segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Um Grão de Trigo - Ngugi wa Thiong'o - breve nota

"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. - João 12,24
(versículo sublinhado em preto na Bíblia de Kihika)"

Kihika, um grande combatente nas lutas pela Independência do Quênia nos fins dos anos 50. Nome proeminente no caminho da conquista da Uhuhu sofreu uma emboscada e foi assassinado. Mas quem teria sido o traidor? O autor perpassa de forma literária o difícil processo de libertação anticolonial, são vários personagens alocados a maioria em aldeias ou em posição de guerra na floresta, e os brancos comandando em suas grandes casas. Eis que chega então o dia tão esperado da comemoração e consolidação da Uhuru com todas as suas expectativas, medos, traições, surpresas e honrarias. Vale a pena mergulhar nesse cenário queniano através desses escritos de Ngugo wa Thiong'o publicado originalmente em 1967.

"Ngugi wa Thiong'o nasceu em Limuru, Quênia, em 1938. É romancista, ensaista, dramaturgo e um dos principais escritores e estudiosos africanos em atividade. Seu primeiro romance, Weep Not, Child, foi publicado em 1964, enquanto estudava na Inglaterra. Em 1977, ele escreveu uma peça teatral que contrariou o governo do Quênia e acabou preso por mais de um ano pelo regime ditatorial.
Um grão de trigo (1967) é o seu terceiro romance. As obras posteriores incluem Petals of Blood (1977), Wizard of the Crow (2006) e uma trilogia de memórias. Vive atualmente nos Estados Unidos, onde é membro da American Academy of Arts and Letters e professor da Unidade da Califórnia, em Irvine."



Fuca CGPP

sábado, 19 de janeiro de 2019

As Andorinhas, Paulina Chiziane – breve nota

As Andorinhas, Paulina Chiziane – breve nota 


Com uma narrativa literária de luta, ler o livro “As Andorinhas” vem como se estivesse ouvindo as histórias e ensinamentos de uma mais velha numa conversa frente a frente. Contendo três contos que abordam cada qual a sua maneira a caça ou a liberdade das andorinhas. No primeiro conto, ”Quem Manda Aqui?”, um imperador gordo, arrogante e ditador resolve querer silenciar as andorinhas e acaba desguarnecido e sofre a invasão dos brancos. No segundo, “Maundlane, O Criador”, trata de uma grande história e vários ensinamentos ao relatar a trajetória de um exímio guerrilheiro. E por fim, conta-se a história de “Mutola” utilizando o causo da águia e da galinha. Assim essa excelente escritora nos aproxima das vivências de libertação Moçambicana, e é evidente a valorização da importância feminina em suas narrativas, por vezes, a mulher é a grande sábia, é a que detém o controle familiar, e útero é sempre bom adjetivo. Um livro fino, de 125 páginas, então não há desculpas para não lê-lo, e fica a indicação! Pra se mergulhar cada vez mais na literatura africana!



Fuca - 2019


Infos no livro: 

“A escritora Chope, filha de um alfaiate e de uma camponesa dona de casa, usa o seu poder de contadora de histórias para partilhar o percurso de três personalidades, desafiando o leitor com um debate sobre o passado e o presente de Moçambique.”

"Pauline Chiziane nasceu em Manjacaze (Moçambique) em 1955. É reconhecida como a primeira mulher moçambicana a escrever um romance. Internacionalmente, revela-se como uma das mais renomadas escritoras africanas e a maior romancista negra dos países de lingua portuguesa. É constantemente convidada para conferências de arte, direitos humanos e literatura em diferentes países.
Em reconhecimento ao seu trabalho militante pela justiça e igualdade, foi nomeada, pelo One Thousand Peace Women (Movimento Internacional de Paz), uma das mil mulheres pacificas do mundo, além de indicada ao Prêmio Nobel da Paz (2005)."


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

História da África, José Rivair Macedo – Breve Nota

História da África, José Rivair Macedo – Breve Nota

Com o objetivo de suprir cada vez mais a carência de um estudo mais apurado sobre a história e trajetória africana, driblando os estereótipos, preconceitos e perspectivas enviesadas, este livro desvela um conjunto panorâmico de material didático sobre o continente africano.

O conteúdo contido no livro perpassa uma história africana seguimentada desde a pré-história, as primeiras civilizações e impérios, islamização, cristianismo, escravidão, colonialismo, até a descolonização e o tempo presente.

No capítulo 1 o autor descreve as formas geológicas do continente, como e onde os minerais estão alocados, remonta ao período da pangeia e argumenta o porquê da África ter sido o local da primeira evolução humana, a hominização. Se por volta de 150 milhões passaram os dinossauros, há cerca de 70 milhões de anos surgiram os primeiros mamíferos. Já há 12 milhões de anos os primatas, Autralopithecus, homo habilis viveu por volta de 1,5 milhão de ano atrás. Depois veio o período Paleolítico (Idade da Pedra Lascada), o período Mesolítico (15 a 12 mil anos), e o Neolítico. Desertificação e Civilização Nok.

Com o argumento de que no Brasil se tem uma imagem única do continente africano, o autor visa discorrer através das diversidades entre regiões, e mesmo que em cada região habitem povos diferentes entre si, se aposta numa similaridade no conjunto de vivência.

No segundo capitulo é retratada a história do Norte da África, a civilização egípcia, os povos da Núbia e do Indico e mais em direção ao centro-sul, perpassa brevemente pelas cidades Suaíli. Já no terceiro capitulo será tratado o eixo transaariano, que agora se apresenta um ambiente desértico e de savana abarcando todo o desenvolvimento de grupos humanos a viverem num meio inóspito. Neste capítulo trata muito mais da consolidação islâmica na história da África, e se atem, também, na descrição de alguns dos grandes impérios, tais como Mali e Songai.

O Mundo Atlântico, capitulo 4, é relatado como se deu as mudanças devido à influência europeia desde o período do século XVI, envolve descrições sobre a região de Senegal e Golfo da Guiné, de Gana, do Congo e Angola, e da África do Sul. Onde se mostra sobre as formas de governo bem hierarquizadas, além de uma crescente tendência a militarização a partir do contato e presença europeia.

Os próximos capítulos têm por objetivo fazer uma avaliação histórica sobre algumas implicações do tráfico de escravizados, e da condição colonial.

No último capitulo, portanto, o autor traz informações sobre os movimentos de descolonização e independência de vários países no continente africano, é neste momento apenas que se confere, no livro, certa unidade enquanto continente, também a influência dos pensamentos e ações da diáspora africana. Ao distinguir entre independência conquistada e independência concedida, se passa também ao estilo político adotado nos Estados pós-coloniais, o que Kwame Nkrumah conceitua como Neocolonialismo, pois se mantêm arraigadas as influências das antigas metrópoles nesses Estados.

“Assim, embora nominalmente independentes, estes países continuam a viver na relação clássica da colônia com seu “patrão” metropolitano, isto é, a produzir matérias-primas e a servir-lhes de mercado exclusivo. A única diferença é que agora essa relação está encoberta por uma aparência de ajuda e solicitude, uma das formas mais subtis do neocolonialismo. Como a França considera que só se poderá desenvolver perpetuando a sua relação atual com os países subdesenvolvidos que se mantêm na sua orbita, isto significa que o fosso entre aquela e estes se irá alargando. Para que este possa vir a ser diminuído, ou mesmo anulado, será necessário renunciar completamente à atual relação de patrão cliente” (p.166) 

Enfim, o enfoque do autor foi de colocar o continente africano como detentor de sua própria história e produtor de suas próprias formas materiais de existência, principalmente antes das invasões. Lógico, como mencionado no inicio, tudo de forma panorâmica e deixa muitas outras questões e abordagens de fora, mas que serve como resumo base para o ensino didático nas escolas. Além de conter sugestões de leituras e videos para maior aprofundamento na questão.

Fuca - 2019


sábado, 5 de janeiro de 2019

Planeta Favela, Mike Davis – Breve nota


Planeta Favela, Mike Davis – Breve nota

  Planeta Favela é um livro que evidencia a degradação humana nos espaços favelizados que operam como lugares de reprodução da pobreza. A denúncia é contundente e visa abarcar os fatos mais concretos do que se prender em conceitos, quebra de paradigmas ou até mesmo desenvolver hipóteses, conceitos ou teorias que possam reverter o quadro desastroso da favelização mundial. A ênfase, na verdade, se atem nos países do Terceiro Mundo que sofrem toda carga que se precisa ter para alimentar a ideologia liberal dos países capitalistas desenvolvidos.

  O conteúdo é tão critico que se torna difícil enxergar luz no fim do túnel para quem vive em favelas, por outro lado, é disso que provem o êxito e a riqueza para instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que devido a divida externa impõem os Planos de Ajuste Econômico (PAE) aos países que não conseguem pagar os empréstimos, pois os juros são altos e assim essas instituições passam a controlar politicamente esses territórios.

  Dentro dos desastres provocados pela globalização neoliberal para os pobres do Terceiro Mundo, o autor expõe vários tópicos degradantes que vão desde guerras, desemprego, precarização de trabalho, segregação, racismo, superurbanizações seguidas de expulsões, enchentes, deslizamentos de casas, incêndios criminosos em favelas, lixo, poluição atmosférica, contaminações, caos no transito de transportes, crise sanitária, escassez de recursos naturais, etc.

  Para alocar devidamente no tempo, tudo isso é datado basicamente desde pelo menos o final do século XX. Interessante que entre as décadas de 1960 e 1980, os países do terceiro mundo chegaram a crescer e nesse período ainda não se tinha a orientação das políticas neoliberais do FMI. Vale frisar que em países de passado colonial a estrutura desigual já existia, seja em explorações de bens naturais e de mão de obra barata, na segregação espacial ou na pobreza, mas a globalização e as políticas neoliberais trataram de acelerar e intensificar a escala da pobreza urbana nos países subdesenvolvidos.

  No capitulo um, O Climatério Urbano, Mike Davis traz diversas analises baseadas em estudos e dados que tratam acerca da urbanização dos países e cidades do Terceiro Mundo. Chega-se na primeira constatação: a explosão da urbanização. Outra situação é que a alta da urbanização em diversas cidades da África, America do Sul e Ásia, ocorreu num cenário de desindustrialização, então esse crescimento populacional não significava desenvolvimento, mas sim a manutenção da pobreza. O autor já nos aponta neste primeiro capitulo que o sistema econômico neoliberal do FMI e do Banco Mundial são os causadores direto desse cenário.

  Se essa urbanização desgovernada faz parte da manutenção da pobreza, a favelização e todo tipo de ocupação e moradia informal se torna tendência nesses territórios. Outro fator é a questão do advento do crescimento de cidades nos campos, em alguns casos já não há o êxodo rural, mas a urbanidade atinge os modos de vida do campo, fato praticamente inevitável devido o período da globalização.

  A Generalização das Favelas, segundo capitulo, vai abordar os espaços periféricos já que em algumas cidades a urbanização significa favelização, pois abrange mais da metade do território, e de urbanização irregular. Retrata a questão das ocupações (no livro apresenta a palavra invasão), em quais condições elas ocorrem, e como são organizadas, destruídas e montadas novamente. Evidencia brevemente que a saída em ocupar terrenos marginalizados pelos despossuídos, nem sempre é a medida mais barata, levando em consideração a peleja das lutas que serão necessárias travarem pela sobrevivência, mas que ao longo do tempo esse “valor” pode ser recuperado a partir de uma estruturação crescente nesses espaços. Dentro desse subtópico existe a questão da “privatização das invasões”, onde antes de ocupar é necessário pagar para políticos poderosos (as vezes através de votos), loteadores (pessoas de poder local), latifundista ou grande fazendeiro, comuna rural, etc. Culminando no subtópico seguinte que é a invisibilidade do locatário na favela que alcançou uma modesta base inferior na estratificação dessa classe pobre, e devido a falta de organização fica a mercê dos alugueis. O autor aponta que esse é um meio de exploração de pobre sobre um mais pobre.

  O terceiro capitulo desvela A Traição do Estado, que inicia com a citação de Alan Gilbert e Peter Ward, “Embora o capitalismo irrestrito tenha uma face em geral inaceitável, o Estado corrupto que age em favor dos ricos é ainda pior. Em tais circunstâncias, pouco há a ganhar com a simples tentativa de melhorar o sistema.” Então se mostra nessa parte do livro as formas que o Estado atuou de maneira excludente, negligente e foi omisso em buscar reverter as condições de favelização e proliferação da pobreza, que, por conseguinte aparece As Ilusões de Auto Ajuda, onde agora o próprio Banco Mundial investe em desenvolvimento urbano e assim coopta algumas ONG’s que focam em ações de curto prazo com pequenas proporções distanciando a sociedade civil organizada e os pobres de uma consciência de classes e de uma busca plena por seus direitos.

  Aqui o autor critica a aliança do arquiteto John Turner com o presidente do Banco Mundial na qual o saldo foi de que os benefícios dos projetos oriundos desse “casamento” acabaram nas mãos da classe média, os mais pobres ficaram fora do projeto novamente. E vai criticar também a tomada de medidas rápidas e simplistas tais como a de Hernando de Soto, o guru global do populismo neoliberal, ao apenas adotar como estratégia a concessão de titulo de propriedade em invasões.  

“Os empréstimos do Banco Mundial para o desenvolvimento urbano aumentaram de meros 10 milhões de dólares em 1972 para mais de 2 bilhões de dólares em 1988. E, entre 1972 e 1990, o Banco ajudou a financiar um total de 116 programas de oferta de lotes urbanizados e/ou de urbanização de favelas em 55 países. É claro que em termos de necessidade isso não passou de uma gota num balde d’água, mas deu ao Banco enorme influência nas políticas urbanas nacionais, além de uma relação de patrocínio direto com as ONGs e comunidades faveladas locais; também permitiu ao Banco impor as suas próprias teorias como ortodoxia mundial da política urbana”.

  Nos últimos capítulos é versado mais profundamente sobre as formas como são postas os Planos de Ajuste Econômico (PAE), a precarização do trabalho ao desvendar o mito da informalidade como saída do desemprego, os riscos físicos vividos de fato em muitas das favelas em todo o mundo e o trabalho infantil. Ainda, o crescimento do pentecostalismo em alguns países extremamente vulneráveis onde se tem uma via de humanidade excedente.

“Em vez das cidades de ferro e vidro, sonhadas pelos arquitetos, o mundo está, na verdade, sendo dominado pelas favelas.”


Fuca cgpp 2019