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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Rosa Amelia Plumelle-Uribe - Breve nota

Nota referente ao texto Da Barbárie Colonial à Política Nazista de extermínio, de Rosa Amelia. Em seguida tem uma biografia da autora. Essa nota foi apresentada no grupo de estudos dos livros da UCPA em novembro de 2021, a partir do livro Coleção Pensamento Preto volume1: Epistemologias para o Renascimento Africano. Publicado pela Editora Filhos da África, 2018.

Da Barbárie Colonial à Política Nazista de Extermínio – Breve nota

- Podemos dividir em pelo menos dois momentos de ataques deferidos pelos brancos contra os pretos. 

- O primeiro seria o sequestro e o tráfico transatlântico de escravos vindos da África para as américas desde a segunda metade do século 15, e isso atrelado à colonização do continente americano. O segundo momento seria o de colonização do continente africano desde a segunda metade do século 19. 

- A parte que vou tratar aqui será referente ao primeiro período: a colonização das Américas. Essa colonização trouxe duas consequências nefastas aos indígenas e, em seguida, aos africanos.

- 1ª consequência: Genocídio indígena através da dizimação e extermínios de milhões, sendo que esse continente era habitado pelos indígenas de diversos povos. 

- Rosa Amelia aponta que, de acordo com o censo dos espanhóis, existiam 80 milhões de nativos nas américas. Já de acordo com o senso de historiadores da América do Sul, existiam 100 milhões habitando o continente americano. 

- Seja como for, em ambos os casos, o extermínio girou em torno de 90% do povo indígena. Desse modo, Rosa vai caracterizar essa hecatombe como sendo o primeiro genocídio dos tempos modernos. 

- Ainda, para além dos números, o comportamento dos brancos cristãos culminou numa destruição continuada através da justificação de tal genocídio, criando-se, assim, na dimensão cultural, ideológica e política, a supremacia branca em detrimento dos povos não-europeus e não-brancos. Gerando até mesmo consequências dentro da Europa, e é essa consequência dentro da Europa que poderá servir de fio condutor, direto e indireto, da barbárie colonial ao nazismo. 

- Cruelmente, a situação de impunidade e a pretensa supremacia branca, favoreceu para que a brutalidade branca fosse posta em prática. Uma delas seria jogar os indígenas e até bebês como alimento para cães ou os queimando em fogueiras como forma de diversão branca.

- Podemos perceber que não houve conversa, não houve acordo e não houve nem mesmo piedade, e ao exterminar praticamente toda população de indígenas que também não se submetiam à situação de escravizados, esse ditos conquistadores brancos partiram para a solução africana de fornecimento de escravos para a América. 

- 2ª consequência: essa invasão em busca de mão de obra escrava na África, ainda no século 15, se caracteriza como a segunda consequência da colonização das Américas. Ou seja, esse empreendimento das nascentes potencias ocidentais desencadeou a deportação forçada mais gigantesca da história da humanidade, que além de esvaziar parte da população do continente africano, desagregou a economia dos países africanos. Economia essa que não girava em torno do escravismo. 

- E também ao citar a desagregação da economia africana devido o sequestro de africanos, podemos ter noção de que já existia civilização, organização e bem-estar social na África. Ao contrário do que justificara os brancos.

- É importante notar que logo de início a autora traçou um breve panorama da escravidão antes de 1492, mesmo que sua análise se dê no pós 1492, pois foi com certeza a marca da origem de um genocídio sem precedentes na história humana. 

- A escravidão como uma servidão antes da era moderna, ocorreu tanto entre europeus versus europeus como na própria África, entre os africanos. Sobre os europeus x europeus, Rosa Amelia diz que “...quando o domínio dos árabes mulçumanos se estende em direção à Europa, o comércio de seres humanos é já uma atividade milenar entre os europeus. O reinado do Islã na Espanha de 711 até 1492 limitou-se a dinamizar o tráfico de escravos dentro da Europa, fazendo do continente um importante fornecedor de escravos, homens e mulheres, expedidos para os países do Islã...”

- Já no tópico “Uma empresa de desumanização”, a autora vai abordar a consolidação de leis baseadas na pretensa inferioridade dos não brancos e suposta supremacia branca que fora justificada pelo cristianismo. 

- Então cada metrópole tinha criado seu arsenal jurídico para regulamentar o genocídio. 

- Desse modo, ela vai evidenciar também que durante os séculos 15 e 19, nenhuma voz de autoridade ocidental se ergueu contra as barbáries, nem mesmo os iluministas do século 18, ao quais Rosa Amelia vai traçar sua critica também. 

- Pois esse movimento das Luzes argumentou o triunfo do pensamento cientifico sobre a fé religiosa e isso deu uma energia à raça dos senhores e aos valores da civilização ocidental e uma credibilidade que a religião já não mais beneficiava junto dos espíritos esclarecidos. 

- Com isso, o discurso cientifico passa a dar suporte ao racismo. Por isso também, o que seria um possível desmantelamento das estruturas genocidas com as abolições da escravatura, tal possibilidade nem chegou a arranhar as profundas estruturas da barbárie institucionalizada da supremacia branca.  

- Opinião

- Enfim, ainda sobre as mesas de conferência do ocidente nosso destino estava sendo traçado, sob a desarmonia que os yurugu representam no mundo!

- Vemos então que é uma denúncia bem real e de forma alguma anacrônica ou obsoleta, antiga ou retrógrada – o que pra muitos parece ser -, e tal como o Discurso sobre o colonialismo; Racismo e Sociedade, de Carlos Moore; O Genocídio do Negro Brasileiro, de Abdias; foi bem fundamentada. 

- Vale notar também que junto dessas denúncias devem vir cada vez mais as perspectivas de como se dava o continente africano antes da barbárie branca. Não o fiz devidamente aqui, mas já temos feito em outros textos, tais como: O Pan-Africanismo e a Família Africana e também em Unidade e Luta. 


Rosa Amelia Plumelle-Uribe
[Sugestão: biografia de introdução à nossa apresentação. Extraída do livro dela, White Ferocity].

Advogada e ensaísta, Rosa Amelia Plumelle-Uribe nasceu em 24 de dezembro de 1951 em Montelíbano, Colômbia, mas vive na França.

No final da década de 1970, em Bogotá, capital da Colômbia, ela fez parte do grupo “Cultura Negra”, onde tomou conhecimento da posição dos pretos na história da humanidade.

Desde então, ela tem focado seu trabalho na denúncia de crimes e injustiças perpetrados sob a bandeira da dominação e opressão branca e discriminação racial de outros grupos, incluindo o tráfico de escravos, escravidão, massacres de povos indígenas por colonos, colonialismo, nazismo e apartheid. 

Através de seu trabalho ao longo dos anos, ela continua a construir um relação Norte-Sul diferente.

Em 2001, as pesquisas e reflexões de Plumelle-Uribe ao longo de muitos anos se concretizaram com a publicação de Ferocidade Branca: Os genocídios de não brancos e não arianos, de 1492 até hoje, e uma edição alemã publicada em 2004. 

Em outro trabalho chamado Tráfico de brancos, tráfico de negros: aspectos desconhecidos e consequências atuais [Traite des Blancs, traites des Noirs: aspect méconnus et conséquences actuelles] (L'Harmattan, 2008) ela enfoca essencialmente como, por um lado, os traficantes de escravos árabes-muçulmanos exportavam africanos para a Ásia, Europa e Oriente Médio e, por outro lado, como os europeus continuaram a se vender uns aos outros.
Nos últimos anos, a demanda por reparação pelos crimes do tráfico de escravos tem gerado grande hostilidade entre os poderes implicados nesses crimes. Confrontada com a oposição à reparação por todos aqueles que se sentem ameaçados pela própria ideia, Plumelle-Uribe publicou Vítimas de escravistas muçulmanos, cristãos e judeus. Racialização e banalização de um crime contra a humanidade [Victimes des esclavagistes musulmans, chrétiens et juifs. Racialisation et banalisation d’un crime contre l’humanité] (Anibwé, 2012) para demonstrar as responsabilidades dos atores envolvidos, dos financiadores e dos beneficiários da escravatura e do tráfico de escravos.

Após os ataques terroristas mortais de 13 de novembro de 2015 na França, Plumelle-Uribe publicou 13 de novembro de 2015. Vítimas inocentes das guerras (Anibwé, 2016) para analisar as circunstâncias históricas e as causas que tornaram as populações civis vulneráveis e colocaram em risco a segurança de todos. Ela examina elementos que ajudam a compreender que, na nova realidade do século XXI, a reciprocidade da violência é tal que as intervenções militares no Sul não são mais viáveis sem comprometer a segurança das populações civis do Norte.

Plumelle-Uribe também contribuiu para várias obras coletivas, como Escravidão, colonização, libertação nacional [Esclavage, colonization, libérations nationales] (L'Harmattan, 2000), Desprezo, escravidão e lei [Déraison, esclavage et droit] (UNESCO, 2006), Crimes históricos e reparações: as respostas da lei e da justiça [Crimes de l'histoire et réparations: les réponses du droit et de la justice] (Bruylant, 2004) e 50 anos depois, que independência para a África [50 ans après, quelle indépendance pour l'Afrique] (Philippe Rey, 2010), entre outros.

Agradecimentos [dela feito no livro, acrescenta sobre sua trajetória]

Eu cresci em uma sociedade onde as desigualdades em todos os campos da vida, incluindo a morte, eram tais que causaram e continuam a causar consequências tão terríveis que, mesmo aqueles que acreditavam ter escapado da miséria, tiveram poucas oportunidades de desfrutar de seus confortos materiais sem perder parte de sua humanidade. O menor sentimento humano foi suficiente para desencadear o conflito com um sistema que era controlado por apenas algumas famílias cuja riqueza era comparável à riqueza das maiores fortunas do Ocidente. Esse sistema estava determinado a manter o status quo e, como tal, estava disposto a criminalizar qualquer tipo de demanda social.

Nesse contexto, nas décadas de 1960 e 1970, muitas pessoas nos países das Américas e em outras partes da África e do continente asiático, inclusive adolescentes, tomaram consciência do que significava alienação econômica. Eles assumiram o compromisso ao lado dos mais desfavorecidos. Devo prestar uma homenagem à minha mãe porque, embora não tenha partilhado todas as minhas escolhas, sempre me apoiou mesmo quando, contra a sua vontade, pagou as consequências do meu ativismo.

O que quero sublinhar é que, apesar de ter adquirido consciência desde um estágio bastante precoce da alienação econômica e das desigualdades sociais, cheguei à idade adulta sem perceber o que significava alienação racial.

Eu devo a Amir Smith, Vicente Murrain e Amilkar Ayala, em Bogotá, em 1977, minha descoberta do Discurso sobre o colonialismo, de Aimé Césaire, dos livros de Frantz Fanon, da autobiografia de Malcolm X e Tambours del destino, o trabalho de Peter Bourne sobre a revolução haitiana. Só então me dei conta de nossa posição particular na história da humanidade. Uma posição, como assinala Césaire, que remonta a uma época em que milhões e milhões de mulheres, homens e crianças, foram expulsos de suas casas, acorrentados como animais e compelidos a cruzar o Atlântico sendo despojados até de sua dignidade humana sob os céus da América.

Gostaria de agradecer a Jovina Teodoro por me apresentar o livro profundamente comovente O genocidio do negro brasileiro, de Abdias Do Nascimento.

[pretendo ler até aqui pra então entrar no texto que estudamos]

Naquela época, graças a uma campanha internacional de conscientização das Nações Unidas, sob a pressão combinada de países africanos e da Europa Oriental, fui informada do crime contra a humanidade constituído pelo apartheid, do qual não tinha ouvido falar em parte alguma, fosse no meu círculo político ou em qualquer outro lugar.

Tive a sorte de entrar em contato na França com Jacqueline Grunfeld, uma ex-combatente da Resistência Francesa, ativista anti-apartheid que, até sua morte em 1993, lutou contra todas as formas de racismo. A esta mulher corajosa e generosa devo minha habilidade de discernir entre o judaísmo e o sionismo.

Também tirei grande proveito de meu encontro com Denise Mendez, cuja honestidade intelectual e padrões éticos rígidos foram de grande ajuda para mim em meus esforços.
Quando li Le Code Noir ou le calvaire de Canaan, de Louis Sala-Molins, senti a necessidade de encontrar o autor e abraçá-lo com muito carinho em nome do meu povo.

Também tirei grande proveito dos meus encontros com Régis Doumas que, apesar de não compartilhar minhas crenças, pôde entrar em um debate comigo que ao longo dos anos se tornou um verdadeiro diálogo, pelo qual sou extremamente grata a ele.

Tive a sorte de conhecer Christiane Rémion-Granel, a quem gostaria de agradecer pela sua perseverança nesta luta pela dignidade humana e que muito me estimulou.
Desejo estender meus agradecimentos muito especiais a Frédéric Plumelle, meu marido, a quem este trabalho deve muito. Sem a ajuda generosa que ele me deu por mais de quinze anos, eu nunca teria conduzido a pesquisa que foi essencial para o meu trabalho. Além disso, ele também estava disposto a atuar como meu parceiro durante as etapas, a quem eu apresentei os resultados de minhas análises e pensamentos. Suas sempre bem fundamentadas críticas e sugestões de redação ajudaram enormemente meu progresso. Por isso sou muito grata a ele porque, graças ao seu apoio, pude levar até o fim esta contribuição que devo à memória do meu povo.

Também quero agradecer aos nossos três filhos, Corinne, Henri e JeanGabriel, que à sua maneira me ajudaram e que muitas vezes sofreram as consequências da minha indisponibilidade enquanto preparava esta obra.


por Fuca, nov.21..



quarta-feira, 31 de março de 2021

Os Quilombos e a Rebelião Negra – Clovis Moura – Breve Nota

O texto a seguir em forma de tópicos ou notas, foi feito em decorrência da leitura em conjunto, entre Fuca Cgpp e Joel Consp., do livro Os Quilombos e a Rebelião Negra, de Clovis Moura. Um livro curto de síntese, com 105 páginas, onde pudemos dialogar sobres vários aspectos da luta preta, tanto lá quanto cá, não no sentido de esgotamento do assunto, mas no de despertar a formação contínua através dessa brevidade didática.

Introdução

- Clovis Moura vai evidenciar o ser negro como agente de resistência constante ao sistema escravista, resistência que se dava na negação do trabalho, na negação de ser escravo, pois a todo momento se pensava em fuga da escravidão.

- no sistema escravista existia uma luta de classes. Senhores [brancos] e escravizados [pretos]. Essas duas classes vão compor a base da estrutura do Brasil escravista.

- pra dinamizar essa resistência, o escravizado negava o trabalho escravo já que ele não conseguia modificar o sistema. Com isso, ele vai procurar criar sistemas alternativos.  

- período histórico entre 1550 até 1888. Século XVI ao século XIX.

- O autor vai combater a defasagem histórica em dois pontos: o primeiro é que a escravidão não era a relação de trabalho que girava a economia do brasil escravista. (sendo que era, pois enriquecia o senhores, ou seja, já era, de certa forma, capitalismo). O segundo ponto apresentava o ideal de vivência harmônica na relação entre casa grande (senhores) e senzala (escravizados). Em referência a uma das teses de Gilberto Freyre. Condenando os conceitos de “bom senhor”, “homem cordial,” e “democracia racial.”

- Enfim, nesta introdução, o autor enfatiza que no livro vai se demonstrar a importância social dos negros, especialmente os quilombolas.

Os Quilombos na História Social do Brasil

- A definição de quilombo de acordo com a resposta do Rei de Portugal ao Conselho Ultramarino (1740), “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles”.

- o quilombo não foi um fenômeno esporádico, teve constância em todo o brasil.

- o quilombo tinha vários tamanhos de acordo com o número de habitantes, e eram todos armados, os maiores eram: Palmares 20 mil, Campo Grande(Mg) e Ambrósio(mg) 10 mil cada.

- existia um caráter de conversão de escravizados da senzala ao quilombo, pois mantinha-se sempre um diálogo entre senzala e quilombo. Muitas informações circulavam.

-  o quilombo mantinha uma relação comercial de troca de produtos ou excedentes com pequenos agricultores da vizinhança.

Organização e Economia dos Quilombos

- Palmares – o maior exemplo do grande quilombo – era uma confederação de quilombos. Abrangendo um raio de mais de 120km (25 léguas), de acordo com os estudos de Edson Carneiro (1947).

- O autor aponta que “A religião da republica era um cristianismo fortemente sincretizado com valores religiosos africanos.”

- a família era poligâmica e não havia personagem responsável pelo segredo religioso da comunidade.

- “Em cada mocambo o chefe era senhor absoluto, mas, nas ocasiões de guerra, reuniam-se para deliberar conjuntamente, sob as ordens do Zumbi, ou outro chefe da república, na Casa do Conselho do Macaco.”

- A base econômica era a agricultura policultura. Feijão, mandioca, batata-doce, milho.

- Vivendo num regime comunitário, organizado à base da agricultura e da criação de subsistência, Palmares era um reduto em franco florescimento, apesar da ameaça sobre ele.

- o Ambrósio em MG, por exemplo, seguia a mesma estrutura de Palmares com acrescimento de maior pecuária.

-  Do ponto de vista da organização política, havia obediência incondicional ao chefe Ambrósio, líder que, segundo um cronista da época, era dotado “de todas as qualidades de um general”. Com uma hierarquia que constituía uma espécie de Estado-Maior.

- As colheitas eram conduzidas ao paiol para distribuição coletiva.

A Força Militar dos Quilombos

- Conforme a estrutura de média a grande do quilombo era necessário uma organização hierárquica militar mais estruturada para defesa tanto da população quanto da economia desses quilombos que sofriam diversas investidas das forças da colônia.

- Ou seja, exigia-se grupos armados e também táticas e estratégias territoriais de barricadas até armadilhas para conter os invasores.

- O autor não aponta o contingente do exército de defesa de Palmares, mas mostra que chegou a ser necessário forças de 9 mil homens ao comando de bandeirantes, como Domingo Jorge Velho, para derrotar Palmares, que havia resistido a todas as expedições punitivas de 1630 até 1695.

- Palmares deixou seu legado e exemplo de “maior resistência – social, militar, econômica, e cultural – ao sistemas escravista.”

- Outros quilombos foram proeminentes, tanto de Preto Cosme no Maranhão, mas de destaque também o de Ambrósio, ou depois como Campo Grande (MG), que fora destruído após 3 anos (1957-58-59) de preparo do bandeirante Bartolomeu Bueno de Prado contando com 400 homens.

- Preto Cosme que comandava um quilombo de 3000 pessoas no maranhão tinha piquetes de guerrilheiros que promoviam saques nas fazendas dos brancos e ainda traziam mais insurretos, tinha sua estrutura centralizada. Cosme é capturado após fazer alianças com mestiços e brancos (balaiada) sendo delatado para Caxias em 1841, foi condenado e enforcado.

- O autor exemplifica mais um quilombo com estrutura e base militar agora no estado do Rio de Janeiro, o de Manuel Congo. Que após boa tática de combate consegue derrotar a forças da Guarda Nacional, mas, de certa forma, se empolgaram nos contínuos ataques e ficaram desguarnecidos e foram capturados em 1938. Com envolvimento de Caixas também nesse.

As Insurreições Urbanas e os Quilombos

- Vai utilizar-se do exemplo da Grande Insurreição, A Revolta dos Malês, em Salvador (1835). Levantando além da questão urbana e rural, mas também as diferenças religiosas existentes. Contudo, liderada por negros islamizados.

- A questão também é buscar delinear até que ponto se sobressaiu o motivo da luta de classes ou os motivos religiosos. O autor então acredita que a religião foi um elemento de suporte ideológico de organização coletiva perante uma opressão objetiva que existia, tanto o sistema escravista para os negros ainda escravizados como de racismo para o negros livres nessa sociedade escravista.

- Liderança de Hausás e depois de Nagôs que então se tornam chamados malês, mas que se autodenominavam mulçumanos. Pode ser que devido a linguagem religiosa puderam ter uma maior capacidade organizacional com o uso de estratégias militares oriundas da África, inclusive na confecção e uso de armas.

- Ao pontuar a introdução do Islã na África, o autor rememora que a penetração islâmica na África existiu com o objetivo de controle social, um tipo de colonização também. Apesar de, nesse contexto (Brasil), ser um fator utilizado como mudança social através das revoltas dos malês.  

A Grande Insurreição

- organizada nos mínimos detalhes entre as várias nações (etnias) africanas. Em Salvador, 1835, com revoltas já ocorrendo desde 1807.

- objetivo: tomada de terra dos brancos...

- Perpassou alguns detalhes do planejamento da insurreição assim como apontou as principais pessoas envolvidas.

- Tendo ocorrido a delação (traição) a insurreição acabou sufocada. Prisões, condenações e morte dos rebeldes.

Reivindicação e Consciência do Escravismo

- Apesar das diversas lutas radicais e violentas dos insurretos pretos escravizados, aqui o autor discorre sobre alguns movimentos que visaram uma busca de negociação para obterem alguns direitos, sobretudo nos modos de trabalho. Uma espécie de salto gradativo contra o escravismo.

Os Quilombos e a Abolição

É retratado pelo autor o cenário de rebeldia dos escravizados versus a moderação dos abolicionistas para acabar com o sistema escravista. Apesar de ter existido uma ala mais radical dos abolicionistas. Com isso, o autor não deixa perder de vista que as lutas dos pretos escravizados vieram desde muito antes do abolicionismo (limitado), e que de fato foram as rebeliões que tencionavam os brancos que dominavam. Até devido a isso temos como o dia da consciência negra o 20 de novembro ao invés do 13 de maio. (Reivindicação do Movimento Negro)

Conclusões

“Várias foram as formas de resistência do escravo negro ao regime escravista. Mesmo com todas as limitações que a estrutura do sistema impunha ao cativo, ele, ao contrário do que afirmam aqueles que seguem a chamada historiografia acadêmica, resistiu de várias formas e níveis de importância durante todo o tempo em que a escravidão perdurou. Resistiu usando desde formas ativas, como as de Salvador, ocorridas durante o século XIX, até os quilombos, disseminados em todo o território nacional – do Rio Grande do Sul ao Pará – e as guerrilhas que permeavam as duas formas fundamentais de resistência.”(...)

(..) “A violência, desta forma, penetrava, direta ou indiretamente, no relacionamento entre uns e outros. É a partir da compreensão deste fato que podemos analisar a sociedade brasileira e encontrar as leis fundamentais que deram conteúdo à sua dinâmica.”(...)

“Mediando esses elementos de violência, vemos vários mecanismos amortecedores serem criados no sentido de neutralizarem, ou, pelo menos, diminuírem os seus níveis de intensidade. Por outro lado, a Igreja Católica (ela própria proprietária de escravos) procurará, quer na escravidão nordestina do chamado ciclo do açúcar, quer na mineira ou paulista, montar um aparelho ideológico capaz de dar aos escravos as razões de por que estavam em cativeiro e, aos senhores, racionalizar a violência do opressor. Dessas diversas tentativas de esconder-se a violência e/ou justifica-la nasceram vários estereótipos, um dos quais, conforme já firmamos, é o da benignidade da nossa escravidão.

“O medo, repetimos, é um fator psicológico que influenciará todo o comportamento da classe senhorial no Brasil, determinado, muitas vezes, paradoxalmente, o nível de agressividade e violência contra a pessoas e a classe dos escravos.”

https://regabrasil.files.wordpress.com/2018/10/os-quilombos-e-a-rebelic3a3o-negra-1986.pdf

baixe o pdf acima.

Fotos de dois dos encontros, março/2021.







quarta-feira, 24 de março de 2021

Manuel Querino - O Colono Preto Como Fator da Civilização Brasileira - breve nota

Texto publicado em 1918, por Manuel Querino (1851-1923), nos documentos do 6º Congresso Brasileiro de Geografia.

O autor buscou evidenciar a contribuição dos africanos como os principais propulsores de desenvolvimento do Brasil em todos os aspectos, pois com os africanos vieram a mão de obra qualificada e de fato produtiva, apesar de ser trabalho forçado, escravidão. Os portugueses fizeram o papel improdutivo, de destruição e de parasitismo, apenas se beneficiando do trabalho duro dos africanos. Ou seja, foi a contribuição preta que realmente erigiu a civilização brasileira.

Contudo, acredito ser melhor apropriado o uso de expressões tais quais: principal construtor da civilização, principal força de trabalho, pois no caso de colono ou colonização se refere justamente à destruição. Ou seja, um papel de co-colonizador no Brasil não seria apropriado porque a colonização foi uma obra de genocídio físico e cultural realizado pela cultura ocidental (no caso pelos portugueses).

Manuel Querino buscou, também, confrontar as teorias racistas de Nina Rodrigues, por exemplo, da eugenia. E acabou colocando a miscigenação como algo de bom no Brasil.

Vamos aos capítulos.

Portugal no Meado do Séc. XVI

Nesse capítulo, o autor demonstra, em suma, que a violência ancorada pela ganância portuguesa não seria produtiva para uma colonização, a exemplo dos saques prejudiciais ocorridos na Índia culminando em ruinas. No território brasileiro aconteceria o mesmo. O indígena se afastando do litoral para o interior agravou, em síntese, a situação de improdutividade. Restando, então, a busca pela mão de obra africana como saída de evitar o total colapso. Com a presença forçada dos africanos pode-se intensificar a produção de cereais e da cana de-açúcar, além de explorar da terra o diamante e metais preciosos.

Chegada dos Africanos no Brasil, Suas Habilitações

O autor faz referência à colonização mulçumana na África, que introduziu, na visão dele, os modos civilizados aos sertões do Continente Negro. Isso antes da chegada dos europeus (portugueses). E que, assim sendo, através do tráfico de escravos, esses africanos chegavam aqui já com qualificações, sobretudo aplicações para força de trabalho.

Isso reforça o papel crucial dos africanos, já que os portugueses já haviam iniciado uma enorme destruição dos povos indígenas e sem os indígenas os portugueses eram incapazes de dar prosseguimento ao seu empreendimento aventureiro de colonização devido também às limitações e dificuldades de adaptações geográficas para o trabalho. (e o seu parasitismo, diga-se de passagem).

 Interessante notar que conforme a economia colonial muda o ramo focal, a especialidade africana é mais reivindicada intensificando, assim, o tráfico de africanos. No caso o autor se refere à mudança do século 17 para a mineração no sudeste ao invés dos engenhos de açúcar no nordeste.

Primeiras Ideias de Liberdade, o Suicídio e a Eliminação Física dos Senhorios

“O castigo nos engenhos e fazendas, se não requintava, em geral, em malvadez e perversidade, era não raro severo, e por vezes cruel.” Com isso, suscitava o desejo de liberdade constante (indo contra a docilidade do trabalhador escravo, apesar de às vezes o autor ter descrito assim.) A primeira ideia de liberdade veio através do suicídio para negar a condição de escravizado. 

“Depois, entenderam os escravizados que o senhorio era quem deveria padecer morte violenta, a que se entregavam os infortunados cativos. Não vacilaram um instante e puseram em prática os envenenamentos, as trucidações bárbaras do senhorio, dos feitores e suas famílias. Era a vingança a rugir-lhes na alma; era a repulsa provocada pelos desesperos que lhes inspirava o horror da escravidão.” 

Passando, então, do suicídio ao extermínio do senhorio. Já que o problema não se estava resolvido com as duas ideias anteriores, começaram as fugas e a resistência coletiva, organizando verdadeiros núcleos de trabalho.

Resistência Coletiva, Palmares, Levantes Parciais

Escapando das fazendas e dos engenhos, os escravizados pretos construíram a Confederação de Palmares. “...em Palmares os elementos aí congregados não tiveram por alvo a vingança: bem ao contrário, o seu objetivo foi escapar à tirania e viver em liberdade, nas mais legítimas aspirações do homem.”

“Os fundadores de Palmares ... procuraram refúgio no seio da natureza virgem e aí assentaram as bases de uma sociedade, a imitação das que dominavam na África, sua terra de origem, sociedade, aliás, mais adiantada do que as organizações indígenas. Não era uma conquista movida pelo ódio, mas uma afirmação legítima do desejo de viver livre, e, assim, possuíam os refugiados dos Palmares as suas leis severas contra o roubo, o homicídio, o adultério, as quais na sua vida interna observavam com rigor.”

O autor relata, ainda, outros levantes parciais e batalhas contra as incursões das forças coloniais.

As Juntas Para As Alforrias

O autor enfatiza o trabalho comprometido como meio de saída da opressão e para liberdade. No caso as juntas foi outro meio, ou seja, era o dinheiro guardado pra comprar a liberdade. E de fato o trabalho duro o africano fez mesmo, como exemplificado pela história de Chico Rei (MG). Citando o escritor Afonso Arinos, no artigo Atalaia Bandeirante, tem:

“A custa de um trabalho insano, feito nas curtas horas reservadas ao descanso, o escravo rei pagou a sua alforria. Forro, reservou o fruto do seu trabalho para comprar a liberdade de um dos da tribo; os dois trabalharam juntos para o terceiro; outros para o quarto, e assim, sucessivamente, libertou-se a tribo inteira. Então, erigiram a capela de Santa Ifigênia, princesa da Núbia. Ali, ao lado do culto à padroeira, continuou o culto ao rei negro, que, pelos seus, foi honrado como soberano e legou às gerações de agora a lenda suave do Chico Rei.”

Fenômeno que aconteceu também na Bahia, de acordo com o autor.

O Africano Na Família, Seus Descendentes Notáveis

Esse capítulo foi iniciado com a seguinte citação de Alexandre Melo Morais Filho.

“Percorrendo a história, deixando iluminar-nos a fronte a luz amarelenta das crônicas, não sabemos ao certo quem maior influência exerceu na formação nacional desta terra, se o português ou o negro. Chamado para juiz nesta causa, necessariamente o nosso voto não pertence ao primeiro.”

Finalizando, o autor acaba exaltando o caráter de miscigenação do Brasil, talvez pelo negro ser propulsor – na visão dele - de tal miscigenação, consciente que esse fator eliminaria as raças originais... (um debate muito forte sobre miscigenação ocorria nessa época, importante colocar no contexto do início do século XX, e ao combate de teorias racistas, da eugenia, de Nina Rodrigues entre outros.)  

Em outro ponto, Querino não deixa de enfatizar ainda que toda riqueza na mãos dos brancos foi fruto do trabalho árduo dos pretos. No mais, vale deixar mais essa descrição do autor...

“Trabalhador, econômico e previdente, como era o africano escravo, qualidade que o descendente nem sempre conservou, não admitia a prole sem ocupação lícita e, sempre que lhe foi permitido, não deixou jamais de dar a filhos e netos uma profissão qualquer. Foi o trabalho do negro que aqui sustentou por séculos e sem desfalecimento a nobreza e a prosperidade do Brasil: foi com o produto do seu trabalho que tivemos as instituições científicas, letras, artes, comércio, indústria etc., competindo-lhe, portanto, um lugar de destaque, como fator da civilização brasileira. Quem quer que compulse a nossa história certificar-se-á do valor e da contribuição do negro na defesa do território nacional, na agricultura, na mineração, como bandeirante, no movimento da independência, com as armas na mão, como elemento apreciável na família, e como o herói do trabalho em todas as aplicações úteis e proveitosas. Fora o braço propulsor do desenvolvimento manifestado no estado social do país, na cultura intelectual e nas grandes obras materiais, pois que, sem o dinheiro que tudo move, não haveria educadores nem educandos: feneceriam as aspirações mais brilhantes, dissipar-se-iam as tentativas mais valiosas.”

 


livro pdf:

https://cadernosdomundointeiro.com.br/pdf/O-colono-preto-como-fator-da-civilizacao-brasileira-2a-edicao-Cadernos-do-Mundo-Inteiro.pdf

"Manuel Raimundo Querino (1851-1923) foi um dos mais interessantes intelectuais do Brasil, homem de pensamento e de ação, e um precursor em termos de cultura. Escritor, abolicionista engajado, e professor do que era à época o ensino técnico, Querino notabilizou-se como ensaísta de uma nascente antropologia brasileira, disposto à controvérsia sobre o que deveria ser uma visão satisfatória com respeito à relação entre raça e nacionalidade, e autor de livros didáticos, para formar desenhistas profissionais como ele próprio...."

sábado, 17 de outubro de 2020

[Atualizado] John Henrik Clarke - Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano - (PDF)

https://drive.google.com/file/d/1wwqL9M40gfPWPsRpA0fpI6hdu8pUDw_W/view?usp=sharing

Dr. John Henrik Clarke 

Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano: escravidão e a ascensão do capitalismo europeu.  

(Livro pdf)

Este trabalho curto, mas oportuno, dá ao leitor um senso da urgência da história africana e mundial. Como muitos dos estudiosos Africano-centrados que foram professores do Dr. Clarke e sua fonte de inspiração, ele não apenas fornece análises e descrições precisas da história, mas também prescreve o que os povos africanos devem fazer para criar um novo futuro. 

"Jamais perdoar nem esquecer"

Traduzido por Carlos R. Rocha (Fuca)
Insurreição CGPP, 2020.
atualizado em 2021

trecho;

,,,"Lembro-me de que, quando menino em uma fazenda, ficava batendo a manteiga até chegar ao topo. E apurando as batidas no leite eu perguntei à minha bisavó: “Qual das batidas traz a manteiga?” “Todos elas meu filho”, disse ela. “Mas qual?” “Não apenas uma, mas todos elas.”

Temos que perceber que não é o esforço de qualquer um de nós que levará à liberdade, mas o trabalho coletivo de todos nós que somos sinceros. Isso resultará na liberdade e na libertação de nosso próprio povo e na doutrinação de nossos próprios filhos para que eles, por sua vez, assumam a responsabilidade e criem uma era em que você nunca terá que pedir liberdade novamente, porque nunca haverá qualquer necessidade para pedir isso. Desse dia em diante, sempre a teremos. Esta é a nossa missão e, por sua vez, o legado que precisamos deixar para nossos filhos e os ainda mais belos que irão nascer.

Nossa escravidão, o naufrágio e a ruína dos Estados soberanos da África começou no início da Era Colonial. Nossa escravidão e o estupro dos serviços de nossos países ajudaram a lançar as bases do capitalismo atual. Mais uma vez, os europeus desperdiçaram sua riqueza em guerras e conflitos estúpidos que poderiam ter sido evitados. Eles já provaram que têm uma missão em mente, independentemente de religião, política ou afiliação cultural e que essa missão é dominar o mundo e todos os seus recursos por todos os meios necessários. A nova justificativa para esse domínio é agora chamada de Nova Ordem Mundial. Todos os africanos e outros povos não europeus deveriam estar em alerta, porque uma nova forma de escravidão poderia ser mais brutal e mais sofisticada do que a escravidão da era de Cristóvão Colombo.

Os africanos e outros povos não europeus devem planejar e criar estratégias para uma Nova Ordem Mundial distintamente própria, que será desenvolvida por eles, para eles. A nossa missão não deve ser conquistar a Europa, mas conter a Europa dentro das suas fronteiras e fazer saber que tudo o que a Europa quiser de outras partes do mundo pode ser obtido através de um comércio honroso.

Se entendermos nossa missão, acho que tomaremos consciência de que estamos em posição de dar ao mundo uma nova humanidade que trará à existência um novo mundo de segurança e respeito para todos os povos.

As civilizações africanas do rio Nilo deram ao mundo sua primeira humanidade, seus primeiros sistemas de crenças, seu primeiro pensamento social e sua primeira filosofia. Com a restauração da nossa autoconfiança, precisamos dizer a nós mesmos: “Se fizemos uma vez, podemos fazer de novo” ".




segunda-feira, 1 de junho de 2020

A Origem do Negro - Tony Browder + Vídeo legendado

- Ensaio extraído do livro From The Browder File (Arquivo do Browder), que é um conjunto de 22 ensaios de Anthony T. Browder.
- como adicional, tem-se um episódio do From The Browder File contendo a transcrição da legenda do vídeo no final do post.




A Origem do Negro

Escolha um nome, qualquer nome - negro, de cor, preto ou afro-americano. Chame as pessoas por qualquer nome e elas ainda são as mesmas, certo? Errado!
O nome ao qual você responde determina o grau de sua autoestima. Da mesma forma, a maneira como as pessoas respondem coletivamente a um nome pode ter efeitos devastadores em suas vidas, principalmente se elas não escolherem seu nome.
Os asiáticos vêm da Ásia e têm orgulho da raça asiática. Os europeus vêm da Europa e têm orgulho das realizações europeias. Os negros, devo presumir, vêm da Negrolândia - um país mítico com um passado incerto e um futuro ainda mais incerto. Como a Negrolândia é um mito, de onde se originou o mito do negro? A chave para entender o significado de negro, é saber a definição dessa palavra e sua origem.
Os portugueses foram os primeiros europeus a escravizar os africanos e foram os primeiros a chamá-los de negros. Quando os espanhóis se envolveram no tráfico de escravos, eles também usaram a palavra negro para descrever os africanos. Negro é um adjetivo que significa preto em português e espanhol. Mas, desde 1444, e o início do tráfico de escravos, o adjetivo negro tornou-se um substantivo e o nome legítimo de um povo recém-escravizado.
As línguas portuguesa e espanhola foram derivadas do latim, que tem sua origem na Grécia clássica. Na maioria dos idiomas europeus, a palavra preto era tipicamente associada a aspectos de morte. A palavra morte é derivada da palavra grega necro, que significa morto, e é semelhante, em som e significado, à palavra negro. Ao longo da história europeia, as palavras necro e negro foram comumente usadas para referenciar a morte física, espiritual ou mental de uma pessoa, lugar ou coisa.
Historicamente, quando os gregos viajaram para a África, 2.500 anos atrás, a civilização egípcia já era antiga. A Grande Pirâmide tinha mais de 3.000 anos e a Esfinge era ainda mais antiga. A escrita, ciência, medicina e religião já faziam parte da civilização e atingiram seu auge.
Os gregos vieram para a África como estudantes e sentaram aos pés dos mestres para descobrir o que os africanos já sabiam. Em qualquer relação aluno/professor, o professor só pode ensinar o quanto o aluno for capaz de entender.
Os egípcios, como outros africanos, entendiam que a vida existia além do túmulo. A adoração ancestral é uma maneira de reconhecer a vida das pessoas que vieram antes de você e a capacidade delas de oferecer orientação e direção aos vivos. Os templos foram projetados como lugares onde os antepassados podiam ser honrados e os feriados (dias santos) eram os dias designados para isso.
Os egípcios tinham centenas de templos e centenas de dias santos para adorar seus ancestrais. Eles estavam preocupados com a vida e comemoravam o legado de seus entes queridos. Mas os gregos pensavam que esses africanos tinham uma preocupação com a morte. Eles [os gregos] consideraram o ato de culto ancestral como necromancia ou comunicação com os mortos.
Como a palavra raiz necro significa morto, outra palavra para necromancia é magia - a Velha Magia Negra que era praticada na África antiga. Quando os gregos voltaram para a Europa, levaram consigo suas crenças distorcidas e a palavra negro acabou evoluindo a partir desse grande mal-entendido.
Menos de 300 anos depois que os primeiros gregos chegaram ao Egito como estudantes, seus descendentes retornaram como conquistadores. Eles destruíram as cidades, os templos e as bibliotecas dos egípcios e reivindicaram o conhecimento africano como deles.
Não apenas o legado africano foi roubado, mas o roubo por atacado do povo africano logo se seguiu. Com o surgimento do tráfico de escravos e a criação [da palavra] negro, tornou-se necessário desumanizar os africanos e desvalorizar seu valor histórico como povo, a fim de garantir seu valor como escravos. O que antes era chamado de cor e condição física, agora é considerado um estado mental adequado para milhões de africanos que residem atualmente na América.
Então, aí está, o negro - uma raça de pessoas mortas, com uma história morta e sem esperança de ressurreição enquanto eles permanecerem ignorantes de seu passado. Foi uma morte tripla - a morte da mente, do corpo e do espírito do povo africano.
Era estritamente proibido os escravos negros aprenderem a ler ou escrever. Esse conhecimento era a chave da libertação e foi colocado firmemente fora de alcance. À medida que os negros eram educados, eles tentavam se redefinir.
A evolução do negro para (pessoa de cor), preto, afro-americano e africano representa uma progressão da autoconsciência. Como povo livre, temos a responsabilidade de nos educar e redescobrir nossas identidades africanas. O conhecimento de si é a chave para abrir a porta para o futuro. Quanto mais cedo entendermos esse fato, mais cedo poderemos dizer graças a Deus que somos um povo africano.

Comentário

De todos os ensaios do From The Browder File (Arquivo do Browder), "A Origem do Negro" foi um dos mais populares. Foi bem recebido por duas razões óbvias, o assunto e a ilustração que o acompanha, especificamente a imagem da figura majestosa que emergia da África.
A ilustração foi desenhada por Malcolm Aaron e recebemos vários pedidos de pessoas que pediram permissão para usar a arte em camisetas e pôsteres. Vários anos atrás, enquanto eu lecionava em uma base da Força Aérea em Misawa, no Japão, me disseram que essa arte era a tatuagem mais popular entre os irmãos nas forças armadas. Esta imagem de um rei africano forte é aquela para a qual qualquer ex-negro seria naturalmente atraído.
Com relação à palavra negro e à legitimidade de seu uso como nome para os africanos, remeto ao livro de Richard Moore, O nome "Negro" sua origem e mau uso. Não há dúvida de que a palavra negro foi criada por pessoas más para propósitos malignos. O falecido John Henrik Clarke costumava nos lembrar de que "cães e escravos eram nomeados por seus senhores e que apenas homens livres se denominavam". Com esse entendimento, qualquer pessoa de mente livre deve ver a palavra negro como um nome inadequado para pessoas pretas e organizações pretas.
Compreendo nossa aceitação do nome anos atrás, quando não sabíamos. Mas, com todo o conhecimento que temos à nossa disposição, não há desculpa para o uso contínuo de uma palavra que é humilhante e obsoleta.
Como um negro em recuperação, prometi a mim mesmo nunca escrever negro com uma maiúscula "N”. Negro não é um substantivo, é um incômodo e deve ser descartado de nosso vocabulário junto com a outra infame palavra "N". Quem optar por usar essas palavras o faz por ignorância ou desrespeito.
O rei ou rainha latente dentro de você não pode coexistir pacificamente com uma mentalidade negra. Ou você escolhe ser livre e pensa, fala e age como uma pessoa livre, ou você é um escravo. Você não pode ser os dois.

Referências e leituras selecionadas
Anderson, S.E., The Black Holocaust For Beginners, New York, N Y and Readers Pub. Inc, 1995.

Diop, Cheikh Anta, African Origin of Civilization: Myth or Reality, New York, NM Lawrence Hill, 1974.

James, George GM., Stolen Legacy, San Francisco, CA, Julian Richardson, 1976.

Moore, Richard B., The Name “Negro” Its Origin and Evil Use, Baltimore, MD, Black Classic Press, 1992.

Williams, Chancellor, The Destruction of Black Civilization, Chicago, IL, Third World Press, 1976.


Arquivo do Browder: Episódio 1

No começo, nossos ancestrais não sabiam nada. Eles estudaram por quatro mil anos. Eles aprenderam tudo o que havia para saber. Eles ensinaram os outros. Depois veio o Maafa, o grande desastre.
Na escravidão era ilegal os africanos ler e escrever. Eles foram forçados a esquecer de tudo o que haviam aprendido e ensinado. Depois de 400 anos esquecendo, eles esqueceram que tinham esquecido.
Isso muda hoje, vou lembrar por eles. Vou ler por eles, vou escrever por eles. Vou ensinar por eles, vou me certificar de que nunca mais serão esquecidos.

Sou Tony Browder e bem-vindo ao primeiro de uma série de programas e ao meu livro From The Browder File. Antes de começarmos o programa, eu gostaria de falar um pouco sobre mim.
Nasci em uma família monoparental, minha mãe tinha 16 anos quando eu nasci. Ela morava com os pais no oeste de Chicago. Minha mãe sempre se interessou em que eu obtivesse uma educação da melhor qualidade que eu pudesse.
Então quando eu entrei no ensino médio. Nós nos mudamos de Chicago para Oak Park, que é um subúrbio ocidental da cidade e durante esse período, éramos a segunda família afro-americana a morar em Oak Park, e em meus três anos na escola Oak Park River Forest de um corpo estudantil de mais de 3000 estudantes, nunca houve mais que dois afro-americanos, em toda a escola.
Eu recebi uma ótima educação. Aprendi a amar a aprender. Aprendi a amar a ler, mas também aprendi que havia uma profunda ausência de informações sobre quem eu era como pessoa de ascendência africana.
Isso foi no final dos anos 60, durante o auge do movimento Poder Preto e o Movimento da Consciência Preta, e então eu estava imbuído de uma sensação de orgulho Preto, vivendo e frequentando uma escola de ambiente totalmente branco.
Após o colegial, frequentei a Universidade de Illinois por um semestre em que me formei em arquitetura e depois, mudei meu curso quando fui para a Universidade Howard. Minha formação é em design gráfico e publicidade. Só me interessei por história e cultura depois de me formar na Universidade Howard. Quando comecei a aprender a verdade sobre quem eu era enquanto uma pessoa de ascendência africana.
Desse modo, esta jornada de iluminação, me levou a começar a saber mais sobre quem eu era como ancestral da África. Documentei meu conhecimento através dos meus escritos, das minhas ilustrações, desenhos. E então comecei a dar palestras e seminários enquanto eu viajava pelo país. E depois eu também viajei por toda a África e pelo mundo. Documentando essas novas informações sobre nossa história e cultura coletiva.
Então eu vim escrever From The Browder File como resultado de minha participação no programa Cathy Hughes Morning Show em 1986 em Washington DC. A sra. Hughes ficou tão impressionada com meu conhecimento que me convidou regularmente ao seu programa.
Mas foi minha primeira aparição no Cathy Heghes Morning Show que motivou uma ligação de Francis Murphy, que lecionava na Escola de Comunicação da Universidade Howard. Ela era a editora do jornal afro-americano de Washington e me convidou para escrever um artigo sobre um dos assuntos da minha primeira entrevista.
O assunto foi “A Origem do Negro” e após nossa conversa inicial, concordei em escrever uma coluna quinzenal sobre vários aspectos sobre a história e cultura Africana e afro-americana. Eu escrevi essas colunas ao longo de dois anos e foi isso que constituiu meu primeiro livro intitulado “Arquivo do Browder: 22 ensaios sobre a experiência Africano-americana”.
O que realmente colocou em movimento este programa, que você está envolvido agora com o estudioso Browder, foram as cartas que recebi de dezenas de afro-americanos encarcerados durante 1990. Todo mês eu recebia dezenas de cartas de jovens irmãos, que estavam trancados atrás das grades e liam pela primeira vez em suas vidas. Que tiveram base em suas vidas pela primeira vez e muitas das cartas diziam que meu livro From The Browder File foi o primeiro livro que eles leram de ponta a ponta.
E como resultado das leituras sobre história e cultura africana e afro-americana. Eles começaram a se orgulhar mais de si mesmos e começaram a entender como e por que eles foram desviados. Foi essencialmente uma falta de conhecimento de si mesmo que resultou em desrespeitar a si próprio cometendo crimes contra pessoas em suas comunidades. Vendendo drogas, brigando, roubando e, as vezes, por fim,  matando outras pessoas.
Contudo, como resultado da leitura, eles começaram a se ver de maneira diferente. E muitas das cartas expressam os mesmos comentários. Que eles gostariam de ter lido este livro mais cedo em suas vidas. De tal forma que não estariam cumprindo 10, 15, 20, anos de prisão ou prisão perpetua.
E outra pergunta frequente em suas cartas foi, como eles conseguiriam levar essas informações para seus filhos para que eles não seguissem os passos de seus pais.
Isso me levou a começar a ver o que eu poderia fazer em levar mais essas informações contidas no The Browder File para nossos rapazes e moças antes que eles sigam o caminho errado e acabem encarcerados.
Por isso, iniciamos o The Browder Scholars Program para reunir principalmente um grupo de estudantes afro-americanos e expô-los ao conhecimento e à informação que eles provavelmente não encontrariam em sua experiência educacional, do ensino fundamental, ensino médio e, infelizmente, até da faculdade.
Há informações proibidas que não podem fazer parte do nosso sistema educacional tradicional. Aprendi a incentivar nosso povo a ler, porque é cultivando o apetite pela leitura que você pode entender o porquê quando nossos ancestrais foram escravizados centenas de anos atrás aqui neste país, nos Estados Unidos da América, era ilegal para pessoas de ascendência africana, que foram roubadas de sua terra natal, ler narrativas sobre de onde elas vieram. Lembrar-se de como elas foram roubada e de como elas estavam sendo abusadas
Nossa incapacidade de acessar um conhecimento preciso de nós mesmos é o que contribui para a nossa contínua falta de respeito um pelo outro e por nós mesmos. Agindo como um povo perdido e assim quando comecei a aprender o poder do conhecimento, o poder da leitura e de que compartilhando essas informações com outras pessoas pode transformar vidas. Organizei uma série de palestras em Washington DC a partir de 1987. E nosso primeiro orador convidado foi o Dr. Asa Hilliard III.
Dr. Hillard era um psicólogo acadêmico. Ele era um historiador e se tornou um amigo muito próximo e meu Jagna. Usamos a palavra Jagna em vez de mentor porque Jagna é um termo amárico originário da Etiópia, na África Oriental. E representa uma pessoa que é defensora da cultura. Alguém que transmite informações culturais e históricas aos jovens, a fim de colocar seus pés em um caminho que os levará a se tornarem adultos positivos e produtivos em suas comunidades.
Foi a minha afinidade com o dr. Hilliard que me levou a convidá-lo a escrever a introdução do From The Browder File, quando foi publicado em 1989. Agora, em 1989, poucas pessoas tinham ouvido falar de Tony Browder ou Anthony Browder. Mas as pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo conheciam o Dr. Hilliard, conheciam seu trabalho como psicólogo, seu trabalho como mestre educador, seu trabalho como historiador. Uma pessoa que levou milhares de professores e administradores para o Egito em seu estudo anual. Onde ele literalmente transformou suas mentes ao mostrar-lhes a história de 5000 anos que nossos ancestrais haviam criado no Vale do Nilo.
O Dr. Hilliard, em sua introdução ao “From The Browder File”, listou os fatores que contribuem para um sentimento de desunião entre as pessoas de ascendência africana. Ele falou sobre a necessidade de estabelecer uma declaração mental de independência, a necessidade de nos tornarmos pensadores conscientes e, assim, esses dez tópicos ajudaram a estabelecer as bases de como as pessoas deveriam usar este livro From The Browder File.
Eu gostaria de referenciar esses 10 pontos muito rapidamente, para que você possa entender os fatores que aconteceram centenas de anos atrás. Eles contribuem para o nosso atual estado de desunião e desordem. E que, ao entender como essas forças ainda nos impactam mais de 100 anos após o fim da escravidão.
Por fim, podemos começar a assumir uma responsabilidade pessoal e mudar a forma de como pensamos. Mudar a forma como agimos e modelar para nós mesmos, nossa comunidade e nossos filhos, o que realmente é empoderamento cultural africano que homens e mulheres devem seguir. E como eles deveriam se comportar.
Quero destacar esses 10 pontos que o Dr. Hilliard disse que contribui para a nossa falta de senso de unidade e direção.
A primeira é que abandonamos nossos nomes. Nós não sabemos quem somos. Não sabemos de onde viemos na África,
O segundo ponto é que renunciamos o modo de vida de nossa cultura. Adotamos os modos de vida das pessoas diferentes de nós.
A terceira é que perdemos nosso ímpeto, porque perdemos nossos nomes e abandonamos nosso modo de vida em nossa cultura. E o que geralmente acontece é que, onde uma pessoa desenvolve uma consciência africana e procura compartilhar essas informações com seus familiares e amigos. Uma das afirmações que é ouvida com frequência é: ”oh, você aqui de novo com essas coisas de Preto.”
Como se houvesse algo errado em falar sobre quem somos e elevar a história de nossos ancestrais. Somos Pretos, seremos pretos por toda a vida e, portanto, a melhor coisa que podemos fazer é celebrar quem somos, estudando nossa história e cultura. Modelando isso para nossos jovens e ensinando-os o orgulho de nossos ancestrais.
O quarto ponto que Dr. Hilliard levantou foi que temos uma perda geral de memória. Poucos de nós conseguem contar a história do povo africano sem começar essa história em nossa escravidão, como se nossa escravização fosse a única coisa que já aconteceu conosco. Esta é uma mentira que foi criada e perpetuada por nossos escravizadores a fim de nos manter mentalmente escravizados e como Dr. Hilliard costumava dizer, a escravidão mental é pior que escravidão física. Porque os escravos mentais pensam que são livres e nunca perceberam os grilhões em nossas mentes.
O quinto ponto que ele levantou é que criamos falsas memórias. Temos lembranças imprecisas do povo africano, da história africana e da cultura africana. Também temos lembranças imprecisas da história europeia, do povo europeu e cultura europeia. Nós, na América, fomos ensinados a acreditar que Cristóvão Colombo descobriu a América e um fato fundamental com o qual devemos nos perguntar é, como alguém pode descobrir uma terra quando as pessoas já estão lá? E o “descobrimento” da América foi em 1492, que definiu o quadro para a dizimação dos povos indígenas desta terra, que por engano ainda nos referimos hoje como Índios. E então, com sua dizimação, estabeleceu o processo europeu de escravização do povo africano. O que resultou na morte de mais de 50 milhões de homens, mulheres, crianças, que foram roubados de suas terras da África Ocidental. Assim, com o roubo do povo africano, depois da destruição da história, cultura e memória dos povos indígenas. Os europeus fabricaram mentiras para se elevarem como heróis, como descobridores, como homens de grande valor. Quando, de fato, o registro histórico documenta que eles estiveram entre os maiores ladrões, mentirosos e manipuladores do mundo. Então, parte da jornada, que encorajo a todos a participarem desta leitura dos ensaios do The Browder File, é uma jornada para a iluminação. Mas começaremos a aprender a verdade sobre nós mesmos e ter uma maior compreensão de quem são os outros. Que continuam a influenciar nossas vidas hoje.
O sexto ponto que Dr. Hilliard levanta é que perdemos nossa terra. Perdemos nossos laços com a terra, perdemos a África há mais de 400 anos. O povo africano foi roubado da pátria. E então, por quase 100 anos, os europeus tomaram, dividiram e colonizaram a África. Aproveitou todos os recursos existentes e os explorou. Para seu próprio ganho pessoal, como resultado de mais de 500 anos de roubo de pessoas, terras e recursos, a África é pobre e a Europa é rica. A única razão pela qual a Europa é rica é que ela roubou o povo africano e os recursos africanos. A única razão pela qual a África é pobre é por causa da perda de mais de 50 milhões de pessoas, e uma quantidade incalculável de ouro, diamantes e outros recursos que abasteceram o mundo por centenas e centenas de anos.
O sétimo ponto da referência do Dr.Hilliard é que perdemos nossa capacidade de produção independente. Nós fomos programados e socializados para sermos consumidores e não produtores. Nossos ancestrais foram responsáveis por criar a civilização documentada mais antiga deste planeta. Fomos os primeiros seres humanos a ler, escrever e raciocinar. Mas agora nos socializamos para consumir tudo o que foi criado por esse mundo europeu e abraçar esse conteúdo ou consumi-lo como se fosse a única coisa de valor. Então temos que começar a entender quem éramos para que possamos nos tornar essas grandes pessoas novamente.
O oitavo ponto da referência do Dr.Hilliard é que perdemos o controle independente de nós mesmos. Não controlamos mais nossos bairros, nossas comunidades. Não controlamos mais os meios de empregar nossa força de trabalho. Não controlamos mais nossos sistemas educacionais, nem mídia que socializa nossos comportamentos. Tudo isso que é essencial para o nosso desenvolvimento como indivíduos e como povo. Tudo isso é muito importante em moldar a mente dos jovens. Quem controla seu sistema educacional determina o que você sabe; e o que você sabe, determina como você pensa e como age. Quem controla a mídia determina sua percepção de si mesmo. Determina quais são os nossos modos legítimos e ilegítimos de comunicação e comportamento. E como sabemos muito bem, olhando para a mídia, seja televisão, rádio, mídia impressa, filme ou vídeo, continuamos a ser apresentados como pessoas indesejáveis, criminosos, traficantes e pessoas que nem em nossa mente queremos nos identificar. Desse modo, temos que recuperar o controle dos sistemas que influenciam nossos pensamentos e nosso comportamento. Nosso sistema educacional nossos sistemas de mídia e os meios de emprego para que possamos nos capacitar e apoiar aqueles indivíduos e instituições que ajudarão a trazer o melhor de nós mesmos e o melhor nas gerações futuras.
E depois Dr. Hilliard disse que perdemos nossa sensibilidade. Esta é a nona referência. Perdemos a capacidade de saber quando outras pessoas estão nos menosprezando e aceitamos retratos imprecisos do povo africano como se fossem verdadeiros. Quando você internaliza percepções negativas da realidade. Você, subconscientemente, abraçará esses aspectos negativos como autênticos para si mesmo. Portanto, é sobre saber quem você é, sobre agir com base nesse conhecimento e compartilhar esse conhecimento com outras pessoas para que você possa iniciar o processo de uma jornada para a iluminação. Semeando pensamentos nesse processo de restaurar sua memória histórica e cultural de que você pode se tornar seu Eu verdadeiro e autêntico.
O décimo ponto que dr. Hilliard diz é o resultado cumulativo de todas essas coisas. Perdemos nosso senso de unidade e direção. E assim, o único recurso para aqueles de nós que tomam tempo para ler e estudar retratos precisos das contribuições contínuas do povo africano à história e às culturas, é apenas redescobrindo essas novas informações que podemos começar a conhecer nosso verdadeiro Eu. Comece a agir e a falar de uma maneira que glorifique nossos ancestrais e apresente-os aos jovens para que tenham capacidade de se tornar gloriosos, da mesma forma.
Portanto, esses são os objetivos básicos dos ensaios do From The Browder File para apresentar a você informações que a maioria de nós nunca receberá em um ambiente educacional formal e para mostrar como internalizar essas informações históricas, realizar mais pesquisas sobre os assuntos referenciados, agora essas novas informações podem te guiar no caminho do conhecimento, e isso fará com que você faça contribuições positivas para sua família, para sua comunidade e para o mundo africano.
Então aproveite a leitura e a discussão do From The Browder File.
Isso levará ao caminho da iluminação.

Fuca, Insurreição CGPP, 2020.