A família do Yago chamou esse ato para ir a missa de 49 dias de sua morte e teve apoio de ativistas, jornalistas, artistas sendo a maioria rappers.
O ato contou com apoio de uma vitima da chacina de osasco de 13 agosto de 2015 e um representante da torcida pavilhão nove que falou da chacina do dia 18/04/2015 que ocorreu na quadra da torcida.
Unica Chance, Conspira bdc, Relatos do Funeral e Michel fizeram as apresentações de Rap em apoio a família de Yago e em sua memória também.
Fotos CJ
Confira a chamada do ato...
Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica!
http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2015/12/passeata-pela-paz-caso-yago-ikeda-grajau.html
Dia 05/12/2015 - Praça das Casas Bahia - Escola Carlos Ayres
Concentração das 15h as 18h30
Cortejo direto pra missa de 49 dias as 19h
Yago foi morto no dia 16/10/2015 por um Policial Militar à paisana que acertou 6 tiros distribuidos nas costas, na nuca e cabeça. O PM apresentou a versão de que Yago queria o assaltar, mas isso é mentira! O Yago, que tinha 16 anos e era estudante do 9º ano, voltava da casa de sua amiga apenas. Sua família e amigos estarão nesse ato pra lutar pela verdade e para que a justiça seja feita.
O Yago foi assassinado covardemente por ser negro e residente da periferia. Sua vida não foi em vão, queremos justiça!
Basta de Racismo!
Compareça, divulgue e participe!
Yago Araújo em memória
https://vimeo.com/148475190?ref=fb-share
http://ponte.org/moradores-do-grajau-protestam-contra-morte-de-jovens-negrosclaudia-belfort/
http://periferiaemmovimento.com.br/49-dias-sem-yago-ikeda-foi-morto-por-ser-preto/
Um blog sobre os pensamentos e ações do grupo de rap Insurreição CGPP. Aqui se encontram os textos produzidos, notícias do grupo, letras de rap, clipes e traduções. Além de indicações de leituras, notas e trechos de textos literários, acadêmicos, políticos e de rap. Membro atual: Fuca
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
Passeata pela paz - Caso Yago Ikeda - Grajaú
Dia 05/12/2015 - Sábado das 15h as 19h
Av: Dona Belmira Marin, 650 - Praça das Casas Bahia - E.E Carlos Aires
Yago Ikeda, um menino de 16 anos, estudante do 9º ano foi
brutalmente assassinado no dia 16 de outubro por um policial à paisana. Este policial alegou que Yago queria assaltá-lo. Yago que apenas voltava da casa de uma amiga e usava fones de ouvido recebeu três tiros nas costas, um na nuca e dois na cabeça, não teve nem tempo de se defender.
O Yago foi covardemente assassinado por ser negro!!!
Vamos lutar contra a violência e impunidade no nosso país, sobretudo de agentes estatais, a policia militar. Venha caminhar pela paz.
Terá intervenções culturais no local, traga a sua, microfone aberto! Poesia, Teatro, Música, etc.
AS 19:00 HORAS TERÁ A CERIMONIA DE 49 DIAS YAGO IKEDA
LOCAL: AVENIDA GRANDE SÃO PAULO, 224
Divulgue e participe
EM MEMÓRIA DE YAGO IKEDA!!!
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Roleta Macabra FC- letra com observações
Facção Central música --> Roleta Macabra com algumas observações que fiz de acordo com minha interpretação. Pra quem curte o som do Facção e já viaja nessas letra.
Quando se é abordado pela policia nunca se sabe o que vai acontecer, todos na periferia têm receio de ser enquadrado pela policia, pois a roleta (russa) macabra pode sortear qualquer um a qualquer hora, estamos "nas mãos" dos matadores forjadores vermes psicopatas.
Por Carlos R. Rocha
Quando se é abordado pela policia nunca se sabe o que vai acontecer, todos na periferia têm receio de ser enquadrado pela policia, pois a roleta (russa) macabra pode sortear qualquer um a qualquer hora, estamos "nas mãos" dos matadores forjadores vermes psicopatas.
Por Carlos R. Rocha
Letra
Freddy Krueger teria medo do cenário, zona sul, Grajaú madrugada, São Paulo. (sobre um enquadro policial no breu)
A roleta macabra sorteou nosso número, giroflex projeta o slide de dois túmulos
(foram os escolhidos da noite, e já em pé no enquadro a sombra deles projetada no chão ou na parede pelo giroflex da viatura representa os 2 que serão executados)
Tribunal cinza, com um juiz, três de júri, nosso crime, rap no último volume
(Na viatura tem 4 gambé, os 3 gambé juri julga, o gambé juiz decreta e é o que vai executar mais 2 inocentes, pois só estão ouvindo rap)
O que vai proferir a pena
Bombou no psicotécnico
é pm porque uma liminar
Garantiu o ingresso
(Isso relata que esses matadores têm problema mental, - não é a toa que eles matam por matar - já diagnosticado anteriormente nos exames, mas através de recursos eles exercem a função)
Não vamo ser na ouvidoria uma das três mil denúncias que vai entrar no programa de proteção a testemunha
(Já que serão assassinados não terão a chance de denunciar os abusos dos pm, ainda vale ressaltar o número de denuncias que normalmente acabam em impunidade)
Cadê a lesma da hora da ocorrência? Em 10 segundos tô no chão com algemas
Madame o monstro que tira a sua aliança na faca, tem a ficha menos quilométrica que o cusão de farda (quando vão perceber isso? Nunca, pois a policia mata com apoio da opinião publica)
Na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da assembléia legislativa, em 90% do crime organizado tem polícia
Com salário de delegado,(possuir um) lamborghini diablo?,
(como???--->)na gaveta documento pra esquentar carro roubado
A pm pune o militar que não engraxou a bota, mas não
O que estoura de 762 sua veia aorta (se liga nos valores)
Coronhada, bafo de Whisky não fugiu do script, não
porra não tamo pedido, não temo arma, haxixe
(Não mudou nada da maioria das abordagens na periferia, os gambé bem loko cheirados ou bêbados agindo com extrema violência contra inocentes que não tinha nenhum b.o, e mesmo se tivesse a ação desses pm estaria da mesma forma errada)
(Dum Dum)
No rádio averiguaram que eu tenho passagem, no IML vão me reconhecer pela tatuagem
(Refrão)
Plá, Plá, Plá sinto o cheiro de túmulo, a roleta macabra sorteou nosso número. (4x)
(Eduardo)
Lei 9455 tortura, (só) dá Romão Gomes se a tv chocar a opinião pública
(Os atos de tortura praticados pelos gambé só darão prisão "Romão Gomes" se tiver repercussão dos grandes meios de comunicação, ou seja, se acontecer algo com os boy... tortura na lei 9455/97 é constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental; Pena - reclusão, de dois a oito anos; O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.)
Cultura desde o século XIX intacta, pro escravo da
América XX, aqui 200 chibatadas
(policia = capitão do mato)
Gambé matou inocente tem pena administrativa suspensão de 30 a 90 dias ( isso é pena??? a impunidade continua intacta desde o passado)
Já o parente que interdita a rua com pneu queimado pega 10 anos por associação ao tráfico (quando a policia mata alguém na periferia, as vezes, resulta em protestos na região, que a mídia adora divulgar como manifestações orquestradas pelo crime organizado, então quem mata é afastado da corporação, e quem vai cobrar nas ruas é que vai preso... os genocidas sempre bem articulados)
A arma é um engenho mecânico, depende da ação humana, só no Brasil tem disparo acidental toda semana (quando não forjam troca de tiros, vem com essas de disparo acidental... acidental que reparte o coração no meio?)
Pra anistia internacional a polícia brasileira, é a que mais executa no planeta.
O covarde que fuzila 111 no Carandiru, a paisana anda com a funcional no cu
Kevin Costner, guarda costa, pelo boy dá a vida, mas sem bico de vigia é fome com a família (vitima do mesmo holocausto, mas lambe o saco do executivo)
Se filmar um do DAS, interrogando suspeito, Denzel Washington perde o Oscar em dia de treinamento
(Dum Dum)
Ai Eduardo, o dp não é nessa direção
(Eduardo)
Porra Dum dum
Os ratos saíram da sua jurisdição
Não vamo ser Múmia Abull Jamal esperando justiça (sobre os CDP's)
Vamo ser degolado como Lampião e Maria Bonita
(Agora, já no corró da viatura eles percebem que não serão presos, mas sim executados)
(Refrão)
Plá, Plá, Plá sinto o cheiro de túmulo, a roleta
Macabra sorteou nosso número. (4x)
(Dum Dum)
Toxicológico é pouco pra admissão do soldado, o certo é o laudo do manicômio judiciário
(o exame toxicológico serve para encontrar indícios de exposição ou ingestão de produtos tóxicos, drogas de abuso e substâncias potencialmente causadoras de intoxicações, mas é insuficiente pois ainda na ideia dos problema mental dos gambé, o exame teria que ser outro.)
Vida contraditória, sabia a hora do malote, era catar o gerente esperando o carro forte
Mas não quis minha mãe com faixa pedindo justiça registrando meu sumiço na delegacia
Pensei que com holerite, profissão, não tinha troféu pela minha ossada no rabecão
(Mesmo tendo em mente uns plano de assalto, não optou por esse caminho, pois sabia que a chance de sua coroa chorar era grande, mas não teve jeito mesmo trampando a roleta macabra o sorteou)
Com sorte nos apresentam como membro de facção, com
AR15, Nextel em volta do brasão
(com sorte o) Promotor lê o que o médico põe no relatório, rigidez
Cadavérica, mais de três horas de óbito. (pode ter dado rolê com os corpos)
(Eduardo)
Levam o corpo pro PS, pra quebrar a perícia, sem residuográfico quem prova que eu não atirei na policia (alteram a cena do crime para dificultar as investigações... o exame residuográfico que revela se tem ou não vestígios de pólvora nas mãos com o passar do tempo tende a ficar impreciso... ou por outro lado nem fazem esse exame)
Na criança bala perdida, ritual que sacrifica, como a Seita demoníaca dos meninos de Altamira
Qsl Copom, não tem pm pra missão, tão refinando, pesando, fazendo endolação ( <--- tão "bem" ocupados)
Um morto a cada 9 horas da policia paulista é 50 vezes maior do que da nova iorquina
(momento da execução)
Pararam (a viatura num) puta breu, vixi (já era), é algodão na boca, ajoelha Zé 12 na testa, BUM, a queima roupa
Deus não perdoe eles (os verme pm), pois eles sabem o que fazem, pra
Farda podre punição, em baixo de uma lápide (túmulo)
Outras dos Facção:
Música - Homenagem Póstuma - Facção Central
http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/07/musica-homenagem-postuma-faccao-central.html
Música - Tecla Pause - Facção Central
http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/07/musica-tecla-pause-faccao-central.html
Música - Aonde o filho chora e a mãe não vê
http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/06/musica-aonde-o-filho-chora-e-mae-nao-ve.html
Outras dos Facção:
Música - Homenagem Póstuma - Facção Central
http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/07/musica-homenagem-postuma-faccao-central.html
Música - Tecla Pause - Facção Central
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Música - Aonde o filho chora e a mãe não vê
http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/06/musica-aonde-o-filho-chora-e-mae-nao-ve.html
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Distrito Grajau
Distrito Grajau
Miguel
Angelo
O distrito do Grajaú, zona sul da cidade de São Paulo,
é o terceiro maior distrito em tamanho territorial (92 km²) e o mais populoso
da cidade (360.787 mil hab.) (PREFEITURA DE SÃO PAULO 2010) com uma taxa de
crescimento populacional de 0,79 entre 2000 e 2010 (IBGE 2010), é
considerado um distrito predominantemente pobre; tem apenas 39% de seus
domicílios ligados a rede geral de esgotamento sanitário; está entre os
distritos com maior necessidade de saúde (ATLAS DA SAÚDE 2011); tem uma renda
per capita de R$ 450,7, sendo o 4% mais pobre no lado sul; e em média 8,18% das
mulheres são mães antes dos 18 anos de idade (SEADE 2013). A ocupação é dos
anos 50 e 60 (séc. XX). Com a instalação do polo industrial de Santo Amaro
ocorre o aumento da oferta de emprego e de terras abaixo custo culminando em um
aumento populacional no lado sul; entre 1991 a 2000 aumentou 180% a ocupação na
área urbana e em torno 410% a ocupação na área rural, tendo 73 favelas, o
terceiro distrito, proporcionalmente, com mais favelas e mais moradores por
domicílio (6) na zona sul, (SEHAB/
HABI 2008) ; havia em 2000 mais
de 3 mil famílias sem habitação no distrito (SEADE 2000) . É considerado um
distrito ilegal, já que boa parte dos moradores não possui escritura de posse e
irregular por estar encima de uma área de manancial. Logo, existe um conflito
que se põe já no primeiro momento, de fundação mesmo do território. (COLETIVO
IMARGEM 2007). Nos últimos anos, como em
boa parte do país, observou-se uma melhoria dos indicadores de saúde, tais como
uma queda de 59,9% na mortalidade de jovens, de 83,3% nas mortalidades por
agressão, de 19,3% na mortalidade infantil, de 25,4% na fecundidade e de 1% na
taxa de mortalidade por AIDS e demais doenças infecciosas no período de 2000 a
2010 (SEADE 2013).
Apenas algo em torno 40% dos negros no Grajaú trabalha
com carteira assinada (Ministério do
Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais – Rais 2010), o analfabetismo atinge mais de 25%
da população, com uma queda de 10% nos últimos dez anos, porém ainda é o
terceiro distrito da região no ranking do analfabetismo e ainda tem menos de 10%
das crianças entre 0-6 anos
matriculadas em estabelecimentos escolares e creches. Tem apenas um Hospital com apenas 240 leitos disponíveis para
a população.
O conflito, constitutivo da organização do Distrito,
amplia-se, portanto, considerando a construção político-social do local,
empobrecido, situado na transição urbano-rural e marcado pela violência.
A cena cultural é forte com presença marcante do rap,
graffiti, pixo, skate, por exemplo, que, entre outros, dão um caráter super
original ao Hip Hop local; bonés, camiseta e calça
larga, cabelo trançado, Black ou dred contrastam com outros estilos presentes
como o punk. Em um lugar onde o Estado parece não estar a cultura local que
funciona como enclave aos excluídos que, como eu, acabam por ter fortalecida a
autoestima e perspectiva.
Cocainha e BNH é a vanguarda do rap do distrito que, tanto no rap como
no pixo entre outros, dão vida ao ambiente. Com o surgimento do VAI (Valorização
de Iniciativas Culturais- Projeto da Secretaria Municipal de Cultura) o cenário
pegou mais fogo ainda e a galera vem produzindo realidades cada vez mais
inovadoras nas nossas quebradas. Longe de ser uma panaceia, o projeto faz parte
de uma estrutura que cada ator, e são muitos, precisava para mostrar sua arte
com elementos marcantes de uma cultura local territorializada que dialoga
diretamente com a comunidade, é como se a profecia de Milton Santos estivesse
se concretizando;
“No fundo, a questão da escassez aparece outra vez como
central. Os ‘de baixo’ não dispõem de meios (materiais e outros) para participar plenamente da cultura moderna de
massas. Mas sua cultura, por ser baseada
no território, no trabalho e no cotidiano, ganha a força necessária para deformar, ali mesmo, o impacto da cultura de massas. Gente junta cria cultura e, paralelamente, cria uma economia territorializada, uma cultura territorializada, um discurso territorializado, uma política territorializada. Essa cultura da vizinhança valoriza, ao mesmo tempo, a experiência da escassez e a experiência da convivência e da solidariedade. E desse
modo que, gerada de dentro, essa cultura endógena impõe-se como um alimento da política dos pobres, que se dá independentemente e acima dos partidos e das organizações. Tal cultura realiza-se segundo níveis mais baixos de técnica, de capital e de organização, daí suas formas típicas de criação. Isto seria, aparentemente, uma fraqueza, mas na realidade é uma força, já que se realiza, desse modo, uma integração orgânica com o território dos pobres e o seu conteúdo humano. Daí a
expressividade dos seus símbolos, manifestados na fala, na música e na riqueza das formas de intercurso e solidariedade entre as pessoas:; E tudo isso evolui de modo inseparável, o que assegura a permanência do movimento”.
MILTON
SANTOS- POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO 2001
Uma das paradas mais incríveis do Grajaú é isso, tipo
sair no role e se deparar com os manos mandando um free-stile. A viva pulsa em meio às contradições provocadas pelo
desenvolvimento capitalista que o país vem passando, mas só AO VIVO prá saber.
Sabendo da incapacidade em falar sobre todas as ações no graja, deixou
aqui um fragmento de meu Diário de Campo de uma pesquisa que venho
desenvolvendo atualmente visando conhecer melhor esse mundo que é nosso
distrito;
11/5/2013
Estive acompanhado da jornalista Beatriz Marinelli no
lançamento do CD do grupo arte rima em uma praça entre a Rua Alba Valdez e a
Rua Juvenal Crem, é o famigerado “Miolo da Favela” no Jd Reimberg. O evento foi
organizado pelo coletivo Xemalami e apoiadores, e teve ainda a apresentação do
grupo Monkey’s THC, um espaço para a prática de xadrez e exposição de produções
possibilitadas por atores locais. Foi promovido um desafio também com premiação
e tudo.
O coletivo Xemalami - Xeque Mate La Mission – foi
criado em 2000 no distrito do Grajaú, e é herdeiro de vastas
articulações anteriores como o Pacto Latino, um dos pioneiros da cena Hip Hop
por essas bandas. Importante lembrar que o Xemalami começa apenas como um
coletivo de xadrez é em 2005 que irá se tornar também um grupo de rap. Mas é
esse elemento basilar, o xadrez, que norteia as articulações do coletivo, é a
concepção para além do esporte, diria que como proposta a produção de novos
significados a partir dos encontros. Em 2007 o coletivo escreveu para o VAI
(Valorização de Iniciativas Culturais- Projeto da Secretaria Municipal de
Cultura) propondo realizar um desafio de xadrez na rua, com tabuleiro e peças
em maior escala. Desde então o coletivo mantém suas ações. Hoje, com ou sem os
incentivos de editais. Drezz, membro mc do coletivo, me falou um pouco sobre o
espaço;
“A ideia hoje é
promover os grupos de rap que vem fortalecendo conosco. Vai ter um desafio de
xadrez feminino e a apresentação dos Monkey’s THC que é os mano de Parelheiros,
que vão lançar um promo (famigerado demo tape) e o art rima que acabou de gravar seu
primeiro CD. Tá bem difícil agilizar as paradas por agora, fizemos um corre pra
descolar as duas extensões pra garantir o som, deve até uns mano que colou com
grana mesmo prá fortalecer, quatrocentos conto e pá. Mas tamo levando, né? Rola
uma articulação com a escola ali (apontou na direção do EMEI Grajaú, fica a alguns metros da praça onde
estávamos), mas é bem difícil, tem uns preconceitos e muitas vezes os caras não
querem reconhecer nosso trabalho (em outra oportunidade, Drezz havia dito que o
trabalho com o xadrez vinha potencializando o desempenho das crianças em
matemática e o interesse na escola), a ideia é fazer uma ponte, tá ligado?”
Comentei sobre a fala do prefeito no dia 22
último sobre essa questão, o reconhecimento dela e a proposta de fortalecer a
disputa pelo espaço local, no encontro com setores do movimento Hip Hop. Meneou
a cabeça ceticamente;
“Vamos continuar, independente vamos continuar” e prosseguiu;
“Olha ali, o mano ali tá mandando uma pintura prá expor ô”
Um jovem, não mais que vinte e cinco anos,
pintava uma árvore em uma espécie de tela banner, o curioso daquilo foi
visualizar ali uma pintura que me lembrava mais um quadro a óleo do que um grafitti,
bem diferente das intervenções com spray que observei no Campeonato de Skate na
semana passada.
“Agora passa um pano ali”.
Apontou na direção inversa onde observei um
tabuleiro de xadrez com as peças sob um suporte de madeira.
“Aquela parada ali veio da África do Sul, o irmão ali trouxe só pra
expor aqui pra gente. Passa um pano lá depois, é o mesmo jogo, mas a simbologia
é outra”.
Achei a informação primordial, me aproximou
da compreensão que o coletivo tem do xadrez “para além dos muros, para além do
esporte” como pensam. Posteriormente fomos observar de perto, Renan falou um
pouco sobre;
“Um mano trouxe da Cidade do
Cabo, ta ligado?”.
Beatriz
me mostrou o detalhe das peças. Realmente cada peça apresentava um desenho bem
diferente daquele observado no modelo ocidental.
“Então, ele é todo detalhado mesmo, na parte de baixo também tem a
representação dos maiores animais da cultura de lá. Aqui ô, esse Búfalo, o Guepardo...
são da cultura de lá”.
Para financiar o evento os apoiadores
montaram pequenas mesas onde comercializavam trufas, artigos hippies e bebidas
alcoólicas. Compramos duas cervejas e nos sentamos na grama enquanto uma Dj da
região mesclava gangsta rap, com reggae e ragga. Beatriz me chamou a atenção
quanto à força que identidade visual tinha no ambiente “Olha aquelas meninas
ali, parecem iguais”.
Drezz pegou o microfone para dar inicio ao
desafio de xadrez; “Cola ai, cola ai, cadê as mina?”. Uma criança se apresentou
prontamente, usava um boné aba reta, camiseta e calça larga, e o clássico tênis
Adidas, tínhamos a observado pouco antes jogando com um garoto aparentemente da
mesma idade. Drezz prosseguiu; “Aeee, não têm mais ninguém? Ae, cadê as mina
pra fortalecer? Aqui ô, vai rolar uns prêmios também. Vai rolar uma camiseta
bem loca que as mina ali fortaleceu, e esse boné aqui. Tem um CD do art rima e
dos Monkey’s THC também”.
Um tabuleiro de escala maior, em torno de um
metro em meio, foi colocado de pé. As peças se fixavam nele como se fossem imãs
de geladeira, assim todos poderiam acompanhar a partida enquanto Drezz narrava
demonstrando amplo conhecimento das regras e jogadas. Por fim a única “mina”
que se prontificou a jogar, também ganhou sozinha demonstrando como dar um mate
em duas jogadas.
Enquanto os The Monkeys THC se preparavam,
Drezz passava ao público a proposta do evento; “O nosso objetivo aqui é ocupar
o espaço público, tá ligado? Mostrar que mesmo em um sistema capitalista
perverso que nos oprime podemos lutar através das transformações aqui mesmo, na
solidariedade e companheirismo para com o outro, tá ligado? Isso também é
revolução”.
Um dos integrantes do art rima, veio até nós
com o cd do grupo;
“Então mano, tamo ai com esse trabalho, é o primeiro, com quatorze
faixas e pá”.
Peguei prontamente o cd enquanto comentava o
quanto me impressionei com o trabalho do grupo na semana anterior. Questionei o
valor;
“Cinco conto mano, são catorze faixas com produção do Esze”.
Esze Doins é um produtor local, produz uma grande
parcela dos grupos do distrito e é integrante do grupo Clube do Berro.
O material era bem simples, uma mídia gravavel
não impressa com uma capa em papel cartão com uma arte bem elaborada que
consistia de um jovem negro com feição preocupada e correndo, tênis manchado de
tinta spray, calças Jens, camisa polo listrada e de mochila, de um lado
escapava o spray de uma mão e um microfone de outra, da mochila, com o zíper
principal aberto, era visível um rolinho de pintor, usava Black Power e dos
olhos brotavam um feixe de luz vermelho, cor em contraste com o roxo de fundo,
abaixo à esquerda o nome do grupo com o título do trabalho “Rumo da Vida”.
Peguei, ele agradeceu e pediu para ficarmos
até a apresentação do grupo em uma hora, já era em torno de 21: 30h, não
prometi justificando que era uma boa caminhada até o ônibus, fora a Beatriz que
estava a umas 2 horas da Vila Maria, onde reside.
“Pode pá, mas cola no Niggaz dia 24, firme?”
Niggaz é um evento em memória do graffiteiro da
região Alexandre da Hora, falecido em Maio de 2003 aos 21
anos.
Assenti positivamente, ainda tínhamos uns
trinta minutos de campo. Drezz anunciou os Monkeys THC e resolvemos nos
adiantar até tenda na frente da qual se apresentam os grupos.
Chamou-me a atenção o grupo possuir um
baixista, um baixista punk, Jens rasgado nos joelhos, tênis All Stars, na
correia do baixo havia um suástica sendo atravessado por uma faixa vermelha
indicando anti nazismo. Chamou-me atenção também parte do conteúdo de
determinada canção, Loucomotiva, que fazia uma critica comportamental se
contrapondo à pregação do funk carioca, famigerado proibidão;
"Enquanto vários faz os corre prá que
tudo de certo, o outro só ti atrasa mesmo pagando veneno. Deixa de se Zé e
acorda prá vida. Vida que eu falo não é rolê, droga e as novinha."
Beatriz me chamou a atenção também para outra
canção, Malacocaco. Questionou-me o significado de malaco e macaco para aquela
música. De imediato coloquei respondi malaco como esperto, vivido, e macaco ali
pra mim se referia a uma pessoa que possui as qualidades do mesmo,
inteligência, desconfiança etc. Porém, ao escutar novamente aquela canção vi
que aparentemente a coisa era um passo além de significar os termos ser um
Malacocaco era uma espécie de evolução adaptativa para viver na selva de pedra.
No rap já ouvi teorizações negativas e positivas tanto para malaco como para
macaco, Malacocaco era novo, mas não a ideia de que o periférico e o playboy
são espécies que diferem, veja que interessante a teorização do rapper Eduardo
em seu livro “A guerra não declarada na visão de um favelado”;
“As noções de valores ao ser despertada
durante o processo evolutivo, criou um bifurcação que dividiu os Homo sapiens.
Essa divisão, na minha modesta opinião, mais do que provocar uma desagregação
fundamentada em condições econômicas, deu origem a dois conjuntos de humanos
biologicamente dessemelhantes: as pessoas normais e os maníacos por papel moeda!
Seguindo o conceito de Darwin, aqueles que se tornaram compulsivos por
riquezas, passaram às suas futuras gerações o maldito vício por posses, já os
que não foram dominados pela avidez patológica por dinheiro, transmitiram aos
seus descendentes um desejo de consumo extremamente mais moderado. Este racha
evolutivo fez com que os cativos da penúria se tornassem pessoas infectadas
pela ganância primária, aquela que almeja comer bem, se vestir bem, morar bem,
etc, ao tempo em que os nobres se transformaram em corpos gangrenados pela
cobiça desenfreada por supremacia. Nós, os habitantes das favelas e bairros
periféricos, nos mantivemos na condição de Homo sapiens, enquanto os
corrompidos pelo tilintar das pepitas de ouro, involuíram para uma nova
categoria, a qual eu tenho a desonra de batizar neste livro com o nome de: HOMO
MONEY!” (TADDEO 2013)
22h, hora de partir, dia pós dia a
periferia e sua convulsão cultural me afeta subvertendo pré-conceitos e
barreiras físicas e psicológicas.
Em A IDEIA DE
PROGRESSO, essa ideia é problematizada, não no sentido de negação – pensando o
termo utilizado no sentido de excluir essa possibilidade, mas;
“... o desenvolvimento dos conhecimentos
pré-históricos arqueológicos tende a desdobrar no espaço formas de civilização
que éramos levados a imaginar como escalonadas no tempo. Isto significa duas
coisas: inicialmente, que o “progresso” - se é que esse termo ainda convém para
designar uma realidade bem diferente daquela à qual nos dedicáramos
inicialmente – não é nem necessário, nem contínuo; procede por saltos, pulos,
ou, não consistem em sempre ir além da mesma direção; acompanham-se de mudanças de orientação, um
pouco à moda do cavalo do xadrez, que tem sempre diversas progressões à sua
disposição, mas nunca no mesmo sentido”. Raça e História – Claude Lévi – Strauss
Este
distrito situado na Zona Sul abrange os bairros de:
Bororé, Cantinho do Céu, Chácara Cocaia, Chácara das Corujas, Chácara do
Sol, Chácara Gaivotas, Chácara Lagoinha, Chácara Santo Amaro, Cidade Luz, Cipó
do Meio, Colônia, Condomínio Jequirituba,Conjunto
Habitacional Brigadeiro Faria Lima,Grajaú,Jardim Almeida Prado, Jardim Alvorada,
Jardim Arco-íris, Jardim Belcito, Jardim Borba Gato,Jardim Campinas,Jardim
Castro Alves, Jardim das Pedras, Jardim dos Manacás,Jardim Edda, Jardim Edi,Jardim
Eliana,Jardim Ellus, Jardim Icaraí, Jardim Itajaí, Jardim Itatiáia, Jardim Jaú,
Jardim Labitary, Jardim Lucélia, Jardim Marilda, Jardim Marisa, Jardim Mirna,Jardim
Monte Alegre, Jardim Myrna, Jardim Myrna II,Jardim Noronha, Jardim Nossa
Senhora Aparecida, Jardim Nova Tereza, Jardim Novo Horizonte, Jardim Novo Jaú, Jardim
Novo Lar, Jardim Orbam, Jardim Planalto Jardim, Recanto do Sol, Jardim Reimberg,
Jardim Sabiá Jardim Sabiá II,Jardim Salinas, Jardim Samara, Jardim Samas,Jardim
Santa Bárbara, Jardim Santa Fé, Jardim Santa Francisca,Jardim Santa Francisca
Cabrini, Jardim Santa Tereza, Jardim São Bernardo, Jardim São Judas Tadeu, Jardim
São Pedro, Jardim São Remo, Jardim Shangrilá, Jardim Sipramar, Jardim Tanay, Jardim
Três Corações, Jardim Varginha, Jardim Zilda, Parada Cinquenta e Sete, Parque
América, Parque Brasil, Parque Cocaia, Parque Deizy, Parque Grajaú, Parque
Manacá, Parque Novo Grajaú, Parque Planalto, Parque Residencial Cocaia, Parque
Residencial dos Lagos, Parque São José, Parque São Miguel,Parque São Paulo, Parque
Shangrilá, Recanto Marisa, Residencial Palmares, Sítio Cocaia, Toca do Tatu, Vila
Brasília, Vila Morais Prado, Vila Narciso, Vila Nascente, Vila Natal.
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