Mostrando postagens com marcador Insurreição CGPP. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Insurreição CGPP. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Conversando com o povo #2 - texto

Enquanto existir a maioria negra alienada da sua consciência racial, é sinal que ainda existe a escravidão. Sendo esta, agora, a escravidão mental.

Então é necessário libertar as mentes pretas através do estudo e resgate ancestral histórico-cultural africano. Nosso orgulho!

Romper os grilhões da mente, é parar de pensar como os brancos quer que você pense, ou seja, a favor dos interesses deles: que é continuar dominando e comandando nosso povo. Em muitos casos nos humilhando e diminuindo nossa dignidade.

***

Vc já sofreu racismo, preconceito ou discriminação racial?

Se caso não sofreu, acredita que o racismo existe?

...A questão é que a existência do racismo não é opinião, é fato comprovado na sociedade.

Mas,... e como deveria ser combatido o racismo?

Apenas xingando os racistas?

Ou fingindo que ele não existe?

Não, ainda a saída mais viável é a solidariedade e união entre as pessoas/famílias pretas em busca de se tornarem cada vez mais fortes.

***

Diz o ditado que agimos mais com medo de perder algo do que para ganhar algo.

Se caso não nos movermos para resgatar nossa liberdade da mente. Pelo menos devemos pensar que num futuro cada vez mais competitivo os desunidos e os mais fracos estarão sujeitos a piores condições socioeconômicas (isso já é realidade). E pode ter certeza que se for preciso, os opressores (elite branca) irão escravizar novamente a raça mais dividida e fraca.

Com isso, não é que devemos parar de seguir nossos objetivos já existentes de vida (alguns deles sim, se forem destrutivos), mas sim separar e dedicar um momento para fortalecimento e participação dessa união/solidariedade do povo preto. E isso é apenas o começo.

Ame seu povo! Ame sua raça!

Mesmo que o sistema não quer que você pense assim.

Contudo, a sua mente já está em processo de libertação...

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Conversando com o povo - #1 - texto

(Projeto de introdução do álbum volume 2, Insurreição cgpp)

Iae preto, iae preta, que vive nas quebradas desse brasil, essa nação genocida, que visou e visa nossa aniquilação e dizimação, por vários métodos, diretos e indiretos, fisicamente, espiritualmente, mentalmente, pelo sistema educacional racista, pela mídia burguesa, pelas religiões do dominador com seu cristianismo, com sua burocracia institucional da política que funciona para manter nóis fora do poder, longe da tomada de decisão, distante da transformação revolucionária, que tem seu braço militar e todo aparato policial para resguardar as desigualdades raciais e sociais... que desde a época da escravidão vem matando o povo preto e encarcerando e torturando os nossos.

Ainda quando vivos, ainda sobrevivemos em situações de privações, pois nos foi tomada a terra, não temos terra, não detemos os meios de produção em nada nesse pais, assim ficamos dependendo dos opressores genocidas para sobreviver.

Então, se a elite branca ainda detém poder de vida e morte sobre nós, nada está bem e muito precisamos trabalhar entre os nossos, numa perspectiva revolucionária. Ou seja, de romper com a nação branca/burguesa - a história mostra que o mundo que os brancos reservou pra nóis foi um mundo de destruição - sendo assim é necessário construir uma outra nação a partir do nosso controle, abordando as questões de classe e gênero, e o resgate de nossos valores ancestrais positivos. O Povo Preto no Poder. Orgulho de nossa ancestralidade africana. Para conseguir ter paz entre nós e pelo bem-viver.

Isso pode começar hoje, numa escala menor, num grupo menor, mas a base deverá ser sólida pra no momento certo ocorrer a tomada de poder. Onde que somos maioria devemos buscar dominar esses territórios, e visar sempre quebrar a lógica racista e capitalista onde dominarmos.

Nossa arte, nossa educação e nosso trabalho deve seguir esse destino. Na escala dessa humilde arte, nos prestamos a isso.! Abandone os estereótipos que o sistema projetou pra nós, dizendo que somos preguiçosos, burros, vagabundos, criminosos, eternos muleques, irresponsáveis, maiores cachaceiros, os mais drogados, inferiores e fadados a pobreza... por outro lado não podemos cair na armadilha da falsa sensação de progresso através do consumismo desenfreado de produtos bem mais caros além do que vale e enriquecendo justamente os opressores... são várias fitas, mas o rap é escola é tá aí pra blindar mentes. Pois precisamos formar nossos Quilombos!

Isso é então um pouco de nossa forma de... Insurreição Contra o Genocídio do Povo Preto.


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Considerações ao Livro de Malcolm X - O Fim da Supremacia Branca no Mundo

Comunidade com unidade 

O nosso principal inimigo ainda se faz tão presente em nossas vidas que fica até difícil não falar da importância de nos debruçarmos sobre história do povo preto, ou seja, na trajetória de guerreiras e guerreiros pretos ao longo do curso da humanidade. O que falaram, como lutaram, o que estudaram, como agiram, quais foram os tropeços e os legados, e em quais circunstâncias puderam demonstrar seu grande amor aos povos africanos, seja no continente ou na diáspora. É com o estudo da história que sabemos que as primeiras civilizações do mundo foram erigidas por pessoas Pretas, incluindo a noção de escrita, da medicina, da arquitetura, da religião, artes, ciências, etc. Também nessa mesma linha de estudo, podemos esmiuçar como a supremacia branca conseguiu reverter tudo isso em questão de poucos milênios e mais incisivamente depois do século XVI - modernidade, que levanta a ideia de desenvolvimento capitalista, industrialização, expansão e hegemonia cultural da Europa. 

Por que o inimigo se faz presente? A supremacia branca permanece com seu projeto de dominação muito bem estruturado e consolidado, processo que utilizou e utiliza atos violentos, extrema violência física por centenas de anos contra os povos africanos e não brancos. E para ser mais direto: Invasão, Colonização e Escravidão! Isso reflete talvez na maior destruição já vista neste planeta, brutalidade que gerou riqueza para os brancos e o inferno para os pretos. Culminando no maior assalto já presenciado na face da terra, pois os supremacistas brancos dispuseram de armamento pesado. Se fosse para eu descrever todos seus métodos utilizados eu me depararia com uma lista infindável de atos de terror. Que não é o caso, pois Malcolm X, por exemplo, fez isso muito bem neste livro e de forma sincera, verdadeira e radical. O que vale aqui é pontuar algumas reflexões desses quatro discursos do irmão X, que sintetizam seu pensamento no ano derradeiro de seu vinculo de liderança na Nação do Islã, em 1963. 

Agora, por mais que tenha sido combatido, o inimigo ainda se faz presente porque ele agiu em diversas frentes, se falamos a pouco de arma de destruição física, vale enfatizar da mesma maneira a arma de desmantelamento cultural. A arma cultural quando tem suas munições bem disparadas ela resguarda uma dominância de longa duração, pois age direto na mentalidade, nos costumes, nas religiões, nas relações sociais, linguísticas, no núcleo familiar, etc. Ocasionando, entre outras coisas, o encarceramento mental e o desvio espiritual. Ao estudarmos história, é bem comum encontrarmos fatos de dominações e ondas migratórias desde que mundo é mundo, mas jamais poderemos encontrar dominação de caráter tão genocida quanto essa perpetrada pelo mundo ocidental, pelo mundo branco, pelo mundo europeu! Contra o mundo africano. 

Agora, o que as pessoas pretas necessitam é primeiramente resgatar sua noção de povo. Para de forma consciente construir um projeto de nação independente, autônoma e separada das nações controladas pelo ocidente, visando a reestruturação e reorganização do povo africano no continente e na diáspora, e é aí que a importância da história entra em jogo. Mas também não pode ser qualquer história, não pode ser qualquer projeto. E é aí que se encontram outros desafios, que continuarão sendo enfrentados para que alcancemos a plena libertação da opressão e que possamos ter controle pleno sobre tudo o que tange a vida de nosso povo. 

Os países de passado colonial terão que ter conhecimentos profundos acerca dos povos colonizadores e escravistas, deve-se pesquisar atentamente o comportamento dos invasores, deve-se compreender quais foram os reais objetivos desses povos, qual a interação desses povos com o mundo: o natural e o humano. Deve-se esmiuçar o complexo desses povos, no caso o de superioridade e de universalizar seu modo de ser. Sendo assim, pode-se, de certa forma, chegar a como se ocorreu sua prevalência epistemológica. Chegando à visão critica do comportamento dos colonizadores fica desvendado o epistemicidio cometido em conjuntos de outras ações (violentas e não violentas) e a partir disso percebe-se que vozes foram silenciadas, que grandes feitos, descobertas, e avanços foram ‘pirateados’, e que, para além disto, grande parte do que foi produzido e contado historicamente, teve um viés do dominador, de tendência colonizadora. 

Então é preciso separar-se enquanto povo das garras do mundo europeu, do mundo branco! Separação física, mas também mental, espiritual, psicológica, epistemológica - auto nomeação, auto definição e atualização de nossa matriz cultural. E nesse ponto estamos por nossa própria conta, a responsabilidade recaí sobre nosso povo. É urgente que passemos da fase infantil, pois como o irmão Malcolm disse, ainda somos crianças para o homem branco! A partir do momento que os brancos precisam montar fábricas, escolas, negócios, governos para nosso povo e não conseguimos fazer isso por nós mesmos. Ainda somos crianças. “Porque uma criança é alguém que fica sentado e espera que seu pai faça por ele o que ele deveria fazer por si mesmo”. (sem deslegitimar as crianças, mas é verdade.) 

(...)Retomando o problema da História do negro no Brasil: que somos nós, pretos, humanamente? Podemos aceitar que nos estudem como seres primitivos? Como expressão artística da sociedade brasileira? Como classe social, confundida com todos os outros componentes da classe economicamente rebaixada, como querem muitos? Pergunto em termos de estudo. Podemos, ao ser estudados, ser confundidos com os nordestinos pobres? Com os brancos pobres? Com os índios?

Pode-se ainda confundir nossa vivência racial com a do povo judeu, porque ambos sofremos discriminação? Historicamente, creio não haver nenhuma semelhança entre os dois povos, mesmo se pensarmos em termos internacionais. Em termos de Brasil, nem em fantasia podemos pensar assim; o judeu no Brasil é um branco, antes de tudo judeu, isto é, poderoso como povo, graças ao auxilio mutuo que historicamente desenvolveram entre si.

Não será possível que tenhamos características próprias, não só em termos "culturais", sociais, mas humanos? Individuais? Creio que sim. Eu sou preta, penso e sinto assim.

(NASCIMENTO, Beatriz. Por uma história do homem negro. In: RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Instituto Kuanza, 2007). . 

A noção de povo é crucial para que possamos desenvolver um caminho rumo a liberdade e para que possamos ser um povo de Poder novamente. Separação é diferente de segregação, separação se dá por vontade própria, já a segregação por vontade alheia. Separação pode-se controlar seu território por si mesmo, a segregação o controle é estrangeiro. É viável o povo preto pensar na separação para consolidar sua união e liberdade, pois o futuro que o mundo branco nos reserva é de destruição, é de genocídio! Nesse ponto, mais uma vez, a ideia de Malcolm X continua atual. Toda a experiência histórica da chamada integração nos aponta isso. Genocídio! 

No Brasil não é diferente, a segregação existe e é exercida principalmente pelo poder econômico. Algumas manobras feitas desde o período da chamada abolição, restringiram o povo preto ao acesso (com base no fenótipo) à terra e ao trabalho, sem nem precisar de uma lei como Jim Crown. Mas nos resguardou a posição de cidadãos de segunda classe da mesma forma. Na parte cultural investiram no famigerado mito da democracia racial, de convivência em harmonia entre raças, colonização benevolente, onde na verdade cada um sabe seu lugar. E são manobras ousadas que só quem detém o Poder consegue incrustá-las tão facilmente. Um dos aspectos do processo de genocídio se exalta como um fato democrático: a miscigenação. E a história de Yacub, dita pelo Malcolm, não pode ser mais didática nesse sentido. 600 anos foram necessários para transformar o preto em branco. Hoje em dia quantas bisavós ou mesmo avós pretas não veriam ou veem seus netos ou bisnetos com pele clara? 

O advento da miscigenação a là brasil, por exemplo, não tem nada de democrático como muitas vezes possa parecer, pois direta ou indiretamente evidencia uma pessoa deslocada e sem orientação cultural e identitária buscando refugio em algum povo – de forma consciente ou inconsciente. E nunca será democrático uma ferramenta que foi utilizada politicamente para embranquecimento de um povo. E no caso do Brasil novamente, as primeiras interações inter-raciais foram feitas no período da escravidão. Chega de escravidão! 

Malcolm nos diz que vamos começar de forma pequena, mas em questão de tempo iremos nos elevar, a exemplo de um negócio próprio de um irmão que começou em um bairro e logo estava empregando dezenas de pessoas pretas. Então, comunidades com unidade se tornarão cidades, estados, Nações! E a cooperação entre diversas nações pretas no âmbito político, social, cultural e econômico se aproxima do Pan-Africanismo, unidade! Um só destino! A propósito, comunidade com unidade se inicia através da ligação de diversas organizações, coletivos, movimentos Pan-Africanos! Relações comunitárias! 

A agenda nesse caso é o que une essas organizações, baseadas em projetos autônomos de longa duração e para as gerações vindouras. Em adição, são Organizações que também não se abstém das ações necessárias no curto e médio prazo. Seja de assistência e apoio ao nosso povo, seja de apoio em cobranças, levantes, revoltas, atos inerentes ao nosso povo de forma consciente e organizada. Junto com os nossos irmãos e irmãs que vivem em favelas da diáspora africana ou com os irmãos e irmãs do continente que estejam em situação de refugiados. 

Ao priorizar a questão racial, nosso povo não assume uma posição sectária, pois o 'primeiro raça' não exclui outras pautas e questões que inclusive devemos discutir entre nosso povo, pelas nossas próprias referencias e definições. De pé, cabeça erguida e corpo ereto, pois o próprio irmão Malcolm disse que não devemos nos curvar já que não viemos das cavernas. 

Por fim, vale refletir essa característica tão africana no irmão Malcolm, a religiosidade. Somos um povo de espiritualidade e de crenças, assim, nesses discursos ele se posicionava pertencente a uma organização religiosa e de forma magistral conseguia emplacar sua posição política: o Nacionalismo Preto! 

Amandla Awethu! 

Carlos R. Rocha (Fuca) 

São Paulo, Junho de 2018


sábado, 9 de março de 2019

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Miguel Angelo (LIL X) - CEO na empresa W-BOX - GOLD. 
Posse Entre o Céu e o Inferno, Insurreição CGPP.

Vou continuar essa incursão na produção cientifica sobre o rap no contexto da cultura Hip Hop seguindo com a referência de KRS-ONE (Knowledge Reigns Supreme), a Realeza do Conhecimento Supremo pra mim. O Fuca (CEO do Insurreição CGPP), sentiu essa falta e eu fiquei muito sensível a demanda, então bora lá!

Eu sou um professor original, ponto final (KRS-ONE)

“Comecei a militar na escola contra o sistema público de educação, mas as horas vagas pertenciam as quadras de basquete” (KRS-ONE)

Nosso pioneiro de certa forma do gangsta rap do lado leste, hoje com 54 anos, lançou “The Gospel of Hip Hop: First Instrument” em 2009 e é a terceira obra (The Science of Rap é de 1995 e Ruminations - Welcome Rain de 2003) deste rapper que além do mais é também um filósofo de ponta nos EUA, um aclamado professor e palestrante (mais de 500 palestras registradas em diversas universidades norte-americanas), e, sem dúvidas, um dos maiores e mais importantes militantes da causa negra no universo conhecido. Considerada uma obra prima, o livro que segue o mesmo formato da bíblia tem nada menos que 800 páginas, se tornou um manual para os membros da cultura Hip Hop e chama atenção quanto a ousadia em apresentar uma abordagem epistemológica que dialoga muito original, amalgamando filosofia prática, espiritualidade (sua mãe o introduziu nos estudos em teologia ainda quando ele era uma criança) e experiência prática recontando a história do Hip Hop com a agência de quem viveu o movimento desde seu surgimento, preservar o futuro é a incumbência do movimento Hip Hop segundo KRS. KRS-ONE (nascido Lawrence Parker) conta a história do Hip Hop como quem conta sobre sua própria biografia a partir de sua adolescência sem lar pelas ruas do Brooklyn (NY), filho de um homem da Jamaica e de uma mulher afro-americana com mestrado em educação, as primeiras rimas que o levaram ao mainstream, e os estudos que em sua filosofia da “auto-criação”. A obra se enquadra na linha de pesquisa que busca identificar na cultura Hip Hop os elementos da transformação social; saúde, amor, consciência e riqueza são alguns dos valores e metas que KRS-ONE apresenta como partes integrantes da plataforma de transformação que o movimento Hip Hop construiu para a comunidade negra. Foram nada menos que 14 anos de pesquisa empírica no desenvolvimento da obra que, segundo seu autor, busca acima de tudo a paz, a autoconfiança e a verdade (num dialogo interessante com os princípios do MAAT e a escola filosófica de Pth em KMT). O jornal Guardian chamou KRS de “Apostolo do Hip Hop”, o próprio disse na matéria de setembro de 2009; “Daqui a 100 anos esse livro será a nova religião da Terra” (talvez em menos de um século eu diria), e prossegue; "Em cem anos, tudo o que estou dizendo para você será de conhecimento geral. As pessoas ficarão tipo 'Por que ele teve que explicar isso? Não era óbvio? No meu tempo, não é óbvio. “Sou o Hip Hop” é a proposta da obra, entenda bem “Nós” somos o Hip Hop, pois essa é a lógica do valor de autoconfiança a qual a obra remete. Em termos de espiritualidade KRS explica o Hip Hop como religião; "Eu respeito o cristianismo, o islamismo, o judaísmo, mas esse tempo acabou. Eu não tenho que passar por qualquer religião [ou] linha de pensamento. Eu posso me aproximar de Deus diretamente. Nós tínhamos passado por todas as religiões do mundo no momento em que eu ainda tinha doze anos de idade" Mas a proposta não é nada simples e realmente é ousada; “A proposta é definitivamente controversa porque eu também estou dizendo que estou disposto a desistir da minha identidade afro-americana para me tornar Hip hop. Muitas pessoas não gostam disso. Americanos negros podem ser "hiphop", mas também nigerianos, cubanos e italianos. Estou disposto a ir além da minha cultura nata para criar toda uma nova civilização."

“Quando sai de casa minha mãe me deu uma ordem; me tornar um artista de rap e estudar a filosofia metafísica” (KRS-ONE)

“Não sou um filósofo de terno e gravata ou tweed, sou daqueles que veio de baixo, que saiu do seminário das ruas” (KRS-ONE)

“Existe um momento na vida em que o ritualismo e o intelecto deve ser posto de lado para que possamos pegar as armas” (KRS-ONE)

KRS-ONE começou a carreira no Boogie Down Productions, que com Criminal Minded de 1986 basicamente fundou o gangsta rap na costa leste pela originalidade da lírica de conteúdo violento e de contestação social, o próprio Ice Cube afirma que Ice T e KRS-ONE são os primeiros. O Boogie Down Productions saiu de uma articulação com Scott Sterling, um assistente social que o auxiliava KRS no tempo em que este viveu em um abrigo para jovens. Sterling foi assassinado no Bronx um ano após o lançamento de Criminal Minded. Como ativista é importante lembrar do coletivo “Stop the Violence” ainda em 1988 que deste então reúne diversos membros da cultura hip hop em turnês pelos guetos dos EUA buscando soluções pacíficas para os conflitos existentes nas comunidades. As batalhas de rima foi justamente uma proposta do “Stop the Violence” para a redução da violência armada entre jovens negros; “Você pode matar com o poder das palavras, na batalha das ideias” disse o Professor KRS-ONE, mas ponderou; “O Mundo é violento, a realidade é violenta, e muitas vezes as pessoas se utilizam de violência contra mim, evidentemente que em situações assim eu posso reagir também com violência”. Nelly, Method Man, Busta Rhymes, The Game, Hakiem fazem parte do Stop the Violence. Na área da educação desenvolveu o projeto HEAL (Educação Humana Contra Mentiras) em 1990 que se articula com o álbum Civilization vs. Technology do mesmo ano (o objetivo cumprido deste álbum foi arrecadar dinheiro para fazer 16 milhões de cópias em fitas cassetes com a gravação de uma de suas palestras na Universidade de Stanford). Na sua longeva carreira como rapper KRS-ONE tem 19 álbuns no catálogo, 3 de ouro com mais de 500 mil cópias vendidas, fora as incontáveis participações colaborativas.

“Eu não faço parte do entretenimento, eu sou o edutain-KRS-One- entertaining "!

“A lei das ruas é a única lei que eu realmente respeito.” KRS-One

Vou fechar essa nota com a entrevista/debate de/com KRS na matéria “O Professor Pode ser Ensinado?” em colaboração com Michael Lipscomb, o artigo foi publicado pela editora da Universidade de Indiana e é produto do Centro de Pesquisa Hutchins para africanos e afro-americanos da Universidade de Harvard.

Michael Lipscomb:
É óbvio que a história é importante para você. A história é como a auto-estima para você. Mas me parece que você deposita a história na política, e isso nem sempre pode funcionar. Por que usar a história como ferramenta política?

KRS-One:
Porque é distorcendo a história que muitas pessoas se tornam poderosas. Então, nitidamente a história é uma ferramenta política. É o tecido de nossas vidas. Sua cultura, e você mesmo.

ML: Mas há muitas maneiras de olhar América. Existem alguns que digamos, e eu sou um deles, que veem a América, em aspectos importantes, uma experiência cultural africana. O que é irônico é que quando um branco de classe média quer ser considerado culto, ele ou ela vai para essa análise.

KRS: Certo.

ML: O que, de certo modo, contradiz o que você está dizendo. O domínio político não é correspondido pelo domínio cultural. Como você acha que a política se relaciona com conhecimento cultural e como se pode usar conhecimento cultural como uma maneira edificante de auto estima?

KRS:
Temos que olhar para a nossa história. Para entender a natureza da fera você tem que entender sua história. Esta cultura americana não é de todo como a cultura africana. Isto é a cultura africana depois de ter nos enlouquecido. Esta é a cultura africana depois de ter sido assassinada, roubada, espancada. Antes do colonialismo nossa história é rica, desenvolvemos nossa própria civilização que teve sua própria cultura. Eles se vestiram, agiram, falei, fiz tudo de forma totalmente diferente. Eu uso a história como uma ferramenta política para rastrear como as pessoas chegaram ao poder. Eles não derrubaram a África por causa da cor, do preconceito. Foi economia - e foi também uma questão de poder. Agora, o que é o indivíduo sem a cultura?

ML: A cultura africana?

KRS: A cultura correta. O indivíduo faz parte das massas. As massas vêm primeiro e o indivíduo vem por último. Na América, o indivíduo vem em primeiro lugar e as massas vêm por último. Se massas vierem antes do indivíduo é a cultura que virá antes do indivíduo. Você faz parte de uma multiplicidade de pessoas que aprenderam e lutaram por anos e no fim a luta é sua cultura. Isso é o que te dá conteúdo. Isso é o que faz de você o africano, o asiático, o Japonês: Você é o que sua cultura lhe ensinou a ser, como você age e inclusive o que vc pensa de uma certa maneira. Quando essa cultura é despojada de você, você é deixado sem nada. Você é como um copo vazio. E as pessoas podem derramar qualquer coisa que quiserem em vc.

ML:
Eu fiquei surpreso, aliás, que W. E. B. Du Bois estava ausente da lista de leitura que você propaga, porque ele é muito importante para lidar com isso. Eu duvido que fomos totalmente despojados nossa cultura. Olhe para a história americana em meados do século XIX, em escritores como Emerson e Thoreau. Eles estavam preocupados com a ideia de Europa e a tarefa de sair debaixo de uma noção da antiguidade europeia, para que pudessem forjar outra identidade cultural. Teve uma profunda ambivalência nesta questão. Ao mesmo tempo, nas regiões do sul os aristocratas enviaram seus filhos para a Europa para "cultura". Então, nesse sentido, éramos os únicos americanos verdadeiros, porque nós tínhamos crescido aqui. Nós tivemos que lidar com essa realidade.

KRS: Não necessariamente. Eu sinto como se a América nem existe. Os únicos verdadeiros americanos são os índios americanos e eles não chamam esse lugar de América. Assim, o que é a América?

ML: América é a sombra; eu penso isso, imagino que é o que você está tentando dizer. Para muitos, a América é uma espécie de Europa bastarda. É provável que muitos europeus tenham perpetuado essa noção. Os negros fizeram a América. Como James Baldwin costumava dizer, "somos Americanos porque não sabemos nada". Por outro lado, temos formações culturais complexas como o jazz, que não é música africana ...

KRS: Jazz é música africana.

ML: Tem elementos africanos como polirritmia ....

KRS: Qualquer coisa criada por um homem negro é africana. As pessoas dividem as coisas ferrenhamente em decorrência da maneira como fomos ensinados. Nós fomos mortos mentalmente. Se um gato tinha gatinhos no forno, você vai chamá-los de muffins?

ML: Eu acho que lidar com a África e com as pessoas, sempre vai ser um pouco mais complicado que isso. Apesar de tudo, a África é uma formação profundamente heterogênea múltiplas de culturas e grupos étnicos. A cultura iorubá é distinta da cultura ibo e ambos são distintos da cultura Hausa, e elas não coexistem exatamente em harmonia perfeita. É como a Europa: lá não existe uma quantidade substancial de unidade coesa, eles tiveram duas guerras mundiais que atestam isso.

KRS: Mesmo assim, o título afro-americano é um título falso. É um título de escravo. Qualquer coisa ligada à americano é o equivalente a deixar cair a bomba em Hiroshima na história da escravidão e na história da aniquilação dos indígenas. ..

ML: Estamos falando de dois diferentes tipos de América. Eu concordarei que há todo um segmento da América que está atada a uma concepção europeia de socialismo. Mas na África, vê-se mesma coisa. Abaixo do vigésimo paralelo há mais do que um punhado de nações que tem ditaduras negras e cuja os cidadãos não podem votar.

KRS: Bem, isso é hoje, depois do neoliberalismo. A África na sua história antiga, antes da invasão da Pérsia, da Grécia e Roma, era economicamente, psicologicamente e tecnologicamente estável; racialmente e culturalmente era um lugar estável para se estar.

ML: Ainda havia luta, ainda havia conflitos, havia ainda a expansão e contração dos impérios indígenas.

KRS: Não, não antes da invasão de Grécia e Roma.

ML: Essa é uma conjectura duvidosa

KRS: Na verdade, a razão pela qual eles foram derrotados é porque eles não tinham as armas sofisticadas que Roma, Grécia e Pérsia tinham quando o Egito foi invadido. A África não evoluiu para esse estágio de tecnologia porque tinha alcançado um estágio de civilização que foi afastando-se disso. Claramente, nosso tempo e dinheiro estavam indo para a educação e conhecimento. É quando eu encontro o declínio do povo africano: quando eles foram introduzidos na Europa. Na verdade, toda essa corrida para nos introduzir na Europa só fez nos destruir.

ML: Eu acho que isso é simplesmente superstição. Até mesmo o Chanceler Williams, que escreveu "A destruição da civilização negra", afirmou que, entre suas principais fontes utilizou Heródoto, "o pai da história", que foi alguém que admirava a África. Ele teve que se passar por "escravizado", a fim de obter a história sobre África. O que ele fez foi apenas pegar, através de várias fontes, as imagens boas sobre a África em meio o que havia de ruim sobre a África. Então ele simplesmente realizou uma seleção; justamente o que os brancos fizerem, mas dando ênfase em suas dimensões negativas. Você cria uma história oficial e depois começa a construir uma cultura teórica em torno disso, enfatizando qualquer coisa que suporte sua história e deixando de falar do restante. O perigo é que muito dos rappers podem cair em uma contraficção com outra história oficial e acabam fazendo exatamente o que eles condenam os europeus por terem feito.

KRS: Eu estou atentando sempre para não fazer. Toda minha história vem de um ponto de vista lógico, realmente não é ponto de vista histórico. Se você for a uma outra terra e saqueia, estupra e mata povos mentalmente e fisicamente - para o seu próprio benefício, você é um assassino e um ladrão.

ML: Você está dizendo que os africanos nunca fizeram isso?

KRS: A cultura egípcia fez isso constantemente. Sim, há muita culpa na cultura africana, mas a cultura africana, ao contrário da cultura europeia, estava muito longe deste universo. Nós estávamos passando por um estágio do que realmente podemos chamar de capitalismo. Na televisão, eles mostram isso como escravidão, mas em seu sentido político era capitalismo. O Egito estava avançando e evoluindo em um estado de harmonia universal ou de unidade -porque os africanos viajaram o mundo. Em qualquer lugar do mundo, se você queria aprender, você tinha que ir até o Egito.

ML: Mas eu até questiono toda essa ideia do Egito como berço cultural. A historiografia ainda está evoluindo. Há historiadores brancos importantes que defendem o Egito como berço cultural. Você leu o "Athenas Negra" de Martin Bernal?

KRS: Sim.

ML: Ele traça as questões culturais em parte através do desenvolvimento da língua grega. E o que você encontra em grego é algo com ambas influências níticas e semíticas. E tem havido uma quantidade crescente de pesquisas arqueológicas sobre as antigas civilizações enterradas sob o Sudão. Então eu estou desconfortável com esta ideia predominante que retrata o Egito como único farol da iluminação da África.

KRS: Eu dou ênfase no Egito porque foi um dos principais locais de aprendizagem. Este foi o primeiro lugar que a Grécia atacou: foi provavelmente uma das mais populosas áreas para os estudiosos. Mas a África como um todo fez parte de um grande desenvolvimento do aprendizado. Meu ponto, voltando para ele como ferramenta política, é que a subjugação dos outros é a forma como as pessoas ganham seu poder político, e eles fizeram isso tirando nossa história. Conhecimento é por saber, uma coleção de fatos; a inteligência é a capacidade de conhecer, avaliar e questionar. Obviamente, se alguém está lhe dando conhecimento, e você não tem a inteligência para assimilar isso, você é basicamente um escravo para a pessoa que lhe deu o seu conhecimento. Eles ditam como eles querem a forma como vc deve ser e agir. O que aconteceu é que o africano tem sido despojado não de conhecimento, não de suas datas, fatos e números, mas de sua inteligência, de sua capacidade de avaliar o que está sendo arrebatado ao seu redor

ML: Afro-americanos são frequentemente uma fotografia confusa, mais ou menos libertos de suas contrapartes africanas. Muitos Afro-americanos tomaram parte de movimentos modernos. Marcus Garvey não pôde iniciar seu movimento na Jamaica. Ele tinha que vir para a América. Interessantemente seu herói era Booker T. Washington. Então, o que eu vejo são diferentes níveis de Africanidade. Onde você está posicionado em relação a isto? Parte do que traz sua música é a variedade de sons de reggae que você emprega. Como Bob Marley, você joga reggae em uma tradição do rock.

KRS: Meu pai é jamaicano. Minha mãe é americana. . . eu sou nascido na América. Denuncio essa ideia de identidade americana.

ML: Eu acho que isso tem muito a ver com o fato de que os índios negros do oeste nunca foram capazes de aceitar o fato de que os negros são uma minoria na América. Você lida com isso em uma de suas próprias músicas. Mas você não acha interessante que Jamaicanos fujam da ilha onde são a maioria tão rapidamente quanto os cubanos brancos fugiram de Castro?

KRS: Bem, a razão é a desgraçada pobreza que existe lá. Todo mundo está perseguindo os itens materiais. Jamaicanos não são diferentes. Eles querem uma casa, um carro, uma garota ou um homem. A América é apresentada a eles na televisão como sendo a terra onde as ruas são pavimentadas com ouro. Então naturalmente eles deixam sua terra pobre para vir para a América. Eu só acho que todos os africanos sobre o mundo deveriam ser africanos, chamar si e reconhecer-se como africanos. Assim como os italianos se reconhecem como italianos.

ML: Por quê? A América é um fenômeno diferente comparado a Itália.

KRS: Mas a América não existe.

ML: Sim, isso acontece: na verdade, o norte Americano criou uma cultura que é distinta do que podemos ver em qualquer região da Itália. Historicamente, as pessoas quem vem aqui porque querem fugir de sua terra natal, por várias razões, filhos, como você disse, e muitas vezes motivados pela perspectiva de novas oportunidades. Mas talvez eles simplesmente queriam fugir. Para começar de novo.

KRS: Certo.

ML: Frequentemente eles estavam interessados em manter sua cultura, seus laços com uma existência mais antiga. Isso é o que D. H. Lawrence pode ter tido em mente quando disse que a América é uma Europa recriada. Mas parte do que é básico e distintivo para a cultura é a experiência da escravidão, o drama interracial, James Baldwin fala que se criou não só um novo tipo de homem negro, mas um novo tipo de homem branco também. Por esse raciocínio, então, quem pode dizer que os americanos negros não são americanos, eu posso?

KRS: Se negros americanos fossem americanos, nós não teríamos vindo para cá em navios negreiros.

ML: Você está negando a realidade da transição. Ela está aqui.

KRS: É como chegamos aqui. Todo o mundo mais veio aqui procurando uma maneira melhor da vida. Os africanos vieram algemados. Nós não pedimos para vir para cá. Então agora que estamos aqui e você se adapta e gera filhos que cresceram aqui na América, nós rapidamente somos chamados de americanos. Quando, na verdade, a América é o que tem nos matado por quinhentos anos.

ML: Por outro lado, nós estamos construindo a América por quinhentos anos.

KRS: Com base na força do opressor

ML: Legalmente, estamos na América. E há a décima terceira, décima quarta e a décima quinta emenda do nosso lado. Desde a 1865, fomos tomados como parte da Política americana.

KRS: Olhe para a Proclamação de Emancipação. Diz que a partir de janeiro, 1 de janeiro de 1863, todas as pessoas mantidas dentro de um estado ou parte de um estado em rebelião armada era livre. Os estados que estavam em rebelião armada eram estados confederados. Os estados do norte não tinham rebeldes armados em rebelião. Em última análise, Lincoln enganou as pessoas africanas ao fazerem-nas acreditar que elas seriam beneficiadas quando na verdade tudo fazia parte de um acordo com todas as pessoas tidas como escravos dentro de um estado que estava em rebelião armada. Então todos os estados do sul, todos os escravos do Sul estavam livres quando, na verdade, lá era um governo totalmente diferente. O Norte tinha escravos.

sábado, 24 de novembro de 2018

CLIPE: O Cenário Ainda é o Mesmo - Insurreição CGPP


Música: O Cenário Ainda é o Mesmo
Artista: Insurreição CGPP
Gravação e Vídeo: Marcos Favela

Letra:

Começa assim em meio ao sonho de criança.
As vezes dor, rejeição e agonia.
História pobre diferente da bonança, negada de esperança.
É dor vivida, relatos dos dia a dia

De um cara humilde longe da família
De uma mulher presa por tráfico
De tudo hoje que permeia nossa vida, um jovem cheio de ira
Ou levando um fim trágico

Ou dos barracos descendo todo morro
Ou suas coisas boiando num riacho
Os filhos na rua implorando por socorro
Levando uns esporro tomando esculacho

Meu semelhante afundado no cachimbo
Meu conterrâneo que tá desempregado
A carteira de trabalho sem carimbo, a mãe vai sucumbindo
pivete viciado.

A depressão que domina varias mentes
A válvula é bote, coca e cerveja
alimento de falsa semente, nos fazem de demente
agrotóxico tá na mesa.

Sem o direito de saber ler e escrever
sem questionar o estereótipo da tv
Mais um adulto analfabeto funcional
Sem entender o fmi o banco mundial

Pausa:
Quais medidas pra reduzir desigualdades?
Que saída contra desumanidade?
Opressor tem o poder e sem renuncia
Qual o valor real dessas denúncias?

Realidade que não se varre pra debaixo do tapete
Mais um se foi sem homenagem dos cadete
Varias disputas e nossos corpos entre tiros
Como aceitar esses velórios coletivos?

Parte2:
Corra!!! Que vem vindo o rapa ali atrás
O medo constante, perder mercadoria
Refugiados trampando no Brás
Batalham duro por uma melhoria

Porra!! me diz se um dia existiu a paz?
Se o progresso é aliado a guerra
Me responda isso se for capaz
Sem teto, sem chão, sem grana, sem terra

Vão dizer, que sigo mais do mesmo
Cegamente batendo na mesma tecla
Aqui pm ainda atira a esmo, já sabem o segredo.
Capuz motocicleta

Ou manos se matando no sistema
Ou se doença sai morte natural
Privatizar agora é o esquema, de massa um problema.
Lucrar com grade ou funeral

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Participação no encerramento da 4º Semana de Hip Hop em Jundiapéba - 17/11/2018

Participação no encerramento da 4º Semana de Hip Hop em Jundiapéba - 17/11/2018

[Participação voluntária em fortalecimento ao mano Celso Poeta Xavier-ACENA]
 
Insurreição CGPP - Fuca

Músicas: 
1- Intro (álbum vol.1)
2- Pesadelo do Sistema - participação do Marcos Favela
3- Desde Criança  
4- Estou de Luto.






sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Clipe: Pesadelo do Sistema - Marcos Favela + Insurreição CGPP



Fuca – letra:

Pesadelo do Sistema caneta pesada não vou abandonar
Fuca Insurreição , chega mais Marcos Favela
Sem trégua nos trampo de base, debate, na formação
Comendo pelas beiradas em outra geração: Revolução
Então, vamos lá, mãos a obra no RAP
Descolonizando os versos que outrora me libertou
Os livros como escudo, as palavras de Malcolm (hou)
A luta consciente é por isso que aqui estou
Passando minha mensagem, exemplo e atitude
Viver após a morte a minha pretitude
Respeito aos que lutaram antes
Meus ancestrais tão orgulhosos e nunca estão distantes
Até poderia romantizar minha obra,
mas o alvo principal das balas é pele preta
Ser indireto pra gerar as massas de manobra
Governo genocida, da esquerda à direita!
Derrubar quem tá no poder
O Favela deu a letra: Morte ao Estado
Nenhum partido pra nos foder
Se é anticapitalismo, estamos lado a lado
Pra politizar os brutais acontecidos
Tudo que nos assola feito uma praga
Seja Amarildo ou Davi desaparecidos
Ou as prisões injustas de Rafael Braga
Vejo o trabalhador sempre precarizado
o acumulo absurdo nos paraísos fiscais
Mas eis que surge um povo politizado
Por outro lado, distante o caminho da paz!

Marcos Favela – letra:

Já não posso mais sair nas ruas
Sem tropeçar em viatura
Já não posso mais andar tranquilo
Posso até levar um tiro
Eles vêm na sede pra matar
Se não matar, eles vão querer prender
Eles vêm na sede pra forjar
Kit flagrante só pra nos foder
Eles vêm na caça de quem tá na quebra
na boa, naquela com manos, família que não deixa goela
o baguiu tá foda, esses vermes ramela
Arrasta o role e tira nossa paz
Faz a mãe sofrer mais um filho aqui jaz
O mais foda é que esses vermes
Tem aval do próprio Estado
Falta pouco pra esse RAP
De terrorista ser taxado
A lei protege os machistas,
os fascistas e os racistas
Falta pouco pros nazistas,
também estarem nessa lista
Eu sei que de forma indireta a lei já protege
Esses verme na terra, por isso é regra é tiro na testa
Vai! Vai!
Justiça, esse é nosso lema
Nos tornamos pesadelo do sistema!!!

domingo, 7 de outubro de 2018

Insurreição CGPP (Álbum 2018)

Formado na periferia de São Paulo, o Insurreição CGPP, traz de forma rimada um cotidiano de luta contra as opressões que ainda insistem em existir. Após quatro de anos gravando de forma independente e intermitente, o grupo disponibiliza, enfim, seu primeiro álbum. Que representa a revolta contra as desigualdades sociais, econômicas e raciais que pairam o nosso cotidiano. Os estúdios das quebradas permitiram que esta etapa fosse alcançada. Confiram!


Contando com faixas gravadas entre 2014 e 2018, de forma autônoma, independente e radical, fica disponibilizado um conjunto de ideias rimadas que representa um pouco do desdobramento do cotidiano de luta. Batalha travada nos quatro cantos da cidade e região metropolitana de São Paulo, onde a ilusão do pequeno progresso imaginário do acesso ao consumo material não brecou o cotidiano violento e a falta de estrutura. Pelo contrario, o projeto da supremacia branca da camada mais rica e suas diversas elites visa nossa destruição nessa nação ingrata chamada Brasil. Se muitas vezes é tratado o eixo sp/rj sabe-se que o restante do país sangra da mesma maneira conforme as pautas que travamos. Quando não nos matamos, o Estado mostra que detêm o poder letal. Então os insurretos gritam e clamam levante!

A arte pela arte é surda é muda, risada pela risada é alienação é comodismo. Entre os erros e acertos fica a autenticidade desse trampo. A indignação, a revolta, a denúncia.

Fuca - Insurreição CGPP


contato: email- spqvcnaove@gmail.com










quarta-feira, 15 de março de 2017

INSURREIÇÃO

Esta postagem conta com trechos de dois livros, um de Clóvis Moura e outro de Décio Freitas, tratando das Insurreições de Escravizados e suas penas no Código Criminal do Império no Brasil.

Insurreição. 
Em consequência das sucessivas revoltas de cativos, o governo criou e inseriu, no Código Criminal do Império, a figura jurídica da "insurreição", para abranger delitos praticados especificamente por escravos. Com isso, estabelecia-se uma diferença jurídica entre delitos praticados por escravos e aqueles perpetrados por homem livres. As revoltas desses últimos "contra a segurança interna do Império e pública tranquilidade" denominavam-se conspiração e rebelião. Abaixo são transcritos os principais artigos:

Capitulo IV - Insurreição
Art. 113. Julgar-se-à cometido este crime, reunindo-se vinte ou mais escravos para haverem a liberdade por meio da força. Penas aos cabeças, de morte no grau máximo, de galés perpetuas no médio e por quinze anos no mínimo; aos mais, açoites. 
Ao criminosos autores: máximo - morte: médio - galés perpetuas; minimo - QUINZE anos de galés.
Ao criminosos por tentativa: máximo - galés perpetuas; médio - galés por vinte anos; mínimo - galés por dez anos.
Aos criminosos por cumplicidade de tentativa: máximo - vinte anos de galés; médio - treze anos e quatro meses, idem; minimo - seis anos e oito meses, idem.

Art. 114. Se os cabeças da insurreição forem pessoas livres, incorrerão nas mesmas penas impostas no artigo antecedente aos cabeças, quando são escravos.

Art. 115. Ajudar, excitar, aconselhar escravos a insurgir-se, fornecendo -lhes armas munições ou outros meios para o mesmo fim. Penas: de prisão com trabalho por vinte anos no grau máximo, por doze no médio e por oito no minimo. 
Aos criminosos: máximo - vinte anos de prisão com trabalho; médio - doze anos, idem; minimo - oito anos, idem.
Se não houver casa de correção: máximo - 23 anos e quatro meses de prisão simples; médio - Catorze anos, idem; minimo - nove anos e quatros meses, idem.
Aos criminosos por tentativa: máximo - treze anos e quatro meses de prisão com trabalho; médio - oito anos, idem; minimo - cinco anos e quatro meses, idem.
Se não houver casa de correção: máximo - 15 anos, seis meses e vinte dias de prisão simples; médio - nove anos e quatro meses, idem; minimo - seis e quatro meses, idem.

Como vemos, para as tentativas de mudança social e politica idealizadas pelos brancos livres a figura jurídica era uma, para os negros escravos era outra, com penas muito mais severas.

Moura, Clovis
Dicionário da Escravidão Negra no Brasil - Clovis Moura; editora da Universidade de São Paulo, 2013




O Código Criminal do império, promulgado pouco depois, em dezembro de 1830, preocupou-se em reprimir duramente as insurreição escravas. O preceito colonial que punia essas insurreições com a pena de morte foi mantido, ao mesmo tempo que o abolia quando a insurreição fosse de pessoas livres. A discriminação ilustra dramaticamente o conteúdo de classe da independência. Os senhores de escravos se reservaram o direito à insurreição, sem o risco de sofrerem a condenação de morte. No entanto, não teriam misericórdia quando os insurretos fossem os seus escravos. A discriminação se manifestava até mesmo na denominação dada ao crime. Quando se tratasse de pessoal livres, chamava-se "conspiração", "rebeldia" ou "sedição". Tratando-se de escravos, recebia o nome de "insurreição". Ambos os delitos, contudo, figuravam no mesmo capítulo, o dos "crimes contra a segurança interna do império e pública tranquilidade".

O Código julgava cometido o crime de insurreição "reunindo-se vinte ou mais escravos para haverem a liberdade por meio da força". Aos cabeças aplicava-se a pena de morte ou galés. Consistiam estas em andarem os réus com calceta no pé e corrente de ferro, juntos ou separados, e a trabalharem em obras públicas. Os demais escravos que houvessem participado do movimento, seriam punidos com açoites, à razão de cinquenta por dia. A simples tentativa seria punida com galés perpétuas. A pessoa livre não estava sujeita à pena de morte se pegasse em armas contra o governo, mas não se livraria dela se, de qualquer modo, participasse de uma revolta escrava. A pessoa livre se sujeitaria, ainda, a trabalhos forçados por vinte anos, se ajudasse ou aconselhasse escravos a se insurgirem, fornecendo-lhes armas, munições ou outros meios para o fim...


A Revolução dos Malês - Décio Freitas pag.66 e 67


sábado, 22 de novembro de 2014

Insurreição CGPP - Voz de Mãe


Letra
Meu nome é Maria eis aqui minha palavra
meu corpo agora treme e meu coração trava
Peço por favor não repare se eu chorar
Lágrima vem pesada é difícil segurar
Quem tava no meu colo e dormia do meu lado
Hoje vi dormindo cheio de furo e costurado
com um ente assinei o caixão pra sepultar
e já me perguntou como eu iria lhe pagar. 
momento tão difícil eu me sinto mais sozinha
Não consegui vencer sendo ajudante de cozinha
Pra ver meu único filho aos 15 anos morto
Devia seguir o safado que decretou o seu aborto
Não o vi jogando bola, nem fui na sua reunião
estava servindo mesa ouvindo merda do patrão
Na fila do busão uma mãe negra que chora
as 04:15 da manhã os passageiro me consola

(refrão) Quero o meu filho de volta
Me ajude
Quero o meu filho de volta
Me escute
Quero o meu filho de volta
Mas não volta, ele foi julgado e morto pela rota

é só quem é mãe sabe mesmo como dói
não o verme que matou meu filho, faz quadrinho de herói
que na delegacia me viu sem rumo, deu risada
ah como eu queria matar o porco na facada
minha vida vale menos é o que tá comprovado
vejo tanta gente mas ninguém tá do meu lado
vieram me falar que deus ele é fiel
mas queriam que eu doasse o dinheiro do aluguel
Olho seu lado da cama me bate um desespero
o sonho não existe a vida é o pesadelo
abraço o travesseiro e fico a pensar
não pude dá o melhor e ele foi roubar
Momento desgostoso a saudade mais aperta
na euforia da noticia no cidade alerta
Tô ficando louca o que fizeram com minha vida
o patrão me viu chorando e hoje eu fui demitida.

(refrão) Quero o meu filho de volta
Me ajude
Quero o meu filho de volta
Me escute
Quero o meu filho de volta

Mas não volta ele foi julgado e morto pela rota