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quarta-feira, 21 de abril de 2021

Jalil A. Muntaqim – Escritos da Prisão

Arquivo Pdf JALIL MUNTAQIM

ESCRITOS DA PRISÃO: Sobre o Partido dos Panteras Pretas, o Exército de Libertação Preta e a Frente para a Libertação da Nova Nação Afrikana

https://drive.google.com/file/d/1T-nw7vNcH5eD8KtFQ7OLbl3w_Wh7UEiD/view?usp=sharing

Jalil A. Muntaqim (Anthony Bottom, 1951-...) - Preso político de guerra nos EUA por quase meio século (50 anos), Ex-membro do Partido dos Panteras Pretas e do Exército de Libertação Preta, 
Revolucionário e estudioso da FROLINAN - Front for the Liberation of the New Afrikan Nation [Frente para a Libertação da Nova Nação Afrikana].

O irmão Jalil conquistou sua liberdade condicional agora no final de 2020.

Textos compilados:
1. Sobre o Autor.
2. Declaração de Condenação. 
3. Seremos Nossos Próprios Libertadores.
4. Sobre o Exército de Libertação Preta.
5. FROLINAN - Manual Para Os Quadros Nacionalistas Revolucionários.
6. A LUTA NACIONAL E INTERNACIONAL. 

Por Fuca, Insurreição CGPP.



terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Guia de Estudos Pretos Para Uma Educação Positiva -Baba Zak A. Kondo (pdf)

https://drive.google.com/file/d/1ynF46TSSlVqdDbRIFzfzp46313Q-JvWX/view?usp=sharing

Baba Zak A. Kondo - Guia de Estudos Pretos para uma Educação Positiva - (pdf aqui)

"Este ensaio argumenta que os estudantes pretos devem lutar para libertar as massas de nosso povo neste país no âmbito econômico, político, espiritual, cultural e social. Para fazer isso, no entanto, eles devem primeiro libertar suas mentes. Este ensaio ajuda nossos estudantes a libertar suas mentes. Além disso, identifica e define as responsabilidades e deveres dos estudantes pretos de hoje."



Este ensaio visa combater a deseducação dos estudantes pretos. A deseducação é definida neste texto como mulheres e homens pretos sendo ensinados a se odiar e/ou a se ver como brancos. Essas criaturas ou ‘Negroes’ são anormais, antinaturais, autodestrutivos e prejudiciais aos pretos em todo o mundo. Os ‘Negroes’ negam aos pretos o direito inalienável de serem únicos, bonitos, independentes e orgulhosos de nossa herança cultural.

Como estudante de ensino superior por vários anos, vi mais ‘Negroes’ do que gostaria de me lembrar. Meus encontros com esses ‘Negroes’ me levaram a trabalhar diligentemente para diminuir seu número neste país. Para fazer isso sistematicamente, devemos começar a educar nossos estudantes em casa enquanto eles são crianças e suas mentes ainda estão vivas e férteis. Além disso, devemos estabelecer escolas pretas independentes como a Ujamaa Shule, em Banneker City (Washington, D.C) e ter um papel ativo na tomada de decisões no sistema de escolas públicas neste país.

Para educar adequadamente nossos filhos, devemos ensiná-los sobre nossas raízes e culturas Afrikanas. Devemos ensiná-los a se amar, a se valorizar e a acreditar em si mesmos. Devemos incutir valores positivos em favor dos Afrikanos que enfatizem sinceridade, confiança, virtude, justiça, orgulho, coletividade, autodeterminação e condição de povo. Esses valores devem ser incorporados à educação de nossos filhos. Pais, educadores, líderes, acadêmicos, políticos, organizadores, pensadores sérios e empresários pretos devem cuidar para que essa incorporação seja realizada e concluída com sucesso.

Mas o que fazemos nesse ínterim com os estudantes pretos do ensino médio, da faculdade e de pós-graduação neste país? Devemos dar-lhes orientação adequada e encorajá-los a se tornarem irmãos e irmãs positivos e sérios. Somente irmãos e irmãs positivos e sérios podem fazer uma mudança qualitativa na vida dos pretos nos EUA e no exterior.

Este ensaio argumenta que os estudantes pretos devem lutar para libertar as massas de nosso povo neste país no âmbito econômico, político, espiritual, cultural e social. Para fazer isso, no entanto, eles devem primeiro libertar suas mentes. Este ensaio ajuda nossos estudantes a libertar suas mentes. Além disso, identifica e define as responsabilidades e deveres dos estudantes pretos de hoje.

A maioria dos brancos e seus satélites ‘Negroes’ acharão este ensaio desnecessário na melhor das hipóteses, e antibranco na pior. Nenhuma das constatações será precisa. A mentalidade doentia e a ação nojenta do preto “educado” neste país mais do que provam a necessidade de um ensaio dessa natureza. Chamar este ensaio de antibranco desvia completamente sua mensagem. Este ensaio é pró-preto, não antibranco. Os estudantes são encorajados a amar e a servir ao povo preto, não a odiar e prejudicar os brancos. Espero que vocês, estudantes pretos, aceitem este esforço com o espírito positivo e fraterno como o que se oferece.

Z.A.K.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

AGYEI AKOTO - Nacionalismo Afrikano: Teoria e Prática de uma Educação Afrikano-Centrada (pdf)

NACIONALISMO AFRIKANO: 

TEORIA E PRÁTICA DE UMA EDUCAÇÃO AFRIKANO-CENTRADA

KWAME AGYEI AKOTO

O livro traduzido está disponível no link abaixo (arquivo pdf).

https://drive.google.com/file/d/1VcrgZxnAxkO5JT7hYgonFHud5iDZZGMo/view?usp=sharing

Por Fuca, Insurreição Cgpp.

arquivo pdf (aqui)





Apresentação da edição de 1992, por MARIMBA ANI 

As formulações conceituais de Agyei Akoto têm o benefício de seus mais de 20 anos de experiência como Pan-Afrikanista Nacionalista. Como resultado, finalmente temos uma declaração evidente do paradigma Nacionalista Afrikano. Neste trabalho, ele delineia evidentemente o processo e a estratégia de Construção da Nação [Nacionalismo Afrikano] e sua relação inextricável com a educação Afrikano-centrada. 

Numa altura em que o nosso diálogo é determinado pelas definições da academia europeia e pelos meios de comunicação controlados pelos europeus, a perspectiva de Akoto é revigorante e autenticamente enfocada no Povo Afrikano. 

É evidente que ele não está se dirigindo aos não-Afrikanos, nem é prejudicado pela dependência de concepções eurocêntricas. Ele escreve com autoridade e compromisso com o povo Afrikano, livre da ambivalência ideológica que tem atormentado os Afrikanos na diáspora e no continente por muitas décadas. 

Dra. MARIMBA ANI (Dona Richards) 
Autora de Let the Circle Be Unbroken
Professora no departamento de Estudos Pretos e Porto-riquenhos 
Hunter College (Faculdade Hunter)


Trecho do conteúdo.

(...) Alguns anos atrás, nas últimas semanas de setembro de 1989, o professor John H. Clarke transmitiu uma mensagem à Sociedade Ankobia, de Washington, D.C., dizendo que independentemente do que possamos empreender, “se não se trata da construção da nação [Afrikana], então não se trata de nada.” É uma declaração que pode ser tomada literalmente. 

A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é a aplicação consciente e focada dos recursos, energias e conhecimentos coletivos de nosso povo na tarefa de libertação, e de desenvolver o espaço físico e psíquico que identificarmos como nosso. Envolve o desenvolvimento de comportamentos, valores, linguagens, instituições e estruturas físicas que elucidem nossa história e cultura, que possam projetar e concretizar o presente e assegurar a futura identidade e independência da nação. 

A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é a projeção deliberada, intensamente dirigida, focada, e enérgica da cultura nacional e da identidade coletiva. A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é ocasionada pela geração e liberação de enormes quantidades de energia, não muito diferente de uma gravidez e um novo nascimento, ou de uma tempestade de primavera e o novo cultivo que se segue. 

Com qualquer uma das analogias, é fundamental que os termos e condições que ocasionam o surgimento dessa nova realidade sejam claros e inequívocos. Essas condições, termos e linguagem descritiva devem ser definidos pelos criadores dessa nova realidade. Essa nova realidade, para nós, é uma consciência nacional e cultural renovada. 

O surgimento desta nova consciência, esta realidade renovada e Afrikano-centrada, marca o renascimento da personalidade Afrikana e a revitalização da nacionalidade Afrikana. Isso é a construção da nação (Nacionalismo Afrikano). (...)



sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Ngugi wa Thiong'o: Sobre Colonização, Linguagem e Memória. (+vídeo)

Em todas as relações entre dominantes e dominados num sistema colonial, cheguei à conclusão de que os dominantes sempre impuseram sua linguagem aos dominados. Eu ficava me perguntando o porquê.

 Isso me forçou a analisar todo o projeto colonial. E para mim, eu vi o colonialismo realmente como um processo de alienação. Como nos personagens do meu romance "Weep not, Child" (Não chore, criança), a terra foi tomada. Não apenas a terra, mas também a força de trabalho dos colonizados também é usurpada.

São recursos cruciais, terra e mão-de-obra dos colonizados. Isso me pertenceria, pois teríamos controle sobre. Agora não tenho controle sobre isso, o outro é quem controla. ok?

É alienação, mas de uma maneira que me faz olhar para mim e para meus recursos e ver minha terra e os produtos do meu corpo sendo controlados por outra pessoa. Mas não só isso. A própria linguagem,  qual o papel da linguagem?

A linguagem foi muito crucial na evolução econômica, política e psicológica de qualquer comunidade. A linguagem medeia os processos econômicos, políticos e psicológicos de qualquer comunidade. Sem linguagem não teríamos também a divisão do trabalho, que é a base da comunidade humana.

Por esta razão, os idiomas são muito importantes. Mas não apenas o idioma em si, a linguagem também é portadora de memória. Sem memória não podemos mediar nosso relacionamento com a natureza nem nossa relação um com o outro. Não podemos muito menos mediar nossa relação com nossos próprios corpos e nossas próprias mentes.

Portanto, enquanto houver um poder colonial, é necessário impor sua linguagem aos colonizados. Porque de certa forma, se você impõe um idioma sobre as pessoas, você está aplicando e consolidando todos os aspectos econômicos, políticos e sócio psicológicos dessa comunidade. Muito importante...

E o mais crucial, você também controla a memória dessa comunidade. A linguagem de fato faz parte de um vasto sistema de nomeações. Se você nomeia, você domina.

Nomeando você identifica, nomear é possível somente porque é nomeando que você identifica. E se você identifica, isola os diferentes elementos do ambiente.

Vocês se lembram, quem já conhece, o romance do Robinson Crusoé. Robinson Crusoé está naufragado em uma ilha e descobriu alguém chamado “Sexta-Feira”. E supõe-se no relacionamento deles que “Sexta-Feira” não tem linguagem.

Aí chega um momento em que Robinson Crusoe está ensinando uma linguagem a Sexta-Feira. Então a primeira coisa é a nomeação, ele diz: “seu nome é Sexta-Feira.” Note que ele não pergunta pra Sexta-Feira, “Qual é o seu nome?” Ele disse, “seu nome é Sexta-Feira. Eu te nomeio. E meu nome é Mestre.” Presumivelmente, sempre que alguém perguntar a Sexta-Feira, “Quem é aquele homem?” “Oh, ele é o Mestre.”

Veja, é Crusoé quem nomeia Sexta-Feira e também nomeia a si mesmo, e assim já estabelece uma subordinação na relação deles. Quem era Sexta-Feira? O que acontecerá então...

Sexta-Feira enterra suas memórias plantando a memória de Crusoé, no corpo que agora se chama “Sexta-Feira”. Mas possivelmente Sexta-Feira tinha um nome antes. No corpo de Sexta-Feira é plantada memória de Crusoé. E Crusoé é um inglês, o que está no corpo de Sexta-Feira agora é a memória Inglesa.

Então, seu corpo a partir de então carrega essa memória. Sempre que você o vê, será Sexta-Feira. Você não se direciona à pessoa que estava lá antes. Não importa o que ele era chamado. Ele agora é Sexta-Feira, nomeado por Crusoé.

Recentemente, em 2003, fui convidado pela Fundação Biko para dar uma palestra. Eu fui, Biko nasceu em Eastern Cape, uma área que produziu Mandela, Mbeki. Muitos dos intelectuais mais importantes da África do Sul e com um impacto muito grande no resto do continente.

Na cidade, todos os campos, onde a maioria deles nasceu. Viajando lá, primeiro vejo um lugar chamado “Queenstown”. Então, outro chamado “Kingstown” na mesma área. Depois eu vou para “Williams Town” ou algo assim. Eu vim para uma cidade chamada Berlin, Frankfurt? Os nomes das ruas eram os mesmos

Fico procurando em volta para ver algum outro nome que venha falar sobre qualquer um desses gigantes do pensamento africano oriundos daquela área. Nada!

A memória do lugar, a memória do que era, a memória do que teria sido produzido ali, essa memória é enterrada por outra. Presumivelmente, aquele lugar tinha nome antes e também produziu esse nome. Esse nome significava a memória desse lugar, agora enterrada pela memória europeia.

- Trecho de sua fala na Universidade de Oregon, em 2005. Vídeo completo: Planting African Memory: The Role of a Scholar




por Fuca Insurreição CGPP. 2020.

sábado, 17 de outubro de 2020

[Atualizado] John Henrik Clarke - Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano - (PDF)

https://drive.google.com/file/d/1wwqL9M40gfPWPsRpA0fpI6hdu8pUDw_W/view?usp=sharing

Dr. John Henrik Clarke 

Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano: escravidão e a ascensão do capitalismo europeu.  

(Livro pdf)

Este trabalho curto, mas oportuno, dá ao leitor um senso da urgência da história africana e mundial. Como muitos dos estudiosos Africano-centrados que foram professores do Dr. Clarke e sua fonte de inspiração, ele não apenas fornece análises e descrições precisas da história, mas também prescreve o que os povos africanos devem fazer para criar um novo futuro. 

"Jamais perdoar nem esquecer"

Traduzido por Carlos R. Rocha (Fuca)
Insurreição CGPP, 2020.
atualizado em 2021

trecho;

,,,"Lembro-me de que, quando menino em uma fazenda, ficava batendo a manteiga até chegar ao topo. E apurando as batidas no leite eu perguntei à minha bisavó: “Qual das batidas traz a manteiga?” “Todos elas meu filho”, disse ela. “Mas qual?” “Não apenas uma, mas todos elas.”

Temos que perceber que não é o esforço de qualquer um de nós que levará à liberdade, mas o trabalho coletivo de todos nós que somos sinceros. Isso resultará na liberdade e na libertação de nosso próprio povo e na doutrinação de nossos próprios filhos para que eles, por sua vez, assumam a responsabilidade e criem uma era em que você nunca terá que pedir liberdade novamente, porque nunca haverá qualquer necessidade para pedir isso. Desse dia em diante, sempre a teremos. Esta é a nossa missão e, por sua vez, o legado que precisamos deixar para nossos filhos e os ainda mais belos que irão nascer.

Nossa escravidão, o naufrágio e a ruína dos Estados soberanos da África começou no início da Era Colonial. Nossa escravidão e o estupro dos serviços de nossos países ajudaram a lançar as bases do capitalismo atual. Mais uma vez, os europeus desperdiçaram sua riqueza em guerras e conflitos estúpidos que poderiam ter sido evitados. Eles já provaram que têm uma missão em mente, independentemente de religião, política ou afiliação cultural e que essa missão é dominar o mundo e todos os seus recursos por todos os meios necessários. A nova justificativa para esse domínio é agora chamada de Nova Ordem Mundial. Todos os africanos e outros povos não europeus deveriam estar em alerta, porque uma nova forma de escravidão poderia ser mais brutal e mais sofisticada do que a escravidão da era de Cristóvão Colombo.

Os africanos e outros povos não europeus devem planejar e criar estratégias para uma Nova Ordem Mundial distintamente própria, que será desenvolvida por eles, para eles. A nossa missão não deve ser conquistar a Europa, mas conter a Europa dentro das suas fronteiras e fazer saber que tudo o que a Europa quiser de outras partes do mundo pode ser obtido através de um comércio honroso.

Se entendermos nossa missão, acho que tomaremos consciência de que estamos em posição de dar ao mundo uma nova humanidade que trará à existência um novo mundo de segurança e respeito para todos os povos.

As civilizações africanas do rio Nilo deram ao mundo sua primeira humanidade, seus primeiros sistemas de crenças, seu primeiro pensamento social e sua primeira filosofia. Com a restauração da nossa autoconfiança, precisamos dizer a nós mesmos: “Se fizemos uma vez, podemos fazer de novo” ".




domingo, 27 de setembro de 2020

Ler “A Destruição da Civilização Preta” mudou minha vida

Original por Asad Malik do Pan-African Alliance.

https://www.panafricanalliance.com/destruction-of-black-civilization-summary/

Tradução por Carlos R. Rocha (Fuca) 

https://insurreicaocgpp.blogspot.com.br

 (Arquivo em pdf aqui)

O livro A Destruição da Civilização Preta escrito pelo Dr. Chancellor Williams é um dos livros mais poderosos que já li.

De fato, aprendi mais sobre a história do Povo Preto em 14 capítulos do que em 12 anos de escola pública.

Pergunte a qualquer membro influente de nossa comunidade e eles concordarão que este livro é a porta de entrada para a Consciência Preta.

Quando olhamos para o mundo hoje, seríamos perdoados por acreditar que o Povo Preto não tinha história antes da chegada dos brancos.

Isso porque, quando olhamos para a África, vemos um continente que está atrás do resto do mundo. Na África Subsaariana, os registros arqueológicos são difíceis de encontrar mesmo na melhor das hipóteses.

E o único lugar no continente com um tesouro de conhecimento antigo - Kemet - é ocupado por árabes.

Mas nem sempre foi assim.

Nós sabemos, a partir (do livro) A Destruição da Civilização Preta, que muito do registro arqueológico africano foi destruído por invasores brancos. Sabemos que a civilização preta foi interrompida por ondas de invasão, guerra inter-racial e escravidão. E também sabemos que os fundadores de Kemet eram tão pretos quanto o céu noturno.

Mas, como o Dr. Chanceler Williams pergunta, “o que aconteceu? Como essa Civilização Preta tão avançada foi tão completamente destruída que seu povo, em nossos tempos e por alguns séculos passados, se viu não apenas atrás dos outros povos do mundo, mas também, a cor de sua pele um sinal de inferioridade, má sorte e a insígnia do escravo, quer seja cativo ou livre?”

A Destruição da Civilização Preta foi a resposta do Dr. Williams para essas questões.

Biografia do Dr Chancellor Williams.

“Mas ele teve que dominar a história, pois ser ignorante da história é simplesmente ser ignorante. Em seu estudo da história mundial, preste atenção especial à instituição da escravidão através dos tempos e das forças por trás dela. Estude a escravidão branca também, disse a si mesmo, pois os brancos fingem esquecer que eles próprios foram escravos e tentam usar a escravidão preta como prova de inferioridade racial.” - The Second Agreement With Hell, [O segundo acordo com o inferno] por Chancellor Williams.

Chancellor James Williams (nascido em 22 de dezembro de 1898) era filho de um ex-escravizado. Ele nasceu durante um período na história americana em que a escravidão e a Guerra Civil estavam frescas na memória de muitos homens e mulheres pretos.

Seu interesse pela história africana começou cedo na vida. Em suas próprias palavras: “Eu li tudo de Booker T. Washington, DuBois e o The African Abroad de William Henry Ferry. E eu não estava lendo apenas por diversão, eu estava procurando por respostas. E em minha própria mente participei de debates entre Booker T. e DuBois. Fiquei do lado de Booker T.”

Para escapar da pobreza e do racismo do Sul [EUA], muitos pretos começaram a migrar para o Norte em busca de novas oportunidades. Lugares como Nova York, Chicago e Washington D.C. se tornaram novas mecas pretas que deram origem a movimentos políticos, culturais e intelectuais.

Chancellor Williams foi arrebatado por estes tempos e saiu de sua cidade natal na Carolina do Sul para Washington D.C. aos 12 anos de idade.

Em 1930, ele se formou na famosa e historicamente preta Universidade de Howard, onde fez um mestrado em história pela Howard. Mais tarde, ele concluiu um doutorado em sociologia na Universidade Americana.

Ele trabalharia como professor pelo resto de sua vida, ao mesmo tempo em que fundou uma padaria e construiu outras fontes de renda para si e para sua extensa família.

Quando o Dr. Chanceler Williams fez sua transição de volta ao reino ancestral em 7 de dezembro de 1992, ele deixou 14 filhos, 36 netos, 38 bisnetos e 10 tataranetos.

 

Outros livros do Chancellor Williams são:

The Rebirth of African Civilization (O RENASCIMENTO DA CIVILIZAÇÃO AFRICANA)

Have You Been to the River?

The Second Agreement with Hell

 

Mas de todas as obras intelectuais que o Dr. Williams produziu (e ele produziu muitas) nenhuma foi tão revolucionária e inspiradora quanto A Destruição da Civilização Preta.

Seu livro é amplamente lido em prisões, escolas domésticas e em organizações comunitárias. Até mesmo membros de nossa organização são obrigados a ler A Destruição da Civilização Preta como parte de nosso currículo fundamental.

Resumo e Resenha.

“‘O que aconteceu com o Povo Preto da Suméria?’ Perguntou o viajante ao mais velho, ‘pois registros antigos mostram que o povo da Suméria era Preto. O que aconteceu com eles?’ ‘Ah’, o velho suspirou. ‘Eles perderam a sua história, então eles morreram.’” - Citação de abertura de A Destruição da Civilização Preta.

Eu cresci acreditando que "o Egito" era um país árabe. Eu fui ensinado que os gregos ou algum grupo asiático de pele clara construíram as pirâmides. Minha deseducação foi confirmada quando assisti filmes como Cleópatra - o filme de 1963 com um elenco todo branco.

Então eu li A Destruição da Civilização Preta.

Este livro me ensinou a verdade: que os pretos de Kemet (terminologia apropriada ao Egito) construíram e lideraram as maiores dinastias da história. E quando invasores brancos e árabes invadiram Kemet, os pretos do Nilo foram empurrados para o Sul.

O Dr. Williams escreve que “os árabes estavam se espalhando e penetrando nas fronteiras dos estados pretos, anteriormente proibidas. Eles puderam, dessa forma, entrar em território preto do qual os brancos eram barrados. Esses árabes confundiram os líderes africanos em todos os lugares, aumentaram as tensões e guerras tribais entre eles e ajudaram poderosamente a destruir a independência dos estados africanos”.

Apesar de empurrados para o Sul, continuamos a construir impérios como Kush, Axum, e preservamos a prática de construção de pirâmides em toda a Núbia.

De tempos em tempos, o mesmo tema se desenrolou: fomos deslocados por invasores, nos reestabelecemos e reconstruímos, e fomos novamente deslocados.

A Profecia Mossi.

As únicas circunstâncias em que as nações africanas foram capazes de se proteger e se preservar foi quando a Grande Profecia Mossi foi respeitada:

Em suma, os Mossis viam o islamismo e o cristianismo como veículos de conquista do homem branco. Foi a única nação preta a tempo de ver isso. De fato, a profecia Mossi afirmava que quando o primeiro homem branco aparecesse na terra, a nação morreria.

A política Mossi de excluir brancos ou limitar rigidamente o número e controlar suas atividades no país ilumina ainda mais uma experiência africana que já é tão evidente que não deveria exigir luz adicional: Todos os Estados africanos que começaram a se desenvolver novamente após a grande dispersão, reconstrução e expansão, foram prósperos e avançaram como Estados pretos, desde que eles barrassem os brancos agressivos e severos de seus países; e sua destruição tornou-se certa somente quando eles aliviaram essa política e deixaram os asiáticos e europeus entrarem.

Sobre isso, o registro é totalmente claro.

Os Mossis mantiveram-se firmes na religião africana e nas instituições africanas e sobreviveram por mais de quinhentos anos, até o século 20.

Libertação e Organização.

“[A libertação de nossas mentes é a] Tarefa Número Um. A atual visão confusa do povo africano é o resultado de séculos de aculturação caucasiana, um processo bastante natural onde um povo está sob o domínio econômico, político e social de outro povo.” Citação de A Destruição da Civilização Preta.

Nos capítulos The Liberation of Our Minds [A Libertação de Nossas Mentes] e Organizing a Race for Action [Organizando uma Raça para Ação], Chancellor Williams mostra como os brancos, árabes e cada vez mais asiáticos podem controlar facilmente as comunidades pretas suprimidas, mesmo depois de libertadas.

Isto se consegue usando manipulação mental, religião e, o mais importante, ideologias.

Na página 331 está escrito que “As ideologias e o sistema de valores dos opressores se tornam inconscientemente parte dos oprimidos, mesmo quando o resultado é demonstrativamente contra eles mesmos (os oprimidos). Mas todos os outros povos oprimidos, indianos, chineses ou japoneses, foram capazes de manter obstinadamente seu próprio orgulho racial e herança cultural como o último recurso para a sobrevivência como povo. Ao contrário dos pretos, eles nunca foram completamente separados da sustentação dessa linha de vida de cada povo.”

Ao contrário de outras raças - nós, os Pretos, somos Escravos Voluntários, mesmo depois de libertados, porque fomos ensinados a acreditar em um sistema de valores brancos, e subordinamos nossa cultura à de outros grupos. É somente depois de quebrarmos esse sistema de crenças que começaremos a elevar nossa estima racial coletiva.

Quebrar os sistemas de crença da supremacia branca e, assim, mudar nossas atitudes só pode acontecer através da reeducação das massas pretas.

Dr. Williams escreve o seguinte:

“A reeducação será necessária para as duas mudanças obrigatórias de atitude: 1) Em relação um ao outro em termos de respeito mútuo e 2), uma mudança de atitude em relação à eficiência e especialização em gestão de negócios, responsabilidade e administração financeira. A menos que comecemos a desenvolvê-las e expandi-las primeiro, um grande movimento de sobrevivência fracassará, assim como muitos outros esforços nobres fracassaram porque a pressa negligenciou a base necessária”

Tal é o poder de livros como A Destruição da Civilização Preta - não apenas informa, mas corrige os danos causados pela deseducação, reeduca o leitor e inspira o tipo de mudança de atitude que serve de base para o nosso renascimento.

Um Plano Mestre Para Unir Os Clãs (Masterplan)

“… Embora o povo africano possa continuar seu atual curso de fraqueza para o futuro com milhares de organizações não-unificadas, impotentes e dependentes como meio-homens incapazes de usar seus próprios cérebros, (com este plano mestre), nunca mais poderemos dizer que ninguém estudou os principais problemas e os obstáculos às suas soluções baseadas na história, e depois ofereceu um plano geral como uma das possíveis linhas de direção como fuga do caos.” - citação de A Destruição da Civilização Preta.

O último e mais importante capítulo do livro nos dá um projeto para o renascimento da civilização africana.

Desde o nascimento do pan-africanismo, milhares de organizações “Pretas” vêm e vão.

Chancellor Williams argumenta que essas organizações falham porque não incluem toda a raça e não têm um plano claro de ação e organização de longo prazo.

As organizações pretas tendem a ser organizadas em torno de:

Organizações religiosas como a Nação do Islã

Organizações ativistas, como o Movimento Black Lives Matter

Organizações políticas como o Congresso Nacional Africano (ANC em inglês)

Mas esses tipos de organizações se concentram em subconjuntos estreitos dos problemas e excluem os pretos que não demonstram obediência inquestionável ou lealdade a algum desses. Se você se recusa a aceitar um líder religioso como um Deus na Terra, ou se discorda da política partidária, você é excluído do grupo.

Em vez disso, o Dr. Chancellor Williams nos ensina a construir "organizações baseadas na Raça" que priorizem a raça antes da religião, orientação sexual ou partido político.

Ele escreve, “Organização Racial aqui significa uma organização nacional apenas de pessoas pretas... a organização deve ser estruturada de forma a incluir todos os elementos da população preta que reflita a voz da América Preta como um todo. Não temos uma organização assim entre nós; portanto, nenhuma unidade real existe entre nós.”

Ele continua dizendo; “Longe de ser um movimento separatista, nossa organização seria cooperativa. Pois as massas pretas não vão desistir de seus 400 anos de investimento em sangue e trabalho que foram usados para construir a América. Elas não estão prestes a se separar ou migrar para qualquer lugar, deixando todos aqueles séculos de labuta como um presente gratuito para os brancos.”

Ele também aponta algumas coisas que devem ser entendidas:

A unidade que buscamos não pode ser alcançada apenas com organização.

A unidade real será alcançada, não por pregação, súplica ou exortações, mas quase inconscientemente quando as pessoas trabalharem juntas para benefícios mútuos e o avanço da raça como um todo. Atividades práticas e significativas que envolvam até mesmo as crianças no ataque aos problemas de sua raça serão o vínculo que chamamos de unidade.

As atividades econômicas são fundamentais em qualquer movimento verdadeiramente ascendente.

A mentalidade de escravo faz com que milhões de nós evitem essa regra de vida porque ela requer mais iniciativa, treinamento e trabalho, e menos conversa de política [ou pregação]. O resultado é que o resto do mundo nos vê como uma raça dependente para candidatos a emprego, incapazes de nos envolver na produção em grande escala de qualquer uma das necessidades da vida, sejam os sapatos que usamos ou os alimentos que comemos. Consequentemente, os bilhões de dólares que gastamos a cada ano, apenas nessas categorias, devolvemos ansiosamente aos brancos para que fortaleçam seu poder sobre nós e, ao mesmo tempo, tornem-se cada vez mais ricos. As atividades de desenvolvimento econômico são atividades diretas de sobrevivência.

Todas as empresas comunitárias, ao contrário do capitalismo, serão propriedade e operadas pelo povo. Os membros da comunidade serão os acionistas, e todo o pessoal treinado em cada loja, fábrica ou qualquer outra empresa será acionista (e, portanto, coproprietários) de tais estabelecimentos, sendo que todos os lucros pertencerão ao povo, mas a total responsabilidade para o serviço de primeira classe será o de administradores eleitos, e não os membros em geral.

Uma organização baseada em raça poderia dar certo?

Chancellor Williams descreve uma série de razões pelas quais apenas um movimento racial pode ter sucesso.

A importância de uma organização de âmbito nacional, escreve ele, é que ela pode influenciar a política externa americana em relação a questões importantes que afetam as nações africanas "tão efetivamente quanto os judeus americanos podem influenciar as relações deste país com Israel.”

Uma organização racial mudaria os padrões de vida e despesas de todos os homens e mulheres pretos.

“Aluguéis mais altos e preços mais altos são pagos por bens e serviços nos ‘cortiços centrais’ do que aqueles pagos nos subúrbios brancos afluentes. Esta guerra aberta, mas silenciosa, contra os pretos está sendo aceita porque estamos impotentes e desorganizados.” Dr Williams escreve.

“Tal movimento racial seria realmente superficial se prosseguisse sem seu fundamento principal, que é a propriedade de vastas extensões de terras agrícolas e madeireiras em várias partes do país (a Nação do Islã já está trabalhando nisso, comprando enormes parcelas de terras agrícolas e imóveis em todo o país). A terra é para produção. E sua propriedade e uso se tornarão cada vez mais necessários para a sobrevivência, pois mesmo agora 75% da população americana está concentrada em apenas 2% das terras nas cidades e vilas.”

Um movimento racial pode ter, em nome da diáspora africana, um Banco Nacional Central como o depositário nacional do povo. Os pretos têm proteção arbitrariamente negada ou são cobradas taxas muito mais elevadas do que as pagas pelos brancos.

Durante o período que antecedeu a crise financeira de 2006, os bancos empurraram os tomadores de empréstimos minoritários para empréstimos subprime, mesmo quando muitos deles se qualificaram para empréstimos prime.

Wells Fargo teve talvez as práticas mais horríveis neste departamento, chamando os empréstimos subprime que eles promoviam em bairros pretos pobres de “empréstimos do gueto”.

Uma organização racial pode dar uma nova esperança e um novo sentido de direção aos milhares atrás dos muros da prisão e, com o tempo, praticamente esvaziar as prisões dos condenados por crimes pelos quais os brancos são libertados.

Os homens e mulheres que saíssem da prisão teriam algo para fazer: treinamento e preparação para serviços tão necessários para ajudar a construir e avançar sua raça e a eles próprios.

Mais importante ainda, as crianças pretas, que foram gravemente enganadas por esta estrutura de poder branco, [que] sabem que seus pais fazem parte ativamente de um grande movimento racial, serão inspiradas a participar da luta também.

Como construir uma organização baseada em Raça.

O livro inclui um projeto para construir o tipo de organização de que nosso povo precisa. Ele sugere que esta organização consista em vários departamentos específicos, incluindo:

- O Departamento de Promoção de Empresas Cooperativas Comunitárias

- O Departamento de Finanças, Bancos e Cooperativas de Crédito

- A Instituição de Tecnologia e Treinamento de Pessoal

- Escritório Central de Controle de Contabilidade e Finanças

- Departamento de Recuperação de Terras e Agricultura

- Agência de Transporte e Distribuição

- Agência Central de Compras e Abastecimento

- Divisão de Ação Política

- Divisão de Educação Pública

- Divisão de Serviços Comunitários (incluindo clínicas comunitárias)

- Divisão de Atividades da Juventude

- Divisão de Assuntos Pan-africanos (para coordenar nossos esforços no exterior)

- Divisão de Inteligência e Segurança

- A Comissão de Vida Espiritual e Assistência (para construir conexões entre as filosofias religiosas dispersas da diáspora)

“Com o desenvolvimento de um movimento dessa magnitude, os pretos podem começar a aprender finalmente como é totalmente fútil compreender as ideologias desenvolvidas pelo mundo branco para as pessoas do mundo branco. O que é necessário agora, portanto, não é nem “Capitalismo Preto” ou “Comunismo Preto” - mas o que é necessário é uma ideologia de Africanismo Preto, operando dentro de valores originais.”

O projeto completo está no livro. Se você é membro de uma organização ou está construindo uma, não há necessidade de inventar a roda. Em vez disso, fique sobre os ombros desse gigante para que possamos tornar os sonhos de nossos ancestrais uma realidade para nossos filhos.







sexta-feira, 18 de setembro de 2020

(Livro) CHANCELLOR WILLIAMS: O Renascimento da Civilização Africana

Obs: Neste post continha o livro completo, mas devido a problemas de visualização foi mantido o link pra download. (maio/2021)






O RENASCIMENTO DA CIVILIZAÇÃO AFRICANA
Chancellor Williams

Este livro [edição de 1961] é uma afirmação da Educação e uma defesa da Democracia Cooperativa como forma de vida para a nova África. Contém também um relatório sobre estudos sociais e as dimensões filosóficas e espirituais da vida africana e suas perspectivas para o futuro. Assim como em seu livro mais proeminente, A Destruição da Civilização Preta, Chancellor Williams fornece estratégias e táticas perspicazes para organizações, ativistas e acadêmicos sérios que trabalham na agenda do Renascimento Africano.

A ideia de unidade Pan-Africana, a união de um bilhão de pessoas africanas no mundo, não é apenas fantasia. Essa demanda surge em um momento em que a própria sobrevivência cultural e econômica do povo africano está em jogo. O impulso para tornar a unidade cultural, a continuidade histórica e a cooperação econômica do mundo africano uma realidade é a mensagem que o Chancellor Williams apresenta neste livro.

Chancellor Williams (1898-1992) foi escritor, professor universitário, historiador e o autor de "A Destruição da Civilização Preta: Grandes Questões de uma Raça, entre 4500 a.C. e 2000"."

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Mary E. Modupe Kolawole: Gênero e Literatura Africana - Mulheres como uma massa critica

Dra. Mary E. Modupe Kolawole.

Professora de Inglês e de Estudos das Mulheres na Universidade Obafemi Awolowo, Ilê-lfé, Nigéria.

Autora do livro “Womanism and African Consciousness” [Mulherismo e a Consciência Africana] 

(Texto extraído de parte da aula inaugural em 2005)

Minha pesquisa sobre gênero é um dos aspectos mais importantes do meu trabalho como teórica literária. Minha pesquisa inicial não tinha foco especial em gênero até minha bolsa de estudos na Universidade Cornell como pesquisadora visitante da Fundação Rockefeller (1991-92). Observei que gênero era um critério importante emergente em estudos acadêmicos nas ciências humanas, ciências, e saúde. Nesses pontos, a maioria dos livros enfocou os critérios ocidentais de avaliação de gênero na África, incluindo a literatura africana. Decidi juntar as opiniões dos africanos sobre a realidade das mulheres a partir de minhas pesquisas em história, lendas, mitos, gêneros orais, contos populares, provérbios e outros. A literatura africana ocupa um lugar que eu descrevo como a zona crepuscular (twilight zone), um local intermediário (espaço ambíguo). A questão da diferença ou alteridade, portanto, continuou a gerar muitas discussões epistemológicas. Meus trabalhos também exploram a alteridade das mulheres, não como uma resistência negativa à mudança, mas como uma manifestação de mutabilidade, mesmo quando elas resistem à autonegação cultural e de gênero. A agência das escritoras africanas é notável por sua resiliência. Havia uma lacuna esmagadora na percepção de gênero das mulheres africanas e um desejo de nomear sua própria luta, rejeitando marcas como o feminismo africano/negro. As mulheres africanas devem se constituir como uma massa crítica.

Eu me identifico com Alice Walker e Chikwenye Okonjo-Ogunyemi, Clenora Hudson-Weems, entre outras, devido seus anseios por formas mais inclusivas de nomear a luta das mulheres pretas. Meu livro teórico, “Womanism and African Consciousness” [Mulherismo e a Consciência Africana], levantou questões válidas de como se define o mulherismo. “O que é então o mulherismo? Para as africanas, o mulherismo é a totalidade da autoexpressão, do autocuidado e da autoafirmação femininas nas maneiras culturais positivas." (Kolawole. 1997. p.24). O mulherismo não é uma ideologia que odeia o homem. O mulherismo enfatiza a relevância racial e cultural, a centralidade da família e a necessidade de que homens e mulheres trabalharem juntos para alcançar justiça de gênero, equidade de gênero e empoderamento das mulheres. (Kolawole 1997, 2004, 2005). Assim como a crítica literária feminista se tornou uma importante ferramenta de pesquisa crítica. Vejo que o mulherismo é uma versão adaptada disso, uma tentativa de infundir nacionalismo cultural e racial na teoria literária de gênero.

Quando iniciei os seminários e ensinos sobre o mulherismo, alguns colegas acreditavam que “quem paga a flautista dita a música” e estavam céticos acerca do direcionamento para uma alternativa ao feminismo, pois poderia ofender as agências doadoras e perguntaram: "Quem patrocinará isso?" Outros preferiram manter o status quo com o termo feminismo. Meu desafio era injetar uma perspectiva africana, aumentando assim as opções na conceituação de gênero. O próprio feminismo não é monolítico. As diversidades incluem feminismos liberais, socialistas, existencialistas e pós-modernos. Outras vertentes incluem o ecofeminismo e a mais recente variante, o feminismo ciborgue. Minha experiência na África do Sul é significativa. Como Associada da Fundação e residente acadêmica por três meses no Instituto Africano de Gênero da Universidade da Cidade do Cabo, em 1997, meus trabalhos sobre mulherismo alteraram o paradigma de estudos na África do Sul. Tornou-se um ponto focal de diversas maneiras. Desafiei a sororidade universal e advoguei o foco em mediações raciais e culturais. Meus livros estão agora nas listas de leituras de universidades da Europa, EUA, Ásia e muitos países africanos. Editoras alemãs pediram os direitos autorais para traduzir minhas obras para o alemão. Em uma recente conferência na Cidade do Cabo, em janeiro de 2005, comentários de renomados professores de literatura em universidades como Stellenbosch, Cidade do Cabo, Natal, Suécia, EUA, etc, me saudaram. "Professora, você é uma celebridade, uma lenda que simplesmente não consigo imaginar saindo desta conferência sem apertar sua mão." "Você tem impressionado a África do Sul nos últimos cinco anos." ''O artigo de Mary Kolawole nos deu uma pista dos problemas dos estudos de gênero nos últimos dez anos. Ela nos deu o caminho a ser seguido.” Entre esses comentários inclui o da famosa professora de literatura Kristen Petersen. O mundo estava esperando por uma estudiosa com a coragem de cantar canções africanas em terras estranhas, mas enraizadas na África.

Também pesquisei sobre gêneros femininos na literatura oral como ferramentas de autoexpressão das formas dinâmicas. Esses gêneros como caminhos de poder para a autoafirmação das mulheres refutam as alegações de ausência de voz e de invisibilidade. Concordo com Micere Mugo e Molara Ogundipe-Leslie de que precisamos apenas procurar lugares de audibilidade, visibilidade e poder das mulheres africanas. Esses lugares são revelados nos gêneros literários orais femininos, que foram caminhos do envolvimento dinâmico no processo social, como observei em meus trabalhos: "Existe uma infinidade de gêneros femininos entre os Iorubas. Isso inclui músicas Obitun; canções de Olori, canções Aremo, Ao-oka gelede, músicas Olele e Alamo. As canções de Fulani Bori no norte da Nigéria consistem em modos manifestos de autoexpressão e autoafirmação para as mulheres desse grupo religioso esotérico. Outros gêneros especificamente dominados pelas mulheres incluem a poesia da corte feminina Hausa, canções de nascimento Ibo, Ogori Ewere, muitos poemas panegíricos e contos populares, entre outros". (Kolawole, 1997) Em outras partes da África, as mulheres tinham suas vozes em muitos gêneros orais exclusivamente femininos: gênero satírico de donzela nzema em Gana, canções de noivas swati, lmpongo entre os Ila e Tonga da Zâmbia, Akan Dirges, Galla lampoons, canções de moagem de Kamba e numerosos mitos de gênero e provérbios. (Kolawole, 1997; 1998). Muito trabalho foi feito na área de imagens das mulheres em provérbios africanos por Minekke Schipper, Susan Arndt, Helen Mugambe, Kehinde Yusuf, Ifeanyi Arua e Juliana Abbenyi,

Colegas e estudantes envolvidos na pesquisa de gênero em todas as disciplinas inundaram minha caixa de entrada com pedidos de assistência, informações, revisão da literatura e referências sobre gênero na África. Recentemente, meu trabalho soou cauteloso neste processo de representar as opiniões das mulheres africanas de acordo com a agenda dos doadores. Podem não ser questões de primeiro plano que transformarão as mulheres africanas de seus espaços liminares, da margem para o centro. Em uma recente conferência internacional sobre “Writing African Women” [Escrevendo Mulheres Africanas], eu avisei sobre pesquisa autocentrada e a chamada representação de mulheres africanas. Proponho uma reapresentação de mulheres africanas usando o objetivo de "escrever" a tradição Ioruba que garante uma abordagem cautelosa para conhecer a noiva, já que as mulheres africanas se tornaram a bela e proverbial noiva dos pesquisadores. Vi minha tarefa à luz da argumentação de Leela Dube investigando o "viés etnocêntrico das acadêmicas feministas ocidentais que tendem a interpretar dados de outras culturas na perspectiva das experiências adquiridas em suas próprias culturas e na compreensão de suas relações entre homens e mulheres.”

O símbolo do “Mount Langbodo” [Monte Langbodo] de Fagunwa dramatiza uma tensão de gênero - os homens como guardiões da chave mestra dos múltiplos problemas das sociedades. A busca por Langbodo envolveu apenas homens, sete caçadores corajosos. As mulheres estão revelando sua desenvoltura através da literatura, e mover a literatura nigeriana do Monte Langbodo tem sido um objetivo importante para essas mulheres. Também uso a metáfora da árvore arerê na minha teoria da ambiguidade do espaço e da voz das mulheres. Um provérbio Ioruba resume essa contradição. "ile ti obinrin ri nse toto arere, igi arere ni hu nibe."- (uma casa que permita a vocalidade das mulheres terá a árvore arerê crescendo nela.) Não é permitido que a árvore arerê cresça perto da habitação humana devido ao seu odor desagradável, mas é uma árvore forte e valiosa na construção civil. A geração mais jovem de mulheres escritoras está desconstruindo essa simples metáfora. Entre elas incluem Toying Adewale, Omowunmi Segun, Maria Ajima e muitas outras. A canonização de textos é outro desafio para mim. Deliberadamente, trabalhei em novos escritos de jovens escritoras nigerianas para estabelecer e divulgar suas obras. Eu trabalhei na antologia de Toyin Adewale, “Breaking the Silence” [Rompendo o Silêncio], por esse motivo.

Algumas das teóricas feministas mais conhecidas hoje incluem Mary Eagleton, Mary Evans, Maggie Humm e Mary Rogers. Elas apresentaram algumas das teorias mais relevantes. Deixe-me declarar aqui que o feminismo é uma teoria que abrange muitas disciplinas. É uma teoria válida para filósofos, sociólogos, historiadores, antropólogos, cientistas políticos, estudiosos da cultura, cientistas, tecnólogos e pesquisadores da medicina. É facilmente a teoria mais transversal da academia moderna. Portanto, é lamentável que aqui na Nigéria, entre alguns estudiosos, o feminismo seja preterido por não ser acadêmico. E porque o mulherismo é relativamente novo, muitos estudiosos ainda desconhecem seu status como ferramenta de pesquisa.

Minha pesquisa reitera a conceitualização e a prática das teorias mulheristas. O mulherismo foi cunhado por duas intelectuais pretas, Alice Walker e Chikwenye Okonjo-Ogunyemi, em 1982, como um meio de se autonomear e injetar consciência preta nos estudos de gênero. A teoria mulherista agora está sendo comemorada como a contribuição das mulheres pretas para os debates sobre gênero e meu trabalho é um dos mais aplaudidos em todo o mundo por causa da originalidade das ideias. Fui homenageada e ainda estou sendo aplaudida por aumentar as opções de conceituação e metodologia de gênero. Assim como estudiosas tradicionais como Sandra Harding, Rose-Marie Tong, Angela Miles, Jane Parpart, Mary Rogers e Mary Evans destacaram o feminismo como uma teoria sólida e uma ferramenta para a academia moderna, numerosas escritoras pretas, como Chandra Monharty, Irene D'Almeida, Abena Busia, Amina Mama, Trion min ha, Madhu Kishwa, Leela Dube, Shushela Nasta e Audre Lorde, estão elucidando o feminismo negro. Alice Walker, Chikwenye Ogunyemi-Okonjo, Juliana Abbenyi, Clenora Hudson-weens e eu trouxemos a estética literária mulherista ao centro do estudo acadêmico global de gênero.

Desejo frisar nesta nota: o mulherismo, que não foi cunhado por mim, como o feminismo, é uma teoria e metodologia literária reconhecida internacionalmente. Gostaria de indicar aos colegas que ainda não têm conhecimento sobre o mulherismo e o feminismo para navegarem na Internet, ler sobre esses conceitos e que irá surpreendê-los o fato que o mundo tenha ido além do nível de perguntas sobre a autenticidade desses cânones de gênero. Um estudioso acadêmico pode ser definido como um cidadão do mundo das ideias: quanto mais você tiver acesso a ideias, mais se tornará um participante dinâmico neste mundo de horizontes epistemológicos em constante mudança e em expansão. A ignorância não pode mais ser comemorada ou validada nos dias de alta tecnologia e de explosão de informações.




por Carlos R. Rocha - Fuca, Insurreição CGPP, 2020.