segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Khoisan: conjunto de povos mais antigos da África Austral

Khoisan: conjunto de povos mais antigos da África Austral

Khoisan ou Coissã é na verdade a junção de duas etnias, os San, que são caçadores-coletores, e os Khoi Khoi, que são pastores semi-nômades. Há dezenas de milhares de anos vivem na terra, atualmente de forma reduzida no deserto de Kalahari, na Namíbia, mas já ocuparam grande extensão da África Austral, que representa a parte sul do continente africano. Com a chegada dos Bantos, os Khoisan desapareceram ainda portando grande território, mas foram dizimados com a chegada dos britânicos e holandeses. O Reino de Lesoto, por exemplo, que situava-se no Estado Livre (província da Africa do Sul) foi empurrado para o território montanhoso que ocupa hoje, sem acesso ao mar e muito dependente da África do Sul. 

A Cordilheira de Drakensberg ou uKhahlamba (em zulu), na África do Sul, abriga mais de 30 mil pinturas rupestres dos Khoisan, arte conhecida pela sofisticação de seu simbolismo espiritual. Eland (antílope africano com espirais no chifre) predomina porque o eland era o animal favorito de Deus e então estava repleto de poder espiritual. A arte Khoisan também retrata cenários de caça, dança, cerimonias religiosas e guerra. 

Conhecidos de forma depreciativa pelos colonizadores como hotentotes ou bosquímanos, possuem linguagens únicas chamadas de "Línguas do Clique" com diversos sons inexistentes em outros idiomas e por isso chamados de "gagos" pelos colonos. 

Segue um trecho do Dicionário da África - sec. VII a XVI, Nei Lopes e José Rivair:

(..)"Segundo L. D. Ngcongco, entre os anos 1000 e 1500 d.C., os KhoiKhoi tornaram-se criadores de gado, inclusive bois e vacas de grande porte, que montavam e usavam em transporte de cargas, além de ovelhas de causa grossa. Assim, espalharam-se por vasta área, numa expansão que deixou marcas profundas, tanto sob aspecto linguístico, quanto do ponto de vista da miscigenação, em grande parte da Africa Meridional, em terras hoje pertencentes a África do Sul, Angola, Botsuana, Namíbia, e Zimbábue. Em 1510, na região do Cabo da Boa Esperança, o português Dom Francisco de Almeida é morto com outros fidalgos no decorrer de uma 'expedição punitiva'. (Almeida, 1978, p.91). O ilustre falecido era vice-rei das Índias e sua morte ocorreu em confronto com um grupamento KhoiKhoi, que fez, além dele, mais 60 vitimas fatais. O fato comprova o grau de organização desses africanos, capazes de, apenas com seus arcos e flechas, infligir essa fragorosa derrota a uma coluna portuguesa, munida de armas de fogo"


Logo no inicio do filme "Os Deuses Devem estar Loucos" mostra um pouco da vivência dos Khoisan, com propriedade coletiva, cultura de dividir, caça e coleta para sobrevivência, o amor e respeito às crianças, muita sabedoria, etc. Na África do Sul tem um partido politico que representa os Khoisan de atualmente, o Partido Revolucionário Khoisan, que não tem pretensão de ganhar grandes cargos, mas de defender seus interesses.



Foto: Museu do Apartheid - julho/17


sábado, 9 de setembro de 2017

Andrew Zondo - 31 anos de sua execução

Terça-feira, 9 de setembro de 1986, o herói Andrew Zondo foi enforcado após ter sido condenado a pena de morte no regime Apartheid na África do Sul. Andrew Sibusiso Zondo tinha 19 anos e já fazia parte da ala militar do Congresso Nacional Africano (Umkhonto weSizwe) e foi responsável pela explosão de uma bomba (mina) no Centro Comercial Amanzimtoti no dia 23 de dezembro de 1985, local frequentado por pessoas brancas no apartheid.






Ele cresceu no município de KwaMashu de Durban, teve seu despertar politico aos 14 anos inconformado com a Lei de Educação Bantu e se juntou ao CNA quando tinha 16 anos. Foi treinado como combatente no exílio em Angola e realizou várias operações clandestinas contra o governo do apartheid sul-africano.

A explosão no Amanzimtoti, no período de compras pro natal, foi o seu mais proeminente. Cinco pessoas foram mortas e Zondo foi capturado seis dias depois.

Em 20 de dezembro de 1985, as forças de segurança sul-africanas realizaram uma incursão em Lesoto, matando nove ativistas anti-apartheid. Em retaliação, os agentes da Umkhonto weSizwe, incluindo Andrew Zondo, colocaram uma bomba (mina) no centro comercial Amanzimtoti Sanlam em 23 de dezembro de 1985, matando três adultos e duas crianças, enquanto outras 40 pessoas ficaram feridas. Por este ato Andrew Zondo foi amplamente criticado pela população branca na África do Sul. O alvo seria uma agência do governo.

Também teve criticas por parte do CNA, Oliver Tambo, ex-presidente do CNA, indicou que o assassinato de civis foi contra a política do CNA e, consequentemente, ele desaprovou o bombardeio, mas entendeu as razões.

A Execução
Em 6 de setembro de 1986, a família de Andrew Zondo foi visitá-lo na Prisão de Segurança Máxima em Pretoria, onde estava aguardando sua execução. Ele estava em paz consigo mesmo e com o mundo e ele disse a sua família:

"Eu não quero que vocês chorem. Não quero que as pessoas venham e chorem por mim. O que eu tinha que fazer, eu fiz. Agora minha vida está terminando."

Menos de nove meses após o bombardeio, na terça-feira, 9 de setembro de 1986, Andrew Sibusiso Zondo foi enforcado com dois homens de KwaMashu. Lucky Paye e Sipho Xulu, que também morreram sob instruções políticas.
"A pena de morte na África do Sul foi reservada como uma punição por assassinato premeditado, traição ou como parte da justiça militar."
"A execução de criminosos e opositores políticos foi usada para punir e reprimir a dissensão política."

A última palavra de Andrew Zondo foi "Amandla", o grito de guerra da luta anti-apartheid!!!



Andrew Zondo e a Luta



Andrew Zondo nasceu em 30 de maio de 1966 no Hospital Murchinson, em Porto Shepstone e passou seus três primeiros anos em Greeneville, perto de Bizana. Sua família mudou-se para KwaMashu quando ele tinha três anos de idade.

Ele foi para a Escola Nhlakanipho, que era bem conhecida por sua excelência acadêmica e cultura intelectual. Zondo tinha a habilidade de se tornar médico, ele se destacou em matemática e ciências. Sua mente inquisitiva o levou a se juntar à sociedade de debate da escola. Ele era bem conhecido por seu amor por discussões sociopolíticas aquecidas e desafiadoras.

Zondo tinha apenas catorze anos quando tomou conhecimento da situação política na África do Sul, resultado de sua escola ser invadida pelos alunos da Umzuvele; eles pediram que a Escola Nhlakanipho boicoteasse as aulas.


De relevância crucial para Andrew Zondo foi o fato de que ele foi forçado a ser educado sob o Sistema de Educação Bantu pelas Autoridades Bantu. O sistema de Educação Bantu foi projetado para dar habilidades básicas aos africanos e derrubar a independência, e não para fornecer um caminho para o sucesso. Essa percepção mordiscou sua alma e todo seu ser se revoltou contra ela, uma vez que ele se tornou consciente de ser um preto sul-africano. Ele sentiu que se boicotassem as escolas, a Educação Bantu acabaria e eles teriam um sistema de educação igual.





Vida no Exílio

Em março de 1983, Zondo deixou sua casa "supostamente" para ir as aulas e nunca retornou. Zondo atravessou a Suazilândia onde se encontrou com Judson Khumalo e discutiu seu plano para completar seus estudos. Ele foi enviado para Maputo para avaliação educacional. Quando estava em Maputo, um ataque contra civis Moçambicanos e o assassinato de pessoas do CNA pela SADF (Força de Defesa da África do Sul) alteraram o plano de Zondo de completar seus estudos. Ele decidiu em vez disso que queria fazer treinamento militar. Em agosto de 1983, veio sua chamada e foi levado para Angola. Mais tarde ele voou para a Argélia e a Tanzânia. Ele treinou durante dois anos como soldado do CNA. Enquanto ainda estava em treinamento de combate em 1984, Zondo voltou a entrar na África do Sul e realizou duas operações bem planejadas. Nenhuma vida foi perdida, mas houve danos máximos para as instalações-chave. Ele voltou no final de 1985 para a África do Sul, onde foi colocado sob o comando de Lulama Tallman, que por sua vez colocou-o no comando de três células, uma das quais incluiu Jacob Thembinkosi Mofokeng.


foto: KwaMuhle Museum - Durban - África do Sul