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sábado, 9 de março de 2019

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Miguel Angelo (LIL X) - CEO na empresa W-BOX - GOLD. 
Posse Entre o Céu e o Inferno, Insurreição CGPP.

Vou continuar essa incursão na produção cientifica sobre o rap no contexto da cultura Hip Hop seguindo com a referência de KRS-ONE (Knowledge Reigns Supreme), a Realeza do Conhecimento Supremo pra mim. O Fuca (CEO do Insurreição CGPP), sentiu essa falta e eu fiquei muito sensível a demanda, então bora lá!

Eu sou um professor original, ponto final (KRS-ONE)

“Comecei a militar na escola contra o sistema público de educação, mas as horas vagas pertenciam as quadras de basquete” (KRS-ONE)

Nosso pioneiro de certa forma do gangsta rap do lado leste, hoje com 54 anos, lançou “The Gospel of Hip Hop: First Instrument” em 2009 e é a terceira obra (The Science of Rap é de 1995 e Ruminations - Welcome Rain de 2003) deste rapper que além do mais é também um filósofo de ponta nos EUA, um aclamado professor e palestrante (mais de 500 palestras registradas em diversas universidades norte-americanas), e, sem dúvidas, um dos maiores e mais importantes militantes da causa negra no universo conhecido. Considerada uma obra prima, o livro que segue o mesmo formato da bíblia tem nada menos que 800 páginas, se tornou um manual para os membros da cultura Hip Hop e chama atenção quanto a ousadia em apresentar uma abordagem epistemológica que dialoga muito original, amalgamando filosofia prática, espiritualidade (sua mãe o introduziu nos estudos em teologia ainda quando ele era uma criança) e experiência prática recontando a história do Hip Hop com a agência de quem viveu o movimento desde seu surgimento, preservar o futuro é a incumbência do movimento Hip Hop segundo KRS. KRS-ONE (nascido Lawrence Parker) conta a história do Hip Hop como quem conta sobre sua própria biografia a partir de sua adolescência sem lar pelas ruas do Brooklyn (NY), filho de um homem da Jamaica e de uma mulher afro-americana com mestrado em educação, as primeiras rimas que o levaram ao mainstream, e os estudos que em sua filosofia da “auto-criação”. A obra se enquadra na linha de pesquisa que busca identificar na cultura Hip Hop os elementos da transformação social; saúde, amor, consciência e riqueza são alguns dos valores e metas que KRS-ONE apresenta como partes integrantes da plataforma de transformação que o movimento Hip Hop construiu para a comunidade negra. Foram nada menos que 14 anos de pesquisa empírica no desenvolvimento da obra que, segundo seu autor, busca acima de tudo a paz, a autoconfiança e a verdade (num dialogo interessante com os princípios do MAAT e a escola filosófica de Pth em KMT). O jornal Guardian chamou KRS de “Apostolo do Hip Hop”, o próprio disse na matéria de setembro de 2009; “Daqui a 100 anos esse livro será a nova religião da Terra” (talvez em menos de um século eu diria), e prossegue; "Em cem anos, tudo o que estou dizendo para você será de conhecimento geral. As pessoas ficarão tipo 'Por que ele teve que explicar isso? Não era óbvio? No meu tempo, não é óbvio. “Sou o Hip Hop” é a proposta da obra, entenda bem “Nós” somos o Hip Hop, pois essa é a lógica do valor de autoconfiança a qual a obra remete. Em termos de espiritualidade KRS explica o Hip Hop como religião; "Eu respeito o cristianismo, o islamismo, o judaísmo, mas esse tempo acabou. Eu não tenho que passar por qualquer religião [ou] linha de pensamento. Eu posso me aproximar de Deus diretamente. Nós tínhamos passado por todas as religiões do mundo no momento em que eu ainda tinha doze anos de idade" Mas a proposta não é nada simples e realmente é ousada; “A proposta é definitivamente controversa porque eu também estou dizendo que estou disposto a desistir da minha identidade afro-americana para me tornar Hip hop. Muitas pessoas não gostam disso. Americanos negros podem ser "hiphop", mas também nigerianos, cubanos e italianos. Estou disposto a ir além da minha cultura nata para criar toda uma nova civilização."

“Quando sai de casa minha mãe me deu uma ordem; me tornar um artista de rap e estudar a filosofia metafísica” (KRS-ONE)

“Não sou um filósofo de terno e gravata ou tweed, sou daqueles que veio de baixo, que saiu do seminário das ruas” (KRS-ONE)

“Existe um momento na vida em que o ritualismo e o intelecto deve ser posto de lado para que possamos pegar as armas” (KRS-ONE)

KRS-ONE começou a carreira no Boogie Down Productions, que com Criminal Minded de 1986 basicamente fundou o gangsta rap na costa leste pela originalidade da lírica de conteúdo violento e de contestação social, o próprio Ice Cube afirma que Ice T e KRS-ONE são os primeiros. O Boogie Down Productions saiu de uma articulação com Scott Sterling, um assistente social que o auxiliava KRS no tempo em que este viveu em um abrigo para jovens. Sterling foi assassinado no Bronx um ano após o lançamento de Criminal Minded. Como ativista é importante lembrar do coletivo “Stop the Violence” ainda em 1988 que deste então reúne diversos membros da cultura hip hop em turnês pelos guetos dos EUA buscando soluções pacíficas para os conflitos existentes nas comunidades. As batalhas de rima foi justamente uma proposta do “Stop the Violence” para a redução da violência armada entre jovens negros; “Você pode matar com o poder das palavras, na batalha das ideias” disse o Professor KRS-ONE, mas ponderou; “O Mundo é violento, a realidade é violenta, e muitas vezes as pessoas se utilizam de violência contra mim, evidentemente que em situações assim eu posso reagir também com violência”. Nelly, Method Man, Busta Rhymes, The Game, Hakiem fazem parte do Stop the Violence. Na área da educação desenvolveu o projeto HEAL (Educação Humana Contra Mentiras) em 1990 que se articula com o álbum Civilization vs. Technology do mesmo ano (o objetivo cumprido deste álbum foi arrecadar dinheiro para fazer 16 milhões de cópias em fitas cassetes com a gravação de uma de suas palestras na Universidade de Stanford). Na sua longeva carreira como rapper KRS-ONE tem 19 álbuns no catálogo, 3 de ouro com mais de 500 mil cópias vendidas, fora as incontáveis participações colaborativas.

“Eu não faço parte do entretenimento, eu sou o edutain-KRS-One- entertaining "!

“A lei das ruas é a única lei que eu realmente respeito.” KRS-One

Vou fechar essa nota com a entrevista/debate de/com KRS na matéria “O Professor Pode ser Ensinado?” em colaboração com Michael Lipscomb, o artigo foi publicado pela editora da Universidade de Indiana e é produto do Centro de Pesquisa Hutchins para africanos e afro-americanos da Universidade de Harvard.

Michael Lipscomb:
É óbvio que a história é importante para você. A história é como a auto-estima para você. Mas me parece que você deposita a história na política, e isso nem sempre pode funcionar. Por que usar a história como ferramenta política?

KRS-One:
Porque é distorcendo a história que muitas pessoas se tornam poderosas. Então, nitidamente a história é uma ferramenta política. É o tecido de nossas vidas. Sua cultura, e você mesmo.

ML: Mas há muitas maneiras de olhar América. Existem alguns que digamos, e eu sou um deles, que veem a América, em aspectos importantes, uma experiência cultural africana. O que é irônico é que quando um branco de classe média quer ser considerado culto, ele ou ela vai para essa análise.

KRS: Certo.

ML: O que, de certo modo, contradiz o que você está dizendo. O domínio político não é correspondido pelo domínio cultural. Como você acha que a política se relaciona com conhecimento cultural e como se pode usar conhecimento cultural como uma maneira edificante de auto estima?

KRS:
Temos que olhar para a nossa história. Para entender a natureza da fera você tem que entender sua história. Esta cultura americana não é de todo como a cultura africana. Isto é a cultura africana depois de ter nos enlouquecido. Esta é a cultura africana depois de ter sido assassinada, roubada, espancada. Antes do colonialismo nossa história é rica, desenvolvemos nossa própria civilização que teve sua própria cultura. Eles se vestiram, agiram, falei, fiz tudo de forma totalmente diferente. Eu uso a história como uma ferramenta política para rastrear como as pessoas chegaram ao poder. Eles não derrubaram a África por causa da cor, do preconceito. Foi economia - e foi também uma questão de poder. Agora, o que é o indivíduo sem a cultura?

ML: A cultura africana?

KRS: A cultura correta. O indivíduo faz parte das massas. As massas vêm primeiro e o indivíduo vem por último. Na América, o indivíduo vem em primeiro lugar e as massas vêm por último. Se massas vierem antes do indivíduo é a cultura que virá antes do indivíduo. Você faz parte de uma multiplicidade de pessoas que aprenderam e lutaram por anos e no fim a luta é sua cultura. Isso é o que te dá conteúdo. Isso é o que faz de você o africano, o asiático, o Japonês: Você é o que sua cultura lhe ensinou a ser, como você age e inclusive o que vc pensa de uma certa maneira. Quando essa cultura é despojada de você, você é deixado sem nada. Você é como um copo vazio. E as pessoas podem derramar qualquer coisa que quiserem em vc.

ML:
Eu fiquei surpreso, aliás, que W. E. B. Du Bois estava ausente da lista de leitura que você propaga, porque ele é muito importante para lidar com isso. Eu duvido que fomos totalmente despojados nossa cultura. Olhe para a história americana em meados do século XIX, em escritores como Emerson e Thoreau. Eles estavam preocupados com a ideia de Europa e a tarefa de sair debaixo de uma noção da antiguidade europeia, para que pudessem forjar outra identidade cultural. Teve uma profunda ambivalência nesta questão. Ao mesmo tempo, nas regiões do sul os aristocratas enviaram seus filhos para a Europa para "cultura". Então, nesse sentido, éramos os únicos americanos verdadeiros, porque nós tínhamos crescido aqui. Nós tivemos que lidar com essa realidade.

KRS: Não necessariamente. Eu sinto como se a América nem existe. Os únicos verdadeiros americanos são os índios americanos e eles não chamam esse lugar de América. Assim, o que é a América?

ML: América é a sombra; eu penso isso, imagino que é o que você está tentando dizer. Para muitos, a América é uma espécie de Europa bastarda. É provável que muitos europeus tenham perpetuado essa noção. Os negros fizeram a América. Como James Baldwin costumava dizer, "somos Americanos porque não sabemos nada". Por outro lado, temos formações culturais complexas como o jazz, que não é música africana ...

KRS: Jazz é música africana.

ML: Tem elementos africanos como polirritmia ....

KRS: Qualquer coisa criada por um homem negro é africana. As pessoas dividem as coisas ferrenhamente em decorrência da maneira como fomos ensinados. Nós fomos mortos mentalmente. Se um gato tinha gatinhos no forno, você vai chamá-los de muffins?

ML: Eu acho que lidar com a África e com as pessoas, sempre vai ser um pouco mais complicado que isso. Apesar de tudo, a África é uma formação profundamente heterogênea múltiplas de culturas e grupos étnicos. A cultura iorubá é distinta da cultura ibo e ambos são distintos da cultura Hausa, e elas não coexistem exatamente em harmonia perfeita. É como a Europa: lá não existe uma quantidade substancial de unidade coesa, eles tiveram duas guerras mundiais que atestam isso.

KRS: Mesmo assim, o título afro-americano é um título falso. É um título de escravo. Qualquer coisa ligada à americano é o equivalente a deixar cair a bomba em Hiroshima na história da escravidão e na história da aniquilação dos indígenas. ..

ML: Estamos falando de dois diferentes tipos de América. Eu concordarei que há todo um segmento da América que está atada a uma concepção europeia de socialismo. Mas na África, vê-se mesma coisa. Abaixo do vigésimo paralelo há mais do que um punhado de nações que tem ditaduras negras e cuja os cidadãos não podem votar.

KRS: Bem, isso é hoje, depois do neoliberalismo. A África na sua história antiga, antes da invasão da Pérsia, da Grécia e Roma, era economicamente, psicologicamente e tecnologicamente estável; racialmente e culturalmente era um lugar estável para se estar.

ML: Ainda havia luta, ainda havia conflitos, havia ainda a expansão e contração dos impérios indígenas.

KRS: Não, não antes da invasão de Grécia e Roma.

ML: Essa é uma conjectura duvidosa

KRS: Na verdade, a razão pela qual eles foram derrotados é porque eles não tinham as armas sofisticadas que Roma, Grécia e Pérsia tinham quando o Egito foi invadido. A África não evoluiu para esse estágio de tecnologia porque tinha alcançado um estágio de civilização que foi afastando-se disso. Claramente, nosso tempo e dinheiro estavam indo para a educação e conhecimento. É quando eu encontro o declínio do povo africano: quando eles foram introduzidos na Europa. Na verdade, toda essa corrida para nos introduzir na Europa só fez nos destruir.

ML: Eu acho que isso é simplesmente superstição. Até mesmo o Chanceler Williams, que escreveu "A destruição da civilização negra", afirmou que, entre suas principais fontes utilizou Heródoto, "o pai da história", que foi alguém que admirava a África. Ele teve que se passar por "escravizado", a fim de obter a história sobre África. O que ele fez foi apenas pegar, através de várias fontes, as imagens boas sobre a África em meio o que havia de ruim sobre a África. Então ele simplesmente realizou uma seleção; justamente o que os brancos fizerem, mas dando ênfase em suas dimensões negativas. Você cria uma história oficial e depois começa a construir uma cultura teórica em torno disso, enfatizando qualquer coisa que suporte sua história e deixando de falar do restante. O perigo é que muito dos rappers podem cair em uma contraficção com outra história oficial e acabam fazendo exatamente o que eles condenam os europeus por terem feito.

KRS: Eu estou atentando sempre para não fazer. Toda minha história vem de um ponto de vista lógico, realmente não é ponto de vista histórico. Se você for a uma outra terra e saqueia, estupra e mata povos mentalmente e fisicamente - para o seu próprio benefício, você é um assassino e um ladrão.

ML: Você está dizendo que os africanos nunca fizeram isso?

KRS: A cultura egípcia fez isso constantemente. Sim, há muita culpa na cultura africana, mas a cultura africana, ao contrário da cultura europeia, estava muito longe deste universo. Nós estávamos passando por um estágio do que realmente podemos chamar de capitalismo. Na televisão, eles mostram isso como escravidão, mas em seu sentido político era capitalismo. O Egito estava avançando e evoluindo em um estado de harmonia universal ou de unidade -porque os africanos viajaram o mundo. Em qualquer lugar do mundo, se você queria aprender, você tinha que ir até o Egito.

ML: Mas eu até questiono toda essa ideia do Egito como berço cultural. A historiografia ainda está evoluindo. Há historiadores brancos importantes que defendem o Egito como berço cultural. Você leu o "Athenas Negra" de Martin Bernal?

KRS: Sim.

ML: Ele traça as questões culturais em parte através do desenvolvimento da língua grega. E o que você encontra em grego é algo com ambas influências níticas e semíticas. E tem havido uma quantidade crescente de pesquisas arqueológicas sobre as antigas civilizações enterradas sob o Sudão. Então eu estou desconfortável com esta ideia predominante que retrata o Egito como único farol da iluminação da África.

KRS: Eu dou ênfase no Egito porque foi um dos principais locais de aprendizagem. Este foi o primeiro lugar que a Grécia atacou: foi provavelmente uma das mais populosas áreas para os estudiosos. Mas a África como um todo fez parte de um grande desenvolvimento do aprendizado. Meu ponto, voltando para ele como ferramenta política, é que a subjugação dos outros é a forma como as pessoas ganham seu poder político, e eles fizeram isso tirando nossa história. Conhecimento é por saber, uma coleção de fatos; a inteligência é a capacidade de conhecer, avaliar e questionar. Obviamente, se alguém está lhe dando conhecimento, e você não tem a inteligência para assimilar isso, você é basicamente um escravo para a pessoa que lhe deu o seu conhecimento. Eles ditam como eles querem a forma como vc deve ser e agir. O que aconteceu é que o africano tem sido despojado não de conhecimento, não de suas datas, fatos e números, mas de sua inteligência, de sua capacidade de avaliar o que está sendo arrebatado ao seu redor

ML: Afro-americanos são frequentemente uma fotografia confusa, mais ou menos libertos de suas contrapartes africanas. Muitos Afro-americanos tomaram parte de movimentos modernos. Marcus Garvey não pôde iniciar seu movimento na Jamaica. Ele tinha que vir para a América. Interessantemente seu herói era Booker T. Washington. Então, o que eu vejo são diferentes níveis de Africanidade. Onde você está posicionado em relação a isto? Parte do que traz sua música é a variedade de sons de reggae que você emprega. Como Bob Marley, você joga reggae em uma tradição do rock.

KRS: Meu pai é jamaicano. Minha mãe é americana. . . eu sou nascido na América. Denuncio essa ideia de identidade americana.

ML: Eu acho que isso tem muito a ver com o fato de que os índios negros do oeste nunca foram capazes de aceitar o fato de que os negros são uma minoria na América. Você lida com isso em uma de suas próprias músicas. Mas você não acha interessante que Jamaicanos fujam da ilha onde são a maioria tão rapidamente quanto os cubanos brancos fugiram de Castro?

KRS: Bem, a razão é a desgraçada pobreza que existe lá. Todo mundo está perseguindo os itens materiais. Jamaicanos não são diferentes. Eles querem uma casa, um carro, uma garota ou um homem. A América é apresentada a eles na televisão como sendo a terra onde as ruas são pavimentadas com ouro. Então naturalmente eles deixam sua terra pobre para vir para a América. Eu só acho que todos os africanos sobre o mundo deveriam ser africanos, chamar si e reconhecer-se como africanos. Assim como os italianos se reconhecem como italianos.

ML: Por quê? A América é um fenômeno diferente comparado a Itália.

KRS: Mas a América não existe.

ML: Sim, isso acontece: na verdade, o norte Americano criou uma cultura que é distinta do que podemos ver em qualquer região da Itália. Historicamente, as pessoas quem vem aqui porque querem fugir de sua terra natal, por várias razões, filhos, como você disse, e muitas vezes motivados pela perspectiva de novas oportunidades. Mas talvez eles simplesmente queriam fugir. Para começar de novo.

KRS: Certo.

ML: Frequentemente eles estavam interessados em manter sua cultura, seus laços com uma existência mais antiga. Isso é o que D. H. Lawrence pode ter tido em mente quando disse que a América é uma Europa recriada. Mas parte do que é básico e distintivo para a cultura é a experiência da escravidão, o drama interracial, James Baldwin fala que se criou não só um novo tipo de homem negro, mas um novo tipo de homem branco também. Por esse raciocínio, então, quem pode dizer que os americanos negros não são americanos, eu posso?

KRS: Se negros americanos fossem americanos, nós não teríamos vindo para cá em navios negreiros.

ML: Você está negando a realidade da transição. Ela está aqui.

KRS: É como chegamos aqui. Todo o mundo mais veio aqui procurando uma maneira melhor da vida. Os africanos vieram algemados. Nós não pedimos para vir para cá. Então agora que estamos aqui e você se adapta e gera filhos que cresceram aqui na América, nós rapidamente somos chamados de americanos. Quando, na verdade, a América é o que tem nos matado por quinhentos anos.

ML: Por outro lado, nós estamos construindo a América por quinhentos anos.

KRS: Com base na força do opressor

ML: Legalmente, estamos na América. E há a décima terceira, décima quarta e a décima quinta emenda do nosso lado. Desde a 1865, fomos tomados como parte da Política americana.

KRS: Olhe para a Proclamação de Emancipação. Diz que a partir de janeiro, 1 de janeiro de 1863, todas as pessoas mantidas dentro de um estado ou parte de um estado em rebelião armada era livre. Os estados que estavam em rebelião armada eram estados confederados. Os estados do norte não tinham rebeldes armados em rebelião. Em última análise, Lincoln enganou as pessoas africanas ao fazerem-nas acreditar que elas seriam beneficiadas quando na verdade tudo fazia parte de um acordo com todas as pessoas tidas como escravos dentro de um estado que estava em rebelião armada. Então todos os estados do sul, todos os escravos do Sul estavam livres quando, na verdade, lá era um governo totalmente diferente. O Norte tinha escravos.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 1.

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 1.
Miguel Angelo (LIL X) - CEO na empresa W-BOX - GOLD. 
Posse Entre o Céu e o Inferno, Insurreição CGPP.

Foi em meados dos anos 90 (séc XX) que a cultura Hip Hop ganhou notável espaço nas universidades dos EUA. Com estudos intensos buscando a compreensão de um fenômeno que realmente mudou a lente que a sociedade estadunidense utilizava para apreender a realidade surgiram diversos estudos nas áreas das ciências humanas, com destaque para as análises históricas, jornalísticas e comunicação & artes. Vamos começar com algumas delas;

• Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America

Uma referência importante nesse sentidos é da Professora Trice Rose que é socióloga lecionando na Brown University associada ao departamento de estudos africanos e diretora do Centro de Estudos de Raça e Etnia na América da mesma universidade. Ela escreveu o livro "Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America" em 1994 a partir de sua tese de doutorado, que alias foi a primeira tese de doutorado da história dedicada exclusivamente a cultura Hip Hop. Black Noise esteve entre os 24 livros mais lidos segundo a The Village Voice à época e recebeu o premio, o American Book Award da Before Columbus Foundation em 1995. 

• "kickin' Reality, Kickin' Ballistics: 'Gangsta Rap' and Postindustrial Los Angeles" 

O historiador Robin Keley (Robin Davis Gibran Kelley) , que é professor de História Americana na UCLA, tem um capítulo, "kickin' Reality, Kickin' Ballistics: 'Gangsta Rap' and Postindustrial Los Angeles" dedicado a cultura hip hop em seu livro "Race Rebels: Culture, Politics, and the Black Working Class de 1994 em que trata da história e cultura afro-americana enfocando seus movimentos sociais privilegiando as relações raciais nos EUA. 

• "Hip Hop America"

Nelson George colunista de música, crítico cultural, jornalista e cineasta indicado duas vezes ao National Book Critics Circle Award e vencedor duas vezes do ASCAP-Deems Taylor publicou "Hip Hop America" em 2005. A obra é não-academica o que permitiu atingir um grande e diversificado público, as temáticas centrais são a política, cultura e a economia nos negócios do Hip Hop. George é um mais populares colunistas da cultura pop afro-americana hoje nos EUA e, evidente, fã da cultura Hip Hop. Nelson George ainda é supervisor de produção e roteirista da séria da Netflix "The Get Down"; "Hip Hop America é o relato definitivo da colisão entre a cultura da juventude negra e a mídia de massa e seu impacto na mudança social."

• "When Chickenheads Come Home to Roost: A Hip Hop Feminist Breaks it Down"

Joan Morgan, que atualmente cursa o doutorado na New York University, publicou "When Chickenheads Come Home to Roost: A Hip Hop Feminist Breaks it Down" em 1999 gerando impacto importante e se tornando sua mais famosa obra. Esse livro discute a complexidade de uma identidade feminista entre as mulheres negras dentro de um movimento centrado no homem negro, as contradições e possíveis reconciliações em um contexto de sociedade de tipo patriarcal analisando rappers como Lil 'Kim e Queen Latifah. Janet Mock da New York Redefining Realness considera a obra representante de toda uma geração de mulheres negras que começaram a revindicar seu espaço como protagonistas no movimento Hip Hop, a chamada geração pós feminista. Joan cunhou o termo "hip-hop feminism" nesta obra. 

• Rap Music and the Poetics of Identity

O hoje já falecido, professor branco de análise musical da Nottingham University no Reino Unido, Adam Krims, nos legou a obra "Rap Music and the Poetics of Identity" escrita em 2000 surpreendendo os próprios membros da cultura Hip Hop com a facilidade de compreensão de o autor conseguiu articular para explicar a apreensão da forma de organização do movimento e para a formação das identidades ocorrem em seu seio. A obra ataca os críticos culturais que à época reduziam o rap a um discurso apolítico e de pouco impacto social positivo com a análise das obras de rappers do calibre de Ice Cube, Goodie Mob e KRS-One.

• Rap Music and Street Consciousness

A professora de etnomusicologia da Escola de Música Herb Alpert da UCLA, Diretora da pós-graduação em musica popular americana e história e cultura da música rap, Cheryl L. Keyes, lançou "Rap Music and Street Consciousness" em 2004 que foi ganhador do premio CHOICE por melhor título acadêmico no mesmo ano. Keyes é pioneira em análises etnográficas da música rap, e "Rap Music and Street Consciousness" é a primeira obra que analisa o rap a partir da metodologia musicológica realizando uma verdadeira arqueologia do gênero desde a tradição musical dos povos da África Ocidental, passando pelo Dancehall jamaicano e as expressões vernaculares afro-americanas até o mainstream da época. Keyes define o rap como; " [...] um fórum que aborda a marginalização política e econômica de jovens negros e outros grupos, promovendo o orgulho étnico e exibindo valores e estética culturais". A obra trás a analise das obras de referencias centrais da cultura Hip Hop como Afrika Bambaataa, que considera seu padrinho, da Zulu Nation, George Clinton & Parliament-Funkadelic, Grandmaster Flash, Kool 'DJ' Herc, MC Lyte, LL Cool J, De La Soul, Public Enemy, Ice T, DJ Jazzy Jeff & Fresh Prince e The Last Poets sempre desafiando análises acadêmicas externas ao Hip Hop. As pesquisas etnográficas foram realizadas em Nova York, Los Angeles, Detroit e Londres e trás entrevistas com artistas, produtores, diretores, fãs e empresários da cena. Muitos temas novos foram abordados na obra com a questão do surgimento dos (as) rappers brancos (as), os impactos legais das novas inovações tecnológicas, o impacto dos vídeo-clipes de rap, o gangsta rap, o Rap do Sul e os subgêneros do rap centrados na dança. Uma parte do livro é dedicada a questão das carreiras cruzadas de rappers que se tornaram milionários também em outras áreas como no cinema, os casos de Queen Latifah, Will Smith e Ice Cube, assim como o império multimídia de Sean 'P. Diddy' Combs, a Death Row Records, as tensões entre as costas oeste e leste, os assassinatos de Tupac Shakur e Christopher 'The Notorious Big' Wallace assim como as tentativas de unificação da Nação do Islam com a Nação Hip Hop.

• The Hood Comes First

Obra de 2002, The Hood Comes First foi escrita pelo professor branco associado de música e estudos da comunicação da Nottingham University no Reino Unido, Murray Forman. Nesta obra, Murray buscou captar as ressonâncias da música rap a partir do espaço urbano, nas territorialidades dos guetos onde vivem os negros afro-americanos. É um estudo que busca entender como o rap, nas suas mais varias vertentes e meios (como cinema, rádio e vídeos clipes) explicam o território e as identidades individuais e coletivas trabalhando com as categorias "gueto", "centro da cidade" e "bairro". O método de Murray busca uma negociação entre a linguagem acadêmica e a linguagem das ruas na dinâmica raça, espaço social e juventude. Mostra a centralidade do território na discursividade do rap, defendendo inclusive que o espaço geográfico é central na identidade autêntica do movimento Hip Hop, que modifica as ideias de raça, classe e identificação nacional. Uma das contribuições da obra se refere a análise dos processos dentro da industria cultural que culminou na projeção internacional da música rap.

• Check It While I Wreck It: Black Womanhood, Hip Hop Culture, ans the Public Sphere.


A Socióloga professora de estudos da mulher e estudos de gênero do College of Arts & Sciences ligado a Syracuse University, Gwendolyn D. Pough publicou "Check It While I Wreck It: Black Womanhood, Hip Hop Culture, ans the Public Sphere" em 2015, esta obra, de certa maneira, está em diálogo com a de Joan Morgan no sentido de realizar uma provocação central; Por que as mulheres negras no seio da cultura Hip Hop ainda lutam por igualdade mesmo com a projeção da música rap no mainstream? Como Joan, Gwen busca compreender a complexa relação que as mulheres negras vivenciam ao articular a vivencia na cultura Hip Hop com o feminismo. A análise de Gwen articula a cultura musical afro-americana de suas raízes até o rap assim como articula as identidades das primeiras gerações de mulheres negras influentes de Sojourner Truth, passando pelas referencias da luta pelos direitos civis e do movimento Black Power até chegar em Queen Latifah, Missy Elliot e Lil ' Kim que para Gwen são referencias chave hoje para compreender como as mulheres negras estão recuperando um legado que visa atrapalhar e ocupar a esfera pública patriarcal dominante. Gwen discute ainda como as jovens negras de hoje veem lutando contra a linguagem estereotipada do passado ("castrating black mother," "mammy," "sapphire") e do presente ("bitch," "ho," "chickenhead"), e defende a música rap como uma ponte que mulheres negras encontraram para contar sobre suas vidas, construir suas identidades e desmantelar representações negativas do passado e do presente referentes a feminilidade negra utilizando como exemplo a própria relação que se dá atualmente na produção de raps da mulheres negras que utilizam a retórica masculina sobre o amor como meio de dar poder as suas discursividades. A obra defende o papel da música rap como método pedagógico assim como sua importância para os movimentos negros e o feminismo negro. Em síntese a obra é uma defesa da cultura Hip Hop e da música rap assim como uma denúncia ao sexismo e a misoginia inerente ao mainstream.






sábado, 24 de novembro de 2018

CLIPE: O Cenário Ainda é o Mesmo - Insurreição CGPP


Música: O Cenário Ainda é o Mesmo
Artista: Insurreição CGPP
Gravação e Vídeo: Marcos Favela

Letra:

Começa assim em meio ao sonho de criança.
As vezes dor, rejeição e agonia.
História pobre diferente da bonança, negada de esperança.
É dor vivida, relatos dos dia a dia

De um cara humilde longe da família
De uma mulher presa por tráfico
De tudo hoje que permeia nossa vida, um jovem cheio de ira
Ou levando um fim trágico

Ou dos barracos descendo todo morro
Ou suas coisas boiando num riacho
Os filhos na rua implorando por socorro
Levando uns esporro tomando esculacho

Meu semelhante afundado no cachimbo
Meu conterrâneo que tá desempregado
A carteira de trabalho sem carimbo, a mãe vai sucumbindo
pivete viciado.

A depressão que domina varias mentes
A válvula é bote, coca e cerveja
alimento de falsa semente, nos fazem de demente
agrotóxico tá na mesa.

Sem o direito de saber ler e escrever
sem questionar o estereótipo da tv
Mais um adulto analfabeto funcional
Sem entender o fmi o banco mundial

Pausa:
Quais medidas pra reduzir desigualdades?
Que saída contra desumanidade?
Opressor tem o poder e sem renuncia
Qual o valor real dessas denúncias?

Realidade que não se varre pra debaixo do tapete
Mais um se foi sem homenagem dos cadete
Varias disputas e nossos corpos entre tiros
Como aceitar esses velórios coletivos?

Parte2:
Corra!!! Que vem vindo o rapa ali atrás
O medo constante, perder mercadoria
Refugiados trampando no Brás
Batalham duro por uma melhoria

Porra!! me diz se um dia existiu a paz?
Se o progresso é aliado a guerra
Me responda isso se for capaz
Sem teto, sem chão, sem grana, sem terra

Vão dizer, que sigo mais do mesmo
Cegamente batendo na mesma tecla
Aqui pm ainda atira a esmo, já sabem o segredo.
Capuz motocicleta

Ou manos se matando no sistema
Ou se doença sai morte natural
Privatizar agora é o esquema, de massa um problema.
Lucrar com grade ou funeral

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Participação no encerramento da 4º Semana de Hip Hop em Jundiapéba - 17/11/2018

Participação no encerramento da 4º Semana de Hip Hop em Jundiapéba - 17/11/2018

[Participação voluntária em fortalecimento ao mano Celso Poeta Xavier-ACENA]
 
Insurreição CGPP - Fuca

Músicas: 
1- Intro (álbum vol.1)
2- Pesadelo do Sistema - participação do Marcos Favela
3- Desde Criança  
4- Estou de Luto.






sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Clipe: Pesadelo do Sistema - Marcos Favela + Insurreição CGPP



Fuca – letra:

Pesadelo do Sistema caneta pesada não vou abandonar
Fuca Insurreição , chega mais Marcos Favela
Sem trégua nos trampo de base, debate, na formação
Comendo pelas beiradas em outra geração: Revolução
Então, vamos lá, mãos a obra no RAP
Descolonizando os versos que outrora me libertou
Os livros como escudo, as palavras de Malcolm (hou)
A luta consciente é por isso que aqui estou
Passando minha mensagem, exemplo e atitude
Viver após a morte a minha pretitude
Respeito aos que lutaram antes
Meus ancestrais tão orgulhosos e nunca estão distantes
Até poderia romantizar minha obra,
mas o alvo principal das balas é pele preta
Ser indireto pra gerar as massas de manobra
Governo genocida, da esquerda à direita!
Derrubar quem tá no poder
O Favela deu a letra: Morte ao Estado
Nenhum partido pra nos foder
Se é anticapitalismo, estamos lado a lado
Pra politizar os brutais acontecidos
Tudo que nos assola feito uma praga
Seja Amarildo ou Davi desaparecidos
Ou as prisões injustas de Rafael Braga
Vejo o trabalhador sempre precarizado
o acumulo absurdo nos paraísos fiscais
Mas eis que surge um povo politizado
Por outro lado, distante o caminho da paz!

Marcos Favela – letra:

Já não posso mais sair nas ruas
Sem tropeçar em viatura
Já não posso mais andar tranquilo
Posso até levar um tiro
Eles vêm na sede pra matar
Se não matar, eles vão querer prender
Eles vêm na sede pra forjar
Kit flagrante só pra nos foder
Eles vêm na caça de quem tá na quebra
na boa, naquela com manos, família que não deixa goela
o baguiu tá foda, esses vermes ramela
Arrasta o role e tira nossa paz
Faz a mãe sofrer mais um filho aqui jaz
O mais foda é que esses vermes
Tem aval do próprio Estado
Falta pouco pra esse RAP
De terrorista ser taxado
A lei protege os machistas,
os fascistas e os racistas
Falta pouco pros nazistas,
também estarem nessa lista
Eu sei que de forma indireta a lei já protege
Esses verme na terra, por isso é regra é tiro na testa
Vai! Vai!
Justiça, esse é nosso lema
Nos tornamos pesadelo do sistema!!!

domingo, 7 de outubro de 2018

Insurreição CGPP (Álbum 2018)

Formado na periferia de São Paulo, o Insurreição CGPP, traz de forma rimada um cotidiano de luta contra as opressões que ainda insistem em existir. Após quatro de anos gravando de forma independente e intermitente, o grupo disponibiliza, enfim, seu primeiro álbum. Que representa a revolta contra as desigualdades sociais, econômicas e raciais que pairam o nosso cotidiano. Os estúdios das quebradas permitiram que esta etapa fosse alcançada. Confiram!


Contando com faixas gravadas entre 2014 e 2018, de forma autônoma, independente e radical, fica disponibilizado um conjunto de ideias rimadas que representa um pouco do desdobramento do cotidiano de luta. Batalha travada nos quatro cantos da cidade e região metropolitana de São Paulo, onde a ilusão do pequeno progresso imaginário do acesso ao consumo material não brecou o cotidiano violento e a falta de estrutura. Pelo contrario, o projeto da supremacia branca da camada mais rica e suas diversas elites visa nossa destruição nessa nação ingrata chamada Brasil. Se muitas vezes é tratado o eixo sp/rj sabe-se que o restante do país sangra da mesma maneira conforme as pautas que travamos. Quando não nos matamos, o Estado mostra que detêm o poder letal. Então os insurretos gritam e clamam levante!

A arte pela arte é surda é muda, risada pela risada é alienação é comodismo. Entre os erros e acertos fica a autenticidade desse trampo. A indignação, a revolta, a denúncia.

Fuca - Insurreição CGPP


contato: email- spqvcnaove@gmail.com










terça-feira, 19 de abril de 2016

Ato de 1 ano da Chacina na torcida Pavilhão 9

Ato de 1 ano da Chacina na torcida Pavilhão 9
Praça da Sé - Sp - 18/04/2016
Foto Fuca

PAVILHÃO NOVE EM ATO RAP DE UM ANO CONTRA OS CRIMES DA CHACINA DO DIA 18 DE ABRIL DE 2015.
Texto Rapper Pirata


Ontem segunda feira, 18/04/2016, na Praça da Sé da cidade de São Paulo, em frente a igreja foi colocado um carro de som e diversas faixas Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica em protesto contra as falhas na apuração dos crimes ocorrido na quadra da torcida Pavilhão Nove, que era localizada debaixo da Ponte Vila do Remédios. Lá houve oito assassinatos de oitos torcedores: esse ação fora causada por funcionário público que atuam na policia militar do estado de São Paulo.
Nessa segunda se fez um ano da chacina que policiais estão sendo inocentados pelo promotor Zagallo que defende as instituição do estado, mas ignora que eles são réus e deixa as familias que são as vitimas o gosto de injustiça em sua garganta.

A Torcida Pavilhão Nove junto com o Forum Hip Hop MSP. Comite Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica , grupo Tortura Nunca Mais junto com os familiares realizaram um protesto que durou quatro horas na busca de justiça.

Houveram alem da falas de protesto, hinos e apresentação de diversos grupos de rap que formam o Forum quanto ao movimento hip hop da cidade de São Paulo.


forumhiphopeopoderpublico.blogspot.com.br



















sexta-feira, 3 de julho de 2015

Cyblack do grupo Impacto Norte - Entrevista

Salve! Ae diretamente da Zona Norte de SP, gueto, favela. Representando de forma pesada o Rap Nacional, A Mc Cyblack, guerreira que concedeu uma entrevista para o Blog falando da sua visão e vivência no Rap.
"...como todo começo é sempre complicado, pois ainda na época a mulher cantando rap era coisa que não podia acontecer, os machistas achavam que lugar de mulher era na cozinha, mas eu nunca me importei com isso porque quando eu subia no palco quem tremia eram eles"

Cyblack do grupo Impacto Norte - Entrevista
https://www.facebook.com/pages/Impacto-norte-sp/872760672758069?sk=timeline



Spqvcnaove - Como começa sua história no Rap?
Cyblack - Eu curto rap desde que me entendo por gente, comecei ouvindo Racionais Mc´s e depois daí nunca mais parei. Enquanto as outras meninas da minha idade na época queriam brincar, eu pensava só em ouvir Rap. Bem, no caso, o meu envolvimento no Rap foi no ano de 2000 quando eu escrevi a minha primeira letra que se chama "Não Desista dos Seus Sonhos" mas até hoje eu ainda não gravei. No ano de 2001 eu fui convidada a participar de um grupo chamado na época "Estilo Próprio", mas não deu certo, os integrantes não estavam na mesma vibe. Fiquei no grupo por 6 meses e resolvi sair quando meu irmão, que já cantava, me convidou pra fazer participações no grupo dele, que na época era ele, Leandro, e Bill kamikase.  Desde o ano de 2001 eu estou junto com o meu irmão fazendo parte do 'Impacto Norte ' pois o bill kamikase se converteu e não achava mais viável participar do grupo. Hoje o grupo é composto por Leandro Neves, Bryan Black (meu filho) e eu Cyblack, já são 14 anos de caminhada.




Spqvcnaove - De onde é a origem do grupo Impacto Norte? 
Cyblack - Impacto norte -SP somos nascidos e criado na vila Brasilândia, Zona norte de São Paulo.

Spqvcnaove - O Rap ainda é o som de periferia favela?
Cyblack - Bem, eu ainda acredito que a verdadeira história do Rap verdadeiro ainda não acabou, claro que hoje em dia a essência do Rap Nacional realmente não faz jus ao que realmente foi o Rap. Hoje em dia as pessoas preferem ganhar dinheiro do que lutar pelo povo da periferia, pois querendo ou não o nosso estilo é o único que fala da vida cotidiana de quem vive na periferia, nós somos a voz do povo da favela, ainda tem vários grupos que não se deixaram levar pela emoção ou pela alienação da mídia, como por exemplo o Única Chance, Panico Brutal , Simony, Insurreição, por isso eu digo que ainda existe o Rap verdadeiro na favela. Acredito que sim ainda o rap é o som da favela!

Spqvcnaove - Como foi sua caminhada artística no início? 
Cyblack -Bem, como todo começo é sempre complicado, pois ainda na época a mulher cantando rap era coisa que não podia acontecer os machista achavam que lugar de mulher era na cozinha, mas eu nunca me importei com isso porque quando eu subia no palco quem tremia eram eles!!! rs. A luta é constante, pois o rap é um estilo muito pesado que faz com que a sociedade feche as portas; claro como eles estão alienados é demais pra eles ouvirem a verdade.

Spqvcnaove - Como que você avalia o quanto se discute a questão feminina nas quebradas? Ainda ocorre muito disso de homem dizer aonde é o lugar da mulher e o que ela deve ou não fazer?
Cyblack - Sim, isso acontece muito ainda hoje, por exemplo, na hora de fazer os eventos os caras deixam pra gente cantar por último tipo dando uma canseira pra gente desistir de subir no palco, muitos ainda boicotam o nosso mic. Vixi, são várias fita, na indireta e algumas diretamente mesmo, sofremos preconceitos ainda mais quando cantamos músicas pesadas os caras não se conformam com isso.

Spqvcnaove - Você acha que as pessoas refletem, quando você tá com o mic na mão, tudo o que você passou na vida? Você acha isso relevante?
Cyblack - Pra mim isso é importante, das pessoas prestarem atenção na mensagem que eu estou passando, pois pra mim subir no palco não é simplesmente cantar, pra mim é algo pessoal, passar as mensagens verdadeiras pra pessoas refletirem, uma vez eu até me emocionei foi na apresentação do mês do Hip Hop, no Vale do Anhangabaú, eu me apresentei o pessoal curtindo, mas uma pessoa em especial me chamou a atenção quando terminei de mandar a rima um morador de rua com os olhos cheios de lágrimas quase não consegui falar, simplesmente ele chegou perto de mim apertou minha mão e disse eu entendi tudo que vc disse. "eu lembrei de como a minha vida era e de como ela é agora", eu simplesmente não conseguir dizer nada mas foi muito gratificante para mim, me senti realizada. Eles, na maioria das vezes, são vistos pela sociedade como pessoas que não tem consciência de nada, que só vivem no mundo deles, etc... mas não é bem assim, um deles me enxergou e me ouviu.


Spqvcnaove - No município de São Paulo tivemos em março de 2015 o mês do Hip Hop, onde foi debatido, nas oficinas dos 4 elementos e nos shows, a questão do genocídio da juventude preta, pobre e periférica, você acha importante tá debatendo essa questão? Esse genocídio existe mesmo?
Cyblack - Com certeza, isso deve ser debatido sempre, até que a população enxergue como são as coisas que o governo impõe sobre o povo da periferia. O genocidio acontece todos os santos dias, mas não são divulgados na mídia, só nós que somos da periferia sabemos realmente o que acontece, isso pro governo não é nada importante. Por isso não é divulgado pra geral, mas ainda bem que tem pessoas que levam isso a sério que divulgam o que acontecem sem medo de represálias, isso é um assunto que deve ser debatido sempre por nós mesmos pq se depender do governo estamos fudidos, então é nós por nós e DEUS pra todos.

Spqvcnaove - Depois de 14 anos de história, vocês tem previsão ou planos pra tá lançando um CD?
Cyblack - Sim, a gente tinha feito um LP chamado "lado norte lado loko" alguns anos atrás, mas estamos batalhando pra fazer um cd completo. Ainda não decidimos qual vai ser o nome do álbum, mas posso adiantar que vai ser pesado, o impacto norte-sp de antes não é o mesmo de agora .


Cyblack - Bem, quero mandar um salve pra todos que acompanham nosso trampo, agradecer a minha mãe pelo apoio sempre, ao Bill Kamikase pela jornada, aos manos da Insurreição, Pânico Brutal, Simony, Única Chance, que admiro pacas, Daniel lhp, Simão, Remerson, Marquinhos Panico Brutal pelo incentivo e apoio sempre, ao meu primo Cláudio, Caio César, enfim sinto honrada por todas essas pessoas valeu galera salve tmj juntos!

Blog- Muito Obrigado, CYBLACK!
https://www.facebook.com/pages/Impacto-norte-sp/872760672758069?sk=timeline
Contato: (11) 95028-3934 (vivo) 95201-9128 (tim) 
e-mail: cyblack_25@hotmail.com

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Única Chance - Entrevista Rap

Direto da zona sul de São Paulo, periferia! O Única Chance é mais um grupo que resiste, e que através de formação e informação age principalmente no Jd Clipper. Aqui eles falam sobre o grupo, sua origem e das intervenções com o Cine Gueto pelo coletivo Dona Maria Antifascista. E já adiantamos, o som é pedrada!



Spqvcnaove - Quem são os integrantes do Única Chance? É a mesma formação desde o inicio?

U.C: José Dellano (Vulgo Aliado treze) e Roberto Almeida (vulgo Bethoven), sim é a mesma formação !

Spqvcnaove - Qual é a quebrada de origem do grupo? Tem como vocês descreverem essa quebrada?


U.C: A nossa quebrada é um conjunto de favelas da zona sul de São
Paulo são: Jardim Iporanga, Jardim Presidente, Jordanopolis, Vila Clipper! É como todas as quebradas do Brasil, sofre com o baixo investimento da políticas publicas, sem educação, saúde, emprego, sobra crime e tráfico pra nóis; onde único órgão governista que chega até a favela é a Policia fascista.

Spqvcnaove - Qual o porquê do nome Única Chance?

U.C: A representatividade do nome “Única chance” reflete toda trajetória percorrida por nós, passamos por todas mazelas sociais que a periferia sofre: fome, falta de uma estrutura educacional, sobrevivemos ao tráfico de drogas e as investidas da policia. Com passagem por outros grupos de rap sem sucesso, fomos apresentados em uma noite fria, na base da garoa olhando na “bolinha do olho” no campo do Iporanga (caldeirão), foi firmada essa parceria e que seria nossa Única Chance em fazer Rap!

Spqvcnaove - De onde veio a necessidade ou a decisão de ser um Rapper?

U.CBethoven: tive o meu primeiro contato com o rap através do lixo! Na época eu tinha entre 11 e 12 anos estava trabalhando com
o meu pai, na casa do meu irmão no jardim Guarujá; quando saí da casa encontrei uma sacola com várias fitas misturadas com lixo doméstico (fiquei com medo do meu pai brigar comigo por estar mexendo no lixo), então, peguei umas três fitas e escondi no bolso depois guardei na minha mochila. Fomos pra casa no fim do dia, no dia seguinte meu pai foi trabalhar e minha mãe tinha saído (não me recordo o que ela ia fazer) liguei o toca fita e comecei escutar uma sessão de peso, “dinamite” não entendia nada, mas as batidas e as levadas me deixaram alucinado. Passado algum tempo na empolgação ainda da novidade jogando bola na rua de casa escuto um som que eu compreendia, pois relatava muito o dia a dia da periferia, era os Racionais mc's disco sobrevivendo no inferno! Anos depois conheci alguns rappers e tinha alguns grupos na quebrada acho que foi o momento que decidi ser Rapper também ao ver conhecidos no palco!
Aliado 13: o rap surgiu como brincadeira mesmo, quando Douglas, Everton (outros manos do Parque Alto) em uma roda de zoeira disse: "Você leva jeito pra fazer rap." No começo achei irônico, mas sempre ouvi bastante rap: Racionais, Facção Central, Rzo, Sabotage, etc. Comecei escrever e ler bastante. A partir desse start percebi: "tá aqui onde vou expressar todo meu ódio contido, onde vou fazer minha liberdade de expressão valer e gritar para todos os cantos, somos seres humanos e temos direitos e não só deveres."

Spqvcnaove - Como é a atividade desse grupo? Tem algo além das apresentações?


U.C: Somos um grupo novo, desde 2013 estamos realizando as atividades musicais, tivemos uma grande projeção no ano passado (2014), diversas apresentações desde CEUs, casas de culturas, quebradas, espaços libertários. Além das apresentações musicais, estamos engajados na luta pela sobrevivência da população periférica, e resgate da matriz africana na quebrada. Somos uns dos idealizadores do projeto “Cine Gueto”, que visa trazer o poder do questionamento aos nossos, resgate da historia negra, enfatizar que podemos produzir, e reproduzir cultura sem precisar esperar pelo Estado. A partir desse projeto foi criado o Coletivo Dona Maria Antifascista, que tem o propósito de difundir a cultura subversiva, através de ações voltada contra o extermínio da população negra e pobre, machismo, gênero, racismo, etc; pois, não adianta fazer todo um questionamento se não estamos realizando nada pra mudar nosso espaço, nossas favelas!

Spqvcnaove - Nessa caminhada no Rap, tem como vocês citarem mais sobre as fases do grupo? Se a perspectiva de hoje era a mesma de ontem? E o que vocês diriam do futuro?

U.C: Do inicio até os dias atuais foi aprendizagem, tanto na questão pessoal quanto na questão musical, todo esse ciclo deixa uma única certeza, a resistência e luta define nosso Time. A perspectiva do grupo continua a mesma, utilizar o rap como ferramenta de construção da mudança para periferia, mostrando que a voz das estática nunca serão silenciadas, como diz Marighela “Há os que têm vocação para escravo, mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.”(Rondó da Liberdade). O futuro é apenas somatório do passado, com a construção no presente, estamos para lançar nosso primeiro cd chamado “Made in Brazil”, estaremos produzindo a partir desse trabalho físico, Clipes, DVD e já temos projetos musicais a serem feitos, e a guerra continua seja na militância e na musical; pelo gueto para o gueto !

Spqvcnaove - O álbum "Made in Brazil" tem previsão de lançamento? O que podemos esperar desse trampo?


U.CComo foi dito inicialmente, será lançado via web e o lançamento físico estamos fazendo o planejamento de como por o trampo na rua para facilitar a compra do mesmo, promoções em algumas rádios do gênero, estamos estudando ainda. O que esperar desse trampo mano muita resistência, vivência e postura de rua.

Spqvcnaove - Como vocês avaliam o movimento hip hop na atualidade?

U.CMano pra avaliar aqui em termo nacional eu consigo ver uma transição de gerações onde podemos ver, por exemplo, o ilustre Nelson triunfo, um personagem histórico do movimento hip hop, há anos vem divulgando o hip hop, teve grande participação na abertura da casa de hip hop de diadema, local que realiza trabalho com as crianças/adolescentes onde os participantes dessas oficinas têm contato com todos os quatros elementos do hip hop. Mas agora na atualidade vejo um cenário inverso os elementos separados, cada um por si só vejo evento grande com o MC e o DJ, perdendo toda a essência e significado do movimento, esse ano participamos de um evento (mês do hip hop 2015) que contemplou e contextualizou o movimento em seus todos os elementos, evento esse que foi
construído todas as discussões no tema Genocídio da População Negra, Pobre e Periférica um dos maiores problemas das periferias brasileiras e mundiais; pra sintetizar: analisamos que o movimento está distante, que a preocupação de uma parcela não é a construção e difusão da cultura hip hop, motivo a capitalização “dos nossos” e os distanciamento dos movimentos negros do rap, após os “90”; e entenda tem muitos pelo movimento, pelo gueto só não tem a mesma visibilidade!

Spqvcnaove - Vocês acreditam que o Rap pode “resgatar” vidas?



U.CSim, com certeza. Temos diversos casos bem conhecidos de pessoas no rap nacional e internacional que cresceram ao lado da criminalidade (ou eram do crime) que ao colidir com o rap mudaram totalmente sua postura perante individuo, sociedade.

Spqvcnaove - Pra vocês cantar Rap é uma ação mais artística ou mais política?


U.CJá que não temos partido, não carregamos bandeira e não somos patriotas; cantar é uma ato político sim, você mostra que aos governantes que o estado/pais está ruim, que a política governamental é voltada apenas ao burguês, e você faz uma “outra campanha”, dando visibilidade a quem não tem foco, colocando o dedo na ferida e dialogando direto com seu povo!

Spqvcnaove Deixa um salve ae pros leitores.

U.CSalve quebradas, família Única Chance deixou um abraço de coração a todos e nunca desistam dos seus sonhos, somos do tamanho deles!!!

Página Única Chance no Facebook
https://www.facebook.com/unicachanceuc?fref=ts

Sound Cloud:
https://soundcloud.com/unicachance