O texto a seguir em forma de tópicos ou notas, foi feito em
decorrência da leitura em conjunto, entre Fuca Cgpp e Joel Consp., do livro Os Quilombos e a Rebelião Negra, de
Clovis Moura. Um livro curto de síntese, com 105 páginas, onde pudemos dialogar
sobres vários aspectos da luta preta, tanto lá quanto cá, não no sentido de
esgotamento do assunto, mas no de despertar a formação contínua através dessa
brevidade didática.
Introdução
- Clovis Moura vai evidenciar o ser negro como agente de
resistência constante ao sistema escravista, resistência que se dava na negação
do trabalho, na negação de ser escravo, pois a todo momento se pensava em fuga
da escravidão.
- no sistema escravista existia uma luta de classes.
Senhores [brancos] e escravizados [pretos]. Essas duas classes vão compor a
base da estrutura do Brasil escravista.
- pra dinamizar essa resistência, o escravizado negava o
trabalho escravo já que ele não conseguia modificar o sistema. Com isso, ele vai
procurar criar sistemas alternativos.
- período histórico entre 1550 até 1888. Século XVI ao
século XIX.
- O autor vai combater a defasagem
histórica em dois pontos: o primeiro é que a escravidão não era a relação de
trabalho que girava a economia do brasil escravista. (sendo que era, pois
enriquecia o senhores, ou seja, já era, de certa forma, capitalismo). O segundo
ponto apresentava o ideal de vivência harmônica na relação entre casa grande
(senhores) e senzala (escravizados). Em referência a uma das teses de Gilberto Freyre.
Condenando os conceitos de “bom senhor”, “homem cordial,” e “democracia
racial.”
- Enfim, nesta introdução, o autor enfatiza que no livro vai
se demonstrar a importância social dos negros, especialmente os quilombolas.
Os
Quilombos na História Social do Brasil
- A definição de quilombo de acordo com a resposta do Rei de
Portugal ao Conselho Ultramarino (1740), “toda habitação de negros fugidos que
passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados
nem se achem pilões neles”.
- o quilombo não foi um fenômeno esporádico, teve constância
em todo o brasil.
- o quilombo tinha vários tamanhos de acordo com o número de
habitantes, e eram todos armados, os maiores eram: Palmares 20 mil, Campo
Grande(Mg) e Ambrósio(mg) 10 mil cada.
- existia um caráter de conversão de escravizados da senzala
ao quilombo, pois mantinha-se sempre um diálogo entre senzala e quilombo.
Muitas informações circulavam.
- o quilombo mantinha
uma relação comercial de troca de produtos ou excedentes com pequenos
agricultores da vizinhança.
Organização
e Economia dos Quilombos
- Palmares – o maior exemplo do grande quilombo – era uma
confederação de quilombos. Abrangendo um raio de mais de 120km (25 léguas), de
acordo com os estudos de Edson Carneiro (1947).
- O autor aponta que “A religião da republica era um
cristianismo fortemente sincretizado com valores religiosos africanos.”
- a família era poligâmica e não havia personagem
responsável pelo segredo religioso da comunidade.
- “Em cada mocambo o chefe era senhor absoluto, mas, nas
ocasiões de guerra, reuniam-se para deliberar conjuntamente, sob as ordens do
Zumbi, ou outro chefe da república, na Casa do Conselho do Macaco.”
- A base econômica era a agricultura policultura. Feijão,
mandioca, batata-doce, milho.
- Vivendo num regime comunitário, organizado à base da
agricultura e da criação de subsistência, Palmares era um reduto em franco
florescimento, apesar da ameaça sobre ele.
- o Ambrósio em MG, por exemplo, seguia a mesma estrutura de
Palmares com acrescimento de maior pecuária.
- Do ponto de vista
da organização política, havia obediência incondicional ao chefe Ambrósio,
líder que, segundo um cronista da época, era dotado “de todas as qualidades de
um general”. Com uma hierarquia que constituía uma espécie de Estado-Maior.
- As colheitas eram conduzidas ao paiol para distribuição
coletiva.
A
Força Militar dos Quilombos
- Conforme a estrutura de média a grande do quilombo era
necessário uma organização hierárquica militar mais estruturada para defesa
tanto da população quanto da economia desses quilombos que sofriam diversas
investidas das forças da colônia.
- Ou seja, exigia-se grupos armados e também táticas e
estratégias territoriais de barricadas até armadilhas para conter os invasores.
- O autor não aponta o contingente do exército de defesa de
Palmares, mas mostra que chegou a ser necessário forças de 9 mil homens ao
comando de bandeirantes, como Domingo Jorge Velho, para derrotar Palmares, que
havia resistido a todas as expedições punitivas de 1630 até 1695.
- Palmares deixou seu legado e exemplo de “maior resistência
– social, militar, econômica, e cultural – ao sistemas escravista.”
- Outros quilombos foram proeminentes, tanto de Preto Cosme
no Maranhão, mas de destaque também o de Ambrósio, ou depois como Campo Grande
(MG), que fora destruído após 3 anos (1957-58-59) de preparo do bandeirante
Bartolomeu Bueno de Prado contando com 400 homens.
- Preto Cosme que comandava um quilombo de 3000 pessoas no
maranhão tinha piquetes de guerrilheiros que promoviam saques nas fazendas dos
brancos e ainda traziam mais insurretos, tinha sua estrutura centralizada.
Cosme é capturado após fazer alianças com mestiços e brancos (balaiada) sendo
delatado para Caxias em 1841, foi condenado e enforcado.
- O autor exemplifica mais um quilombo com estrutura e base
militar agora no estado do Rio de Janeiro, o de Manuel Congo. Que após boa
tática de combate consegue derrotar a forças da Guarda Nacional, mas, de certa
forma, se empolgaram nos contínuos ataques e ficaram desguarnecidos e foram
capturados em 1938. Com envolvimento de Caixas também nesse.
As
Insurreições Urbanas e os Quilombos
- Vai utilizar-se do exemplo da Grande Insurreição, A
Revolta dos Malês, em Salvador
(1835). Levantando além da questão urbana e rural, mas também as diferenças
religiosas existentes. Contudo, liderada por negros islamizados.
- A questão também é buscar delinear até que ponto se
sobressaiu o motivo da luta de classes ou os motivos religiosos. O autor então
acredita que a religião foi um elemento de suporte ideológico de organização
coletiva perante uma opressão objetiva que existia, tanto o sistema escravista
para os negros ainda escravizados como de racismo para o negros livres nessa
sociedade escravista.
- Liderança de Hausás e depois de Nagôs que então se tornam
chamados malês, mas que se
autodenominavam mulçumanos. Pode ser que devido a linguagem religiosa puderam
ter uma maior capacidade organizacional com o uso de estratégias militares
oriundas da África, inclusive na confecção e uso de armas.
- Ao pontuar a introdução do Islã na África, o autor
rememora que a penetração islâmica na África existiu com o objetivo de controle
social, um tipo de colonização também. Apesar de, nesse contexto (Brasil), ser um
fator utilizado como mudança social através das revoltas dos malês.
A
Grande Insurreição
- organizada nos mínimos detalhes entre as várias nações
(etnias) africanas. Em Salvador, 1835, com revoltas já ocorrendo desde 1807.
- objetivo: tomada de terra dos brancos...
- Perpassou alguns detalhes do planejamento da insurreição
assim como apontou as principais pessoas envolvidas.
- Tendo ocorrido a delação (traição) a insurreição acabou
sufocada. Prisões, condenações e morte dos rebeldes.
Reivindicação
e Consciência do Escravismo
- Apesar das diversas lutas radicais e violentas dos
insurretos pretos escravizados, aqui o autor discorre sobre alguns movimentos
que visaram uma busca de negociação para obterem alguns direitos, sobretudo nos
modos de trabalho. Uma espécie de salto gradativo contra o escravismo.
Os
Quilombos e a Abolição
É retratado pelo autor o cenário de rebeldia dos
escravizados versus a moderação dos abolicionistas para acabar com o sistema
escravista. Apesar de ter existido uma ala mais radical dos abolicionistas. Com
isso, o autor não deixa perder de vista que as lutas dos pretos escravizados
vieram desde muito antes do abolicionismo (limitado), e que de fato foram as
rebeliões que tencionavam os brancos que dominavam. Até devido a isso temos
como o dia da consciência negra o 20 de novembro ao invés do 13 de maio. (Reivindicação
do Movimento Negro)
Conclusões
“Várias foram as formas de resistência do escravo negro ao
regime escravista. Mesmo com todas as limitações que a estrutura do sistema
impunha ao cativo, ele, ao contrário do que afirmam aqueles que seguem a
chamada historiografia acadêmica, resistiu de várias formas e níveis de
importância durante todo o tempo em que a escravidão perdurou. Resistiu usando
desde formas ativas, como as de Salvador, ocorridas durante o século XIX, até
os quilombos, disseminados em todo o território nacional – do Rio Grande do Sul
ao Pará – e as guerrilhas que permeavam as duas formas fundamentais de
resistência.”(...)
(..) “A violência, desta forma, penetrava, direta ou
indiretamente, no relacionamento entre uns e outros. É a partir da compreensão
deste fato que podemos analisar a sociedade brasileira e encontrar as leis
fundamentais que deram conteúdo à sua dinâmica.”(...)
“Mediando esses elementos de violência, vemos vários mecanismos
amortecedores serem criados no sentido de neutralizarem, ou, pelo menos, diminuírem
os seus níveis de intensidade. Por outro lado, a Igreja Católica (ela própria
proprietária de escravos) procurará, quer na escravidão nordestina do chamado
ciclo do açúcar, quer na mineira ou paulista, montar um aparelho ideológico
capaz de dar aos escravos as razões
de por que estavam em cativeiro e, aos senhores, racionalizar a violência do
opressor. Dessas diversas tentativas de esconder-se a violência e/ou justifica-la
nasceram vários estereótipos, um dos quais, conforme já firmamos, é o da
benignidade da nossa escravidão.
“O medo, repetimos, é um fator psicológico que influenciará
todo o comportamento da classe senhorial no Brasil, determinado, muitas vezes,
paradoxalmente, o nível de agressividade e violência contra a pessoas e a
classe dos escravos.”
https://regabrasil.files.wordpress.com/2018/10/os-quilombos-e-a-rebelic3a3o-negra-1986.pdf
baixe o pdf acima.
Fotos de dois dos encontros, março/2021.