ou, Qual ideia no Estado e na Sociedade Civil pode agir conjuntamente para avançarmos com esse Plano? Esse é o ponto de partida, vamos fazer de baixo para cima? Se vamos, é importante ter em mente que isso exige um maior papel aos Movimentos Sociais. Os articuladores locais precisam ter em mente não só isso, mas também o debate racial que permeia toda a construção do Plano. Não só falo do ENJUNE, a qual não estive presente e admito conhecer pouco, mas da história desta pauta que o livro-denúncia de Abdias Nascimento em fins da década de 1970 é um bom exemplo... A Coordenadoria de Juventude e a Secretaria de Igualdade Racial precisam fazer mais do que replicar a concepção do Plano imprimida pelo Governo Federal, é necessário se envolver mais, produzir coisa nova, o site mesmo é muito pobre de informações, é muito vago “Direitos Humanos”, “Prevenção da Violência Contra a Juventude Negra”. Andei olhando algumas informações indiretas sobre o Plano em Alagoas e admito que, aparentemente, reconhecemos melhor essa violência aqui, mas ainda vejo esses setores do governo muito preocupados com articulações internas do que as na base.

Não é de hoje que os Movimentos Sociais, principalmente os Populares, reivindicam a infraestrutura e demais direitos ao Estado, disputando ele... O que é novo, o que não podemos perder, é o corte racial claro que o Plano trás. Trata-se de um reconhecimento, de certa maneira modesto, mas evidente de que somos nós, pela nossa cor, que sofremos mais, logo o Genocídio, por uma opção de nossa burguesia, a mais atrasada do país.
Não acho que seja uma questão de fazer pura e simplesmente o estado chegar, isso pode se dar das piores madeiras possíveis, vide as UPP’s. Mas sim uma oportunidade de aproveitar o enraizamento dos Movimentos Sociais e não apenas apostar em sua capacidade de monitorar, mas de capitanear esse processo. Sabemos que o individualismo, a fragmentação social, a submissão e a desmobilização política são pilares centrais dos valores culturais inseridos pelo neoliberalismo nas sociedades modernas. Logo, é importante reconhecer que não estamos imunes neste processo. Dos partidos aos “coletivos horizontais” o conflito entre o individual e universal se perpetua, a autocrítica permanente teve ser o instrumento mais fomentado durante o processo que se abre em nosso horizonte. Não dá prá achar que a sociedade civil não é permeada por esses processos, é por ai que fica mais claro o protagonismo que os Movimentos Sociais se faz necessário. Porém, minha questão é, vamos ou não vamos lutar para pautar o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica? Até quando vamos ficar na zona de conforto?
Não é possível dar mais nenhum passo sem a clareza da realidade concreta colocada, mas isso é impossível sem pessoas que possam agir nessa realidade. O Plano como infraestrutura de organização é o que é capaz de transformar as demandas em conquistas concretas através de suas práticas próprias de reivindicação. A conclusão é simples, os territórios só serão transformados, no sentido de mudar a realidade de espaços onde a morte é impressa em negrito, com o fortalecimento das práticas dos Movimentos Populares locais. De que maneira um Plano municipal irá dar conta da violência da PM e seus grupos de extermínio? Não irá, mas para os Movimentos não há normativas que o algemem, ou não deveria ter ao menos, eles podem explorar alternativas e os articuladores devem ter isso em mente.
Vejam, já temos 19.470 prisões efetuadas esse ano, a Civil matou 4 até agora e a PM 37, aumentou desde nossa última consulta, isso só pra falar dos tais “Autos de Resistência”, já que nem informar a cor de quem morre a Secretaria de Segurança Pública faz. Ai a prefeitura nem consegue chegar, é por essas e outras que não devemos perder a base, ou seja, jovem negro como protagonista através das práticas que os Movimentos vêm forjando com o tempo. Meu ponto de vista hoje é o de que o Núcleo Territorial deve ser priorizado no processo, não só porque trabalho com a perspectiva de protagonismo dos Movimentos (e não é das ONGs que me refiro aqui, e sim aos Movimentos de base Popular), mas porque é uma maneira mais do que necessária de disputar com esse Estado que ai está, palmo a palmo, uma sociedade civil que naturaliza o projeto Genocida em voga. Por isso também que temos uma Audiência no dia 28/10, é justamente para dizer que não vamos recuar agora, queremos o fim da Operação Delegada (que ainda está no plano diretor, lugar que o Plano Juventude Viva não esta), assim como queremos a imediata implementação do da Lei n°400/2003 que institui o Programa Estação Juventude regional no município. Queremos acesso ao que realmente ocorre com novos jovens pretos quando são resgatados pelo SAMU em operações da PM. Queremos romper com todos os obstáculos que brecam a vida desses jovens. Não dá para esquecer que a mesma prefeitura que pauta o Juventude Viva também chamou o CHOQUE para desalojar as famílias do Itajaí no Grajaú/ZS

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Miguel Angelo – Fórum de Hip Hop MSP