Mostrando postagens com marcador Matriarcado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Matriarcado. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Mary E. Modupe Kolawole: Gênero e Literatura Africana - Mulheres como uma massa critica

Dra. Mary E. Modupe Kolawole.

Professora de Inglês e de Estudos das Mulheres na Universidade Obafemi Awolowo, Ilê-lfé, Nigéria.

Autora do livro “Womanism and African Consciousness” [Mulherismo e a Consciência Africana] 

(Texto extraído de parte da aula inaugural em 2005)

Minha pesquisa sobre gênero é um dos aspectos mais importantes do meu trabalho como teórica literária. Minha pesquisa inicial não tinha foco especial em gênero até minha bolsa de estudos na Universidade Cornell como pesquisadora visitante da Fundação Rockefeller (1991-92). Observei que gênero era um critério importante emergente em estudos acadêmicos nas ciências humanas, ciências, e saúde. Nesses pontos, a maioria dos livros enfocou os critérios ocidentais de avaliação de gênero na África, incluindo a literatura africana. Decidi juntar as opiniões dos africanos sobre a realidade das mulheres a partir de minhas pesquisas em história, lendas, mitos, gêneros orais, contos populares, provérbios e outros. A literatura africana ocupa um lugar que eu descrevo como a zona crepuscular (twilight zone), um local intermediário (espaço ambíguo). A questão da diferença ou alteridade, portanto, continuou a gerar muitas discussões epistemológicas. Meus trabalhos também exploram a alteridade das mulheres, não como uma resistência negativa à mudança, mas como uma manifestação de mutabilidade, mesmo quando elas resistem à autonegação cultural e de gênero. A agência das escritoras africanas é notável por sua resiliência. Havia uma lacuna esmagadora na percepção de gênero das mulheres africanas e um desejo de nomear sua própria luta, rejeitando marcas como o feminismo africano/negro. As mulheres africanas devem se constituir como uma massa crítica.

Eu me identifico com Alice Walker e Chikwenye Okonjo-Ogunyemi, Clenora Hudson-Weems, entre outras, devido seus anseios por formas mais inclusivas de nomear a luta das mulheres pretas. Meu livro teórico, “Womanism and African Consciousness” [Mulherismo e a Consciência Africana], levantou questões válidas de como se define o mulherismo. “O que é então o mulherismo? Para as africanas, o mulherismo é a totalidade da autoexpressão, do autocuidado e da autoafirmação femininas nas maneiras culturais positivas." (Kolawole. 1997. p.24). O mulherismo não é uma ideologia que odeia o homem. O mulherismo enfatiza a relevância racial e cultural, a centralidade da família e a necessidade de que homens e mulheres trabalharem juntos para alcançar justiça de gênero, equidade de gênero e empoderamento das mulheres. (Kolawole 1997, 2004, 2005). Assim como a crítica literária feminista se tornou uma importante ferramenta de pesquisa crítica. Vejo que o mulherismo é uma versão adaptada disso, uma tentativa de infundir nacionalismo cultural e racial na teoria literária de gênero.

Quando iniciei os seminários e ensinos sobre o mulherismo, alguns colegas acreditavam que “quem paga a flautista dita a música” e estavam céticos acerca do direcionamento para uma alternativa ao feminismo, pois poderia ofender as agências doadoras e perguntaram: "Quem patrocinará isso?" Outros preferiram manter o status quo com o termo feminismo. Meu desafio era injetar uma perspectiva africana, aumentando assim as opções na conceituação de gênero. O próprio feminismo não é monolítico. As diversidades incluem feminismos liberais, socialistas, existencialistas e pós-modernos. Outras vertentes incluem o ecofeminismo e a mais recente variante, o feminismo ciborgue. Minha experiência na África do Sul é significativa. Como Associada da Fundação e residente acadêmica por três meses no Instituto Africano de Gênero da Universidade da Cidade do Cabo, em 1997, meus trabalhos sobre mulherismo alteraram o paradigma de estudos na África do Sul. Tornou-se um ponto focal de diversas maneiras. Desafiei a sororidade universal e advoguei o foco em mediações raciais e culturais. Meus livros estão agora nas listas de leituras de universidades da Europa, EUA, Ásia e muitos países africanos. Editoras alemãs pediram os direitos autorais para traduzir minhas obras para o alemão. Em uma recente conferência na Cidade do Cabo, em janeiro de 2005, comentários de renomados professores de literatura em universidades como Stellenbosch, Cidade do Cabo, Natal, Suécia, EUA, etc, me saudaram. "Professora, você é uma celebridade, uma lenda que simplesmente não consigo imaginar saindo desta conferência sem apertar sua mão." "Você tem impressionado a África do Sul nos últimos cinco anos." ''O artigo de Mary Kolawole nos deu uma pista dos problemas dos estudos de gênero nos últimos dez anos. Ela nos deu o caminho a ser seguido.” Entre esses comentários inclui o da famosa professora de literatura Kristen Petersen. O mundo estava esperando por uma estudiosa com a coragem de cantar canções africanas em terras estranhas, mas enraizadas na África.

Também pesquisei sobre gêneros femininos na literatura oral como ferramentas de autoexpressão das formas dinâmicas. Esses gêneros como caminhos de poder para a autoafirmação das mulheres refutam as alegações de ausência de voz e de invisibilidade. Concordo com Micere Mugo e Molara Ogundipe-Leslie de que precisamos apenas procurar lugares de audibilidade, visibilidade e poder das mulheres africanas. Esses lugares são revelados nos gêneros literários orais femininos, que foram caminhos do envolvimento dinâmico no processo social, como observei em meus trabalhos: "Existe uma infinidade de gêneros femininos entre os Iorubas. Isso inclui músicas Obitun; canções de Olori, canções Aremo, Ao-oka gelede, músicas Olele e Alamo. As canções de Fulani Bori no norte da Nigéria consistem em modos manifestos de autoexpressão e autoafirmação para as mulheres desse grupo religioso esotérico. Outros gêneros especificamente dominados pelas mulheres incluem a poesia da corte feminina Hausa, canções de nascimento Ibo, Ogori Ewere, muitos poemas panegíricos e contos populares, entre outros". (Kolawole, 1997) Em outras partes da África, as mulheres tinham suas vozes em muitos gêneros orais exclusivamente femininos: gênero satírico de donzela nzema em Gana, canções de noivas swati, lmpongo entre os Ila e Tonga da Zâmbia, Akan Dirges, Galla lampoons, canções de moagem de Kamba e numerosos mitos de gênero e provérbios. (Kolawole, 1997; 1998). Muito trabalho foi feito na área de imagens das mulheres em provérbios africanos por Minekke Schipper, Susan Arndt, Helen Mugambe, Kehinde Yusuf, Ifeanyi Arua e Juliana Abbenyi,

Colegas e estudantes envolvidos na pesquisa de gênero em todas as disciplinas inundaram minha caixa de entrada com pedidos de assistência, informações, revisão da literatura e referências sobre gênero na África. Recentemente, meu trabalho soou cauteloso neste processo de representar as opiniões das mulheres africanas de acordo com a agenda dos doadores. Podem não ser questões de primeiro plano que transformarão as mulheres africanas de seus espaços liminares, da margem para o centro. Em uma recente conferência internacional sobre “Writing African Women” [Escrevendo Mulheres Africanas], eu avisei sobre pesquisa autocentrada e a chamada representação de mulheres africanas. Proponho uma reapresentação de mulheres africanas usando o objetivo de "escrever" a tradição Ioruba que garante uma abordagem cautelosa para conhecer a noiva, já que as mulheres africanas se tornaram a bela e proverbial noiva dos pesquisadores. Vi minha tarefa à luz da argumentação de Leela Dube investigando o "viés etnocêntrico das acadêmicas feministas ocidentais que tendem a interpretar dados de outras culturas na perspectiva das experiências adquiridas em suas próprias culturas e na compreensão de suas relações entre homens e mulheres.”

O símbolo do “Mount Langbodo” [Monte Langbodo] de Fagunwa dramatiza uma tensão de gênero - os homens como guardiões da chave mestra dos múltiplos problemas das sociedades. A busca por Langbodo envolveu apenas homens, sete caçadores corajosos. As mulheres estão revelando sua desenvoltura através da literatura, e mover a literatura nigeriana do Monte Langbodo tem sido um objetivo importante para essas mulheres. Também uso a metáfora da árvore arerê na minha teoria da ambiguidade do espaço e da voz das mulheres. Um provérbio Ioruba resume essa contradição. "ile ti obinrin ri nse toto arere, igi arere ni hu nibe."- (uma casa que permita a vocalidade das mulheres terá a árvore arerê crescendo nela.) Não é permitido que a árvore arerê cresça perto da habitação humana devido ao seu odor desagradável, mas é uma árvore forte e valiosa na construção civil. A geração mais jovem de mulheres escritoras está desconstruindo essa simples metáfora. Entre elas incluem Toying Adewale, Omowunmi Segun, Maria Ajima e muitas outras. A canonização de textos é outro desafio para mim. Deliberadamente, trabalhei em novos escritos de jovens escritoras nigerianas para estabelecer e divulgar suas obras. Eu trabalhei na antologia de Toyin Adewale, “Breaking the Silence” [Rompendo o Silêncio], por esse motivo.

Algumas das teóricas feministas mais conhecidas hoje incluem Mary Eagleton, Mary Evans, Maggie Humm e Mary Rogers. Elas apresentaram algumas das teorias mais relevantes. Deixe-me declarar aqui que o feminismo é uma teoria que abrange muitas disciplinas. É uma teoria válida para filósofos, sociólogos, historiadores, antropólogos, cientistas políticos, estudiosos da cultura, cientistas, tecnólogos e pesquisadores da medicina. É facilmente a teoria mais transversal da academia moderna. Portanto, é lamentável que aqui na Nigéria, entre alguns estudiosos, o feminismo seja preterido por não ser acadêmico. E porque o mulherismo é relativamente novo, muitos estudiosos ainda desconhecem seu status como ferramenta de pesquisa.

Minha pesquisa reitera a conceitualização e a prática das teorias mulheristas. O mulherismo foi cunhado por duas intelectuais pretas, Alice Walker e Chikwenye Okonjo-Ogunyemi, em 1982, como um meio de se autonomear e injetar consciência preta nos estudos de gênero. A teoria mulherista agora está sendo comemorada como a contribuição das mulheres pretas para os debates sobre gênero e meu trabalho é um dos mais aplaudidos em todo o mundo por causa da originalidade das ideias. Fui homenageada e ainda estou sendo aplaudida por aumentar as opções de conceituação e metodologia de gênero. Assim como estudiosas tradicionais como Sandra Harding, Rose-Marie Tong, Angela Miles, Jane Parpart, Mary Rogers e Mary Evans destacaram o feminismo como uma teoria sólida e uma ferramenta para a academia moderna, numerosas escritoras pretas, como Chandra Monharty, Irene D'Almeida, Abena Busia, Amina Mama, Trion min ha, Madhu Kishwa, Leela Dube, Shushela Nasta e Audre Lorde, estão elucidando o feminismo negro. Alice Walker, Chikwenye Ogunyemi-Okonjo, Juliana Abbenyi, Clenora Hudson-weens e eu trouxemos a estética literária mulherista ao centro do estudo acadêmico global de gênero.

Desejo frisar nesta nota: o mulherismo, que não foi cunhado por mim, como o feminismo, é uma teoria e metodologia literária reconhecida internacionalmente. Gostaria de indicar aos colegas que ainda não têm conhecimento sobre o mulherismo e o feminismo para navegarem na Internet, ler sobre esses conceitos e que irá surpreendê-los o fato que o mundo tenha ido além do nível de perguntas sobre a autenticidade desses cânones de gênero. Um estudioso acadêmico pode ser definido como um cidadão do mundo das ideias: quanto mais você tiver acesso a ideias, mais se tornará um participante dinâmico neste mundo de horizontes epistemológicos em constante mudança e em expansão. A ignorância não pode mais ser comemorada ou validada nos dias de alta tecnologia e de explosão de informações.




por Carlos R. Rocha - Fuca, Insurreição CGPP, 2020.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Ifi Amadiume: A teoria dos valores Matriarcais como base para a Unidade Cultural Africana

Ifi Amadiume: A teoria dos valores Matriarcais como base para a Unidade Cultural Africana

Introdução do livro A Unidade Cultural da África Negra, de Cheikh Anta Diop, edição da Karnak House, 1989. 

Ifi Amadiume

Foi em 1983 que quase me encontrei com Cheikh Anta Diop em uma comunidade sufi em Madina-Kaolack, no Senegal. Sabendo dos meus interesses políticos e intelectuais, o Iman e Sheik dessa comunidade me disse, logo que cheguei, que por pouco eu teria me encontrado com Cheikh Anta Diop. Adiante, em 1985, me vi bem próxima do grande sábio Africano novamente. O organizador da conferência de 1985, logo quando Cheikh Anta Diop havia feito uma publicação em Londres, sabendo de como a notícia me afetaria, pediu-me para ir encontrá-lo. Mesmo que grávida na época, eu rapidamente fui até ele. Direcionei-me para falar com ele. Ele estendeu a mão retornando a saudação. Foi quando alguém apareceu entre nós para conversar com ele, então deixei conversarem e voltei ao meu assento.

Mais tarde, em 1985, escrevi Afrikan Matriarchal Foundations: The Igbo Case [Base/Origem do Matriarcado Africano: O caso Ibo] em que eu tentei comprovar algumas das ideias levantadas por Diop em A Unidade Cultural da África Negra: As Esferas do Patriarcado e do Matriarcado na Antiguidade Clássica. Eu dediquei o livro em tributo a Diop em Ibo, Ebunu ji isi eje ogu, "Carneiro corajoso que luta com sua mente". Claro que me referi lutar sem medo, com coragem e inteligência; o que Diop chamava “racionalização”. Depois, em 1986, eu li um aviso em um jornal nigeriano que o nosso grande filósofo tinha morrido de um ataque cardíaco e eu chorei. Ele tinha apenas 62 anos de idade. Ao ser convidada para escrever essa introdução do livro A Unidade Cultural da África Negra, edição da Karnak House, eu me encontrei novamente no caminho de Cheikh Anta Diop. Espero não me perder em adulação cega, mas avaliar objetivamente os méritos deste livro, não só como munição para lutar contra os racismos antiÁfrica, mas por sua relevância no pensamento político contemporâneo Africano e para o desenvolvimento de um programa de estudos africanos, de classe mais progressiva e de consciência de gênero.

Diop escreveu este livro durante as lutas nacionalistas dos anos 50 que foi um período de debate pela independência Africana. Como um pan-africanista acima de tudo, atacou aqueles que não poderiam conceber a ideia de uma Federação Africana independente ou de um Estado Africano multinacional. Ele, dessa forma, se comprometeu a demonstrar “nossa unidade cultural orgânica”, apesar de uma “aparência enganadora da heterogeneidade cultural”. Por que Diop adotou essa abordagem orgânica? Uma razão pode ser o fato de que aquele era o período da abordagem orgânica (o conceito de homogeneidade de uma sociedade específica que exclui as contradições sociais) seguido pelos formalistas nas ciências sociais. Esta abordagem foi mais tarde negada pelos funcionalistas e estruturalistas. No entanto, o trabalho de Diop faz mais sentido na escola estruturalista, pois ele está basicamente tratando de ideias. A outra razão pode ser que neste assunto em particular, Diop não estava simplesmente preocupado com os acadêmicos puramente abstratos, mas tinha um compromisso político de tentar reconstruir a história e a cultura do seu povo, que havia sido submetido por cerca de 900 anos de pilhagem pelos árabes e os europeus, isso nem mesmo inclui a destruição da antiga civilização egípcia africana. Diop, não obstante, defendeu que aquilo que nos une é muito mais fundamental que as nossas diferenças superficiais, e que estas diferenças foram impostas externamente. Elas derivam da herança colonial.

O que Diop teve firme controle e usou para discutir a “profunda unidade cultural” da África foi a história do matriarcado Africano. Ele assim procedeu desde a análise da condição material à superestrutura ideológica. Ao fazê-lo, Diop recuperou nossa história Afrocêntrica, aplicando uma visão holística e uma análise estrutural do mito a fim de expor as ideias por trás dos acontecimentos. O resultado foi um modelo compreensível para uma história social Africana.

As forças racistas, colonialistas e imperialistas que Diop estava confrontando naquele momento o obrigou a não argumentar exclusivamente na análise do matriarcado na África. Ele teve de enfrentar o mundo dos chamados “especialistas” sobre o assunto. Diop, assim, passou a fazer uma crítica extensa e devastadora da teoria de Bachofen sobre o matriarcado, e da teoria da família de Morgan.

A teoria evolutiva do matriarcado de Bachofen baseou-se na análise da literatura grega clássica. A partir desta fonte grega limitada, ele passou a generalizar toda a organização social humana da evolução de um período em que não houve casamento, mas “barbárie” e “promiscuidade sexual”, baseado em um sistema de descendência matrilinear até um período de casamento e matriarcado baseados na supremacia da mulher. A fase final foi o período do imperialismo masculino, isto é, o patriarcado. Como aponta Diop, Bachofen não só criou esses períodos evolutivos, mas também impôs um julgamento preconceituoso, concluindo que o patriarcado é superior ao matriarcado.

Mesmo assim, o que é interessante na análise da Oresteia, de Ésquilo, feita por Bachofen não é tanto a derrota do matriarcado pelo patriarcado, mas o fato de que para fazer essas alegações falsas de derrota ou de superioridade, ele teve que inventar um tipo de pseudoprocriação em rituais abstratos ou religiões e adequar o papel pro-criativo factual básico de maternidade biológica natural e esse “laço mais íntimo de amor” [‘closest bond of love’]. Isto é basicamente o que os papéis de sacerdócio ou de iman têm feito. Desse modo, os homens assumem a tarefa de criação que era da mãe; eles chegam até ao ponto de imitar a vestimenta das mulheres. No ritual patriarcal em que esta construção é mais evidente vemos homens vestidos como mulheres. É por isso que as verdadeiras mulheres são banidas desses papéis. Esse foi o papel de Apollo e Athena. Além disso, para que essa pseudoconstrução tivesse sucesso, dever-se-ia reclassificar mulheres como traidoras a exemplo de Athena. Uma vez que podemos compreender esta análise, então não precisamos ir à antiguidade para ver esta luta ou disputa entre sistemas de pensamento matriarcais e patriarcais. Muitas teorias feministas atuais também são incapazes de lidar com a questão do matriarcado, pois elas estão ainda ancoradas na periodização de Bachofen. Ou talvez, porque elas não têm nem memória histórica, nem cultural do matriarcado, e entendem o matriarcado não tanto no sentido de instituições sociais, organizações de parentesco, instituições culturais de mulheres, mas como uma sociedade totalmente governada por mulheres. Quando elas não conseguem encontrar essa tal sociedade, descartam a questão do matriarcado e o coloca como mito.

Diop ilustra como a compreensão de Morgan acerca dos sistemas de casamento e parentesco permaneceu caótica. A partir do estudo dos indigenas iroqueses da América do Norte, Morgan tinha, com base em seus conceitos etnocêntricos da estrutura da família nuclear da civilização europeia, postulado quatro estágios na evolução, desde o matrimônio, família e o matriarcado dos povos “bárbaros”, até o patriarcado e a monogamia de “civilizados” da Grécia e Roma. Como mostra Diop, a classificação de Morgan era basicamente esta equação: arianos (Indo-Europeus) = brancos = civilizados; e não-arianos = outros = selvagens. Morgan era um racista. Esta teoria era racista.

Em suas teorias de um matriarcado orgânico universal, tanto Bachofen como Morgan estabeleceram uma hierarquia falsa e racista dos valores e sistemas sociais. O sujeito colonial da antropologia reforçou essa divisão e o racismo como resultado de seu zoneamento da humanidade em suas sociedades ditas primitivas = outros, e modernas - a deles = sociedades civilizadas. Essas noções racistas e ignorantes de civilizações culturais altas e baixas equiparou feudal, piramidal, sistemas políticos burocráticos e imperialistas como cultura “alta” e os sistemas políticos descentralizados e difusos como cultura “baixa” e primitiva. Como a consciência política de hoje busca reverter essa falácia, é marcada pelos movimentos de participação horizontal e descentralizada.

A posição de Diop revela que o matriarcado é específico, e não geral, dado a influência da ecologia em sistemas sociais. Ele, portanto, apresentou sua hipótese de berço duplo e seguiu para discutir duas zonas geográficas, do Norte e do Sul. Sua tese é que o matriarcado se originou no Sul agrícola, usando a África para ilustrar seu argumento, enquanto que o patriarcado originou-se no Norte, sendo nômade. O cinturão do meio era a bacia do Mediterrâneo, onde o matriarcado precedeu o patriarcado. Considerando que na Ásia Ocidental, ambos os sistemas foram sobrepostos um sobre o outro.

Comparando estas culturas Norte e Sul com base na condição da mulher, no sistema de herança, pelo dote e filiação de parentesco, Diop mostra como a cultura do Norte indo-europeu negou os direitos das mulheres e subjugou-as sob a instituição privada da família patriarcal, como foi argumentado por Engels. Os patriarcas do Norte queriam as mulheres sob seus controles confinando-as em casa e negando um papel público e de poder. Neste sistema, um marido ou um pai tinha o direito de vida e morte sobre uma mulher. A viagem de mulheres para o casamento agravou este controle patriarcal. Este sistema do Norte foi caracterizado por dote, adoração ao fogo e cremação.

Em contraste, na cultura matriarcal do Sul, tipificada pelo sistema agrícola e sistema de sepultamento, os maridos vinham para as esposas. As esposas eram as donas das casas e guardiãs da alimentação. A mulher era a agricultora. O homem era o caçador. O poder da mulher foi baseado em seu importante papel econômico. Este sistema também foi caracterizado por bridewealth (riqueza da noiva) e o forte laço entre irmão e irmã. Mesmo no casamento onde uma mulher viajava esse vínculo não era completamente rompido. A maioria das regras de funeral prescrevia o retorno do cadáver da esposa para sua casa natal. Trocas funerais também indicavam uma compensação pela perda de uma mulher, como as minhas próprias pesquisas confirmaram.

Esse sistema matriarcal do Sul também foi marcado pela sacralidade da mãe e sua autoridade ilimitada. Havia juramentos invocando o poder da mãe, isto é, a ritualização daquela matricêntrica, mãe e filho, “o laço mais íntimo de amor” citado até mesmo em Eumenides. Este é o “espírito da maternidade comum”, geralmente simbolizado nas religiões africanas. Em Ibo, é OmaUmunne, Ibenne. Neste conceito religioso africano, é a mãe que dá aos seus filhos e à sociedade em geral o dom do “pote da prosperidade”, que em Ibo é chamado de ite uba.

A mãe também concede o pote de segredos/ mistério/ magia/ conhecimento sagrado/ poder espiritual. Em Ibo, isso é chamado de ite ogwu. Em wolof, é demm. Todos os mitos, lendas e histórias de heroísmos africanos não adulterados atestam isso. Como diz Diop, essas ideias “remontam aos primórdios da mentalidade africana. São, portanto, arcaicas e constituem, no presente, uma espécie de fossilização no campo das ideias atuais. Elas formam um todo que não pode ser considerado como a continuação lógica de um estado anterior e mais primitivo, onde uma herança matrilinear teria governado exclusivamente.” (p.34) A construção social ou cultural da paternidade nesses sistemas matriarcais levou os antropólogos sociais preconceituosos e ignorantes a assumir que nossas sociedades não conheciam os fatos da concepção!

Na teoria de Diop esses dois sistemas são rígidos, “foi demonstrado que essas coisas ainda ocorrem sob nossos próprios olhos, nos dois berços e com pleno conhecimento dos fatos. Não é, portanto, lógico imaginar um salto qualitativo que explicaria a transição de um para o outro”. (p.41) Diop, no entanto, insistiu em atribuir a mudança social principalmente a fatores externos, como resultado de sua visão orgânica da sociedade. Essa compreensão orgânica da sociedade e da cultura contribuiu para que ele atribuísse os sistemas mistos das sociedades oceânicas ao papel de migração e dispersão.

Essa atribuição de mudança social apenas a fatores externos apresenta não apenas uma visão orgânica, mas também estática da sociedade. Diop viu a África tradicional como um continente onde as civilizações antigas permaneceram preservadas, já que a África parecia mais substancialmente resistente a fatores externos. Assim, Diop foi capaz de apresentar dois sistemas polares de valores para seus Berços Norte e Sul. A África, como representante do Berço do Sul do matriarcado, valoriza a família matriarcal, o estado territorial, a emancipação da mulher na vida doméstica, o ideal de paz e justiça, bondade e otimismo. Suas literaturas favoritas eram romances, contos, fábulas e comédias. Sua ética moral foi baseada no coletivismo social.

O contrastante Berço do Norte, como exemplificado pela cultura ariana da Grécia e Roma, valorizava a família patriarcal, a cidade-estado, a solidão moral e material. Sua literatura foi caracterizada pela tragédia, ideais de guerra, violência, crime e conquistas. A culpa, o pecado original e o pessimismo, impregnaram toda a sua ética moral baseada no individualismo.

Diop, tendo assim contrastado um sistema com o outro, passou a fornecer uma história geral de ambos os berços e suas áreas de influência. Para provar seu ponto de vista de que as mulheres africanas já eram rainhas e guerreiras, participando da vida pública e política, enquanto suas contemporâneas indo-europeias ainda estavam subordinadas e subjugadas sob a família patriarcal, Diop nos apresenta uma série de poderosas antigas rainhas africanas e suas conquistas. Na Etiópia, houve a rainha de Sabá, a rainha Candace, que lutou contra o exército invasor de Augusto César. No Egito, havia a rainha Hatshepsout, descrita como “a primeira rainha da história da humanidade”. Cleópatra foi intitulada “Rainha dos Reis”. Mesmo nos imensos e poderosos impérios de Gana, no século III d.c., os valores matriarcais eram a norma. O mesmo acontecia no Império do Mali.

Consistente com sua teoria do fator externo na mudança social, Diop atribui a introdução da patrilinearidade na África à vinda do Islã no século X. Mesmo assim, ele argumenta que a patrilinearidade ficou na superfície e não penetrou profundamente nos sistemas matriarcais de base. Ele atribui as mudanças mais recentes em direção ao patriarcado a mais outros fatores externos como o islamismo, o cristianismo e a presença secular da Europa na África, simbolizada pela legislação colonial, direitos a terra, nomeação do pai, monogamia e a classe das elites educadas no Ocidente e contato moral com o Ocidente.

A teoria de dois sistemas rígidos de Diop me parece difícil de aceitar academicamente, dadas as limitações impostas à abordagem orgânica das sociedades, que leva à representação da sociedade como estática e não dinâmica em si mesma. No entanto, aceito a irredutibilidade da unidade matriarcal como um fato social. O patriarcado só pode se basear em uma negação desse fato, daí surge suas falsificações. O patriarcado é tanto uma construção social quanto cultural, consequentemente a equação do patriarcado com o controle e a opressão das mulheres. O fato 'natural' e social da unidade matriarcal é base para todas as sociedades, como simbolizado pela mulher grávida. 

Consequentemente, a questão é se essa estrutura básica da mãe e do filho é reconhecida na organização social, cultural e política. Onde é reconhecido, as mulheres seriam obviamente organizadas para garantir esse reconhecimento. Pelo que sabemos, as mulheres foram organizadas em sociedades indígenas africanas. As mulheres Ibo, por exemplo, ainda cantam: "a mulher é a principal, é a principal, é a principal”, repetindo e repetindo a declaração e a mensagem. Assim também é a sagacidade e infalibilidade de mães sendo clamada repetidamente - por mulheres. As mulheres africanas eram aquelas socioeconomicamente organizadas que estavam no controle de certas áreas e envolvidas nos processos de criação de ideologias. 

Todavia, é necessário aplicar uma multiplicidade de abordagens teóricas para obter uma visão das dimensões internas das relações sociais e de gênero. Seria necessário aplicar teorias de processo social, conflito e dissensão, a fim de obter um quadro muito mais completo de sociedades e culturas, não apenas um conceito orgânico dado e imutável dos chamados sistemas formais. Homens e mulheres são animais racionais, capazes de formar grupos de interesses políticos e conflitantes com base no sexo, idade, classe, etc., diferenças ou semelhanças. Mesmo o indivíduo pode estar em conflito com a instituição com o argumento de diferenças desconstrucionistas.

É por isso que tomei uma posição diferente em Afrikan Matriarchal Foundations e argumentei que, em todos os tempos da história humana, os princípios matriarcais e patriarcais de organização social ou de ideologias apresentaram dois sistemas justapostos e contestadores. Por exemplo, se essas rainhas listadas por Diop estivessem atuando apenas em sistemas matriarcais, ficamos imaginando por que precisavam usar símbolos masculinos de autoridade, como Nzinga, de Angola, vestida com roupas masculinas, ou Hatshepsout, no Egito, que usava barba? O masculinismo da maioria dessas rainhas guerreiras rendeu-lhes descrições como ironmaidens (donzelas de ferro) e Boadiceias.

Pode-se argumentar que, como resultado das diferenças matriarcais básicas nos valores sociais, a centralização e o feudalismo na África expulsariam as Rainhas que estavam confortavelmente assentadas em sua feminilidade, enquanto os valores patriarcais e centralizados indo-europeus produziriam as Boadiceias e donzelas de ferro, geralmente alienadas de sua feminilidade. Nos tradicionais sistemas políticos descentralizados africanos, a representação simbólica das deusas era simplesmente em mulheres tituladas, que não eram nem Rainhas nem donzelas de ferro, como por exemplo, Igo Ekwe titulava mulheres.*

Esse debate também foi assumido por Diop, quando ele desconstruiu o mito clássico da Amazona, mostrando como esse mito era derivado de um berço eurasiano, onde “reinava um feroz patriarcado”. Foi a opressão patriarcal contra as mulheres, fabricada no mito clássico da Amazona, que levou Diop a fazer essa afirmação: “Matriarcado não é um triunfo absoluto da mulher sobre o homem; é um dualismo harmonioso, uma associação aceita por ambos os sexos, para construir uma sociedade sedentária, onde cada um pode desenvolver-se plenamente seguindo a atividade mais adequada à sua natureza fisiológica. Um regime matriarcal, longe de ser imposto ao homem por circunstâncias independentes de sua vontade, é aceito e defendido por ele”. (p.108)

Como Diop diz corretamente sobre contingentes femininos militantes ou militares na África, “o ódio aos homens é estranho para elas e assim possuem a consciência de 'soldados' lutando apenas pela libertação de seu país”. 

O que é importante para nós hoje não é o legado de rainhas guerreiras, mas uma análise minuciosa do sistema primário de organização social em torno de uma unidade cultural matrilinear economicamente autossuficiente e um sistema linguístico livre de gênero, que é o legado do matriarcado africano. Precisamos entender suas religiões e culturas associadas à deusa, que ajudaram as mulheres a se organizarem efetivamente para lutar contra as forças controladoras do patriarcado, alcançando assim uma espécie de sistema de freios e contrapesos. Isso é basicamente o que as chamadas religiões monoteístas e abstratas do islã e do cristianismo que governam a África hoje subvertem e continuam a atacar. A questão fundamental para aqueles que propõem essas religiões como um possível meio de alcançar uma unidade pan-africana de federação é: estas religiões são capazes de aceitar e acomodar nossas deusas e nossos matriarcados, isto é, as verdadeiras culturas primordiais das mulheres africanas na atual política de primordialismo, manipulado por nacionalistas e fundamentalistas?

A África do interior propriamente dita, que possuía estruturas tais que favoreciam o domínio das deusas, matriarcas, rainhas, etc., ainda hoje estão presentes conosco. Mas esses sistemas estão enfrentando erosão, enquanto homens africanos da elite manipulam os patriarcados novos e emprestados para forjar o mais espantoso “imperialismo masculino”, ainda desconhecido em nossa história. Como vamos subverter a isso, já que a primeira baixa tem sido a autonomia e o poder da organização das mulheres tradicionais?

Em contraste com o aparente conluio das filhas africanas atuais com o establishment, a questão do papel e do status da mulher na sociedade, longe de ser um debate do século XIX, desde os anos 60 reuniu uma nova força na literatura feminista e na erudição ocidental. Na Alemanha, por exemplo, o inquérito sobre o matriarcado é levado muito a sério. Nos EUA e na América Latina, a busca das mulheres pela espiritualidade predomina. Na Grã-Bretanha, é uma busca por deusas antigas. Há também um renascimento dos cultos de bruxaria. Todo o movimento Verde e Ecológico deriva seu conceito e ideologia do chamado animismo africano, que agora está sendo reconhecido como uma adoração da natureza. Em tudo isso, a etnografia africana serve como um banco de dados, mas com pouco reconhecimento por parte dos usuários. A história da apropriação grega da filosofia e da ciência africanas no século XIX se repetiu nesta véspera do século XXI?

Ironicamente, em todos esses movimentos, é nesse continente de matriarcados, a África, onde não há tal preocupação por parte dos eruditos/intelectuais africanos. Seria devido ao fato do controle de homens e mulheres da elite, cristãos e islamitas? Seria também porque somos agora governados diretamente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Mundial e por agências de ajuda estrangeiras e os neomissionários que nos 'arremessam' dinheiro, comida, roupas e seus livros/conhecimentos, incluindo seus resíduos tóxicos? Numa espécie de negação abstrata da realidade social e material da experiência de cada criança africana e sua mãe, como é característico de novas invenções patriarcais masculinistas de homens africanos especialmente da elite, esta contínua prática de cópia estrangeira e sua esquizofrenia sintomática continua a ser o destino da mente de uma África colonizada.

Como Diop assumiu a questão fundamental do matriarcado a partir de uma perspectiva africana, em oposição a uma luta comprometida pelos direitos das mulheres nos sistemas patriarcais, qual estudioso vai aderir ao matriarcado de Cheikh Anta Diop? Para ele, o matriarcado é um “conjunto de instituições favoráveis à feminilidade e à humanidade em geral”. Como ele disse, a ciência social controlada pelos homens só viu “liberdade perigosa e quase diabólica”. Alguém pode se perguntar, por que os teóricos matriarcais ocidentais não citam o trabalho de Cheikh Anta Diop?

A raiva contra Diop tida pelos intelectuais brancos e pelo próprio interesse ocidental não diminuiu. Na verdade, é muito comum hoje em dia ser papagaiado por uma classe particular de africanos, que ainda estão sob a tutela, a supervisão e o controle dos brancos. Quanto aos homens africanos, eles se sentem contentes em citar apenas os aspectos do trabalho do grande pensador que servem ao seu propósito, especialmente a recuperação da antiga civilização egípcia. Contudo, a tese fundamental do trabalho de Diop, que se dá no matriarcado africano, é encarada com uma menor relevância.

Nas descobertas mais recentes na busca ocidental por origens raciais humanas, uma invenção racista de preocupação apenas do Ocidente, Diop é reivindicado repetidas vezes acerca do papel principal da mãe africana, seja na herança do gene ou da linguagem para a raça humana, que continua a ser “muito cientificamente provado”. Mas a apropriação racista se consolida mesmo nesta época de desconstrução - se esses mais jovens de nossos filhos não chamam a mãe africana da humanidade de Lucy, eles a chamam de Eva! Então, vemos novamente a apropriação do século XIX. Para os cientistas, é impensável que o fóssil da nossa mãe africana, encontrada no continente africano, conserve um nome africano! Isso cristaliza e simboliza a natureza da relação da civilização europeia com a da África. Essa estrutura de apropriação pode ser encontrada em todos os outros campos de relações.

Diop enfatizou: “Que esse trabalho pode contribuir para o fortalecimento dos sentimentos de boa vontade que sempre uniram os africanos de um extremo ao outro e, assim, mostrar nossa unidade cultural orgânica”. Ele tornou imperativo que um conhecimento completo de nossos desafios devesse ser aprendido com o passado, a fim de “manter a consciência de que o sentimento de continuidade histórica é essencial para a consolidação de um Estado multinacional”. Como Cheikh Anta Diop, por causa de nossa história do colonialismo, os intelectuais africanos, se quiserem estar livres da autonegação, devem desconstruir, invalidar e reconstruir. A imposição de uma moeda comum e uma linguagem comum acima dos nossos idiomas locais é um imperativo. Não importa qual língua, desde que sua morfologia e sintaxe tenham origem africana, especialmente sobre a formação de gênero. Não adianta nos impor um crioulo que incorporou todas as estruturas patriarcais e racistas na sua origem. Todos podem, de fato, começar pelo mesmo ponto de partida, se escolher a língua africana mais remota de dentro dos arbustos e a levar a crescer conosco. Nesse caso, não haverá dúvida acerca de imperialismo e ou qualquer desconfiança.

Neste projeto de reconstrução, uma história social com consciência de gênero e de classe é uma prioridade. O termo racista antropologia, que realmente deveria ter sido chamado de a História Social, deve ser totalmente banido. Devemos adotar e elaborar a historiografia de Cheikh Anta Diop, usando sua abordagem multidisciplinar para escrever uma história social africana e reforçar o ensino da história social em nosso currículo. A erudição africana atual só conhece a história cronológica de reis, rainhas e conquistas. Como em nossas escolas e faculdades, não há história social, nem história de base e a partir da base, nem a história de nossas instituições sociais indígenas, como então podemos começar a construir uma história e unidade africana sem esse conhecimento? Como nosso grande filósofo e ativista político africano disse, que o compromisso geral do ativismo intelectual leve à liquidação de todos os sistemas coloniais do imperialismo. Sua visão do universo de amanhã é aquela imbuída do otimismo africano. Diop previu assim o movimento ecológico?

Este livro permanecerá um clássico enquanto houver homens e mulheres neste mundo e enquanto o Ocidente persistir em sua história do patriarcado, do racismo e do imperialismo.

 




Introdução do livro "A Unidade Cultural da África Negra", de Cheikh Anta Diop, edição da Karnak House, 1989. 

Traduzido por Carlos R. Rocha (Fuca) - Insurreição CGPP

(atualizado 2020)