quarta-feira, 22 de abril de 2015

Única Chance - Entrevista Rap

Direto da zona sul de São Paulo, periferia! O Única Chance é mais um grupo que resiste, e que através de formação e informação age principalmente no Jd Clipper. Aqui eles falam sobre o grupo, sua origem e das intervenções com o Cine Gueto pelo coletivo Dona Maria Antifascista. E já adiantamos, o som é pedrada!



Spqvcnaove - Quem são os integrantes do Única Chance? É a mesma formação desde o inicio?

U.C: José Dellano (Vulgo Aliado treze) e Roberto Almeida (vulgo Bethoven), sim é a mesma formação !

Spqvcnaove - Qual é a quebrada de origem do grupo? Tem como vocês descreverem essa quebrada?


U.C: A nossa quebrada é um conjunto de favelas da zona sul de São
Paulo são: Jardim Iporanga, Jardim Presidente, Jordanopolis, Vila Clipper! É como todas as quebradas do Brasil, sofre com o baixo investimento da políticas publicas, sem educação, saúde, emprego, sobra crime e tráfico pra nóis; onde único órgão governista que chega até a favela é a Policia fascista.

Spqvcnaove - Qual o porquê do nome Única Chance?

U.C: A representatividade do nome “Única chance” reflete toda trajetória percorrida por nós, passamos por todas mazelas sociais que a periferia sofre: fome, falta de uma estrutura educacional, sobrevivemos ao tráfico de drogas e as investidas da policia. Com passagem por outros grupos de rap sem sucesso, fomos apresentados em uma noite fria, na base da garoa olhando na “bolinha do olho” no campo do Iporanga (caldeirão), foi firmada essa parceria e que seria nossa Única Chance em fazer Rap!

Spqvcnaove - De onde veio a necessidade ou a decisão de ser um Rapper?

U.CBethoven: tive o meu primeiro contato com o rap através do lixo! Na época eu tinha entre 11 e 12 anos estava trabalhando com
o meu pai, na casa do meu irmão no jardim Guarujá; quando saí da casa encontrei uma sacola com várias fitas misturadas com lixo doméstico (fiquei com medo do meu pai brigar comigo por estar mexendo no lixo), então, peguei umas três fitas e escondi no bolso depois guardei na minha mochila. Fomos pra casa no fim do dia, no dia seguinte meu pai foi trabalhar e minha mãe tinha saído (não me recordo o que ela ia fazer) liguei o toca fita e comecei escutar uma sessão de peso, “dinamite” não entendia nada, mas as batidas e as levadas me deixaram alucinado. Passado algum tempo na empolgação ainda da novidade jogando bola na rua de casa escuto um som que eu compreendia, pois relatava muito o dia a dia da periferia, era os Racionais mc's disco sobrevivendo no inferno! Anos depois conheci alguns rappers e tinha alguns grupos na quebrada acho que foi o momento que decidi ser Rapper também ao ver conhecidos no palco!
Aliado 13: o rap surgiu como brincadeira mesmo, quando Douglas, Everton (outros manos do Parque Alto) em uma roda de zoeira disse: "Você leva jeito pra fazer rap." No começo achei irônico, mas sempre ouvi bastante rap: Racionais, Facção Central, Rzo, Sabotage, etc. Comecei escrever e ler bastante. A partir desse start percebi: "tá aqui onde vou expressar todo meu ódio contido, onde vou fazer minha liberdade de expressão valer e gritar para todos os cantos, somos seres humanos e temos direitos e não só deveres."

Spqvcnaove - Como é a atividade desse grupo? Tem algo além das apresentações?


U.C: Somos um grupo novo, desde 2013 estamos realizando as atividades musicais, tivemos uma grande projeção no ano passado (2014), diversas apresentações desde CEUs, casas de culturas, quebradas, espaços libertários. Além das apresentações musicais, estamos engajados na luta pela sobrevivência da população periférica, e resgate da matriz africana na quebrada. Somos uns dos idealizadores do projeto “Cine Gueto”, que visa trazer o poder do questionamento aos nossos, resgate da historia negra, enfatizar que podemos produzir, e reproduzir cultura sem precisar esperar pelo Estado. A partir desse projeto foi criado o Coletivo Dona Maria Antifascista, que tem o propósito de difundir a cultura subversiva, através de ações voltada contra o extermínio da população negra e pobre, machismo, gênero, racismo, etc; pois, não adianta fazer todo um questionamento se não estamos realizando nada pra mudar nosso espaço, nossas favelas!

Spqvcnaove - Nessa caminhada no Rap, tem como vocês citarem mais sobre as fases do grupo? Se a perspectiva de hoje era a mesma de ontem? E o que vocês diriam do futuro?

U.C: Do inicio até os dias atuais foi aprendizagem, tanto na questão pessoal quanto na questão musical, todo esse ciclo deixa uma única certeza, a resistência e luta define nosso Time. A perspectiva do grupo continua a mesma, utilizar o rap como ferramenta de construção da mudança para periferia, mostrando que a voz das estática nunca serão silenciadas, como diz Marighela “Há os que têm vocação para escravo, mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.”(Rondó da Liberdade). O futuro é apenas somatório do passado, com a construção no presente, estamos para lançar nosso primeiro cd chamado “Made in Brazil”, estaremos produzindo a partir desse trabalho físico, Clipes, DVD e já temos projetos musicais a serem feitos, e a guerra continua seja na militância e na musical; pelo gueto para o gueto !

Spqvcnaove - O álbum "Made in Brazil" tem previsão de lançamento? O que podemos esperar desse trampo?


U.CComo foi dito inicialmente, será lançado via web e o lançamento físico estamos fazendo o planejamento de como por o trampo na rua para facilitar a compra do mesmo, promoções em algumas rádios do gênero, estamos estudando ainda. O que esperar desse trampo mano muita resistência, vivência e postura de rua.

Spqvcnaove - Como vocês avaliam o movimento hip hop na atualidade?

U.CMano pra avaliar aqui em termo nacional eu consigo ver uma transição de gerações onde podemos ver, por exemplo, o ilustre Nelson triunfo, um personagem histórico do movimento hip hop, há anos vem divulgando o hip hop, teve grande participação na abertura da casa de hip hop de diadema, local que realiza trabalho com as crianças/adolescentes onde os participantes dessas oficinas têm contato com todos os quatros elementos do hip hop. Mas agora na atualidade vejo um cenário inverso os elementos separados, cada um por si só vejo evento grande com o MC e o DJ, perdendo toda a essência e significado do movimento, esse ano participamos de um evento (mês do hip hop 2015) que contemplou e contextualizou o movimento em seus todos os elementos, evento esse que foi
construído todas as discussões no tema Genocídio da População Negra, Pobre e Periférica um dos maiores problemas das periferias brasileiras e mundiais; pra sintetizar: analisamos que o movimento está distante, que a preocupação de uma parcela não é a construção e difusão da cultura hip hop, motivo a capitalização “dos nossos” e os distanciamento dos movimentos negros do rap, após os “90”; e entenda tem muitos pelo movimento, pelo gueto só não tem a mesma visibilidade!

Spqvcnaove - Vocês acreditam que o Rap pode “resgatar” vidas?



U.CSim, com certeza. Temos diversos casos bem conhecidos de pessoas no rap nacional e internacional que cresceram ao lado da criminalidade (ou eram do crime) que ao colidir com o rap mudaram totalmente sua postura perante individuo, sociedade.

Spqvcnaove - Pra vocês cantar Rap é uma ação mais artística ou mais política?


U.CJá que não temos partido, não carregamos bandeira e não somos patriotas; cantar é uma ato político sim, você mostra que aos governantes que o estado/pais está ruim, que a política governamental é voltada apenas ao burguês, e você faz uma “outra campanha”, dando visibilidade a quem não tem foco, colocando o dedo na ferida e dialogando direto com seu povo!

Spqvcnaove Deixa um salve ae pros leitores.

U.CSalve quebradas, família Única Chance deixou um abraço de coração a todos e nunca desistam dos seus sonhos, somos do tamanho deles!!!

Página Única Chance no Facebook
https://www.facebook.com/unicachanceuc?fref=ts

Sound Cloud:
https://soundcloud.com/unicachance


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Entrevista com a MC Simony

"Totalmente contra a redução (da idade penal)! Querem negociar a vida dos nossos meninos e meninas, e isto é inegociável."

Confira a Música:
Mc Simony - Não Pago Simpatia
https://soundcloud.com/rapperpirata/simoni-nao-pago-simpatia
Facebook: https://www.facebook.com/simony.marques.50





Entrevista

Spqvcnaove - Quem é a Mc Simony?
SIMONY - A Mc Simony é uma mulher comum, mãe, rapper, e articuladora de alguns projetos.

Spqvcnaove - Como surgiu o Rap na sua vida? Desde quando atua como Mc?
SIMONY - O rap na minha vida surgiu desde muito nova nas festas de rap que existiam nas ruas da minha quebrada, Jd Guarani vila Brasilândia. Minha mãe me levava pra igreja eu chegava e corria pro rap, rs. Então me identificava com as letras porque falava da realidade que eu fazia parte. Já escrevia algumas coisas, mas aos 16 anos compus a minha primeira letra falando da realidade de uma adolescente na periferia, dali comecei a me apresentar nas quermesses do meu bairro sempre com o pensamento de passar a mensagem pra fortalecer assim como daquelas festas que eu ia e sempre a mensagem me fortalecia.

Spqvcnaove - Já fez ou faz parte de algum grupo de Rap?

SIMONY - Sim, já fiz. Participei do grupo Hulda, começamos como um projeto de hip hop e formamos o grupo de rap Hulda, fiquei na formação por três anos e foi muito loko.

Spqvcnaove - Por que cantar Rap?
SIMONY - O rap pra mim é a força das palavras transformada em canção, uma forma de luta uma cultura que é muito foda, que conta nossa história como realmente é. Sempre quando me perguntam isso faço questão de responder: "não escolhi o rap, mas ele me acolheu". Eu ouvia minha realidade nas letras de rap que ouvia.

Spqvcnaove - Como você vê o movimento Hip Hop na atualidade?
SIMONY - O movimento Hip Hop é forte um movimento das ruas, que unido tem uma missão pesada, porém acho que atualmente o movimento tem se dividido, e é ruim porque acredito que juntos somos mais fortes, os elementos do hip hop ainda continuam salvando muitas vidas, mas sempre vou preferir acreditar que juntos somos mais fortes, não tem preço ver os 4 elementos um fortalecendo o outro. Foda!

Spqvcnaove - Quais são suas influências musicais? O que te inspira a compor?
SIMONY - Minhas influências... sempre ouvi de tudo, lá em casa desde sempre meu pai ouvia Elis Regina, Clara Nunes, Michael Jackson, muito samba raiz, e sempre fui apaixonada por todos esses sons também, gosto desde Lauren Hill a James brown, de Dina Di ao fundo de quintal, ouço de tudo. Gosto de musica.

Spqvcnaove - Você tá trabalhando algum álbum? Poderia adiantar algo sobre?
SIMONY - Atualmente acabei de lançar a música do meu novo trampo solo. A musica "NÃO PAGO SIMPATIA", e agora estou pra lançar o clip da musica e trabalhando em um E.P com 4 musicas pra apresentar essa nova fase. Que vai se chamar "Recomeço".

Spqvcnaove - Quais projetos você participa?
SIMONY - O projeto que mais tenho atuado e me dedicado hoje é o projeto Oz guarani, onde realizo trabalhos com o hip hop junto com os adolescentes e as adolescentes da aldeia tekoa pyau. O hip hop é visto por eles como mais uma arma de luta, o que faço é simplesmente fortalecer isso.


Spqvcnaove - Você está próxima de grupos indígenas, o que você desenvolve com el@s? E quais são os mitos criados sobre a questão indígena?
SIMONY - Existem varias questões quando se trata dos grupos indígenas, só que estes grupos não são totalmente nativos tendo que se adaptar a algumas coisas por questões de sobrevivência, acaba sofrendo preconceito dentro do próprio bairro por serem indígenas. Isso acaba mexendo muito com a autoestima dos adolescentes meninos e meninas, que não se sentem parte dali, mas que também não podem hoje viver plenamente sua cultura. São articulados e suas lideranças é lição pra todos nós, porém precisamos unir forças pra lutar em prol dos nossos irmãos indígenas e o hip hop tem tido esse papel hoje dentro das aldeias. O hip hop é considerado por eles como mais uma arma de luta para que suas causas sejam ouvidas.


Spqvcnaove - Em março de 2015 tivemos no município de São Paulo o maior evento de Hip Hop no Brasil, O Mês do Hip Hop. Março esteve tomada pelo Hip Hop, um feito enorme pautado pelo próprio Hip Hop, qual a sensação de ter participado desse momento histórico?
SIMONY - Bom!! Saber que o hip hop uniu forças e conquistou uma parada assim já é muito gratificante, ver artistas de todas as zonas construindo juntos e realizando é muito loko, as discussões pautadas sobre o genocídio nos CEUs, oficinas, ver a semana de hip hop virar mês e ver que podemos mais, este ano poder participar desse bang não só como espectadora, mas como atuante, foi sem palavras!!!

Spqvcnaove - Qual é sua avaliação sobre o protagonismo das mulheres no Hip Hop?
SIMONY - O protagonismo da mulher no hip hop, estamos aí temos nosso espaço, o que precisamos é ocupa-lo, claro que tem muito ainda a se conquistar, mas como mulher hoje vejo caminhos pra gente buscar se unir e juntas fortalecer umas as outras, e continuar lutando para que a mulher não seja silenciada. A cena da mulher no rap e em todo hip hop está pesada, mas temos muito ainda pra buscar. 

Spqvcnaove - Quais são as maiores dificuldades enfrentadas numa sociedade machista?
SIMONY - A dificuldade é desde quando nascemos que querem nos transformar em boneca de porcelana, frágil e indefesa que precisaremos casar e construir família, isso ai já é pesado porque causa aquela falsa sensação que o sucesso da mulher só será conquistado estando nestes padrões. O tempo todo agressão as mulheres são normalizadas por uma sociedade que acha que mulher apanha porque gosta, e isso não é verdade!! Muitas são as coisas que passam uma mulher desde o abuso do olhar do cara pra sua bunda até a culpa de ser a responsável por ter sido estuprada, agredida e até mesmo morta. Isso precisa mudar!!!

Spqvcnaove - Os setores mais conservadores da sociedade apoiam a redução da maioridade penal, você acredita que é esse o caminho?
SIMONY - Jamais! Totalmente contra a redução, querem negociar a vida dos nossos meninos e meninas, e isto é inegociável. Acho extremamente importante, o movimento hip hop pautar sim a questão das mortes, alem da cultura a realidade é pesada demais e infelizmente se não for nós por nós quem esperamos que vá falar discutir por nós? Infelizmente não dá pra pensar só em shows e palcos enquanto as ruas são lavadas de sangue dos nossos pelas balas do estado genocida!

Spqvcnaove - Por que a morte do boy comove mais?
SIMONY - A morte do boy comove mais porque ele é boy. Porque normalizam a morte e o extermino de quem é da favela, acham que só uma classe tem direito de viver, e não é a nossa. Neguinho de favela pros coxinha sempre será suspeito, sempre!

Spqvcnaove - Você acredita em dias melhores para a população preta e para a população indígena?
SIMONY - Acredito que a conscientização e problematizcao das causas é um avanço, mas que de fato as forças precisam se unir, porque a única força que a gente vê de fato acontecer é a mão do Estado matando a rodo, a discriminação, o preconceito, o racismo ainda é muito forte, mas não passarão!!

Spqvcnaove - Pra finalizar, deixe um salve pra geral!
SIMONY - Agradeço o espaço, por a gente estar trocando essas ideias, e que possamos nos unir cada vez mais manos e manas nas lutas, no hip hop e na caminhada. Muita Luz pra tod@s!!!


Spqvcnaove - Valeu Simony, sucesso na luta!

sexta-feira, 3 de abril de 2015

PRETA - Poema

Preta

Preta é Razão
é o temor do feitor que se alimenta da opressão.
Preta é Divino
é pecado para o que lhe nega a humanidade, cristianismo.
Preta é Amor
como algo utópico, subversivo para a moral do homem branco.

A Razão é Preta
quem provou foi o Ocidente, o racista, burguês, escravagista e iluminista.
A Divindade é Preta
Obriga, Paulo de Tarso inventa. Agostinho aprofunda. É Tomás de Aquino que enxerta na bíblia a filosofia que o grego bola na África até que venha a Contra-Reforma abraçar a sanha capitalista que odeia pele preta.
Amar
é rompimento com o imposto que vem lhe apresentar quem é você, Preta! Chega a hora de dizer que é preta a história do ser.

(Miguel Angelo)