I-
África Difícil
- Experiência Africana de um Embaixador Negro, livro publicado
em 1965.
- Relato pessoal em forma de diário no período de dois anos
em que foi embaixador do Brasil em Gana.
- Sendo Gana o epicentro das lutas revolucionárias pela independência,
um período de mudanças rápidas onde exigia uma constante transformação, Gana
encarava bem essa época conseguindo avanços em diversos setores e aspectos,
apesar de ainda, no geral, ser pouco para os desafios postos de pobreza e
subdesenvolvimento da maioria da população ganense.
- Mas a busca era constante por autonomia e formas autênticas
de resolução de seus problemas (Gana). A tentativa existia mesmo tendo que recorrer
em alguns aspectos aos ‘ex-colonizadores’. Pois, novamente, o desenvolvimento
deveria ocorrer num curto espaço de tempo, sendo uma experiência única também
para a África Preta.
- Inegável a presença de ajuda estrangeira, o autor destaca
algumas presenças, Israel, Eua, França, Alemanha e Rússia. Evidenciando um
certo distanciamento no convívio com os africanos desta última.
(...) “Contudo, não é
pequena a influência comunista na África, embora já tenha sido maior. Dizia-se,
por exemplo, que países como Gana, do grupo dos revolucionários agressivos,
marcados pela influência comunista, pressagiavam dependência crescente face à
Moscou, Pequim e Havana, apesar de sua ambição de vestir conforme figurino
próprio. O exemplo de Gana, de cujo processo fui testemunha por mais de dois
anos, prova que a influência em questão diminuiu muito, bastante mesmo,
merecendo uma retificação no que tange ao julgamento das tendências dominantes.
Vejamos os fatos históricos: apesar do decantado neutralismo, Gana realmente
esteve muito mais voltada para o mundo comunista. Houve momentos em que os
observadores consideraram Nkrumah completamente irrecuperável, exatamente na
época em que iniciava eu a missão diplomática de que me honrarei para sempre.
Foi nos fins de 1961, o dirigente voltava de longa viagem pelo mundo
socialista, tendo se demorado na Rússia e na China, onde deu largas à sua
admiração pela rapidez do progresso naquelas áreas. Retornou à Gana
profundamente impressionado, mas muito vacilou, embora tenha assumido algumas
posições e adotado soluções bastante características. O seu partido, o CPP,
enveredou por uma ação socializante e mais ampla possível. Como se sabe, a base
comunitária africana favorece, por si só, um sistema de vida mais próximo ao
socialismo, mas está muito longe de facilitar o comunismo. Dessa realidade
comunitária aproveitaram-se os ideólogos do CPP, para desencadear sua ação de
propaganda de um ideário radical. Reconheceu porém Nkrumah, após vacilações e
recuos, a impossibilidade de promover o desenvolvimento de seus país seguindo semelhante
caminho. Recentemente, informações que nos chegaram, muito precárias, como tudo
que sobre a África colhemos de terceiros, porque manipuladas ou distorcidas,
dão conta de retificações levadas a efeito por Nkrumah, retificações essas sob
o argumento de que Gana não possui atualmente os meios de realizar o socialismo.
Assim é que, entre outras, adotou recentemente medidas econômicas liberais,
fazendo inclusive o elogio do capitalismo. Conforme essa nova orientação, Gana terá
uma economia mista, não pensando impor qualquer limitação aos investimentos
privados. Justificando-se, acentua o líder ganense que, antes de promover o
socialismo, para o qual o seu país não possui ainda os meios necessários,
prefere preocupar-se agora em possibilitar os fundamentos reais sobre os quais
poderá erigi-los, que são a modernização da agricultura e a industrialização de
Gana. O que prova tudo isso é que os africanos buscam mesmo, cometendo erros e acertos,
de experiência em experiência, ao longo de sua revolução, a conquista de um equilíbrio,
repito, para substituir o que lhe foi destruído pelas forças e a prática
colonialistas. (...)” pp.19-20.
II-
Missão Condenada: Diário
- O autor inicia seu relato pelo seu retorno à África relembrando
sua primeira estada em 1961. Agora de volta, em fevereiro de 1963, após a renúncia
de Jânio Quadros, transformando em pesadelo o que outrora fora conquista. Foram
14 meses duros na África. Eis sua volta de férias.
- Adiante o autor relata sua rotina de embaixador, suas pretensões
de leituras e releituras além de possibilidade de dedicação à escrita
literária, apesar de parco tempo
livre. Na sua volta de 2 meses de férias percebe uma atmosfera diferente em
Acra.
- “Sem data — Encontro Acra diferente, sem
a atividade e a animação que lhe davam ares de grande capital; Parece vencida,
para não dizer morta. Como que existe um esmorecimento geral, perdeu o dinamismo,
não mais existe a vitalidade antiga. O ritmo é outro, tudo marcha lentamente. A
Acra de hoje não é nem a sombra daquela cidade movimentada, alegre, espírito
triunfal, de quando aqui cheguei pela primeira vez. Talvez seja consequência
dos momentos difíceis passados com o clima de terror inaugurado por elementos
da oposição fantasma a Nkrumah, os quais atentaram vezes seguidas contra a sua
vida, no ano passado. Predomina a incerteza, algum medo, existe sem dúvida
retraimento e aguarda-se modificações de métodos e linguagem. Mas, não nos precipitemos.”
(p.30)
- Acra certamente era a capital das lutas e o autor compara
a cidade com Dakar e Lagos, mas certamente menos moderna, depois da comparação
diz um ponto que acho interessante.
“Acra, pois, feia e desarmônica,
é mais genuína do que outras capitais, além de ser mais representativa, sendo como
foi, e como ainda o é, o grande centro irradiador do nacionalismo africano,
cenário das conferências e dos encontros que mais influíram no aceleramento do
processo de descolonização. Não é uma cidade sem história, tem um passado que
lhe empresta orgulho e substância. Muito antes dos europeus se instalarem em
suas praias, com os seus castelos e fortes, o que começou a ocorrer no Século
XIV, Acra já tinha história, era um dos centros mais importantes do período
pré-colonial, ainda agora insuficientemente conhecido, pois muitos historiadores
europeus consideram a história africana apenas a partir da presença dos
ocidentais no Continente Negro. Para eles a África não tem História a não ser a
partir da colonização, considerando-a antes daquele período apenas como terra de
tribos incapazes de progresso, em perpétuas guerra de destruição, A verdade, porém,
é muito outra. Graças aos esforços de pesquisadores da História africana,
destacando-se entre eles estudiosos nascidos na própria África, começamos a conhecer
as grandes civilizações que se desenvolveram no Continente Negro, seus períodos
de grandeza e de declínio.”
(...)
- “13, fevereiro — Compareci esta tarde à
minha primeira recepção diplomática, após reassumir o posto. Foi no Alto
Comissariado do Canadá, onde encontrei praticamente os personagens de sempre.
Conheci porém o famoso Martin Appiah Danquah, o cérebro da política cacaueira
de Nkrumah. É um homem simpático, sorridente como todo ganense. Falou de seu
desejo de nova visita ao Brasil, dizendo guardar boas recordações da Bahia.
Esteve ele em Itabuna e Ilhéus, correndo parte da zona cacaueira. Conversamos
longo tempo, perguntando-me ele, a certa altura, se era verdade o que diziam sobre
os meus antepassados. Queria, aliás, saber ao certo se realmente os meus
bisavós foram ewes ou ashantis, respondo-lhe eu ignorar se procediam mesmo de
uma das duas raças.
— De qualquer forma,
deve sentir-se em casa, não? — indagou, com uma gargalhada”
- Contudo, apesar da ancestralidade, o autor se vê oriundo duma
civilização diferente, apesar de reconhecer certos laços.
- O autor continua seu diário onde perpassa pelos eventos
diplomáticos, onde visita um professor que de certa maneira se opõe a Nkrumah,
outro lhe pergunta se há discriminação racial no Brasil e seu gesto mesmo não
muito enfático na resposta demonstra que sim, e isto de certa maneira o
atormenta, relatando desanimo em sua missão por diversas vezes e por variados
motivos.
- Apesar de citar o temperamento difícil de Vivaldo Costa de
Lima, relata seus avanços nos estudos culturais e religiosos, mas destaca os
africanos Nana Kobina Nktsia, da Universidade de Gana e Kofi Antubam, do
Achinota College.
***
- E já em outro encontro...
“O professor Ciril
Fiscian relembrou-me a homenagem prestada pela comunidade ‘Tá-bom’ ao
Embaixador do Brasil e respectiva família, dizendo não ter comparecido por
motivo de doença. Vale a pena rememorar a recepção, pelo significado de que se
revestiu. Tudo correu assim: um ganense falando excelente português, cujo nome
me escapa no momento, procurou-me certa manhã na Chancelaria, para informar-me
do desejo da comunidade brasileira em Acra. Combinamos, para o dia seguinte,
encontro com um personagem devidamente credenciado do chamado povo ‘Tá-bom’, o
Reverendo G. K. Nelson, capelão do Exército de Gana, que me ofereceu breve
informe sobre a fundação e desenvolvimento da nossa comunidade”... p.44 (...)
- página 47 – discurso Nelson...
"Excelências. Em nome do Chefe, da
Rainha e do povo que formam esta comunidade, em Acra, sinto-me honrado em dar
as boas-vindas ao Senhor Embaixador R. Souza Dantas, do Brasil, a esta
comunidade e também a Gana.
"Já é por demais
sabido que a comunidade brasileira de Acra se compõe de descendentes dos
imigrantes brasileiros que saíram da Bahia e aqui chegaram em 1836. E como não
poderia deixar de ser, foi logo desde o início nossa grande vontade, ao
oferecer uma homenagem ao Senhor Embaixador, aproveitar a ocasião para render sincero
tributo ao Nii Ankrah de Obtoblohum.
Pois foi ele o nosso grande anfitrião, vez que hospedou em seu palácio os
nossos antepassados que pisaram pela primeira vez em solo ganense (na ocasião a
antiga Costa do Ouro).
"Nossos bisavós,
por sua vez, logo adquiriram a amizade e logo se tornaram merecedores da grande
estima do povo Ga, pois que muito ajudaram este povo financeiramente e na luta
contra os outros povos da terra.
"Nossos
antepassados também contribuíram de maneira decisiva para o engrandecimento da
vida social de Acra e de Gana, e foram eles que introduziram aqui muitos
hábitos civilizados, como, por exemplo, o uso das roupas europeias, o querosene.
"É bem verdade
que nenhum de nós aqui presente já visitou o Brasil, mas isso não importa:
continuamos a considerar o Brasil a nossa terra-mãe, e esperamos ansiosamente,
Senhor Embaixador, por esta oportunidade de congraçamento, em Gana. E digo
mais: nós nos sentimos no dever de lhe oferecer esta recepção, vez que o Senhor
Embaixador é o representante legítimo de um país que nós consideramos, como já
disse, nossa terra-mãe.
"E esperamos
assim que, enquanto o Senhor Embaixador permanecer em Gana, possa contar com a
nossa sincera ajuda a qualquer momento, mas logicamente, sem infringir de leve
sequer, a nossa lealdade ao Governo de Gana. E esperamos, também, que o Senhor
Embaixador possa ajudar a qualquer membro desta comunidade, se aparecer ocasião
para tal.
"Senhor Embaixador:
o Chefe, a Rainha e os membros da comunidade brasileira em Acra lhe desejam uma
estada feliz em Gana. Muito obrigado, Fortunato
Antônio Nelson, Nii Azumah III”.
- página 50 – 25, fevereiro...Lendo Os Condenados da Terra...
“25, fevereiro — Leitura de Les Damnés de Ia Terre. Muito se
escreverá ainda sobre o processo de descolonização, mas acredito que nenhum
outro livro como este de Frantz Fanon. Além de terrificante, pelos aspectos que
passa em revista e analisa, como também pelos problemas que examina, é uma
verdadeira apologia da violência. Para Frantz Fanon, a violência é a única arma
viável contra o colonialismo. Através da introspecção e da observação, cheio de
cólera e paixão, êle apresenta um quadro que se poderia dizer apocalíptico.
Para ele, só há um valor, só uma arma, só um princípio: a violência. Afirma que
a violência dos colonialistas só pode ser vencida pela violência. Livro
terrível, que arrepia e arrebata. Realmente, a atmosfera da descolonização foi
a da violência, continua sendo a da violência, será a da violência, mesmo
quando ela pareça ausente.”
- página 52 – 1º
março..
“1º, março — Começam a enfeitar a cidade, para as comemorações da
Independência. As mesmas decorações dos anos anteriores, mal apercebidas pelo
povo. Mas não será de outra natureza, essa indiferença? A verdade é que alguma
coisa mudou. A vida torna-se cada vez mais cara, a miséria cada vez maior.
Contudo, Gana é o país mais bem aparelhado, aquele que oferece melhores perspectivas.
As dificuldades passarão, pois além de ser bastante rico, imensas as suas
possibilidades de desenvolvimento econômico, os seus dirigentes empenham-se, com
energia, comandados por Osagyefo, em plantar uma indústria verdadeiramente
africana. Para isso, porém, tornam-se necessários sacrifícios imensos. Entre os
projetos em realização, o que maiores sacrifícios têm reclamado é o da barragem
do Rio Volta, que fornecerá energia para uma indústria nascente e diversificada.”
***
- página 65 – li entre outros...
“Li, entre outros
documentos, breve depoimento de Silvanus Olympio, Presidente da República do
Togo. Fala aquele descendente de brasileiro, com um toque quase patético, sobre
o que, na sua opinião, deveria ser a unidade africana. Avistei-me com Silvanus
Olympo por três vezes, em Lomé, por ocasião das festividades comemorativas da
Independência do Togo, em 1962, às quais compareci como representante do governo
de meu país, na qualidade de Embaixador. Deram-se assim os três encontros: o
primeiro, na mesma tarde em que cheguei a Lomé (era a minha segunda viagem à
capital togolesa). Foi em seu gabinete de trabalho, no Palácio Governamental,
quando o sondei sobre a possibilidade de uma viagem sua ao Brasil, dando-lhe ao
mesmo tempo ciêncía do interêsse do meu país em manter relações diplomáticas
com o seu, aquele da área atlântica onde a comunidade brasileira é mais
numerosa. A segunda vez foi no desfile da Independência e, o terceiro, no banquete
oferecido no Benin Hotel. Falando para a esposa, dissera ele, sorrindo para
minha mulher, ao ser-lhe ela apresentada:
- Veja você como nos
parecemos todos. Em tudo, mas em tudo mesmo. Na côr, no gosto pela vida, na
gentileza. Em tudo, em tudo mesmo. Somos irmãos, estamos apenas separados pelo
oceano — e riu, o seu riso simpático e aberto.
No Rio, oito meses
depois, num tórrido fim de tarde de janeiro, escutei pelo rádio a notícia de
sua morte, assassinado por um dos que sustentaram o golpe de Estado que o
derrubou do poder.”
(...)
- página 72 – 13 de março...
“13, março — Grande sensação na cidade de Acra. Os responsáveis
pelos atentados à bomba, ocorridos no ano passado, estão em julgamento. Os
nomes de Adamafio e Ako-Adjei aparecem como autores e animadores do plano de
derrubada do regime de Osagyefo. São aqueles dois antigos Ministros, e mais o
Secretário administrativo do Partido da Convenção Popular, Coffie Grable,
acusados diretamente, constando o processo, inclusive, haver o primeiro
fornecido as bombas para os atentados contra Nkrumah. Enquanto lia o relato da
Suprema Corte, tinha presente ao espírito a figura arrogante, antipática e grosseira
do antigo Ministro das Informações, Adamafio. Lembro-me da primeira visita que
lhe fiz, acompanhado de homens de negócios do Brasil. Recebeu-nos éle com manifesta
má-vontade, sequer levantou-se. Ouviu-nos com impaciência, passando um olhar
indiferente pelos planos que lhe foram exibidos, para terminar desencorajando-nos
com a seguinte frase:
— Dentro de um ano
seremos uma República Socialista e então enxotaremos todos os estrangeiros
exploradores de Gana. Por conseguinte, não há muita oportunidade para negócios desse
tipo.
Ê um personagem
antipático e antipatizado. O povo tinha-lhe horror — e ninguém mostrou surpresa
na madrugada em que correu a notícia de sua prisão, como traidor. Ninguém
entendeu foi estar Ako-Adjei envolvido na trama. Quase todos mostraram-se
perplexos. Com desprezo, alguns tentaram explicar a sua traição:
— Trata-se de um
intelectual.
Acredita-se que os
implicados nos atentados, em atendimento ao que exigem as multidões do CPP,
serão condenados à morte.”
(...)
- pág 90 – 24 abril...
“..decisão de deixar o
posto. Espero fazê-lo em agosto. Impossivel ficar mais tempo. As divergências são
grandes. Seria inútil permanecer. Não concordo em que sejamos apenas
informantes. Nossa presença deveria ser marcada pela agressividade, através uma
ação positiva. Da maneira que vamos, transformamo-nos numa repartição puramente
burocrática. Para que serve a presença do Embaixador? Apenas para mostrar-se
nos coquetéis e nas recepções?”
(...)
- pág. 95 sem data... final do diário e retorno...
“Sem data — Penso regressar em definitivo, ao Brasil, dentro de mais
um mês. Já tenho inclusive os termos da carta ao Presidente Goulart,
solicitando exoneração do honroso posto. Pretendo acentuar que não foi feito
muito, tendo como objetivo o incremento de nossas relações comerciais, apesar
das inúmeras solicitações no sentido de providências que, sem dúvida, reconheço
não poderiam ser tomadas sem maiores estudos, relacionados com problemas de
trocas, pagamentos, tarifas e fretes. É meu dever registrar que a nossa
Embaixada jamais esteve devidamente aparelhada para funcionar eficazmente. Nada
foi, realmente, feito para o incremento de nossas relações comerciais, tarefa
que requereria atuação agressiva, na base de esquema inspirado no esforço
coordenado e conjunto das diversas representações brasileiras nos países africanos,
com o auxílio dos vários órgãos oficiais e privados que, direta ou
indiretamente, influem no processo da produção exportável e sua
comercialização. Não penso em escusar-me pelas coisas que deixaram de ser
feitas, mesmo sem contar com a devida aparelhagem, mas não poderei deixar de
referir-me ao que poderia ter sido a nossa ação em Gana, caso realmente tivéssemos
tido condições de realizar tudo quanto foi planejado. Sei que não farei nenhuma
carta nesses termos. Vai ser um pedido de exoneração puro e simples, alegando
motivos de saúde. A verdade é que tudo não passou de um drama, que infelizmente
não sei se o poderei dar aqui como encerrado para sempre.
Mas esse é o meu
desejo. Mais do que isso, é o meu propósito.
(Acra, Gana, África Ocidental)”
***
Notas e trechos
Fuca, Insurreição CGPP
Perfil – Raimundo Souza
Dantas
Fonte: http://www.acordacultura.org.br/herois/heroi/raimundodantas
Nasceu em Estância/SE, em 11 de fevereiro
de 1923. Filho de família humilde, de mãe lavadeira e pai pintor de parede.
Raimundo desde muito cedo teve de trabalhar, aprendendo vários ofícios. Foi
aprendiz de ferreiro e de marceneiro, e, ainda em Estância, foi entregador de
embrulhos de uma casa comercial. Aos dezesseis anos foi trabalhar numa
tipografia. Foi nessa tipografia que começaria o seu processo de alfabetização.
Mudou-se para Aracaju passando a trabalhar na tipografia onde eram publicados
os jornais de Estância e da própria capital sergipana.
Foi nessa época, já nas oficinas do
Correio de Aracaju, ouvindo várias leituras de textos de Jorge Amado, Machado
de Assis e Marques Rebelo, feitas com o auxílio do amigo Barbosa, um amante da
literatura moderna, que consolidou seu letramento. Com ajuda do amigo Armindo
Pereira, passaria a escrever no periódico Símbolo.
Aos dezoito anos (1941), chegou ao
Rio de Janeiro onde começou a trabalhar no semanário Diretrizes, depois passou
a colaborar nos periódicos Vamos Ler, Carioca e Diário Carioca, onde atingiu o
posto de redator. Em 1944 escreveu seu primeiro livro, o romance, “Sete Palmos
de Terra”, com uma linguagem simples e repleta de recordações de Estância.
No Rio, tornou-se amigo de grandes
escritores, como Graciliano Ramos. No ano seguinte, em 1945, lançava seu
segundo livro, de cunho autobiográfico, e fundava o Comitê Democrático
Afro-brasileiro, com Solano Trindade, Aladir Custódio e Corsino de Brito. Essa
associação lutava pela inserção da população afro-brasileira no processo de
redemocratização, através da luta pela melhoria das condições de trabalho e de
educação.
Já como jornalista consagrado
casou-se com Idoline com quem no ano seguinte teve seu primeiro filho, Roberto.
Em 1949 publicaria mais um livro, desta vez para a Campanha de Educação de
Adultos do Ministério da Educação e Saúde, onde relatava toda a sua trajetória
de vida.
Foi nomeado oficial de gabinete do
governo de Jânio em 1961, para em seguida ser designado a Gana como o primeiro
embaixador negro do Brasil, em já nos anos 70, assumiu a embaixada da Argentina
(1976).
Entre as duas nomeações, trabalhou
no serviço público federal como técnico de assuntos educacionais, cabendo-lhe
organizar no MEC o Setor de Relações Públicas. Foi membro do Conselho Nacional
de Cinema, INC, e integrou a comissão para criação de serviços educacionais nos
Museus; participou também do Conselho Estadual de Cultura, no Rio de Janeiro.
Obras publicadas: Sete palmos de
Terra, 1944. Agonia, 1945. Bernanos e o problema do romancista católico, 1948.
Solidão nos campos 1949. Vigília da Noite, 1949. Um Começo de Vida, 1949.
Reflexões dos 30 anos, 1958. África Difícil, 1965.
Faleceu no Rio de Janeiro em 2002.