Quantos e quantos questionamentos
me vêm à mente nesse momento. São diversas reflexões e sensações acerca da
vida, do mundo, das relações humanas. Por vezes me questiono o que seria
honrar? O que significa perdoar? Até que ponto perdoar? A paz é
possível?...Assim, me deparo com um turbilhão de suposições e respostas.
O livro se divide em três partes:
I- A tempestade em formação, II- No esconderijo e III- Um novo caminho, com 24 capítulos
distribuídos nessas partes, mais o epílogo. Num total de 196 páginas.
O livro se Inicia com um relato
delicado e carinhoso acerca de sua família. Com muita leveza e doçura nas palavras
ela retrata sua história e seu cotidiano. Toda família de Immaculée é católica
e de boa instrução, seus país eram professores e com isso ela pôde ter um
acesso melhor ao ensino.
Mencionou que apesar de ser bem
educada não foi ensinada sobre a diferença de etnia em Ruanda. Com isso ela
ficou perplexa diante da atitude de um professor no ensino fundamental, que
fazia as chamadas separando por etnia. Ela não soube responder de qual etnia
pertencia. Depois soube que fazia parte da minoria tútsi. Ela tinha uns 12
anos. Com isso, Immaculée indicou que seus pais visaram não reforçar essa
diferença de etnia na educação de todos. Apesar de indicar que não iria se ater
aos motivos do genocídio, em algumas passagens ela mencionou alguns pontos.
“(...)Não sabíamos que Ruanda era
povoada por três tribos: uma maioria hutu, uma minoria tútsi e um número
insignificante de twas, povo semelhante a pigmeus, que vivia nas florestas. Não
nos ensinaram que os colonizadores alemães, e depois os belgas que os
substituíram, tinham convertido a estrutura social então reinante em Ruanda –
uma monarquia, sob reis tútsis, que, por séculos, manteve Ruanda em paz e
harmonia – em um sistema discriminatório de classes, tendo por base a raça de
indivíduos. Os belgas apoiavam a aristocrática minoria tútsi e os colocaram à
testa do governo; assim sendo, os tútsis recebiam uma educação superior para
melhor dirigir o país e gerar maiores lucros para seus senhores belgas. Estes
instituíram uma carteira de identidade étnica para mais facilmente distinguir
quem pertencia a qual tribo, aprofundando o fosso que cavaram entre tútsis e
hutus. Esses erros imprudentes criaram um duradouro ressentimento da parte dos
hutus, base para o futuro genocídio.”
Adiante, nesta primeira parte do
livro, ela passa pelo estudo secundário e por fim a universidade, momento ao
qual ela se orgulha pela emancipação enquanto mulher de poder fazer um curso
desafiador na área da engenharia. Ao voltar pra Mataba, foi então que eclodiu a
guerra e ela conseguiu abrigo na casa de um pastor.
Intitulada “No esconderijo”, a
segunda parte retrata seu martírio num confinamento na casa do pastor, ficou
num banheiro pequeno acompanhada de mais 6 mulheres durante 90 dias. Impressionante
como no banheiro ela procura uma elevação espiritual, mesmo naquela situação de
prisão, ela se culpava por te ódio dos malfeitores e buscava se concentrar para
perdoá-los. Então, aí se evidenciou sua fé, e seus modos de meditação e
conversação com Deus.
Todas as sobreviventes confinadas
só puderam sair devido a uma intervenção dos soldados franceses, e pairava
ainda a dúvida da real intenção deles, pois foram eles quem havia municiado os
grupos rebeldes, foram eles que mantinham contato com o governo ruandês. Vale
lembrar que os aparatos do Estado estiveram também envolvidos nesse genocídio,
e em tal circunstância o país presenciou total omissão das nações unidas ou de
qualquer potencia que seja. Ora, não são eles os salvadores das pátrias, os que
visam a democracia, ou só quando é de seus interesses?
Na terceira parte do livro é a vez de um “Novo
Caminho” de Immaculée. Onde ela buscou juntar o que restava de uma vida e
resignificá-la, estava disposta a perdoar, estava disposta a ajudar seu país,
estava disposta a seguir a vida apesar dos pesares e essa foi a maneira de
honrar a vida dos entes que foram brutalmente.
Sempre acompanhada do Poder da Fé.
Na minha reflexão eu enxergo os
diversos pontos que abarcam esse genocídio, a questão das etnias, a divisão das
classes sociais, disputas religiosas, com as mazelas da colonização no pano de
fundo, o neocolonialismo, mas o que ficou também evidente é que temos nossas
responsabilidades sobre nossas atitudes enquanto povo, e isso transcende a
questão de Ruanda, não é raro ainda a gente se matar e se autodestruir, temos
que assumir as rédeas dos nossos atos. Eu vejo que a mensagem de perdão e paz
que Immaculée deixou, foi justamente visando um futuro melhor para Ruanda e pro
mundo, já que as farpas não se dissipam assim facilmente.
Fuca, Insurreição CGPP - 2020
Fuca, Insurreição CGPP - 2020
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