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terça-feira, 27 de julho de 2021

Lançamento da Obra: Descolonização Mental, de Ngũgĩ wa Thiong’o

Segue lançamento: Descolonização Mental.

Uma série de magníficos ensaios de não ficção do escritor queniano Ngūgï wa Thiong'o. Sem dúvida um livro essencial para as pessoas pretas! E publicado por uma Editora Preta Independente. 

Vendas: R$25,00 + frete

Pelo whats: 11 - 9.7870.3640

Pelo instagram: https://www.instagram.com/editorafilhosdaafrica/

A Editora Filhos da África tem como objetivo a circulação de obras pretas e a construção de uma escola de formação para o povo preto - 11 978703640.


 *** 

Orelha do livro nesta edição, 2021.

Segundo o escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o: “O controle econômico e político de um povo nunca pode ser pleno sem o controle cultural, e aqui a prática de estudos literários, independentemente de qualquer interpretação e manejo individual ajustou bem o objetivo e a lógica do sistema como um todo. Afinal, as universidades e faculdades construídas nas colônias após a guerra pretendiam produzir uma elite nativa que mais tarde ajudaria a sustentar o Império”.

Isto é, para o autor desta obra-prima, as culturas brancas, e mais ainda as línguas e as literaturas europeias, impostas durante a colonização e deixadas pelos europeus após as lutas de libertação nacional, ainda hoje são instrumentalizadas pelas antigas metrópoles coloniais, com o auxílio das elites africanas que servem ao neocolonialismo e ao imperialismo, para cumprir uma função primordial na lógica de dominação externa e interna dos povos africanos, principalmente dos camponeses, trabalhadores explorados e demais excluídos da terra, ao promoverem e reproduzirem a colonização mental.

Para Ngũgĩ wa Thiong’o, a descolonização territorial e econômica da África e dos africanos só será efetiva e autêntica no momento em que ocorrer anteriormente a descolonização mental (a rejeição dos valores brancos/europeus/ocidentais) e a manutenção, resgate e adoção orgânica e política dos valores africanos, principalmente da linguagem e de todas as manifestações culturais oriundas desta faculdade humana.

Neste livro, Thiong’o estabelece uma crítica contundente aos autores africanos que não abandonaram a linguagem do colonizador, e ao mesmo tempo exalta a cultura tradicional do povo africano, conclamando intelectuais e escritores a fazer, por meio de suas produções intelectuais e artísticas, o mesmo.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Quênia: vídeo homenagem Dedam Kimathi e trecho de Ngũgĩ wa Thiong'o, (1986).


(...) A questão da terra é básica para a compreensão da história e da política contemporânea do Quênia, como na verdade é da história do século XX onde as pessoas tiveram suas terras tomadas pela conquista, pelos tratados desiguais ou pelo genocídio de parte da população. A organização militante Mau Mau, que liderou a luta armada pela independência do Quênia, foi oficialmente chamada de Exército por Terra e Liberdade do Quênia. A peça de teatro, Ngaahika Ndeenda, em parte se baseou muito na história da luta por terra e liberdade; particularmente no ano de 1952, quando a luta armada liderada por Kimathi começou e os regimes coloniais britânicos suspenderam todas as liberdades civis ao impor um estado de emergência; e em 1963, quando a KANU [União Nacional Africana do Quênia] sob Kenyatta negociou com sucesso o direito de arvorar uma bandeira nacional, de cantar um hino nacional e de chamar as pessoas a votar em uma assembleia nacional a cada cinco anos. A peça mostrou como aquela independência, pela qual milhares de quenianos morreram, havia sido sequestrada. Em outras palavras, mostrou a transição do Quênia de uma colônia com os interesses britânicos dominantes, a uma neocolônia com as portas abertas aos interesses imperialistas mais amplos, do Japão à América do Norte. Mas a peça também retratou as condições sociais contemporâneas, particularmente para os trabalhadores das fábricas e das plantações multinacionais. (...)

(...)

Os participantes [da peça] foram mais específicos sobre a representação da história, sua história. E eles foram rápidos em apontar e argumentar contra qualquer posicionamento incorreto das várias forças - até as forças inimigas - trabalhando na luta contra o imperialismo. Eles comparavam notas de sua própria experiência real, seja na fabricação de armas nas florestas, no roubo de armas do inimigo britânico, no transporte de balas pelas linhas inimigas ou nas várias estratégias de sobrevivência. Terra e liberdade. Independência econômica e política. Esses eram os objetivos da luta e eles não queriam que Ngaahika Ndeenda distorcesse isso. As armas de imitação para a peça em Kamirithu foram feitas pelas próprias pessoas que costumavam fazer armas de verdade para os guerrilheiros Mau Mau nos anos cinquenta. Os trabalhadores estavam ansiosos para que os detalhes da exploração e as duras condições de vida nas fábricas multinacionais fossem revelados...

(Ngũgĩ wa Thiong'o, 1986)

No vídeo uma homenagem ao grande guerrilheiro Dedan Kimathi Waciuri (outubro 1920 – Fevereiro 1957) com músicas nativas dos Mau Mau. Emocionante!

https://www.youtube.com/watch?v=zqK8hky6A30


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Ngugi wa Thiong'o: Sobre Colonização, Linguagem e Memória. (+vídeo)

Em todas as relações entre dominantes e dominados num sistema colonial, cheguei à conclusão de que os dominantes sempre impuseram sua linguagem aos dominados. Eu ficava me perguntando o porquê.

 Isso me forçou a analisar todo o projeto colonial. E para mim, eu vi o colonialismo realmente como um processo de alienação. Como nos personagens do meu romance "Weep not, Child" (Não chore, criança), a terra foi tomada. Não apenas a terra, mas também a força de trabalho dos colonizados também é usurpada.

São recursos cruciais, terra e mão-de-obra dos colonizados. Isso me pertenceria, pois teríamos controle sobre. Agora não tenho controle sobre isso, o outro é quem controla. ok?

É alienação, mas de uma maneira que me faz olhar para mim e para meus recursos e ver minha terra e os produtos do meu corpo sendo controlados por outra pessoa. Mas não só isso. A própria linguagem,  qual o papel da linguagem?

A linguagem foi muito crucial na evolução econômica, política e psicológica de qualquer comunidade. A linguagem medeia os processos econômicos, políticos e psicológicos de qualquer comunidade. Sem linguagem não teríamos também a divisão do trabalho, que é a base da comunidade humana.

Por esta razão, os idiomas são muito importantes. Mas não apenas o idioma em si, a linguagem também é portadora de memória. Sem memória não podemos mediar nosso relacionamento com a natureza nem nossa relação um com o outro. Não podemos muito menos mediar nossa relação com nossos próprios corpos e nossas próprias mentes.

Portanto, enquanto houver um poder colonial, é necessário impor sua linguagem aos colonizados. Porque de certa forma, se você impõe um idioma sobre as pessoas, você está aplicando e consolidando todos os aspectos econômicos, políticos e sócio psicológicos dessa comunidade. Muito importante...

E o mais crucial, você também controla a memória dessa comunidade. A linguagem de fato faz parte de um vasto sistema de nomeações. Se você nomeia, você domina.

Nomeando você identifica, nomear é possível somente porque é nomeando que você identifica. E se você identifica, isola os diferentes elementos do ambiente.

Vocês se lembram, quem já conhece, o romance do Robinson Crusoé. Robinson Crusoé está naufragado em uma ilha e descobriu alguém chamado “Sexta-Feira”. E supõe-se no relacionamento deles que “Sexta-Feira” não tem linguagem.

Aí chega um momento em que Robinson Crusoe está ensinando uma linguagem a Sexta-Feira. Então a primeira coisa é a nomeação, ele diz: “seu nome é Sexta-Feira.” Note que ele não pergunta pra Sexta-Feira, “Qual é o seu nome?” Ele disse, “seu nome é Sexta-Feira. Eu te nomeio. E meu nome é Mestre.” Presumivelmente, sempre que alguém perguntar a Sexta-Feira, “Quem é aquele homem?” “Oh, ele é o Mestre.”

Veja, é Crusoé quem nomeia Sexta-Feira e também nomeia a si mesmo, e assim já estabelece uma subordinação na relação deles. Quem era Sexta-Feira? O que acontecerá então...

Sexta-Feira enterra suas memórias plantando a memória de Crusoé, no corpo que agora se chama “Sexta-Feira”. Mas possivelmente Sexta-Feira tinha um nome antes. No corpo de Sexta-Feira é plantada memória de Crusoé. E Crusoé é um inglês, o que está no corpo de Sexta-Feira agora é a memória Inglesa.

Então, seu corpo a partir de então carrega essa memória. Sempre que você o vê, será Sexta-Feira. Você não se direciona à pessoa que estava lá antes. Não importa o que ele era chamado. Ele agora é Sexta-Feira, nomeado por Crusoé.

Recentemente, em 2003, fui convidado pela Fundação Biko para dar uma palestra. Eu fui, Biko nasceu em Eastern Cape, uma área que produziu Mandela, Mbeki. Muitos dos intelectuais mais importantes da África do Sul e com um impacto muito grande no resto do continente.

Na cidade, todos os campos, onde a maioria deles nasceu. Viajando lá, primeiro vejo um lugar chamado “Queenstown”. Então, outro chamado “Kingstown” na mesma área. Depois eu vou para “Williams Town” ou algo assim. Eu vim para uma cidade chamada Berlin, Frankfurt? Os nomes das ruas eram os mesmos

Fico procurando em volta para ver algum outro nome que venha falar sobre qualquer um desses gigantes do pensamento africano oriundos daquela área. Nada!

A memória do lugar, a memória do que era, a memória do que teria sido produzido ali, essa memória é enterrada por outra. Presumivelmente, aquele lugar tinha nome antes e também produziu esse nome. Esse nome significava a memória desse lugar, agora enterrada pela memória europeia.

- Trecho de sua fala na Universidade de Oregon, em 2005. Vídeo completo: Planting African Memory: The Role of a Scholar




por Fuca Insurreição CGPP. 2020.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Um Grão de Trigo - Ngugi wa Thiong'o - breve nota

"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. - João 12,24
(versículo sublinhado em preto na Bíblia de Kihika)"

Kihika, um grande combatente nas lutas pela Independência do Quênia nos fins dos anos 50. Nome proeminente no caminho da conquista da Uhuhu sofreu uma emboscada e foi assassinado. Mas quem teria sido o traidor? O autor perpassa de forma literária o difícil processo de libertação anticolonial, são vários personagens alocados a maioria em aldeias ou em posição de guerra na floresta, e os brancos comandando em suas grandes casas. Eis que chega então o dia tão esperado da comemoração e consolidação da Uhuru com todas as suas expectativas, medos, traições, surpresas e honrarias. Vale a pena mergulhar nesse cenário queniano através desses escritos de Ngugo wa Thiong'o publicado originalmente em 1967.

"Ngugi wa Thiong'o nasceu em Limuru, Quênia, em 1938. É romancista, ensaista, dramaturgo e um dos principais escritores e estudiosos africanos em atividade. Seu primeiro romance, Weep Not, Child, foi publicado em 1964, enquanto estudava na Inglaterra. Em 1977, ele escreveu uma peça teatral que contrariou o governo do Quênia e acabou preso por mais de um ano pelo regime ditatorial.
Um grão de trigo (1967) é o seu terceiro romance. As obras posteriores incluem Petals of Blood (1977), Wizard of the Crow (2006) e uma trilogia de memórias. Vive atualmente nos Estados Unidos, onde é membro da American Academy of Arts and Letters e professor da Unidade da Califórnia, em Irvine."



Fuca CGPP