Considerado
um clássico da literatura mundial, O
Mundo se Despedaça, de Chinua Achebe, é uma leitura importantíssima para se
ter contato ao universo do povo Ibo no que hoje se situa o país nigeriano. O primeiro
ponto a se destacar é que o romance se dá num período pré-colonização. Assim,
Achebe escreveu acerca da vida, costumes, crenças e tradições do povo Ibo antes
da invasão colonial.
Bom,
após a leitura de A Paz dura Pouco, (post
anterior) fiquei sabendo que na verdade se tinha uma trilogia de Chinua Achebe
sendo O mundo se despedaça o primeiro
deles, então ficou invertida a ordem, mas não alterou tanto a compreensão. E
ano passado eu tinha iniciado a leitura de
A Flecha de Deus e por incrível que pareça não fiquei empolgado de
terminar, ainda pretendo, pois fecha a trilogia.
O
livro é dividido em três partes ao longo dos seus 25 capítulos, e essas partes
se separam conforme a trajetória de Okonkwo. Parte 1: Se refere a trajetória da
infância de Okonkwo até se tornar um guerreiro. Parte 2: Okonkwo é condenado a
exilar-se em outra aldeia com suas mulheres e filhos, pois cometeu um crime
contra um irmão de aldeia. Parte 3: A volta de Okonkwo para sua aldeia Umuófia,
agora já com a chegada da igreja dos ingleses.
Em
linhas gerais, Okonkwo era um guerreiro Ibo no sentido de que desde jovem se
deu bem nas lutas tradicionais da aldeia, e sua inclinação ao trabalho se
revelou outra característica de guerreiro, num povo que se estabelecia com
títulos, comprovando hierarquicamente o valor de cada homem. O maior medo de
Okonkwo era ser um fracassado tal qual fora seu pai, algo que o perseguia a
todo instante e o inspirava a ser o oposto disso.
O
povo de Umuófia era muito devoto aos deuses e divindades, onde os mais velhos comandavam
esse dialogo entre as pessoas e os deuses, e assim tomavam as atitudes
necessárias para que se estabelecesse um bem viver e uma justiça conforme as
tradições ancestrais. Desse modo, o autor desvelou como aquela sociedade se
comportava naquela dada época, aglutinando tradição oral com sua perspicácia
literária.
Okonkwo
viu seu anseio por títulos em sua aldeia se desmoronar ao ter que se exilar,
nesse momento lhe bateu a tristeza, conseguiu sobreviver em sua nova morada e
após sete anos pôde retornar à sua terra. No entanto, a aldeia já não era mais
a mesma, a intervenção dos brancos já havia ocorrido e estava se consolidando
pouco a pouco.
Primeiro
os missionários vieram em paz e chegaram num ar de conciliação e convictos de
que eles detinham o poder da salvação e o verdadeiro deus, não aquilo tudo que
a aldeia dizia ser deus. Num segundo momento se deu a chegada da colonização
britânica com a violência, com suas leis e instituições. Daí o mundo de Okonkwo
se desmoronou novamente.
Chinua
Achebe escreveu o livro em inglês com uma riqueza imensa, pois juntou a
oralidade com literatura, chamando a responsabilidade para si ao ter que
relatar e escrever sobre seu povo e sobre África, ao invés de se ter que sempre
ler textos externos, dos missionários, de escritores europeus e de estudiosos
enviesados.
A
meu ver, por fim, acredito que o autor buscou tecer criticas aos dois lados, a
forma como a trama se desenrolou realmente pôs em cheque toda aquela devoção e
boa parte das superstições da tradição ancestral Ibo daquela região. Achei que
o autor foi bem sucedido em passar também a imagem que os recém-chegados
brancos tiveram do modo de vida daquela aldeia. Onde Umuófia considerava o
espaço maldito, foi justamente onde a igreja cristã se erigiu.
Fuca, Insurreição CGPP
2020
Entrevista- Chinua Achebe, a voz incómoda da não vitimização africana
https://www.buala.org/pt/cara-a-cara/chinua-achebe-a-voz-incomoda-da-nao-vitimizacao-africana
Sobre literatura africana - BOLEKAJA - VAMOS LUTAR...
Bolekaja na Construção da África no Discurso Intelectual
https://insurreicaocgpp.blogspot.com/2018/05/bolekaja-na-construcao-da-africa-no.html