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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Mary E. Modupe Kolawole: Gênero e Literatura Africana - Mulheres como uma massa critica

Dra. Mary E. Modupe Kolawole.

Professora de Inglês e de Estudos das Mulheres na Universidade Obafemi Awolowo, Ilê-lfé, Nigéria.

Autora do livro “Womanism and African Consciousness” [Mulherismo e a Consciência Africana] 

(Texto extraído de parte da aula inaugural em 2005)

Minha pesquisa sobre gênero é um dos aspectos mais importantes do meu trabalho como teórica literária. Minha pesquisa inicial não tinha foco especial em gênero até minha bolsa de estudos na Universidade Cornell como pesquisadora visitante da Fundação Rockefeller (1991-92). Observei que gênero era um critério importante emergente em estudos acadêmicos nas ciências humanas, ciências, e saúde. Nesses pontos, a maioria dos livros enfocou os critérios ocidentais de avaliação de gênero na África, incluindo a literatura africana. Decidi juntar as opiniões dos africanos sobre a realidade das mulheres a partir de minhas pesquisas em história, lendas, mitos, gêneros orais, contos populares, provérbios e outros. A literatura africana ocupa um lugar que eu descrevo como a zona crepuscular (twilight zone), um local intermediário (espaço ambíguo). A questão da diferença ou alteridade, portanto, continuou a gerar muitas discussões epistemológicas. Meus trabalhos também exploram a alteridade das mulheres, não como uma resistência negativa à mudança, mas como uma manifestação de mutabilidade, mesmo quando elas resistem à autonegação cultural e de gênero. A agência das escritoras africanas é notável por sua resiliência. Havia uma lacuna esmagadora na percepção de gênero das mulheres africanas e um desejo de nomear sua própria luta, rejeitando marcas como o feminismo africano/negro. As mulheres africanas devem se constituir como uma massa crítica.

Eu me identifico com Alice Walker e Chikwenye Okonjo-Ogunyemi, Clenora Hudson-Weems, entre outras, devido seus anseios por formas mais inclusivas de nomear a luta das mulheres pretas. Meu livro teórico, “Womanism and African Consciousness” [Mulherismo e a Consciência Africana], levantou questões válidas de como se define o mulherismo. “O que é então o mulherismo? Para as africanas, o mulherismo é a totalidade da autoexpressão, do autocuidado e da autoafirmação femininas nas maneiras culturais positivas." (Kolawole. 1997. p.24). O mulherismo não é uma ideologia que odeia o homem. O mulherismo enfatiza a relevância racial e cultural, a centralidade da família e a necessidade de que homens e mulheres trabalharem juntos para alcançar justiça de gênero, equidade de gênero e empoderamento das mulheres. (Kolawole 1997, 2004, 2005). Assim como a crítica literária feminista se tornou uma importante ferramenta de pesquisa crítica. Vejo que o mulherismo é uma versão adaptada disso, uma tentativa de infundir nacionalismo cultural e racial na teoria literária de gênero.

Quando iniciei os seminários e ensinos sobre o mulherismo, alguns colegas acreditavam que “quem paga a flautista dita a música” e estavam céticos acerca do direcionamento para uma alternativa ao feminismo, pois poderia ofender as agências doadoras e perguntaram: "Quem patrocinará isso?" Outros preferiram manter o status quo com o termo feminismo. Meu desafio era injetar uma perspectiva africana, aumentando assim as opções na conceituação de gênero. O próprio feminismo não é monolítico. As diversidades incluem feminismos liberais, socialistas, existencialistas e pós-modernos. Outras vertentes incluem o ecofeminismo e a mais recente variante, o feminismo ciborgue. Minha experiência na África do Sul é significativa. Como Associada da Fundação e residente acadêmica por três meses no Instituto Africano de Gênero da Universidade da Cidade do Cabo, em 1997, meus trabalhos sobre mulherismo alteraram o paradigma de estudos na África do Sul. Tornou-se um ponto focal de diversas maneiras. Desafiei a sororidade universal e advoguei o foco em mediações raciais e culturais. Meus livros estão agora nas listas de leituras de universidades da Europa, EUA, Ásia e muitos países africanos. Editoras alemãs pediram os direitos autorais para traduzir minhas obras para o alemão. Em uma recente conferência na Cidade do Cabo, em janeiro de 2005, comentários de renomados professores de literatura em universidades como Stellenbosch, Cidade do Cabo, Natal, Suécia, EUA, etc, me saudaram. "Professora, você é uma celebridade, uma lenda que simplesmente não consigo imaginar saindo desta conferência sem apertar sua mão." "Você tem impressionado a África do Sul nos últimos cinco anos." ''O artigo de Mary Kolawole nos deu uma pista dos problemas dos estudos de gênero nos últimos dez anos. Ela nos deu o caminho a ser seguido.” Entre esses comentários inclui o da famosa professora de literatura Kristen Petersen. O mundo estava esperando por uma estudiosa com a coragem de cantar canções africanas em terras estranhas, mas enraizadas na África.

Também pesquisei sobre gêneros femininos na literatura oral como ferramentas de autoexpressão das formas dinâmicas. Esses gêneros como caminhos de poder para a autoafirmação das mulheres refutam as alegações de ausência de voz e de invisibilidade. Concordo com Micere Mugo e Molara Ogundipe-Leslie de que precisamos apenas procurar lugares de audibilidade, visibilidade e poder das mulheres africanas. Esses lugares são revelados nos gêneros literários orais femininos, que foram caminhos do envolvimento dinâmico no processo social, como observei em meus trabalhos: "Existe uma infinidade de gêneros femininos entre os Iorubas. Isso inclui músicas Obitun; canções de Olori, canções Aremo, Ao-oka gelede, músicas Olele e Alamo. As canções de Fulani Bori no norte da Nigéria consistem em modos manifestos de autoexpressão e autoafirmação para as mulheres desse grupo religioso esotérico. Outros gêneros especificamente dominados pelas mulheres incluem a poesia da corte feminina Hausa, canções de nascimento Ibo, Ogori Ewere, muitos poemas panegíricos e contos populares, entre outros". (Kolawole, 1997) Em outras partes da África, as mulheres tinham suas vozes em muitos gêneros orais exclusivamente femininos: gênero satírico de donzela nzema em Gana, canções de noivas swati, lmpongo entre os Ila e Tonga da Zâmbia, Akan Dirges, Galla lampoons, canções de moagem de Kamba e numerosos mitos de gênero e provérbios. (Kolawole, 1997; 1998). Muito trabalho foi feito na área de imagens das mulheres em provérbios africanos por Minekke Schipper, Susan Arndt, Helen Mugambe, Kehinde Yusuf, Ifeanyi Arua e Juliana Abbenyi,

Colegas e estudantes envolvidos na pesquisa de gênero em todas as disciplinas inundaram minha caixa de entrada com pedidos de assistência, informações, revisão da literatura e referências sobre gênero na África. Recentemente, meu trabalho soou cauteloso neste processo de representar as opiniões das mulheres africanas de acordo com a agenda dos doadores. Podem não ser questões de primeiro plano que transformarão as mulheres africanas de seus espaços liminares, da margem para o centro. Em uma recente conferência internacional sobre “Writing African Women” [Escrevendo Mulheres Africanas], eu avisei sobre pesquisa autocentrada e a chamada representação de mulheres africanas. Proponho uma reapresentação de mulheres africanas usando o objetivo de "escrever" a tradição Ioruba que garante uma abordagem cautelosa para conhecer a noiva, já que as mulheres africanas se tornaram a bela e proverbial noiva dos pesquisadores. Vi minha tarefa à luz da argumentação de Leela Dube investigando o "viés etnocêntrico das acadêmicas feministas ocidentais que tendem a interpretar dados de outras culturas na perspectiva das experiências adquiridas em suas próprias culturas e na compreensão de suas relações entre homens e mulheres.”

O símbolo do “Mount Langbodo” [Monte Langbodo] de Fagunwa dramatiza uma tensão de gênero - os homens como guardiões da chave mestra dos múltiplos problemas das sociedades. A busca por Langbodo envolveu apenas homens, sete caçadores corajosos. As mulheres estão revelando sua desenvoltura através da literatura, e mover a literatura nigeriana do Monte Langbodo tem sido um objetivo importante para essas mulheres. Também uso a metáfora da árvore arerê na minha teoria da ambiguidade do espaço e da voz das mulheres. Um provérbio Ioruba resume essa contradição. "ile ti obinrin ri nse toto arere, igi arere ni hu nibe."- (uma casa que permita a vocalidade das mulheres terá a árvore arerê crescendo nela.) Não é permitido que a árvore arerê cresça perto da habitação humana devido ao seu odor desagradável, mas é uma árvore forte e valiosa na construção civil. A geração mais jovem de mulheres escritoras está desconstruindo essa simples metáfora. Entre elas incluem Toying Adewale, Omowunmi Segun, Maria Ajima e muitas outras. A canonização de textos é outro desafio para mim. Deliberadamente, trabalhei em novos escritos de jovens escritoras nigerianas para estabelecer e divulgar suas obras. Eu trabalhei na antologia de Toyin Adewale, “Breaking the Silence” [Rompendo o Silêncio], por esse motivo.

Algumas das teóricas feministas mais conhecidas hoje incluem Mary Eagleton, Mary Evans, Maggie Humm e Mary Rogers. Elas apresentaram algumas das teorias mais relevantes. Deixe-me declarar aqui que o feminismo é uma teoria que abrange muitas disciplinas. É uma teoria válida para filósofos, sociólogos, historiadores, antropólogos, cientistas políticos, estudiosos da cultura, cientistas, tecnólogos e pesquisadores da medicina. É facilmente a teoria mais transversal da academia moderna. Portanto, é lamentável que aqui na Nigéria, entre alguns estudiosos, o feminismo seja preterido por não ser acadêmico. E porque o mulherismo é relativamente novo, muitos estudiosos ainda desconhecem seu status como ferramenta de pesquisa.

Minha pesquisa reitera a conceitualização e a prática das teorias mulheristas. O mulherismo foi cunhado por duas intelectuais pretas, Alice Walker e Chikwenye Okonjo-Ogunyemi, em 1982, como um meio de se autonomear e injetar consciência preta nos estudos de gênero. A teoria mulherista agora está sendo comemorada como a contribuição das mulheres pretas para os debates sobre gênero e meu trabalho é um dos mais aplaudidos em todo o mundo por causa da originalidade das ideias. Fui homenageada e ainda estou sendo aplaudida por aumentar as opções de conceituação e metodologia de gênero. Assim como estudiosas tradicionais como Sandra Harding, Rose-Marie Tong, Angela Miles, Jane Parpart, Mary Rogers e Mary Evans destacaram o feminismo como uma teoria sólida e uma ferramenta para a academia moderna, numerosas escritoras pretas, como Chandra Monharty, Irene D'Almeida, Abena Busia, Amina Mama, Trion min ha, Madhu Kishwa, Leela Dube, Shushela Nasta e Audre Lorde, estão elucidando o feminismo negro. Alice Walker, Chikwenye Ogunyemi-Okonjo, Juliana Abbenyi, Clenora Hudson-weens e eu trouxemos a estética literária mulherista ao centro do estudo acadêmico global de gênero.

Desejo frisar nesta nota: o mulherismo, que não foi cunhado por mim, como o feminismo, é uma teoria e metodologia literária reconhecida internacionalmente. Gostaria de indicar aos colegas que ainda não têm conhecimento sobre o mulherismo e o feminismo para navegarem na Internet, ler sobre esses conceitos e que irá surpreendê-los o fato que o mundo tenha ido além do nível de perguntas sobre a autenticidade desses cânones de gênero. Um estudioso acadêmico pode ser definido como um cidadão do mundo das ideias: quanto mais você tiver acesso a ideias, mais se tornará um participante dinâmico neste mundo de horizontes epistemológicos em constante mudança e em expansão. A ignorância não pode mais ser comemorada ou validada nos dias de alta tecnologia e de explosão de informações.




por Carlos R. Rocha - Fuca, Insurreição CGPP, 2020.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Ventos do Apocalipse, Paulina Chiziane – Breve Nota

Quando assisto a alguma entrevista da escritora moçambicana Paulina Chiziane, com sua tranquilidade na expressão, uma doçura na voz e sempre se portando com muita evidência, fica difícil de imaginar como ela pôde escrever um livro tão repleto de sofrimentos e situações extremamente subumanas. Pois é, Ventos do Apocalipse traz essa bagagem da vida do seu povo no sul de Moçambique pós-independência e assim travando uma guerra civil.
Este livro é o seu segundo romance, publicado em 1975, apesar de a autora não se considerar uma romancista, é fato que me parece não querer atribuir a rótulos europeus para sua obra, nem para seu ser e suas crenças. A sua escrita está mais ligada à tradição oral, a contação de histórias e em particular, as histórias que as mulheres carregam consigo.
São cíclicos os ventos que sopram o apocalipse, e assim a autora inicia o livro com contos do passado, meio que para ambientar a leitura do romance que virá.  O romance é dividido em duas partes: A primeira parte se passa na vila de Mananga, e a narrativa se ambienta na vida de Sianga e Minosse, um casal, Sianga que já fora um régulo não é mais nada da vida, a única mulher que o aturou foi Minosse. 
O cenário é de seca, numa região que depende do clima para se estabelecer numa espécie de agricultura de subsistência. Para agravar, a guerra está sempre a soprar sua brisa, desse modo começa-se a aparição de refugiados de outras aldeias e vilas. A constante busca por sobrevivência vai gerar atritos.  
A segunda parte já se dá pela busca de refúgio dos que sobreviveram dos conflitos em Mananga. E é então que o vento sobra bem forte, a devastação retratada é algo bem estarrecedor. Minosse continua nessa jornada, sendo então a principal voz no romance, uma voz feminina que guardou e viveu toda a desgraça daquele cenário.
A minha sensação é a de que a história não teve fim, justamente pra supor a ideia inicial de que tudo é cíclico, ou seja, os europeus que na colonização devastaram a tradição local, em outro momento vieram para “ajudar” numa guerra civil, seria mesmo só ajuda, assim sem nenhuma pretensão? As mulheres ancestrais que sofreram no passado (vide um conto inicial do livro), a mesma dor se fez presente na vida infeliz de Minosse, existia ali alguma projeção de mudança pro futuro? E se a história pode girar em ciclos será que devemos aprender com as experiências do passado? Foram alguns questionamentos que fiquei a imaginar pós-leitura. E assim encerro essa breve nota, vou deixar o link de uma das entrevistas de Paulina Chiziane, e também a nota de outro livro da mesma autora, As Andorinhas.
Fuca, Insurreição CGPP, 2020. Livro de contos: AS ANDORINHAS



"Pauline Chiziane nasceu em Manjacaze (Moçambique) em 1955. É reconhecida como a primeira mulher moçambicana a escrever um romance. Internacionalmente, revela-se como uma das mais renomadas escritoras africanas e a maior romancista negra dos países de lingua portuguesa. É constantemente convidada para conferências de arte, direitos humanos e literatura em diferentes países. Em reconhecimento ao seu trabalho militante pela justiça e igualdade, foi nomeada, pelo One Thousand Peace Women (Movimento Internacional de Paz), uma das mil mulheres pacificas do mundo, além de indicada ao Prêmio Nobel da Paz (2005)."





quarta-feira, 10 de junho de 2020

Nós Matamos o Cão Tinhoso – Luiz Bernardo Honwana - Breve Nota

Nós Matamos o Cão Tinhoso é um conto de Luiz Bernardo Honwana, foi publicado pela primeira vez em 1964 em Moçambique. Esta obra faz parte de um livro de sete contos de Honwana sendo esse o maior deles e o que carrega o titulo do livro. (ou o livro que leva o titulo do conto).
Bom, se não fosse o fato de ser considerado um conto clássico, devido principalmente ao contexto histórico em que foi escrito e lançado, a trama do texto já teria sua importância para pensar na subjetividade do ser humano. Ginho é uma criança esperta para algumas atividades, mas se deixa levar facilmente por determinações que outras pessoas colocam. Ele representa a dúvida, um leque de atitudes para tomar, representa um momento de escolhas e afirmação! Mas qual caminho seguir?
Sua dúvida maior é a de que se deveria ou não matar o cão sujo que todos ignoram, nem outros cães chegam perto dele, por isso Cão Tinhoso, que remete a sujeira/sarna e não a teimosia, como no português brasileiro. Aliás, o texto que li era o português de Moçambique e continha algumas expressões próprias de lá, assim como, por vezes, a linguagem de uma criança, pois Ginho é quem narra o conto.
Apenas Isaura é quem mantém afeto ao cão, que dá carinho e divide seu lanche com o Cão Tinhoso. Não é a toa que ela é tida como louca na escola, assim pensam.
Desse modo, trazendo ao momento político de Moçambique, as décadas de 60 e 70 foram cruciais para as lutas de libertação e de independência, não só em Moçambique como no continente africano. Eram lutas violentas contra o poderio colonial, foi um momento de busca de autodeterminação política e histórica, momento de emancipação, novos rumos a renascer outros caminhos.
Afinal, que lado o Cão Tinhoso representa? Por que matar o cão? Quem mandou matar o cão? O que as crianças armadas representam nesse momento, especialmente Ginho e Isaura? Essas são algumas das reflexões e analogias possíveis a partir desse conto.
Pra mim o cão tinhoso deveria representar o sistema colonial! No entanto, tudo indica que o cão demonstra a situação das pessoas pretas, e Ginho, um menino preto, deveria matar a serviço e a mando do sistema branco, que procuram justificativas para amenizar as culpas. Seria, então, Ginho um capitão do mato? E pior, o que nem recebe nada por isso a não ser o prestígio de ser aceito num grupo...  
Enfim, um conto rápido que evidencia todo esse sistema hierarquizado até os dias de hoje.

Fuca, Insurreição CGPP
2020

Tem a edição de 2017 da editora Kapulana.


Sobre o Autor
LUÍS BERNARDO HONWANA nasceu em 1942, na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), e cresceu em Moamba, cidade do interior, onde seu pai trabalhava como intérprete. 1964 foi o ano da primeira publicação de Nós matamos o Cão Tinhoso!. No mesmo ano, Honwana, militante da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), foi preso por suas atividades anticolonialismo, e permaneceu encarcerado por três anos. Em 1970, foi para Portugal estudar Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Após a Independência de Moçambique, em 1975, foi nomeado Diretor de Gabinete do Presidente Samora Machel, e participou ativamente da vida política do país. Em 1982, tornou-se Secretário de Estado da Cultura de Moçambique e, em 1986, foi nomeado Ministro da Cultura de Moçambique. Em 1987, foi eleito membro do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Em 1991, fundou e foi o primeiro Presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa. Em 1994, foi convidado para entrar para o Secretariado da UNESCO e foi nomeado Diretor do escritório regional da organização, com base na África do Sul. Honwana é membro fundador da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique, da Associação Moçambicana de Fotografia e da Associação dos Escritores Moçambicanos. Atualmente, é o diretor executivo da Fundação para a Conservação da Biodiversidade (BIOFUND).


quarta-feira, 27 de maio de 2020

O Mundo se Despedaça – Chinua Achebe – Breve Nota

Considerado um clássico da literatura mundial, O Mundo se Despedaça, de Chinua Achebe, é uma leitura importantíssima para se ter contato ao universo do povo Ibo no que hoje se situa o país nigeriano. O primeiro ponto a se destacar é que o romance se dá num período pré-colonização. Assim, Achebe escreveu acerca da vida, costumes, crenças e tradições do povo Ibo antes da invasão colonial.

Bom, após a leitura de A Paz dura Pouco, (post anterior) fiquei sabendo que na verdade se tinha uma trilogia de Chinua Achebe sendo O mundo se despedaça o primeiro deles, então ficou invertida a ordem, mas não alterou tanto a compreensão. E ano passado eu tinha iniciado a leitura de A Flecha de Deus e por incrível que pareça não fiquei empolgado de terminar, ainda pretendo, pois fecha a trilogia.

O livro é dividido em três partes ao longo dos seus 25 capítulos, e essas partes se separam conforme a trajetória de Okonkwo. Parte 1: Se refere a trajetória da infância de Okonkwo até se tornar um guerreiro. Parte 2: Okonkwo é condenado a exilar-se em outra aldeia com suas mulheres e filhos, pois cometeu um crime contra um irmão de aldeia. Parte 3: A volta de Okonkwo para sua aldeia Umuófia, agora já com a chegada da igreja dos ingleses.

Em linhas gerais, Okonkwo era um guerreiro Ibo no sentido de que desde jovem se deu bem nas lutas tradicionais da aldeia, e sua inclinação ao trabalho se revelou outra característica de guerreiro, num povo que se estabelecia com títulos, comprovando hierarquicamente o valor de cada homem. O maior medo de Okonkwo era ser um fracassado tal qual fora seu pai, algo que o perseguia a todo instante e o inspirava a ser o oposto disso.

O povo de Umuófia era muito devoto aos deuses e divindades, onde os mais velhos comandavam esse dialogo entre as pessoas e os deuses, e assim tomavam as atitudes necessárias para que se estabelecesse um bem viver e uma justiça conforme as tradições ancestrais. Desse modo, o autor desvelou como aquela sociedade se comportava naquela dada época, aglutinando tradição oral com sua perspicácia literária.

Okonkwo viu seu anseio por títulos em sua aldeia se desmoronar ao ter que se exilar, nesse momento lhe bateu a tristeza, conseguiu sobreviver em sua nova morada e após sete anos pôde retornar à sua terra. No entanto, a aldeia já não era mais a mesma, a intervenção dos brancos já havia ocorrido e estava se consolidando pouco a pouco.

Primeiro os missionários vieram em paz e chegaram num ar de conciliação e convictos de que eles detinham o poder da salvação e o verdadeiro deus, não aquilo tudo que a aldeia dizia ser deus. Num segundo momento se deu a chegada da colonização britânica com a violência, com suas leis e instituições. Daí o mundo de Okonkwo se desmoronou novamente.

Chinua Achebe escreveu o livro em inglês com uma riqueza imensa, pois juntou a oralidade com literatura, chamando a responsabilidade para si ao ter que relatar e escrever sobre seu povo e sobre África, ao invés de se ter que sempre ler textos externos, dos missionários, de escritores europeus e de estudiosos enviesados.

A meu ver, por fim, acredito que o autor buscou tecer criticas aos dois lados, a forma como a trama se desenrolou realmente pôs em cheque toda aquela devoção e boa parte das superstições da tradição ancestral Ibo daquela região. Achei que o autor foi bem sucedido em passar também a imagem que os recém-chegados brancos tiveram do modo de vida daquela aldeia. Onde Umuófia considerava o espaço maldito, foi justamente onde a igreja cristã se erigiu.

Fuca, Insurreição CGPP
2020



Mais infos:
Entrevista- Chinua Achebe, a voz incómoda da não vitimização africana
https://www.buala.org/pt/cara-a-cara/chinua-achebe-a-voz-incomoda-da-nao-vitimizacao-africana

Sobre literatura africana - BOLEKAJA - VAMOS LUTAR...
Bolekaja na Construção da África no Discurso Intelectual
https://insurreicaocgpp.blogspot.com/2018/05/bolekaja-na-construcao-da-africa-no.html

quarta-feira, 6 de maio de 2020

A Paz Dura Pouco – Chinua Achebe – Breve Nota

Evidenciando uma dualidade cultural, Chinua Achebe escreveu esse livro A Paz Dura Pouco contando a trajetória de Obi Okonkwo, que saiu de sua aldeia para estudar o ensino superior na Inglaterra, daí se dá essa dualidade, mas não só por isso, vem também a questão da colonização na Nigéria em contraste com a tradição cultural étnica Ibo.
Com isso, Chinua Achebe criou uma belíssima obra literária, onde não só escreveu pelo prazer de escrever, mas para apresentar a vida nigeriana e em particular do povo Ibo, os mostrando como seres humanos detentores de sua própria trajetória e de suas próprias organizações. Além disso, retratou o comportamento dos colonizadores e a visão que eles tinham da Nigéria, no entanto, o autor não poupou as instituições nigerianas e sua elite corrupta.
É interessante que a história não foi contada de forma linear, e assim o livro se inicia com o Obi sendo julgado num tribunal e então a partir da apresentação do réu feita pelo juiz é que se começa o relato de sua vida pregressa. Contudo, Obi sempre teve a intenção de combater tal corrupção através de uma renovação das instituições.  
Obi foi estudar fora a partir de um esforço coletivo de uma espécie de associação de sua aldeia, e ele tinha então não só a responsabilidade de ser o pioneiro em sua aldeia como também de retornar o investimento assim que regressasse para Nigéria. Mas ao se relacionar com Clara, Obi cometeu um erro grave na visão de sua família e da associação de sua aldeia. Clara era Osu, uma etnia condenada à maldição por todas as gerações, na visão tradicional tribalista da aldeia.  
Desse modo, o livro vai permear essas questões com uma escrita muito envolvente, não pra menos que Chinua Achebe é considerado o pai da literatura nigeriana.

Páginas: 128
“Chinua Achebe nasceu em Ogidi, Nigéria, em 1930. È um dos mais respeitados escritores africanos da atualidade. Atuou na diplomacia no final da década de 1960 e foi agraciado com o Prêmio da Paz oferecido pela Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 2002. Em 2007, recebeu o Man Booker Internacional. De sua autoria a Companhia das Letras publicou também A educação de uma Criança sob o Protetorado Britânico, A flecha de Deus e O mundo se despedaça.”


Mais infos:
Entrevista- Chinua Achebe, a voz incómoda da não vitimização africana
https://www.buala.org/pt/cara-a-cara/chinua-achebe-a-voz-incomoda-da-nao-vitimizacao-africana

Sobre literatura africana - BOLEKAJA - VAMOS LUTAR...
Bolekaja na Construção da África no Discurso Intelectualhttps://insurreicaocgpp.blogspot.com/2018/05/bolekaja-na-construcao-da-africa-no.html

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Sobrevivi para contar – Immaculée Ilibagiza – Breve Nota

Uma pessoa iluminada. Eis a forma de eu começar a escrever brevemente sobre Immaculée Ilibagiza, ou mais precisamente de seu livro, Sobrevivi Para Contar: O Poder da Fé me Salvou de Massacre. Acredito que a mensagem que ela deixou ao escrever esse livro é de um valor imensurável. Mesmo com todo tipo de pergunta que eu possa me fazer e independente das respostas que eu venha supor, o sentimento de admiração que tenho por ela não será reduzido. Não é pra menos, essa obra se trata do relato pessoal de Immaculée diante do genocídio em Ruanda (1994), desencadeado através dos conflitos de duas etnias, Tútsis e Hutus. Apesar de a autora ter perdido grande parte de sua família nesse massacre, ela conseguiu sobreviver podendo contar sua árdua jornada pela vida, e o mais impressionante, ancorada de uma fé inabalável e que de tão verdadeira transborda para quem tenha tido contato com sua história, independente de religião, ao meu ver. 

Quantos e quantos questionamentos me vêm à mente nesse momento. São diversas reflexões e sensações acerca da vida, do mundo, das relações humanas. Por vezes me questiono o que seria honrar? O que significa perdoar? Até que ponto perdoar? A paz é possível?...Assim, me deparo com um turbilhão de suposições e respostas.

O livro se divide em três partes: I- A tempestade em formação, II- No esconderijo e III- Um novo caminho, com 24 capítulos distribuídos nessas partes, mais o epílogo. Num total de 196 páginas.
O livro se Inicia com um relato delicado e carinhoso acerca de sua família. Com muita leveza e doçura nas palavras ela retrata sua história e seu cotidiano. Toda família de Immaculée é católica e de boa instrução, seus país eram professores e com isso ela pôde ter um acesso melhor ao ensino.

Mencionou que apesar de ser bem educada não foi ensinada sobre a diferença de etnia em Ruanda. Com isso ela ficou perplexa diante da atitude de um professor no ensino fundamental, que fazia as chamadas separando por etnia. Ela não soube responder de qual etnia pertencia. Depois soube que fazia parte da minoria tútsi. Ela tinha uns 12 anos. Com isso, Immaculée indicou que seus pais visaram não reforçar essa diferença de etnia na educação de todos. Apesar de indicar que não iria se ater aos motivos do genocídio, em algumas passagens ela mencionou alguns pontos.

“(...)Não sabíamos que Ruanda era povoada por três tribos: uma maioria hutu, uma minoria tútsi e um número insignificante de twas, povo semelhante a pigmeus, que vivia nas florestas. Não nos ensinaram que os colonizadores alemães, e depois os belgas que os substituíram, tinham convertido a estrutura social então reinante em Ruanda – uma monarquia, sob reis tútsis, que, por séculos, manteve Ruanda em paz e harmonia – em um sistema discriminatório de classes, tendo por base a raça de indivíduos. Os belgas apoiavam a aristocrática minoria tútsi e os colocaram à testa do governo; assim sendo, os tútsis recebiam uma educação superior para melhor dirigir o país e gerar maiores lucros para seus senhores belgas. Estes instituíram uma carteira de identidade étnica para mais facilmente distinguir quem pertencia a qual tribo, aprofundando o fosso que cavaram entre tútsis e hutus. Esses erros imprudentes criaram um duradouro ressentimento da parte dos hutus, base para o futuro genocídio.”

Adiante, nesta primeira parte do livro, ela passa pelo estudo secundário e por fim a universidade, momento ao qual ela se orgulha pela emancipação enquanto mulher de poder fazer um curso desafiador na área da engenharia. Ao voltar pra Mataba, foi então que eclodiu a guerra e ela conseguiu abrigo na casa de um pastor.  

Intitulada “No esconderijo”, a segunda parte retrata seu martírio num confinamento na casa do pastor, ficou num banheiro pequeno acompanhada de mais 6 mulheres durante 90 dias. Impressionante como no banheiro ela procura uma elevação espiritual, mesmo naquela situação de prisão, ela se culpava por te ódio dos malfeitores e buscava se concentrar para perdoá-los. Então, aí se evidenciou sua fé, e seus modos de meditação e conversação com Deus.

Todas as sobreviventes confinadas só puderam sair devido a uma intervenção dos soldados franceses, e pairava ainda a dúvida da real intenção deles, pois foram eles quem havia municiado os grupos rebeldes, foram eles que mantinham contato com o governo ruandês. Vale lembrar que os aparatos do Estado estiveram também envolvidos nesse genocídio, e em tal circunstância o país presenciou total omissão das nações unidas ou de qualquer potencia que seja. Ora, não são eles os salvadores das pátrias, os que visam a democracia, ou só quando é de seus interesses?

Na terceira parte do livro é a vez de um “Novo Caminho” de Immaculée. Onde ela buscou juntar o que restava de uma vida e resignificá-la, estava disposta a perdoar, estava disposta a ajudar seu país, estava disposta a seguir a vida apesar dos pesares e essa foi a maneira de honrar a vida dos entes que foram brutalmente.  Sempre acompanhada do Poder da Fé.

Na minha reflexão eu enxergo os diversos pontos que abarcam esse genocídio, a questão das etnias, a divisão das classes sociais, disputas religiosas, com as mazelas da colonização no pano de fundo, o neocolonialismo, mas o que ficou também evidente é que temos nossas responsabilidades sobre nossas atitudes enquanto povo, e isso transcende a questão de Ruanda, não é raro ainda a gente se matar e se autodestruir, temos que assumir as rédeas dos nossos atos. Eu vejo que a mensagem de perdão e paz que Immaculée deixou, foi justamente visando um futuro melhor para Ruanda e pro mundo, já que as farpas não se dissipam assim facilmente.

Fuca, Insurreição CGPP - 2020


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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Diário de Bitita – Carolina de Jesus – Breve Nota

Diário de Bitita – Carolina de Jesus – Breve Nota

Tá aí um livro que me surpreendeu, pois com o relato de Carolina de Jesus, deu pra imaginar o cenário racializado do Brasil na primeira metade do século passado. Neste livro, Carolina retrata sua trajetória desde a sua infância até a sua chegada em São Paulo. A meu ver, é uma escrita bem direta, de fato como anotações de um diário com uma pitada de arte literária. Assim o livro vai oscilando entre relatos e literatura; realidade e, o que eu imagino, de ficção.

De uma forma simples, a autora expressa sua visão de mundo e com diversas sacadas que parecem ingênuas no que tange à ciência (sociais, economia, história), mas são bem didáticas, talvez por serem ancoradas no senso comum. Mas, para mim, revelou-se que Carolina de Jesus procurava pensar nos problemas do mundo e pensar numa vida melhor para o país. A diferença é que ela vivia todo aquele turbilhão de mazelas, que se agravava com o estilo seminômade na busca por trabalho e terra.

São situações pesadas, diversas discriminações raciais, condição de miséria e a todo tempo uma vida instável, fazendo-a estar sempre em desajuste social, sobretudo quando se fala de aspecto físico e vestimenta.  Por vezes, ela se encontrou sozinha em sua caminhada e ainda sendo desassistida pelos seus próprios parentes.

Um fato interessante é que muito lhe agradava a figura do presidente Rui Barbosa, do inicio ao fim do livro a autora fez menção a ele, o colocando como um possível salvador da pátria. Getúlio Vargas também foi muito citado.

Vale lembrar que o livro Quarto de Despejo já havia explodido de sucesso, e que o Diário de Bitita foi publicado postumamente, em 1986. Eu, particularmente, curti mais esse último diário. Achei incrível a forma que ela relatou sua infância, e como ela juntou memória, vivência e opinião numa história.

Fuca, Insurreição CGPP, 2020

Infos:
Carolina de Jesus, nasceu dia 14/03/1914 em Sacramento- MG e faleceu em 13/02/1977 São Paulo-SP.

(Nova Fronteira) “Poucos antes de morrer, Maria Carolina de Jesus – a autora de Quarto de Despejo, que na década de 60 teve repercussão internacional de público e crítica – entregou a jornalistas franceses que vieram entrevista-la os cadernos manuscritos que compõem este Diário de Bitita. Neles a autora escreveu sobre sua infância e sua luta contra a miséria e o preconceito racial. Dirigindo um olhar atento à realidade à sua volta e narrando com sensibilidade suas vivências pessoais, Carolina de Jesus criou um texto de força impressionante, que expressa a visão de mundo e também o papel histórico de uma imensa parcela oprimida da população brasileira. Escrito com inteligência e numa linguagem original, Diário de Bitita significa bem mais que um testemunho pessoal: é um exemplo espontâneo de contestação, onde a experiência vivida se torna mensagem literária.”

  



quarta-feira, 15 de abril de 2020

Capão Pecado, Ferréz – Breve Nota


Capão Pecado, Ferréz – Breve Nota

Por vezes, menciono que a literatura pode fazer denuncias de uma forma mais branda se comparada com o RAP. No entanto, essa afirmação pode ser facilmente contradita se eu me refiro ao livro Capão Pecado, do escritor Ferréz. Neste livro se encontra a linguagem da periferia tal como ela se dá, lógico que com seu tom de arte e literatura. Quem viveu a periferia dos anos 90 com certeza vai se identificar com a narrativa e vai verificar traços de uma realidade bem próxima, a qual nem sempre era uma realidade feliz.

E longe de estigmatizar a quebrada, o autor trata grande parte dos personagens oriundos dos mosaicos de tijolo vermelho, onde a busca pela sobrevivência é permeada por diversos obstáculos. O principal personagem, o Rael, é um exemplo de menino que visa o caminho do trabalho e procura se esquivar do que considera as más influências. Porém, na sua vivência, não deixa de ver diversos conhecidos e amigos perdendo a vida, muitas vezes de forma violenta. Através de Rael pode-se perceber como era a dinâmica do mercado de trabalho da época, como era acesso aos estudos, lazer e cultura. Um garoto que adorava ler e tinha que visitar os sebos para tal. Mas longe de ser um humano sem erros!

Creio que o autor não desejava realmente se manter distanciado da linguagem do Rap, até porque no livro contem partes com textos de rappers, que entendi como outra ferramenta de voz e denuncia para esses manos.

A história é envolvente, mas se prepare, pois ira confortar com a realidade das mazelas, tais como violência e miséria. Talvez não seja de interesse pra quem já viveu muito disso, ou talvez possa ser um livro importante para a juventude da periferia do hoje, e ai será que muito mudou? O que melhorou ou piorou? É importante ler? E escrever umas paradas?
Veja só, são vários questionamentos que se pode suscitar dentre a juventude que não está inserida na literatura, e que a partir de então pode se inserir no mundo das leituras e quem sabe das escritas.

Capão Redondo se situa na periferia da cidade de São Paulo e lá é o ambiente do livro. Eu, que nasci e cresci no Grajaú, também na zona sul de sp, consegui visualizar muito do que foi escrito. Contudo, mesmo quem não tenha vivenciado essas situações também irão aguçar o imaginário de uma periferia precária.

Bora ler!

Fuca, Insurreição CGPP
2020