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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Convite: Podcast Garvey Vive! – quinto episódio (23/02/2022)

Salve Povo Preto, anota na agenda aí.

Podcast Garvey Vive! – quinto episódio

No quinto episódio do Podcast Garvey Vive! vamo trocar uma ideia com os manos Fuca, ativista pan-africano e rapper, e Miguel Lil X, ativista e rapper também. O tema deste encontro é a discussão proposta pelo mais velho Chinweizu em seu artigo “Marcus Garvey e o Movimento de Poder Negro”, com traduções para o português do irmão Fuca e também pela AI-Brasil.

O episódio vai ao ar dia 23/02, às 20:30 no canal do YouTube da Afrocentricidade Internacional- Divisão Brasil. Garvey vive!

Um só Destino! ️🖤💚



Nesse link, bora! 
https://www.youtube.com/watch?v=1ElZujP9dQU

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Rosa Amelia Plumelle-Uribe - Breve nota

Nota referente ao texto Da Barbárie Colonial à Política Nazista de extermínio, de Rosa Amelia. Em seguida tem uma biografia da autora. Essa nota foi apresentada no grupo de estudos dos livros da UCPA em novembro de 2021, a partir do livro Coleção Pensamento Preto volume1: Epistemologias para o Renascimento Africano. Publicado pela Editora Filhos da África, 2018.

Da Barbárie Colonial à Política Nazista de Extermínio – Breve nota

- Podemos dividir em pelo menos dois momentos de ataques deferidos pelos brancos contra os pretos. 

- O primeiro seria o sequestro e o tráfico transatlântico de escravos vindos da África para as américas desde a segunda metade do século 15, e isso atrelado à colonização do continente americano. O segundo momento seria o de colonização do continente africano desde a segunda metade do século 19. 

- A parte que vou tratar aqui será referente ao primeiro período: a colonização das Américas. Essa colonização trouxe duas consequências nefastas aos indígenas e, em seguida, aos africanos.

- 1ª consequência: Genocídio indígena através da dizimação e extermínios de milhões, sendo que esse continente era habitado pelos indígenas de diversos povos. 

- Rosa Amelia aponta que, de acordo com o censo dos espanhóis, existiam 80 milhões de nativos nas américas. Já de acordo com o senso de historiadores da América do Sul, existiam 100 milhões habitando o continente americano. 

- Seja como for, em ambos os casos, o extermínio girou em torno de 90% do povo indígena. Desse modo, Rosa vai caracterizar essa hecatombe como sendo o primeiro genocídio dos tempos modernos. 

- Ainda, para além dos números, o comportamento dos brancos cristãos culminou numa destruição continuada através da justificação de tal genocídio, criando-se, assim, na dimensão cultural, ideológica e política, a supremacia branca em detrimento dos povos não-europeus e não-brancos. Gerando até mesmo consequências dentro da Europa, e é essa consequência dentro da Europa que poderá servir de fio condutor, direto e indireto, da barbárie colonial ao nazismo. 

- Cruelmente, a situação de impunidade e a pretensa supremacia branca, favoreceu para que a brutalidade branca fosse posta em prática. Uma delas seria jogar os indígenas e até bebês como alimento para cães ou os queimando em fogueiras como forma de diversão branca.

- Podemos perceber que não houve conversa, não houve acordo e não houve nem mesmo piedade, e ao exterminar praticamente toda população de indígenas que também não se submetiam à situação de escravizados, esse ditos conquistadores brancos partiram para a solução africana de fornecimento de escravos para a América. 

- 2ª consequência: essa invasão em busca de mão de obra escrava na África, ainda no século 15, se caracteriza como a segunda consequência da colonização das Américas. Ou seja, esse empreendimento das nascentes potencias ocidentais desencadeou a deportação forçada mais gigantesca da história da humanidade, que além de esvaziar parte da população do continente africano, desagregou a economia dos países africanos. Economia essa que não girava em torno do escravismo. 

- E também ao citar a desagregação da economia africana devido o sequestro de africanos, podemos ter noção de que já existia civilização, organização e bem-estar social na África. Ao contrário do que justificara os brancos.

- É importante notar que logo de início a autora traçou um breve panorama da escravidão antes de 1492, mesmo que sua análise se dê no pós 1492, pois foi com certeza a marca da origem de um genocídio sem precedentes na história humana. 

- A escravidão como uma servidão antes da era moderna, ocorreu tanto entre europeus versus europeus como na própria África, entre os africanos. Sobre os europeus x europeus, Rosa Amelia diz que “...quando o domínio dos árabes mulçumanos se estende em direção à Europa, o comércio de seres humanos é já uma atividade milenar entre os europeus. O reinado do Islã na Espanha de 711 até 1492 limitou-se a dinamizar o tráfico de escravos dentro da Europa, fazendo do continente um importante fornecedor de escravos, homens e mulheres, expedidos para os países do Islã...”

- Já no tópico “Uma empresa de desumanização”, a autora vai abordar a consolidação de leis baseadas na pretensa inferioridade dos não brancos e suposta supremacia branca que fora justificada pelo cristianismo. 

- Então cada metrópole tinha criado seu arsenal jurídico para regulamentar o genocídio. 

- Desse modo, ela vai evidenciar também que durante os séculos 15 e 19, nenhuma voz de autoridade ocidental se ergueu contra as barbáries, nem mesmo os iluministas do século 18, ao quais Rosa Amelia vai traçar sua critica também. 

- Pois esse movimento das Luzes argumentou o triunfo do pensamento cientifico sobre a fé religiosa e isso deu uma energia à raça dos senhores e aos valores da civilização ocidental e uma credibilidade que a religião já não mais beneficiava junto dos espíritos esclarecidos. 

- Com isso, o discurso cientifico passa a dar suporte ao racismo. Por isso também, o que seria um possível desmantelamento das estruturas genocidas com as abolições da escravatura, tal possibilidade nem chegou a arranhar as profundas estruturas da barbárie institucionalizada da supremacia branca.  

- Opinião

- Enfim, ainda sobre as mesas de conferência do ocidente nosso destino estava sendo traçado, sob a desarmonia que os yurugu representam no mundo!

- Vemos então que é uma denúncia bem real e de forma alguma anacrônica ou obsoleta, antiga ou retrógrada – o que pra muitos parece ser -, e tal como o Discurso sobre o colonialismo; Racismo e Sociedade, de Carlos Moore; O Genocídio do Negro Brasileiro, de Abdias; foi bem fundamentada. 

- Vale notar também que junto dessas denúncias devem vir cada vez mais as perspectivas de como se dava o continente africano antes da barbárie branca. Não o fiz devidamente aqui, mas já temos feito em outros textos, tais como: O Pan-Africanismo e a Família Africana e também em Unidade e Luta. 


Rosa Amelia Plumelle-Uribe
[Sugestão: biografia de introdução à nossa apresentação. Extraída do livro dela, White Ferocity].

Advogada e ensaísta, Rosa Amelia Plumelle-Uribe nasceu em 24 de dezembro de 1951 em Montelíbano, Colômbia, mas vive na França.

No final da década de 1970, em Bogotá, capital da Colômbia, ela fez parte do grupo “Cultura Negra”, onde tomou conhecimento da posição dos pretos na história da humanidade.

Desde então, ela tem focado seu trabalho na denúncia de crimes e injustiças perpetrados sob a bandeira da dominação e opressão branca e discriminação racial de outros grupos, incluindo o tráfico de escravos, escravidão, massacres de povos indígenas por colonos, colonialismo, nazismo e apartheid. 

Através de seu trabalho ao longo dos anos, ela continua a construir um relação Norte-Sul diferente.

Em 2001, as pesquisas e reflexões de Plumelle-Uribe ao longo de muitos anos se concretizaram com a publicação de Ferocidade Branca: Os genocídios de não brancos e não arianos, de 1492 até hoje, e uma edição alemã publicada em 2004. 

Em outro trabalho chamado Tráfico de brancos, tráfico de negros: aspectos desconhecidos e consequências atuais [Traite des Blancs, traites des Noirs: aspect méconnus et conséquences actuelles] (L'Harmattan, 2008) ela enfoca essencialmente como, por um lado, os traficantes de escravos árabes-muçulmanos exportavam africanos para a Ásia, Europa e Oriente Médio e, por outro lado, como os europeus continuaram a se vender uns aos outros.
Nos últimos anos, a demanda por reparação pelos crimes do tráfico de escravos tem gerado grande hostilidade entre os poderes implicados nesses crimes. Confrontada com a oposição à reparação por todos aqueles que se sentem ameaçados pela própria ideia, Plumelle-Uribe publicou Vítimas de escravistas muçulmanos, cristãos e judeus. Racialização e banalização de um crime contra a humanidade [Victimes des esclavagistes musulmans, chrétiens et juifs. Racialisation et banalisation d’un crime contre l’humanité] (Anibwé, 2012) para demonstrar as responsabilidades dos atores envolvidos, dos financiadores e dos beneficiários da escravatura e do tráfico de escravos.

Após os ataques terroristas mortais de 13 de novembro de 2015 na França, Plumelle-Uribe publicou 13 de novembro de 2015. Vítimas inocentes das guerras (Anibwé, 2016) para analisar as circunstâncias históricas e as causas que tornaram as populações civis vulneráveis e colocaram em risco a segurança de todos. Ela examina elementos que ajudam a compreender que, na nova realidade do século XXI, a reciprocidade da violência é tal que as intervenções militares no Sul não são mais viáveis sem comprometer a segurança das populações civis do Norte.

Plumelle-Uribe também contribuiu para várias obras coletivas, como Escravidão, colonização, libertação nacional [Esclavage, colonization, libérations nationales] (L'Harmattan, 2000), Desprezo, escravidão e lei [Déraison, esclavage et droit] (UNESCO, 2006), Crimes históricos e reparações: as respostas da lei e da justiça [Crimes de l'histoire et réparations: les réponses du droit et de la justice] (Bruylant, 2004) e 50 anos depois, que independência para a África [50 ans après, quelle indépendance pour l'Afrique] (Philippe Rey, 2010), entre outros.

Agradecimentos [dela feito no livro, acrescenta sobre sua trajetória]

Eu cresci em uma sociedade onde as desigualdades em todos os campos da vida, incluindo a morte, eram tais que causaram e continuam a causar consequências tão terríveis que, mesmo aqueles que acreditavam ter escapado da miséria, tiveram poucas oportunidades de desfrutar de seus confortos materiais sem perder parte de sua humanidade. O menor sentimento humano foi suficiente para desencadear o conflito com um sistema que era controlado por apenas algumas famílias cuja riqueza era comparável à riqueza das maiores fortunas do Ocidente. Esse sistema estava determinado a manter o status quo e, como tal, estava disposto a criminalizar qualquer tipo de demanda social.

Nesse contexto, nas décadas de 1960 e 1970, muitas pessoas nos países das Américas e em outras partes da África e do continente asiático, inclusive adolescentes, tomaram consciência do que significava alienação econômica. Eles assumiram o compromisso ao lado dos mais desfavorecidos. Devo prestar uma homenagem à minha mãe porque, embora não tenha partilhado todas as minhas escolhas, sempre me apoiou mesmo quando, contra a sua vontade, pagou as consequências do meu ativismo.

O que quero sublinhar é que, apesar de ter adquirido consciência desde um estágio bastante precoce da alienação econômica e das desigualdades sociais, cheguei à idade adulta sem perceber o que significava alienação racial.

Eu devo a Amir Smith, Vicente Murrain e Amilkar Ayala, em Bogotá, em 1977, minha descoberta do Discurso sobre o colonialismo, de Aimé Césaire, dos livros de Frantz Fanon, da autobiografia de Malcolm X e Tambours del destino, o trabalho de Peter Bourne sobre a revolução haitiana. Só então me dei conta de nossa posição particular na história da humanidade. Uma posição, como assinala Césaire, que remonta a uma época em que milhões e milhões de mulheres, homens e crianças, foram expulsos de suas casas, acorrentados como animais e compelidos a cruzar o Atlântico sendo despojados até de sua dignidade humana sob os céus da América.

Gostaria de agradecer a Jovina Teodoro por me apresentar o livro profundamente comovente O genocidio do negro brasileiro, de Abdias Do Nascimento.

[pretendo ler até aqui pra então entrar no texto que estudamos]

Naquela época, graças a uma campanha internacional de conscientização das Nações Unidas, sob a pressão combinada de países africanos e da Europa Oriental, fui informada do crime contra a humanidade constituído pelo apartheid, do qual não tinha ouvido falar em parte alguma, fosse no meu círculo político ou em qualquer outro lugar.

Tive a sorte de entrar em contato na França com Jacqueline Grunfeld, uma ex-combatente da Resistência Francesa, ativista anti-apartheid que, até sua morte em 1993, lutou contra todas as formas de racismo. A esta mulher corajosa e generosa devo minha habilidade de discernir entre o judaísmo e o sionismo.

Também tirei grande proveito de meu encontro com Denise Mendez, cuja honestidade intelectual e padrões éticos rígidos foram de grande ajuda para mim em meus esforços.
Quando li Le Code Noir ou le calvaire de Canaan, de Louis Sala-Molins, senti a necessidade de encontrar o autor e abraçá-lo com muito carinho em nome do meu povo.

Também tirei grande proveito dos meus encontros com Régis Doumas que, apesar de não compartilhar minhas crenças, pôde entrar em um debate comigo que ao longo dos anos se tornou um verdadeiro diálogo, pelo qual sou extremamente grata a ele.

Tive a sorte de conhecer Christiane Rémion-Granel, a quem gostaria de agradecer pela sua perseverança nesta luta pela dignidade humana e que muito me estimulou.
Desejo estender meus agradecimentos muito especiais a Frédéric Plumelle, meu marido, a quem este trabalho deve muito. Sem a ajuda generosa que ele me deu por mais de quinze anos, eu nunca teria conduzido a pesquisa que foi essencial para o meu trabalho. Além disso, ele também estava disposto a atuar como meu parceiro durante as etapas, a quem eu apresentei os resultados de minhas análises e pensamentos. Suas sempre bem fundamentadas críticas e sugestões de redação ajudaram enormemente meu progresso. Por isso sou muito grata a ele porque, graças ao seu apoio, pude levar até o fim esta contribuição que devo à memória do meu povo.

Também quero agradecer aos nossos três filhos, Corinne, Henri e JeanGabriel, que à sua maneira me ajudaram e que muitas vezes sofreram as consequências da minha indisponibilidade enquanto preparava esta obra.


por Fuca, nov.21..



terça-feira, 30 de novembro de 2021

O Holocausto dos Pretos (Genocídio Global) - Del Jones - pdf

O Holocausto dos Pretos (Genocídio Global) - Del Jones - (pdf aqui)

https://drive.google.com/file/d/1VIGzLmmb22j8jBAfN-JQAjQ42EqVn4QP/view?usp=sharing



Capítulo 1

1- GUERRA TRIBAL (europeus vs. europeus)

Hoje, cada grupo de pessoas, armado com sua identidade cultural redescoberta ou reforçada, chegou ao limiar da era atual [pós-guerra]. Um otimismo africano atávico, mas vigilante, nos inclina a desejar que todas as nações se deem as mãos para construir uma civilização planetária, em vez de afundarem na barbárie.

-Cheikh Anta Diop, Civilization or Barbarism

 Até mesmo nosso falecido e brilhante estudioso e irmão Diop, um gigante da história, da antropologia e da ciência, demonstra que há algo na mente Afrikana que não se consegue libertar da nossa composição genética humanística básica ao lidar com nossos inimigos.

Diop, mais do que muitos, mostrou os fatos que tratam de nossa vitimização por outros povos. No entanto, até o dia de sua morte ele manteve uma postura com o pensamento positivo de que os bárbaros não eram bárbaros e podiam reverter o comportamento deles em relação aos outros povos do mundo, aos recursos e à força trabalho desses povos [os outros]. Em suma, eles [os bárbaros] acreditam que ainda somos seus escravos, nossas terras ainda são suas e nossas próprias vidas deveriam estar a serviço de sua realidade inventada.

Nunca conseguiremos confrontá-los para salvar nossa existência como um povo enquanto acreditarmos que eles inverterão essa lógica e se voltarão para o lado humano da felicidade. Nah, não há justificativa histórica para essa esperança. O Dr. Martin Luther King Jr. pode ter tido um sonho, mas uma bala em sua garganta foi a realidade.

Nenhum povo, repito nenhum povo, vai para uma batalha, uma luta, uma guerra, sem perceber que deverá usar de tudo para derrotar o inimigo. Enquanto restringirmos nossas apostas com esperanças irrealistas, mais adiante o programa genocida dos inimigos, incluindo “nenhuma misericórdia”, irá prevalecer.

Uma pequena visão geral das interações tribais dos europeus entre europeus acaba com esse sonho. O legado do europeu é a guerra, a guerra sem fim, e com mortes. Eles chegaram ao poder através deste método e não existe nenhuma inclinação para mudar o modo de operação que confiscou o mundo a eles.

Continuamos transmitindo aos nossos filhos essa esperança, essa loucura, essa piada, de que os brancos vão mudar, quando já não há evidências que sustentam essa noção. É um desserviço atribuir isso ao nosso povo sitiado, pois rompe a urgência de nossa luta e deixa nossa própria sobrevivência às abstrações metafísicas. Isso é guerra! Nossas baixas já estão muito além das sofridas por qualquer nação, por qualquer raça, ao longo dos tempos. Não podemos ficar no meio termo.

Eles são um povo de guerra, que levou a tecnologia de guerra a níveis perigosos. Eles desenvolveram “formas superiores de matança” que vão além da guerra, além do genocídio e entram no reino da loucura. Nesta realidade, não há espaço para a complacência. A arma fumegante ainda está carregada e apontada para o povo Afrikano, e está nas mãos sedentas dos assassinos profissionais em massa... é um horror!

Se você acha que isso é um xingamento bobo, você não deve estar bem fundamentado na história europeia. Até mesmo a interpretação deles dos eventos que os moldaram lida duramente com seu comportamento guerreiro.

Vamos apenas escolher uma pepita. Nosso ilustre ancião e professor John Henrik Clarke em seu grande livro Afrikans at The Crossroads: Notes for an Afrikan World Revolution aponta que o sistema europeu de feudalismo nada mais era do que escravidão doméstica. Claro, o termo (feudalismo) foi desenvolvido para esconder a verdade sobre como eles lidavam uns com os outros. Nosso ancião escreveu:

 Se você entender as Cruzadas, especialmente as Cruzadas das Crianças, 1212 D.C., quando os europeus marcharam com mais de 100 000 crianças pela Europa, metade delas morreu congelada durante o inverno anterior, e quando chegaram às águas quentes do Mediterrâneo, na primavera, eles venderam a outra metade para os ‘árabes infiéis’ que eles deveriam ter lutado contra. Se você entende isso, há algo lógico sobre o comércio de escravos em Áfrika; lógico que qualquer homem que fizesse isso com seus filhos faria ainda pior com os filhos dos outros ... Mas, se você o conhecesse, e se analisasse a sua história, saberia que se trata de gangsters, e é melhor matá-los antes que eles matem vocês.

 Historicamente, nossos inimigos foram cruéis com seus próprios filhos. Ainda hoje, a Europa e sua filha bastarda amérikkka têm leis de trabalho infantil para suavizar parte da exploração mortal de seus próprios filhos.

Durante a chamada Revolução Industrial, eles botavam seus filhos para trabalhar até a morte. Aqueles que não morreram, arriscaram a vida fazendo trabalhos perigosos de 18 a 20 horas por dia por pouco mais do que seu sustento. Muitos perderam membros, dedos ou ficaram aleijados pela ganância de seus pais.

Os maus-tratos às crianças dos chamados impérios da Grécia e de Roma fazem parte da história com a qual eles viveram durante anos. Você acha que o abuso sexual de crianças é uma nova moda de Eddie “Fast Eddie” Savitz da Filadélfia ou das legiões de pervertidos que abusam de crianças em uma grande porcentagem de suas creches, escolas e sistemas religiosos?

Você se lembra desse caso do molestador de crianças que pagou por meias sujas, roupas íntimas, sexo anal e oral, enquanto pagava a mais por merda humana? Ele também fez com que algumas crianças cuspissem em sua boca. Por um minuto, esqueça “Fast Eddie”. Poucos apontam que de 2500 a 5000 crianças brancas participaram voluntariamente desse exercício moralmente falido. Portanto, é mais uma acusação à raça branca do que ao indivíduo “Fast Eddie”.

A questão é clara, a maldade de que estou falando é branco sobre branco. No entanto, você nunca os ouve, ou mesmo nós, falar sobre o crime de branco contra branco. Bem, a guerra é um crime e está sempre presente na vida caucasiana. Diga-me o que foram as Guerras Mundiais I e II, decerto o crime dos brancos contra eles próprios.

Quantos milhões morreram na Primeira Guerra Mundial e quantos mais em sua segunda? E quantos africanos foram convocados ou sofreram lavagem cerebral para entrarem no burburinho do lado de uma ou outra tribo branca. Quantos, diga-me, da Áfrika, da América Latina, das Ilhas ou aqui no ventre da besta? Isso não é um crime?

Agora adicione a tentativa de Hitler de exterminar os outros brancos que foi cruel, mortal e bárbara. Quero dizer, é mais um caso de tribalismo pálido repetido inúmeras vezes. No entanto, de alguma forma, os chamados judeus estão mais zangados, mais vingativos com o povo da Áfrika do que com os alemães.

Como a história é controlada pelos vencedores, ninguém mencionou os 20 milhões de mortos na frente russa pelos alemães. Foi um crime maior. Devido às lutas ideológicas do passado entre o capitalismo e o marxismo, essas mortes foram desvalorizadas ou ignoradas. Eu sugeriria que a União Soviética agora está mais por baixo com seus antigos inimigos ocidentais. Portanto, veremos agora produtos de mídia e educacionais solidários com suas perdas.

A história da guerra entre eles é tradicional. A devastação, matança e falta de paz percorrem sua existência.

Eles não permitem que você os veja como as tribos bárbaras que são, porque eles elaboram os currículos e evitam essas referências contra eles. Tribais eles foram e tribais eles sempre serão. Na verdade, sua maior luta para chegar a uma “Nova Ordem Mundial” será tentar superar seu próprio tribalismo mortal.

A selvageria e a barbárie que a França e a Inglaterra executaram uma contra a outra são tradicionais, as duas se atacaram de 1337 a 1453, a chamada de “Guerra de 100 Anos”. Obviamente, sempre que você batalha por tanto tempo, a guerra é a sua norma e a paz é anormal.

A última Cruzada terminou por volta de 1270 e as Cruzadas duraram de 1095 até então. Novamente, você pode ver que a guerra é um estado normal de ser e que a paz é quase inexistente. Além disso, a “peste bubônica” devastou sua população em 1347, vinte e cinco milhões morreram em seis anos. 50% das pessoas nas cidades morreram, 60% de Veneza morreram em 6 meses e, ainda, epidemias menores ocorreram durante o resto do século.

Portanto, seu comportamento guerreiro e a “peste bubônica” mantiveram a morte ao redor de sua frágil existência. Eles se acostumaram a morrer, a morte era sua norma e a vida não valia nada na Europa. E se a vida deles não valia nada para eles, então você sabe que eles não se importavam com a vida dos outros também.

Um poeta francês daqueles dias e tempos escreveu:

 Sofremos com a guerra, a morte e a fome; com o frio e o calor, dia e noite, minando nossas forças; pulgas, sarna e tantos outros vermes fazem guerra contra nós. Em suma, tenha misericórdia, Senhor, de nossas pessoas perversas, cuja vida é muito curta.

 Sendo assim, era uma desgraça ser europeu assim como deveria ser agora. Eles tinham pouco conhecimento de medicina e das doenças e eram muito da guerra, mas mais importante ainda, bárbaros e sem sintonia com a natureza. Na verdade, eles estão em contradição com a natureza, devido à crença profunda de que eles são de fato DEUS.

Só isso pode explicar suas contínuas contradições básicas com a natureza, à medida que destroem a camada de ozônio, poluem aquele líquido precioso chamado água e matam o próprio ar que todos devemos respirar. Nada mais pode explicar essa atitude em relação à beleza da vida e tudo o que está ao nosso redor.

Em 1300, os turcos otomanos estavam atacando pelo leste e os mouros atacando pelo oeste, os turcos invadiram a Grécia e os Bálcãs, a Europa estava sendo estrangulada.

Foi o desenvolvimento da superioridade naval que os salvou e eles correram ao redor dos turcos, aprendendo novas rotas marítimas para o extremo Oriente. Enquanto testavam essas rotas, eles tropeçaram no chamado “Novo Mundo”. É o que eles dizem. John Henrik Clarke apresentou um bom argumento de que Colombo sabia o que estava fazendo e havia adquirido o conhecimento das chamadas Índias Ocidentais a partir dos Afrikanos com quem ele havia lidado ao longo da costa da Guiné, muito antes de navegar em 1492.

O dito renascimento europeu, após dois séculos de regressão, ajudou no desenvolvimento do ferro. Além disso, o progresso intelectual ajudou a empurrá-los avante. Novas técnicas agrícolas e coisas como arados e arreios de ferro permitiram que usassem cavalos em vez de bois lentos. Isso deu um impulso às suas sociedades. Obviamente, eles aprenderam algo com as culturas contra as quais eles estavam lutando.

No entanto, foi o uso da pólvora que os preparou para devastar o mundo. Isso permitiu uma nova tecnologia militar baseada no canhão para o mar e para a terra. Além disso, o desenvolvimento de velas para substituir os remadores e, com canhões montados em navios de mar, agora podiam comandar os mares.

Um país pequeno, Portugal, havia dominado a nova tecnologia atraindo os melhores construtores de navios, matemáticos e artesãos para construir sua frota. Além disso, eles escaparam da turbulência que a maior parte da Europa havia passado e sua sociedade estava mais intacta por falta de conflito interno e externo.

Foi o demoníaco Papa Alexandre VI quem deu à Espanha a soberania sobre todas as partes do mundo não cristianizadas. Dois anos depois, fechou um acordo concedendo a Portugal tudo o que está a leste das ilhas de Cabo Verde. Em suma, o Papa católico sentiu que poderia doar terras de outras pessoas que ele nunca nem viu. Essa é a arrogância do europeu e, como você pode ver, eles não mudaram nada. Recentemente, a amérikkka invadiu a pequena Granada, o Panamá, e bombardeou o Iraque sem piedade. Você deve entender que eles estão apenas sendo consistentes com seus ancestrais mortais.

Colocando isso de lado, foi aqui que a sua atenção voltou-se para seus vizinhos, que eles agora podiam alcançar, agora podiam roubar, agora podiam estuprar, agora podiam escravizar e agora podiam matar. Foi nessa época que o europeu se soltou no mundo e nunca mais foi o mesmo.

Após as Cruzadas, que culminaram em derrota militar, a Europa foi golpeada e quase destruída. Mais uma vez, o historiador John Henrik Clarke em seu livro Africans at the Crossroads ofereceu isto:

 A China era a nação técnica líder no mundo naquela época e eles estavam 150 anos à frente da Europa em habilidades marítimas. A Europa não tinha feito um barco que pudesse aguentar o rugido do oceano. Eles não haviam aperfeiçoado a bússola, e foi essa ignorância que os prendeu na Europa desde a queda de Roma. Agora eles tinham que sair da Europa. Eles haviam perdido um terço de sua população por causa da fome e das pragas. Eles haviam se recomposto parcialmente, graças à estrutura da Igreja Católica, mas eles ainda estavam com fome.

O aprisionamento às condições difíceis e hostis produz um povo com um determinado tipo de temperamento. Esse temperamento então deveria ser projetado no mundo, e ainda teremos que lidar com isso até que o entendamos e paremos de transferir nossos sentimentos para um povo que não compartilha de nossa formação cultural e histórica.

 Esta visão geral básica de alguns incidentes históricos críticos (lidando com o tribalismo europeu) que formaram a base da cosmovisão europeia deve ser útil para entender algumas das razões pelas quais eles são subdesenvolvidos humanisticamente enquanto raça.

Um fator importante que devemos lembrar ao lidar com eles é o fato óbvio de que eles não são como nós, eles não pensam como nós, e eles devem ser tratados com base em seu comportamento histórico em relação a nós e outras pessoas de cor.

Isso ajuda a evitar a armadilha da cosmovisão infantil e estabelecida, de que somos apenas uma parte da família feliz do homem, quando, na verdade, temos sido suas vítimas perpétuas. Ademais, depois de digerir isso, é importante notar que seus programas genocidas neste ponto na história são lógicos e viáveis para a manutenção da supremacia branca.

[...]

 SOBRE O AUTOR (1992): Del Jones é o autor de Culture Bandits, Volumes 1 e 2 e Invasion of de 'Body Snatchers. Ele mora atualmente na Filadélfia, Pensilvânia, e tem viajado muito como repórter investigativo e palestrante. Ele cobriu as violentas eleições na Jamaica e fez parte de uma equipe de investigação em Granada semanas antes da invasão covarde pela máquina militar imperialista amerikkkana. Ele também visitou a África do Sul para estudar a situação política de lá.

Jones obteve seu diploma na escola de duras experiências [hard knocks] e seu bacharelado em organização nas ruas e nos campi. Seu mestrado está em dissecar as distorções da mídia, suas mentiras e meias-verdades, e expô-las ao povo. Seu Phd é sobreviver para vencer no dia seguinte. Como resultado de suas muitas realizações, ele recebeu suas credenciais de Correspondente de Guerra. De agora em diante, C.G. aparecerá após seu nome. Ele também recebeu o prêmio Carter G. Woodson pelo Culture Bandits Vol. 1.


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Consciência Afrikano-Centrada versus Nova Ordem Mundial – Breve Nota

Que livro necessário! A princípio, o título dele parece impressionar, sobretudo pelas expressões Nova Ordem Mundial e Globalismo. Não chega a ser algum tipo de chamada capciosa, mas algo que visa lidar com uma época dos nacionalismos, essa época pode ser datada a partir de 1989? Talvez.

Compreendi que uma das grandes mensagens do Amos Wilson é provar que toda consciência e personalidade pretas desajustadas têm reverberações econômicas em um indivíduo e em seu povo, por extensão. E isso é algo proposital, pois tal desajustamento foi e é promovido pela supremacia branca, a fim de manter o seu domínio cultural, político e econômico sobre os pretos-africanos.

Esta edição é bem completa e não deixa a leitora ou o leitor sem um bom contexto da obra, seja se tratando de Marcus Garvey, de Amos Wilson ou da ideia e elaboração da própria edição em português; desde a Apresentação e Visão Histórica de Garvey até as Duas Partes e os Documentos em Anexo.

Sobre o objetivo deste trabalho na apresentação se diz:
“A ideia é, no mínimo, difundirmos, por todos os meios, conteúdo em forma de palestras, materiais em forma de livros, artigos acadêmicos e outros documentos dispersos... Nosso projeto se intere nesse esforço: Amos Wilson, o próprio Marcus Garvey devem ser redescobertos e reconsiderados, sobretudo para fins de atualizarmos nossa filosofia e ideologia.” (pág.95)
Parte 1- Legado de Marcus Garvey

Amos Wilson vai trabalhar o legado de Garvey ao tratar da psicologia do auto-ódio e como essa psicologia foi inculcada na personalidade oprimida do ser Afrikano. Sendo assim, uma das principais características do legado de Garvey se dá pela sua Percepção da Realidade, a própria essência do fracasso e do desenvolvimento de patologias na pessoa Afrikana seria o não reconhecimento da realidade. Então, para avançar e construir tudo que construiu, Garvey obteve e também promoveu a percepção da realidade.

Tal percepção vêm acompanhada do autoconhecimento. Se existe uma amnésia de quem se é, consequentemente, isso pode propiciar o surgimento de um estado mental patológico. Ou seja, “um povo que sofre de falta de conhecimento de si e de sua história, uma falta de conhecimento de sua criação, é um povo que sofre de perda de identidade.”

Desse modo, não se pode ser um pessoa Afrikana e consciente de sua personalidade ‘positiva’ e ser uma pessoa escravizada ao mesmo tempo. Não é possível desenvolver a cultura Afrikana e se identificar com ela, e ser escravizado e subordinado a outro povo. Ou ainda,
“A falta de autoconsciência é uma insensibilidade a si mesmo. Mas uma insensibilidade a si mesmo, também é um a insensibilidade à realidade e ao mundo exterior. Sem a sensibilidade do mundo exterior e de si mesmo, nós somos dados a tropeçar cegamente de um ponto a outro.” (pág.114)
Portanto, Conheça a Ti Mesmo para estar ciente da realidade concreta do mundo, sob sua ótica. Pois, seu destino será determinado por forças externas (e que atuam internamente também) quando se tem uma fuga e uma falta do autoconhecimento. Porém, o legado de Garvey prega que devemos controlar o nosso destino e para isso, devemos controlar o nosso comportamento por nossa própria vontade. Desse modo, Amos Wilson vê em Garvey,
“o derradeiro psicoterapeuta, alguém que é revelador, e que revela os controles inconscientes, os controles que foram implantados fora de nossa consciência por nossos inimigos e opressores. No entanto, apesar desses controles estarem fora de nossa consciência, eles estavam manipulando nosso comportamento para nossa desvantagem. Ao trazer essas forças inconscientes à consciência; ele possibilitou que estas forças estivessem sob nosso controle, governos, lógica, racionalidade, e sob o controle da ideologia do nacionalismo. Este é o legado que ainda vive hoje.” (pág.145)
Adiante, é extremamente importante o apontamento que Amos Wilson faz sobre a negação de si mesmo, ele postula que tal negação pode estar inculcada também em pessoas pretas conscientes. Isso acontece porque não se aprofundou de fato tal consciência de sua própria personalidade e cultura Afrikana, ou seja, quando se detém uma consciência preta superficial ainda se esperará por parte dos inimigos uma aceitação! Essa pessoa ainda tem esperança de que o inimigo vai mudar, essa é a visão do integracionista, seja liderança ou não, que para amar a si mesmo e ao seu povo, deve-se, antes, conseguir a aceitação do branco.

Garvey amou o povo preto e provou que o amor é a base da coesão e da unidade de propósito de qualquer povo. “Se dependermos de nosso inimigo nos amar antes de nos amarmos, nunca iremos nos amar.”

Amos Wilson vai confrontar a liderança integracionista e assimilacionista, que oferece o alivio para um problema profundamente arraigado, uma liderança que visa promover um dito progresso diante do status quo. A educação para o autor é uma que confronte e que, em grande medida, incomode, pois o propósito de transformação exige um grande incomodo, o enfrentamento da realidade tal como ela é.

Desse modo, a realidade do povo preto exige uma ruptura com o mundo branco, não curá-lo, convertê-lo ou até mesmo fazer parte dele. Tudo se resume na construção da nação preta, uma transformação completa não para fazer parte da pilhagem e do roubo que os brancos promoveram, mas para criar uma nova ordem mundial. Amos Wilson exorta ao povo preto que se aproxime de Garvey, o verdadeiro nacionalista!
“O verdadeiro nacionalista não escapa e esconde através da glorificação do passado o que deve ser feito no presente e no futuro. O nacionalista falso, no entanto, levanta e eleva o povo, constrói um falso orgulho no povo em termos da história passada, mas ele os deixa tateando sobre o que deve ser feito agora. Ele os deixa sem sentido imponentes quando saem dos salões, auditórios e igrejas, com seu oratório tocando nos ouvidos – só para encarar as lojas coreanas quando saem, e encarar suas comunidades dominadas por árabes, por hispânicos e outros grupos. E com esse zunido oratório e retórica, eles devem encarar a realidade de que, embora o conhecimento da história seja maravilhoso, grandioso, e uma parte necessária de nossa ressureição como povo, não será nossa única base de salvação. Além de nos preocuparmos com o nosso passado, nós devemos nos preocupar com o agora e usá-lo, agora, para criar o futuro. (...) (p.160).

“O verdadeiro nacionalista é empreendedor: ele está edificando algo; ele está construindo algo. Nós vemos isso em Garvey; não apenas uma preocupação com o passado, não apenas uma identificação com o Egito e outros grandes impérios Afrikanos do passado, não apenas capturando pequenos detalhes em cima de pequenos detalhes de algum passado Afrikano, mas também um movimento sólido na construção, com concreto, tijolo e argamassa; um sólido desenvolvimento prático e atualização da ideologia Afrikana e do desenvolvimento político. (...)

“Ele não apenas respeita sua herança étnica e as glórias de seus antepassados, mas também se preocupa, se não mais, com a herança que ele passará para seus filhos, com o legado que ele dará a seus filhos. (...) (p.161)

“Um verdadeiro nacionalista não tem medo de delegar poder. Temos muitas pessoas que entram no nacionalismo levando consigo seus problemas egoístas. Muitas pessoas pensam que, porque uma pessoa defende uma ideologia nacionalista, ela superou o egoísmo, a ganancia, o egocentrismo, a mesquinharia, a ignorância e o medo. Dificilmentemente, senhoras e senhores, não é provável! Essas coisas ainda precisam crescer e se desenvolver. (...) (p.166)

“Por fim, se nós quisermos controlar nosso destino, como Marcus Garvey indicou, nós devemos nos autogovernar. Um nacionalismo que não fala em autogoverno, não fala em construção da nação, não constrói uma rede nacional, não constrói um sistema econômico, social, e político nacional, é um nacionalismo falso, Irmãos e Irmãs! ... Não se deixe enganar pelas palavras: devemos olhar para as obras!” (p.166)
Parte 2: Consciência Afrikano-centrada, Personalidade e Cultura como Instrumentos de Poder.

Nesta parte Amos Wilson continua tratando de forma mais detalhada a consciência, mas agora inserindo a relação do Poder com a personalidade e a cultura; essa relação mostra que a natureza da consciência de uma pessoa transforma de forma física como o cérebro opera. Então, quando se fala de consciência, ao estudar cultura e personalidade, se refere também a algo material e real, que age tanto na psique quanto no corpo.

Em um exemplo crucial, Amos Wilson revela que não se deve negar a escravidão dos pretos como se fosse algo que não existiu, como alguns conservadores afirmariam, mas que deve enfrentar os efeitos diretos e indiretos de tal holocausto para justamente poder negar os comportamentos implantados na pessoa africana durante a escravidão, pois esses comportamentos são fontes de diversas possessões, que o autor passa a elencar e caracterizar cada uma no texto.

Com isso, é importante notar os fatores econômicos que o autor enfatizou, que faz parte dessa base material e real oriunda de uma história, cultura, consciência, personalidade, etc. O pretos precisam controlar seus negócios, sua própria terra, os pretos precisam ser geradores de empregos, ou seja, o povo preto precisa pensar em questão de nacionalidade, na construção da nação preta. Assim, Amos Wilson diz que,
“Nós devemos, então, como povo, desenvolver uma nova consciência Afrikana – uma consciência centrada no Afrikano – e isso significa que a desenvolvemos com base em uma história Afrikana, cultura e valores Afrikanos. Acima de tudo, nós devemos desenvolver um senso de nacionalidade Afrikana.” (pág. 203)
E define cultura dessa forma:
“Cultura habita em nós e habita nossos corpos. Nossa história habita em nós e habita nossos corpos... Cultura... é um meio pelo qual um grupo de pessoas organiza a maneira como pensa, organiza a maneira como acredita, organiza a maneira como vê o mundo, de modo a criar uma consciência pela qual elas podem cooperar para alcançar certos fins, de modo que possam ajudar mutuamente um ao outro e obter fins que não podem obter como indivíduos separados. Assim, cultura é um instrumento de poder” (pág.196)
Ou seja, se os valores (que são fatores que direcionam a cultura) detém poder, se cultura é poder, se consciência é poder, então quem determina essas questões sobre um povo detém o poder sobre ele. E isso reverbera obviamente nas questões econômicas e em todos os aspectos de uma nação. Daí Amos Wilson retrata tanto as Nações Afrikanas como a Afrikana-Americana como portadora da relação de monocultura e como isso é impertinente para a consolidação do Poder Afrikano, enquanto tiver que vender mais barato (commodities ou força de trabalho) e pagar mais caro de volta (em produtos e tecnologias, por exemplo); e neste contexto aponta como não existe livre mercado que beneficie os negócios pretos (Wilson:2020, pág. 208). Por fim, ao terminar essa parte do livro, o autor prescreve ações numa perspectiva nacionalista preta para a Nação Afrikana Americana.

Então, em suma, levando (aqui) em consideração que o globalismo seria uma movimentação política e a globalização uma movimentação econômica ambos agindo em prol de um universalismo hegemônico, o povo preto ainda deve pensar e agir com o propósito da construção da nação, Nacionalismo Preto.

Enfim, um livro extremamente importante para pensarmos nossas questões em outra parte da diáspora africana, aqui no Brasil. Visões necessárias para que possamos erigir a nação preta! O processo está em andamento...

Fuca, 2021.

Livro: Amos Wilson. Consciência Afrikano-Centrada versus Nova Ordem Mundial: Garveyismo na Era do Globalismo. Editora Poder Afrikano, 2020.




terça-feira, 27 de julho de 2021

Lançamento da Obra: Descolonização Mental, de Ngũgĩ wa Thiong’o

Segue lançamento: Descolonização Mental.

Uma série de magníficos ensaios de não ficção do escritor queniano Ngūgï wa Thiong'o. Sem dúvida um livro essencial para as pessoas pretas! E publicado por uma Editora Preta Independente. 

Vendas: R$25,00 + frete

Pelo whats: 11 - 9.7870.3640

Pelo instagram: https://www.instagram.com/editorafilhosdaafrica/

A Editora Filhos da África tem como objetivo a circulação de obras pretas e a construção de uma escola de formação para o povo preto - 11 978703640.


 *** 

Orelha do livro nesta edição, 2021.

Segundo o escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o: “O controle econômico e político de um povo nunca pode ser pleno sem o controle cultural, e aqui a prática de estudos literários, independentemente de qualquer interpretação e manejo individual ajustou bem o objetivo e a lógica do sistema como um todo. Afinal, as universidades e faculdades construídas nas colônias após a guerra pretendiam produzir uma elite nativa que mais tarde ajudaria a sustentar o Império”.

Isto é, para o autor desta obra-prima, as culturas brancas, e mais ainda as línguas e as literaturas europeias, impostas durante a colonização e deixadas pelos europeus após as lutas de libertação nacional, ainda hoje são instrumentalizadas pelas antigas metrópoles coloniais, com o auxílio das elites africanas que servem ao neocolonialismo e ao imperialismo, para cumprir uma função primordial na lógica de dominação externa e interna dos povos africanos, principalmente dos camponeses, trabalhadores explorados e demais excluídos da terra, ao promoverem e reproduzirem a colonização mental.

Para Ngũgĩ wa Thiong’o, a descolonização territorial e econômica da África e dos africanos só será efetiva e autêntica no momento em que ocorrer anteriormente a descolonização mental (a rejeição dos valores brancos/europeus/ocidentais) e a manutenção, resgate e adoção orgânica e política dos valores africanos, principalmente da linguagem e de todas as manifestações culturais oriundas desta faculdade humana.

Neste livro, Thiong’o estabelece uma crítica contundente aos autores africanos que não abandonaram a linguagem do colonizador, e ao mesmo tempo exalta a cultura tradicional do povo africano, conclamando intelectuais e escritores a fazer, por meio de suas produções intelectuais e artísticas, o mesmo.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Trechos do livro: Quando a África Despertar – Hubert Harrison

Este livro, apesar de pequeno, abrange muitos assuntos de uma perspectiva radical, comprometida e com os pés no barro, pois aborda temas como a primeira guerra europeia da perspectiva racial tanto quanto fala sobre as contradições do movimento ‘compre preto’; desmascara o movimento organizado dos trabalhadores brancos e também incentiva a valorização da mulher preta e do jovem preto; trata sobre nosso elo imperecível com a África tanto quanto não deixa de salientar que temos problemas a tratar aqui; resolve a questão cunhada em nosso tempo como ‘colorismo’ e também critica as velhas lideranças pretas; defende a política preta de Raça Primeiro e nos mostra que o mundo não-branco age sempre a partir da raça; advoga a rebelião preta para cessar com a invasão estadunidense no Haiti e também faz resenhas de livros, entre tantos outros assuntos de seu tempo e além. (pág.30)

(...)

No plano pessoal, Hubert Harrison deixou sua esposa irene e seus cinco filhos para trás. No campo político, Harrison deixou um escopo bem definido para a nova movimentação preta. Como legado à posterioridade, deixou as ferramentas de luta política preta utilizada por um amplo espectro de lutadores pretos, desde o movimentos pelos direitos civis radicais e moderados até Malcolm X e sua notável utilização das ruas do Harlem como púlpito. Ao movimento Pan-Africanista Nacionalista, deixou bem fundamentado o conceito Raça Primeiro, da autodeterminação preta, da cooperação entre povos de cor do mundo, da excelência cultural e intelectual preta e da autodefesa armada preta. (P.34)

(Prefácio: Ammit Garvey em Quando a África Despertar- Hubert Harrison, Editora Filhos da África, 2020) 

***

(...)

Uma cura para a Ku-Klux.

Foi na cidade de Pulaski, no condado de Giles, Tennessee, que a Ku-Klux Klan original foi organizada na última parte de 1865. A guerra mal havia sido declarada oficialmente terminada quando os covardes "caipiras", que não podiam vencer os ianques, começaram a se organizar para tirar vantagem dos Negros. Eles aprovaram leis declarando que qualquer homem preto que não pudesse mostrar trezentos dólares deveria ser declarado vagabundo; que todo vagabundo deve ser posto a trabalhar nos serviços públicos de suas cidades; que três Negros não deveriam se reunir a menos que um homem branco estivesse com eles, e outros métodos foram usados conforme necessário para manter a "supremacia branca". Quando o congresso nacional se reuniu em dezembro de 1865, olhou para essas tensões leves com um olhar hostil e, já que nada menos que a re-escravização dos Negros poderia satisfazer os "caipiras", mantiveram eles fora do congresso até que concordassem em fazer algo melhor. Descobrindo que eles eram teimosos, o congresso aprovou a 14ª e 15ª emendas e colocaram os estados “caipiras” sob regime militar até que aceitassem as alterações. O resultado foi que o Negro obteve o voto como proteção contra “as pessoas que o conhecem melhor”.

Enquanto isso, a Ku-Klux, depois do rompante sob a liderança daquele traidor, o general Nathaniel B. Forrest, foi derrubada - nocauteada, como se pensava. Hoje, depois que o Negro foi despojado da proteção do voto pela conivência de republicanos brancos em Washington e democratas brancos no sul, a Ku-Klux ousa levantar sua cabeça feia em seu estado ancestral do Tennessee. Desta vez, eles querem aumentar o excelente tipo de democracia que todos os editores covardes sabem que os Negros estavam recebendo quando lhes era pedido para que fossem patrióticos. A Ku-Klux irá matá-los e submetê-los à tortura e terrores antes que eles mostrem suas feridas e solicitem o voto como recompensa.

Nesta crise, o que os "líderes" Negros têm a dizer em nome do seu povo? Onde está Emmet Scott? Onde estão o Sr. Moton e o Dr. Du Bois? O que a NAACP fará além de escrever cartas frenéticas? Tememos que eles nunca possam ultrapassar o nível da apelação. Mas suponha que o Negro comum do Tennessee decida participar do jogo? Suponha que ele deixe saber que, ao tirar a vida de qualquer soldado ou civil Negro, dois “caipiras” morrerão? Suponha que ele os informe que será tão caro matar Negros quanto é matar pessoas reais? Então, de fato, a Ku-Klux seria enfrentada em seu próprio terreno. E porque não?

Todas as nossas leis, mesmo no Tennessee, declaram que linchamento e racismo são crimes contra a pessoa. Todas as nossas leis declaram que as pessoas individualmente ou em grupos têm o direito de matar em defesa de suas vidas. E se a Ku-Klux impede os oficiais da lei de fazer cumprir essa lei, cabe aos Negros ajudar os oficiais, fazendo cumprir a lei por conta própria. Por que eles não deveriam fazer isso? Chumbo, aço, fogo e veneno são tão potentes contra os “caipiras” quanto aos alemães, e vale lutar pela democracia no Tennessee tanto quanto nas planícies da França. Se os Negros do sul não reconhecerem essa verdade, ninguém mais a reconhecerá por eles. (pp. 77,78,79)

Quando a África Despertar - Hubert H. Harrison

Capítulo III - O Negro e a Guerra.

Diáspora Africana: Editora Filhos da África, 2020. 1ª edição. 215 Páginas.

 [agora em A nova consciência da Raça]

 (...)

Nos bons e velhos tempos, os brancos derivavam seu conhecimento do que os Negros estavam fazendo através daqueles Negros mais próximos deles, geralmente seus próprios expoentes selecionados da atividade dos Negros ou do seu ponto de vista branco. Uma ilustração clássica desse tipo de conhecimento foi fornecida pelo Partido Republicano; mas a Igreja Episcopal, a Liga Urbana ou o Governo dos EUA também serviriam. Hoje o mundo branco é vagamente, mas inquietantemente, ciente de que os Negros estão acordados, diferentes e desconcertantemente incertos. No entanto, o mundo branco pelo qual estão cercados mantém seu método tradicional de interpretar a massa pelo Negro mais próximo de si em afiliação ou contrato. O partido socialista insiste em pensar que a “inquietação” agora aparente nas massas Negras se deve à propaganda que seus adeptos apoiam e acredita que essa revolta funcionará em grande parte nos moldes do pensamento político socialista. Os grandes jornais, preocupados principalmente com a tarefa escolhida de serem os mensageiros mentais da multidão, gritam “propaganda bolchevista” e se lisonjeiam por terem encontrado a verdadeira causa; enquanto os agentes não confiáveis do governo a encaram como “deslealdade”. A verdade, como sempre, pode ser encontrada nas profundezas; mas aí estão todos impedidos de passar pela preguiça mental, pelo desprezo tradicional e fraqueza com que homens brancos na América, de estudiosos como Lester Ward a palpiteiros como Stevenson, decidem considerar uma população de cor de doze milhões.

Em primeiro lugar, a causa do “radicalismo” entre os Negros americanos é internacional. Mas é necessário estabelecer distinções claras desde o início. A função da igreja cristã é internacional. Assim como a arte, a guerra, a família, a alienação e a exploração do trabalho. Mas nada disso possui o direito especial de ampliar o manto de seu próprio “internacionalismo” peculiar para cobrir o caso atual do descontentamento dos Negros – embora isso tenha sido constantemente tentado. O fato internacional ao qual os Negros na América estão reagindo agora não é a exploração de trabalhadores pelos capitalistas; mas a sujeição social, política e econômica dos povos de cor pelos brancos. Não é a linha de classe, mas a Linha de Cor, que é a expressão incorreta, embora aceita, a Linha Pétrea da inferioridade racial. Esse fato é um fato na consciência dos Negros e também nas dos outros. A Linha de Cor Internacional é ambos, a prática e a teoria, dessa doutrina que sustenta que os melhores quadros da África, China, Egito e Índias Ocidentais são inferiores aos piores quadros da Bélgica, Inglaterra e Itália e devem manter suas vidas, terras e liberdades sob os termos e condições que a raça branca decidir conceder.

Hubert Harrison - Quando a África Despertar.

Capítulo VI.

 [mais sobre Raça Primeiro]

(...)

Agora que seu partido encolheu consideravelmente em apoio popular e apreço popular, eles estão dispostos a defender nossa causa. (...) Enquanto eles estavam se recusando a diagnosticar nosso caso, nós mesmo o diagnosticamos e, agora que prescrevemos a cura – Solidariedade Racial – eles vêm até nós com sua prescrição – solidariedade de classe. É tarde demais, senhores! ... E se você é simplório o bastante para acreditar que aqueles, dentre nós, que atendem aos seus interesses à frente dos nossos, têm algum monopólio do intelecto ou da informação ao longo das linhas da aprendizagem moderna, então vocês são, realmente, monumentais idiotas. (...) Falamos Raça Primeiro, porque vocês insistiram o tempo todo em Raça Primeiro e classe depois quando não precisavam de nossa ajuda. ...pp.139-130(...)

Durante a recente guerra mundial [1914-1918], ensinou-se aos Negros da América que, enquanto os brancos falavam em patriotismo, religião, democracia e outros temas, eles permaneciam leais a um conceito acima de todos os outros, e esse era o conceito raça. Mesmo no meio da guerra e nos campos de batalha da França, havia “raça primeiro” entre eles. p.132(...)

Mas vamos nos aproximar de casa. (...) Você encontrará um Harlem Negro Renascido, com empresas e arranjos culturais...

Todas essas coisas são produtos recentes do princípio de “Raça Primeiro.” Entre elas, a maior é a Universal Negro improvement Association (Associação Universal para o progresso do Negro), com seus órgãos associados, a Black Star Line (Linha Estrela Preta) e a Negro Factories Corporation (Corporação de Fábricas do Negro). Nenhum movimento entre os Negros americanos, desde a abolição da escravidão, alcançou essas proporções gigantescas. (p.134)

 (Quando a África Despertar – Hubert Harrison, Editora Filhos da África, 2020.)

  [orientação de busca constante por conhecimento]

Orientamos às massas de nosso povo: Leia! Adquira o hábito de leitura; gaste seu tempo livre não treinando tanto os pés para dançar, como treinando a cabeça para pensar. E, desde o início, trace a linha entre livros de opinião e livros de informação. Sature suas mentes com estes últimos e você formará suas próprias opiniões, que valerão dez vezes mais do que as opiniões das maiores mentes da Terra. Vá para a escola sempre que puder. Se você não puder ir durante o dia, vá à noite. Mas lembre-se sempre de que a melhor faculdade é aquela em sua estante de livros: a melhor educação é aquela em sua mente. (...) e se nós, da raça Negra, pudermos dominar o conhecimento moderno – do tipo que conta – seremos capazes de conquistar, por nós mesmo, os inestimáveis presentes da liberdade e do poder, e seremos capazes de defende-los contra o mundo. Hubert Harrison. P.184.

 



 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Jalil A. Muntaqim – Escritos da Prisão

Arquivo Pdf JALIL MUNTAQIM

ESCRITOS DA PRISÃO: Sobre o Partido dos Panteras Pretas, o Exército de Libertação Preta e a Frente para a Libertação da Nova Nação Afrikana

https://drive.google.com/file/d/1T-nw7vNcH5eD8KtFQ7OLbl3w_Wh7UEiD/view?usp=sharing

Jalil A. Muntaqim (Anthony Bottom, 1951-...) - Preso político de guerra nos EUA por quase meio século (50 anos), Ex-membro do Partido dos Panteras Pretas e do Exército de Libertação Preta, 
Revolucionário e estudioso da FROLINAN - Front for the Liberation of the New Afrikan Nation [Frente para a Libertação da Nova Nação Afrikana].

O irmão Jalil conquistou sua liberdade condicional agora no final de 2020.

Textos compilados:
1. Sobre o Autor.
2. Declaração de Condenação. 
3. Seremos Nossos Próprios Libertadores.
4. Sobre o Exército de Libertação Preta.
5. FROLINAN - Manual Para Os Quadros Nacionalistas Revolucionários.
6. A LUTA NACIONAL E INTERNACIONAL. 

Por Fuca, Insurreição CGPP.



quarta-feira, 14 de abril de 2021

Quênia: vídeo homenagem Dedam Kimathi e trecho de Ngũgĩ wa Thiong'o, (1986).


(...) A questão da terra é básica para a compreensão da história e da política contemporânea do Quênia, como na verdade é da história do século XX onde as pessoas tiveram suas terras tomadas pela conquista, pelos tratados desiguais ou pelo genocídio de parte da população. A organização militante Mau Mau, que liderou a luta armada pela independência do Quênia, foi oficialmente chamada de Exército por Terra e Liberdade do Quênia. A peça de teatro, Ngaahika Ndeenda, em parte se baseou muito na história da luta por terra e liberdade; particularmente no ano de 1952, quando a luta armada liderada por Kimathi começou e os regimes coloniais britânicos suspenderam todas as liberdades civis ao impor um estado de emergência; e em 1963, quando a KANU [União Nacional Africana do Quênia] sob Kenyatta negociou com sucesso o direito de arvorar uma bandeira nacional, de cantar um hino nacional e de chamar as pessoas a votar em uma assembleia nacional a cada cinco anos. A peça mostrou como aquela independência, pela qual milhares de quenianos morreram, havia sido sequestrada. Em outras palavras, mostrou a transição do Quênia de uma colônia com os interesses britânicos dominantes, a uma neocolônia com as portas abertas aos interesses imperialistas mais amplos, do Japão à América do Norte. Mas a peça também retratou as condições sociais contemporâneas, particularmente para os trabalhadores das fábricas e das plantações multinacionais. (...)

(...)

Os participantes [da peça] foram mais específicos sobre a representação da história, sua história. E eles foram rápidos em apontar e argumentar contra qualquer posicionamento incorreto das várias forças - até as forças inimigas - trabalhando na luta contra o imperialismo. Eles comparavam notas de sua própria experiência real, seja na fabricação de armas nas florestas, no roubo de armas do inimigo britânico, no transporte de balas pelas linhas inimigas ou nas várias estratégias de sobrevivência. Terra e liberdade. Independência econômica e política. Esses eram os objetivos da luta e eles não queriam que Ngaahika Ndeenda distorcesse isso. As armas de imitação para a peça em Kamirithu foram feitas pelas próprias pessoas que costumavam fazer armas de verdade para os guerrilheiros Mau Mau nos anos cinquenta. Os trabalhadores estavam ansiosos para que os detalhes da exploração e as duras condições de vida nas fábricas multinacionais fossem revelados...

(Ngũgĩ wa Thiong'o, 1986)

No vídeo uma homenagem ao grande guerrilheiro Dedan Kimathi Waciuri (outubro 1920 – Fevereiro 1957) com músicas nativas dos Mau Mau. Emocionante!

https://www.youtube.com/watch?v=zqK8hky6A30


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

(Livro) Chancellor Williams: O Renascimento da Civilização Africana (pdf)

Baixar em pdf: https://drive.google.com/file/d/1FkBk1qJM0UBXYFY7-RY9vGkBMWoJb99W/view

O RENASCIMENTO DA CIVILIZAÇÃO AFRICANA
Chancellor Williams

Este livro [edição de 1961] é uma afirmação da Educação e uma defesa da Democracia Cooperativa como forma de vida para a nova África. Contém também um relatório sobre estudos sociais e as dimensões filosóficas e espirituais da vida africana e suas perspectivas para o futuro. Assim como em seu livro mais proeminente, A Destruição da Civilização Preta, Chancellor Williams fornece estratégias e táticas perspicazes para organizações, ativistas e acadêmicos sérios que trabalham na agenda do Renascimento Africano.

A ideia de unidade Pan-Africana, a união de um bilhão de pessoas africanas no mundo, não é apenas fantasia. Essa demanda surge em um momento em que a própria sobrevivência cultural e econômica do povo africano está em jogo. O impulso para tornar a unidade cultural, a continuidade histórica e a cooperação econômica do mundo africano uma realidade é a mensagem que o Chancellor Williams apresenta neste livro.

Chancellor Williams (1898-1992) foi escritor, professor universitário, historiador e o autor de "A Destruição da Civilização Preta: Grandes Questões de uma Raça, entre 4500 a.C. e 2000"."




sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Leiam o Jornal Yanda Panafrikanu - 4 edições de 2020

Eu, Fuca, fui convidado e colaborei com um conto no número 3 e com um texto no número 4. Enorme satisfação. No mais: confiram que o editorial é pesado, e um órgão oficial de difusão do pan-africanismo.

***

YANDA quer dizer REDE em kimbundu, língua bantu concentrada no noroeste de Angola, nomeadamente nas províncias de Luanda, Bengo, Malanje e Kwanza Norte, e falada pelo povo Ambundu. A ideia para o nome YANDA PANAFRIKANU partiu de diferentes imagens de rede, tanto pela nossa missão de uma construção política em rede, entre filhos e filhas no continente africano e na sua diáspora, para fortalecermos diálogos e ações, como também na perspectiva de uma rede que é lançada ao mar, buscando a autonomia para pescarmos as nossas ideias, identidades, culturas e alimentos. YANDA é simultaneamente trabalho colectivo e trabalho autônomo numa luta comum da negritude.

Página do Jornal Yanda Panafrikanu: https://www.facebook.com/pg/Yanda-PanAfrikanu-105000434608944/posts/

Segue as edições:

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº4

https://drive.google.com/file/d/1PoQjjzHHrL_w68iP1dzgn4-ju8HUc5CP/view

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº3

https://drive.google.com/file/d/10j1OFhjQdh5IeuYllL09kLJxjEiDsotk/view

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº2

https://drive.google.com/file/d/1ptH-WCSJwXR9iB8zXY2DKLxXPLvx8-0g/view?fbclid=IwAR2lgkTo8Roje7B2E3LgjoDP4MGpRl3nR7hNZxqPUiefWbfIndJI9_wsbVY

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº1

https://drive.google.com/file/d/1XDP_IWDLoebYysXq1YRlIq_o-3ikbB6Z/view?fbclid=IwAR0ekUM4qqLmmAZC9_EonGmh1TdgztN3bkO-vf1DXv3_EJ7Cc4jLuJ0iY1w


*O logotipo foi concebido por Cintia Ataliba, inspirado na ideia de redes como raízes ou rizomas conectados desde o continente até à diáspora.


sábado, 16 de janeiro de 2021

Podcast: Kitabu - Kwame Ture - Depois da Roda - out/20

Iniciativa da Biblioteca Comunitária Assata Shakur, imensamente grato pelo salve e pela troca que fizemos!!!


Podcast: KITABU - Kwame Ture - Depois da Roda - out/20

Descrição do episódio
Estamos de volta, hein?

Dessa vez pra falar sobre o grande Kwame Ture mais conhecido como Stokely Carmichael, que fez parte do SNCC e do partido dos panteras pretas.

O livro é: do poder preto ao pan-africanismo e para isso convidamos uma pessoa muito especial, o Fuca. Fuca é rapper do grupo Insurreição CGPP e tem traduzido o Kwame Ture. Vai perder? Da o play.

Confira mais do trabalho do Fuca através do blog https://insurreicaocgpp.blogspot.com/?m=1


ou pode dar o play aqui também:



Sigam a página da brilhante Biblioteca Comunitária Assata Shakur em todas as redes sociais que possuir.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

JALIL A. MUNTAQIM - A LUTA NACIONAL E INTERNACIONAL

A LUTA NACIONAL E INTERNACIONAL

Rumo a uma Nova Estratégia Global Revolucionária Pan-Afrikana

Por Jalil A. Muntaqim

Para compilados de textos em pdf aqui: Jalil Mutaqim - Escritos da Prisão

https://drive.google.com/file/d/1T-nw7vNcH5eD8KtFQ7OLbl3w_Wh7UEiD/view?usp=sharing

Estamos lutando por uma sociedade sem racismo e sem exploração, mas muitos não sabem que tipo de governo e sistema social isso implicaria. Portanto, pode parecer uma afirmação contraditória, mas eu sou da opinião que se este ponto não está evidente para o povo, então o povo não saberá onde precisa direcionar suas energias. É essencial que os revolucionários distribuam materiais e propaguem informações que forneçam a compreensão e a direção sobre o objetivo final da revolução. Os revolucionários devem assumir a responsabilidade e demonstrar o que propagam em realidade, atendendo às necessidades do povo. Por outro lado, se o povo não decide assumir a responsabilidade pelo tipo de sociedade em que deseja viver, não deve reclamar de sua opressão. Ser revolucionário significa ter um compromisso político e assumir a responsabilidade por esse compromisso.

No que diz respeito à autodeterminação Afrikana, nacionalidade e independência nos Estados Unidos, deve-se entender que os Estados Unidos são uma nação de colonos. A evolução histórica deste país é baseada na colonização e dominação de nativos americanos, Afrikanos, mexicanos/porto-riquenhos e asiáticos por colonos europeus. O sucesso desses colonos europeus no processo de colonização fez dos Estados Unidos a nação mais poderosa do mundo. Ainda assim, os conflitos socioeconômicos internos persistem, devido a forma como os Estados Unidos passaram a existir. A resolução dessas contradições/conflitos pode resultar na dissolução dos Estados Unidos, à semelhança do que aconteceu na URSS. Portanto, postula-se que a separação/independência pode ser o método para resolver essa contradição. Esta é uma abordagem particularmente viável à medida que os povos que são ‘colonizados domésticos’ nos EUA quiserem estabelecer sua soberania, e não se eles têm o direito de fazê-la. Ao tomar essa decisão, a luta manifestada por um movimento de independência muda inevitavelmente as dimensões socioeconômicas e políticas deste país. Afeta o determinante histórico, bem como o fundamento moral/espiritual cujo esta nação foi fundada. A luta pela libertação nacional dos povos que são colonizados domésticos obriga este país a ser responsável por esses colonizados. Ela força o país a considerar sua história, como seu povo vive em relação aos meios de produção e como a riqueza do país é então distribuída.

Uma vez que os EUA estão novamente ativos no continente Afrikano, o Afrikanos nos EUA devem se preocupar em como isso os afeta internamente. Essa ação dos EUA deve fazer com que a OUA se torne mais responsiva às necessidades do povo Afrikano. Para resolver o problema geral na Somália e em outras áreas da Áfrika, a OUA deve buscar os meios e métodos para estabelecer um governo somali e garantir a reforma democrática em outras partes do continente. Infelizmente, só depois que a Áfrika desenvolver uma força militar representativa intracontinental, a Áfrika será capaz de se estabelecer seriamente perante os assuntos globais. O que foi feito na tentativa de resolver a luta destrutiva na Libéria oferece possibilidades quanto ao que precisa ser desenvolvido em todo o continente Afrikano.

Em última análise, trata-se do problema do combate ao capitalismo internacional. No conceito marxista de desenvolvimento socioeconômico e nas relações das pessoas com os meios e o modo de produção, existe uma grande contradição entre dois grupos sociais. Esses grupos são identificados como a burguesia, os proprietários e controladores dos meios de produção; e o proletariado, os trabalhadores e operários que produzem riqueza para a burguesia. Esses antagonismos de classe estão diretamente centrados na distribuição da riqueza produzida pelo proletariado. Atualmente, a classe burguesa evoluiu para um corpo internacional de estrategistas globais, que continuam a se apropriar da riqueza do corpo internacional de proletários.

Nos últimos quinze anos, particularmente durante as presidências de Carter, Reagan e Bush, o corpo internacional de estrategistas globais, representando os interesses da classe burguesa, consolidou a hegemonia do capital monopolista. Essa consolidação evoluiu com o advento do G-7, da OTAN, do FMI, do Banco Mundial e da influência dominante dos EUA na ONU. Isso inclui outras organizações não governamentais (ONG’s), como a Comissão Trilateral, o Grupo de Bilderberg e órgãos supranacionais semelhantes. Em virtude dessas organizações internacionais conectadas e unidas por meio de uma rede de entidades corporativas, tem havido uma ascensão em direção a uma nova ordem internacional.

Com a dissolução da URSS comunista, que originalmente deu origem à internacional comunista, a classe do proletariado foi despojada, globalmente, de representação internacional. Embora existam organizações como a Organização Internacional do Trabalho e outros fóruns trabalhistas da ONU, elas foram cooptadas pela burguesia internacional.

É possível, então, compreender o desenvolvimento das relações internacionais com base nos determinantes econômicos e entender como esses determinantes se desenvolvem tanto no campo nacional quanto no internacional. Dentro da classe do proletariado, os esquerdistas continuam a se opor ao domínio do monopólio capitalista, mas estão desordenados e sem um centro de gravidade para a liderança, originalmente detido pelo Partido Comunista da URSS. Atualmente, frentes revolucionárias como a Brigada Vermelha, a Action Directe e a Facção do Exército Vermelho estão envolvidas em discussões sobre o futuro de seus movimentos à luz da unificação da Alemanha, da dissolução da URSS e do Tratado de Maastricht. Elas estão preocupadas com a consolidação da nova ordem internacional da burguesia capitalista e do imperialismo dos EUA. Os esquerdistas europeus lutam procurando os meios para restabelecer uma força política para combater a burguesia internacional e organizar um novo internacionalismo proletário.

Nos Estados Unidos, a burguesia capitalista, com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), forjou uma frente econômica unida entre os EUA, o Canadá e o México. A classe trabalhadora nos Estados Unidos, particularmente os sindicatos industriais, teme que o NAFTA se traduza na perda de empregos para os trabalhadores americanos. O interesse dos líderes corporativos dos EUA no NAFTA é a continuidade dos lucros para os proprietários (ações) das empresas envolvidas no NAFTA. Embora aparentemente o NAFTA e o Tratado de Maastricht sejam dois desenvolvimentos socioeconômicos e políticos distintos, na realidade os arquitetos desses estratagemas econômicos e políticos são os representantes da nova ordem internacional.

Parte da contradição neste desenvolvimento internacional é entre nações desenvolvidas e nações subdesenvolvidas. Com a consolidação das nações desenvolvidas em um sistema de economia de mercado internacional, essas nações desenvolvidas competem entre si pelo domínio do mercado. Isso inclui competir por influência e controle de recursos e trabalho em nações subdesenvolvidas, enquanto as nações subdesenvolvidas lutam para manter a interdependência econômica e política na proliferação do sistema de economia de mercado internacional. Essa competição entre as nações desenvolvidas tem o potencial de tornar a nova ordem internacional nula e vazia, ou de criar um equilíbrio de poder global hegemônico que dividirá o mundo em dois campos permanentes. As nações desenvolvidas podem se envolver em uma guerra econômica, como pode ser visto nos desacordos comerciais entre a França e os EUA, entre os EUA e o Japão, e/ou a continuação da divisão econômica global entre o Norte e o Sul. A contradição interna dentro do corpo político da burguesia internacional e do imperialismo capitalista oferece esperança para o proletariado internacional e as nações subdesenvolvidas.

Essencialmente, a esperança do proletariado internacional e das nações subdesenvolvidas é que a nova ordem internacional se fracione. Se a nova ordem internacional se fragmentasse em sistemas concorrentes de economia de mercado, isso permitiria às nações em desenvolvimento a oportunidade de negociar os meios e os métodos de seu desenvolvimento na arena econômica internacional mais ampla e no contexto político. Isso permitiria que a classe trabalhadora e seus representantes influenciassem o seu governo no que melhor serviria aos seus interesses. A divisão de entidades corporativas hegemônicas globais e seu controle governamental representativo dos assuntos internacionais permitem que estados-nação menores, mais fracos e subdesenvolvidos possam competir dentro das fissuras das divisões internacionais.

Como exemplo deste conflito Norte/Sul, o Dr. Mohammad Ibn Chambras, Secretário Adjunto das Relações Exteriores e líder da Delegação de Gana à Quadragésima Sétima Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, declarou:

“Em seu relatório anual, Development Cooperation 1991, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) confirmou, embora indiretamente, os temores da comunidade internacional de que a preocupação com os desenvolvimentos na Europa Oriental e na ex-União Soviética agravaria a marginalização da África. De acordo com a OCDE, não apenas a ajuda da ex-União Soviética e da Europa Oriental para a África Subsaariana quase caiu a zero; o desembolso de ajuda para a mesma área oriunda de outros países permaneceu estagnado. Em contraste, a OCDE estimou que as promessas de seus membros em novembro de 1991 para a Europa Oriental totalizaram US$ 45 bilhões, em comparação com seus compromissos oficiais anuais com a África de cerca de US$ 34 bilhões. Além disso, em sua reunião em Munique em julho deste ano, o Grupo dos Sete países industrializados endossou um pacote de assistência financeira de US$ 24 bilhões somente para a Federação Russa. Não é de se admirar, então, que o Banco Mundial, em seu relatório intitulado African External Finance in the 1990, preveja, para a África Subsaariana, um déficit financeiro variando entre US$ 7 bilhões em 1995. É neste cenário desanimador que o meu Governo apoia não só o apelo à anulação de dívidas por credores oficiais e bancos comerciais, como também por instituições multilaterais, mas também a convocação da proposta conferência internacional sobre o financiamento do desenvolvimento, que assume uma nova urgência em face desses fatos.”

Sem dúvida, o conflito entre Norte e Sul no desenvolvimento da nova ordem internacional deve ser resolvido por meio da convocação de uma conferência multilateral internacional que considere a disparidade econômica entre as nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas. Por outro lado, afirma-se que na perspectiva de fortalecimento da nova ordem internacional, a burguesia capitalista deve estar preparada para reduzir suas margens de lucro e expectativas de expansão de longo prazo. (Consequentemente, a classe trabalhadora dos estados-nação desenvolvidos sofre uma diminuição do padrão de vida, impostos mais altos, alto desemprego e estagnação crônica). Em essência, a hegemonia da nova ordem internacional se baseia em ajudar os estados-nação subdesenvolvidos a se tornarem competitivos. Internacionalmente, deve forjar uma maior uniformidade em direção ao desenvolvimento econômico e político em estados-nação subdesenvolvidos. Sendo assim, a competição desses sistemas de economia de mercado será menos antagônica e o comércio internacional evoluirá em direção aos determinantes de oferta e demanda equitativos. Desse modo, a mais-valia de bens, trabalho/serviços, estará sujeita ao planejamento internacional e a investimentos no mercado global. As corporações multinacionais funcionariam como instituições governamentais, no lugar da ou na formação política e econômica direta, planejando, formulando e desenvolvendo as metas e aspirações políticas e socioeconômicas globais dos povos do mundo. Este é, em essência, o coração e o espírito da nova ordem internacional, onde a hegemonia global não é baseada na acumulação de capital por estados-nação individuais, ou seja, capitalista - imperialismo, mas sim Uma Ordem Mundial – um Governo.

Com base nessa análise, o coração e o espírito da nova ordem internacional é o advento de um governo mundial. Deve ser informado que tal ideia não é estranha aos que estão construindo a nova ordem internacional. Com a formação do G-7, da Comissão Trilateral, da OTAN, do FMI, do Banco Mundial, do Tribunal Mundial e das Nações Unidas (para citar as instituições mais proeminentes que refletem essa ideia), a nova ordem internacional tem em vigor as instituições essenciais para mover o mundo em um governo mundial. O que inibe este desenvolvimento são as condições econômicas desiguais acima mencionadas entre os vários estados-nação (Norte/Sul), as contradições ideológicas e econômicas internas entre a burguesia e o proletariado (divisões de classe); além da competição econômica interna e o conflito dentro do corpo político dos estados-nação dos sistemas capitalistas de economia de mercado.

Mas com a crescente dependência e influência da ONU para resolver conflitos internacionais, e o uso crescente do FMI e do Banco Mundial para controlar e distribuir riqueza internacionalmente sob os ditames do G-7, as contradições mencionadas são menos antagônicas para acomodar e garantir a manifestação de um governo mundial único.

O principal obstáculo para essa transição é a existência de sistemas de crenças (religiões) e ideologias/filosofias políticas divergentes. Aparentemente, esses obstáculos de “pensamentos” não impedirão um governo mundial único, mas simplesmente retardarão sua manifestação como autoridade global suprema. Por exemplo, a revolução islâmica e os movimentos fundamentalistas estão em oposição direta ao imperialismo dos EUA. Os estados-nação islâmicos e os movimentos fundamentalistas islâmicos subsequentes não se opõem a um governo mundial. Esses movimentos islâmicos estão lutando para estabelecer instituições e governos político-religiosos, socioeconômicos e socioculturais que reflitam a ideologia islâmica de um governo mundial. Claro, essa contradição está na base da cumplicidade do G-7 no bombardeio dos EUA à Líbia e ao Iraque, no seu fracasso em apoiar os muçulmanos na Bósnia, nas relações neocoloniais dos EUA com a Arábia Saudita, Kuwait e Egito e o conluio dos EUA com o sionismo de Israel resultando em danos para o povo palestino. Assim, a visão de mundo islâmica ressalta a contradição entre os estados-nação islâmicos e os sistemas de economia de mercado exemplificados pelo imperialismo capitalista.

Portanto, é uma hipótese que a nova ordem internacional deva criar uma nova “religião” que seja universal em qualidade, abraçando o conceito de um governo mundial dentro da crença holística de uma religião mundial (A Vinda do Messias e Mádi). Essas percepções podem oferecer aos revolucionários engajados nessas lutas uma compreensão de como melhor responder ao capitalismo internacional. Por exemplo, em Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo, de Lenin, no Capítulo V – “A Divisão do Mundo entre as Associações Capitalistas”, ele apresenta:

“As associações monopolistas capitalistas - cartéis, sindicatos, trustes - dividem entre si, em primeiro lugar, todo o mercado interno de um país, e impõem seu controle, mais ou menos completamente, sobre a indústria daquele país. Mas, sob o capitalismo, o mercado interno está inevitavelmente ligado ao mercado externo. O capitalismo criou há muito tempo um mercado mundial. À medida que aumentava a exportação de capitais e as relações externas e coloniais, as 'esferas de influência' do grande monopolista se combinavam, se expandiam, as coisas tendiam 'naturalmente' para um acordo internacional entre essas associações e para a formação de cartéis internacionais.”

Obviamente, esses cartéis internacionais cooptaram e agora controlam seus governos, e esses governos (ou seja, o G-7) operam como agentes do capital internacional. Com relação a este desenvolvimento internacional do capital, Lenin apresentou ainda a respeito do imperialismo como esses cartéis internacionais operariam:

“Já que estamos falando de política colonial no período do imperialismo capitalista, deve-se observar que o capital financeiro e sua correspondente política externa, que se reduz à luta das grandes potências pela divisão econômica e política do mundo, dão origem a uma série de formas transitórias de dependência nacional. A divisão do mundo em dois grupos principais - de países proprietários de colônias por um lado e colônias por outro - não é a única característica típica deste período: também há uma variedade de formas de dependência; países que, formalmente, são politicamente independentes, mas que estão, de fato, enredados na nova dependência financeira e diplomática. Já nos referimos a essa forma de dependência - a semicolônia”.

É o caso de muitos estados-nação Afrikanos e latino-americanos, cujas economias estão em dívida com o FMI e o Banco Mundial, que são supostamente controlados em parceria corporativa pelo G-7.

No Capítulo VII, “Imperialismo como Estágio Particular do Capitalismo”, Lenin explica as cinco características essenciais do desenvolvimento do imperialismo capitalista. Ele então estabelece:

“Imperialismo é o capitalismo naquele estágio de desenvolvimento em que se estabeleceu a dominação dos monopólios e do capital financeiro; em que a exportação de capitais adquiriu grande importância; em que se iniciou a divisão do mundo entre os trustes internacionais; e em que a partição de todos os territórios do globo entre as grandes potências capitalistas foi concluída.”

Para entender melhor esse desenvolvimento, os revolucionários devem revisar e repensar como a nova ordem internacional evoluiu. O que foi apresentado oferece possibilidades particulares para o desenvolvimento futuro da nova ordem internacional - Governo Mundial Único.

Visto que a luta enfrentada pelas frentes revolucionárias é o desenvolvimento e a evolução do Governo Mundial Único, devemos aprender como fazer disso um desenvolvimento revolucionário.

Naturalmente, o desenvolvimento de um Pan-Afrikanismo internacional revolucionário depende de nossa compreensão do desenvolvimento do imperialismo capitalista e da nova ordem internacional. Nossa capacidade de combater o imperialismo capitalista está sujeita à nossa capacidade de organizar um novo movimento revolucionário anti-imperialista e pró-socialista Pan-Afrikanista. O curso de reconstrução de um movimento Pan-Afrikanista revolucionário será baseado em nossa capacidade de organizar movimentos populares de massa pela social-democracia e o controle dos meios e modos de produção. Esta organização do proletariado deve ser baseada no aumento de sua compreensão política tanto da natureza do capitalismo/imperialismo internacional quanto de como os sistemas de economia de mercado são controlados globalmente por alguns capitalistas monopolistas e seus governos representativos.

Por exemplo, sob a liderança enganosa de capitalistas monopolistas nos Estados Unidos, mais de 5 milhões de pessoas estão desabrigadas, 37 milhões não têm seguro saúde, 30 milhões são analfabetas, mais 30 milhões são analfabetas funcionais, mais de 1 milhão estão encarceradas e 60 milhões vivem na pobreza e lutam dia a dia. Em contraste, uma pequena fração da população controla uma riqueza enorme. O patrimônio líquido médio do 1% do topo das famílias nos EUA é 22 vezes maior do que o patrimônio líquido médio dos outros 99% das famílias. O ativo financeiro líquido médio do 1% do topo das famílias é 237 vezes maior do que o ativo financeiro líquido médio de 99% da população. Esse 1% possui 99% das ações em circulação.

A riqueza dos 5% mais ricos da população aumentou 37,7% de 1977 a 1988; a riqueza do 1% mais rico aumentou 74,2%. Ao mesmo tempo, o número de pessoas em situação de pobreza aumentou em 33%.

Metade de todos os Afrikanos nascidos nos Estados Unidos vive na pobreza. Isso é um aumento de 69% nos últimos anos. Um em cada dois filhos de pais Afrikanos na América nasce na pobreza e um em cada três idosos vive na pobreza. A expectativa de vida dos homens pretos no Harlem, em Nova York, é menor que a dos homens em Bangladesh. Embora este país prenda mais cidadãos do que qualquer outra nação industrializada, os EUA prendem homens pretos a uma taxa quatro vezes maior do que o apartheid na África do Sul e nove vezes mais do que os euro-americanos. Os pretos são apenas 12,5% da população americana, mas representam 47% da população carcerária do país, enquanto outros 30% da população carcerária é composta por latinos e outras pessoas de cor. Além disso, deve-se observar que 6% de todas as mulheres encarceradas são mulheres pretas, latinas, asiáticas e nativas americanas.

Com base no exposto, acredita-se que o futuro depende da capacidade dos revolucionários Pan-Afrikanos de educar e organizar a classe trabalhadora em sua relação com o monopólio/capitalismo internacional. É necessário apresentar e propor como o seu controle sobre os meios e os modos de produção melhor servirão suas vidas e o futuro de seus filhos.

Em última análise, a luta é uma questão da relação dos proletários com os meios e o modo de produção. É uma questão de como os revolucionários irão tirar a riqueza mundial do controle dos capitalistas internacionais, e colocá-la no controle do proletariado internacional. A redistribuição da riqueza mundial é o ideal da revolução internacional, e o fundamental para esse desenvolvimento é fazer com que a classe trabalhadora compreenda sua relação com os meios e o modo de produção. Dentro deste processo revolucionário está a luta para compreender a dinâmica de um nacionalismo revolucionário contra o imperialismo cultural, a democracia revolucionária em oposição à plutocracia e a democracia burguesa, e a construção do comunalismo Pan-Afrikano revolucionário em oposição ao capitalismo/imperialismo.

O desafio que se coloca à Áfrika, Europa e América Latina nesta conjuntura histórica é o de expansão e consolidação da socialdemocracia. É essencial que nesses três continentes se desenvolva uma frente revolucionária intracontinental que estabeleça uma agenda e uma plataforma política continental. A agenda e a plataforma política revolucionária devem evoluir a partir dos problemas comuns e mutuamente reconhecidos que confrontam a maioria dos Afrikanos, europeus e latino-americanos, ou seja, exploração capitalista, neocolonialismo e hegemonia imperialista.

Revolucionários em geral concordam sobre a natureza da opressão de seus povos e identificam adequadamente os inimigos dos oprimidos. Frequentemente, os revolucionários enfrentam e combatem diferentes aspectos da opressão, de acordo com a realidade do sofrimento das pessoas na época. No entanto, é sempre importante para os grupos revolucionários mais desenvolvidos estar na vanguarda, fornecendo liderança aos menos desenvolvidos. Esta liderança inclui análise e direção política, bem como ação que serve para expor e ampliar as contradições entre a classe burguesa capitalista internacional e o proletariado internacional. De muitas maneiras, isso é feito combatendo o oportunismo, o liberalismo, o revisionismo e apresentando continuamente posições políticas revolucionárias Pan-Afrikanistas firmes.

A política revolucionária Pan-Afrikana deve ser inclusiva, em vez de exclusiva. Embora a política revolucionária Pan-Afrikana mergulhe na dialética filosófica e teórica da luta, ela não deve, jamais, falar com os oprimidos e marginalizados de uma posição de elitismo, ao invés de se comunicar na própria linguagem do povo. Devem sempre oferecer liderança que atenda às necessidades imediatas dos pobres e oprimidos. O nível de desconfiança que o povo em geral tem em relação aos esquerdistas, em parte é devido ao fracasso dos esquerdistas em abraçar as demandas dos oprimidos. Os revolucionários Pan-Afrikanos não podem impor suas ideias e demandas de governo ao povo; é responsabilidade dos revolucionários Pan-Afrikanos dar credibilidade às demandas do povo e, desta forma, construir o Poder com o povo.

Esta é uma lição que os revolucionários precisam reaprender em termos da fórmula de trabalho desenvolvida pelo antigo Partido dos Panteras Negras (BPP, em inglês). A força do BPP estava na sua capacidade de falar com o povo sobre suas necessidades, e como o povo nas várias comunidades se identificavam com a luta. O BPP foi então capaz de desenvolver programas que aliviavam algumas das condições de privação de direitos e empobrecimento que o povo sofria. Ao fazer isso, o povo se uniu ao Partido e começou a aceitar a linha do Partido como sendo sua. Naturalmente, a diferenciação deve ser feita entre a linha das massas e da organização revolucionária. Esta lição fundamental deve ser implementada pelos revolucionários Pan-Afrikanos, onde houver necessidade, para construir um movimento popular de massa pela socialdemocracia.

Nos Estados Unidos, e particularmente no que diz respeito ao New Afrikan Independence Movement [Movimento de Independência da Nova Áfrika], o NAFTA deve ser realizado em justaposição à necessidade de zonas de livre comércio a serem desenvolvidas em comunidades empobrecidas. Este objetivo socioeconômico e político deve, no mínimo, desenvolver uma linha das massas em direção à redistribuição da riqueza, reparações, oposição socialdemocrata ao neocolonialismo doméstico, forjando o Pan-Afrikanismo com o propósito de estabelecer dupla cidadania no movimento de independência. No mesmo sentido, o apoio aos presos políticos de guerra é um objetivo político essencial que serve para validar a determinação militante da luta. Isso dá crédito a um segmento da comunidade-nação oprimida que lutou bravamente contra o racismo e a opressão nacional. A linha das massas deve confrontar a burguesia negra neocolonialista e seu desenvolvimento do capitalismo negro. Este é um assunto particularmente importante para o recente desenvolvimento do (pseudo) Pan-Afrikanismo por membros da burguesia negra.

A linha das massas na Europa deve incluir o determinante socioeconômico e político geral do Tratado de Maastricht e as questões específicas que abordam cada território no campo de batalha europeu. Enquanto isso, na Áfrika e na América Latina, uma linha das massas de proporção intracontinental deve ser desenvolvida para combater a hegemonia imperialista, o neocolonialismo, a questão da dívida externa e o desequilíbrio da dependência econômica entre o Norte e o Sul.

Uma vez que a linha das massas tenha sido identificada, acordada e ratificada pelos revolucionários (elementos de vanguarda) nas Américas, na Europa e na Áfrika, cada partido revolucionário, aliança, coalizão ou frente será responsável por apoiar a linha das massas.

Este apoio da linha das massas estará na base de como cada território aplica sua linha de partido, particularmente em termos de sua posição em relação às lutas populares, mobilizações das massas e luta armada. É fundamental ter em mente que o povo não luta por ideias e polêmicas filosóficas. Eles lutam por comida, abrigo, roupas e empregos, e no decorrer da luta por essas necessidades básicas, os revolucionários Pan-Afrikanos devem educá-los sobre como suas vidas são controladas pelo imperialismo capitalista. Ao obter esse entendimento, os oprimidos e marginalizados estarão mais dispostos a lutar pelo controle dos meios de produção e apoiar a revolução socialista.

Consequentemente, há a necessidade de impulsionar os objetivos da organização da linha das massas que acabará por desenvolver as lutas democráticas populares pela socialdemocracia e pela libertação nacional. E quando as lutas populares pela socialdemocracia e pela libertação nacional estiverem forjadas, a luta armada atinge seu mais alto grau de combate. É quando a mobilização popular de massa e a luta armada poderão tomar a ofensiva, exigindo o controle dos meios de produção. Até lá, os revolucionários Pan-Afrikanos devem continuar a se preparar em dois níveis: construir organizações sociais populares e formações revolucionárias de massa; e lutando para unificar uma vanguarda revolucionária Pan-Afrikana de significado internacional em apoio à capacidade dos revolucionários Pan-Afrikanos de se engajarem na luta armada.

Nos Estados Unidos, assim como na Europa e na Áfrika, várias formações revolucionárias do Novo Afrikano estão envolvidas em um sério debate e diálogo para o desenvolvimento de uma frente de libertação nacional. Prevê-se no processo de organização para a frente de libertação nacional, que essas formações continuarão a educar e organizar a classe trabalhadora contra os criminosos da pequena burguesia e da classe burguesa capitalista, e que eles continuarão a construir um apoio para os prisioneiros políticos revolucionários, e a vincular essas lutas aos movimentos de massa contra o imperialismo capitalista. Além disso, os revolucionários Pan-Afrikanos devem continuar a desenvolver cada uma de suas lutas para estabelecer alianças que estendam a unidade nas lutas revolucionárias em oposição à nova ordem mundial.

O futuro da luta revolucionária Pan-Afrikana, seu crescimento e desenvolvimento, e suas vitórias e derrotas repousa na resolução revolucionária de continuar as batalhas, de desenvolver uma compreensão crescente das lutas de libertação nacional e do internacionalismo revolucionário e, especialmente, de aprender as lições que ganharão as mentes e o comprometimento destemido da próxima geração de revolucionários Pan-Afrikanos.

Fonte:

Jalil A. Muntaqim, We Are Our Own Liberator: Selected Prison Writings, pp.199-211.

 

Jalil A. Muntaqim (Anthony Bottom -1951) - Preso político nos EUA por quase meio século (50 anos). Ex-membro do Partido dos Panteras Negras e da ala Exército de Libertação Negra.

Revolucionário e estudioso da FROLINAN - Front for the Liberation of the New Afrikan Nation [Frente para a Libertação da Nova Nação Afrikana].

Em breve estará disponível outros ensaios de Jalil A. Muntaqim, incluindo um manual revolucionário e as estratégias da FROLINAN, e seus escritos na prisão.

Por Fuca, 2021.