Denúncia feita pelo Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica sobre a chacina de parelheiros, que ocorreu no dia 15/04/2015. Foi enviado em forma de documento e protocolado na Secretária Municipal de Direitos Humanos. Foi feita a denúncia na Ouvidoria das Polícias, na Defensoria Pública, na Secretaria Geral do Conselho Nacional do Ministério Público, no Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GECEP), foi prestado depoimento no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e na Corregedoria da Policia Militar.
Em memória das vítimas e toda solidariedade pros familiares
São
Paulo, 27 de Abril de 2015
Solicita-se providências ao Grupo de Atuação Especial de Controle
Externo da Atividade Policial (GECEP) no sentido de apuração e
acompanhamento dos fatos ocorridos no distrito de Parelheiros, onde seis
pessoas foram assassinadas por disparos de armas de fogo na noite do dia 15 de
abril de 2015, sendo que as pessoas responsáveis por cometer essas execuções
não foram identificadas. Quatro vitimas morreram na Vila Roschel e no dia 16 de
Abril de 2015, no período da manhã, os moradores tentaram organizar uma
manifestação pacifica que consistia em bloquear a Estrada Engenheiro Marsilac
na altura do número 2000. A manifestação teve inicio de forma tímida, em torno
de vinte pessoas participavam do ato que foi reprimido com violência
extremamente abusiva por parte da Policia Militar de São Paulo gerando
atropelamento, espancamentos, apreensões e prisões de forma arbitrária.
Da
Chacina:
Por volta das 21 horas, dois carros
passaram pela Rua Alice Bastide e na altura do numero 29 abriram fogo contra
duas pessoas, Wlisses Dias Junior, 35 anos, e Marcondes (vulgo Índio). Em seguida
foram em direção à Rua Sônia e na altura do número 7 dispararam novamente na
direção de mais duas pessoas, Renato Dias da Silva, 40 anos, e seu filho Wendel
Costa Dias, 19 anos. Todas as vítimas sofreram disparos na cabeça e nas partes
vitais do corpo, isso evidencia que os atiradores possuíam vasta experiência no
manuseio de armas de fogo. Acredita-se que Policiais Militares organizados em Grupos
de Extermínio estejam envolvidos nessas mortes, pois no mesmo dia o PM
Leonilson Figueiredo Filho foi assassinado na porta de sua casa com sua própria
arma quando saía de manhã para ir a um curso. A chacina teria sido uma vingança
pela morte do PM, no sentido de expor uma retaliação pública à sociedade, mesmo
que as vítimas não tivessem algum envolvimento com a morte do PM. Neste caso as
provas materiais e testemunha ocular são muito difíceis de aparecer, mas foi
encontrada, mesmo depois do trabalho da pericia, uma cápsula de ponto 40 ao
lado do local do crime na Rua Sônia. Os atiradores utilizavam “toucas ninjas”
no rosto, fato típico de quem age em grupos de extermínios com base em outros
casos já noticiados anteriormente na imprensa.
As outras duas vitimas, Cleiton
Moura da Silva, 21 anos, e Rodrigo da Silva Costa, foram mortas na Rua Fonte
Nova, 29 e tem uma vítima que sobreviveu e está internada, que segundo relatos
dos moradores essa pessoa estaria escoltada pela policia, fato que também
precisa de apuração.
Do
trabalho da pericia:
Ao comparecer nos locais dos crimes,
além de encontrar uma cápsula de ponto 40 vimos um total descaso com as pessoas
que foram assassinadas e seus familiares, pois a simples ação de deixar os
instrumentos de trabalho, como por exemplo, luvas, no local crime evidencia um
baita descaso. (fotos em anexo)
Da
tentativa de fazer uma manifestação pacifica:
No dia 16 de Abril por volta das 11
horas, os moradores já se prepararam para fazer um ato em repúdio às mortes
ocorridas na noite anterior. O ato de cunho pacifico foi impedido antes mesmo
de começar, pois policias militares chegaram em sete viaturas, desceram com
arma em punho no sentido de impedir a livre manifestação dos moradores, amigos
e familiares das vítimas. Quatro viaturas permaneceram no local, numa distancia
de 300 metros. Por volta das 13 horas os manifestantes iniciaram o bloqueio na
Estrada Engenheiro Marsilac, porém conseguiram bloquear apenas uma faixa, pois
tinha em torno de vinte pessoas.
Então, os veículos ainda circulavam quando em
menos de dez minutos juntaram novamente as sete viaturas e repentinamente eles
adentraram a Rua Sônia, todos em alta velocidade, foi quando atropelaram um
menino que estava de bicicleta. Foi quando fizeram diversas abordagens já espancando
os moradores e foi quando levaram quatro pessoas pra delegacia sem motivação nenhuma. Ninguém quebrou nada, ninguém danificou nada e muito menos atirou. Essa
repressão foi totalmente no sentido de calar a população perante uma conduta
que há suspeitas de envolvimento de policiais. Conseguimos acompanhar uma das
abordagens onde a vítima estava com a boca sangrando devido aos golpes dos PMs
e com escoriações no pescoço e na nuca. As viaturas responsáveis por essa
abordagem possuem o número de M-50110 e M-50002. (Conforme fotos em anexo).
Pedimos apuração e a responsabilização imediata das pessoas envolvidas nessa
brutal repressão.
Das
prisões arbitrárias:
Como não pudemos acompanhar as
prisões tivemos que comparecer noutro dia no bairro para saber das pessoas que
foram levadas para a delegacia. As quatro pessoas foram liberadas no mesmo dia,
após horas de canseira, pois os policiais alegaram que os manifestantes atearam
fogo em ônibus na via e estavam aguardando a presença dos motoristas para
fazerem a denúncia na delegacia. Obviamente, ninguém apareceu até porque não
houve dano em patrimônio algum. Pedimos a punição dos policiais que tentaram
fraudar uma situação para incriminar os manifestantes.
Do
toque de recolher:
A frequência da ronda da policia na
região aumentou causando um toque de recolher “implícito”, pois perante os
fatos apresentados e a sensação de abandono (por parte do poder público) que
essas pessoas sentem não se pode confiar na policia que faz a segurança do
local. Os moradores relataram também a presença de carros estranhos que não
passavam por ali antes, por exemplo, um uno bege. Os moradores foram orientados
em anotar as placas dos carros que para eles parecerem suspeitos. É preciso um
acompanhamento especial nessa região e até pensar em intervenções envolvendo
diversas instituições do poder público em conjunto com movimentos sociais e a
sociedade civil.
Atenciosamente,
Comitê Contra o Genocídio da
Juventude Preta, Pobre e Periférica
Fotos: