Mostrando postagens com marcador africa do sul. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador africa do sul. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Mogobe Ramose: Sobre a Legitimidade e o Estudo da Filosofia Africana – breve nota

Este artigo de Mogobe Ramose tem como objetivo assegurar a legitimidade da Filosofia Africana assim como de Filosofias próximas que sofreram a deslegitimação a partir dos ideais do Ocidente de colonização, escravidão e o violento racismo. E ainda evidencia essas filosofias silenciadas como libertadoras, a exemplo da Filosofia Ubuntu.

O Significado da Dúvida.

O autor revela que dois pilares, em suma, ancoravam a colonização: a religião que através do cristianismo visava converter o mundo ou todo o dito novo mundo. E segundo, a ideia filosófica de que somente o Ocidente seria dotado de racionalidade, tal alegação personificada na afirmação aristotélica “o homem é um animal racional”, ou depois por Papa Paulo III que declarava que “todos os homens são animais racionais”. Não considerando assim, nessa afirmação, os africanos, os ameríndios, os australasianos e, muito menos, as mulheres como seres humanos racionais. Isso se caracteriza na negação Ontológica dos Africanos, a negação da humanidade e, portanto, a dúvida sobre a existência de uma Filosofia Africana.

Sobre o Significado de Filosofia.

O autor aponta que etimologicamente a filosofia significa amor à sabedoria, e é o ser humano que está associado à busca dessa sabedoria.  Sendo assim, ela é onipresente e pluriversal. Pode-se então dizer que a Filosofia Africana remonta de tempos imemoriais até nossos dias. E mais, ela surge através do fundamento e da perspectiva pertencente à autoridade. “O exercício desta autoridade situa a questão no contexto de relações de poder. Quem quer que seja que possua a autoridade de definir, tem o poder de conferir relevância, identidade, classificação e significado ao objeto definido.” (Ramose:2011, p8) Desse modo, o poder do ocidente, através da brutalidade do colonialismo, estabeleceu a perspectiva ocidental como universal.

Pluriversalidade e Exclusão Filosófica.

Dessa forma, o autor propõe uma mudança de paradigma e trata de pluriversalidade ao invés de universalidade. E que essa universalidade se faz na prática de uma particularidade a fim de excluir outras, eliminando a pluriversalidade do ser. Neste trecho se postula que, “Ontologicamente, o Ser é a manifestação da multiplicidade e da diversidade dos entes. Essa é a pluriversalidade do ser, sempre presente. Para que essa condição existencial dos entes faça sentido, eles são identificados e determinados a partir de particularidades específicas. Assim, a particularidade assume uma posição primária a partir da qual o ser é concebido. Essa assunção da primazia da particularidade como modo de entender o ser é frequentemente mal colocada como a condição ontológica originária do ser. O mal-entendido se torna a substituição da pluriversalidade original ineliminável do Ser. (Bohm, 1980, 30-31).”

Contudo, a particularidade é uma premissa para a filosofia apenas se for reconhecida como uma forma de compreender e interagir com a pluriversalidade do ser, e não para excluir outras filosofias.

As Implicações da Exclusão Filosófica.

- Anular a validade da particularidade como o ponto de partida da filosofia.

- Esta exclusão está em busca de outros fins que não a própria filosofia. Trata-se de uma tentativa de reivindicar para os protagonistas da exclusão o direito de ser o solo determinante do significado da experiência, do conhecimento e da verdade para todos.

-A obrigação moral de reconhecer a legitimidade da necessidade ontológica de continuar sendo (ser-sendo) para contrapor a morte ontológica programada pelo poder da universalidade.

-esse reconhecimento ontológico é o convite para estudar outras filosofias a fim de atingir a pluriversalidade do ser na filosofia.

- “A quinta implicação derivada da filosofia da exclusão é que títulos como A História da Filosofia (Copleston), Filosofia, História e Problemas (Stumpf and Fieser, 2002) deveriam ser ajustados por especificidades como em Uma História Crítica da Filosofia Ocidental (O’Connor, 1964). A atenção voltada para a história da filosofia deveria sempre lembrar cuidadosamente da dívida da filosofia grega para com o antigo Egito africano. Ela deveria também levar em consideração o mercado escravocrata transatlântico que separou forçosa e fisicamente povos da África de sua terra natal e seus parentes. A diáspora africana é, portanto, parte integrante da história da filosofia Africana.”

Filosofia Africana.

Aqui o autor indica que o uso da terminologia África (ou Africana) não se dá sem ressalvas quanto à sua origem estrangeira. E ao afirmar que não há bases ontológicas para negar a existência de uma filosofia africana e que a definição de filosofia perpassa uma narrativa de poder epistemológico, então se difere o filosofo profissional, que nasceu na África mas que possui um pensamento calcado nas epistemologias do Ocidente, como não sendo uma filosofia africana. Em suma, a filosofia não está dissociada do contexto histórico-intelectual em que ela pertence e nem do contexto social em que ela nasceu. E que o objetivo primordial da filosofia é a libertação humana.

O Reino Político na África

Antes de abordar a filosofia ubuntu, Ramose trata da questão do Reino político trazida por Kwame Nkrumah, que ao enunciar e enfatizar a consolidação do “reino político,” Nkrumah estava de fato tratando da necessidade da liberdade econômica da África colonizada, ou seja, independência econômica, para além da independência nominal de Gana e de outros países africanos. Em suma, criou-se um outro cenário no qual as riquezas e recursos naturais, minerais e humanos ainda estavam sob o domínio estrangeiro do colonizadores, mas agora de uma forma indireta. O que foi denominado de Neocolonialismo.

Com isso, deve-se ter ressalvas aos ‘pós’ no campo intelectual, a exemplo filosofia “pós-colonial”, (pois ainda se está, na verdade, no contexto de neocolonialismo.)

Filosofia Ubuntu

Ubuntu é um gerundivo (gerundive) abstrato que exprime a filosofia praticada pelos povos da África falantes do Bantu. Ele compartilha o caráter de gerundivo (gerundive)– isto é, a ideia de tornar-se, Ser (be-ing) e ser como manifestações do movimento como princípio do Ser- (be-ing)- com os verbos egípcios antigos, wnn(unen) “existir”, d d (djed) “ser estável”, “durável” e hpr (kheper) “tornar-se” (Obenga, 2004, 37-39). Como os antigos verbos egípcios referidos, a concepção filosófica ubuntu do mundo é que “Coisas não tem a fixidez e inflexibilidade que acreditamos que elas tenham. As coisas são mutáveis e em movimento na Terra, no céu, em baixo d’água, etc. A Terra e o céu, eles mesmos se movem” (Obenga, 2004, 39; Ramose, 1999, 50-53). Um dos problemas com as muitas definições e descrições do ubuntu é que ele é apresentado como uma filosofia da paz, ou mais especificamente, da submissão e infinita capacidade de perdoar (Daye, 2004: 160-65) sem considerar a violência como uma condição de possibilidade herdada ontologicamente para a sobrevivência dos adeptos da filosofia ubuntu. Esta omissão na realidade descaracteriza o ubuntu tornando-o suscetível a experiências de pensamento, por vezes muito estranhas que o retratam sem qualquer fundamento em sua antropologia, cultura e história. Esta tendência é dominante na África do Sul. 
(Ramose:2011, p16) 


Sobre a Legitimidade e o Estudo da Filosofia Africana

(On the legitimacy and study of African Philosophy)  

M. B. Ramose, University of South Africa, Pretoria 

Tradução: Dirce Eleonora Nigro Solis/ Rafael Medina Lopes/ Roberta Ribeiro Cassiano

RAMOSE, M. B. Ensaios Filosóficos, Volume IV - outubro/2011

“Mogobe Ramose obteve primeiramente o título de bacharel em Artes na University of South Africa. A isto se seguiram os títulos de bacharel, licenciado e doutor em Filosofia obtidos na Leuven University (Katholieke Universiteit Leuven) na Bélgica. Possui também o título de mestre em Relações Internacionais da London University. Suas áreas de especialidade e principais interesses são Filosofia Africana, Filosofias da religião e do direito, defesas étnicas e filosofia das relações internacionais. Possui uma publicação vasta nas áreas mencionadas e seus trabalhos continuam a atrair a atenção de muitos estudiosos. Lecionou em duas universidades europeias e quatro universidades africanas, incluindo dois seminários católicos. Atualmente é professor extraordinarius na University of South Africa.”


nota por Fuca, insurreição cgpp. 2020.

sábado, 3 de novembro de 2018

Parte de Minha Alma, Winnie Mandela - Breve nota

Parte de Minha Alma, Winnie Mandela - Breve nota

Nonzamo Winifred Madikizela, ou Winnie Mandela, nascida em setembro de 1936 na África do Sul. Formou-se em Serviço Social sendo a primeira assistente social preta de seu país. O livro contem relatos duros de sua vida, história que perpassa banimentos, isolamentos, prisões, repressão policial e perseguição política sob o regime do apartheid (1948-1994). Para os brancos (Bôeres), Winnie era a encarnação do perigo negro, armada de um pensamento sólido, de uma resistência densa no campo dos ideais, de uma militância ativa que basicamente consistia em conquistar e exigir os direitos em prol do povo preto na África do Sul. Pensamento que se expandiu sobre o território sul africano, e atravessando fronteiras, se tornou mais uma grande referência de luta para todo o mundo africano, seja no continente ou na diáspora. Winnie fez sua passagem neste ano de 2018, no dia 02 de abril com 81 anos de idade.

“Parte de Minha Alma” foi publicado enquanto o Apartheid (segregação) ainda estava vigente, no ano de 1984. O livro é separado por nove capítulos e entre a narrativa de cada capítulo têm-se diversos anexos posicionados de acordo com cada assunto, pessoa, momento ou cronologia. São cartas, textos, noticias, homenagens, etc. Ela foi companheira de Nelson Mandela, se casaram no ano 1958, ele já era envolvido politicamente e tido como liderança pela libertação do povo preto. Winnie, por sua vez, também já tinha seu ativismo iniciado e um pensamento político em construção por ela mesma, tanto que ela consolidou um posicionamento intransigente na causa negra, em linha gerais, ela não admitia concessões e a integração como saída na tal forma que a sociedade estava posta estruturalmente. Então, além de ser um relato pessoal e, muitas vezes, íntimo, ela revelou sua ideologia e como consistia seu posicionamento político ante esse regime cruel perpetrado pelos brancos.

Se tratando dos capítulos, da convivência em Brandfort sob banimento ela foi até a juventude no campo. Em Brandfort falou dos causos da segregação sentida no dia a dia, quando voltou no tempo para falar de sua juventude, retratou já a sua identificação do preconceito racial, conjuntura que indicava uma suposta inferioridade dos negros em relação aos brancos. Já com os ensinamentos de seu pai, que era professor, embora não tão valorizado quanto um professor branco, soube de histórias sobre a tradição africana, ele utilizava de uma dupla versão da história, primeiro discorria sobre a história oficial para depois contar a real! Ainda, ela recordou de um professor de história que por várias vezes repetia que uma revolução exigia sangue e ferro, sendo então uma influência para tratar da guerra racial no seu país. Nesse capitulo ela fala também da origem estrangeira do nome Winifred, e que isso servia para lembrá-la a todo instante da opressão!

Adiante, no livro, vem a questão da vida na clandestinidade, e o momento ao qual se desenrola o amor entre Winnie e Nelson Mandela, ela detalha desde quando se conheceram até o casamento e como a separação veio rápida, devido a prisão de Nelson Mandela. ”A VIDA COM ELE FOI SEMPRE UMA VIDA SEM ELE”.

“Não houve literalmente vida, que eu pudesse chamar de vida de família, nada que pelo menos se pudesse chamar de romântico, como uma jovem noiva talvez desejasse uma vida em que com o seu marido você pudesse se sentar e tecer sonhos de como a vida em comum poderia ser.”

A partir de então, vieram mais e mais relatos de perseguições políticas, prisões injustificadas, e mobilização na clandestinidade no intuito de burlar o banimento. Winnie Mandela, por muitas vezes, é tida como a pessoa que fez Nelson Mandela, pois ela não cessou de lutar e se tornando uma voz importante anti-apartheid, teve então sua reputação colocada em cheque. Surgiram campanhas que visavam rebaixar sua imagem. “numa organização clandestina tem sempre um traidor querendo prejudicar a reputação”. Tática que os opressores sempre usaram para descreditar nossos revolucionários.

Em outro capitulo, é falado do levante dos estudantes em Soweto e do crescimento do Movimento de Consciência Negra na década de 1970, assim se teve um verdadeiro massacre. “Os acontecimentos de junho de 1976 que se tornaram conhecidos como o 'levante de Soweto' foram uma inflamação espontânea do país. Ninguém organizou nada. Foi a raiva direta e imediata que ali explodiu. Eu estava presente quando os adolescentes em 1976 arrancaram as pedras da rua. Estava no meio deles e vi o que aconteceu. Tinham apanhado pedras e tampas de latas de lixo, que usavam como escudos, e assim marchavam contra as metralhadoras. Não é verdade que não soubessem que os brancos estavam fortemente armados. Eles marchavam contra o fogo cerrado das metralhadoras. Soweto ficou literalmente mergulhado na fumaça das metralhadoras. Os jovens caíam morrendo na rua e para cada um que morria marchavam outros adiante.”(p.148) Foram estimadas mais de mil mortes entre junho e dezembro de 1976, mais um momento revoltante da história.

Na Prisão: “Existe um grau de humilhação, que provoca nos humilhados a pior violência”. E ainda nas palavras de Winnie... “Fui presa em outubro de 1969. Prisão significa no meio da noite batidas na porta; prisão significa faróis ofuscando todas as janelas até que a porta seja arrombada. Prisão significa o direito da Policia de Segurança de ler todas as cartas, folhear todos os livros, enrolar tapetes, rasgar lençóis em que dormem crianças, arrancar roupas dos armários e das malas; revirar os bolsos e finalmente na madrugada ser arrancada de crianças pequenas que se agarram chorando à saia da mãe e suplicam aos homens brancos que deixem mamãe em paz."

Agora, acredito eu, é o próximo capítulo que consegue reunir os pontos mais politizados de Winnie Mandela no livro, "A Situação Politica". É nesse momento que a visão é passada sobre seu posicionamento politico de forma mais concreta e continuada, e é por este tipo de pensamento que os meios ditos oficiais da opinião pública colocam o melhor que tem de nosso povo como lideres ou pensadores contraditórios. Isso na verdade que dizer, em outras palavras, que: são essas pessoas que devemos estudar, escutar, compreender e nos inspirar.

Para quem acredita que as condições históricas são peças-chave para entender como se deu ao longo de períodos e em diversos tipos de espaços a dominação branca, assim como traçar os principais aspectos do comportamento branco, deve-se passar e revisitar o pensamento de Winnie Mandela, que muito contribui para que formemos e/ou fortalecemos nossas organizações e nossa luta. 




Fuca CGPP

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Khoisan: conjunto de povos mais antigos da África Austral

Khoisan: conjunto de povos mais antigos da África Austral

Khoisan ou Coissã é na verdade a junção de duas etnias, os San, que são caçadores-coletores, e os Khoi Khoi, que são pastores semi-nômades. Há dezenas de milhares de anos vivem na terra, atualmente de forma reduzida no deserto de Kalahari, na Namíbia, mas já ocuparam grande extensão da África Austral, que representa a parte sul do continente africano. Com a chegada dos Bantos, os Khoisan desapareceram ainda portando grande território, mas foram dizimados com a chegada dos britânicos e holandeses. O Reino de Lesoto, por exemplo, que situava-se no Estado Livre (província da Africa do Sul) foi empurrado para o território montanhoso que ocupa hoje, sem acesso ao mar e muito dependente da África do Sul. 

A Cordilheira de Drakensberg ou uKhahlamba (em zulu), na África do Sul, abriga mais de 30 mil pinturas rupestres dos Khoisan, arte conhecida pela sofisticação de seu simbolismo espiritual. Eland (antílope africano com espirais no chifre) predomina porque o eland era o animal favorito de Deus e então estava repleto de poder espiritual. A arte Khoisan também retrata cenários de caça, dança, cerimonias religiosas e guerra. 

Conhecidos de forma depreciativa pelos colonizadores como hotentotes ou bosquímanos, possuem linguagens únicas chamadas de "Línguas do Clique" com diversos sons inexistentes em outros idiomas e por isso chamados de "gagos" pelos colonos. 

Segue um trecho do Dicionário da África - sec. VII a XVI, Nei Lopes e José Rivair:

(..)"Segundo L. D. Ngcongco, entre os anos 1000 e 1500 d.C., os KhoiKhoi tornaram-se criadores de gado, inclusive bois e vacas de grande porte, que montavam e usavam em transporte de cargas, além de ovelhas de causa grossa. Assim, espalharam-se por vasta área, numa expansão que deixou marcas profundas, tanto sob aspecto linguístico, quanto do ponto de vista da miscigenação, em grande parte da Africa Meridional, em terras hoje pertencentes a África do Sul, Angola, Botsuana, Namíbia, e Zimbábue. Em 1510, na região do Cabo da Boa Esperança, o português Dom Francisco de Almeida é morto com outros fidalgos no decorrer de uma 'expedição punitiva'. (Almeida, 1978, p.91). O ilustre falecido era vice-rei das Índias e sua morte ocorreu em confronto com um grupamento KhoiKhoi, que fez, além dele, mais 60 vitimas fatais. O fato comprova o grau de organização desses africanos, capazes de, apenas com seus arcos e flechas, infligir essa fragorosa derrota a uma coluna portuguesa, munida de armas de fogo"


Logo no inicio do filme "Os Deuses Devem estar Loucos" mostra um pouco da vivência dos Khoisan, com propriedade coletiva, cultura de dividir, caça e coleta para sobrevivência, o amor e respeito às crianças, muita sabedoria, etc. Na África do Sul tem um partido politico que representa os Khoisan de atualmente, o Partido Revolucionário Khoisan, que não tem pretensão de ganhar grandes cargos, mas de defender seus interesses.



Foto: Museu do Apartheid - julho/17


sábado, 9 de setembro de 2017

Andrew Zondo - 31 anos de sua execução

Terça-feira, 9 de setembro de 1986, o herói Andrew Zondo foi enforcado após ter sido condenado a pena de morte no regime Apartheid na África do Sul. Andrew Sibusiso Zondo tinha 19 anos e já fazia parte da ala militar do Congresso Nacional Africano (Umkhonto weSizwe) e foi responsável pela explosão de uma bomba (mina) no Centro Comercial Amanzimtoti no dia 23 de dezembro de 1985, local frequentado por pessoas brancas no apartheid.






Ele cresceu no município de KwaMashu de Durban, teve seu despertar politico aos 14 anos inconformado com a Lei de Educação Bantu e se juntou ao CNA quando tinha 16 anos. Foi treinado como combatente no exílio em Angola e realizou várias operações clandestinas contra o governo do apartheid sul-africano.

A explosão no Amanzimtoti, no período de compras pro natal, foi o seu mais proeminente. Cinco pessoas foram mortas e Zondo foi capturado seis dias depois.

Em 20 de dezembro de 1985, as forças de segurança sul-africanas realizaram uma incursão em Lesoto, matando nove ativistas anti-apartheid. Em retaliação, os agentes da Umkhonto weSizwe, incluindo Andrew Zondo, colocaram uma bomba (mina) no centro comercial Amanzimtoti Sanlam em 23 de dezembro de 1985, matando três adultos e duas crianças, enquanto outras 40 pessoas ficaram feridas. Por este ato Andrew Zondo foi amplamente criticado pela população branca na África do Sul. O alvo seria uma agência do governo.

Também teve criticas por parte do CNA, Oliver Tambo, ex-presidente do CNA, indicou que o assassinato de civis foi contra a política do CNA e, consequentemente, ele desaprovou o bombardeio, mas entendeu as razões.

A Execução
Em 6 de setembro de 1986, a família de Andrew Zondo foi visitá-lo na Prisão de Segurança Máxima em Pretoria, onde estava aguardando sua execução. Ele estava em paz consigo mesmo e com o mundo e ele disse a sua família:

"Eu não quero que vocês chorem. Não quero que as pessoas venham e chorem por mim. O que eu tinha que fazer, eu fiz. Agora minha vida está terminando."

Menos de nove meses após o bombardeio, na terça-feira, 9 de setembro de 1986, Andrew Sibusiso Zondo foi enforcado com dois homens de KwaMashu. Lucky Paye e Sipho Xulu, que também morreram sob instruções políticas.
"A pena de morte na África do Sul foi reservada como uma punição por assassinato premeditado, traição ou como parte da justiça militar."
"A execução de criminosos e opositores políticos foi usada para punir e reprimir a dissensão política."

A última palavra de Andrew Zondo foi "Amandla", o grito de guerra da luta anti-apartheid!!!



Andrew Zondo e a Luta



Andrew Zondo nasceu em 30 de maio de 1966 no Hospital Murchinson, em Porto Shepstone e passou seus três primeiros anos em Greeneville, perto de Bizana. Sua família mudou-se para KwaMashu quando ele tinha três anos de idade.

Ele foi para a Escola Nhlakanipho, que era bem conhecida por sua excelência acadêmica e cultura intelectual. Zondo tinha a habilidade de se tornar médico, ele se destacou em matemática e ciências. Sua mente inquisitiva o levou a se juntar à sociedade de debate da escola. Ele era bem conhecido por seu amor por discussões sociopolíticas aquecidas e desafiadoras.

Zondo tinha apenas catorze anos quando tomou conhecimento da situação política na África do Sul, resultado de sua escola ser invadida pelos alunos da Umzuvele; eles pediram que a Escola Nhlakanipho boicoteasse as aulas.


De relevância crucial para Andrew Zondo foi o fato de que ele foi forçado a ser educado sob o Sistema de Educação Bantu pelas Autoridades Bantu. O sistema de Educação Bantu foi projetado para dar habilidades básicas aos africanos e derrubar a independência, e não para fornecer um caminho para o sucesso. Essa percepção mordiscou sua alma e todo seu ser se revoltou contra ela, uma vez que ele se tornou consciente de ser um preto sul-africano. Ele sentiu que se boicotassem as escolas, a Educação Bantu acabaria e eles teriam um sistema de educação igual.





Vida no Exílio

Em março de 1983, Zondo deixou sua casa "supostamente" para ir as aulas e nunca retornou. Zondo atravessou a Suazilândia onde se encontrou com Judson Khumalo e discutiu seu plano para completar seus estudos. Ele foi enviado para Maputo para avaliação educacional. Quando estava em Maputo, um ataque contra civis Moçambicanos e o assassinato de pessoas do CNA pela SADF (Força de Defesa da África do Sul) alteraram o plano de Zondo de completar seus estudos. Ele decidiu em vez disso que queria fazer treinamento militar. Em agosto de 1983, veio sua chamada e foi levado para Angola. Mais tarde ele voou para a Argélia e a Tanzânia. Ele treinou durante dois anos como soldado do CNA. Enquanto ainda estava em treinamento de combate em 1984, Zondo voltou a entrar na África do Sul e realizou duas operações bem planejadas. Nenhuma vida foi perdida, mas houve danos máximos para as instalações-chave. Ele voltou no final de 1985 para a África do Sul, onde foi colocado sob o comando de Lulama Tallman, que por sua vez colocou-o no comando de três células, uma das quais incluiu Jacob Thembinkosi Mofokeng.


foto: KwaMuhle Museum - Durban - África do Sul