quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Discurso do Stokely Carmichael (Kwame Ture) em 1966

Discurso do revolucionário Stokely Carmichael, conhecido também como Kwame Ture, na Universidade da California Berkeley, EUA, em outubro 1966.
tradução livre Fuca





Muito obrigado. É uma honra estar no gueto dos intelectuais brancos do ocidente. Nós queremos dizer algumas coisas antes de começarmos. A primeira é que, baseado no fato que a SNCC (Student Nonviolent Coordinating Committee), através da articulação deste programa pelo seu presidente, foi capaz de ganhar eleições na Georgia, Alabama, Maryland, e devido a nossa presença aqui poderá ganhar uma eleição na Califórnia, em 1968 irei me candidatar para Presidente dos Estados Unidos...(pausa) Não posso me candidatar pelo fato de eu não ter nascido nos Estados Unidos. É a única coisa que me impossibilita.

Queremos também dizer que, aqui é uma conferencia estudantil, como deve ser realizada em um campus,e que nós não estamos sempre a ser pegos pela masturbação intelectual envolvendo a questão do negro. Essa é a função das pessoas que são anunciantes, mas que se intitulam repórteres. Oh, para meus companheiros e amigos da imprensa, meus críticos brancos autonomeados, eu estava lendo o Sr Bernard Shaw dois dias atrás, e veio uma importante citação, que eu acredito ser apropriada para vocês. Ele diz que “toda critica é uma autobiografia”.

Os filósofos Camus e Sartre levantaram a questão da qual um homem pode ou não se auto-condenar. O filosofo existencialista negro que é pragmático, Frans Fanon, respondeu. Disse que não. Camus e Sartre não eram. Nós no SNCC tendemos a concordar com Camus e Sartre, que um homem não consegue condenar a si próprio. Um exemplo seria os nazistas, qualquer prisioneiro nazista que admitiu,(depois de ser capturado e preso, ter cometido crimes, e ter matado pessoas), cometeu suicídio. Os que permaneceram vivos foram os que nunca admitiram que tivessem cometido tais crimes contra as pessoas, ou seja, acreditavam que os Judeus não eram seres humanos e mereciam a morte, ou que eles estavam apenas cumprindo ordens.

Num cenário atual, os oficiais e a população (a população branca em Neshoba County, Mississipi – onde fica Filadelfia), não condenaram o (Xerife) Rainey, seus adjuntos, e nem os outros 14 homens que mataram 3 seres humanos. Eles não puderam porque eles haviam elegido o Sr Rainey para fazer exatamente o que ele fez, então condená-lo seria praticamente condenar a eles também. Parece-me que as instituições que funcionam no país são claramente racistas, e que elas são construídas com base no racismo. E a questão é, como os negros podem se mover no interior deste país? E então, como é que as pessoas brancas que dizem que não fazem parte dessas instituições começam a se mover? E como, então, podemos começar derrubar os obstáculos que temos na sociedade, para vivermos como seres humanos? Como podemos começar a construir instituições que permitem que as pessoas se relacionem umas com as outras como seres humanos? Este país nunca fez isso, especialmente em torno do país de branco ou preto.

Várias pessoas ficaram irritadas porque nós dissemos que a integração era irrelevante quando iniciada por negros, e que na verdade era um subterfúgio. Vemos que nos últimos seis anos ou mais, este país vem nos alimentando com uma "droga talidomida de integração", que alguns negros estavam andando por uma rua dos sonhos conversando sobre sentar ao lado de pessoas brancas; mas isso não resolve o problema; em Mississippi não fomos para sentar ao lado de Ross Barnett; não fomos para sentar ao lado de Clark, fomos para tirá-los do nosso caminho, e as pessoas devem entender que, nós nunca estivemos lutando pelo direito de integrar, lutávamos contra a supremacia branca.



Agora, então, a fim de entender a supremacia branca, devemos rejeitar a noção falaciosa de que as pessoas brancas podem dar a alguém a sua liberdade. Nenhum homem pode dar a alguém a sua liberdade. Um homem nasce livre. Você pode escravizar um homem depois que ele nasce livre, e é de fato o que este país faz. Ele escraviza os negros depois que eles nascem, de modo que o único ato que os brancos podem fazer é parar de negar aos negros a sua liberdade, ou seja, eles devem parar de negar a liberdade.

Queremos levar isso para a sua extensão lógica, para que possamos entender, então, que a relevância seria em termos de novos projetos de lei de direitos civis. Afirmo que cada projeto de lei dos direitos civis neste país foram feitos para as pessoas brancas, não para as pessoas negras. Por exemplo, eu sou negro, eu sei disso, eu também sei que enquanto eu sou negro, eu sou um ser humano e, portanto, eu tenho o direito de entrar em qualquer lugar público. Os brancos não sabiam disso. Toda vez que eu tentava entrar em algum lugar eles me barravam. Assim, alguém teve que escrever um projeto de lei dizendo para o homem branco, "Ele é um ser humano, não o pare". Esse projeto era para o homem branco, não para mim. Eu sabia disso o tempo todo. Eu sabia o tempo todo.

Eu sabia que podia votar e que isso não era um privilégio, que era meu direito. Toda vez que eu tentava eu era baleado, morto ou preso, espancado ou economicamente carente. Então, alguém teve que escrever um projeto de lei para dizer para as pessoas brancas que: "Quando um homem negro for votar, não incomodá-lo." Esse projeto de lei, novamente, foi para as pessoas brancas, não para o povo negro. E quando falamos sobre ocupação livre, eu sei que posso viver em qualquer lugar que eu queira viver. São as pessoas brancas em todo o país que são incapazes de me permitir viver onde eu quero viver. Você que precisa de um projeto de lei dos direitos civis, não eu. Eu sei que posso viver onde eu quero viver.

As falhas para aprovar uma lei de direitos civis não existem por causa do Black Power, não é por causa do SNCC Student Nonviolent Coordinating Committee, não é por causa das rebeliões que estão ocorrendo nas grandes cidades. É a incapacidade dos brancos de lidarem com seus próprios problemas, dentro de suas próprias comunidades. Esse é o problema do fracasso do projeto de lei dos direitos civis. E assim, em um sentido mais amplo, devemos então perguntar: Como é que as pessoas negras se movem? E o que fazemos? Mas a questão em um sentido maior é: Como as pessoas brancas que são a maioria, e que são responsáveis por assegurar a democracia podem fazê-la funcionar? Eles falharam miseravelmente a este ponto. Eles nunca fizeram com que democracia funcionasse, seja dentro dos Estados Unidos, Vietnã, África do Sul, Filipinas, América do Sul, ou em Porto Rico, onde quer que o americano tenha passado, não foi capaz de fazer a democracia funcionar, de modo que em um sentido mais amplo, não só condenar o país pelo que é feito internamente, mas devemos condená-lo por aquilo que ele faz externamente. Vemos esse país tentando dominar o mundo, e alguém tem que se levantar e começar a articular, pois este país não é Deus, e não pode governar o mundo.



Parte 2: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power.html
Discurso na integra (em inglês)
youtube: http://youtu.be/IMYTN0-2ugI
American Rhetoric:
http://www.americanrhetoric.com/speeches/stokelycarmichaelblackpower.html

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O dia em que Dorival encarou a guarda - Curta-Metragem

Todo homem tem seu limite, e Dorival resolve enfrentar a tudo e a todos para conseguir o que quer. A história da luta desigual de um homem contra um sistema sem lógica e sem humanidade.

Diretor: Jorge Furtado, José Pedro Goulart
Elenco João Acaiabe, Pedro Santos, Zé Adão Barbosa
Ano 1986 - País Brasil - Local de Produção: RS

Prêmios: Melhor Ator no Festival de Gramado 1986 -Melhor Curta no Festival de Gramado 1986 -Melhor Filme - Crítica no Festival de Gramado 1986 - Melhor Filme - Júri Popular no Festival de Gramado 1986 - Melhor Curta no Festival de Havana 1986 - Melhor Filme no Festival de Huelva 1986 - Melhor Filme - Crítica no Festival de Huelva 1986
Festivais: Sundance Film Festival 1991

fonte: http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=399#





Um curta-metragem de 1986 que retratou muito bem a truculência, a burocracia e o obedecimento de ordens sem motivo fundando.

Dorival, um preso que exigia seu direito ao banho, pois estava um calor infernal, e fazia 10 dias que não ia ao chuveiro, não podendo exercer o minimo da dignidade humana. Com a ameaça de fazer um escândalo na cela, Dorival fez seu pedido à diversas hierarquias desde o cabo ao tenente, nenhum deles saberia o porquê da ordem que proibia Dorival do direito ao banho, apesar dos próprios guardas estarem, também, pingando de suor.

Dorival visto esgotado seus meios soltou uma cusparada na cara do tenente. O mesmo ordenou que abrisse a cela, mas antes, ordenou que chamasse reforço, pra covardemente espancar Dorival. Para limpar o sangue, adivinhe para onde que ele foi?

Esse curta nos faz refletir em diversos assuntos, não foi a toa que recebeu vários prêmios.
Além de pensar no sistema carcerário, nos remete a luta pelo transporte, pela moradia, ou seja, também, tudo que há de resquício da ditadura militar nesse pais.

Carlos R. Rocha

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Entre a Luz e a Sombra - Documentário Rap

Descrição do vídeo no youtube:
Entre a Luz e a Sombra é um documentário brasileiro lançado em 2009 que investiga a violência e a natureza humana a partir da história de uma atriz que dedica sua vida para humanizar o sistema carcerário, da dupla de rap 509-E formada por Dexter e Afro-X dentro do Carandiru e de um juiz que acredita em um meio de ressocialização mais digno para os encarcerados.

Lançado nos cinemas no dia 27 de novembro de 2009, em 14 de novembro já recebeu o primeiro prêmio: venceu a 4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. Dexter manifestou-se contrário a diversas cenas do filme.


sábado, 23 de novembro de 2013

Favela No Ar - Documentário Rap

Descrição do vídeo no Youtube 
O rap é a chave. O rap é a única música que reúne multidões pra falar de consciência. É o poder da comunicação. Uma co-produção internacional entre a brasileira 13 Produções, a dinamarquesa Rosforth e a sueca Stocktown, Favela no Ar retrata, na lata, o despertar do jovem pobre paulistano para a consciência social na identificação da vida que imita a arte com a arte que imita a vida. É o capítulo paulistano da história cultural do respeitado rap nacional na voz de seus principais expoentes. A auto-recuperação de Dexter e Afro-X por meio do rap, a última entrevista gravada de Sabotage, o fortalecimento do movimento hip-hop com a sigla 4P -- Poder Para o Povo Preto --, o dilema da exposição na mídia no entender de KL Jay e no contraponto informado de Xis, o poder transformador do hip-hop como movimento local na voz do RZO... Favela no Ar marca a batida deste movimento de muitos movimentos.

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Gíria Vermelha - Lutar é Preciso - O Som e o Grupo de Rap Maranhense



LUTAR É PRECISO
Letra:

De pé o vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

Se for pra mim morrer e ter que nascer de novo/ eu prefiro ser novamente o que eu sou/ por isso eu vou escrevendo a minha própria história/ entre pedras e espinhos que no caminho rola/ do núcleo do meu crânio algo me perturba/ meu coração ao em conexão com os meus olhos me diz/ vai a luta pois teu povo é pobre e sofre/ se comover qualquer um se comove/ então, mova-se pra ver se a coisa muda/ a arte pela arte para nós é surda e muda/ não. Não fede e não cheira/ pra periferia tem que ir pra lixeira/ se no Zaire um corpo sem vida cai/ se na faixa de gaza um palestino do Hamas vai/ explodir o próprio corpo não é que seja louco/ é a paz que está em jogo infelizmente, sente/ um cheiro podre no ar/ é a paz da USA/ mortalha armada pra pobre que sofre a ONU/ há muito tempo perturba  o sono / de quem não compactua com os planos tiranos do Tio Sam/ novamente foi covarde/ Irã, Iraque, Hiroxima, Nagashaki/ Libano deus livra-nos/ do mal que se aproxima/ do mal que prega a paz e gera carnificina/ Não! Ditaduras, bombardeios/ novamente deus não veio/ salvar aquele velho de turbante/ que pros cus de olho azul do Ocidente é ignorante/amante da guerra, fantástico/ eu to com o povo palestino e não abro/ pra quem perdeu se filho acredite/ enfrentando armas pesadas com estilingue/  ato heroico e sublime, palmas/ pra burguesia fanatismo, calma/ palavras  são palavras , atitude é atitude/ Kofi Anan, renegada negritude/ negro, branco, índio,mulheres, homens/ uni-vos ô vitimas da fome

De pé o vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

O meu nordeste a muito tem pó é manchete/  no lixão do Irmã Dulce um pivete quase morto/ só pele e osso/ se arrastando pois o crânio é muito grande para o seu franzino corpo/ pareço louco, mas não sou louco/ meu mano nasceu coxo e movimenta-se com os mochos/ mas sua mãe ora e chora todo dia/ seu sonho de papel só chove covardia/ mundão em crise ponta a ponta na gangorra/ Cajapior, saca só que vida loka/ prêmio Nobel da miséria onde a paz agoniza/ e muitos se alimentam com manga e farinha/ aê turista bate a foto miséria absoluta/ só não ver quem não quer ou quem bebeu cicuta/ família ferrabraz, Sarney finge que esquece/Maranhão de ponta a ponta é pior que Bangladesh/ e febre amarela é meningite, é caxumba/ Ei povo sofrido, poder filha da ..../ mas não é isso que eu vejo na Mirante/ um mundo rosa pendurado num podre barbante/ imagem cínica, da moça cínica/ o gás sonífero maligno e mortífero/ televisível em alto novel é um absurdo/ mas o seu dinheiro estava lá nos malotes da Lunus/ a culpa é minha, é sua é nossa?/ infelizmente alguns se vendem ai é foda / mas, minha família é de rocha e não abre/ Quilombo Urbano faz  da guerra uma arte/ com banho de sangue , na benção do padre/ na cruz ou no punhal me diz então quem sabe/ quantos quilates vale a liberdade dos homens/ ô vitimas da fome, ô vitimas da fome/

De pé ô vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

Gíria Vermelha

O Gíria Vermelha é um dos grupos de rap que fazem parte do Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão “Quilombo Urbano” que em 2010 completou 20 anos de existência. O Gíria Vermelha, por sua vez, foi formado em 2002, mas dois de seus membros, Hertz e Verck, são remanescentes dos grupos mais antigos que se formaram no interior do Quilombo Urbano. Na sua atual formação, além de Rosenverck Estrela Santos (Verck), 33 anos, e Hertz da Conceição Dias (Hertz), 39 anos, o grupo conta ainda com a participação da reconhecida cantora de MPB do Maranhão, Luciana Pinheiro, 38 anos.

Na sua filosofia política está claramente presente uma posição que combina a luta de classe com a de raça. Na perspectiva de negação do “sistema fonográfico burguês” (Hip Hop Militante) o discurso rimado do grupo aponta para construção de uma alternativa de esquerda para arte de um modo geral, uma arte que seja engajada na lutas sociais e em defesa da juventude de periferia “a arte pela arte pra nós é surda e muda/ não, não fede e não cheira/ pra periferia tem que ir pra lixeira”, conforme afirmam na música “Lutar é Preciso” um dos rap´s mais apreciado do grupo em diversos estados do país.

Hertz e Verck são formados em história e pós-graduados em educação, já Luciana Pinheiro é formada em Farmácia. No entanto, uma das proezas do Gíria Vermelha é conseguir dialogar, de forma didática/ musical, com setores da classe trabalhadora tanto do universo letrado (das academias) como universo plebeu (das periferias) e do universal sindical.

Os temas tratados em suas letras são sínteses dessa visão que ultrapassam os muros das universidades e as fronteiras das periferias e favelas do Brasil. É possível encontrar em suas músicas, relatos e análises da vida dura de quem vive em meio ao barbarismo da “guerra interna” das periferias brasileiras, como nas canções “Tão Só” e “Liberdade Sem Fronteiras”, como na marcha revolucionária da canção “A Hora do Revide” ou no grito de solidariedade ao povo palestino presente nas canções “Lutar é preciso” e “Coração Destemido”.

O local e o internacional se entremeiam nas poesias cortantes de suas letras e nelas o orgulho negro e a denúncia das desigualdades raciais não são meros apêndices, mas questão de centro como consta na envolvente “Herói de Preto é Preto”, em fim raça e classe não se sobrepõe, mas se mostram como face de uma mesma moeda: a do sistema capitalismo.

Em setembro 2008 o Gíria Vermelha lançou seu primeiro trabalho intitulado “A HORA DO REVIDE” com 16 faixas, em janeiro de 2010 participaram da coletânea de em homenagem aos 20 anos de Quilombo Urbano com duas canções “O flautista e a Rataria” que retrata de maneira crítica e irônica a volta do grupo Sarney ao governo do Maranhão após a cassação do então governador Jackson Lago (PDT) e “ Coração de Mãe” que narra um conflito que resultou em diversas mortes na virada do ano de 2009 para 2010 no bairro da Liberdade, bairro de maioria negra em São Luís do Maranhão cujo ambiente é fonte de inspiração e de convivência social do grupo, haja visto que todos os seus três principais membros tem parentes nessa comunidade.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

CARTA-DENÚNCIA SOBRE A RETALIAÇÃO IMPOSTA PELA PM


CARTA-DENÚNCIA SOBRE A RETALIAÇÃO IMPOSTA PELA PM (COM MANDO DO GABINETE DE VC SABE QUEM) AO COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA E AO FÓRUM DE HIP HOP MSP.

Fala do Fórum de Hip Hop na Reunião da Subcomissão de Juventude da Câmara Municipal de São Paulo 29/09/2013



Antes de fazer qualquer comentário especificamente sobre o tal Plano Juventude Viva, sou obrigado, nesse primeiro momento, a declarar repúdio às últimas opções políticas dessa tal Casa do Povo. Não é apenas um repúdio pessoal, mas um repúdio que expressa o Fórum de Hip Hop, as demais 129 entidades que compõe a frente Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica e demais organizações dos Direitos Humanos, incluindo uma ampla gama de entidades que se colocam ao nosso lado na luta não só pela consolidação da democracia em nosso país, mas pela real emancipação de nossa Juventude Preta, Pobre e Periférica. Esta, ausente de reparação e imersa em uma lógica não distante daquela descrita no período de acumulação primitiva do capital, sustentáculo desta empresa colonial, para nós, longe de ser superada.
No dia 03/09/2013, 37 vereadores desta casa sujaram suas mãos de sangue ao aprovar a tal "Salva de Prata" às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). O proponente da homenagem e seu colega da famosa “Bancada da Bala” são os mesmos que estiveram ao lado de mais 323 PM’s que, sem as respectivas insígnias e crachás massacraram 111 presos no Carandiru há quase 21 anos atrás, 111? O Mano André do Rap disse em 2004 “[...] Vários companheiros foram mutilados pelos cachorros, um deles teve os testículos arrancados, centenas foram triturados no caminhão de lixo [...]”. Esses ninguém contou...

No dia 17/09/2012
Os vereadores aprovaram a concessão da Medalha Anchieta e do Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo ao capitão da PM Dimas Mecca Sampaio. Pior, só 5 vereadores votaram contra. Ele recebeu um diploma e uma medalha justamente por participar da Operação Castelinho onde, segundo o MP os PM’s; “todos previamente ajustados com identidade de propósitos e unidade de desígnios, agindo por motivo fútil, mediante meio do qual resultou perigo comum e valendo-se de emboscada e dissimulação, recursos que dificultaram a defesa dos ofendidos, mataram mediante disparos de armas de fogo.” Assassinaram mais 12 dos nossos. O pedido de votação nominal não aconteceu como nas três tentativas de votação da homenagem à Rota, pois houve acordo para não trancar a pauta.
No dia 26/08 a Câmara Municipal de São Paulo realizou sessão solene para homenagear os 29 policiais militares feridos durante as manifestações de junho nas ruas de São Paulo, promovidas pelo Movimento Passe Livre. É bom lembrar que mais de 200 pessoas foi presas nessas manifestações, o número de feridos entre civis a Secretaria de Segurança pública nem ao menos sabe dizer. Que cerimônia é realizada aos militantes que são reprimidos por exercerem seu livre direito de manifestação?

Para completar temos tramitando aqui o PROJETO DE LEI 0100002/2013
“Proíbe a utilização de vias públicas, praças, parques e jardins e demais logradouros públicos para realização de bailes funks, ou de quaisquer eventos musicais não autorizados e dá outras providências” e a nova obra-prima da Bancada da Bala que visa proibir a utilização de mascaras em manifestações. Tanto essa como aquela, provada na primeira votação com ampla maioria, é expressão daquilo que os movimentos sociais já vinham falando, a Câmara Municipal, não diferente dos demais espaços do exercício político da cidade e do Estado, está militarizada.

Certamente a homenagem ao Desembargador que autorizou a reintegração do Pinheirinho em São José dos Campos vai entrar em pauta...

Isso é reflexo de um desenvolvimento tresloucado. Só isso prá entender como os Capitães do Mato podem chegar ao poder político direto sobre a sociedade.
Que fique registrado, estamos de luto...
Bom, com o tempo que resta, vou trazer um pouco da pequena aproximação que o Fórum, mas também o Comitê vem tendo com o Plano. Pelo pouco que disse antes, é evidente a horrível conjuntura de nossa Cidade para o Movimento Social. Há quase 1 ano eu quase que só conto corpos. O PSDB de São Paulo, não é o mesmo das Alagoas, mas não é só ai que está à disputa de valores e da concepção do programa, ela está em cada palmo institucional da Cidade. Nesse sentido, qual Estado? Ou, Qual ideia no Estado e na Sociedade Civil pode agir conjuntamente para avançarmos com esse Plano? Esse é o ponto de partida, vamos fazer de baixo para cima? Se vamos, é importante ter em mente que isso exige um maior papel aos Movimentos Sociais. Os articuladores locais precisam ter em mente não só isso, mas também o debate racial que permeia toda a construção do Plano. Não só falo do ENJUNE, a qual não estive presente e admito conhecer pouco, mas da história desta pauta que o livro-denúncia de Abdias Nascimento em fins da década de 1970 é um bom exemplo... A Coordenadoria de Juventude e a Secretaria de Igualdade Racial precisam fazer mais do que replicar a concepção do Plano imprimida pelo Governo Federal, é necessário se envolver mais, produzir coisa nova, o site mesmo é muito pobre de informações, é muito vago “Direitos Humanos”, “Prevenção da Violência Contra a Juventude Negra”. Andei olhando algumas informações indiretas sobre o Plano em Alagoas e admito que, aparentemente, reconhecemos melhor essa violência aqui, mas ainda vejo esses setores do governo muito preocupados com articulações internas do que as na base.

Não é de hoje que os Movimentos Sociais, principalmente os Populares, reivindicam a infraestrutura e demais direitos ao Estado, disputando ele... O que é novo, o que não podemos perder, é o corte racial claro que o Plano trás. Trata-se de um reconhecimento, de certa maneira modesto, mas evidente de que somos nós, pela nossa cor, que sofremos mais, logo o Genocídio, por uma opção de nossa burguesia, a mais atrasada do país.
Não acho que seja uma questão de fazer pura e simplesmente o estado chegar, isso pode se dar das piores madeiras possíveis, vide as UPP’s. Mas sim uma oportunidade de aproveitar o enraizamento dos Movimentos Sociais e não apenas apostar em sua capacidade de monitorar, mas de capitanear esse processo. Sabemos que o individualismo, a fragmentação social, a submissão e a desmobilização política são pilares centrais dos valores culturais inseridos pelo neoliberalismo nas sociedades modernas. Logo, é importante reconhecer que não estamos imunes neste processo. Dos partidos aos “coletivos horizontais” o conflito entre o individual e universal se perpetua, a autocrítica permanente teve ser o instrumento mais fomentado durante o processo que se abre em nosso horizonte. Não dá prá achar que a sociedade civil não é permeada por esses processos, é por ai que fica mais claro o protagonismo que os Movimentos Sociais se faz necessário. Porém, minha questão é, vamos ou não vamos lutar para pautar o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica? Até quando vamos ficar na zona de conforto?
Não é possível dar mais nenhum passo sem a clareza da realidade concreta colocada, mas isso é impossível sem pessoas que possam agir nessa realidade. O Plano como infraestrutura de organização é o que é capaz de transformar as demandas em conquistas concretas através de suas práticas próprias de reivindicação. A conclusão é simples, os territórios só serão transformados, no sentido de mudar a realidade de espaços onde a morte é impressa em negrito, com o fortalecimento das práticas dos Movimentos Populares locais. De que maneira um Plano municipal irá dar conta da violência da PM e seus grupos de extermínio? Não irá, mas para os Movimentos não há normativas que o algemem, ou não deveria ter ao menos, eles podem explorar alternativas e os articuladores devem ter isso em mente.
Vejam, já temos 19.470 prisões efetuadas esse ano, a Civil matou 4 até agora e a PM 37, aumentou desde nossa última consulta, isso só pra falar dos tais “Autos de Resistência”, já que nem informar a cor de quem morre a Secretaria de Segurança Pública faz. Ai a prefeitura nem consegue chegar, é por essas e outras que não devemos perder a base, ou seja, jovem negro como protagonista através das práticas que os Movimentos vêm forjando com o tempo. Meu ponto de vista hoje é o de que o Núcleo Territorial deve ser priorizado no processo, não só porque trabalho com a perspectiva de protagonismo dos Movimentos (e não é das ONGs que me refiro aqui, e sim aos Movimentos de base Popular), mas porque é uma maneira mais do que necessária de disputar com esse Estado que ai está, palmo a palmo, uma sociedade civil que naturaliza o projeto Genocida em voga. Por isso também que temos uma Audiência no dia 28/10, é justamente para dizer que não vamos recuar agora, queremos o fim da Operação Delegada (que ainda está no plano diretor, lugar que o Plano Juventude Viva não esta), assim como queremos a imediata implementação do da Lei n°400/2003 que institui o Programa Estação Juventude regional no município. Queremos acesso ao que realmente ocorre com novos jovens pretos quando são resgatados pelo SAMU em operações da PM. Queremos romper com todos os obstáculos que brecam a vida desses jovens. Não dá para esquecer que a mesma prefeitura que pauta o Juventude Viva também chamou o CHOQUE para desalojar as famílias do Itajaí no Grajaú/ZS

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Miguel Angelo – Fórum de Hip Hop MSP

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Projeto de Decreto Legislativo 06/2013 para homenagear a ROTA‏

C  O  M  U  N  I  C  A  D  O

Boa tarde, pessoal!
acho de extrema importância, essa divulgação hoje, por volta amanhã as 15 hs tentarão,
 NOVAMENTE, votar, a Homenagem Salva de Prata à Rota. Proposta do Cel.Telhada.
Na 1ª eramos 6, na 2ª, 16 e nesta 3ª pretendemos ser mais de 50 pessoas,com  faixa:
"DESMILITARIZAR AS POLÍCIAS", "CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA"
importante,estarmos AMANHÃ com um número acima de 50 na galeria, eles tentarão APROVAR
o projeto do vereador Telhada, eles não conseguiram os 37s votos, faltou 1 voto. ATENÇÃO:::
entrar direto para a Galeria e sentarmos nas cadeiras (sem alarde),  se preciso for, no momento
certo e oportuno, nos manifestaremos.

FAVOR REPASSAR E CONVIDAR SEUS COLEGAS E ENTIDADES.
Por favor, tentem divulgar em redes sociais, nos coletivos etc.


EVENTO NO FACEBOOK
Ato contra a salva de prata em homenagem â Ronda Tobias de Aguiar.

Descrição do Evento:

Nessa terça feira vai à plenário a votação da Salva de Prata à ROTA. Para barrar esse absurdo teremos que nos mobilizar e marcar presença antes e durante a votação, que é nominal. Há grandes chances de aprovação caso não exista pressão popular.

Segue o Manifesto do Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica:

"Srs. vereadores e sras. vereadoras da Câmara Municipal de São Paulo, estamos indignados!

O Projeto de Decreto Legislativo 6/2013, proposto pelo vereador Coronel Telhada (PSDB), que pretende homenagear a Ronda Tobias de Aguiar com uma ‘Salva de Prata’ contou com a adesão de 36 dos 55 vereadores da Câmara Municipal de São Paulo em primeira votação. Passou pela Comissão de Constituição de Justiça e também foi aprovado, mais recentemente, pela Comissão de Educação, Cultura e Esportes. É escandaloso que um símbolo do desrespeito aos direitos humanos, da ação brutal e ineficiente da polícia seja objeto de honrarias, ao custo do bolso da população.

Após a proposta repercutir na imprensa e redes sociais a justificativa do projeto – que fazia a apologia à ação violenta da ROTA durante a ditadura militar - teria sido alterada por um texto mais ameno. No entanto, qual seria uma explicação plausível para qualquer tipo de honraria a uma corporação que esteve na invasão do Carandiru e foi responsável por um punhado das 111 execuções? Qual seria a justificativa para uma polícia que recebeu o nome de "Batalhão de Caçadores” e que é conhecida pela estrema truculência e por ações ilegais denunciadas inclusive pelo premiado jornalista Caco Barcellos no seu livro ‘Rota 66’??

A alta letalidade policial, como demonstram estudos e especialistas em segurança pública é ineficiente no objetivo de conter a violência e é uma expressão da selvageria institucionalizada, financiada pela população. Em especial, as principais vítimas da violência policial são os jovens negros e moradores das periferias, como aponta o Mapa da Violência (2011/2012).

Leia o trecho do livro trecho do livro Rota 66:

“O resultado do confronto do nosso Banco de Dados com os arquivos da Justiça Civil revela que 65 por cento das vítimas da PM que conseguimos identificar eram inocentes. Havíamos levado ao cartório de distribuição criminal as fichas com o nome de 3.846 pessoas mortas em supostos tiroteios com a polícia. Fora as cerca de trezentas fichas devolvidas sem informações, os funcionários nos entregaram dois outros pacotes que continham o resultado mais esperado por mim desde o início da investigação. Em um deles se encontravam as 1.220 fichas das pessoas já arroladas em processos criminais. O outro, no entanto, abrigava um volume ainda maior de fichas. Eram os nomes de 2.303 pessoas que nunca estiveram envolvidas em crimes no município de São Paulo. Um total que representa quase o dobro em relação ao número de vítimas que eram criminosas! Prova estarrecedora de que, de cada dez pessoas mortas pelos policiais militares, menos de quatro tiveram participação em algum crime. Mais de seis tinham o passado limpo. Suas fichas nos foram devolvidas com um carimbo de duas palavras: nada consta.”

Assim como fez o jornalista Caco Barcellos após a publicação do livro, o seu colega André Caramante teve que sair em 2012 do país - após ameaças à sua vida - após denunciar a violência policial, evidenciando que se trata de um problema grave e atual. A existência de grupos de extermínio, embora negada pelo Comando da PM paulista, vem sendo amplamente reconhecida, inclusive pelo Ex-Delegado Geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro Lima, que afirmou haver indícios, segundo investigações, da sua existência.

As pessoas estão com medo e demandam aos seus representantes maior segurança. No entanto, não é isso que o policiamento ostensivo, baseado na truculência, deu à nossa população ao longo de tantos anos. O que esse tipo de polícia vem conseguindo mostrar é que a alta letalidade policial tende a vitimar inocentes e é incapaz de combater a criminalidade. Vende a ideia de pacificar, mas espalha o terror em comunidades, especialmente as mais pobres, cujos cidadãos têm dificuldade de acessar a justiça ou a imprensa. Sabemos muito bem a que vem servindo a Ronda Tobias de Aguiar- ROTA. Uma corporação que merece ser lembrada não pela Salva de Prata, mas pela chuva de balas que há décadas é lançada contra a população paulistana, alçando candidaturas sob o custo da vida de pessoas inocentes.

Por isso, vereadores e vereadoras, estamos e estaremos atentos ao posicionamento de vossas excelências em relação ao PDL 06/2013. Acreditamos firmemente nos valores democráticos e humanos e temos a certeza que serão capazes de corrigir os rumos que essa matéria vem tomando. Temos a convicção que a Casa tem um trabalho importante a fazer e não aceitará retrocessos, prestando-se a exaltar a ditadura militar, o Massacre do Carandiru e a violência institucionalizada.

GRUPO TORTURA NUNCA MAIS E COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA"

Para mandar emails pedindo o voto contrário: policeneto@camara.sp.gov.br, julianacardosopt@camara.sp.gov.br, vereadoralfredinho@camara.sp.gov.br, contato@florianopesaro.com.br, joseamerico@camara.sp.gov.br, nabil@nabil.org.br, miltonleite@camara.sp.gov.br, tripoli@camara.sp.gov.br, arselino@tatto.com.br, andrea@andreamatarazzo.com.br, toninhovespoli@camara.sp.gov.br, jairtatto@camara.sp.gov.br, senival.pt@ig.com.br, gvmcovas@camara.sp.gov.br, marcoaureliocunha@camara.sp.gov.br, reisvereador13651@gmail.com, natalini@camara.sp.gov.br,afriedenbach@camara.sp.gov.br, contato@vereadorgoulart.com.br, jmadeira@r7.com, ota@camara.sp.gov.br, abouanni@uol.com.br, alessandroguedes@camara.sp.gov.br, adilsonamadeu@camara.sp.gov.br, afriedenbach@camara.sp.gov.br, vereadoracr@terra.com.br, atiliofrancisco@camara.sp.gov.br, vereadorclaudinho@uol.com.br, davidsoares@camara.sp.gov.br, vereador.predemilson@camara.sp.gov.br, edirsales@edirsales.com.br, contato@eduardotuma.com.br, gilsonbarreto@camara.sp.gov.br, policeneto@camara.sp.gov.br, julianacardosopt@camara.sp.gov.br, vereadormarquito@camara.sp.gov.br, martacosta@camara.sp.gov.br, noeminonato@camara.sp.gov.br, orlando.silva@camara.sp.gov.br, paulofiorilo@camara.sp.gov.br, paulofrange@camara.sp.gov.br, reisvereador13651@gmail.com, ricardoyoung@camara.sp.gov.br, sandratadeu@camara.sp.gov.br, vavadotransporte@camara.sp.gov.br, wadihm@camara.sp.gov.br, sandratadeu@camara.sp.gov.br , arselino@tatto.com.br, falecomigo@aureliomiguel.com.br, daltonsilvano@camara.sp.gov.br, jeanmadeira@camara.sp.gov.br, vereador@toninhopaiva.com.br, vereadornelorodolfo@camara.sp.gov.br, nomura@camara.sp.gov.br, gilsonbarreto@camara.sp.gov.br, calvo@camara.sp.gov.br, contato@eduardotuma.com.br
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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Coleção História Geral da África em português (PDF)

Download gratuito (somente na versão em português)


Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.



Volume I: Metodologia e Pré-História da África (PDF, 8.8 Mb) > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190249POR.pdf






Volume III: África do século VII ao XI  >
http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190251POR.pdf



Volume IV: África do século XII ao XVI > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190252POR.pdf



Volume V: África do século XVI ao XVIII > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190253POR.pdf



Volume VI: África do século XIX à década de 1880 > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190254POR.pdf



Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935  > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190255POR.pdf





terça-feira, 30 de julho de 2013

Contradições do Desenvolvimento: algumas considerações sobre o plano Juventude Viva no Estado das Alagoas.

Contradições do Desenvolvimento: algumas considerações sobre o plano Juventude Viva no Estado das Alagoas.

“Seja bem vindo a um lugar que deus esqueceu;
Seja bem vindo a um capítulo da história que o demônio escreveu;
Os personagens aqui não são heróis não;
Na nossa história estão no cemitério ou na detenção;
Ou no meio do mato se transformando em carniça;
Com vários tiros no corpo, esperando o IML que virá um dia;
To com o passado na mente e eu me lembro;
De cadáveres ensanguentados, fulano sentando o dedo;
“Inúmeros enterros, quantos no IML por migalhas...”.
                                                          
    Facção Central - Um Lugar Em Decomposição








O Juventude Viva é um plano, ou seja, é o resultado de um acúmulo de projetos, pesquisas e demais papeis que diagnosticaram um determinado problema; os jovens negros são o maior alvo da violência no período atual (devemos considerar que todo esse acúmulo surge de um determinado ponto no tempo, e quando se diz “período atual” estamos dizendo apenas que o plano não visa corrigir um problema latente em toda a história do país, mas apenas minimizar uma sequela que para a governo federal, por assim dizer, não assume ser histórica, mas pontual ao menos oficialmente).

       O plano apresenta que o jovem negro, com idade entre 15 e 29 anos, é o principal alvo da violência tanto física como simbólica, principalmente na esfera institucional, e se propõe a combater esse quadro através de uma articulação local permeada por uma intervenção estatal no território com a oferta de equipamentos de cultura e demais serviços públicos de toda ordem que são desenhados de acordo com a realidade de cada território. Textualmente, é inovador e bem avançado no sentido de reconhecer, com limitações naturais que dizem respeito à produção geracional do racismo, o lócus a qual esse jovem negro de baixa escolaridade está exposto. Podemos dizer que é um plano típico das demandas da atual conformação político-social do país, dialogando com o rearranjo eleitoral do pós 2002 (chegada de Lula ao poder, levando em conta a alternativa da burguesia e do capital internacional que apostaram no PT como aparelho burocrático gerencial do Estado brasileiro e no consequente bloqueio a luta de classes que tal conjuntura geraria), o reformismo conservador e a permeabilidade que setores antes excluídos politicamente que passam a disputar com a burocracia cutista e petista pela concepção das políticas sociais.
      

            O exposto acima serve apenas para seguirmos daqui tendo uma ideia mínima do que se supõe quando pensamos em plano. Ideia mínima, pois não é nenhuma novidade que até isso é negligenciado pela imprensa capitalista quando vende a desinformação como informação. De qualquer maneira, a concepção quanto ao que viria ser o Juventude Viva esta em disputa e não pretendo  aqui trabalhar com a ideia de que ele é um só onde quer que esteja.

            No segundo semestre de 2012, o governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho (PSDB) se reuniu em Brasília com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e com a Secretaria-geral da presidência. Alagoas foi o primeiro estado a implantar o Juventude Viva, sendo visto como uma espécie de enclave para o Brasil Mais Seguro, esse último, um plano que, mesclado entre outros com o Juventude Viva, iria nortear o Programa Nacional de Segurança Pública.

            Interessante nesses encontros intersetoriais é como cada secretaria vive de defender a sua existência. Quando o problema é violência, por exemplo, o discurso é tipo assim;

Secretaria da Cultura – A violência deve ser enfrentada com esporte, lazer, educação, saúde e cultura.

Secretaria do Estado da Mulher (essa é bem interessante, pois é também da Cidadania e dos Direitos Humanos)- A violência deve ser enfrentada com esporte, lazer, educação e saúde focando a mulher.

Secretaria da Defesa Social - A violência deve ser enfrentada com esporte, lazer, educação e saúde focando a assistência social.

            Funciona assim da micro à macropolítica, mas na macro costuma ser um efeito direto de uma pressão de base eleitoral – “fragmentação da sociedade contemporânea” - e de conjuntura econômica do capital, pois esse rearranjo que é promovido entra e saí governo não altera nada que não seja a concepção da implantação de uma política, importante quando falamos de Juventude Viva, mas inútil do ponto de vista da luta de classes.

            Bom, neste encontro referido acima, Vilela afirma que o Alagoas tem problemas sérios com a violência em decorrência da taxa de pobreza absoluta que atinge metade da população, enxergando o problema como basicamente socioeconômico. É através não só da ação policial, mas também através do trabalho social, educação, saúde e esportes que essas pessoas irão adentrar as portas da cidadania, são suas colocações.

            Apesar de reconhecer a intersetorialidade do programa (o fato de estar ali já fala um pouco sobre isso) ressaltou que estava atendendo um pedido da presidenta Dilma, que também foi quem o convenceu a implantar o Brasil Mais Seguro. Imagino que Dilma usou uma técnica típica do que alguns chamam de lulismo; “Antes ter, apesar das contradições, do que não ter”, o que soa bem do ponto de vista de quem deseja uma ação prá ontem quanto à situação atual, mas que por outro lado nada mais é que a expressão das necessidades matérias do PT em se manter no poder em um momento onde setores da própria burguesia digladiam pelo mesmo deixando translúcido o avanço das contradições do regime burguês. Mas o que vem a ser política para o que chamam de “o outro projeto para o Brasil”? O que viria a ser política para os tucanos? Quem não faz ideia do que é a política, na sua forma oficial, para o PSDB, aqui vai uma dica;

“A política, como meu pai, o ‘Velho Menestrel das Alagoas’, o velho Teotônio Vilela apregoava, ela é a política como um instrumento. Uma ferramenta para promover o bem comum, do contrário é politicagem. E o PSDB existe para fazer essa política, assim que o presidente Fernando Henrique fez no Brasil, assim que os governadores que o PSDB tem elegido por todo esse país, entre eles, Aécio Neves em Minas Gerais. Mudando uma história para melhor; de gestão, de organização, dos serviços sociais. É o Estado, em parceria com a sociedade, construindo um futuro comum”.
                                                                                              Teotônio Vilela Filho (PSDB)

            Vilela é presidente de seu partido e um aparente fã da retórica. Sabemos dos fatos, que tudo o que foi dito acima é anos luz da realidade. Talvez a única informação relevante, não por isso inédita, é que Aécio Neves sai contra Dilma na corrida eleitoral do ano que vem.

Até aqui, vimos que nesse pequeno fragmento do contexto onde habita a disputa por um plano ou política nada foi dito sobre seu objeto, ou seja, o negro jovem que perfaz o perfil que mais paga a conta da violência. Muito pelo contrário, Alagoas tem um fascitoide burocrata filho de outro que era um autêntico dono de fazenda, membro da UDN depois da ARENA e estrategicamente do MDB no pós-ditadura civil-militar (contradições nítidas em “Menestrel das Alagoas” de Milton Nascimento). Deixemos as querelas e vamos olhar o Alagoas por dentro das Alagoas.


Alagoas mata negro a rodo. Em 2010, das 2.286 vítimas da violência, 81% eram negras, o que corresponde a taxa de 80, 5 por 100 mil habitantes, um índice três vezes maior que o do país (lembrando que aquela altura o Brasil era o quinto colocado no ranking por essa taxa sem o corte étnico/racial). A maioria, do sexo masculino, com idade entre 15 e 29 anos. A cada um branco morto, morriam 18 negros (1.700%), 26 se pegarmos apenas a cidade de Maceió. Nas Alagoas é onde morrem mais negros, mas curiosamente é onde morrem menos brancos.

E como esses jovens negros morrem? Por arma de fogo na maioria das vezes, 200% (2000 - 2010) foi o crescimento da incidência fazendo esse corte entre as mortes por causas externas, que é o que se trata aqui. Passou de 9° para 1° nesse ranking nacional com um taxa global de 55.3 para cada 100 mil habitantes. Não tenham dúvidas quanto a forma em que se enquadra a arma de fogo, homicídios.

Em 2011 a taxa de mortalidade se mantém maior entre os jovens, mantendo homicídios por arma de fogo como causa principal com a taxa ainda maior que a do ano anterior, ou seja, manteve sua posição no ranking. Os municípios mais problemáticos são; Arapiraca, Maceió, Marechal Deodoro, Pilar, Rio Largo e São Miguel dos Campos com uma taxa pouco superior a 100 para cada 100 mil habitantes, ou seja, quase 10 vezes acima do que a OMS chama de limiar da epidemia de violência (acima de 10 para cada 100 mil habitantes). Se realizarmos um corte étnico/racial aqui, teremos 200 para cada 100 mil habitantes, só contando jovens negros. Logo, entre 2002 – 2011, a taxa de homicídios entre brancos caiu 30,8% e entre negros subiu 212,9%. Lembre-se do que coloquei acima, morrem cada vez mais negros e cada vez menos brancos nas Alagoas.

Aparentemente a Secretaria de Estado da Defesa Social não curte dizer qual a cor de quem tá morrendo, apesar disso, pode-se trabalhar com o mínimo mesmo. O relatório 2012 mostram 1.644 mortes por arma de fogo culminando em uma taxa de 52.3 para cada 100 mil habitantes, um leve recuo aparente. Digo aparente, pois para essa Secretaria de Defesa Social essas pessoas são apenas nome, nome da mãe, idade, causa, cidade, bairro e mês, ou seja, no máximo metade de uma folha A4, sabe lá as circunstâncias de tais mortes quanto mais seu número real. Das 1.644 mortes, 1.238 está na faixa etária entre 15 e 29 anos sendo as ocorrências distribuídas entre: arma de fogo (PAF), arma branca, espancamento, asfixia, arma de fogo + arma branca, esganadura, queimadura, estrangulação, não identificado, sem informação e outra que não consegui identificar “pardo”, todos entrando no critério de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI). Portando temos uma taxa de 139 para cada 100 mil habitantes nessa faixa etária. Apesar da carência de informações, o relatório Relação de Vítimas de Crimes Violentos e Intencionais-Janeiro a Novembro de 2012, é bem desanimador. Para fechar vamos para 2013.
Usando a mesma base, podemos encontrar 779 mortes por PAF, no período de janeiro a maio, o que representa 83.73% dos CVLI. De todas CVLI, 95.02% ocorreram em pessoas do sexo masculino e em 54.49% atingiu a faixa-etária entre 18 e 29 anos (esse critério de faixa etária é interno da policia, por isso não é do entre 15 e 29 anos utilizado até agora), logo já estamos com uma taxa de 106 para cada 100 mil habitantes nessa faixa etária.
“(...) através não só da ação policial” disse o governador Teotônio Vilela. Tão só é o que os números dizem.
Segundo o deputado federal Paulão (PT-AL), os focos do Juventude Viva é o analfabetismo, qualificação de mão de obra, acesso ao mercado de trabalho, microcrédito na zona rural e programas preventivos para a questão do crack. Descreveu bem a articulação no alto escalão: a Secretaria de Juventude - vinculada à presidência da república - é quem coordena o programa através de uma articulação interministerial com educação, saúde, assistência social, trabalho e seppir. Nem o negro, antes petista, Paulão focou com vontade na questão do jovem negro por outro lado. Só garantiu as benesses do cargo com a propaganda interminável do governo federal que fez “o milagre dos peixes” com a ativação do consumo pelo microcrédito e todo o pacote das políticas a toque de caixa que eles vivem de decorar. Porém o que nos interessa é saber o que muda, mesmo que cedo para saber, em Maceió, Arapiraca, Marechal Deodoro e Rio Largo, é lá que o Juventude Viva está, ou deveria ao menos.

A cidade mais importante de Alagoas fechou o período descrito para 2013 (janeiro a maio) com uma redução muito sensível, sendo maior para o mês de janeiro e caindo exatas 20 mortes até maio (sensível, pois o mês de março superou a taxa dos dois anos anteriores quanto ao mês) totalizando 368 mortes (CVLI) no período, logo 2.44 por dia, ocorrendo preferencialmente aos sábados e domingos.  O perfil é o mesmo, 95.11% do sexo masculino e 53.53% na faixa etária entre 18 e 29 anos, 83.42% por PAF sendo que as ocorrências são em 48.10% dos casos em locais públicos e em 43.75% na casa ou nas imediações da casa da vítima. Apesar disso tudo a taxa de mortalidade por CVLI entre 18 e 29 anos caiu para 93 para cada 100 mil habitantes.

Considerada a segunda mais importante cidade do estado e vizinha da região metropolitana de Marechal Deodoro, Arapiraca obteve uma redução de apenas 12 mortes no período descrito acima. Com muitas oscilações computou 73 mortes (CVLI), sendo 80.82% por PAF, 56.16% em locais e vias públicas e 31.51% em casa ou imediações. Foram 0.48 mortes/dia com uma distribuição mais homogênea entre os dias da semana. 98.63% ocorreram entre o sexo masculino e em 52.05% (38) dos casos na faixa etária entre 18 e 29 anos, temos uma taxa de 77 mortes para cada 100 mil habitantes na faixa etária referida. Do ponto de vista quantitativo, a situação ainda é aguda e a cidade tende a não superar, em tempo, o quadro.

Pegando todas as faixas etárias e trabalhando com inferências justificadas com o perfil das cidades citadas teríamos 30 mortes para cada 100 mil habitantes (21 mortes no período) em Rio Largo e 53 mortes para cada 100 mil habitantes em Marechal Deodoro (25 mortes no período).

Reconhecendo a pobreza de qualquer análise qualitativa que poderíamos fazer com os números acima para o Juventude Viva, fica no ar saber até que ponto o plano pode avançar em um momento em que o país insiste na política macroeconômica do modelo neoliberal e aprofunda cada vez mais suas contradições internas. Cabe ao Movimento Social buscar conectar cada realidade particular concreta, ou seja, suas formações sociais, estrutura econômica, estrutura ideológica, ideias predominantes nas massas, estruturas de poder e suas contradições internas com o plano Juventude Viva no sentido de utiliza-lo como combustível às lutas que inevitavelmente acompanharão às contradições deste novo período. Mas focar cada território não significa colocar a cabeça dentro da terra como um avestruz para encontrar respostas, mas se atentar para articulação nacional e internacional a qual o território de insere.    


 MIGUEL ANGELO



segunda-feira, 29 de julho de 2013

Distrito Grajau

                        Distrito Grajau

                                                                                                                        Miguel Angelo

O distrito do Grajaú, zona sul da cidade de São Paulo, é o terceiro maior distrito em tamanho territorial (92 km²) e o mais populoso da cidade (360.787 mil hab.) (PREFEITURA DE SÃO PAULO 2010) com uma taxa de crescimento populacional de 0,79 entre 2000 e 2010 (IBGE 2010), é considerado um distrito predominantemente pobre; tem apenas 39% de seus domicílios ligados a rede geral de esgotamento sanitário; está entre os distritos com maior necessidade de saúde (ATLAS DA SAÚDE 2011); tem uma renda per capita de R$ 450,7, sendo o 4% mais pobre no lado sul; e em média 8,18% das mulheres são mães antes dos 18 anos de idade (SEADE 2013). A ocupação é dos anos 50 e 60 (séc. XX). Com a instalação do polo industrial de Santo Amaro ocorre o aumento da oferta de emprego e de terras abaixo custo culminando em um aumento populacional no lado sul; entre 1991 a 2000 aumentou 180% a ocupação na área urbana e em torno 410% a ocupação na área rural, tendo 73 favelas, o terceiro distrito, proporcionalmente, com mais favelas e mais moradores por domicílio (6) na zona sul, (SEHAB/ HABI  2008) ; havia em 2000 mais de 3 mil famílias sem habitação no distrito (SEADE 2000) . É considerado um distrito ilegal, já que boa parte dos moradores não possui escritura de posse e irregular por estar encima de uma área de manancial. Logo, existe um conflito que se põe já no primeiro momento, de fundação mesmo do território. (COLETIVO IMARGEM 2007).  Nos últimos anos, como em boa parte do país, observou-se uma melhoria dos indicadores de saúde, tais como uma queda de 59,9% na mortalidade de jovens, de 83,3% nas mortalidades por agressão, de 19,3% na mortalidade infantil, de 25,4% na fecundidade e de 1% na taxa de mortalidade por AIDS e demais doenças infecciosas no período de 2000 a 2010 (SEADE 2013).
Apenas algo em torno 40% dos negros no Grajaú trabalha com carteira assinada (Ministério do Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais – Rais 2010), o analfabetismo atinge mais de 25% da população, com uma queda de 10% nos últimos dez anos, porém ainda é o terceiro distrito da região no ranking do analfabetismo e ainda tem menos de 10% das crianças entre 0-6 anos matriculadas em estabelecimentos escolares e creches. Tem apenas um Hospital  com apenas 240 leitos disponíveis para a população.

O conflito, constitutivo da organização do Distrito, amplia-se, portanto, considerando a construção político-social do local, empobrecido, situado na transição urbano-rural e marcado pela violência.

A cena cultural é forte com presença marcante do rap, graffiti, pixo, skate, por exemplo, que, entre outros, dão um caráter super original ao Hip Hop local; bonés, camiseta e calça larga, cabelo trançado, Black ou dred contrastam com outros estilos presentes como o punk. Em um lugar onde o Estado parece não estar a cultura local que funciona como enclave aos excluídos que, como eu, acabam por ter fortalecida a autoestima e perspectiva.
Cocainha e BNH é a vanguarda do rap do distrito que, tanto no rap como no pixo entre outros, dão vida ao ambiente. Com o surgimento do VAI (Valorização de Iniciativas Culturais- Projeto da Secretaria Municipal de Cultura) o cenário pegou mais fogo ainda e a galera vem produzindo realidades cada vez mais inovadoras nas nossas quebradas. Longe de ser uma panaceia, o projeto faz parte de uma estrutura que cada ator, e são muitos, precisava para mostrar sua arte com elementos marcantes de uma cultura local territorializada que dialoga diretamente com a comunidade, é como se a profecia de Milton Santos estivesse se concretizando;
No fundo, a questão da escassez aparece outra vez como central. Os ‘de baixo’ não dispõem de meios (materiais e outros) para participar plenamente da cultura moderna de massas. Mas sua cultura, por ser baseada no território, no trabalho e no cotidiano, ganha a força necessária para deformar, ali mesmo, o impacto da cultura de massas. Gente junta cria cultura e, paralelamente, cria uma economia territorializada, uma cultura territorializada, um discurso territorializado, uma política territorializada. Essa cultura da vizinhança valoriza, ao mesmo tempo, a experiência da escassez e a experiência da convivência e da solidariedade. E desse modo que, gerada de dentro, essa cultura endógena impõe-se como um alimento da política dos pobres, que se dá independentemente e acima dos partidos e das organizações. Tal cultura realiza-se segundo níveis mais baixos de técnica, de capital e de organização, daí suas formas típicas de criação. Isto seria, aparentemente, uma fraqueza, mas na realidade é uma força, já que se realiza, desse modo, uma integração orgânica com o território dos pobres e o seu conteúdo humano. Daí a expressividade dos seus símbolos, manifestados na fala, na música e na riqueza das formas de intercurso e solidariedade entre as pessoas:; E tudo isso evolui de modo inseparável, o que assegura a permanência do movimento”.
                                               MILTON SANTOS- POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO 2001
Uma das paradas mais incríveis do Grajaú é isso, tipo sair no role e se deparar com os manos mandando um free-stile. A viva pulsa em meio às contradições provocadas pelo desenvolvimento capitalista que o país vem passando, mas só AO VIVO prá saber.
Sabendo da incapacidade em falar sobre todas as ações no graja, deixou aqui um fragmento de meu Diário de Campo de uma pesquisa que venho desenvolvendo atualmente visando conhecer melhor esse mundo que é nosso distrito;
11/5/2013
Estive acompanhado da jornalista Beatriz Marinelli no lançamento do CD do grupo arte rima em uma praça entre a Rua Alba Valdez e a Rua Juvenal Crem, é o famigerado “Miolo da Favela” no Jd Reimberg. O evento foi organizado pelo coletivo Xemalami e apoiadores, e teve ainda a apresentação do grupo Monkey’s THC, um espaço para a prática de xadrez e exposição de produções possibilitadas por atores locais. Foi promovido um desafio também com premiação e tudo.
O coletivo Xemalami - Xeque Mate La Mission – foi criado em 2000 no distrito do Grajaú, e é herdeiro de vastas articulações anteriores como o Pacto Latino, um dos pioneiros da cena Hip Hop por essas bandas. Importante lembrar que o Xemalami começa apenas como um coletivo de xadrez é em 2005 que irá se tornar também um grupo de rap. Mas é esse elemento basilar, o xadrez, que norteia as articulações do coletivo, é a concepção para além do esporte, diria que como proposta a produção de novos significados a partir dos encontros. Em 2007 o coletivo escreveu para o VAI (Valorização de Iniciativas Culturais- Projeto da Secretaria Municipal de Cultura) propondo realizar um desafio de xadrez na rua, com tabuleiro e peças em maior escala. Desde então o coletivo mantém suas ações. Hoje, com ou sem os incentivos de editais. Drezz, membro mc do coletivo, me falou um pouco sobre o espaço;
“A ideia hoje é promover os grupos de rap que vem fortalecendo conosco. Vai ter um desafio de xadrez feminino e a apresentação dos Monkey’s THC que é os mano de Parelheiros, que vão lançar um promo (famigerado demo tape) e o art rima que acabou de gravar seu primeiro CD. Tá bem difícil agilizar as paradas por agora, fizemos um corre pra descolar as duas extensões pra garantir o som, deve até uns mano que colou com grana mesmo prá fortalecer, quatrocentos conto e pá. Mas tamo levando, né? Rola uma articulação com a escola ali (apontou na direção do EMEI Grajaú, fica a alguns metros da praça onde estávamos), mas é bem difícil, tem uns preconceitos e muitas vezes os caras não querem reconhecer nosso trabalho (em outra oportunidade, Drezz havia dito que o trabalho com o xadrez vinha potencializando o desempenho das crianças em matemática e o interesse na escola), a ideia é fazer uma ponte, tá ligado?”

Comentei sobre a fala do prefeito no dia 22 último sobre essa questão, o reconhecimento dela e a proposta de fortalecer a disputa pelo espaço local, no encontro com setores do movimento Hip Hop. Meneou a cabeça ceticamente;

“Vamos continuar, independente vamos continuar” e prosseguiu;

“Olha ali, o mano ali tá mandando uma pintura prá expor ô”

Um jovem, não mais que vinte e cinco anos, pintava uma árvore em uma espécie de tela banner, o curioso daquilo foi visualizar ali uma pintura que me lembrava mais um quadro a óleo do que um grafitti, bem diferente das intervenções com spray que observei no Campeonato de Skate na semana passada.

“Agora passa um pano ali”.

Apontou na direção inversa onde observei um tabuleiro de xadrez com as peças sob um suporte de madeira.

“Aquela parada ali veio da África do Sul, o irmão ali trouxe só pra expor aqui pra gente. Passa um pano lá depois, é o mesmo jogo, mas a simbologia é outra”.

Achei a informação primordial, me aproximou da compreensão que o coletivo tem do xadrez “para além dos muros, para além do esporte” como pensam. Posteriormente fomos observar de perto, Renan falou um pouco sobre;

 “Um mano trouxe da Cidade do Cabo, ta ligado?”.

            Beatriz me mostrou o detalhe das peças. Realmente cada peça apresentava um desenho bem diferente daquele observado no modelo ocidental.

“Então, ele é todo detalhado mesmo, na parte de baixo também tem a representação dos maiores animais da cultura de lá. Aqui ô, esse Búfalo, o Guepardo... são da cultura de lá”.

Para financiar o evento os apoiadores montaram pequenas mesas onde comercializavam trufas, artigos hippies e bebidas alcoólicas. Compramos duas cervejas e nos sentamos na grama enquanto uma Dj da região mesclava gangsta rap, com reggae e ragga. Beatriz me chamou a atenção quanto à força que identidade visual tinha no ambiente “Olha aquelas meninas ali, parecem iguais”.

Drezz pegou o microfone para dar inicio ao desafio de xadrez; “Cola ai, cola ai, cadê as mina?”. Uma criança se apresentou prontamente, usava um boné aba reta, camiseta e calça larga, e o clássico tênis Adidas, tínhamos a observado pouco antes jogando com um garoto aparentemente da mesma idade. Drezz prosseguiu; “Aeee, não têm mais ninguém? Ae, cadê as mina pra fortalecer? Aqui ô, vai rolar uns prêmios também. Vai rolar uma camiseta bem loca que as mina ali fortaleceu, e esse boné aqui. Tem um CD do art rima e dos Monkey’s THC também”.

Um tabuleiro de escala maior, em torno de um metro em meio, foi colocado de pé. As peças se fixavam nele como se fossem imãs de geladeira, assim todos poderiam acompanhar a partida enquanto Drezz narrava demonstrando amplo conhecimento das regras e jogadas. Por fim a única “mina” que se prontificou a jogar, também ganhou sozinha demonstrando como dar um mate em duas jogadas.

Enquanto os The Monkeys THC se preparavam, Drezz passava ao público a proposta do evento; “O nosso objetivo aqui é ocupar o espaço público, tá ligado? Mostrar que mesmo em um sistema capitalista perverso que nos oprime podemos lutar através das transformações aqui mesmo, na solidariedade e companheirismo para com o outro, tá ligado? Isso também é revolução”.

Um dos integrantes do art rima, veio até nós com o cd do grupo;

“Então mano, tamo ai com esse trabalho, é o primeiro, com quatorze faixas e pá”.

Peguei prontamente o cd enquanto comentava o quanto me impressionei com o trabalho do grupo na semana anterior. Questionei o valor;

“Cinco conto mano, são catorze faixas com produção do Esze”.

Esze Doins é um produtor local, produz uma grande parcela dos grupos do distrito e é integrante do grupo Clube do Berro.

O material era bem simples, uma mídia gravavel não impressa com uma capa em papel cartão com uma arte bem elaborada que consistia de um jovem negro com feição preocupada e correndo, tênis manchado de tinta spray, calças Jens, camisa polo listrada e de mochila, de um lado escapava o spray de uma mão e um microfone de outra, da mochila, com o zíper principal aberto, era visível um rolinho de pintor, usava Black Power e dos olhos brotavam um feixe de luz vermelho, cor em contraste com o roxo de fundo, abaixo à esquerda o nome do grupo com o título do trabalho “Rumo da Vida”.

Peguei, ele agradeceu e pediu para ficarmos até a apresentação do grupo em uma hora, já era em torno de 21: 30h, não prometi justificando que era uma boa caminhada até o ônibus, fora a Beatriz que estava a umas 2 horas da Vila Maria, onde reside.

“Pode pá, mas cola no Niggaz dia 24, firme?”

Niggaz é um evento em memória do graffiteiro da região Alexandre da Hora, falecido em Maio de 2003 aos 21 anos. 

Assenti positivamente, ainda tínhamos uns trinta minutos de campo. Drezz anunciou os Monkeys THC e resolvemos nos adiantar até tenda na frente da qual se apresentam os grupos.

Chamou-me a atenção o grupo possuir um baixista, um baixista punk, Jens rasgado nos joelhos, tênis All Stars, na correia do baixo havia um suástica sendo atravessado por uma faixa vermelha indicando anti nazismo. Chamou-me atenção também parte do conteúdo de determinada canção, Loucomotiva, que fazia uma critica comportamental se contrapondo à pregação do funk carioca, famigerado proibidão;

"Enquanto vários faz os corre prá que tudo de certo, o outro só ti atrasa mesmo pagando veneno. Deixa de se Zé e acorda prá vida. Vida que eu falo não é rolê, droga e as novinha."

Beatriz me chamou a atenção também para outra canção, Malacocaco. Questionou-me o significado de malaco e macaco para aquela música. De imediato coloquei respondi malaco como esperto, vivido, e macaco ali pra mim se referia a uma pessoa que possui as qualidades do mesmo, inteligência, desconfiança etc. Porém, ao escutar novamente aquela canção vi que aparentemente a coisa era um passo além de significar os termos ser um Malacocaco era uma espécie de evolução adaptativa para viver na selva de pedra. No rap já ouvi teorizações negativas e positivas tanto para malaco como para macaco, Malacocaco era novo, mas não a ideia de que o periférico e o playboy são espécies que diferem, veja que interessante a teorização do rapper Eduardo em seu livro “A guerra não declarada na visão de um favelado”;

“As noções de valores ao ser despertada durante o processo evolutivo, criou um bifurcação que dividiu os Homo sapiens. Essa divisão, na minha modesta opinião, mais do que provocar uma desagregação fundamentada em condições econômicas, deu origem a dois conjuntos de humanos biologicamente dessemelhantes: as pessoas normais e os maníacos por papel moeda! Seguindo o conceito de Darwin, aqueles que se tornaram compulsivos por riquezas, passaram às suas futuras gerações o maldito vício por posses, já os que não foram dominados pela avidez patológica por dinheiro, transmitiram aos seus descendentes um desejo de consumo extremamente mais moderado. Este racha evolutivo fez com que os cativos da penúria se tornassem pessoas infectadas pela ganância primária, aquela que almeja comer bem, se vestir bem, morar bem, etc, ao tempo em que os nobres se transformaram em corpos gangrenados pela cobiça desenfreada por supremacia. Nós, os habitantes das favelas e bairros periféricos, nos mantivemos na condição de Homo sapiens, enquanto os corrompidos pelo tilintar das pepitas de ouro, involuíram para uma nova categoria, a qual eu tenho a desonra de batizar neste livro com o nome de: HOMO MONEY!” (TADDEO 2013)
           

            22h, hora de partir, dia pós dia a periferia e sua convulsão cultural me afeta subvertendo pré-conceitos e barreiras físicas e psicológicas.







Em A IDEIA DE PROGRESSO, essa ideia é problematizada, não no sentido de negação – pensando o termo utilizado no sentido de excluir essa possibilidade, mas;

“... o desenvolvimento dos conhecimentos pré-históricos arqueológicos tende a desdobrar no espaço formas de civilização que éramos levados a imaginar como escalonadas no tempo. Isto significa duas coisas: inicialmente, que o “progresso” - se é que esse termo ainda convém para designar uma realidade bem diferente daquela à qual nos dedicáramos inicialmente – não é nem necessário, nem contínuo; procede por saltos, pulos, ou, não consistem em sempre ir além da mesma direção; acompanham-se de mudanças de orientação, um pouco à moda do cavalo do xadrez, que tem sempre diversas progressões à sua disposição, mas nunca no mesmo sentido”. Raça e História – Claude Lévi – Strauss

Este distrito situado na Zona Sul abrange os bairros de:
Bororé, Cantinho do Céu, Chácara Cocaia, Chácara das Corujas, Chácara do Sol, Chácara Gaivotas, Chácara Lagoinha, Chácara Santo Amaro, Cidade Luz, Cipó do Meio, Colônia,  Condomínio Jequirituba,Conjunto Habitacional Brigadeiro Faria Lima,Grajaú,Jardim Almeida Prado, Jardim Alvorada, Jardim Arco-íris, Jardim Belcito, Jardim Borba Gato,Jardim Campinas,Jardim Castro Alves, Jardim das Pedras, Jardim dos Manacás,Jardim Edda, Jardim Edi,Jardim Eliana,Jardim Ellus, Jardim Icaraí, Jardim Itajaí, Jardim Itatiáia, Jardim Jaú, Jardim Labitary, Jardim Lucélia, Jardim Marilda, Jardim Marisa, Jardim Mirna,Jardim Monte Alegre, Jardim Myrna, Jardim Myrna II,Jardim Noronha, Jardim Nossa Senhora Aparecida, Jardim Nova Tereza, Jardim Novo Horizonte, Jardim Novo Jaú, Jardim Novo Lar, Jardim Orbam, Jardim Planalto Jardim, Recanto do Sol, Jardim Reimberg, Jardim Sabiá Jardim Sabiá II,Jardim Salinas, Jardim Samara, Jardim Samas,Jardim Santa Bárbara, Jardim Santa Fé, Jardim Santa Francisca,Jardim Santa Francisca Cabrini, Jardim Santa Tereza, Jardim São Bernardo, Jardim São Judas Tadeu, Jardim São Pedro, Jardim São Remo, Jardim Shangrilá, Jardim Sipramar, Jardim Tanay, Jardim Três Corações, Jardim Varginha, Jardim Zilda, Parada Cinquenta e Sete, Parque América, Parque Brasil, Parque Cocaia, Parque Deizy, Parque Grajaú, Parque Manacá, Parque Novo Grajaú, Parque Planalto, Parque Residencial Cocaia, Parque Residencial dos Lagos, Parque São José, Parque São Miguel,Parque São Paulo, Parque Shangrilá, Recanto Marisa, Residencial Palmares, Sítio Cocaia, Toca do Tatu, Vila Brasília, Vila Morais Prado, Vila Narciso, Vila Nascente, Vila Natal.