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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

AGYEI AKOTO - Nacionalismo Afrikano: Teoria e Prática de uma Educação Afrikano-Centrada (pdf)

NACIONALISMO AFRIKANO: 

TEORIA E PRÁTICA DE UMA EDUCAÇÃO AFRIKANO-CENTRADA

KWAME AGYEI AKOTO

O livro traduzido está disponível no link abaixo (arquivo pdf).

https://drive.google.com/file/d/1VcrgZxnAxkO5JT7hYgonFHud5iDZZGMo/view?usp=sharing

Por Fuca, Insurreição Cgpp.

arquivo pdf (aqui)





Apresentação da edição de 1992, por MARIMBA ANI 

As formulações conceituais de Agyei Akoto têm o benefício de seus mais de 20 anos de experiência como Pan-Afrikanista Nacionalista. Como resultado, finalmente temos uma declaração evidente do paradigma Nacionalista Afrikano. Neste trabalho, ele delineia evidentemente o processo e a estratégia de Construção da Nação [Nacionalismo Afrikano] e sua relação inextricável com a educação Afrikano-centrada. 

Numa altura em que o nosso diálogo é determinado pelas definições da academia europeia e pelos meios de comunicação controlados pelos europeus, a perspectiva de Akoto é revigorante e autenticamente enfocada no Povo Afrikano. 

É evidente que ele não está se dirigindo aos não-Afrikanos, nem é prejudicado pela dependência de concepções eurocêntricas. Ele escreve com autoridade e compromisso com o povo Afrikano, livre da ambivalência ideológica que tem atormentado os Afrikanos na diáspora e no continente por muitas décadas. 

Dra. MARIMBA ANI (Dona Richards) 
Autora de Let the Circle Be Unbroken
Professora no departamento de Estudos Pretos e Porto-riquenhos 
Hunter College (Faculdade Hunter)


Trecho do conteúdo.

(...) Alguns anos atrás, nas últimas semanas de setembro de 1989, o professor John H. Clarke transmitiu uma mensagem à Sociedade Ankobia, de Washington, D.C., dizendo que independentemente do que possamos empreender, “se não se trata da construção da nação [Afrikana], então não se trata de nada.” É uma declaração que pode ser tomada literalmente. 

A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é a aplicação consciente e focada dos recursos, energias e conhecimentos coletivos de nosso povo na tarefa de libertação, e de desenvolver o espaço físico e psíquico que identificarmos como nosso. Envolve o desenvolvimento de comportamentos, valores, linguagens, instituições e estruturas físicas que elucidem nossa história e cultura, que possam projetar e concretizar o presente e assegurar a futura identidade e independência da nação. 

A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é a projeção deliberada, intensamente dirigida, focada, e enérgica da cultura nacional e da identidade coletiva. A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é ocasionada pela geração e liberação de enormes quantidades de energia, não muito diferente de uma gravidez e um novo nascimento, ou de uma tempestade de primavera e o novo cultivo que se segue. 

Com qualquer uma das analogias, é fundamental que os termos e condições que ocasionam o surgimento dessa nova realidade sejam claros e inequívocos. Essas condições, termos e linguagem descritiva devem ser definidos pelos criadores dessa nova realidade. Essa nova realidade, para nós, é uma consciência nacional e cultural renovada. 

O surgimento desta nova consciência, esta realidade renovada e Afrikano-centrada, marca o renascimento da personalidade Afrikana e a revitalização da nacionalidade Afrikana. Isso é a construção da nação (Nacionalismo Afrikano). (...)



sábado, 17 de outubro de 2020

[Atualizado] John Henrik Clarke - Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano - (PDF)

https://drive.google.com/file/d/1wwqL9M40gfPWPsRpA0fpI6hdu8pUDw_W/view?usp=sharing

Dr. John Henrik Clarke 

Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano: escravidão e a ascensão do capitalismo europeu.  

(Livro pdf)

Este trabalho curto, mas oportuno, dá ao leitor um senso da urgência da história africana e mundial. Como muitos dos estudiosos Africano-centrados que foram professores do Dr. Clarke e sua fonte de inspiração, ele não apenas fornece análises e descrições precisas da história, mas também prescreve o que os povos africanos devem fazer para criar um novo futuro. 

"Jamais perdoar nem esquecer"

Traduzido por Carlos R. Rocha (Fuca)
Insurreição CGPP, 2020.
atualizado em 2021

trecho;

,,,"Lembro-me de que, quando menino em uma fazenda, ficava batendo a manteiga até chegar ao topo. E apurando as batidas no leite eu perguntei à minha bisavó: “Qual das batidas traz a manteiga?” “Todos elas meu filho”, disse ela. “Mas qual?” “Não apenas uma, mas todos elas.”

Temos que perceber que não é o esforço de qualquer um de nós que levará à liberdade, mas o trabalho coletivo de todos nós que somos sinceros. Isso resultará na liberdade e na libertação de nosso próprio povo e na doutrinação de nossos próprios filhos para que eles, por sua vez, assumam a responsabilidade e criem uma era em que você nunca terá que pedir liberdade novamente, porque nunca haverá qualquer necessidade para pedir isso. Desse dia em diante, sempre a teremos. Esta é a nossa missão e, por sua vez, o legado que precisamos deixar para nossos filhos e os ainda mais belos que irão nascer.

Nossa escravidão, o naufrágio e a ruína dos Estados soberanos da África começou no início da Era Colonial. Nossa escravidão e o estupro dos serviços de nossos países ajudaram a lançar as bases do capitalismo atual. Mais uma vez, os europeus desperdiçaram sua riqueza em guerras e conflitos estúpidos que poderiam ter sido evitados. Eles já provaram que têm uma missão em mente, independentemente de religião, política ou afiliação cultural e que essa missão é dominar o mundo e todos os seus recursos por todos os meios necessários. A nova justificativa para esse domínio é agora chamada de Nova Ordem Mundial. Todos os africanos e outros povos não europeus deveriam estar em alerta, porque uma nova forma de escravidão poderia ser mais brutal e mais sofisticada do que a escravidão da era de Cristóvão Colombo.

Os africanos e outros povos não europeus devem planejar e criar estratégias para uma Nova Ordem Mundial distintamente própria, que será desenvolvida por eles, para eles. A nossa missão não deve ser conquistar a Europa, mas conter a Europa dentro das suas fronteiras e fazer saber que tudo o que a Europa quiser de outras partes do mundo pode ser obtido através de um comércio honroso.

Se entendermos nossa missão, acho que tomaremos consciência de que estamos em posição de dar ao mundo uma nova humanidade que trará à existência um novo mundo de segurança e respeito para todos os povos.

As civilizações africanas do rio Nilo deram ao mundo sua primeira humanidade, seus primeiros sistemas de crenças, seu primeiro pensamento social e sua primeira filosofia. Com a restauração da nossa autoconfiança, precisamos dizer a nós mesmos: “Se fizemos uma vez, podemos fazer de novo” ".




quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Trecho: Discurso Sobre a Negritude - Aimé Cesaire, org. Carlos Moore

...A raça e o racismo foram erigidos pelos não-negros em uma metaconsciência totalizadora, definidora do humano em termos puramente tautológicos, maniqueístas e essencialistas, como fruto de uma metavisão hegemônica. A Revolução Industrial e a emergência do capitalismo industrial as transformariam numa “consciência/estrutura” hegemônica planetária. De modo que, do século VIII aos dias atuais, o chamado Mundo Negro – principal alvo das agressões e depredações do expansionismo ocidental – nunca escapou da noção de raça definida fora dos seus domínios, sem a sua participação e sempre contra ele. Portanto, desde séculos atrás, a “questão racial” constituiria um dos grandes eixos de reflexão teórica e de práxis política que caracterizara a Modernidade. As lutas dos povos de pele preta, pela sua emancipação, particularmente aqueles de ascendência africana, não teriam como evitá-la. 

A Revolução Haitiana foi pioneira na constituição de um contraponto político-teórico inteligível do Mundo Negro à metavisão racializadora. Lá, elaborou-se, pela primeira vez, e de maneira global, uma resposta do mundo africano escravizado ao mundo ocidental, hegemônico e escravagistas. Aquilo que, hoje, reconhecemos como Negritude foi colocado de maneira radical e inequívoca diante do mundo, estão dominado totalmente pelo Capitalismo predador, expansionista e militarista do Sec. XIX.

O Haiti produz a primeira Revolução radical de essência antirracista, anticolonialista e anti-imperialista. Um desafio global a proposta monstruosa da desigualdade congênita entre as raças humanas e a superioridade natural de uma sobre a outra. Ela é o grande divisor de águas da modernidade, relativo à reivindicação fundamental dos direitos inerentes à condição humana. Não por acaso, Joseph Antenor Firmin (1850-1911), antropólogo haitiano, foi o primeiro intelectual negro a transferir esse desafio para o campo teórico e cientifico. Sua obre, 'A Igualdade das Raças Humanas'. publicada em Paris em 1885, respondia ponto por ponto às teses de Arthur de Gobineau.

Paralelamente a Firmin, ao longo do século XIX, os intelectuais haitianos se mostrariam preocupados por definir uma resposta teórica global às teses dominantes no Ocidente sobre a inferioridade dos negros. Assim, os pensadores haitianos Louis-Joseph Janvier (1855-1911) e Hannibal Price (1841-1893) contribuíram para a fundação das bases antropológicas do Panafricanismo e da Negritude.

Alexander Crummell (1819-1898), dos Estados Unidos, e Edward Wilmont Blyden (1832-1912), das Ilhas Virgens, são conceituados como verdadeiros precursores do Panafricanismo. Com seu 'O Cristianismo, o Islã e a Raça Negra), Blyden produziu uma das obras consideradas hoje fundantes do Panafricanismo. É dele o famoso slogan "A África para os Africanos", que o jamaicano Marcus Garvey converteria em uma expressão emblemática da descolonização. 'As Almas da Gente Negra', obra prima do grande sociologo e lider negro norteamericano Willian Edward Burghart DuBois, é, sem dúvidas, incontornável na perspectiva dos fundamentos teóricos basilares do Panafricanismo e da Negritude.

O primeiro conclave panafricano - "Primeira Conferencia Pan-Africana" - foi realizado em Londres, em 1900, sob o impulso de Henry Sylvester Willian, advogado de Trinidad e Tobago, e com o apoio moral de Blyden, Firmin e DuBois. Os dois últimos assistiram essa congregação de dirigentes negros mundiais em torno ao ideal da emancipação da Mãe África. O evento aconteceu num contexto de correlação de forças preponderantemente favorável às nações imperiais da Europa, com seus debates e conclusões refletindo essa realidade. As reivindações de mudanças do momento não implicavam na impugnação da Europa em si. Assim, essa primeira fase do Panafricanismo (1900 A 1925) TEVE UMA POSTURA DOUTRINAL MODERADA, SENÃO APOLOGÉTICA, NÃO FALTANDO RESSALVAS RECONFORTANTES Às potencias colonizadoras.

Tudo isso mudaria com a ascensão do brilhante e carismático líder Marcus Garvey e o Panafricanismo politico e econômico radical inaugurado por ele, apoiando-se na maior organização negra conhecida na história, a UNIA. O projeto politico transnacional garveysta se desdobrava numa afirmação valorizada e defensiva da raça negra: "Desconsidero fronteiras no que diz respeito ao Negro; o mundo inteiro é a minha província até que o Negro livre seja". No tocante à questão da Identidade racial, também não cabia ambiguidades no seu discurso: "O Negro deve sentir tanto orgulho de ser negro quanto o branco de ser branco."

Fundada logo após a Primeira GUERRA MUNDIAL (1914-1918), a UNIA se converteu em uma gigantesca organização que, no seu apogeu, nas décadas de 1920 e 1930, chegou a somar entre dez e quinze milhões de afiliados. Sua meta: congregar todos os povos negros do mundo sob um mesmo guarda-chuva ideológico e politico; a união entre os povos da diáspora e os da África, a fim de expulsar as potencias imperiais, libertar todo o continente africano e unificá-lo. Na Convenção Internacional de Povos Negros do Mundo (1920) - o primeiro dos quatro congressos mundiais da UNIA -, um "Governo Interino Provisional da África" foi criado por votação e Garvey eleito como "Presidente Provincial".

Marcus Garvey levou o Pan-africanismo a uma etapa superior de militância anticolonialista e anti-imperialista com um proposito grandioso: a constituição dos "Estados Unidos da África", grande potência industrial e militar continental. Um estado capaz de defender os direitos de todos os povos africanos e dos negros do mundo e coexistir em pé de igualdade com todas as nações. Defendeu, sem ambiguidades, a urgência de uma mudança radical no mundo: a expulsão compulsória das potências coloniais do Continente Africano; a independência politica imediata de todos os povos colonizados; a luta intransigente contra a supremacia branca. Resumiu demandas no slogan: "Europa para os europeus. Ásia para os Asiáticos. A África para os africanos, no continente e no além-mar!" 

Livro Discurso Sobre a Negritude - Aimé Cesaire, org. Carlos Moore


quarta-feira, 17 de junho de 2020

Ventos do Apocalipse, Paulina Chiziane – Breve Nota

Quando assisto a alguma entrevista da escritora moçambicana Paulina Chiziane, com sua tranquilidade na expressão, uma doçura na voz e sempre se portando com muita evidência, fica difícil de imaginar como ela pôde escrever um livro tão repleto de sofrimentos e situações extremamente subumanas. Pois é, Ventos do Apocalipse traz essa bagagem da vida do seu povo no sul de Moçambique pós-independência e assim travando uma guerra civil.
Este livro é o seu segundo romance, publicado em 1975, apesar de a autora não se considerar uma romancista, é fato que me parece não querer atribuir a rótulos europeus para sua obra, nem para seu ser e suas crenças. A sua escrita está mais ligada à tradição oral, a contação de histórias e em particular, as histórias que as mulheres carregam consigo.
São cíclicos os ventos que sopram o apocalipse, e assim a autora inicia o livro com contos do passado, meio que para ambientar a leitura do romance que virá.  O romance é dividido em duas partes: A primeira parte se passa na vila de Mananga, e a narrativa se ambienta na vida de Sianga e Minosse, um casal, Sianga que já fora um régulo não é mais nada da vida, a única mulher que o aturou foi Minosse. 
O cenário é de seca, numa região que depende do clima para se estabelecer numa espécie de agricultura de subsistência. Para agravar, a guerra está sempre a soprar sua brisa, desse modo começa-se a aparição de refugiados de outras aldeias e vilas. A constante busca por sobrevivência vai gerar atritos.  
A segunda parte já se dá pela busca de refúgio dos que sobreviveram dos conflitos em Mananga. E é então que o vento sobra bem forte, a devastação retratada é algo bem estarrecedor. Minosse continua nessa jornada, sendo então a principal voz no romance, uma voz feminina que guardou e viveu toda a desgraça daquele cenário.
A minha sensação é a de que a história não teve fim, justamente pra supor a ideia inicial de que tudo é cíclico, ou seja, os europeus que na colonização devastaram a tradição local, em outro momento vieram para “ajudar” numa guerra civil, seria mesmo só ajuda, assim sem nenhuma pretensão? As mulheres ancestrais que sofreram no passado (vide um conto inicial do livro), a mesma dor se fez presente na vida infeliz de Minosse, existia ali alguma projeção de mudança pro futuro? E se a história pode girar em ciclos será que devemos aprender com as experiências do passado? Foram alguns questionamentos que fiquei a imaginar pós-leitura. E assim encerro essa breve nota, vou deixar o link de uma das entrevistas de Paulina Chiziane, e também a nota de outro livro da mesma autora, As Andorinhas.
Fuca, Insurreição CGPP, 2020. Livro de contos: AS ANDORINHAS



"Pauline Chiziane nasceu em Manjacaze (Moçambique) em 1955. É reconhecida como a primeira mulher moçambicana a escrever um romance. Internacionalmente, revela-se como uma das mais renomadas escritoras africanas e a maior romancista negra dos países de lingua portuguesa. É constantemente convidada para conferências de arte, direitos humanos e literatura em diferentes países. Em reconhecimento ao seu trabalho militante pela justiça e igualdade, foi nomeada, pelo One Thousand Peace Women (Movimento Internacional de Paz), uma das mil mulheres pacificas do mundo, além de indicada ao Prêmio Nobel da Paz (2005)."





quarta-feira, 29 de abril de 2020

Sobrevivi para contar – Immaculée Ilibagiza – Breve Nota

Uma pessoa iluminada. Eis a forma de eu começar a escrever brevemente sobre Immaculée Ilibagiza, ou mais precisamente de seu livro, Sobrevivi Para Contar: O Poder da Fé me Salvou de Massacre. Acredito que a mensagem que ela deixou ao escrever esse livro é de um valor imensurável. Mesmo com todo tipo de pergunta que eu possa me fazer e independente das respostas que eu venha supor, o sentimento de admiração que tenho por ela não será reduzido. Não é pra menos, essa obra se trata do relato pessoal de Immaculée diante do genocídio em Ruanda (1994), desencadeado através dos conflitos de duas etnias, Tútsis e Hutus. Apesar de a autora ter perdido grande parte de sua família nesse massacre, ela conseguiu sobreviver podendo contar sua árdua jornada pela vida, e o mais impressionante, ancorada de uma fé inabalável e que de tão verdadeira transborda para quem tenha tido contato com sua história, independente de religião, ao meu ver. 

Quantos e quantos questionamentos me vêm à mente nesse momento. São diversas reflexões e sensações acerca da vida, do mundo, das relações humanas. Por vezes me questiono o que seria honrar? O que significa perdoar? Até que ponto perdoar? A paz é possível?...Assim, me deparo com um turbilhão de suposições e respostas.

O livro se divide em três partes: I- A tempestade em formação, II- No esconderijo e III- Um novo caminho, com 24 capítulos distribuídos nessas partes, mais o epílogo. Num total de 196 páginas.
O livro se Inicia com um relato delicado e carinhoso acerca de sua família. Com muita leveza e doçura nas palavras ela retrata sua história e seu cotidiano. Toda família de Immaculée é católica e de boa instrução, seus país eram professores e com isso ela pôde ter um acesso melhor ao ensino.

Mencionou que apesar de ser bem educada não foi ensinada sobre a diferença de etnia em Ruanda. Com isso ela ficou perplexa diante da atitude de um professor no ensino fundamental, que fazia as chamadas separando por etnia. Ela não soube responder de qual etnia pertencia. Depois soube que fazia parte da minoria tútsi. Ela tinha uns 12 anos. Com isso, Immaculée indicou que seus pais visaram não reforçar essa diferença de etnia na educação de todos. Apesar de indicar que não iria se ater aos motivos do genocídio, em algumas passagens ela mencionou alguns pontos.

“(...)Não sabíamos que Ruanda era povoada por três tribos: uma maioria hutu, uma minoria tútsi e um número insignificante de twas, povo semelhante a pigmeus, que vivia nas florestas. Não nos ensinaram que os colonizadores alemães, e depois os belgas que os substituíram, tinham convertido a estrutura social então reinante em Ruanda – uma monarquia, sob reis tútsis, que, por séculos, manteve Ruanda em paz e harmonia – em um sistema discriminatório de classes, tendo por base a raça de indivíduos. Os belgas apoiavam a aristocrática minoria tútsi e os colocaram à testa do governo; assim sendo, os tútsis recebiam uma educação superior para melhor dirigir o país e gerar maiores lucros para seus senhores belgas. Estes instituíram uma carteira de identidade étnica para mais facilmente distinguir quem pertencia a qual tribo, aprofundando o fosso que cavaram entre tútsis e hutus. Esses erros imprudentes criaram um duradouro ressentimento da parte dos hutus, base para o futuro genocídio.”

Adiante, nesta primeira parte do livro, ela passa pelo estudo secundário e por fim a universidade, momento ao qual ela se orgulha pela emancipação enquanto mulher de poder fazer um curso desafiador na área da engenharia. Ao voltar pra Mataba, foi então que eclodiu a guerra e ela conseguiu abrigo na casa de um pastor.  

Intitulada “No esconderijo”, a segunda parte retrata seu martírio num confinamento na casa do pastor, ficou num banheiro pequeno acompanhada de mais 6 mulheres durante 90 dias. Impressionante como no banheiro ela procura uma elevação espiritual, mesmo naquela situação de prisão, ela se culpava por te ódio dos malfeitores e buscava se concentrar para perdoá-los. Então, aí se evidenciou sua fé, e seus modos de meditação e conversação com Deus.

Todas as sobreviventes confinadas só puderam sair devido a uma intervenção dos soldados franceses, e pairava ainda a dúvida da real intenção deles, pois foram eles quem havia municiado os grupos rebeldes, foram eles que mantinham contato com o governo ruandês. Vale lembrar que os aparatos do Estado estiveram também envolvidos nesse genocídio, e em tal circunstância o país presenciou total omissão das nações unidas ou de qualquer potencia que seja. Ora, não são eles os salvadores das pátrias, os que visam a democracia, ou só quando é de seus interesses?

Na terceira parte do livro é a vez de um “Novo Caminho” de Immaculée. Onde ela buscou juntar o que restava de uma vida e resignificá-la, estava disposta a perdoar, estava disposta a ajudar seu país, estava disposta a seguir a vida apesar dos pesares e essa foi a maneira de honrar a vida dos entes que foram brutalmente.  Sempre acompanhada do Poder da Fé.

Na minha reflexão eu enxergo os diversos pontos que abarcam esse genocídio, a questão das etnias, a divisão das classes sociais, disputas religiosas, com as mazelas da colonização no pano de fundo, o neocolonialismo, mas o que ficou também evidente é que temos nossas responsabilidades sobre nossas atitudes enquanto povo, e isso transcende a questão de Ruanda, não é raro ainda a gente se matar e se autodestruir, temos que assumir as rédeas dos nossos atos. Eu vejo que a mensagem de perdão e paz que Immaculée deixou, foi justamente visando um futuro melhor para Ruanda e pro mundo, já que as farpas não se dissipam assim facilmente.

Fuca, Insurreição CGPP - 2020


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A Mulher de Pés Descalços - Scholastique Mukasonga - Breve nota

sábado, 19 de janeiro de 2019

As Andorinhas, Paulina Chiziane – breve nota

As Andorinhas, Paulina Chiziane – breve nota 


Com uma narrativa literária de luta, ler o livro “As Andorinhas” vem como se estivesse ouvindo as histórias e ensinamentos de uma mais velha numa conversa frente a frente. Contendo três contos que abordam cada qual a sua maneira a caça ou a liberdade das andorinhas. No primeiro conto, ”Quem Manda Aqui?”, um imperador gordo, arrogante e ditador resolve querer silenciar as andorinhas e acaba desguarnecido e sofre a invasão dos brancos. No segundo, “Maundlane, O Criador”, trata de uma grande história e vários ensinamentos ao relatar a trajetória de um exímio guerrilheiro. E por fim, conta-se a história de “Mutola” utilizando o causo da águia e da galinha. Assim essa excelente escritora nos aproxima das vivências de libertação Moçambicana, e é evidente a valorização da importância feminina em suas narrativas, por vezes, a mulher é a grande sábia, é a que detém o controle familiar, e útero é sempre bom adjetivo. Um livro fino, de 125 páginas, então não há desculpas para não lê-lo, e fica a indicação! Pra se mergulhar cada vez mais na literatura africana!



Fuca - 2019


Infos no livro: 

“A escritora Chope, filha de um alfaiate e de uma camponesa dona de casa, usa o seu poder de contadora de histórias para partilhar o percurso de três personalidades, desafiando o leitor com um debate sobre o passado e o presente de Moçambique.”

"Pauline Chiziane nasceu em Manjacaze (Moçambique) em 1955. É reconhecida como a primeira mulher moçambicana a escrever um romance. Internacionalmente, revela-se como uma das mais renomadas escritoras africanas e a maior romancista negra dos países de lingua portuguesa. É constantemente convidada para conferências de arte, direitos humanos e literatura em diferentes países.
Em reconhecimento ao seu trabalho militante pela justiça e igualdade, foi nomeada, pelo One Thousand Peace Women (Movimento Internacional de Paz), uma das mil mulheres pacificas do mundo, além de indicada ao Prêmio Nobel da Paz (2005)."


sábado, 3 de novembro de 2018

Parte de Minha Alma, Winnie Mandela - Breve nota

Parte de Minha Alma, Winnie Mandela - Breve nota

Nonzamo Winifred Madikizela, ou Winnie Mandela, nascida em setembro de 1936 na África do Sul. Formou-se em Serviço Social sendo a primeira assistente social preta de seu país. O livro contem relatos duros de sua vida, história que perpassa banimentos, isolamentos, prisões, repressão policial e perseguição política sob o regime do apartheid (1948-1994). Para os brancos (Bôeres), Winnie era a encarnação do perigo negro, armada de um pensamento sólido, de uma resistência densa no campo dos ideais, de uma militância ativa que basicamente consistia em conquistar e exigir os direitos em prol do povo preto na África do Sul. Pensamento que se expandiu sobre o território sul africano, e atravessando fronteiras, se tornou mais uma grande referência de luta para todo o mundo africano, seja no continente ou na diáspora. Winnie fez sua passagem neste ano de 2018, no dia 02 de abril com 81 anos de idade.

“Parte de Minha Alma” foi publicado enquanto o Apartheid (segregação) ainda estava vigente, no ano de 1984. O livro é separado por nove capítulos e entre a narrativa de cada capítulo têm-se diversos anexos posicionados de acordo com cada assunto, pessoa, momento ou cronologia. São cartas, textos, noticias, homenagens, etc. Ela foi companheira de Nelson Mandela, se casaram no ano 1958, ele já era envolvido politicamente e tido como liderança pela libertação do povo preto. Winnie, por sua vez, também já tinha seu ativismo iniciado e um pensamento político em construção por ela mesma, tanto que ela consolidou um posicionamento intransigente na causa negra, em linha gerais, ela não admitia concessões e a integração como saída na tal forma que a sociedade estava posta estruturalmente. Então, além de ser um relato pessoal e, muitas vezes, íntimo, ela revelou sua ideologia e como consistia seu posicionamento político ante esse regime cruel perpetrado pelos brancos.

Se tratando dos capítulos, da convivência em Brandfort sob banimento ela foi até a juventude no campo. Em Brandfort falou dos causos da segregação sentida no dia a dia, quando voltou no tempo para falar de sua juventude, retratou já a sua identificação do preconceito racial, conjuntura que indicava uma suposta inferioridade dos negros em relação aos brancos. Já com os ensinamentos de seu pai, que era professor, embora não tão valorizado quanto um professor branco, soube de histórias sobre a tradição africana, ele utilizava de uma dupla versão da história, primeiro discorria sobre a história oficial para depois contar a real! Ainda, ela recordou de um professor de história que por várias vezes repetia que uma revolução exigia sangue e ferro, sendo então uma influência para tratar da guerra racial no seu país. Nesse capitulo ela fala também da origem estrangeira do nome Winifred, e que isso servia para lembrá-la a todo instante da opressão!

Adiante, no livro, vem a questão da vida na clandestinidade, e o momento ao qual se desenrola o amor entre Winnie e Nelson Mandela, ela detalha desde quando se conheceram até o casamento e como a separação veio rápida, devido a prisão de Nelson Mandela. ”A VIDA COM ELE FOI SEMPRE UMA VIDA SEM ELE”.

“Não houve literalmente vida, que eu pudesse chamar de vida de família, nada que pelo menos se pudesse chamar de romântico, como uma jovem noiva talvez desejasse uma vida em que com o seu marido você pudesse se sentar e tecer sonhos de como a vida em comum poderia ser.”

A partir de então, vieram mais e mais relatos de perseguições políticas, prisões injustificadas, e mobilização na clandestinidade no intuito de burlar o banimento. Winnie Mandela, por muitas vezes, é tida como a pessoa que fez Nelson Mandela, pois ela não cessou de lutar e se tornando uma voz importante anti-apartheid, teve então sua reputação colocada em cheque. Surgiram campanhas que visavam rebaixar sua imagem. “numa organização clandestina tem sempre um traidor querendo prejudicar a reputação”. Tática que os opressores sempre usaram para descreditar nossos revolucionários.

Em outro capitulo, é falado do levante dos estudantes em Soweto e do crescimento do Movimento de Consciência Negra na década de 1970, assim se teve um verdadeiro massacre. “Os acontecimentos de junho de 1976 que se tornaram conhecidos como o 'levante de Soweto' foram uma inflamação espontânea do país. Ninguém organizou nada. Foi a raiva direta e imediata que ali explodiu. Eu estava presente quando os adolescentes em 1976 arrancaram as pedras da rua. Estava no meio deles e vi o que aconteceu. Tinham apanhado pedras e tampas de latas de lixo, que usavam como escudos, e assim marchavam contra as metralhadoras. Não é verdade que não soubessem que os brancos estavam fortemente armados. Eles marchavam contra o fogo cerrado das metralhadoras. Soweto ficou literalmente mergulhado na fumaça das metralhadoras. Os jovens caíam morrendo na rua e para cada um que morria marchavam outros adiante.”(p.148) Foram estimadas mais de mil mortes entre junho e dezembro de 1976, mais um momento revoltante da história.

Na Prisão: “Existe um grau de humilhação, que provoca nos humilhados a pior violência”. E ainda nas palavras de Winnie... “Fui presa em outubro de 1969. Prisão significa no meio da noite batidas na porta; prisão significa faróis ofuscando todas as janelas até que a porta seja arrombada. Prisão significa o direito da Policia de Segurança de ler todas as cartas, folhear todos os livros, enrolar tapetes, rasgar lençóis em que dormem crianças, arrancar roupas dos armários e das malas; revirar os bolsos e finalmente na madrugada ser arrancada de crianças pequenas que se agarram chorando à saia da mãe e suplicam aos homens brancos que deixem mamãe em paz."

Agora, acredito eu, é o próximo capítulo que consegue reunir os pontos mais politizados de Winnie Mandela no livro, "A Situação Politica". É nesse momento que a visão é passada sobre seu posicionamento politico de forma mais concreta e continuada, e é por este tipo de pensamento que os meios ditos oficiais da opinião pública colocam o melhor que tem de nosso povo como lideres ou pensadores contraditórios. Isso na verdade que dizer, em outras palavras, que: são essas pessoas que devemos estudar, escutar, compreender e nos inspirar.

Para quem acredita que as condições históricas são peças-chave para entender como se deu ao longo de períodos e em diversos tipos de espaços a dominação branca, assim como traçar os principais aspectos do comportamento branco, deve-se passar e revisitar o pensamento de Winnie Mandela, que muito contribui para que formemos e/ou fortalecemos nossas organizações e nossa luta. 




Fuca CGPP

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Carta a Minha Filha, Maya Angelou - breve nota

Apesar de muito ter ouvido falar sobre Maya Angelou, nunca havia pegado um livro dela pra ler de fato, a não ser trechos e alguns de seus versos e citações.

O livro escolhido, ou o que eu tinha disponível para ler foi 'Carta a Minha Filha'. Livro curto e de leitura rápida, porém muito lindo de se ler, a imaginar ela contando suas lições, erros e acertos, aprendizados e decepções, acerca de variados assuntos da vida. Sendo direcionado para todas as mulheres.

Logo de inicio ela se apresentou como representando todas as mulheres sem distinção alguma, de certa forma, nesse ponto, fiquei ressabiado na leitura, pois já estava em busca de algo combativo na perspectiva racial. Mas até nisso nosso povo ensina humanidade, e fui compreender a sensibilidade dessa carta biográfica um pouco depois no decorrer da leitura, daí me coloquei no meu lugar. (Muita calma nessa hora rs).

São 128 páginas separadas por 28 capítulos, pelo menos 3 deles nomeados em homenagem à outras valiosas mulheres pretas: sra. Fannie Lou Hamer, sra. Celia Cruz e sra. Coretta Scott King. Além de nos falar sobre sua avó e sua mãe.

Maya Angelou também citou alguns encontros com pessoas importantes de nossa história. E foi bem sucedida ao abordar a violência que sofreu, e já em outro instante poder descrever uma vivência que nos remete à gargalhadas. Mas que na sequência poderia vir uma legitima defesa na postura ou adiante, belos versos.

Enfim, esse não foi seu primeiro best-seller, que em breve quero encontrá-lo pra ler (a autobiografia  “I know why the caged bird sings” – “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola”, em português). Então, tem-se muito mais pra se ler da nossa gloriosa e premiada poeta, escritora, atriz e ativista, que fez sua passagem em maio de 2014, nos EUA, aos 86 anos de idade. 

Fuca CGPP

sábado, 18 de agosto de 2018

Voltar Para Casa, Toni Morrison - breve nota


'Voltar Para Casa' da magnifica escritora premiada Toni Morrison, é um livro que trata da jornada de dois irmãos pretos que visam se reencontrar no lar de origem. Ele é o Frank e ela, Ycidra (ou simplesmente Ci). A história do romance se desenrola na década dos anos 1950, num cenário racista no sul dos EUA.

Enquanto Ci luta pela sobrevivência sem a presença do seu irmão numa sociedade racista e machista, Frank está voltando da guerra da Coréia (1950-53), e carrega consigo alguns sérios traumas das batalhas que teve de enfrentar.

Contando com 17 capítulos, cada capítulo intercalado entre narrativa na primeira e terceira pessoa. Cada trecho vai desvendando alguns mistérios aos poucos, as vezes em forma de estrondo. O cenário perpassa lembranças de infância, composição familiar ou até mesmo a não composição. Retrata a precarização de trabalho, de subsistência, de afeto. Também o abandono, a miséria, mas, sobretudo o amor, evidenciado na figura dos irmãos Money, que como Frank mesmo disse, Money só no sobrenome.

O que temos também é uma analogia com essas lembranças de infância e o desfecho do livro, que nos aponta para uma perspectiva de liberdade, personificada em Ci, que mesmo diante das várias rasteiras da vida, buscou a autossuficiência e permaneceu firme.

“Olhe pra você. Você é livre. Nada nem ninguém é obrigado a te salvar, só você mesma. Plante a sua própria terra. Você é moça e mulher e as duas coisas têm sérias limitações, mas você é uma pessoa também. Não deixe a Lenore ou um namoradinho qualquer e com toda certeza nenhum médico do mal resolver quem você é. Isso é escravidão. Em algum lugar aí dentro de você está essa pessoa livre de que eu estou falando. Encontre-a e deixe que ela faça algum bem neste mundo.”



Fuca CGPP

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Dra. J. Nozipo Maraire em Zenzele - Breve nota


Nascida no ano de 1964 em Mangula, Zimbabue (na época ainda Rodésia). J. Nozipo Maraire fez o ensino primário em seu país de origem, mas depois foi estudar no exterior. Nos primeiros anos da luta pela independência, sua família se mudou para fora do país e retornou no auge da guerra nos anos 1970. Muitos de seus familiares estavam diretamente envolvidos pela libertação das garras dos brancos, tanto os internos quanto os externos (rodesianos e britânicos).

Maraire viveu na Jamaica, Canada e nos Estados Unidos. Graduou-se em Biologia pela Universidade de Havard, fez Medicina pela Universidade de Columbia e se especializou em neurocirurgia em Yale.  Focada em levar algo de retorno para África, tem projetos de construir um hospital em Harare e trabalha no desenvolvimento de aplicativos de incentivo a jovens neurocirurgiões, além de prestar seus serviços de Médica. Coadunando com seus escritos, ou melhor dizendo, com seu grande livro "Zenzele: Uma carta para minha filha", que em 1996 ganhou prêmio de destaque.

O livro, um romance biográfico, rememora vivências, tradições e vários aspectos da comunidade familiar africana. A autora idealiza, protesta, e dispara a voz de uma jovem mulher africana que não pretende se desvencilhar das origens de nosso povo e se posiciona firmemente anticolonialismo. Com momentos de amor, de sonhos, de liberdade, de cultura, assim como de ódio e de racismo, os capítulos fluem numa leveza indescritível. Por fim, ficam alguns trechos que separei.
(Fuca -2018)




(...) Toda a geração que viveu o período da independência partilhou a visão comum de uma vida melhor. Infelizmente, muitos de nós traduziram isso como uma definição material de sucesso. Desenvolvemos todos os sintomas da Síndrome Pós-Colonial, endêmica a África: aquisição, imitação, e pobreza de imaginação. Simplesmente nos apressamos em garantir para nós o que os colonialistas haviam possuído. Compramos as casas deles, frequentamos as escolas deles, praticamos os esportes deles e cortejamos a companhia deles. Negamos nossa própria cultura, contribuímos para manter a distância, em alguma aldeia esquecida, nossas primitivas origens. E assim nos acreditamos finalmente sofisticados, integrados à corrente dominante da cultura cosmopolita.  (p.33)

(...) 
– Mamãe, o que você acha que significa ser uma mulher africana?

- É ser forte, Zenzele. É estar em paz consigo mesma. Você deve ouvir sempre uma voz interior e não permitir que outros a sufoquem. É medir palavras; equilibrar cuidadosamente suas tarefas com seus dons; de certa forma é ser desprendida, servir a outros, sem deixar de conhecer e defender incansavelmente seus direitos. Lembre-se de que foi uma mulher africana, Mbuya Nehanda, que desencadeou a luta zimbabuana pela independência, quando combateu a Companhia Britânica da África do Sul, na década de 1890. Pense em Cleópatra e Nefertiti. Veja as mulheres da África do Sul. As estudantes de Soweto, as combatentes de Maputo, as mjibas, jovens combatentes do Zimbábue. Mulheres fortes e heroicas, que descobriram o equilíbrio entre causa, cultura e vida pessoal. Ser uma mulher africana é o que você fizer de tudo isso, Zenzele. Mas nunca esqueça que, para a maioria, também significa pular da cama antes dos outros, aquecer a cozinha, trabalhar no campo sob um calor abrasador, andar vários quilômetros por caminhos poeirentos, carregando água na cabeça, madeira nos braços e um bebê nas costas.  (p.59) 


*uma fala do pai de Zenzele

(...) – Nunca vou esquecer aquela época, anos atrás, quando eu era dirigente da União dos Estudantes Africanos, organismo ativo, dedicado e eclético que representava praticamente todos os países, do Lesoto ao Mali. Estávamos no apogeu da Consciência Negra e do poderoso Movimento da Negritude de Senghor. Nenhuma das mulheres se atreveria a trançar o cabelo com apliques louros ou a usar lentes de contato azuis, como agora fazem aqui, num esforço para passarem por brancas. Como se a palidez fosse uma espécie de passaporte para a terra prometida da assimilação. Não, certamente não. Na época, preto era bonito. Dashiki e afro eram emblemas do afrochique. Escutávamos James Brown e Aretha Franklin, líamos Fanon, Nkrumah, Davis, Baldwin, Angelou, e ostentávamos distintivos de negros nas jaquetas jeans desbotadas. Nossos irmãos e irmãs americanos davam aos filhos os nomes de Omaju, Kumati, e se reuniam em jantares improvisados com o que havia em casa. Mantinham a cabeça erguida e falavam de poder negro. Tínhamos unidade, tínhamos visão. Agora, tudo o que lemos ou vemos é sobre integração, assimilação e mobilidade social. Aquela época foi outra coisa. (p.94)


Mjiba
Por este termo coloquial, o povo da aldeia designava as jovens revolucionárias. Eram mulheres de uma nova geração, que usavam calças como homens e sabiam fazer pontaria com igual firmeza. Mulheres que matavam. Fortes e saudáveis, corriam pelos matos, brandindo fuzis AK-47 e metralhadoras. Mulheres que se esgueiravam para a aldeia nas parcas horas de descanso e rodeavam a fogueira junto com os companheiros homens, armas pousadas ao lado, atraindo-nos com canções revolucionárias. Às costas não carregavam bebês de nariz escorrendo, mas a esperança de uma geração diferente, sob a forma de montes de munição, mapas, códigos e suprimentos para abastecer a batalha que nos iria finalmente levar à independência. Para a imagem tradicional que fazíamos das mulheres, pareciam tão estranhas quanto esquimós. Eram um produto da luta armada. Moldavam também sua própria identidade. Eram temidas e admiradas, pois, dizia-se, em combate podiam ser mais aguerridas do que todos. As tropas rodesianas chamavam-nas de bobcats, porque as mulheres chonas eram ferozes como leoas acossadas. (p.197)


Fuca CGPP

terça-feira, 19 de junho de 2018

Mulherismo Africana: Uma Visão Geral - Clenora Hudson-Weems

Mulherismo Africana*: Uma Visão Geral - Clenora Hudson-Weems
* (N.T) Africana é utilizada pela autora para homens e mulheres no plural e também para povo. Mantive a maioria de seu uso como Africana e não africanos ou africanas.


Na experiência americana, o movimento feminista efetivamente deslocou a unidade dos pretos, seja no contexto do movimento abolicionista, do movimento de direito ao voto ou do movimento pelos direitos civis. E assim ficamos à toa e deixamos que os brancos transformem Harriet Tubman e Rosa Parks em adeptas do feminismo branco em oposição a defensoras da raça.
-Iva E. Carruthers

O surgimento do feminismo preto na década de 1970, um desdobramento do feminismo branco, testemunhou a reação de muitas mulheres pretas que não adotaram prontamente o conceito de feminismo por uma série de razões, apesar de sua legitimidade na academia e do desejo de muitas em ser uma parte legítima da comunidade acadêmica. Com certeza, adotar uma metodologia teórica aceitável e estabelecida - o feminismo - é um dos meios mais confiáveis e estratégicos de garantir a adesão àquele poderoso grupo, comunidade visível de mulheres acadêmicas que se estende muito além de si mesma e assegura para as suas adeptas não apenas as possibilidades de trabalho e publicações, mas também de prestígio e de alta visibilidade. Enquanto algumas mulheres pretas adotaram ingenuamente o feminismo, devido à ausência de um quadro alternativo e adequado para suas necessidades individuais como mulheres Africana, muitas estão reavaliando as realidades históricas e a agenda do movimento feminista moderno, e se mantiveram corajosamente em sua rejeição total. Para muitas na academia que o rejeitam e que vão além criando paradigmas alternativos, elas experimentam tentativas mal sucedidas de silenciá-las via ostracismo e exclusão do círculo acadêmico tanto pelas publicações, (incluindo não ser referenciada por outras estudiosas) e/ou diálogo (incluindo não ser convidada para participar de algumas de suas conferências, a fim de articular ainda outra interpretação de nossa luta como não feministas). Ainda, com demasiada frequência, partes de seus paradigmas foram retiradas de sua construção teórica, apropriadas e reformuladas em uma forma revisada de feminismo preto por aquelas estabelecidas no campo. Seja como for, a citação acima de Iva E. Canruthers é apenas uma dessas rejeições ao feminismo e, por extensão, ao feminismo preto, que ainda hoje reina como uma questão muito controversa, tanto dentro como fora da academia, particularmente no que se refere ao papel da mulher Africana no contexto do movimento feminista moderno. Julia Hare, notável psicóloga preta, expressou sua rejeição ao feminismo cerca de treze anos depois em Black Issues in Higher Education/ Questões Pretas no Ensino Superior (1993):

As mulheres que se dizem feministas pretas precisam de outra palavra que descreva quais são suas preocupações. O feminismo preto não é uma palavra que descreve a situação das mulheres pretas. A raça branca tem um problema de mulher porque as mulheres eram oprimidas. O povo preto tem um problema de homem e mulher porque os homens pretos são tão oprimidos quanto suas mulheres. [1]

Obviamente, Hare não estava ciente do fato de que outra palavra já havia sido apresentada na arena pública em vários artigos sobre o paradigma do Mulherismo Preto/Mulherismo Africana que apresentei em conferências nacionais, como o Conselho Nacional de Estudos Pretos em março de 1986 e 1988, a Associação de Estudos do Patrimônio Africano em 1988, assim como a Associação de Estudos de Mulheres de 1987 e 1988. Essas apresentações públicas culminaram em meu artigo de 1989, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia: Critical Issues in Africana Women's Studies," que mais tarde foi reimpresso como o segundo capítulo do Africana Womanism: Reclaiming Ourselves (1993).

Porque o empoderamento feminino, o próprio alicerce sobre o qual se baseia a agenda feminista/feminista preta, é a prioridade número um em vez do empoderamento racial, nossa maior preocupação desde a nossa migração involuntária da África para os Estados Unidos no início do século XVII, a maioria das mulheres Africana não se considera feminista. Ao invés de um enfoque centralizado na família dado pela mulherista Africana, essa centralização feminina do feminismo, que informa a ordenação das questões que giram em torno da centralidade e exclusividade da feminilidade, apresenta sérios problemas para a mulher Africana. Bettina Aptheker, uma feminista branca; também vê a prioridade feminista como impraticável para a mulher preta:

Quando colocamos as mulheres no centro de nosso pensamento, estamos tratando de criar uma matriz histórica e cultural da qual as mulheres possam reivindicar autonomia e independência sobre suas próprias vidas. Para as mulheres de cor, essa autonomia não pode ser alcançada em condições de opressão racial e genocídio cultural. Em suma, "feminista", no sentido moderno, significa o empoderamento das mulheres. Para as mulheres de cor, tal igualdade, tal empoderamento, não pode ocorrer a menos que as comunidades em que vivem possam estabelecer com sucesso sua própria integridade racial e cultural. [2]

Ela, da mesma maneira que a mulherista africana, vê a importância de priorizar o fator racial para a mulher preta como um pré-requisito para lidar com a questão de gênero. Isso não quer dizer que questões de gênero não sejam importantes, pois as questões de gênero são preocupações reais para todas as mulheres, inclusive mulheres africanas, pois ainda estamos operando dentro de um sistema patriarcal e, portanto, devemos confrontar essa questão de frente. No entanto, atacar os preconceitos de gênero não se traduz em obrigar a identificação ou a dependência do feminismo como o único meio viável de abordagem. Certamente, a feminista não tem exclusividade em questões de gênero. Assim, de acordo com a socióloga Vivian Gordon em Black Women, Feminism, and Black Liberation: Which Way (Mulheres Pretas, Feminismo e Liberação Preta: Qual caminho):

Abordar as questões das mulheres, portanto, não é apenas abordar as necessidades cruciais das mulheres pretas, mas também abordar a primazia histórica da comunidade africana e afro-americana; isto é, a primazia de seus filhos e sua preparação para as responsabilidades e privilégios da pessoa madura. [3]

A abordagem de Gordon ao lidar com as questões das mulheres é trazer à luz a realidade histórica do povo Africana e a centralidade da família para a segurança das gerações futuras. Delores Aldridge, outra socióloga preta, dá um passo adiante em seu Focusing: Black Male-Female Relationships, alegando que o descarrilamento da nossa luta baseada na raça por uma luta baseada em gênero traz sérias consequências. Pode-se argumentar que a libertação das mulheres - tal como está presentemente definida e implementada - tem um impacto negativo no movimento de libertação dos pretos... a libertação das mulheres opera dentro da tradição capitalista e aceita os objetivos finais dos homens brancos sexistas. [4]

Certamente, Aldridge compreende bem a perspectiva da qual a feminista vem. Em "Cultural and Agenda Conflicts in Academia" (Conflitos Culturais e de Agenda na Academia), Hudson-Weems descreve sucintamente como "o feminismo dominante é a cooptação das mulheres nos valores patriarcais tradicionais". A questão chave em todas essas quatro teóricas, três pretas e uma branca, não é a exclusão das questões de gênero, mas sim uma maneira Mulherista Africana de abordá-las. Outras características-chave do Mulherismo Africana, juntamente com o enfoque na família, tal como definido no capítulo 4 do Africana Womanism, são autonomear-se e autodefinir-se, irmandade genuína, forte, em conjunto com o homem na luta, atuante integral, autêntica e flexível, respeitada, reconhecida, espiritual, compatível com o sexo masculino, respeitosa com os mais velhos, adaptável, ambiciosa, maternal e nutridora.

Outra forma de feminismo, o feminismo africano, também é questionável, unicamente por causa de sua nomeação imprópria. Um olhar mais atento ao conceito revelará que sua agenda é mais parecida com o Mulherismo Africana do que com o feminismo. Assim, a precisão de Filomina Chioma Steady em sua avaliação perspicaz da luta e realidade das mulheres africanas em The Black Woman Cross-Culturally é problemática, pois se pressupõe antes mesmo de ela explicar o conceito de feminismo africano de que é uma extensão do feminismo. Inquestionavelmente, quando alguém "compra a terminologia branca, ela também compra sua agenda”. [6] Embora Steady não consiga se nomear adequadamente; ela demonstra um senso de prioridades no texto citado, que está claramente alinhado com o sentido de priorizar as questões raciais inerentes ao mulherismo Africana:

Independentemente da posição, as implicações do movimento feminista para a mulher preta são complexas… Vários fatores separam a mulher preta como tendo uma ordem diferente de prioridades. Ela é oprimida não simplesmente por causa de seu sexo, mas ostensivamente por causa de sua raça e, para a maioria, essencialmente por causa de sua classe. As mulheres pertencem a diferentes grupos socioeconômicos e não representam uma categoria universal. Como a maioria das mulheres pretas está em situação de pobreza, é provável que haja alguma alienação do aspecto de classe média do movimento de mulheres, que entende o feminismo como um ataque aos homens e não como um sistema que prospera na desigualdade. [7]

Em "Feminismo Africano: uma perspectiva mundial", de Mulheres em África e da diáspora africana, ela ainda afirma que para a maioria das mulheres pretas a pobreza é um modo de vida. Para a maioria das mulheres pretas, o racismo também tem sido o obstáculo mais considerável na aquisição das necessidades básicas de sobrevivência. Através da manipulação do racismo, as instituições econômicas mundiais produziram uma situação que afeta negativamente as pessoas pretas, particularmente as mulheres pretas. O que temos, então, não é uma simples questão de sexo ou diferenças de classe, mas uma situação que por causa do fator racial é moldada em caráter tanto em escala nacional quanto global. [8]

Aparentemente, nem os termos feminismo preto e feminismo africano são suficientes para rotular essas mulheres de realidades complexas, particularmente porque ambos os termos, através de seus próprios nomes, se alinham com o feminismo. Além disso, na cosmologia africana, a nomeação adequada, nommo, diz tudo que é essencial à existência, o que torna ainda mais difícil aceitar um nome impróprio para si mesma. A verdadeira história do feminismo, suas origens e suas participantes, revela um pano de fundo racista bastante descarado. O feminismo e o movimento de sufrágio da mulher tiveram seu início com um grupo de mulheres brancas liberais, que estavam preocupadas em abolir a escravidão e conceder direitos iguais para todas as pessoas, independentemente de raça, classe e sexo. No entanto, a Décima Quinta Emenda da Constituição dos Estados Unidos foi ratificada em 1870, concedendo direitos de voto aos homens Africana, enquanto esse privilégio para as mulheres, em particular as brancas, não foi abordado. As mulheres brancas de classe média ficaram desapontadas, tendo assumido que a sua benevolência para assegurar uma cidadania plena aos africanos acabaria por beneficiá-las também. Sua resposta foi uma reação racista à emenda e aos africanos. Assim, um movimento organizado entre mulheres brancas da década de 1880 mudou o pêndulo de uma postura liberal para uma radicalmente conservadora da sua parte.

A Associação Americana Nacional para o Sufrágio das Mulheres (NAWSA em inglês) foi fundada em 1890 por mulheres brancas do norte, mas "as mulheres do sul também foram vigorosamente cortejadas por esse grupo", sintetizando o crescente chauvinismo racial do final do século XIX. A organização, que reuniu a Associação Nacional para o Sufrágio da Mulher e a Associação Americana de Sufrágio da Mulher, afastou-se da posição de sufrágio original de Susan B. Anthony. Elas alegaram que o voto para mulheres deveria ser utilizado principalmente por mulheres brancas de classe média, que poderiam ajudar seus maridos a preservar as virtudes da república da ameaça dos biologicamente inferiores e não qualificados (homens africanos), que, com o poder do voto, poderiam ganhar uma posição política no sistema americano. Por exemplo, a firme líder conservadora sufragista Carrie Chapman Catt e outras mulheres em seu campo insistiram em fortes valores anglo-saxões e na supremacia branca. Elas queriam para e com homens brancos garantir o voto aos brancos puros, excluindo não apenas os africanos, mas também os imigrantes brancos. Os historiadores Peter Carrol e David Noble citaram Catt em The Free and the Unfree, dizendo que "há apenas uma maneira de evitar o perigo. Cortar o voto das favelas e dar para as mulheres [brancas]." Ela continuou dizendo que os homens brancos da classe média devem reconhecer "a utilidade do sufrágio feminino como contrapeso ao voto estrangeiro e como meio de preservar legalmente a supremacia branca no sul”. [10] Essas sufragistas sentiram que, como o povo Africana, os homens Africana em particular com seu novo status, eram de raça inferior, não lhes deveria ser permitido o direito de votar antes delas, o que não aconteceu até a Décima Nona Emenda de 1920. Assim, embora seja compreensível como as mulheres brancas se sentiam em relação à sua exclusão da agenda dos direitos de voto, a sua hostilidade e sentimentos racistas em relação aos africanos não podem ser negligenciados.

Embora o feminismo, uma agenda destinada a atender às necessidades e demandas das mulheres brancas, seja bastante plausível para esse grupo, colocar a história de todas as mulheres sob a história das mulheres brancas, conferindo a estas últimas a posição definitiva, é problemático. De fato, isso demonstra o supremo da arrogância e dominação racistas, sugerindo que a atividade autêntica das mulheres reside nas mulheres brancas. É, portanto, ridículo reivindicar como feministas mulheres Africana ativistas como Maria W. Stewart e Frances Watkins Harper, abolicionistas; Sojourner Truth, militante porta-voz da abolição e sufragista universal; Harriet Tubman, condutora da ferrovia subterrânea; Ida B. Wells, da cruzada anti-linchamento no inicio do século XX; e Anna Julia Cooper, que proclama em A Voz do Sul que "a causa da mulher é a causa do homem: [nós] nos elevamos ou afundamos juntos, diminuídos ou divinos, presos ou livres”. [11] Cooper é uma das mulheres pretas mais erroneamente reivindicada pelas críticas feministas pretas hoje, assim como por críticos pretos como Henry Louis Gates, que a chama de "uma prototípica feminista preta cujo livro de ensaios de 1892, A Voz do Sul, é considerado um dos textos fundadores do movimento feminista preto".[12] e Maulana Karenga, que coloca A Voz do Sul na "arena feminista/mulherista". Os critérios usados para tal prática permanecem inválidos:

Procrusteans* (procustos) rotularam erroneamente ativistas africanas... [como feministas] simplesmente porque eram mulheres. De fato, suas principais preocupações não eram de natureza feminista, mas sim um compromisso com a centralidade da luta pela liberdade africano-americana. Sua principal preocupação era a situação de ameaça à vida de todos os africanos, homens e mulheres, nas mãos de um sistema racista. Lançá-las em um modelo feminista, o que não enfatiza seu maior interesse, é na opinião desta escritora uma abominação e um insulto direto ao nível da luta delas. [13] 
*pode ser tido como metáfora critica de quem tentar impor padrões e definições na área de conhecimento.

Ao considerar as atividades raciais dessas primeiras mulheres africanas e inúmeras outras heroínas africanas desconhecidas, o que as feministas brancas fizeram na realidade foi pegar o estilo de vida e as técnicas das ativistas africanas e usá-las como modelos para enquadrar sua teoria. Elas então passam a nomeá-lo, defini-lo e legitimá-lo como o único movimento substantivo das mulheres. Assim, ao definir a feminista e sua atividade, elas estão se identificando com mulheres africanas independentes, mulheres que elas imitaram e invejaram. Essas mulheres com quem entraram em contato desde o início da escravidão americana até o movimento moderno dos Direitos Civis, com mulheres africanas ativistas dos direitos civis como Fannie Lou Hammer, Mamie Till Mobley, mãe de Emmett Louis Till e Rosa Parks, a mãe do movimento e suas consequências. Portanto, quando mulheres Africana adotam o feminismo, acrescentando-o à sua identidade como feministas pretas ou feministas africanas, elas estão na realidade duplicando a duplicata.

Mulherismo Africana, um termo que cunhei e defini em 1987 após quase dois anos debatendo publicamente a importância da autonomeação para mulheres Africana, sob a terminologia "Mulherismo Preto", uma evolução natural, é um conceito teórico concebido para todas as mulheres afrodescendentes. Seu principal objetivo... é criar critérios próprios para avaliar suas realidades, tanto em pensamento quanto em ação. [14] A primeira parte da cunhagem, Africana, identifica a origem étnica da mulher que está sendo considerada, e essa referência à sua etnia, estabelecendo sua identidade cultural, relaciona-se diretamente com sua ancestralidade e terra-base África. A segunda parte do termo, o Mulherismo, além de nos levar de volta ao rico legado da feminilidade africana, lembra o poderoso discurso improvisado de Sojourner Truth "E não sou uma mulher?", em que ela luta contra as forças alienantes dominantes em sua vida como uma mulher africana em dificuldades, questionando a ideia comum de sororidade. Mesmo que ela tenha ido a uma convenção de mulheres totalmente brancas em Akron, Ohio, em 1852, para expressar sua opinião sobre o absurdo da subjugação feminina, ela foi forçada a abordar a questão racial em primeiro lugar, como ela foi silenciada e zombada porque ela era preta, não porque ela era uma mulher, já que ela estava entre a comunidade das mulheres. Inquestionavelmente, ela era o outro lado da moeda, a parceira de sua contraparte masculina na luta por seu povo, alguém que, ao contrário da mulher branca, não recebia nenhum privilégio especial na sociedade americana. Mas há outra questão crucial que explica o uso do termo mulher(ismo). O termo "mulher" e, por extensão, "mulherismo", é muito mais apropriado do que o termo "feminino" (feminismo), já que somente uma mulher da raça humana pode ser uma mulher. "Feminino", por outro lado, pode se referir a um membro do reino animal ou vegetal, bem como a um membro da raça humana. Finalmente, na terminologia eletrônica e mecânica, há um contrapeso feminino ao correlativo masculino. Assim, a terminologia derivada da palavra "mulher" é mais adequada e mais específica ao nomear um grupo da raça humana.

O Mulherismo Africana não deve ser confundido com o Mulherismo de Alice Walker como apresentado em sua coleção de ensaios, In Search of Our Mothers' Gardens (Em Busca dos Jardins das Nossas Mães). Segundo ela, uma mulher é:

Uma feminista preta ou feminista de cor. . . que ama outras mulheres, sexualmente e/ou não sexualmente. Aprecia e prefere a cultura das mulheres. . . [e que] às vezes ama homens individuais, sexualmente e/ou não sexualmente. Comprometida com a sobrevivência e integridade total das pessoas, homens e mulheres.. . . Mulherista é para feminista como roxo para lavanda. [15]

As declarações de abertura e fechamento aqui estabelecem firmemente o conceito da autora sobre a afinidade entre a feminista, a mulherista e a feminista preta.

Há algumas mulheres brancas que reconhecem que o movimento feminista não foi projetado com a mulher Africana em mente. A feminista branca Catherine Clinton, por exemplo, afirma que "o feminismo atraiu principalmente as mulheres brancas educadas e de classe média, em vez das mulheres pretas e brancas da classe trabalhadora”. [16] Além disso, Steady, em seu artigo intitulado "Feminismo Africano: uma perspectiva mundial", que aparece em Mulheres em África e da Diáspora Africana, admite que:

Várias escolas de pensamento, perspectivas e propensões ideológicas influenciaram o estudo do feminismo. Poucos estudos trataram da questão do racismo, já que a voz dominante do movimento feminista tem sido a da mulher branca. A questão do racismo pode se tornar ameaçadora, pois identifica as feministas brancas como possíveis participantes na opressão dos pretos. [17]

Com estas questões pairando sobre o domínio do feminismo, a comunidade Africana, em geral, concordou que o movimento feminista é o movimento da mulher branca por duas razões. Primeiro, a mulher Africana não vê sua contraparte masculina como principal inimigo como a feminista branca, que está realizando uma antiga batalha com sua contraparte por subjugá-la como propriedade. De acordo com a primeira dramaturga da Nigéria, Dra. Zulu SofoIa:

Não é [o sistema de gênero duplo entre homens e mulheres africanos] uma batalha em que a mulher luta para conquistar um pouco do poder dos homens, o que consequentemente colocou em movimento um conflito perpétuo de gênero que agora envenenou a antiga ordem social saudável da África tradicional. [18]

Essa igualdade existe porque na cosmologia africana, afirma Sofola, a mulher na criação é igual aos seus homólogos masculinos, o que não é o caso da cosmologia europeia, que sustenta que a mulher é um apêndice (costela) do homem. Além disso, contrariamente à necessidade das feministas brancas de serem iguais aos homens como seres humanos, as mulheres pretas sempre foram iguais às suas contrapartes masculinas, apesar das tentativas de alguns homens africanos de subjugá-las em alguns níveis. De acordo com Ângela Davis em Mulheres, Raça e Classe:

O tema que emerge da vida doméstica nos bairros de escravos [senzalas americanas] é o da igualdade sexual. O trabalho que as escravas e os escravos realizavam por si mesmos e não pelo engrandecimento de seus senhores era realizado em termos de igualdade. Dentro dos limites de sua vida familiar e comunitária, portanto, os pretos transformaram a igualdade negativa que emanava da opressão igual que sofriam como escravos em uma qualidade positiva: o igualitarismo caracterizando suas relações sociais. [19]

Além disso, durante a escravidão americana, as mulheres africanas eram tão severamente tratadas, física e mentalmente, como eram os seus homólogos masculinos, invalidando assim o alinhamento das mulheres africanas e das mulheres brancas como iguais na luta. De fato, as intermináveis tarefas da mulher africana a aguardavam dentro e fora de casa. Homens e mulheres Africana têm sido parceiros iguais na luta contra a opressão desde o início. Assim, eles não podiam pagar a divisão com base no sexo. É sabido que em algumas sociedades tradicionais a dominação masculina era uma característica; mas na experiência de escravos afro-americanos, os homens e as mulheres Africana eram vistos da mesma forma pelos proprietários de escravos, negando assim as noções tradicionais (africanas e europeias) de papéis masculinos ou femininos.

Hoje, as mulheres Africana devem insistir que são parceiras iguais em um relacionamento em que a submissão feminina passiva não era e nem é a norma em sua comunidade. De acordo com Morrison em "What the Black Woman Thinks about Women's Lib" (O que a mulher preta pensa sobre as mulheres Lib (abreviação liberais/ libertação)): por anos as mulheres pretas aceitaram essa raiva, até consideraram essa aceitação como um dever desagradável. Mas ao fazê-la elas frequentemente retrocederam, e elas parecem nunca ter se tornado as verdadeiras escravas que as mulheres brancas veem em sua própria história. [20]

De fato, as mulheres africanas não tiveram a sensação de impotência de que as mulheres brancas falam; nem foram silenciadas ou tornadas sem voz pelos seus homólogos masculinos, como é a experiência expressa das mulheres brancas. Os rótulos "matriarca preta", "safira" e "dominadora" acrescentados à mulher africana para descrever sua personalidade e caráter contradizem claramente a noção de que a mulher africana não tem voz. Além disso, ao contrário da mulher branca, a mulher africana não foi privilegiada nem colocada em um pedestal de proteção e apoio.

Há também a questão de classe na experiência da mulher Africana, que anda de mãos dadas com a questão da raça. Em uma perspectiva histórica, a escravidão era sinônimo de pobreza. Quando se examina a origem do racismo americano, percebe-se que foi uma atitude construída para autorizar a exploração pela cultura dominante a adquirir uma exploração econômica e laboral livre ou barata, argumentando a inferioridade racial como uma justificativa para a escravidão. Portanto, o racismo e o classismo são inextricáveis. Deve-se notar, no entanto, que o racismo se tornou um monstro maior do que o classismo para o povo preto, mesmo que o último seja o pai do primeiro. Segundo Steady:
a questão da opressão das mulheres pretas e do racismo é parte da "questão de classe", mas há o perigo de classificar a contínua opressão da mulher preta à classe e somente à classe. Pois mesmo dentro da mesma classe existem grupos que são mais oprimidos do que outros. É provável que os pretos experimentem dificuldades e discriminação de forma mais severa e consistente do que os brancos, por causa do racismo. [21]

Desde o início, ficou patente que as mulheres Africana, em particular, devem continuar a preocupar-se em dar prioridade aos obstáculos desta sociedade: a falta de igualdade de acesso a oportunidades de carreira, tratamento justo de seus filhos e igualdade de emprego para seus pares do sexo masculino. Muito antes de a questão de gênero e classe vir à tona na crítica literária contemporânea e nas construções teóricas, posições e decisões foram tomadas sobre as opções disponíveis para a mulher Africana com base em sua raça. Assim, foi e permanece evidente que a mulher Africana deve primeiro combater a batalha do racismo.

Os homens Africana nunca tiveram o mesmo poder institucionalizado para oprimir as mulheres Africana, como os homens brancos tiveram para oprimir as mulheres brancas. De acordo com o sociólogo Africana Clyde Franklin II, "os homens pretos são relativamente impotentes neste país, e suas tentativas de dominação, agressão e afins, enquanto sacrificam a humanidade, são ridículas". [22]

Joyce Ladner, outra socióloga Africana, articula de forma sucinta a dinâmica da relação entre homens e mulheres Africana e não vê o primeiro como inimigo da segunda no Tomorrow's Tomorrow. "As mulheres pretas não concebem os homens pretos como seus inimigos, mas, ao contrário, o inimigo é considerado forças opressoras na ampla sociedade que subjuga homens, mulheres e crianças pretas”. [23]

Como as mulheres africanas nunca foram consideradas propriedade de suas contrapartes masculinas, mulheres e homens africanos descartam a primazia das questões de gênero em sua realidade e, assim, descartam o movimento feminista como uma estrutura viável para suas principais preocupações.

Em segundo lugar, as mulheres africanas rejeitam o movimento feminista por causa de sua apreensão e desconfiança em organizações brancas. De fato, grupos brancos organizados em geral, como o Partido Comunista e a Organização Nacional para a Mulher (N.O.W. em inglês), nunca foram capazes de galvanizar a maioria dos africanos. No geral, os africanos são pessoas de base que dependem do apoio e confiança de suas comunidades e que, com base em casos históricos de traição, são necessariamente suspeitos de organizações fundadas, operadas e controladas por brancos. Em geral, ao contrário dos membros da cultura dominante, os africanos não são focados em questões exclusivas. Em vez disso, se concentram em coisas tangíveis que podem oferecer uma melhoria ou saída da opressão, que são de extrema importância para a sobrevivência na comunidade Africana.

Embora as mulheres Africana tenham, de fato, algumas preocupações legítimas com relação aos homens Africana, essas preocupações devem ser abordadas dentro do contexto da cultura africana. Os problemas não devem ser resolvidos usando uma estrutura estrangeira, isto é, feminismo, mas devem ser resolvidos a partir de uma construção teórica endêmica do Mulherismo Africana. De fato, não podemos nos dar ao luxo de sermos consumidos por questões de gênero; pois uma das principais tensões entre homens e mulheres Africana nos Estados Unidos envolve emprego e oportunidades econômicas. Não é uma questão de mais empregos para mulheres Africana versus mais empregos para homens Africana, uma situação que frequentemente promove a competição de gênero. Pelo contrário, é uma questão de mais empregos para os africanos em geral. Esses empregos são gerados principalmente por pessoas brancas e a maioria dos africanos depende de outras fontes além daquelas fornecidas pelo povo Africana. O verdadeiro desafio para homens e mulheres Africana é como criar mais oportunidades econômicas dentro das comunidades Africana. Muitas pessoas falam sobre a necessidade de maior fortalecimento econômico entre africanos. Se o nosso verdadeiro objetivo na vida for alcançado - isto é, a sobrevivência de toda a nossa raça como uma preocupação primária para as mulheres Africana - terá que vir de homens e mulheres Africana trabalhando juntos. Se os homens e mulheres Africana estão lutando entre si dentro da comunidade, eles estão fundamentalmente se derrotando em todas as frentes.

Um paradigma supremo da necessidade das mulheres Africana priorizarem a luta pela dignidade e paridade humana é apresentado pela ativista sul-africana Ruth Mompati. Em suas histórias de rasgar o coração sobre atrocidades raciais inimagináveis acumuladas sobre crianças inocentes, bem como sobre os homens e mulheres, Mompati afirma o seguinte:

A mulher sul-africana, confrontada com a situação acima, encontra a ordem de suas prioridades em sua luta pela dignidade humana e seus direitos como mulher ditada pela luta política geral de seu povo como um todo. A libertação nacional do preto sul-africano é um pré-requisito para sua própria libertação e emancipação como mulher e trabalhadora. O processo de luta pela libertação nacional tem sido acompanhado pela politização de homens e mulheres. Isso impediu que a luta das mulheres se degenerasse em uma luta sexista que separaria a posição das mulheres no desenvolvimento político, social e econômico da sociedade como um todo. [24]

Das mulheres sul-africanas que, juntamente com os seus homens, buscam libertar o seu país, surge um apelo aos amigos e apoiantes para que levantem as suas vozes ao interesse delas. [25]

No geral, "a discriminação humana transcende a discriminação sexual... os custos do sofrimento humano são altos quando comparados a um componente, obstáculo sexual”. [26] Além disso, de acordo com Steady em The Black Woman Cross-Culturally, para a mulher preta em uma sociedade racista, os fatores raciais, e não os sexuais, operam de forma mais consistente para torná-la um alvo de discriminação e marginalização. Isso se torna aparente quando a "família" é vista como uma unidade de análise. Independentemente do acesso diferenciado a recursos por homens e mulheres, homens e mulheres brancos, como membros de grupos familiares, compartilham uma quantidade proporcionalmente maior dos recursos da terra do que os homens e mulheres pretas. Existe uma grande diferença entre discriminação por privilégio e proteção, e discriminação por privação e exclusão. [27]

A avaliação de Steady fala diretamente sobre a fonte de discriminação que as mulheres Africana sofrem nas mãos de um sistema racista. Há a opressão da mulher sul-africana que deve servir como empregada doméstica e enfermeira para a família branca com salário mínimo, a mulher caribenha em Londres que é a secretária ignorada, e a trabalhadora senegalesa ou africana na França que é desprezada e indesejada. Há a agricultora de subsistência nigeriana, como a mulher ibo em Enugu e Nsukka, que cultiva todos os dias salários mínimos, e a operária brasileira que é a mais baixa do totem. Claramente, os problemas dessas mulheres não são infligidos a elas apenas porque são mulheres. Elas são vitimadas em primeiro lugar e principalmente porque são pretas; Depois, elas são vítimas porque são mulheres que vivem em uma sociedade dominada por homens.

Os problemas das mulheres Africana, incluindo a brutalidade física, o assédio sexual e a subjugação das mulheres em geral perpetradas dentro e fora da raça, em última análise, têm que ser resolvidos em uma base coletiva dentro das comunidades africanas. O povo africano deve eliminar as influências racistas em suas vidas primeiro, com a percepção de que elas não podem permitir nem tolerar qualquer forma de subjugação feminina. Na mesma linha, Ntiri resume a posição de Mompati de que o sexismo "é basicamente um problema secundário que surge de preconceitos raciais, de classe e econômicos".

Talvez por causa de todos os problemas indiscutíveis e turbulentos acumulados sobre a comunidade africana, muitos dos quais são racialmente fundamentados, os africanos frequentemente não olham de perto as opções disponíveis para determinar se essas opções são, de fato, suficientemente viáveis. Em vez de criar outras opções para si próprios, os africanos tornam-se confluentes com o fenômeno da classe privilegiada branca. Seria útil se fosse criado para si mesmo; independente de paradigmas estrangeiros. Talvez refletir sobre a particularidade do Mulhesrimo Africana possa ser o começo de uma nova chance para um novo milênio de sobrevivência do povo preto:

Não é desenvolvimento nem adendo ao feminismo, o Mulherismo Africana não é o feminismo preto, o feminismo africano ou o mulherismo de Walker que algumas mulheres Africana passaram a adotar. O mulherismo Africana é uma ideologia criada e projetada para todas as mulheres de ascendência africana. Baseia-se na cultura Africana e, portanto, concentra-se necessariamente nas experiências, lutas, necessidades e desejos únicos das mulheres Africana. Aborda criticamente a dinâmica do conflito entre a corrente principal feminista, a feminista preta, a feminista africana e a mulherista africana. A conclusão é que o Mulherismo Africana e sua agenda são únicos e separados do feminismo branco e do feminismo preto, e, além disso, na medida da nomeação em particular, o mulherismo Africana difere do feminismo africano.

[1]. Julia Hare, citado em "Feminism in Academe: The Race Factor," Ellen Crawford in Black Issues in Higher Education vol. 10, no.1 (11 March 1993).

[2]. Betinna Aptheker, "Strong I What We Make Each Other: Unlearning Racism Within Women's Studies," Women's Studies Quarterly, 1:4 (Winter 1981), 13.

[3]. Vivian V. Gordon, Black Women, Feminism, and Black Liberation: Which Way? (Chicago: Third World Press, 1987), viii.

[4]. Delores P. Aldridge, Focusing: Black Male-Female Relationships. (Chicago: Third World Press, 1991), 35.

[5]. Clenora Hudson-Weems, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia: Critical Issues for Africana Women's Studies." The Western Journal of Black Studies (Winter 1989), 187.

[6]. Hudson-Weems, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia," 188.

[7]. Filomina Chioma Steady, ed. The Black Woman Cross-Culturally (Cambridge, Mass.: Schenkman, 1981), 23-24.

[8]. Filomina Chioma Steady, "African Feminism: A Worldwide Perspective," in Women in Africa and the African Diaspora, Rosalyn Terborg-Penn, Sharon Harley, and Andrea Benton Rushing, eds. (Washington, D.C.: Howard University Press, 1987), 18-19.

[9]. Paula Giddings, When and Where! Enter: The Impact of Black Women on Race and Sex in America New York: Bantam, 1984), 81.

[10]. Peter N. Carrol and David W. Noble, The Free and the Unfree: A New Histori' ofthe United States ~ew York: Penguin Books, 1977), 296.

[11]. Anna Julia Cooper, A Voice from the South (New York: Oxford University Press, 1988), 61.

[12]. Cooper, A Voice from the South, 1 –

[13]. Hudson-Weems, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia," 186.

[14]. Clenora Hudson-Weems, Africana Womanism: Reclaiming Ourselves (Troy, Mich.: Bedford Publishers, 1993), 50.

[15]. Alice Walker, In Search ofour Mothers' Gardens (San Diego: Harcourt, 1983), xii.

[16]. Catherine Clinton, "Women Break New Ground," in The Underside of American Histoty, vol.2, Thomas R. Fraizer, ed. ~ew York: Harcourt Brace Jovanovich, 1987), 63.

[17]. Steady, "African Feminism: A Worldwide Perspective," 3.

[18]. Esta citação vem de um trabalho entregue por Zula Sofola na International Conference on Women of Africa and the African Diaspora: Bridges Across Activism and the Academy que foi realizado em julho de 1992 na Universidade da Nigéria-Nsukka.

[19]. Angela Davis, Women, Race and Class New York: Vintage, 1983), 19.

[20]. Toni Morrison, "What the Black Woman Thinks about Women's Lib," The New York Times Magazine, August 1971, 63.

[21]. Steady, The Black Woman Cross-Culturally, 26.

[22]. Clyde W. Franklin Jr., "Black Male-Black Female Conflict; Individually Caused and Culturally Nurtured," in The Black Family: Essays and Studies, Robert Staples, ed. (Belmont, Calif.: Wadsworth, 1986), 112.

[23]. Joyce Ladner, Tomorrow's Tomorrow: The Black Woman (Garden City, N.Y.: Anchor, 1972), 277-278.

[24]. Ruth Mompati, "Women and Life Under Apartheid," in One is Not a Woman, One Becomes: The African Woman in a Transitional Society, Daphne W. Ntiri, ed. (Troy, Mich.: Bedford, 1982).

[25]. Daphne W. Ntiri, ed., One Is Not a Woman, One Becomes: The African Woman in a Transitional Society (Troy, Mich.: Bedford, 1982), 112-113.

[26]. Ntiri, One Is Not a Woman, 6.

[27]. Steady, The Black Woman Cross-Culturally, 27-28.

[28]. Ntiri, One Is Not a Woman, 5.

[29]. Hudson-Weems, Africana Womanism, 24.

Disponivel em < http://web.missouri.edu/~hudsonweemsc/> acesso em 18/06/2018

Capítulo 14 em Out of the Revolution: The Development of Africana Studies. Delores P. Aldridge e Carlene Young, Editors. Lexington Books, 2000, pp. 205-217.

** O termo Africana aqui não significa o feminino de "africano". Derivado do plural em latim, refere-se a tudo aquilo que diz respeito ao conjunto formado pela África e sua diáspora.
O uso da forma plural em latim, Africana, indica dois aspectos de polivalência: refere-se aos povos afrodescendentes em todo o mundo e à metodologia multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar dos estudos nesse campo. (...)
A pluralidade do conceito se reflete também na acepção da palavra "africano", que se refere aos afrodescendentes a e seu legado cultural no continente e na diáspora em qualquer parte do mundo.(...)
Nota extraída do livro Afrocentricidade: Uma abordagem epistemológica inovadora