Capão
Pecado, Ferréz – Breve Nota
Por
vezes, menciono que a literatura pode fazer denuncias de uma forma mais branda
se comparada com o RAP. No entanto, essa afirmação pode ser facilmente
contradita se eu me refiro ao livro Capão Pecado, do escritor Ferréz. Neste
livro se encontra a linguagem da periferia tal como ela se dá, lógico que com
seu tom de arte e literatura. Quem viveu a periferia dos anos 90 com certeza
vai se identificar com a narrativa e vai verificar traços de uma realidade bem
próxima, a qual nem sempre era uma realidade feliz.
E
longe de estigmatizar a quebrada, o autor trata grande parte dos personagens
oriundos dos mosaicos de tijolo vermelho, onde a busca pela sobrevivência é
permeada por diversos obstáculos. O principal personagem, o Rael, é um exemplo
de menino que visa o caminho do trabalho e procura se esquivar do que considera
as más influências. Porém, na sua vivência, não deixa de ver diversos conhecidos
e amigos perdendo a vida, muitas vezes de forma violenta. Através de Rael
pode-se perceber como era a dinâmica do mercado de trabalho da época, como era
acesso aos estudos, lazer e cultura. Um garoto que adorava ler e tinha que
visitar os sebos para tal. Mas longe de ser um humano sem erros!
Creio
que o autor não desejava realmente se manter distanciado da linguagem do Rap,
até porque no livro contem partes com textos de rappers, que entendi como outra
ferramenta de voz e denuncia para esses manos.
A
história é envolvente, mas se prepare, pois ira confortar com a realidade das
mazelas, tais como violência e miséria. Talvez não seja de interesse pra quem
já viveu muito disso, ou talvez possa ser um livro importante para a juventude
da periferia do hoje, e ai será que muito mudou? O que melhorou ou piorou? É
importante ler? E escrever umas paradas?
Veja
só, são vários questionamentos que se pode suscitar dentre a juventude que não
está inserida na literatura, e que a partir de então pode se inserir no mundo
das leituras e quem sabe das escritas.
Capão
Redondo se situa na periferia da cidade de São Paulo e lá é o ambiente do
livro. Eu, que nasci e cresci no Grajaú, também na zona sul de sp, consegui
visualizar muito do que foi escrito. Contudo, mesmo quem não tenha vivenciado essas
situações também irão aguçar o imaginário de uma periferia precária.
Bora
ler!
Fuca,
Insurreição CGPP
2020