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sábado, 9 de março de 2019

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Miguel Angelo (LIL X) - CEO na empresa W-BOX - GOLD. 
Posse Entre o Céu e o Inferno, Insurreição CGPP.

Vou continuar essa incursão na produção cientifica sobre o rap no contexto da cultura Hip Hop seguindo com a referência de KRS-ONE (Knowledge Reigns Supreme), a Realeza do Conhecimento Supremo pra mim. O Fuca (CEO do Insurreição CGPP), sentiu essa falta e eu fiquei muito sensível a demanda, então bora lá!

Eu sou um professor original, ponto final (KRS-ONE)

“Comecei a militar na escola contra o sistema público de educação, mas as horas vagas pertenciam as quadras de basquete” (KRS-ONE)

Nosso pioneiro de certa forma do gangsta rap do lado leste, hoje com 54 anos, lançou “The Gospel of Hip Hop: First Instrument” em 2009 e é a terceira obra (The Science of Rap é de 1995 e Ruminations - Welcome Rain de 2003) deste rapper que além do mais é também um filósofo de ponta nos EUA, um aclamado professor e palestrante (mais de 500 palestras registradas em diversas universidades norte-americanas), e, sem dúvidas, um dos maiores e mais importantes militantes da causa negra no universo conhecido. Considerada uma obra prima, o livro que segue o mesmo formato da bíblia tem nada menos que 800 páginas, se tornou um manual para os membros da cultura Hip Hop e chama atenção quanto a ousadia em apresentar uma abordagem epistemológica que dialoga muito original, amalgamando filosofia prática, espiritualidade (sua mãe o introduziu nos estudos em teologia ainda quando ele era uma criança) e experiência prática recontando a história do Hip Hop com a agência de quem viveu o movimento desde seu surgimento, preservar o futuro é a incumbência do movimento Hip Hop segundo KRS. KRS-ONE (nascido Lawrence Parker) conta a história do Hip Hop como quem conta sobre sua própria biografia a partir de sua adolescência sem lar pelas ruas do Brooklyn (NY), filho de um homem da Jamaica e de uma mulher afro-americana com mestrado em educação, as primeiras rimas que o levaram ao mainstream, e os estudos que em sua filosofia da “auto-criação”. A obra se enquadra na linha de pesquisa que busca identificar na cultura Hip Hop os elementos da transformação social; saúde, amor, consciência e riqueza são alguns dos valores e metas que KRS-ONE apresenta como partes integrantes da plataforma de transformação que o movimento Hip Hop construiu para a comunidade negra. Foram nada menos que 14 anos de pesquisa empírica no desenvolvimento da obra que, segundo seu autor, busca acima de tudo a paz, a autoconfiança e a verdade (num dialogo interessante com os princípios do MAAT e a escola filosófica de Pth em KMT). O jornal Guardian chamou KRS de “Apostolo do Hip Hop”, o próprio disse na matéria de setembro de 2009; “Daqui a 100 anos esse livro será a nova religião da Terra” (talvez em menos de um século eu diria), e prossegue; "Em cem anos, tudo o que estou dizendo para você será de conhecimento geral. As pessoas ficarão tipo 'Por que ele teve que explicar isso? Não era óbvio? No meu tempo, não é óbvio. “Sou o Hip Hop” é a proposta da obra, entenda bem “Nós” somos o Hip Hop, pois essa é a lógica do valor de autoconfiança a qual a obra remete. Em termos de espiritualidade KRS explica o Hip Hop como religião; "Eu respeito o cristianismo, o islamismo, o judaísmo, mas esse tempo acabou. Eu não tenho que passar por qualquer religião [ou] linha de pensamento. Eu posso me aproximar de Deus diretamente. Nós tínhamos passado por todas as religiões do mundo no momento em que eu ainda tinha doze anos de idade" Mas a proposta não é nada simples e realmente é ousada; “A proposta é definitivamente controversa porque eu também estou dizendo que estou disposto a desistir da minha identidade afro-americana para me tornar Hip hop. Muitas pessoas não gostam disso. Americanos negros podem ser "hiphop", mas também nigerianos, cubanos e italianos. Estou disposto a ir além da minha cultura nata para criar toda uma nova civilização."

“Quando sai de casa minha mãe me deu uma ordem; me tornar um artista de rap e estudar a filosofia metafísica” (KRS-ONE)

“Não sou um filósofo de terno e gravata ou tweed, sou daqueles que veio de baixo, que saiu do seminário das ruas” (KRS-ONE)

“Existe um momento na vida em que o ritualismo e o intelecto deve ser posto de lado para que possamos pegar as armas” (KRS-ONE)

KRS-ONE começou a carreira no Boogie Down Productions, que com Criminal Minded de 1986 basicamente fundou o gangsta rap na costa leste pela originalidade da lírica de conteúdo violento e de contestação social, o próprio Ice Cube afirma que Ice T e KRS-ONE são os primeiros. O Boogie Down Productions saiu de uma articulação com Scott Sterling, um assistente social que o auxiliava KRS no tempo em que este viveu em um abrigo para jovens. Sterling foi assassinado no Bronx um ano após o lançamento de Criminal Minded. Como ativista é importante lembrar do coletivo “Stop the Violence” ainda em 1988 que deste então reúne diversos membros da cultura hip hop em turnês pelos guetos dos EUA buscando soluções pacíficas para os conflitos existentes nas comunidades. As batalhas de rima foi justamente uma proposta do “Stop the Violence” para a redução da violência armada entre jovens negros; “Você pode matar com o poder das palavras, na batalha das ideias” disse o Professor KRS-ONE, mas ponderou; “O Mundo é violento, a realidade é violenta, e muitas vezes as pessoas se utilizam de violência contra mim, evidentemente que em situações assim eu posso reagir também com violência”. Nelly, Method Man, Busta Rhymes, The Game, Hakiem fazem parte do Stop the Violence. Na área da educação desenvolveu o projeto HEAL (Educação Humana Contra Mentiras) em 1990 que se articula com o álbum Civilization vs. Technology do mesmo ano (o objetivo cumprido deste álbum foi arrecadar dinheiro para fazer 16 milhões de cópias em fitas cassetes com a gravação de uma de suas palestras na Universidade de Stanford). Na sua longeva carreira como rapper KRS-ONE tem 19 álbuns no catálogo, 3 de ouro com mais de 500 mil cópias vendidas, fora as incontáveis participações colaborativas.

“Eu não faço parte do entretenimento, eu sou o edutain-KRS-One- entertaining "!

“A lei das ruas é a única lei que eu realmente respeito.” KRS-One

Vou fechar essa nota com a entrevista/debate de/com KRS na matéria “O Professor Pode ser Ensinado?” em colaboração com Michael Lipscomb, o artigo foi publicado pela editora da Universidade de Indiana e é produto do Centro de Pesquisa Hutchins para africanos e afro-americanos da Universidade de Harvard.

Michael Lipscomb:
É óbvio que a história é importante para você. A história é como a auto-estima para você. Mas me parece que você deposita a história na política, e isso nem sempre pode funcionar. Por que usar a história como ferramenta política?

KRS-One:
Porque é distorcendo a história que muitas pessoas se tornam poderosas. Então, nitidamente a história é uma ferramenta política. É o tecido de nossas vidas. Sua cultura, e você mesmo.

ML: Mas há muitas maneiras de olhar América. Existem alguns que digamos, e eu sou um deles, que veem a América, em aspectos importantes, uma experiência cultural africana. O que é irônico é que quando um branco de classe média quer ser considerado culto, ele ou ela vai para essa análise.

KRS: Certo.

ML: O que, de certo modo, contradiz o que você está dizendo. O domínio político não é correspondido pelo domínio cultural. Como você acha que a política se relaciona com conhecimento cultural e como se pode usar conhecimento cultural como uma maneira edificante de auto estima?

KRS:
Temos que olhar para a nossa história. Para entender a natureza da fera você tem que entender sua história. Esta cultura americana não é de todo como a cultura africana. Isto é a cultura africana depois de ter nos enlouquecido. Esta é a cultura africana depois de ter sido assassinada, roubada, espancada. Antes do colonialismo nossa história é rica, desenvolvemos nossa própria civilização que teve sua própria cultura. Eles se vestiram, agiram, falei, fiz tudo de forma totalmente diferente. Eu uso a história como uma ferramenta política para rastrear como as pessoas chegaram ao poder. Eles não derrubaram a África por causa da cor, do preconceito. Foi economia - e foi também uma questão de poder. Agora, o que é o indivíduo sem a cultura?

ML: A cultura africana?

KRS: A cultura correta. O indivíduo faz parte das massas. As massas vêm primeiro e o indivíduo vem por último. Na América, o indivíduo vem em primeiro lugar e as massas vêm por último. Se massas vierem antes do indivíduo é a cultura que virá antes do indivíduo. Você faz parte de uma multiplicidade de pessoas que aprenderam e lutaram por anos e no fim a luta é sua cultura. Isso é o que te dá conteúdo. Isso é o que faz de você o africano, o asiático, o Japonês: Você é o que sua cultura lhe ensinou a ser, como você age e inclusive o que vc pensa de uma certa maneira. Quando essa cultura é despojada de você, você é deixado sem nada. Você é como um copo vazio. E as pessoas podem derramar qualquer coisa que quiserem em vc.

ML:
Eu fiquei surpreso, aliás, que W. E. B. Du Bois estava ausente da lista de leitura que você propaga, porque ele é muito importante para lidar com isso. Eu duvido que fomos totalmente despojados nossa cultura. Olhe para a história americana em meados do século XIX, em escritores como Emerson e Thoreau. Eles estavam preocupados com a ideia de Europa e a tarefa de sair debaixo de uma noção da antiguidade europeia, para que pudessem forjar outra identidade cultural. Teve uma profunda ambivalência nesta questão. Ao mesmo tempo, nas regiões do sul os aristocratas enviaram seus filhos para a Europa para "cultura". Então, nesse sentido, éramos os únicos americanos verdadeiros, porque nós tínhamos crescido aqui. Nós tivemos que lidar com essa realidade.

KRS: Não necessariamente. Eu sinto como se a América nem existe. Os únicos verdadeiros americanos são os índios americanos e eles não chamam esse lugar de América. Assim, o que é a América?

ML: América é a sombra; eu penso isso, imagino que é o que você está tentando dizer. Para muitos, a América é uma espécie de Europa bastarda. É provável que muitos europeus tenham perpetuado essa noção. Os negros fizeram a América. Como James Baldwin costumava dizer, "somos Americanos porque não sabemos nada". Por outro lado, temos formações culturais complexas como o jazz, que não é música africana ...

KRS: Jazz é música africana.

ML: Tem elementos africanos como polirritmia ....

KRS: Qualquer coisa criada por um homem negro é africana. As pessoas dividem as coisas ferrenhamente em decorrência da maneira como fomos ensinados. Nós fomos mortos mentalmente. Se um gato tinha gatinhos no forno, você vai chamá-los de muffins?

ML: Eu acho que lidar com a África e com as pessoas, sempre vai ser um pouco mais complicado que isso. Apesar de tudo, a África é uma formação profundamente heterogênea múltiplas de culturas e grupos étnicos. A cultura iorubá é distinta da cultura ibo e ambos são distintos da cultura Hausa, e elas não coexistem exatamente em harmonia perfeita. É como a Europa: lá não existe uma quantidade substancial de unidade coesa, eles tiveram duas guerras mundiais que atestam isso.

KRS: Mesmo assim, o título afro-americano é um título falso. É um título de escravo. Qualquer coisa ligada à americano é o equivalente a deixar cair a bomba em Hiroshima na história da escravidão e na história da aniquilação dos indígenas. ..

ML: Estamos falando de dois diferentes tipos de América. Eu concordarei que há todo um segmento da América que está atada a uma concepção europeia de socialismo. Mas na África, vê-se mesma coisa. Abaixo do vigésimo paralelo há mais do que um punhado de nações que tem ditaduras negras e cuja os cidadãos não podem votar.

KRS: Bem, isso é hoje, depois do neoliberalismo. A África na sua história antiga, antes da invasão da Pérsia, da Grécia e Roma, era economicamente, psicologicamente e tecnologicamente estável; racialmente e culturalmente era um lugar estável para se estar.

ML: Ainda havia luta, ainda havia conflitos, havia ainda a expansão e contração dos impérios indígenas.

KRS: Não, não antes da invasão de Grécia e Roma.

ML: Essa é uma conjectura duvidosa

KRS: Na verdade, a razão pela qual eles foram derrotados é porque eles não tinham as armas sofisticadas que Roma, Grécia e Pérsia tinham quando o Egito foi invadido. A África não evoluiu para esse estágio de tecnologia porque tinha alcançado um estágio de civilização que foi afastando-se disso. Claramente, nosso tempo e dinheiro estavam indo para a educação e conhecimento. É quando eu encontro o declínio do povo africano: quando eles foram introduzidos na Europa. Na verdade, toda essa corrida para nos introduzir na Europa só fez nos destruir.

ML: Eu acho que isso é simplesmente superstição. Até mesmo o Chanceler Williams, que escreveu "A destruição da civilização negra", afirmou que, entre suas principais fontes utilizou Heródoto, "o pai da história", que foi alguém que admirava a África. Ele teve que se passar por "escravizado", a fim de obter a história sobre África. O que ele fez foi apenas pegar, através de várias fontes, as imagens boas sobre a África em meio o que havia de ruim sobre a África. Então ele simplesmente realizou uma seleção; justamente o que os brancos fizerem, mas dando ênfase em suas dimensões negativas. Você cria uma história oficial e depois começa a construir uma cultura teórica em torno disso, enfatizando qualquer coisa que suporte sua história e deixando de falar do restante. O perigo é que muito dos rappers podem cair em uma contraficção com outra história oficial e acabam fazendo exatamente o que eles condenam os europeus por terem feito.

KRS: Eu estou atentando sempre para não fazer. Toda minha história vem de um ponto de vista lógico, realmente não é ponto de vista histórico. Se você for a uma outra terra e saqueia, estupra e mata povos mentalmente e fisicamente - para o seu próprio benefício, você é um assassino e um ladrão.

ML: Você está dizendo que os africanos nunca fizeram isso?

KRS: A cultura egípcia fez isso constantemente. Sim, há muita culpa na cultura africana, mas a cultura africana, ao contrário da cultura europeia, estava muito longe deste universo. Nós estávamos passando por um estágio do que realmente podemos chamar de capitalismo. Na televisão, eles mostram isso como escravidão, mas em seu sentido político era capitalismo. O Egito estava avançando e evoluindo em um estado de harmonia universal ou de unidade -porque os africanos viajaram o mundo. Em qualquer lugar do mundo, se você queria aprender, você tinha que ir até o Egito.

ML: Mas eu até questiono toda essa ideia do Egito como berço cultural. A historiografia ainda está evoluindo. Há historiadores brancos importantes que defendem o Egito como berço cultural. Você leu o "Athenas Negra" de Martin Bernal?

KRS: Sim.

ML: Ele traça as questões culturais em parte através do desenvolvimento da língua grega. E o que você encontra em grego é algo com ambas influências níticas e semíticas. E tem havido uma quantidade crescente de pesquisas arqueológicas sobre as antigas civilizações enterradas sob o Sudão. Então eu estou desconfortável com esta ideia predominante que retrata o Egito como único farol da iluminação da África.

KRS: Eu dou ênfase no Egito porque foi um dos principais locais de aprendizagem. Este foi o primeiro lugar que a Grécia atacou: foi provavelmente uma das mais populosas áreas para os estudiosos. Mas a África como um todo fez parte de um grande desenvolvimento do aprendizado. Meu ponto, voltando para ele como ferramenta política, é que a subjugação dos outros é a forma como as pessoas ganham seu poder político, e eles fizeram isso tirando nossa história. Conhecimento é por saber, uma coleção de fatos; a inteligência é a capacidade de conhecer, avaliar e questionar. Obviamente, se alguém está lhe dando conhecimento, e você não tem a inteligência para assimilar isso, você é basicamente um escravo para a pessoa que lhe deu o seu conhecimento. Eles ditam como eles querem a forma como vc deve ser e agir. O que aconteceu é que o africano tem sido despojado não de conhecimento, não de suas datas, fatos e números, mas de sua inteligência, de sua capacidade de avaliar o que está sendo arrebatado ao seu redor

ML: Afro-americanos são frequentemente uma fotografia confusa, mais ou menos libertos de suas contrapartes africanas. Muitos Afro-americanos tomaram parte de movimentos modernos. Marcus Garvey não pôde iniciar seu movimento na Jamaica. Ele tinha que vir para a América. Interessantemente seu herói era Booker T. Washington. Então, o que eu vejo são diferentes níveis de Africanidade. Onde você está posicionado em relação a isto? Parte do que traz sua música é a variedade de sons de reggae que você emprega. Como Bob Marley, você joga reggae em uma tradição do rock.

KRS: Meu pai é jamaicano. Minha mãe é americana. . . eu sou nascido na América. Denuncio essa ideia de identidade americana.

ML: Eu acho que isso tem muito a ver com o fato de que os índios negros do oeste nunca foram capazes de aceitar o fato de que os negros são uma minoria na América. Você lida com isso em uma de suas próprias músicas. Mas você não acha interessante que Jamaicanos fujam da ilha onde são a maioria tão rapidamente quanto os cubanos brancos fugiram de Castro?

KRS: Bem, a razão é a desgraçada pobreza que existe lá. Todo mundo está perseguindo os itens materiais. Jamaicanos não são diferentes. Eles querem uma casa, um carro, uma garota ou um homem. A América é apresentada a eles na televisão como sendo a terra onde as ruas são pavimentadas com ouro. Então naturalmente eles deixam sua terra pobre para vir para a América. Eu só acho que todos os africanos sobre o mundo deveriam ser africanos, chamar si e reconhecer-se como africanos. Assim como os italianos se reconhecem como italianos.

ML: Por quê? A América é um fenômeno diferente comparado a Itália.

KRS: Mas a América não existe.

ML: Sim, isso acontece: na verdade, o norte Americano criou uma cultura que é distinta do que podemos ver em qualquer região da Itália. Historicamente, as pessoas quem vem aqui porque querem fugir de sua terra natal, por várias razões, filhos, como você disse, e muitas vezes motivados pela perspectiva de novas oportunidades. Mas talvez eles simplesmente queriam fugir. Para começar de novo.

KRS: Certo.

ML: Frequentemente eles estavam interessados em manter sua cultura, seus laços com uma existência mais antiga. Isso é o que D. H. Lawrence pode ter tido em mente quando disse que a América é uma Europa recriada. Mas parte do que é básico e distintivo para a cultura é a experiência da escravidão, o drama interracial, James Baldwin fala que se criou não só um novo tipo de homem negro, mas um novo tipo de homem branco também. Por esse raciocínio, então, quem pode dizer que os americanos negros não são americanos, eu posso?

KRS: Se negros americanos fossem americanos, nós não teríamos vindo para cá em navios negreiros.

ML: Você está negando a realidade da transição. Ela está aqui.

KRS: É como chegamos aqui. Todo o mundo mais veio aqui procurando uma maneira melhor da vida. Os africanos vieram algemados. Nós não pedimos para vir para cá. Então agora que estamos aqui e você se adapta e gera filhos que cresceram aqui na América, nós rapidamente somos chamados de americanos. Quando, na verdade, a América é o que tem nos matado por quinhentos anos.

ML: Por outro lado, nós estamos construindo a América por quinhentos anos.

KRS: Com base na força do opressor

ML: Legalmente, estamos na América. E há a décima terceira, décima quarta e a décima quinta emenda do nosso lado. Desde a 1865, fomos tomados como parte da Política americana.

KRS: Olhe para a Proclamação de Emancipação. Diz que a partir de janeiro, 1 de janeiro de 1863, todas as pessoas mantidas dentro de um estado ou parte de um estado em rebelião armada era livre. Os estados que estavam em rebelião armada eram estados confederados. Os estados do norte não tinham rebeldes armados em rebelião. Em última análise, Lincoln enganou as pessoas africanas ao fazerem-nas acreditar que elas seriam beneficiadas quando na verdade tudo fazia parte de um acordo com todas as pessoas tidas como escravos dentro de um estado que estava em rebelião armada. Então todos os estados do sul, todos os escravos do Sul estavam livres quando, na verdade, lá era um governo totalmente diferente. O Norte tinha escravos.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 1.

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 1.
Miguel Angelo (LIL X) - CEO na empresa W-BOX - GOLD. 
Posse Entre o Céu e o Inferno, Insurreição CGPP.

Foi em meados dos anos 90 (séc XX) que a cultura Hip Hop ganhou notável espaço nas universidades dos EUA. Com estudos intensos buscando a compreensão de um fenômeno que realmente mudou a lente que a sociedade estadunidense utilizava para apreender a realidade surgiram diversos estudos nas áreas das ciências humanas, com destaque para as análises históricas, jornalísticas e comunicação & artes. Vamos começar com algumas delas;

• Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America

Uma referência importante nesse sentidos é da Professora Trice Rose que é socióloga lecionando na Brown University associada ao departamento de estudos africanos e diretora do Centro de Estudos de Raça e Etnia na América da mesma universidade. Ela escreveu o livro "Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America" em 1994 a partir de sua tese de doutorado, que alias foi a primeira tese de doutorado da história dedicada exclusivamente a cultura Hip Hop. Black Noise esteve entre os 24 livros mais lidos segundo a The Village Voice à época e recebeu o premio, o American Book Award da Before Columbus Foundation em 1995. 

• "kickin' Reality, Kickin' Ballistics: 'Gangsta Rap' and Postindustrial Los Angeles" 

O historiador Robin Keley (Robin Davis Gibran Kelley) , que é professor de História Americana na UCLA, tem um capítulo, "kickin' Reality, Kickin' Ballistics: 'Gangsta Rap' and Postindustrial Los Angeles" dedicado a cultura hip hop em seu livro "Race Rebels: Culture, Politics, and the Black Working Class de 1994 em que trata da história e cultura afro-americana enfocando seus movimentos sociais privilegiando as relações raciais nos EUA. 

• "Hip Hop America"

Nelson George colunista de música, crítico cultural, jornalista e cineasta indicado duas vezes ao National Book Critics Circle Award e vencedor duas vezes do ASCAP-Deems Taylor publicou "Hip Hop America" em 2005. A obra é não-academica o que permitiu atingir um grande e diversificado público, as temáticas centrais são a política, cultura e a economia nos negócios do Hip Hop. George é um mais populares colunistas da cultura pop afro-americana hoje nos EUA e, evidente, fã da cultura Hip Hop. Nelson George ainda é supervisor de produção e roteirista da séria da Netflix "The Get Down"; "Hip Hop America é o relato definitivo da colisão entre a cultura da juventude negra e a mídia de massa e seu impacto na mudança social."

• "When Chickenheads Come Home to Roost: A Hip Hop Feminist Breaks it Down"

Joan Morgan, que atualmente cursa o doutorado na New York University, publicou "When Chickenheads Come Home to Roost: A Hip Hop Feminist Breaks it Down" em 1999 gerando impacto importante e se tornando sua mais famosa obra. Esse livro discute a complexidade de uma identidade feminista entre as mulheres negras dentro de um movimento centrado no homem negro, as contradições e possíveis reconciliações em um contexto de sociedade de tipo patriarcal analisando rappers como Lil 'Kim e Queen Latifah. Janet Mock da New York Redefining Realness considera a obra representante de toda uma geração de mulheres negras que começaram a revindicar seu espaço como protagonistas no movimento Hip Hop, a chamada geração pós feminista. Joan cunhou o termo "hip-hop feminism" nesta obra. 

• Rap Music and the Poetics of Identity

O hoje já falecido, professor branco de análise musical da Nottingham University no Reino Unido, Adam Krims, nos legou a obra "Rap Music and the Poetics of Identity" escrita em 2000 surpreendendo os próprios membros da cultura Hip Hop com a facilidade de compreensão de o autor conseguiu articular para explicar a apreensão da forma de organização do movimento e para a formação das identidades ocorrem em seu seio. A obra ataca os críticos culturais que à época reduziam o rap a um discurso apolítico e de pouco impacto social positivo com a análise das obras de rappers do calibre de Ice Cube, Goodie Mob e KRS-One.

• Rap Music and Street Consciousness

A professora de etnomusicologia da Escola de Música Herb Alpert da UCLA, Diretora da pós-graduação em musica popular americana e história e cultura da música rap, Cheryl L. Keyes, lançou "Rap Music and Street Consciousness" em 2004 que foi ganhador do premio CHOICE por melhor título acadêmico no mesmo ano. Keyes é pioneira em análises etnográficas da música rap, e "Rap Music and Street Consciousness" é a primeira obra que analisa o rap a partir da metodologia musicológica realizando uma verdadeira arqueologia do gênero desde a tradição musical dos povos da África Ocidental, passando pelo Dancehall jamaicano e as expressões vernaculares afro-americanas até o mainstream da época. Keyes define o rap como; " [...] um fórum que aborda a marginalização política e econômica de jovens negros e outros grupos, promovendo o orgulho étnico e exibindo valores e estética culturais". A obra trás a analise das obras de referencias centrais da cultura Hip Hop como Afrika Bambaataa, que considera seu padrinho, da Zulu Nation, George Clinton & Parliament-Funkadelic, Grandmaster Flash, Kool 'DJ' Herc, MC Lyte, LL Cool J, De La Soul, Public Enemy, Ice T, DJ Jazzy Jeff & Fresh Prince e The Last Poets sempre desafiando análises acadêmicas externas ao Hip Hop. As pesquisas etnográficas foram realizadas em Nova York, Los Angeles, Detroit e Londres e trás entrevistas com artistas, produtores, diretores, fãs e empresários da cena. Muitos temas novos foram abordados na obra com a questão do surgimento dos (as) rappers brancos (as), os impactos legais das novas inovações tecnológicas, o impacto dos vídeo-clipes de rap, o gangsta rap, o Rap do Sul e os subgêneros do rap centrados na dança. Uma parte do livro é dedicada a questão das carreiras cruzadas de rappers que se tornaram milionários também em outras áreas como no cinema, os casos de Queen Latifah, Will Smith e Ice Cube, assim como o império multimídia de Sean 'P. Diddy' Combs, a Death Row Records, as tensões entre as costas oeste e leste, os assassinatos de Tupac Shakur e Christopher 'The Notorious Big' Wallace assim como as tentativas de unificação da Nação do Islam com a Nação Hip Hop.

• The Hood Comes First

Obra de 2002, The Hood Comes First foi escrita pelo professor branco associado de música e estudos da comunicação da Nottingham University no Reino Unido, Murray Forman. Nesta obra, Murray buscou captar as ressonâncias da música rap a partir do espaço urbano, nas territorialidades dos guetos onde vivem os negros afro-americanos. É um estudo que busca entender como o rap, nas suas mais varias vertentes e meios (como cinema, rádio e vídeos clipes) explicam o território e as identidades individuais e coletivas trabalhando com as categorias "gueto", "centro da cidade" e "bairro". O método de Murray busca uma negociação entre a linguagem acadêmica e a linguagem das ruas na dinâmica raça, espaço social e juventude. Mostra a centralidade do território na discursividade do rap, defendendo inclusive que o espaço geográfico é central na identidade autêntica do movimento Hip Hop, que modifica as ideias de raça, classe e identificação nacional. Uma das contribuições da obra se refere a análise dos processos dentro da industria cultural que culminou na projeção internacional da música rap.

• Check It While I Wreck It: Black Womanhood, Hip Hop Culture, ans the Public Sphere.


A Socióloga professora de estudos da mulher e estudos de gênero do College of Arts & Sciences ligado a Syracuse University, Gwendolyn D. Pough publicou "Check It While I Wreck It: Black Womanhood, Hip Hop Culture, ans the Public Sphere" em 2015, esta obra, de certa maneira, está em diálogo com a de Joan Morgan no sentido de realizar uma provocação central; Por que as mulheres negras no seio da cultura Hip Hop ainda lutam por igualdade mesmo com a projeção da música rap no mainstream? Como Joan, Gwen busca compreender a complexa relação que as mulheres negras vivenciam ao articular a vivencia na cultura Hip Hop com o feminismo. A análise de Gwen articula a cultura musical afro-americana de suas raízes até o rap assim como articula as identidades das primeiras gerações de mulheres negras influentes de Sojourner Truth, passando pelas referencias da luta pelos direitos civis e do movimento Black Power até chegar em Queen Latifah, Missy Elliot e Lil ' Kim que para Gwen são referencias chave hoje para compreender como as mulheres negras estão recuperando um legado que visa atrapalhar e ocupar a esfera pública patriarcal dominante. Gwen discute ainda como as jovens negras de hoje veem lutando contra a linguagem estereotipada do passado ("castrating black mother," "mammy," "sapphire") e do presente ("bitch," "ho," "chickenhead"), e defende a música rap como uma ponte que mulheres negras encontraram para contar sobre suas vidas, construir suas identidades e desmantelar representações negativas do passado e do presente referentes a feminilidade negra utilizando como exemplo a própria relação que se dá atualmente na produção de raps da mulheres negras que utilizam a retórica masculina sobre o amor como meio de dar poder as suas discursividades. A obra defende o papel da música rap como método pedagógico assim como sua importância para os movimentos negros e o feminismo negro. Em síntese a obra é uma defesa da cultura Hip Hop e da música rap assim como uma denúncia ao sexismo e a misoginia inerente ao mainstream.






quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Divulgação: Ato SP Manicômio Genocida Contra a População Preta, Periférica!

LINK EVENTO NO FACEBOOK
https://www.facebook.com/events/214674728866621/

DIA 25/01/2016 - ATO: SAO PAULO MANICOMIO GENOCÍDA CONTRA A POPULAÇÃO PRETA PERIFERICA.

09H AS 15H - VENHA! CONTRA A DECADA DAS CHACINAS.

FAÇA SEU VIDEO DE COMPARECIMENTO! E DIVULGUE!
forumhiphopeopoderpublico.blogspot.com.br

https://www.facebook.com/contraogenocidiodopovopreto/?fref=photo


LINK EVENTO NO FACEBOOK
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Forum de Hip Hop MSP junto com Comitê Contra o Genocidio Juventude Preta, Pobre e Periferica vem fazer a 3 edição do ATO em repudio Genocidio do Povo, Preto, pobre periferico:

"São Paulo Manicômio Genocida Contra a População, Preta e Periférica"

Em pleto dia 25 de janeiro dia do aniversário da cidade BANDEIRANTES, vamos para centro ocupar,denunciar nossas mazelas sociais escondidas e legitimas por esses governantes brankkkos.

Teremos intervenções com os 4 elementos do Hip Hop, intervenções danças tradicionais africanas e indigenas entre outras ações !

Encosta em peso, de punho cerrado e sem sorriso !!!


#ContraoGenocidiodoPovoPretoPobrePeriferico
#ContraoGenocidiodoPovoIndigena
#NoisPorNois
#manicomionuncamais #foravalencius


Videos Chamadas de artistas, militantes, enfim de quem irá comparecer!!!

Video1
https://www.facebook.com/francisco.egde/videos/1644229729177889/

Video2
https://www.facebook.com/aliado.uc/videos/952716428156158/


Video3
https://www.facebook.com/aliado.uc/videos/952931531467981/

Video4
https://www.facebook.com/marcos.renato.7169/videos/568954969934906/

Video5
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/195788217440191/

Video6
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/192467531105593/

Video7
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/195788130773533/

Video8
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/195788257440187/

Video9
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193476877671325/


Video10
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193475901004756/
Video11
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193475841004762/


Video12
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193475644338115/


Video13
https://www.facebook.com/515studio/videos/1009537492425847/


Video14
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/192468551105491/


Video15
https://www.facebook.com/marcos.renato.7169/videos/565982020232201/


Video16
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/192467531105593/

Video17
https://www.facebook.com/100001707205778/videos/993841770682720/


Video18
https://www.facebook.com/aliado.uc/videos/947450095349458/

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Cine Gueto Itinerante - Casa Hip Hop de Mogi das Cruzes - 28/02/2015

Retrospectiva 2015
Texto por Marcos Favela

Ontem dia 28/02/15 a Casa do Hip Hop de Mogi das Cruzes foi palco do Cine Gueto Itinerante diretamente do Grajaú - Sp.
Com a exibição do Documentário "Quando Eu Me Chamar Saudade" , que relata a triste luta de um pai , que por acreditar na inocência de seu filho passou 27 dias atrás de provas e evidências , até provar que policiais assassinaram seu filho e um amigo sem motivos e ainda forjaram a cena do crime tentando incriminar os jovens.

O evento também contou com uma roda de conversas com o pessoal Contra o Genocídio do Povo Preto e Periférico , sobre vivências e experiências de abuso de poder por parte da polícia.

E não parou por ai não.
Pudemos nos deliciar com os salgados e cupcakes vegan , feitos pela Juliana Mutafi e Silas Ferrarini , da Laranja Lima Vegan , exposição de Zines e Informativos , além da presença do pessoal da CCM.

E é claro muito Rap Nacional com:
#RevoluçãoAntiSistema
Insurreição Cgpp
Única Chance
Marginal Gris
Marcos Favela
#ACENA
.
E um mostruário de roupas com:
VEDDAS - Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade
Villa Joya
#DjMCS






















sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Meu preconceito contra os brancos

Será que tenho que ser cauteloso ao discutir o racismo no Brasil com as pessoas não negras?

Por Fuca


Ao debater esse assunto temos, muito comumente, divergências relativas à identidade. O padrão branco europeu, há tempos, vem sendo disseminado em nossas vidas desde a mais tenra idade, onde tivemos também uma política de miscigenação no intuito de embranquecer a população brasileira quebrando as barreiras para inserção no mundo dos brancos. O abrasileiramento é então a chave para aceitação do povo preto, sendo assim, a busca pela branquitude é sistematicamente angariada. A experiência própria nessa questão de morder a isca dos brancos ainda me faz crer que poucos escapam e que a maioria em dado momento da vida reproduziu a branquitude. A questão da raça negra agora passa a ser travestida em raça humana, nos afirmar como pessoas pretas e identificar nossos inimigos pode para alguns se tornar uma atitude preconceituosa, ou seja, racismo inverso. Stokely Carmichael (Kwame Ture) num trecho duma entrevista disse algo sobre o branco ser vitima de preconceito:

"Eu acho que o problema é que muitas pessoas na América pensam que o racismo é uma atitude. E isso é incentivado pelo sistema capitalista. Assim, eles pensam que o que as pessoas pensam é o que os torna um racista. O racismo não é uma atitude. "Se um homem branco quer me linchar, isso é problema dele. Se ele tem o poder de me linchar, aí esse problema é meu. O racismo não é uma questão de atitude, é uma questão de poder. "O racismo obtém sua energia a partir de capitalismo. Assim, se você é antirracista você deve ser anticapitalista. O poder para o racismo, o poder para o sexismo, vem do capitalismo, e não de uma atitude. "Você não pode ser racista sem energia. Você não pode ser um machista sem energia. Mesmo os homens que espancam suas esposas obter essa energia da sociedade que lhe permite, tolera-o, encoraja-o. Não se pode ser contra o racismo, não se pode ser contra o sexismo, a menos que um é contra o capitalismo".

Se formos às ruas e perguntar se o preconceito de cor existe, provavelmente teremos algumas pessoas dizendo que sim; se perguntarmos se elas têm esse preconceito teremos um não e teremos ainda uma condenação do preconceito como algo que é prejudicial pra quem o comete, não há empatia alguma com quem o sofre. A miscigenação traz um mito da democracia racial, como se vê ou tentam nos fazer ver é que existe hoje em dia certa harmonia entre as raças, como se isso interessasse para o povo preto, essa harmonia é migalha, o combate tem que ir mais a fundo, tem que atingir o RACISMO INSTITUCIONAL.

A negação da existência do racismo é interessante para os brancos que detém privilégios, e aos que aparentemente não se encaixam como privilegiados e dizem que o racismo não existe acabam “prestando o serviço” de reproduzir e blindar os acúmulos historicamente injustos dos brancos.

Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que é viver em favelas, não se alimentar bem, não ter educação, não ter direito a saúde e trabalhar nos cargos mais precarizados na lógica de escravos. Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que são as celas lotadas do sistema carcerário, a própria rua como moradia, ou covas rasas com caixões lacrados sem direito a velório. Nos colocam goela abaixo que trabalhando duro teremos sucesso, pura mentira! Se fosse verdade teríamos que ser donos de tudo, de tudo, porque o que vemos é quem não trabalha ter as riquezas concentradas.

Num sistema capitalista a classe menos favorecida é explorada. Com as pessoas negras além da exploração que é uma mesma raça te explorando, ocorre todo o processo de colonização e de coisificação, que é uma raça (branca) exercendo o poder de dominação sobre o povo preto. É algo sim mais profundo, não se deve igualar as desigualdades sociais com as desigualdades raciais. Parece que tendemos a aceitar concessões e colocar o pé no freio, parece que tendemos a aceitar as anestesias e nos contentar com pequenos “avanços”. Em meio a toda essa falta de estrutura e toda essa negação de direitos, não me privarei do direito de ter ódio do algoz e suas características, e se o ódio contra os brancos tem que ser justificado tenho motivos de sobra para isso.

(...) “O ‘dilema racial brasileiro’ é complicado. Não tanto por desempenharem os brancos e negros os papéis que deles se esperam de disfarçar ou negar o ‘preconceito de cor’ e a discriminação de cor, mas porque o único caminho aberto à mudança da situação racial depende da prosperidade gradativa, muito lenta e irregular dos negros. Sob esse aspecto, é fora de dúvida que o preconceito e a discriminação, nas formas que assumem no Brasil, contribuem mais para manter o modelo assimétrico das relações de raça do que para eliminá-lo.” (Florestan Fernandes).

Talvez esteja provado que essa problemática secular do racismo não deve ser uma luta somente das pessoas negras devida dimensão da coisa, mas o cuidado deve prevalecer para que não sejamos mais uma vez na história pautados pela classe dominante e que possamos unir forças contra o inimigo em comum. O meu preconceito contra os brancos visa atingir seus lucros, seus privilégios e seus padrões que foram impostos. Enquanto lutarmos para escapar das dominações, lutaremos contra os brancos e todas as instituições que os servem.


sábado, 6 de setembro de 2014

Fala Tu (2003) - Documentário Rap

"Fala Tu" acompanha o cotidiano de três pessoas da zona norte do Rio de Janeiro. Suas vidas, seus sonhos, suas intimidades. Elas não se conhecem, mas têm uma coisa em comum: são rappers e sonham em se tornar músicos profissionais.
Macarrão, 33 anos, pai de duas filhas, é apontador do jogo do bicho e mora no Morro do Zinco, no Estácio. Combatente, 21 anos, trabalha como operadora de telemarketing, frequenta a Igreja do Santo Daime e mora em Vigário Geral. Toghum, 32 anos, é vendedor de produtos esotéricos, budista e morador de Cavalcante. O filme mostra o local de trabalho, os estúdios improvisados, as rádios piratas, as cerimônias religiosas, a casa e a família dos três, procurando entender como o rap mudou o cotidiano deles e como usam a experiência de vida para escrever as letras das canções.
O filme participou da Seleção Oficial do Festival de Berlim, em 2004.

Direção: Guilherme Coelho
Produção: Maurício Andrade Ramos, Mano Thales, Nathaniel Leclery, Guilherme Coelho
Roteiro: Nathaniel Leclery
Fotografia: Alberto Bellezia

quinta-feira, 31 de julho de 2014

QUAL É O MOIO? POLITICA CULTURAL PARA HIP HOP MSP


Qual é o moio? Direito pros manos e pras manas

Cultura na periferia, tem? Quem faz? Quem acessa?
O Fórum Hip Hop MSP entregou uma carta para efetivação de politicas culturais para prefeitura de prefeitura de SP no ano de 2013 e aprovou na conferência de cultura do mesmo ano como 11ª proposta com 108 votos, garantia da efetivação da semana Hip Hop com a autonomia do movimento Hip Hop efetivação de 5 casas de Hip Hop como centros de referencia, memória, e politicas de circulação.
Queremos um fundo voltado para o movimento Hip Hop politico cultural onde o DJ, BREAK, GRAFFIT, MC, BBOX sem haver detrimentos dos artistas e articuladores do Hip Hop junto com a efetivação de todas as leis e projetos de leis voltados para Hip Hop em SP na câmara municipal e a valorização do Hip Hop em suas localidades na periferia e sua história com ação por toda cidade que as politicas de cultura sejam para difusão do conhecimento e fortalecimento do Hip Hop para combate ao racismo institucional brasileiro, por que?... Essas pessoas vão dizer no vídeo abaixo.

Por André Luiz
Reportagem e imagem
Julho 2014






terça-feira, 22 de julho de 2014

Evento - QUAL É O MOIO? POLITICAS PARA O HIP HOP


Por André Luiz

No dia 31 de julho, São Paulo, horário dás 18h , O Fórum Hip Hop MSP realizará o evento Qual é o Moio? Plano de Politica para o Hip Hop na ONG Ação Educativa , rua General Jardim, 660, esse evento faz parte do projeto Direito Pros Manos e Pras Manas com o patrocínio do programa VAI e secretaria de Cultura. Haverá apresentação do grupo de rap comunista Fantasmas Vermelho (ZL) e o rapper Fuca (Z/S); Também será exibido o doc realizado pelo Fórum sobre as politicas públicas nos bairros da cidade e sua importância. Estão convidados para participar do dialogo representantes da secretaria de cultura e educação no intuito de entender e se articular para efetivação de politicas públicas de interesse do movimento hip hop
Os temas que apareceram na conversa são referente as politicas públicas de cultura, educacionais e sociais em prol da periferia da cidade, a partir do olhar do movimento hip hop;  Quais foram os efeitos dos diálogos de 2013, o que se efetivou e o que ainda está para se realizar referente ao hip hop? Quais são as participações dos conselhos da cidade, juventude e outros atualmente na politica executada no município? Qual o efeito do plano Juventude Viva na cidade? Entre outras questões que ainda estão sem respostas.

 Democracia não é dialogo para apropriação das falas para se criar um discurso que agrade. Ela é dialogo; é a participação dos munícipes na elaboração e efetivação das politicas de interesse dos paulistano.
Rapper Pirata

Serviço:
Hip Hop Filmes: Direito Pros Manos e Pras Minas
Qual é o Moio? Politica para o Hip Hop
Data:  Quinta -31/07/2014
Horário:18hr
Local: Ação Educativa
Rua General Jardim, 660
Prx metrô república
Fone: 9 8216 2160 - Rapper Pirata
http://forumhiphopeopoderpublico.blogspot.com.br/