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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Capão Pecado, Ferréz – Breve Nota


Capão Pecado, Ferréz – Breve Nota

Por vezes, menciono que a literatura pode fazer denuncias de uma forma mais branda se comparada com o RAP. No entanto, essa afirmação pode ser facilmente contradita se eu me refiro ao livro Capão Pecado, do escritor Ferréz. Neste livro se encontra a linguagem da periferia tal como ela se dá, lógico que com seu tom de arte e literatura. Quem viveu a periferia dos anos 90 com certeza vai se identificar com a narrativa e vai verificar traços de uma realidade bem próxima, a qual nem sempre era uma realidade feliz.

E longe de estigmatizar a quebrada, o autor trata grande parte dos personagens oriundos dos mosaicos de tijolo vermelho, onde a busca pela sobrevivência é permeada por diversos obstáculos. O principal personagem, o Rael, é um exemplo de menino que visa o caminho do trabalho e procura se esquivar do que considera as más influências. Porém, na sua vivência, não deixa de ver diversos conhecidos e amigos perdendo a vida, muitas vezes de forma violenta. Através de Rael pode-se perceber como era a dinâmica do mercado de trabalho da época, como era acesso aos estudos, lazer e cultura. Um garoto que adorava ler e tinha que visitar os sebos para tal. Mas longe de ser um humano sem erros!

Creio que o autor não desejava realmente se manter distanciado da linguagem do Rap, até porque no livro contem partes com textos de rappers, que entendi como outra ferramenta de voz e denuncia para esses manos.

A história é envolvente, mas se prepare, pois ira confortar com a realidade das mazelas, tais como violência e miséria. Talvez não seja de interesse pra quem já viveu muito disso, ou talvez possa ser um livro importante para a juventude da periferia do hoje, e ai será que muito mudou? O que melhorou ou piorou? É importante ler? E escrever umas paradas?
Veja só, são vários questionamentos que se pode suscitar dentre a juventude que não está inserida na literatura, e que a partir de então pode se inserir no mundo das leituras e quem sabe das escritas.

Capão Redondo se situa na periferia da cidade de São Paulo e lá é o ambiente do livro. Eu, que nasci e cresci no Grajaú, também na zona sul de sp, consegui visualizar muito do que foi escrito. Contudo, mesmo quem não tenha vivenciado essas situações também irão aguçar o imaginário de uma periferia precária.

Bora ler!

Fuca, Insurreição CGPP
2020



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

PONTOS CENTRAIS CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA

Por: Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica

1. ENCARCERAMENTO EM MASSA
- O QUE É O ENCARCERAMENTO EM MASSA?
Chamamos de encarceramento em massa a estratégia utilizada pelo Estado para, através do aprisionamento de jovens, pret@s e morador@s das periferias, promover a exclusão dessa população da sociedade. Em vez de garantir acesso a direitos sociais básicos, como moradia, saúde, educação, alimentação a todos os cidadãos e cidadãs, o Estado responde com mais prisões, torturas e maus-tratos.

- QUEM SÃO ESSAS PESSOAS?
Jovens, homens e mulheres entre 18 e 29 anos, pret@s e morador@s das periferias da cidade. Adolescentes também são constantemente presos nas Fundações Casas na mesma lógica.

- O QUE JUSTIFICA ESSAS PRISÕES?
A maioria dessas pessoas é presa por tráfico de drogas ilegais e por crimes contra o patrimônio (roubos e furtos). Grande parte dessas prisões por tráfico de drogas é forjada pela polícia, ou seja, se o usuário estiver portando um grama de tal droga, a polícia forja a quantia necessária para garantir a apreensão tanto da droga como da pessoa. Uma parcela pequena desse grupo está na condição de trabalhador no tráfico de drogas justamente pela negação de auxílio do Estado em garantir-lhes a mínima condição de subsistência.

Imagine que você tem uma mercadoria que possa produzir um lucro extraordinário, capaz de empregar milhões e lucrar milhares, mas ela é ilegal, o que você faria?
Produza ilegalmente em um local (fronteira nacional) e venda em outro (periferia), eis a resposta da classe dominante!

A classe dominante, composta na sua maioria pela elite branca, lucra em torno de 3 trilhões de dólares com a venda de drogas e armas ilegais, dinheiro remetido para as bolsas de valores do capital financeiro. Ou seja, é ela quem mais lucra com o consumo e venda de drogas. Eis o sentido da proibição, que é uma forma de encarcerar, matar e lucrar. A guerra às drogas é justamente o combustível do quadro atual.

- PELO FIM DA FUNDAÇÃO CASA!

A Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), antiga/ATUAL FEBEM, foi criada para executar medidas socioeducativas, que preveem como última alternativa a privação de liberdade de adolescentes entre 12 e 21 anos que cometeram atos infracionais. Mas como sempre aquilo que está no papel não acontece como deveria. 

Na Fundação Casa, ou melhor, no campo de concentração juvenil, a regra é o sofrimento. Os adolescentes são tratados com pontapés, voadoras, socos, dopamentos com remédios, humilhações, intimidações, alimentação muitas vezes estragada e de baixa qualidade. Todos os tipos de violações físicas e psicológicas são praticadas pelos agentes (coordenadores de segurança), em sua maioria ex-policiais (Força Tática, Rota e Choque), com a “pedagogia” do passando pano, sempre se omitindo e agindo em conjunto. É assim que o Estado prega a ressocialização, sendo que nem socialização existiu na vida desses adolescentes.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) foi criado para zelar e garantir os direitos dos menores. Porém, se o Estado nunca cuidou desses adolescentes, não vai ser encarcerando que a lei vai ser efetivada. Pelo contrário, quando presos, não há fiscalização e nem preocupação com a situação dos jovens. É aí que a porrada come, deixando sequelas para uma vida toda.

A sociedade enxerga o adolescente que cometeu um ato infracional como um inimigo: não reconhece que seus direitos foram negados, e numa visão rasa, preconceituosa e punitiva, disseminada pela mídia tradicional, apoia as situações degradantes, humilhações, torturas e as próprias grades que privam esses adolescentes de sua liberdade, de seu crescimento, de sua vida.

O sistema foi feito para que esses adolescentes estejam nessa situação, já que é extremamente lucrativo para a elite branca o encarceramento, a morte e a negação de direitos da juventude. Nesta lógica, o sistema se articula para dizimar a população preta, pobre e periférica.

O POVO PRETO, POBRE E PERIFÉRICO É PRESO OU MORTO PELOS CRIMES DA CLASSE DOMINANTE, COMPOSTA NA SUA MAIORIA PELA ELITE BRANCA!

2. POLÍCIA
- Por que polícia?
Normalmente, temos em nossa mente a ideia de que a polícia existe para nos proteger e dar segurança. Será que podemos acreditar nisso? Vejamos.

As primeiras polícias no Brasil eram na verdade um grupo de homens armados, chamados de “jagunços”, que tinham a função de proteger a propriedade da elite branca escravagista, milícias que tinham fundamentalmente a função de caçar africanos escravizados.

Em 1840, quando a cultura do café passou a ser o setor mais importante da economia nacional, São Paulo, Rio de Janeiro, sul da Bahia e parte de Minas Gerais, onde a cultura do café era forte, começaram a criar guardas nacionais. É neste momento que os Estados criaram suas próprias polícias, mantendo a função de recapturar africanos escravizados e reprimir suas revoltas, rebeliões e insurreições. Observe que, desde esse momento, o caráter de repressão das forças de segurança já foi dado.

- Quando a polícia nos protege?
Essa questão tem uma resposta, simples e chocante. A função da polícia não é combater a violência e a vida, e, sim, apenas, de proteger a propriedade privada, recapturar africanos escravizados, matar e esquartejar em caso de resistência.

A função da polícia é DEFENDER a propriedade privada da CLASSE DOMINANTE, composta na sua maioria pela elite branca!

Na guerra do Paraguai, surgiu a necessidade de unificar em um só exército as diversas polícias existentes. Veja, então, que antes ela reprimia quem era do país, e depois quem estava fora dele. Ou seja, surge, no modelo de segurança, primeiro, o inimigo interno e, em seguida, o inimigo externo. Essas forças repressivas que combateram, massacraram e dizimaram o Paraguai retornaram ao Brasil e iriam constituir no início do século XX (1900) de uma vez por todas a polícia em todo país. Essa é a origem da Polícia Militar que temos hoje em dia, criada num decreto de 1970.

As antigas milícias se chamam GRUPOS DE EXTERMÍNIO. Esses grupos matam todos os dias em nossas periferias, matam porque ninguém irá questioná-los. Os hospitais aceitam com naturalidade a chegada dos corpos crivados de tiros, e o Estado não reconhece sua responsabilidade por essas vidas. As mortes não são apuradas, as famílias não são indenizadas e os responsáveis por esses homicídios não são revelados. Nossa voz continua sendo calada eternamente.

A lei é a arma da polícia e OS GRUPOS DE EXTERMÍNIO SÃO POLICIAIS SEM FARDA (justiceiros). A cidade que mais mata dentro de um dos estados que mais mata faz com que eu, você, nós todos aceitemos que noss@s jovens pret@s, pobres da periferia não estejam nas melhores universidades, nas mais destacadas vagas de trabalho e, sim, lotando gavetas no IML.

Agora dá para saber brevemente o que é a polícia na verdade? Se liga, isso é a função da policia, essa é a função do Estado. Se liga, isso que é a ordem.

A mais alta razão, a mais alta ciência, o mais alto desenvolvimento tecnológico de pouco valem numa sociedade em que não há acesso a casa, comida, trabalho, educação e saúde para todos. De que vale então todo esse “progresso”, se na verdade vivemos numa realidade primitiva, em que há pessoas para prender, pessoas para matar, pessoas para julgar, lugares para encarcerar.




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

100 Para Cada 100 Mil: Diretamente das Valas Oficiais

“... Policia matando e muita gente dando risada...”.
Massacre no Bairro Africano – Immortal Conspiração

No interior das políticas públicas da nação genocida vigora o racismo, bradamos a resolução de uma política de desassistência, porém aos poucos o poder público foi nos mostrando a realidade na prática de gerir; essa desassistência não é só a regra, para o ser ela assim foi projetada.


Interferimos no Plano Diretor da cidade e também no Plano de Metas, as demandas foram entregues, a gestão recuou, pressionamos, mas a efetivação foi meia boca (que efetivação então?). A questão do Juventude Viva talvez possa explicar uma boa parte do que enfrentamos na terra dos capitães do mato que subiram de cargo; o Plano veio de cima pra baixo, as secretarias municipais puxaram o freio de mão, vereadores desinteressados mantiveram-se na zona de conforto e os coxinhas fizeram a festa. Se pra efetivar as leis da já distante gestão Marta Suplicy, aquilo que já há tempos cobramos como possível rede de proteção (Estação Juventude e Casas de Cultura Hip Hop etc.) é um caos, para investir mais que o dobro do investimento para o Juventude Viva em uma ação para entupir as subprefeituras de PM’s strikes bastou uma canetada. 

Cada vez mais imersa em uma complexidade que daria infinitas teses é uma anátema de nome racismo institucional. Estrutural e estruturante a pedra no meio do caminho de equipamentos como os CEUS acaba por ser um facilitador para o outro céu, filosoficamente ou não, fomos deixando ele cada vez mais preto para garantir a branquitude que quem aqui está a gargalhar com as mãos cheias de sangue de nosso povo.
Produzem nas cabeças embranquecidas a ideia de que é impossível conflitar com aquilo que chamam de concepção hegemônica daquilo que vem a ser segurança pública. Bom, se assim for devo aceitar prontamente que o Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta Pobre e Periférica e o Fórum de Hip Hop MSP vivem em universos paralelos e que só nossas cabeças produzem conexões sinápticas que permitem utilizar justamente aquilo que todo ser humano apresenta como condição de existência; a razão.

Permitam-se refletir que:
- A letalidade policial acumulou 236% de aumento nos dois primeiros trimestres do ano comparado ao ano passado.
-Para cada PM morto morrem 56 civis (pretos, pobres e periféricos) se utilizarmos o último trimestre como referência.
-Que a referencia para se publicizar a queda nos latrocínios pela SSP é mensal, o mês de julho apresentou 48% de queda.
-Que a PM e toda a cúpula de segurança pública esteve comemorando por esses dias não um aumento da queda nas proporções de roubos gerais, mas uma redução do aumento. Realmente a PM estourou o champanhe quando publicaram um aumento de “apenas” 14,7% em junho, porém com esse último dado podemos dizer que na verdade de janeiro de 2013 até junho de 2014 houve um acúmulo de 191% nesse quesito.
-Existe um mercado por detrás da política tucana de segurança pública, caso contrário não seriam roubos de carros e homicídios os “melhores” indicadores.
- Enfrentar o PCC na cabeça de quem pensa a política de segurança pública do Estado é saturar os bairros com maior índice de violência. Curioso, não? Foi justamente o advento do PCC que contribuiu para a redução da violência nas localidades mais pobres e foi justamente a PM que contribuiu para aumentar esse mesmo indicador.
-Então a proposta foi a seguinte; socaram 400 PM’s em Vila Brasilândia, Vila Penteado e Parada de Taipas e assim os homicídios por lá caíram. Porém as mortes por intervenção policial não entram nessa conta (putz). Sim, a letalidade policial subiu e nós ficamos meses e mais meses contando corpos tombados ora pelos grupos de extermínio (PM’s não fardados que representam algo em torno de 60% dos homicídios do Estado) e pelos PM’s fardados (que devem estar mantendo a marca dos 20% de todos os homicídios do Estado).
-A SSP criou assim um novo programa de saturação, o Prev Paz (Política Pública de Prevenção Criminal e Manutenção da Paz e da Ordem Pública) e colocou o nome dos Direitos Humanos da PM como cabeça, coronel Glauco para executar o programa. E o que ele fez? Deu um up nos efetivos de policiamento de transito (CPTRANS) e no CHOQUE, mas o melhor, logicamente o pior, estava por vir...

Hoje o programa está na ZN (2° região) e antes estava na ZS (1° região), nessa última em Capão Redondo, Jd Ângela e Campo Limpo. O que mais deveria estar lá segundo a Secretaria de Direitos Humanos, Coordenadoria de Juventude e a SMPPIR? Ora, o Juventude Viva! Fica escuro que só estava os eventos que funcionam como palanque eleitoral, mas que na prestação de contas se transmutam na categoria de “Ações de Promoção da Cultura de Paz”. O estatístico que luta para não se afogar no mar de sangue que suas medidas se esforçam dia pós dia para manipular disse que entre 1 e 10/8 os homicídios caíram 60% e que somados todas as categorias relativas a roubos e furtos de autos a queda superou a casa dos 70%. É muita piada branca da fato, o que esse tipo de informação diz do Prev Paz? E como está a letalidade policial para o mesmo período? Evidente que ninguém tá nem ai para o que deveria ser o primordial para refletir a efetividade ou não de um direito social denominado segurança pública.

Antes de tudo é crucial que não aceitemos o discurso do opressor. Se for pra discutir a política de segurança pública não é de PCC que iremos discutir. O PCC é só uma parte da política de segurança pública (isso mesmo, ele é parte e importante do jogo). Tá a fim de entender o jogo? Tem como. Primeiro vc lê o depoimento do Marcola na CPI das armas de 2006, depois vc lê o relatório “São Paulo Sob Achaque” e com essas duas leituras vc vai saber o que mais é importante ler para compreender o que se passa de fato. Algumas horas depois poderá ler uma matéria da Folha ou do Estadão para confirmar o quanto absurda e incoerente são as informações sobre segurança pública por essas bandas.
Passado todo esse tempo desde o Salve Geral (da mídia e da cúpula de segurança pública de São Paulo) a civil alega que a prisão do Tucano e do MK essa semana serviu para instabilizar o Marcola, afinal eles ocupavam os cargos de “Sintonia Final Nacional” da organização política (e não criminosa!). Bom, quem leu só o que é oficial sabe que o Marcola está neutralizado serve apenas para justificar a política de segurança pública do Estado, “afinal, eu sou o líder perante a imprensa” e é só isso que importa. Enquanto a maioria fica no cao de que o Estado está em guerra com o PCC ninguém discuti o motivo da Lei de Execução Penal não estar sendo cumprida. Alguém ai está acompanhando a situação de Cascavel no Paraná? Alguém se ligou nas reinvindicações dos jovens insurretos? Exatamente o cumprimento da Lei de Execução Penal.

Bom, enquanto a alienação é a regra a resolução de crimes é menor que 2% e os DP’s de Vila Matilde, Freguesia do Ó e Pq São Jorge prenderam 1 pessoa no 1° semestre desse ano enquanto que só nos DP’s de São Mateus e Capão Redondo (Juventude Viva, mas presa) prenderam 241 pessoas no mesmo período (com mandato).
Sim, antes que eu me esqueça. Os roubos de caixa eletrônico que estão rolando por ai são praticados por policiais da Força Tática. Quem sabe isso não venha a público daqui uns anos, justamente o tempo necessário para que não tenha efeito legal e mais uma vez os opressores usem nosso sangue para justificar suas medalhas.


Miguel Angelo
Fórum de Hip Hop MSP
Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta Pobre e Periférica