sábado, 30 de junho de 2018

O Experimento Tuskegee - (Cobaias - Filme)

O Experimento Tuskegee 
Estudo da Sífilis não Tratada de Tuskegee 

 "De 1932 a 1972 o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos da América realizou uma pesquisa, cujo projeto escrito nunca foi localizado, que envolveu 600 homens negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, da cidade de Macon, no estado do Alabama. O objetivo do Estudo Tuskegee, nome do centro de saúde onde foi realizado, era observar a evolução da doença, livre de tratamento. Vale relembrar que em 1929, já havia sido publicado um estudo, realizado na Noruega, a partir de dados históricos, relatando mais de 2000 casos de sífilis não tratado. 

 Não foi dito aos participantes do estudo de Tuskegee que eles tinham sífilis, nem dos efeitos desta patologia. O diagnóstico dado era de �sangue ruim�. Esta denominação era a mesma utilizada pelos Eugenistas norte-americanos, no final da década de 1920, para justificar a esterilização de pessoas portadoras de deficiências. 

A contrapartida pela participação no projeto era o acompanhamento médico, uma refeição quente no dia dos exames e o pagamento das despesas com o funeral. Durante o projeto foram dados, também, alguns prêmios em dinheiro pela participação. A inadequação inicial do estudo não foi a de não tratar, pois não havia uma terapêutica comprovada para sífilis naquela época. A inadequação foi omitir o diagnóstico conhecido e o prognóstico esperado. 

A partir da década de 50 já havia terapêutica estabelecida para o tratamento de sífilis, mesmo assim, todos os indivíduos incluídos no estudo foram mantidos sem tratamento. Todas as instituições de saúde dos EEUU receberam uma lista com o nome dos participantes com o objetivo de evitar que qualquer um deles, mesmo em outra localidade recebesse tratamento. A inadequação do estudo foi seguindo o padrão conhecido como "slippery slope", isto é, uma inadequação leva a outra e o problema vai se agravando de forma crescente. Da omissão do diagnóstico se evoluiu para o não tratamento, e deste para o impedimento de qualquer possibilidade de ajuda aos participantes..


 

terça-feira, 19 de junho de 2018

Mulherismo Africana: Uma Visão Geral - Clenora Hudson-Weems

Mulherismo Africana*: Uma Visão Geral - Clenora Hudson-Weems
* (N.T) Africana é utilizada pela autora para homens e mulheres no plural e também para povo. Mantive a maioria de seu uso como Africana e não africanos ou africanas.


Na experiência americana, o movimento feminista efetivamente deslocou a unidade dos pretos, seja no contexto do movimento abolicionista, do movimento de direito ao voto ou do movimento pelos direitos civis. E assim ficamos à toa e deixamos que os brancos transformem Harriet Tubman e Rosa Parks em adeptas do feminismo branco em oposição a defensoras da raça.
-Iva E. Carruthers

O surgimento do feminismo preto na década de 1970, um desdobramento do feminismo branco, testemunhou a reação de muitas mulheres pretas que não adotaram prontamente o conceito de feminismo por uma série de razões, apesar de sua legitimidade na academia e do desejo de muitas em ser uma parte legítima da comunidade acadêmica. Com certeza, adotar uma metodologia teórica aceitável e estabelecida - o feminismo - é um dos meios mais confiáveis e estratégicos de garantir a adesão àquele poderoso grupo, comunidade visível de mulheres acadêmicas que se estende muito além de si mesma e assegura para as suas adeptas não apenas as possibilidades de trabalho e publicações, mas também de prestígio e de alta visibilidade. Enquanto algumas mulheres pretas adotaram ingenuamente o feminismo, devido à ausência de um quadro alternativo e adequado para suas necessidades individuais como mulheres Africana, muitas estão reavaliando as realidades históricas e a agenda do movimento feminista moderno, e se mantiveram corajosamente em sua rejeição total. Para muitas na academia que o rejeitam e que vão além criando paradigmas alternativos, elas experimentam tentativas mal sucedidas de silenciá-las via ostracismo e exclusão do círculo acadêmico tanto pelas publicações, (incluindo não ser referenciada por outras estudiosas) e/ou diálogo (incluindo não ser convidada para participar de algumas de suas conferências, a fim de articular ainda outra interpretação de nossa luta como não feministas). Ainda, com demasiada frequência, partes de seus paradigmas foram retiradas de sua construção teórica, apropriadas e reformuladas em uma forma revisada de feminismo preto por aquelas estabelecidas no campo. Seja como for, a citação acima de Iva E. Canruthers é apenas uma dessas rejeições ao feminismo e, por extensão, ao feminismo preto, que ainda hoje reina como uma questão muito controversa, tanto dentro como fora da academia, particularmente no que se refere ao papel da mulher Africana no contexto do movimento feminista moderno. Julia Hare, notável psicóloga preta, expressou sua rejeição ao feminismo cerca de treze anos depois em Black Issues in Higher Education/ Questões Pretas no Ensino Superior (1993):

As mulheres que se dizem feministas pretas precisam de outra palavra que descreva quais são suas preocupações. O feminismo preto não é uma palavra que descreve a situação das mulheres pretas. A raça branca tem um problema de mulher porque as mulheres eram oprimidas. O povo preto tem um problema de homem e mulher porque os homens pretos são tão oprimidos quanto suas mulheres. [1]

Obviamente, Hare não estava ciente do fato de que outra palavra já havia sido apresentada na arena pública em vários artigos sobre o paradigma do Mulherismo Preto/Mulherismo Africana que apresentei em conferências nacionais, como o Conselho Nacional de Estudos Pretos em março de 1986 e 1988, a Associação de Estudos do Patrimônio Africano em 1988, assim como a Associação de Estudos de Mulheres de 1987 e 1988. Essas apresentações públicas culminaram em meu artigo de 1989, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia: Critical Issues in Africana Women's Studies," que mais tarde foi reimpresso como o segundo capítulo do Africana Womanism: Reclaiming Ourselves (1993).

Porque o empoderamento feminino, o próprio alicerce sobre o qual se baseia a agenda feminista/feminista preta, é a prioridade número um em vez do empoderamento racial, nossa maior preocupação desde a nossa migração involuntária da África para os Estados Unidos no início do século XVII, a maioria das mulheres Africana não se considera feminista. Ao invés de um enfoque centralizado na família dado pela mulherista Africana, essa centralização feminina do feminismo, que informa a ordenação das questões que giram em torno da centralidade e exclusividade da feminilidade, apresenta sérios problemas para a mulher Africana. Bettina Aptheker, uma feminista branca; também vê a prioridade feminista como impraticável para a mulher preta:

Quando colocamos as mulheres no centro de nosso pensamento, estamos tratando de criar uma matriz histórica e cultural da qual as mulheres possam reivindicar autonomia e independência sobre suas próprias vidas. Para as mulheres de cor, essa autonomia não pode ser alcançada em condições de opressão racial e genocídio cultural. Em suma, "feminista", no sentido moderno, significa o empoderamento das mulheres. Para as mulheres de cor, tal igualdade, tal empoderamento, não pode ocorrer a menos que as comunidades em que vivem possam estabelecer com sucesso sua própria integridade racial e cultural. [2]

Ela, da mesma maneira que a mulherista africana, vê a importância de priorizar o fator racial para a mulher preta como um pré-requisito para lidar com a questão de gênero. Isso não quer dizer que questões de gênero não sejam importantes, pois as questões de gênero são preocupações reais para todas as mulheres, inclusive mulheres africanas, pois ainda estamos operando dentro de um sistema patriarcal e, portanto, devemos confrontar essa questão de frente. No entanto, atacar os preconceitos de gênero não se traduz em obrigar a identificação ou a dependência do feminismo como o único meio viável de abordagem. Certamente, a feminista não tem exclusividade em questões de gênero. Assim, de acordo com a socióloga Vivian Gordon em Black Women, Feminism, and Black Liberation: Which Way (Mulheres Pretas, Feminismo e Liberação Preta: Qual caminho):

Abordar as questões das mulheres, portanto, não é apenas abordar as necessidades cruciais das mulheres pretas, mas também abordar a primazia histórica da comunidade africana e afro-americana; isto é, a primazia de seus filhos e sua preparação para as responsabilidades e privilégios da pessoa madura. [3]

A abordagem de Gordon ao lidar com as questões das mulheres é trazer à luz a realidade histórica do povo Africana e a centralidade da família para a segurança das gerações futuras. Delores Aldridge, outra socióloga preta, dá um passo adiante em seu Focusing: Black Male-Female Relationships, alegando que o descarrilamento da nossa luta baseada na raça por uma luta baseada em gênero traz sérias consequências. Pode-se argumentar que a libertação das mulheres - tal como está presentemente definida e implementada - tem um impacto negativo no movimento de libertação dos pretos... a libertação das mulheres opera dentro da tradição capitalista e aceita os objetivos finais dos homens brancos sexistas. [4]

Certamente, Aldridge compreende bem a perspectiva da qual a feminista vem. Em "Cultural and Agenda Conflicts in Academia" (Conflitos Culturais e de Agenda na Academia), Hudson-Weems descreve sucintamente como "o feminismo dominante é a cooptação das mulheres nos valores patriarcais tradicionais". A questão chave em todas essas quatro teóricas, três pretas e uma branca, não é a exclusão das questões de gênero, mas sim uma maneira Mulherista Africana de abordá-las. Outras características-chave do Mulherismo Africana, juntamente com o enfoque na família, tal como definido no capítulo 4 do Africana Womanism, são autonomear-se e autodefinir-se, irmandade genuína, forte, em conjunto com o homem na luta, atuante integral, autêntica e flexível, respeitada, reconhecida, espiritual, compatível com o sexo masculino, respeitosa com os mais velhos, adaptável, ambiciosa, maternal e nutridora.

Outra forma de feminismo, o feminismo africano, também é questionável, unicamente por causa de sua nomeação imprópria. Um olhar mais atento ao conceito revelará que sua agenda é mais parecida com o Mulherismo Africana do que com o feminismo. Assim, a precisão de Filomina Chioma Steady em sua avaliação perspicaz da luta e realidade das mulheres africanas em The Black Woman Cross-Culturally é problemática, pois se pressupõe antes mesmo de ela explicar o conceito de feminismo africano de que é uma extensão do feminismo. Inquestionavelmente, quando alguém "compra a terminologia branca, ela também compra sua agenda”. [6] Embora Steady não consiga se nomear adequadamente; ela demonstra um senso de prioridades no texto citado, que está claramente alinhado com o sentido de priorizar as questões raciais inerentes ao mulherismo Africana:

Independentemente da posição, as implicações do movimento feminista para a mulher preta são complexas… Vários fatores separam a mulher preta como tendo uma ordem diferente de prioridades. Ela é oprimida não simplesmente por causa de seu sexo, mas ostensivamente por causa de sua raça e, para a maioria, essencialmente por causa de sua classe. As mulheres pertencem a diferentes grupos socioeconômicos e não representam uma categoria universal. Como a maioria das mulheres pretas está em situação de pobreza, é provável que haja alguma alienação do aspecto de classe média do movimento de mulheres, que entende o feminismo como um ataque aos homens e não como um sistema que prospera na desigualdade. [7]

Em "Feminismo Africano: uma perspectiva mundial", de Mulheres em África e da diáspora africana, ela ainda afirma que para a maioria das mulheres pretas a pobreza é um modo de vida. Para a maioria das mulheres pretas, o racismo também tem sido o obstáculo mais considerável na aquisição das necessidades básicas de sobrevivência. Através da manipulação do racismo, as instituições econômicas mundiais produziram uma situação que afeta negativamente as pessoas pretas, particularmente as mulheres pretas. O que temos, então, não é uma simples questão de sexo ou diferenças de classe, mas uma situação que por causa do fator racial é moldada em caráter tanto em escala nacional quanto global. [8]

Aparentemente, nem os termos feminismo preto e feminismo africano são suficientes para rotular essas mulheres de realidades complexas, particularmente porque ambos os termos, através de seus próprios nomes, se alinham com o feminismo. Além disso, na cosmologia africana, a nomeação adequada, nommo, diz tudo que é essencial à existência, o que torna ainda mais difícil aceitar um nome impróprio para si mesma. A verdadeira história do feminismo, suas origens e suas participantes, revela um pano de fundo racista bastante descarado. O feminismo e o movimento de sufrágio da mulher tiveram seu início com um grupo de mulheres brancas liberais, que estavam preocupadas em abolir a escravidão e conceder direitos iguais para todas as pessoas, independentemente de raça, classe e sexo. No entanto, a Décima Quinta Emenda da Constituição dos Estados Unidos foi ratificada em 1870, concedendo direitos de voto aos homens Africana, enquanto esse privilégio para as mulheres, em particular as brancas, não foi abordado. As mulheres brancas de classe média ficaram desapontadas, tendo assumido que a sua benevolência para assegurar uma cidadania plena aos africanos acabaria por beneficiá-las também. Sua resposta foi uma reação racista à emenda e aos africanos. Assim, um movimento organizado entre mulheres brancas da década de 1880 mudou o pêndulo de uma postura liberal para uma radicalmente conservadora da sua parte.

A Associação Americana Nacional para o Sufrágio das Mulheres (NAWSA em inglês) foi fundada em 1890 por mulheres brancas do norte, mas "as mulheres do sul também foram vigorosamente cortejadas por esse grupo", sintetizando o crescente chauvinismo racial do final do século XIX. A organização, que reuniu a Associação Nacional para o Sufrágio da Mulher e a Associação Americana de Sufrágio da Mulher, afastou-se da posição de sufrágio original de Susan B. Anthony. Elas alegaram que o voto para mulheres deveria ser utilizado principalmente por mulheres brancas de classe média, que poderiam ajudar seus maridos a preservar as virtudes da república da ameaça dos biologicamente inferiores e não qualificados (homens africanos), que, com o poder do voto, poderiam ganhar uma posição política no sistema americano. Por exemplo, a firme líder conservadora sufragista Carrie Chapman Catt e outras mulheres em seu campo insistiram em fortes valores anglo-saxões e na supremacia branca. Elas queriam para e com homens brancos garantir o voto aos brancos puros, excluindo não apenas os africanos, mas também os imigrantes brancos. Os historiadores Peter Carrol e David Noble citaram Catt em The Free and the Unfree, dizendo que "há apenas uma maneira de evitar o perigo. Cortar o voto das favelas e dar para as mulheres [brancas]." Ela continuou dizendo que os homens brancos da classe média devem reconhecer "a utilidade do sufrágio feminino como contrapeso ao voto estrangeiro e como meio de preservar legalmente a supremacia branca no sul”. [10] Essas sufragistas sentiram que, como o povo Africana, os homens Africana em particular com seu novo status, eram de raça inferior, não lhes deveria ser permitido o direito de votar antes delas, o que não aconteceu até a Décima Nona Emenda de 1920. Assim, embora seja compreensível como as mulheres brancas se sentiam em relação à sua exclusão da agenda dos direitos de voto, a sua hostilidade e sentimentos racistas em relação aos africanos não podem ser negligenciados.

Embora o feminismo, uma agenda destinada a atender às necessidades e demandas das mulheres brancas, seja bastante plausível para esse grupo, colocar a história de todas as mulheres sob a história das mulheres brancas, conferindo a estas últimas a posição definitiva, é problemático. De fato, isso demonstra o supremo da arrogância e dominação racistas, sugerindo que a atividade autêntica das mulheres reside nas mulheres brancas. É, portanto, ridículo reivindicar como feministas mulheres Africana ativistas como Maria W. Stewart e Frances Watkins Harper, abolicionistas; Sojourner Truth, militante porta-voz da abolição e sufragista universal; Harriet Tubman, condutora da ferrovia subterrânea; Ida B. Wells, da cruzada anti-linchamento no inicio do século XX; e Anna Julia Cooper, que proclama em A Voz do Sul que "a causa da mulher é a causa do homem: [nós] nos elevamos ou afundamos juntos, diminuídos ou divinos, presos ou livres”. [11] Cooper é uma das mulheres pretas mais erroneamente reivindicada pelas críticas feministas pretas hoje, assim como por críticos pretos como Henry Louis Gates, que a chama de "uma prototípica feminista preta cujo livro de ensaios de 1892, A Voz do Sul, é considerado um dos textos fundadores do movimento feminista preto".[12] e Maulana Karenga, que coloca A Voz do Sul na "arena feminista/mulherista". Os critérios usados para tal prática permanecem inválidos:

Procrusteans* (procustos) rotularam erroneamente ativistas africanas... [como feministas] simplesmente porque eram mulheres. De fato, suas principais preocupações não eram de natureza feminista, mas sim um compromisso com a centralidade da luta pela liberdade africano-americana. Sua principal preocupação era a situação de ameaça à vida de todos os africanos, homens e mulheres, nas mãos de um sistema racista. Lançá-las em um modelo feminista, o que não enfatiza seu maior interesse, é na opinião desta escritora uma abominação e um insulto direto ao nível da luta delas. [13] 
*pode ser tido como metáfora critica de quem tentar impor padrões e definições na área de conhecimento.

Ao considerar as atividades raciais dessas primeiras mulheres africanas e inúmeras outras heroínas africanas desconhecidas, o que as feministas brancas fizeram na realidade foi pegar o estilo de vida e as técnicas das ativistas africanas e usá-las como modelos para enquadrar sua teoria. Elas então passam a nomeá-lo, defini-lo e legitimá-lo como o único movimento substantivo das mulheres. Assim, ao definir a feminista e sua atividade, elas estão se identificando com mulheres africanas independentes, mulheres que elas imitaram e invejaram. Essas mulheres com quem entraram em contato desde o início da escravidão americana até o movimento moderno dos Direitos Civis, com mulheres africanas ativistas dos direitos civis como Fannie Lou Hammer, Mamie Till Mobley, mãe de Emmett Louis Till e Rosa Parks, a mãe do movimento e suas consequências. Portanto, quando mulheres Africana adotam o feminismo, acrescentando-o à sua identidade como feministas pretas ou feministas africanas, elas estão na realidade duplicando a duplicata.

Mulherismo Africana, um termo que cunhei e defini em 1987 após quase dois anos debatendo publicamente a importância da autonomeação para mulheres Africana, sob a terminologia "Mulherismo Preto", uma evolução natural, é um conceito teórico concebido para todas as mulheres afrodescendentes. Seu principal objetivo... é criar critérios próprios para avaliar suas realidades, tanto em pensamento quanto em ação. [14] A primeira parte da cunhagem, Africana, identifica a origem étnica da mulher que está sendo considerada, e essa referência à sua etnia, estabelecendo sua identidade cultural, relaciona-se diretamente com sua ancestralidade e terra-base África. A segunda parte do termo, o Mulherismo, além de nos levar de volta ao rico legado da feminilidade africana, lembra o poderoso discurso improvisado de Sojourner Truth "E não sou uma mulher?", em que ela luta contra as forças alienantes dominantes em sua vida como uma mulher africana em dificuldades, questionando a ideia comum de sororidade. Mesmo que ela tenha ido a uma convenção de mulheres totalmente brancas em Akron, Ohio, em 1852, para expressar sua opinião sobre o absurdo da subjugação feminina, ela foi forçada a abordar a questão racial em primeiro lugar, como ela foi silenciada e zombada porque ela era preta, não porque ela era uma mulher, já que ela estava entre a comunidade das mulheres. Inquestionavelmente, ela era o outro lado da moeda, a parceira de sua contraparte masculina na luta por seu povo, alguém que, ao contrário da mulher branca, não recebia nenhum privilégio especial na sociedade americana. Mas há outra questão crucial que explica o uso do termo mulher(ismo). O termo "mulher" e, por extensão, "mulherismo", é muito mais apropriado do que o termo "feminino" (feminismo), já que somente uma mulher da raça humana pode ser uma mulher. "Feminino", por outro lado, pode se referir a um membro do reino animal ou vegetal, bem como a um membro da raça humana. Finalmente, na terminologia eletrônica e mecânica, há um contrapeso feminino ao correlativo masculino. Assim, a terminologia derivada da palavra "mulher" é mais adequada e mais específica ao nomear um grupo da raça humana.

O Mulherismo Africana não deve ser confundido com o Mulherismo de Alice Walker como apresentado em sua coleção de ensaios, In Search of Our Mothers' Gardens (Em Busca dos Jardins das Nossas Mães). Segundo ela, uma mulher é:

Uma feminista preta ou feminista de cor. . . que ama outras mulheres, sexualmente e/ou não sexualmente. Aprecia e prefere a cultura das mulheres. . . [e que] às vezes ama homens individuais, sexualmente e/ou não sexualmente. Comprometida com a sobrevivência e integridade total das pessoas, homens e mulheres.. . . Mulherista é para feminista como roxo para lavanda. [15]

As declarações de abertura e fechamento aqui estabelecem firmemente o conceito da autora sobre a afinidade entre a feminista, a mulherista e a feminista preta.

Há algumas mulheres brancas que reconhecem que o movimento feminista não foi projetado com a mulher Africana em mente. A feminista branca Catherine Clinton, por exemplo, afirma que "o feminismo atraiu principalmente as mulheres brancas educadas e de classe média, em vez das mulheres pretas e brancas da classe trabalhadora”. [16] Além disso, Steady, em seu artigo intitulado "Feminismo Africano: uma perspectiva mundial", que aparece em Mulheres em África e da Diáspora Africana, admite que:

Várias escolas de pensamento, perspectivas e propensões ideológicas influenciaram o estudo do feminismo. Poucos estudos trataram da questão do racismo, já que a voz dominante do movimento feminista tem sido a da mulher branca. A questão do racismo pode se tornar ameaçadora, pois identifica as feministas brancas como possíveis participantes na opressão dos pretos. [17]

Com estas questões pairando sobre o domínio do feminismo, a comunidade Africana, em geral, concordou que o movimento feminista é o movimento da mulher branca por duas razões. Primeiro, a mulher Africana não vê sua contraparte masculina como principal inimigo como a feminista branca, que está realizando uma antiga batalha com sua contraparte por subjugá-la como propriedade. De acordo com a primeira dramaturga da Nigéria, Dra. Zulu SofoIa:

Não é [o sistema de gênero duplo entre homens e mulheres africanos] uma batalha em que a mulher luta para conquistar um pouco do poder dos homens, o que consequentemente colocou em movimento um conflito perpétuo de gênero que agora envenenou a antiga ordem social saudável da África tradicional. [18]

Essa igualdade existe porque na cosmologia africana, afirma Sofola, a mulher na criação é igual aos seus homólogos masculinos, o que não é o caso da cosmologia europeia, que sustenta que a mulher é um apêndice (costela) do homem. Além disso, contrariamente à necessidade das feministas brancas de serem iguais aos homens como seres humanos, as mulheres pretas sempre foram iguais às suas contrapartes masculinas, apesar das tentativas de alguns homens africanos de subjugá-las em alguns níveis. De acordo com Ângela Davis em Mulheres, Raça e Classe:

O tema que emerge da vida doméstica nos bairros de escravos [senzalas americanas] é o da igualdade sexual. O trabalho que as escravas e os escravos realizavam por si mesmos e não pelo engrandecimento de seus senhores era realizado em termos de igualdade. Dentro dos limites de sua vida familiar e comunitária, portanto, os pretos transformaram a igualdade negativa que emanava da opressão igual que sofriam como escravos em uma qualidade positiva: o igualitarismo caracterizando suas relações sociais. [19]

Além disso, durante a escravidão americana, as mulheres africanas eram tão severamente tratadas, física e mentalmente, como eram os seus homólogos masculinos, invalidando assim o alinhamento das mulheres africanas e das mulheres brancas como iguais na luta. De fato, as intermináveis tarefas da mulher africana a aguardavam dentro e fora de casa. Homens e mulheres Africana têm sido parceiros iguais na luta contra a opressão desde o início. Assim, eles não podiam pagar a divisão com base no sexo. É sabido que em algumas sociedades tradicionais a dominação masculina era uma característica; mas na experiência de escravos afro-americanos, os homens e as mulheres Africana eram vistos da mesma forma pelos proprietários de escravos, negando assim as noções tradicionais (africanas e europeias) de papéis masculinos ou femininos.

Hoje, as mulheres Africana devem insistir que são parceiras iguais em um relacionamento em que a submissão feminina passiva não era e nem é a norma em sua comunidade. De acordo com Morrison em "What the Black Woman Thinks about Women's Lib" (O que a mulher preta pensa sobre as mulheres Lib (abreviação liberais/ libertação)): por anos as mulheres pretas aceitaram essa raiva, até consideraram essa aceitação como um dever desagradável. Mas ao fazê-la elas frequentemente retrocederam, e elas parecem nunca ter se tornado as verdadeiras escravas que as mulheres brancas veem em sua própria história. [20]

De fato, as mulheres africanas não tiveram a sensação de impotência de que as mulheres brancas falam; nem foram silenciadas ou tornadas sem voz pelos seus homólogos masculinos, como é a experiência expressa das mulheres brancas. Os rótulos "matriarca preta", "safira" e "dominadora" acrescentados à mulher africana para descrever sua personalidade e caráter contradizem claramente a noção de que a mulher africana não tem voz. Além disso, ao contrário da mulher branca, a mulher africana não foi privilegiada nem colocada em um pedestal de proteção e apoio.

Há também a questão de classe na experiência da mulher Africana, que anda de mãos dadas com a questão da raça. Em uma perspectiva histórica, a escravidão era sinônimo de pobreza. Quando se examina a origem do racismo americano, percebe-se que foi uma atitude construída para autorizar a exploração pela cultura dominante a adquirir uma exploração econômica e laboral livre ou barata, argumentando a inferioridade racial como uma justificativa para a escravidão. Portanto, o racismo e o classismo são inextricáveis. Deve-se notar, no entanto, que o racismo se tornou um monstro maior do que o classismo para o povo preto, mesmo que o último seja o pai do primeiro. Segundo Steady:
a questão da opressão das mulheres pretas e do racismo é parte da "questão de classe", mas há o perigo de classificar a contínua opressão da mulher preta à classe e somente à classe. Pois mesmo dentro da mesma classe existem grupos que são mais oprimidos do que outros. É provável que os pretos experimentem dificuldades e discriminação de forma mais severa e consistente do que os brancos, por causa do racismo. [21]

Desde o início, ficou patente que as mulheres Africana, em particular, devem continuar a preocupar-se em dar prioridade aos obstáculos desta sociedade: a falta de igualdade de acesso a oportunidades de carreira, tratamento justo de seus filhos e igualdade de emprego para seus pares do sexo masculino. Muito antes de a questão de gênero e classe vir à tona na crítica literária contemporânea e nas construções teóricas, posições e decisões foram tomadas sobre as opções disponíveis para a mulher Africana com base em sua raça. Assim, foi e permanece evidente que a mulher Africana deve primeiro combater a batalha do racismo.

Os homens Africana nunca tiveram o mesmo poder institucionalizado para oprimir as mulheres Africana, como os homens brancos tiveram para oprimir as mulheres brancas. De acordo com o sociólogo Africana Clyde Franklin II, "os homens pretos são relativamente impotentes neste país, e suas tentativas de dominação, agressão e afins, enquanto sacrificam a humanidade, são ridículas". [22]

Joyce Ladner, outra socióloga Africana, articula de forma sucinta a dinâmica da relação entre homens e mulheres Africana e não vê o primeiro como inimigo da segunda no Tomorrow's Tomorrow. "As mulheres pretas não concebem os homens pretos como seus inimigos, mas, ao contrário, o inimigo é considerado forças opressoras na ampla sociedade que subjuga homens, mulheres e crianças pretas”. [23]

Como as mulheres africanas nunca foram consideradas propriedade de suas contrapartes masculinas, mulheres e homens africanos descartam a primazia das questões de gênero em sua realidade e, assim, descartam o movimento feminista como uma estrutura viável para suas principais preocupações.

Em segundo lugar, as mulheres africanas rejeitam o movimento feminista por causa de sua apreensão e desconfiança em organizações brancas. De fato, grupos brancos organizados em geral, como o Partido Comunista e a Organização Nacional para a Mulher (N.O.W. em inglês), nunca foram capazes de galvanizar a maioria dos africanos. No geral, os africanos são pessoas de base que dependem do apoio e confiança de suas comunidades e que, com base em casos históricos de traição, são necessariamente suspeitos de organizações fundadas, operadas e controladas por brancos. Em geral, ao contrário dos membros da cultura dominante, os africanos não são focados em questões exclusivas. Em vez disso, se concentram em coisas tangíveis que podem oferecer uma melhoria ou saída da opressão, que são de extrema importância para a sobrevivência na comunidade Africana.

Embora as mulheres Africana tenham, de fato, algumas preocupações legítimas com relação aos homens Africana, essas preocupações devem ser abordadas dentro do contexto da cultura africana. Os problemas não devem ser resolvidos usando uma estrutura estrangeira, isto é, feminismo, mas devem ser resolvidos a partir de uma construção teórica endêmica do Mulherismo Africana. De fato, não podemos nos dar ao luxo de sermos consumidos por questões de gênero; pois uma das principais tensões entre homens e mulheres Africana nos Estados Unidos envolve emprego e oportunidades econômicas. Não é uma questão de mais empregos para mulheres Africana versus mais empregos para homens Africana, uma situação que frequentemente promove a competição de gênero. Pelo contrário, é uma questão de mais empregos para os africanos em geral. Esses empregos são gerados principalmente por pessoas brancas e a maioria dos africanos depende de outras fontes além daquelas fornecidas pelo povo Africana. O verdadeiro desafio para homens e mulheres Africana é como criar mais oportunidades econômicas dentro das comunidades Africana. Muitas pessoas falam sobre a necessidade de maior fortalecimento econômico entre africanos. Se o nosso verdadeiro objetivo na vida for alcançado - isto é, a sobrevivência de toda a nossa raça como uma preocupação primária para as mulheres Africana - terá que vir de homens e mulheres Africana trabalhando juntos. Se os homens e mulheres Africana estão lutando entre si dentro da comunidade, eles estão fundamentalmente se derrotando em todas as frentes.

Um paradigma supremo da necessidade das mulheres Africana priorizarem a luta pela dignidade e paridade humana é apresentado pela ativista sul-africana Ruth Mompati. Em suas histórias de rasgar o coração sobre atrocidades raciais inimagináveis acumuladas sobre crianças inocentes, bem como sobre os homens e mulheres, Mompati afirma o seguinte:

A mulher sul-africana, confrontada com a situação acima, encontra a ordem de suas prioridades em sua luta pela dignidade humana e seus direitos como mulher ditada pela luta política geral de seu povo como um todo. A libertação nacional do preto sul-africano é um pré-requisito para sua própria libertação e emancipação como mulher e trabalhadora. O processo de luta pela libertação nacional tem sido acompanhado pela politização de homens e mulheres. Isso impediu que a luta das mulheres se degenerasse em uma luta sexista que separaria a posição das mulheres no desenvolvimento político, social e econômico da sociedade como um todo. [24]

Das mulheres sul-africanas que, juntamente com os seus homens, buscam libertar o seu país, surge um apelo aos amigos e apoiantes para que levantem as suas vozes ao interesse delas. [25]

No geral, "a discriminação humana transcende a discriminação sexual... os custos do sofrimento humano são altos quando comparados a um componente, obstáculo sexual”. [26] Além disso, de acordo com Steady em The Black Woman Cross-Culturally, para a mulher preta em uma sociedade racista, os fatores raciais, e não os sexuais, operam de forma mais consistente para torná-la um alvo de discriminação e marginalização. Isso se torna aparente quando a "família" é vista como uma unidade de análise. Independentemente do acesso diferenciado a recursos por homens e mulheres, homens e mulheres brancos, como membros de grupos familiares, compartilham uma quantidade proporcionalmente maior dos recursos da terra do que os homens e mulheres pretas. Existe uma grande diferença entre discriminação por privilégio e proteção, e discriminação por privação e exclusão. [27]

A avaliação de Steady fala diretamente sobre a fonte de discriminação que as mulheres Africana sofrem nas mãos de um sistema racista. Há a opressão da mulher sul-africana que deve servir como empregada doméstica e enfermeira para a família branca com salário mínimo, a mulher caribenha em Londres que é a secretária ignorada, e a trabalhadora senegalesa ou africana na França que é desprezada e indesejada. Há a agricultora de subsistência nigeriana, como a mulher ibo em Enugu e Nsukka, que cultiva todos os dias salários mínimos, e a operária brasileira que é a mais baixa do totem. Claramente, os problemas dessas mulheres não são infligidos a elas apenas porque são mulheres. Elas são vitimadas em primeiro lugar e principalmente porque são pretas; Depois, elas são vítimas porque são mulheres que vivem em uma sociedade dominada por homens.

Os problemas das mulheres Africana, incluindo a brutalidade física, o assédio sexual e a subjugação das mulheres em geral perpetradas dentro e fora da raça, em última análise, têm que ser resolvidos em uma base coletiva dentro das comunidades africanas. O povo africano deve eliminar as influências racistas em suas vidas primeiro, com a percepção de que elas não podem permitir nem tolerar qualquer forma de subjugação feminina. Na mesma linha, Ntiri resume a posição de Mompati de que o sexismo "é basicamente um problema secundário que surge de preconceitos raciais, de classe e econômicos".

Talvez por causa de todos os problemas indiscutíveis e turbulentos acumulados sobre a comunidade africana, muitos dos quais são racialmente fundamentados, os africanos frequentemente não olham de perto as opções disponíveis para determinar se essas opções são, de fato, suficientemente viáveis. Em vez de criar outras opções para si próprios, os africanos tornam-se confluentes com o fenômeno da classe privilegiada branca. Seria útil se fosse criado para si mesmo; independente de paradigmas estrangeiros. Talvez refletir sobre a particularidade do Mulhesrimo Africana possa ser o começo de uma nova chance para um novo milênio de sobrevivência do povo preto:

Não é desenvolvimento nem adendo ao feminismo, o Mulherismo Africana não é o feminismo preto, o feminismo africano ou o mulherismo de Walker que algumas mulheres Africana passaram a adotar. O mulherismo Africana é uma ideologia criada e projetada para todas as mulheres de ascendência africana. Baseia-se na cultura Africana e, portanto, concentra-se necessariamente nas experiências, lutas, necessidades e desejos únicos das mulheres Africana. Aborda criticamente a dinâmica do conflito entre a corrente principal feminista, a feminista preta, a feminista africana e a mulherista africana. A conclusão é que o Mulherismo Africana e sua agenda são únicos e separados do feminismo branco e do feminismo preto, e, além disso, na medida da nomeação em particular, o mulherismo Africana difere do feminismo africano.

[1]. Julia Hare, citado em "Feminism in Academe: The Race Factor," Ellen Crawford in Black Issues in Higher Education vol. 10, no.1 (11 March 1993).

[2]. Betinna Aptheker, "Strong I What We Make Each Other: Unlearning Racism Within Women's Studies," Women's Studies Quarterly, 1:4 (Winter 1981), 13.

[3]. Vivian V. Gordon, Black Women, Feminism, and Black Liberation: Which Way? (Chicago: Third World Press, 1987), viii.

[4]. Delores P. Aldridge, Focusing: Black Male-Female Relationships. (Chicago: Third World Press, 1991), 35.

[5]. Clenora Hudson-Weems, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia: Critical Issues for Africana Women's Studies." The Western Journal of Black Studies (Winter 1989), 187.

[6]. Hudson-Weems, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia," 188.

[7]. Filomina Chioma Steady, ed. The Black Woman Cross-Culturally (Cambridge, Mass.: Schenkman, 1981), 23-24.

[8]. Filomina Chioma Steady, "African Feminism: A Worldwide Perspective," in Women in Africa and the African Diaspora, Rosalyn Terborg-Penn, Sharon Harley, and Andrea Benton Rushing, eds. (Washington, D.C.: Howard University Press, 1987), 18-19.

[9]. Paula Giddings, When and Where! Enter: The Impact of Black Women on Race and Sex in America New York: Bantam, 1984), 81.

[10]. Peter N. Carrol and David W. Noble, The Free and the Unfree: A New Histori' ofthe United States ~ew York: Penguin Books, 1977), 296.

[11]. Anna Julia Cooper, A Voice from the South (New York: Oxford University Press, 1988), 61.

[12]. Cooper, A Voice from the South, 1 –

[13]. Hudson-Weems, "Cultural and Agenda Conflicts in Academia," 186.

[14]. Clenora Hudson-Weems, Africana Womanism: Reclaiming Ourselves (Troy, Mich.: Bedford Publishers, 1993), 50.

[15]. Alice Walker, In Search ofour Mothers' Gardens (San Diego: Harcourt, 1983), xii.

[16]. Catherine Clinton, "Women Break New Ground," in The Underside of American Histoty, vol.2, Thomas R. Fraizer, ed. ~ew York: Harcourt Brace Jovanovich, 1987), 63.

[17]. Steady, "African Feminism: A Worldwide Perspective," 3.

[18]. Esta citação vem de um trabalho entregue por Zula Sofola na International Conference on Women of Africa and the African Diaspora: Bridges Across Activism and the Academy que foi realizado em julho de 1992 na Universidade da Nigéria-Nsukka.

[19]. Angela Davis, Women, Race and Class New York: Vintage, 1983), 19.

[20]. Toni Morrison, "What the Black Woman Thinks about Women's Lib," The New York Times Magazine, August 1971, 63.

[21]. Steady, The Black Woman Cross-Culturally, 26.

[22]. Clyde W. Franklin Jr., "Black Male-Black Female Conflict; Individually Caused and Culturally Nurtured," in The Black Family: Essays and Studies, Robert Staples, ed. (Belmont, Calif.: Wadsworth, 1986), 112.

[23]. Joyce Ladner, Tomorrow's Tomorrow: The Black Woman (Garden City, N.Y.: Anchor, 1972), 277-278.

[24]. Ruth Mompati, "Women and Life Under Apartheid," in One is Not a Woman, One Becomes: The African Woman in a Transitional Society, Daphne W. Ntiri, ed. (Troy, Mich.: Bedford, 1982).

[25]. Daphne W. Ntiri, ed., One Is Not a Woman, One Becomes: The African Woman in a Transitional Society (Troy, Mich.: Bedford, 1982), 112-113.

[26]. Ntiri, One Is Not a Woman, 6.

[27]. Steady, The Black Woman Cross-Culturally, 27-28.

[28]. Ntiri, One Is Not a Woman, 5.

[29]. Hudson-Weems, Africana Womanism, 24.

Disponivel em < http://web.missouri.edu/~hudsonweemsc/> acesso em 18/06/2018

Capítulo 14 em Out of the Revolution: The Development of Africana Studies. Delores P. Aldridge e Carlene Young, Editors. Lexington Books, 2000, pp. 205-217.

** O termo Africana aqui não significa o feminino de "africano". Derivado do plural em latim, refere-se a tudo aquilo que diz respeito ao conjunto formado pela África e sua diáspora.
O uso da forma plural em latim, Africana, indica dois aspectos de polivalência: refere-se aos povos afrodescendentes em todo o mundo e à metodologia multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar dos estudos nesse campo. (...)
A pluralidade do conceito se reflete também na acepção da palavra "africano", que se refere aos afrodescendentes a e seu legado cultural no continente e na diáspora em qualquer parte do mundo.(...)
Nota extraída do livro Afrocentricidade: Uma abordagem epistemológica inovadora



sexta-feira, 15 de junho de 2018

Nei Lopes em Brechtiana - Poesia



Brechtiana

[para Abdias Nascimento]

Primeiro,
Eles usurparam a matemática
A medicina, a arquitetura
A filosofia, a religiosidade, a arte
Dizendo tê-las criado
À sua imagem e semelhança.

Depois,
Eles separaram faraós e pirâmides
Do contexto africano –
Pois africanos não seriam capazes
De tanto inventiva e tanto avanço.

Não satisfeitos, disseram
Que nossos ancestrais tinham vindo de longe
De uma Ásia estranha
Para invadir a África
Desalojar os autóctones
Bosquímanos e hotentotes.
E escreveram a História a seu modo.
Chamando nações de “tribos”
Reis de “régulos”
Línguas de “dialetos”.

Aí,
Lançaram a culpa na escravidão
Na ambição das próprias vítimas
E debitaram o racismo
Na nossa pobre conta.

Então,
Reservaram para nós
Os lugares mais sórdidos
As ocupações mais degradantes
Os papéis mais sujos
E nos disseram:
– Riam! Dancem! Toquem!
Cantem! Corram! Joguem!

E nós rimos, dançamos, tocamos
Cantamos, corremos, jogamos.

Agora, chega!

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Dra. Clenora Hudson-Weems, Nommo: Autonomeação e Autodefinição

Dra. Clenora Hudson-Weems 
Capítulo I
Nommo: Autonomeação e Autodefinição (Uma Revisão de "Autonomeação e Autodefinição: Uma Agenda para a Sobrevivência" em Irmandade, Feminismos e Poder (African World Press, 1998))
As mulheres que se dizem feministas pretas precisam de outra palavra que descreva quais são suas preocupações. O feminismo preto não é uma palavra que descreve a situação das mulheres pretas. A raça branca tem um problema de mulher porque as mulheres eram oprimidas. O povo preto tem um problema de homem e mulher porque os homens pretos são tão oprimidos quanto suas mulheres. (Julia Hare, 15)
A citação acima feita pela notável psicóloga preta, Julia Hare, que infelizmente desconhece a existência do Mulherismo Africana, uma terminologia e paradigma que responde ao seu chamado, faz um profundo comentário sobre a realidade da diferença na política da vida preta e da vida branca, particularmente em termos de como certos ideais têm diferentes significados em relação aos dois grupos. Em outras palavras, a declaração de Hare reflete as nuances da relatividade de uma determinada terminologia e conceito - feminismo - como emitidos por brancos e sua inaplicabilidade para homens e mulheres pretos que estão presos em primeiro lugar pelo fator racista e não pelo fator de gênero tão prevalentemente abordado hoje. Por causa do fator racial crítico para os pretos, outra acadêmica, Audrey Thomas McCluskey, conclui que "as mulheres pretas devem adotar um termo culturalmente específico para descrever sua experiência racializada" como ela é astutamente cônscia disso para as mulheres pretas, quer elas busquem ou não essa questão a ponto de se nomearem independentemente, "o debate sobre nomes reflete questões mais profundas do direito à auto validação e reivindicar suas próprias tradições intelectuais" (McCluskey 2). Assim, a necessidade crucial de autonomeação e autodefinição, um fenômeno de interconexão, torna-se definitiva, pois precisamos entender que, quando você dá nome a uma coisa particular, você simultaneamente lhe dá significado. Nommo, então, um termo africano que o teórico cultural Molefi Asante chama de "o poder gerador e produtivo da palavra falada", significa a denominação apropriada de algo que por sua vez lhe dá essência (Asante 17). Particularizando o conceito, Nommo, no poder da palavra. . . ativa todas as forças de seu estado congelado de uma maneira que estabelece a concretude da experiência. . . sejam alegres ou tristes, trabalho ou diversão, prazer ou dor, de uma maneira que preserve a humanidade [de alguém] "(Harrison xx).
Certamente, Nommo, um conceito poderoso e empoderador na cosmologia africana, evoca a existência material. Como o povo africano há muito tem sido negado a autoridade de não apenas nomear a si mesmo, mas, além disso, de se autodefinir, como inferido pela narradora de Amada da ganhadora do prêmio Nobel, Toni Morrison - "As definições pertenciam aos definidores, não aos definidos". Agora, é da maior importância que tomemos controle sobre esses fatores determinantes de nossas vidas, se esperamos evitar a degradação, o isolamento e a aniquilação em um mundo de ganância, violência e pandemônio.
Desde meados dos anos oitenta, tenho me envolvido seriamente no processo de nomear e definir adequadamente as mulheres africanas. Este processo tem sido efetuado identificando e refinando um paradigma centrado em África para todas as mulheres de ascendência africana. Ao observar o papel tradicional, o caráter e a atividade desse grupo, cuja afinidade reside em sua ancestralidade africana comum, cheguei à conclusão de que o Mulherismo Africana como construção teórica era mais um refinamento de ideais do que uma criação de ideais. Meu papel como teórica era observar as mulheres africanas histórica e culturalmente, documentar nossa realidade e depois refinar um paradigma relativo a quem somos, o que fazemos e o que acreditamos como povo. Embora esse processo pareça ser um curso natural de ação, a sociedade, ao contrário, não seguiu esse caminho. E mais, ignorou a verdadeira existência operacional desse longo fenômeno existente e optou por nomear e definir mulheres africanas fora de seu contexto cultural e histórico por meio da sobreposição de um construto estrangeiro - eurocentrismo/feminismo. Em essência, a cultura dominante manteve a posição de identificar quem somos e como nos encaixamos no esquema das coisas, sem nenhuma consideração por nossa autêntica realidade. Em vez de respeitar nossas vidas como representantes da auto autenticação, a cultura dominante se impõe sobre o povo africano. Para acabar com este legado de dominação europeia, os africanos terão de reivindicar ativamente a sua identidade, começando pela autonomeação e autodefinição. Como afirma Bob Bender, professor de inglês e estudos sobre mulheres (University of Missouri-Columbia), a nomeação é importante, e um dos problemas em ser chamado por algum outro grupo é que você não é quem você quer ser. Até que você tenha o direito de dar um nome a si mesmo e ao que você está fazendo, você não tem poder algum. O Mulherismo Africana é uma excelente ideia (Bender 7).
Uma agenda autêntica para as mulheres africanas, portanto, deve ser projetada com uma perspectiva endêmica, moldada pela nossa própria realidade cultural passada e presente, moldada por nosso próprio conjunto de prioridades estabelecidas. Em outras palavras, as mulheres africanas devem criar nossos "próprios critérios para avaliar [nossas] realidades, tanto no pensamento quanto na ação" (Hudson-Weems, Africana Womanism, 50).
Para começar, o conceito de Mulherismo Africana ao contrário do feminismo/feminismo preto, é um conceito centrado na família, mais do que centrado na mulher, que se preocupa primeiramente com o empoderamento racial em vez do empoderamento feminino. Certamente, o empoderamento feminino centrado como uma prioridade para as mulheres pretas não poderia fazer sentido em uma comunidade onde as próprias vidas não apenas do setor feminino, mas de todo o seu povo - homens, mulheres e crianças - estão em risco e ameaçadas diariamente pela dominação racista branca. Livrar a sociedade primeiro do racismo, que permeia a existência total da vida preta, torna-se então o primeiro passo para a sobrevivência humana. Um artigo de jornal em acompanhamento, encabeçando "Beyond Bra-Burning" (Além da queima de sutiã), da Primeira Conferência Internacional sobre Mulheres Africanas e da Diáspora Africana, realizada na Universidade da Nigéria, Nsukka (julho de 1992) destacou o impacto do Mulherismo Africana na conferência. Foi afirmado que as Mulheristas [Africana] não acreditam em queima de sutiãs. Elas acreditam na feminilidade, na família e na sociedade. Sua luta é elevar esses atributos, não repudiá-los. . . O homem e a mulher africana sempre foram parceiros complementares e, para que haja um empoderamento econômico e uma sobrevivência africana, os dois precisam trabalhar juntos, como sempre fizeram"(Agoawike, 1).
Evidentemente, a noção de priorizar raça, classe e gênero dentro da estrutura da situação tríplice das mulheres africanas é o fator diferenciador definidor entre mulheres de ascendência africana e aquelas da cultura dominante, cuja principal questão para elas é o empoderamento feminino. Mesmo antes da conferência nigeriana, eu estava na missão de insistir na crucialidade da nomeação e definição apropriada das mulheres africanas e sua luta como uma atividade coletiva em curso no mundo preto, em um esforço para combater os problemas que ameaçam a vida para a existência de um coletivo Africana. E a chave para essa questão seminal é que, quando se compra uma terminologia específica, também se compra sua agenda, o que no caso das mulheres africanas desconsidera a conexão inextricável de sua identidade com o destino de seu povo. Como Hudson-Weems proclama em uma entrevista para um jornal caribenho, "Nós (da Diáspora Africana) não estamos menosprezando as questões de gênero - estamos lidando com questões da vida real que não excluem gênero mas lidam [primeiro] com a fortificação e empoderamento do nosso povo "(Fuentez, 3).
Pode ser apropriado comentar aqui os primórdios venenosos do feminismo. A verdadeira história do feminismo, suas origens e suas participantes, revela um pano de fundo racista bastante descarado. O Feminismo e o Movimento de Sufrágio da Mulher tiveram seu início com um grupo de mulheres brancas liberais, que estavam preocupadas em abolir a escravidão e conceder direitos iguais para todas as pessoas, independentemente de raça, classe e sexo. No entanto, quando a Décima Quinta Emenda da Constituição dos Estados Unidos foi ratificada em 1870, concedendo direitos de voto aos homens africanos, embora negando privilégio para as mulheres, as mulheres brancas em particular, as atitudes daquelas mulheres brancas em relação aos pretos mudaram. Desapontadas, tendo assumido que a sua benevolência para assegurar a plena cidadania do povo africano acabaria por beneficiá-los, a sua resposta foi uma reação racista tanto à Emenda quanto aos Africanos. Assim, um movimento organizado entre as mulheres brancas da década de 1880 mudou o pêndulo de uma postura liberal para uma radicalmente conservadora.
A Associação Americana Nacional para o Sufrágio das Mulheres (NAWSA em inglês) foi fundada em 1890 por mulheres brancas do norte; no entanto, "as mulheres do sul também foram vigorosamente cortejadas por esse grupo" (Giddings, 81), que demonstrou o crescente chauvinismo racial do final do século XIX. Partindo da posição original do sufrágio feminino de Susan B. Anthony, a organização reuniu a Associação Nacional para o Sufrágio da Mulher e a Associação Americana de Sufrágio da Mulher, protestando que o voto das mulheres brancas de classe média deve ajudar seus pares masculinos a preservar as virtudes da República da ameaça dos homens pretos, não qualificados e biologicamente inferiores que, com o poder de voto, poderiam adquirir poder político dentro do sistema americano. Carrie Chapman Catt, uma líder conservadora e sufragista conservadora e outras mulheres em seu campo insistiram em fortes valores anglo-saxões e na supremacia branca. Elas queriam se unir com homens brancos para garantir o voto para brancos puros, excluindo os pretos e imigrantes brancos. Em Peter Carrol e David Noble, The Free and The Unfree, Catt é citada:
Há apenas uma maneira de evitar o perigo. Cortar o voto das favelas e dar para as mulheres [brancas]. . .[Os homens brancos devem perceber] a utilidade do sufrágio feminino como um contrapeso ao voto estrangeiro, e como um meio de preservar legalmente a supremacia branca no sul "(citado em The Free and the Unfree, 296).
Adotando uma firme crença na inerente inferioridade preta, essas mulheres acreditavam que os pretos não deveriam ter o direito de votar antes delas, o que não aconteceu até a Décima Nona Emenda de 1920. Assim, embora seja compreensível como as mulheres brancas se sentiam em relação à sua exclusão da agenda dos direitos de voto, a sua hostilidade racista em relação aos africanos era injustificável e, portanto, não pode ser negligenciada.
Em maio de 1995, tive a oportunidade de observar a consequência da inclusão de nossas prioridades como mulheres africanas sob as da cultura dominante. A Suprema Corte estava decidindo sobre a questão dos planos de Ação Afirmativa e a questão levantada era como as feministas (brancas) responderiam aos crescentes ataques à Ação Afirmativa, já que elas, como mulheres, haviam sido o maior grupo beneficiado deste programa, incluindo os pretos, que eram os beneficiários originalmente pretendidos. Colocando essa questão em uma perspectiva histórica, eu supus que, como elas eram, de fato, membros da cultura dominante, sua segurança seria protegida. Previsivelmente, em junho de 1995, a Suprema Corte retornou a sentença de que os pedidos de Ação Afirmativa que eram racialmente determinados eram inconstitucionais; aqueles determinados pela igualdade de gênero eram constitucionais. Portanto, para as mulheres de ascendência africana, que é uma categoria racialmente definida, a prioridade de gênero, ao invés de raça, é inaplicável neste caso, uma vez que as mulheres africanas ainda seriam sobrecarregadas com o jugo do fator racial: "Mesmo que ela supere a batalha do sexismo através de uma luta coletiva de todas as mulheres, ela ainda ficará com a batalha do racismo enfrentando tanto na família quanto a si mesma" (Africana Womanism, 59). Em outras palavras, quando a feminista branca tiver realizado todas as suas necessidades e demandas, tornando-a um lugar apropriado no ambiente de trabalho, a mulher preta ainda será preta e na parte inferior. Assim, a mulher preta, que entregou sua questão número um de igualdade racial a uma prioridade específica de gênero, se encontrará de volta à experiência vulnerável da degradação negra.
Dito tudo, a revelação gritante é que o povo Africana, particularmente as mulheres Africana neste discurso, deve decidir por nós mesmos quem somos e qual é a nossa agenda autêntica. Devemos necessariamente nos engajar na identificação de nossas necessidades individuais como um povo Africana, começando com autonomeação e autodefinição, a fim de que possamos entender melhor o que será necessário para nós trazermos a total paridade humana para nossa realização. Com certeza, este é o primeiro passo para trazer a verdadeira harmonia e a sobrevivência real para todos os pretos, brancos, vermelhos e amarelos; homens, mulheres e crianças.

Referências

Agoawike, Angela. "Beyon 'Bra-Burning': [Africana] Womanism as Alternative for the Africana Women." Nigeria Daily Times, July27, 1992.

Asante, Molefi Kete. The Afrocentric Idea. Philadelphia: Temple University Press.

Bender, Bob. "Reassessing Roles." Mizzou Weekly (Columbia, MO). October 27, 1993.

Carroll, Peter N. and David W. Nobel. The Free and the Unfree: A New History of the United
States. New York: Penguin Books, 1977.

Fuentez, Tania. "Africana Womanism: Ties to the Destiny of a People." Daily News (St. Thomas, Virgin Islands), June 2, 1994.

Hare, Julia. "Feminism in Black and White." Quoted in Mary-Christine Phillip. Black Issues in Higher Education, March 11, 1993, pp. 12-17.

Harrison, Paul Carter. The Drama of Nommo. New York: Grove Press, 1972.

Hudson-Weems, Clenora. Africana Womanism: Reclaiming Ourselves. Third revised edition, second printing. Michigan: Bedford Publishers, 1995.

McCluskey, Audrey Thomas. "Am I Not a Woman and a Sister?: Reflections on the Role of Black Women's Studies in the Academy." Feminist Teacher, Vol. 8, n. 3, 1994, 105-111.

Morrison, Toni. Beloved. New York: Alfred A. Knopf, 1987.

Disponível em <http://web.missouri.edu/~hudsonweemsc/ > acesso 08/06/2018


No livro Africana womanist literary theory tem um capitulo com esse titulo do texto. 




quinta-feira, 7 de junho de 2018

Brenda Verner: O Poder e a Glória do Mulherismo Africana

O Poder e a Glória do Mulherismo Africana

12 de Junho de 1994 | Por Brenda Verner, presidente da Verner Communication e presidente da Organização Nacional de Estudos da Mulher Africana, em Chicago.

Nos últimos 25 anos, as arquitetas feministas tiveram liberdade para apresentar, praticamente incontestada, a perspectiva feminista. A mídia americana apresentou questões feministas como se elas fizessem fronteira com um novo ideólogo religioso. No entanto, apesar de sua campanha de um quarto de século e da cooperação do instrumento mais poderoso do planeta, a esmagadora maioria das mulheres americanas (algumas pesquisas estimam entre 75% e 80%) ainda rejeita o rótulo feminista. As mulheres americanas parecem assinalar a diferença entre questões legítimas de mulheres em geral e a agenda política feminista.

Desde o início, a resposta das mulheres afro-americanas ao feminismo tem sido o mulherismo cultural. Não se pode negar a presença de mulheres pretas que entraram em contato com feministas brancas nas áreas acadêmica, política, artística e profissional e, posteriormente, aderiram ao conceito e promoveram a ideologia* feminista; no entanto, a esmagadora maioria das mulheres pretas das bases** rejeitou a identidade das feministas e continua a fazê-lo.

O Mulherismo reflete a mentalidade cultural das mulheres africanas, um mecanismo de pensamento que vem de séculos de luta pela dignidade e autorrealização, a maneira como vemos o mundo de dentro da cultura africana e os princípios sobre os quais baseamos nossas decisões. Chamei esse mecanismo de pensamento Mulherismo Africana: Africana porque pertencemos à diáspora mundial do povo africano e mulherismo, porque as mulheres africanas são membros de famílias, comunidades e culturas que incluem homens, mulheres e crianças.

Mulherismo Africana em essência diz: Nós amamos os homens. Nós gostamos de ser mulheres. Nós amamos crianças. Nós gostamos de ser mães. Nós valorizamos a vida. Nós temos fé em Deus e na Bíblia. Queremos famílias e relacionamentos harmoniosos. Nós não estamos em guerra com nossos homens buscando dinheiro, poder e influência através do confronto. Nossa história é única. Somos as herdeiras da história das mulheres afro-americanas e, como tal, não nos redefiniremos nem a história para encontrar uma imagem politicamente correta de um movimento de cultura popular, que exige o direito de falar e redefinir a moral e os costumes de toda raça, grupos culturais e étnicos. Tampouco permitiremos que a história seja "defraudada" para legitimar a "agenda política global" dos outros. Nós rejeitamos a condição de vítima. De fato, somos vitoriosas, Irmãs no comando de nosso próprio destino. Nós somos defensoras da cultura Africana: A nossa principal obrigação é o progresso do nosso modo de vida cultural através da estabilidade da família e do compromisso com a comunidade.

A prática do mulherismo cultural não se limita às mulheres africanas. Italianas, japonesas, hispânicas, indianas, árabes, mulheres judias, etc., todas utilizam essa abordagem para a tomada de decisões e sabem o valor de manter a autonomia cultural indígena. O rito de passar conhecimento de geração em geração livre de manipulação, coerção ou intimidação externa assegura a integridade tradicional que promove um clima de segurança cultural. As culturas tradicionais não devem ser obrigadas a se curvarem às redefinições impostas a elas por entidades elitistas que obtêm sua autoridade por meio do impulso da "campanha publicitária da mídia" bem organizada.

A comunidade de experiências raciais, costumes culturais e laços de amizades femininas transformaram mulheres afro-americanas em um dos grupos de mulheres mais unidas da família humana mundial. As mulheres pretas realmente vivem o credo da "irmandade". Onde nos referimos uma a outra como "irmã", "amigas" ou "irmãzinha", não é apenas um uso casual da linguagem. Amizades íntimas e redes de "amigas" [girlfriends] são parte integrante da compreensão do processo de socialização entre mulheres africanas. Aprender a conviver com as amigas é uma parte importante do estabelecimento de um lugar na família, na escola e na comunidade. O subproduto mais notável da busca das mulheres pretas pela autorrealização é a nossa lealdade implacável às tradições especiais que cercam a vida familiar. É essa lealdade feroz e a determinação de manter a autoridade independente, autóctone e definitiva, que leva as mulheres pretas a resistir à influência externa, particularmente aquelas que entram em conflito com a base moral e espiritual tradicional da vida afro-americana. A mentalidade coletiva encoraja as mulheres a buscarem a força pessoal através de um relacionamento com Deus.

Mulherismo Africana representa a rica herança do povo africano-americano - os ancestrais das mulheres que sacrificaram imensamente para o nascimento desta nação. Sua lealdade e identidade cultural podem ser comparadas a um poderoso carvalho (árvore), "plantado junto aos rios de água, que produz o seu fruto na sua estação", cujas raízes são profundas, cuja brecha é ampla, capaz de resistir às mudanças das estações - ela não será movida.


* A autora usa a palavra Ideólogo do inglês “Ideologue” - um idealista impraticável: teórico/ um defensor muitas vezes cegamente partidário ou aderente de uma ideologia particular

** Rank-And-File - De baixa patente no uso de exercito / os trabalhadores comuns de uma empresa ou os membros comuns de uma organização, e não os líderes.


O Feminismo Falha com as Mulheres Pretas

De Gus Bode, 3 de Fevereiro de 1994

As tribulações e necessidades das mulheres afro-americanas são únicas e não foram abordadas pelo movimento feminista, disse Brenda J. Verner, uma famosa Mulherista Africana. 

Verner falou no Student Center na noite de quarta-feira para um grupo de 75 pessoas. Sua palestra, Mulherismo Africana: Por que o Feminismo Não Conseguiu Atrair Mulheres Pretas, fez parte das comemorações do Mês da História Preta.

Não estou aqui para promover uma guerra e não estou aqui como apologista, disse Verner. 

Eu estou aqui como uma defensora da minha cultura.

Verner trabalhou dentro do movimento de mulheres por 20 anos, mas saiu há três anos por causa do conflito racial dentro de uma organização nacional de mulheres.

Embora o movimento feminista contenha algumas questões legítimas que muitas mulheres afro-americanas apoiam, questões como pagamento igual para trabalho igual, acessível assistência à criança e intervenção na crise de estupro, também inclui questões que vão contra as crenças fundamentais defendidas pela maioria das afro-americanas, Verner disse.

Em vez de lutar pela igualdade econômica, o movimento feminista se tornou uma ferramenta para promover a retórica antimasculina e anticristã, o lesbianismo e o aborto, disse ela.

Mais e mais, nós as ouvimos falando por mulheres pretas; Dizendo ao mundo que mulheres pretas pobres precisam de abortos, porque mulheres brancas de classe alta têm acesso, disse ela.

Ao enfocar essa questão, as feministas promovem a imagem da pobre e ignorante mãe afro-americana, disse Verner.

Os abortos não nos darão mais poder, dinheiro sim, disse ela.

Em vez de buscar financiamento para abortos, ela disse que as pessoas que realmente quiserem ajudar deveriam apoiar as empresas pertencentes a mulheres afro-americanas e lutar para garantir que as mulheres recebam o treinamento necessário para se prepararem para altos cargos executivos, disse ela.

Algumas mulheres afro-americanas aceitaram o feminismo como a voz oficial das mulheres americanas, disse Verner.

As feministas seduziram com sucesso algumas jovens universitárias por terem representantes africanas simbólicas falando sobre assuntos não controversos, disse ela.

Denise Kerr, uma veterana em história de Evanston, disse que nunca foi atraída por esses indivíduos e concorda com as crenças de Verner.

Ela abordou questões que não são comumente conhecidas e foram negligenciadas dentro do movimento feminista, disse Kerr.

Kerr disse concordar com a declaração de Verner de que as opiniões das mulheres afro-americanas foram suprimidas dentro do movimento feminista.