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Esta singela
seleção de artigos do Dr. Chinweizu abarca reflexões práticas e críticas acerca
do Pan-Africanismo. Fortemente ancorado nos escritos e nos feitos do Honorável
Marcus Garvey, Chinweizu propõe o Pan-Africanismo do Poder Preto atrelado ao
objetivo da criação urgente de um superestado – uma superpotência central - na
África Negra, assim ele se opõe à unificação continental com os Árabes do Norte
da África e questiona os rumos do intitulado Pan-Africanismo Continentalista. (2020)
Sobre
o Autor:
Chinweizu
é um estudioso afrocêntrico não filiado institucionalmente, vive em Lagos,
Nigéria. Um historiador e crítico cultural, seus livros
incluem: The West and the Rest of Us (1975),(1987);
Invocations and Admonitions (1986); Decolonising the African Mind (1987); Voices from Twentieth century Africa (1988);
Anatomy of Female Power (1990). Ele também é co-autor de Towards the Decolonization of African
Literature (1980).
Dr. CHINWEIZU - Seleção de Artigos:
O PAN-AFRICANISMO DO PODER NEGRO para o século XXI
Sumário
Fonte: artigos selecionados a partir do Compilado de
Ambakisye-Okang Dukuzumurenyi, Ph.D.
Sugestões e dúvidas, contato no blog:
insurreicaocgpp.blogspot.com.br
Por
Chinweizu (2009)
Opinião
Kwame
Nkrumah era famoso por defender um governo para todo o continente africano;
pelo que ele projetou como os Estados Unidos da África, e as vezes chamado de
Governo da União da África ou União dos Estados Africanos. Seu slogan era
"A África deve unir-se". Essa foi sua posição pública até sua morte
em 1972.
No
entanto, foi relatado por nada menos que Amilcar Cabral que Nkrumah estava
pensando em modificar sua posição antes de morrer no exílio. É significativo
que, antes de morrer, Nkrumah tenha dito a Cabral: "Cabral, digo uma
coisa, nosso problema da unidade africana é muito importante, realmente, mas
agora, se eu tivesse que começar de novo, minha abordagem seria
diferente". (Cabral, Return to the Source: 91)
Como
não temos registro de mudanças reais na abordagem de Nkrumah, devemos sustentar
que sua posição não modificada foi sua última posição sobre o assunto. Então
Nkrumah viveu e morreu como continentalista; um defensor dos Estados Unidos da
África.
Com
Nyerere é diferente. Há evidências em suas próprias palavras de que ele era um
continentalista em 1963, assim como Nkrumah; e que, em 1997, dois anos antes de
sua morte, ele recuou em público sua posição do pan-africanismo continentalista
para o pan-africanismo subsaariano.
1-
1963: Nyerere, lembrando-se em 1998, disse: "Kwame e eu nos encontramos em
1963 e discutimos a Unidade Africana. Discordamos sobre como alcançar os
Estados Unidos da África. Ainda assim, nós dois concordamos com os Estados
Unidos da África, conforme necessário."—(Ikaweba Bunting (1998) 'The Heart of Africa. Entrevista com Julius
Nyerere sobre o anticolonialismo 'citada em "Unidade africana: sentindo-se
com Nkrumah, pensando com Nyerere", Chambi Chachage (2009-04-09))
2-
Em seu discurso em que comemorava 75 anos de idade em 1997, Nyerere enfatizou
os seguintes pontos:
A)
"O Norte da África faz parte da Europa e do Oriente Médio."
B)
"A África ao sul do Saara está por sua própria conta... A liderança
africana, a futura liderança africana, terá que ter isso em mente. Você estará
por sua conta..."
C)
"Os pequenos países da África [sul do Saara] devem [...] se unir... Se não
podemos avançar em direção a Estados-nação maiores, pelo menos vamos avançar em
direção a uma maior cooperação".
D)
"A África ao sul do Saara está isolada. Portanto, para se desenvolver,
terá que depender basicamente de seus próprios recursos. Recursos internos,
nacionalmente; e a África terá que depender da África. A liderança do futuro
terá que se reinventar, tentar executar políticas de máxima autossuficiência
nacional e máxima autossuficiência coletiva. Eles não têm outra escolha. (Vocês
não têm)"
Nyerere
deu um conselho de despedida de um mais velho sábio, a África Negra deve se
tornar autossuficiente e seguir sozinha; não confiar nos árabes ou europeus, americanos,
japoneses, indianos ou em qualquer outro povo, pois nenhum deles tem interesse
em ajudar o desenvolvimento da África Negra. O fato de estarmos por nossa conta
significa que a África Negra deve se organizar por si mesma.
Em
outras palavras, devido à nossa situação única e separada no mundo, os negros
africanos deveriam, de fato, se livrar do problema e da confusão que Nkrumah
criou 40 anos atrás, ao nos juntar em um abraço aos árabes do Norte da África
em sua busca por unificação continental.
Uma
implicação do conselho de Nyerere é que nós, africanos negros, nos retiremos da
UA (União Africana) afro-árabe, do EU
da África (Estados Unidos da África), etc. e organizemos nosso próprio aparelho
coletivo, apenas para negros, para resolver nossos problemas peculiares.
Em
1963, Nyerere, assim como Nkrumah, considerava todo o continente africano como
uma única unidade geopolítica, e os árabes do Norte da África, juntamente com os
negros no sul do Saara, eram um único grupo constituinte.
Mas
em 1997, Nyerere deixou claro que considerava a África ao sul do Saara, a
África Negra, uma unidade geopolítica distinta, bastante separada em sua
identidade e destino do Norte Árabe da África.
Nesse
discurso de 1997, Nyerere enfatizou repetidamente que estava falando sobre a
África ao sul do Saara, e não de todo o continente. E sua razão para considerar
os Árabes do Norte da África como um povo à parte, um povo com uma identidade e
destino diferentes é a seguinte:
"O
norte da África está para a Europa o que o México está para os Estados Unidos.
Os norte-africanos que não têm emprego não irão para a Nigéria; eles estarão
pensando na Europa ou no Oriente Médio, por causa dos imperativos da geografia
e da história, da religião e da linguagem. O Norte da África faz parte da
Europa e do Oriente Médio ".
Podemos
nos perguntar, o que o levou a mudar de opinião? Sua razão, como declarada em
1997, é puramente geopolítica e baseada nas prováveis realidades do século XXI.
Não tem nada a ver com o fato de os árabes amarem ou odiarem os negros; nada a
ver com as relações históricas passadas entre árabes e negros africanos. Assim,
mesmo aqueles que pensam que os árabes são nossos "irmãos" e melhores
amigos, precisam considerar a posição final de Nyerere sobre a questão da unidade
ou aliança afro-árabe.
Mesmo
que eles sejam nossos "irmãos" e melhores amigos, é do nosso
interesse geopolítico evidente não nos apegarmos a eles no século XXI. Sua
história, suas circunstâncias, suas aspirações e seu destino são diferentes dos
nossos.
É
significativo que o argumento de Nyerere para cuidarmos separadamente de nossos
próprios negócios não se baseie na história de nossas relações com os árabes.
Alguns negros africanos acham que, devido à aliança anti-imperialista
afro-árabe da segunda metade do século XX, uma aliança pela qual os árabes
deram ajuda à África Negra durante as lutas de libertação, devemos, em
gratidão, tratar os árabes como parte de nós mesmos, ou pelo menos como nossos
amigos e aliados permanentes.
Nyerere
sabia mais sobre a ajuda árabe do que qualquer outra pessoa, desde que
coordenou essa ajuda em seu cargo de presidente do Comitê de Libertação da OUA.
Mas,
apesar de tudo isso, Nyerere está indicando que nosso interesse no século XXI
exige que desistamos da ideia de confiar ou nos identificar com os árabes. Não
devemos reconhecer amigos permanentes nem inimigos permanentes, apenas nossos
interesses permanentes. Nyerere insistiu que nosso interesse no século XXI é
distinto do interesse dos árabes do norte da África.
Devemos
aceitar esse fato, tirar as conclusões necessárias e agir sobre elas. Qualquer
que seja a ajuda que os árabes deram às lutas anticoloniais na África Negra,
não é necessário ignorar a realidade da divergência de interesses no século
XXI.
Nyerere
está apontando um aspecto essencial de nossa realidade que deve ser o alicerce
de nosso comportamento: Existe o tempo de estarmos por nossa própria conta. E
esse tempo para a África Negra é o século XXI.
Somos
abençoados com o fato de Nyerere ter vivido o suficiente e ter falado seu
pensamento final, para que não precisemos especular sobre onde ele teria
chegado nessa questão.
Com
a sabedoria da experiência e no final de uma longa vida, ele chegou à conclusão
de que devemos seguir nosso próprio caminho e com autoconfiança. E acho que é
isso que devemos fazer se estivermos sãos.
Mas será provável que
Nyerere seja atendido?
Certamente
não pelos malucos negros (nigger crazies), cujo complexo de inferioridade os
torna patologicamente aterrorizados com as associações apenas de negros. Para
entender como é improvável que os nkrumahistas e outros continentalistas
aceitem o conselho de Nyerere, precisamos apreciar o desejo psicológico que o
continentalismo satisfaz. O continentalismo é a contraparte política do
integracionismo social, e ambos pertencem ao mesmo complexo de patologias que o
clareamento e alisamento de pele: todas são tentativas desesperadas de
abandonar a agora raça negra impotente e se juntar à agora mais poderosa raça
branca.
Os
continentalistas, como todos os integracionistas compulsivos, são vítimas
psicológicas do dogma da supremacia branca de que os negros não podem conseguir
nada sem a orientação dos brancos. Como Amos Wilson explicou, eles foram
intimidados pela história eurocêntrica; pelas realizações infladas da Europa.
Toda
essa conversa sobre as grandes realizações dos europeus, da grande raça branca,
os intimidou. E eles inconscientemente dizem para si mesmos: "Ei, é melhor
ficarmos com essas pessoas brancas porque, se as perdermos, voltaremos à barbárie
e ao primitivismo. Os negros não se estabelecem por conta própria!"
Inconscientemente,
eles são levados a procurar companhia branca e a temer e fugir de qualquer
grupo apenas de negros.
Sem
autoconfiança e sem confiança na raça negra, estão patologicamente agarrando
qualquer palha branca para não se afogarem.
Se
os europeus não estão disponíveis, eles buscam a próxima melhor coisa: os
árabes brancos. Daí a ânsia pelo continentalismo. O subconsciente negrofóbico deles está insistentemente
dizendo a eles: "Sem brancos, não podemos cuidar de nossos próprios
negócios. Não podemos ficar sozinhos e nem seguir por nós mesmos. Nós vamos
estragar tudo.”
Essa
é a mensagem negrofóbica que eles
recebem do subconsciente niggerizado;
a mensagem que os leva a se agarrar desesperadamente aos brancos. Essa é a
mentalidade que impedirá os continentalistas de seguir os conselhos de Nyerere
sobre a autodeterminação dos negros africanos.
A raça negra será
exterminada se não construir uma superpotência negra na África até o final
deste século
Por
Chinweizu (2009)
Existe
uma nação africana? Cadê? Existem nações africanas? Se sim, onde estão?
Eu
afirmo que a nação africana não existe e nunca existiu. Existe a raça africana,
no entanto, não é uma nação. Existem muitas nações africanas, porém são essas
que aprendemos a difamar chamando-as de tribos. Essas chamadas tribos eram as
verdadeiras nações da África pré-colonial. O que hoje em dia se chama de nações
africanas, não são nações; cada uma é apenas um país sob a jurisdição de um Estado.
Está na moda chamá-los de Estados-nação, mas isso é, na melhor das hipóteses,
uma cortesia.
Por
que é importante determinar se a África Negra é ou não uma nação? Fingir que a
África Negra é uma nação quando não é seria tão ilusório quanto se apoiar em
uma bengala sem perceber que é feita de gelo. Quando as coisas esquentam, o
gelo se derrete e você se apoia no ar. Como alternativa, se um construtor não
possui blocos de cimento e, desesperado, decide chamar montes de areia da praia
pelo nome de blocos de cimento, ele logo descobrirá que não pode seguir o curso
dos montes de areia como se fosse um bloco de verdade. Por falta dos fatores
que fazem a população se unir a uma nação, a nação africana, sendo uma
pseudo-nação, se desintegraria sob pressão, como um pedaço de gelo no clima
quente. Por exemplo, suponha que você tivesse um exército da chamada nação
africana. E metade do seu exército fosse de muçulmanos negros, cada um dos
quais disse em seu coração: “Sou muçulmano e adoro Alá e sigo o caminho do
Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele). Eu não tenho nenhum relacionamento
com você, exceto que sua pele é preta. O árabe mais claro está mais perto de
mim do que você. Se houvesse guerra entre muçulmanos de qualquer tom de cor e o
mais negro dos negros, estarei do lado dos muçulmanos.” Se um exército negro
africano está cheio dessas pessoas, que chance tem de defender a África Negra
dos árabes? Tal é o perigo da moda de fingir que existe uma nação africana
quando, de fato, ela ainda não existe. Todos nós devemos levar a sério o aviso
de Nyerere: "Não faz parte da transformação do sonho em realidade fingir
que as coisas não são o que são." – [Nyerere, “Dilemma of the
PanAfricanist”,‖ in Langley ed., Ideologies, .p. 347]
Agora
voltando à pergunta: a África é uma nação? Ao tentar responder a essa pergunta
cientificamente, e não sentimentalmente, seríamos ajudados partindo das
seguintes afirmações de três disciplinas diferentes: antropologia cultural,
historiografia e biologia.
Vamos
primeiro para a antropologia cultural através de Cheikh Anta Diop:
“A
identidade cultural de um povo [está] centrada em três componentes: linguísticos,
históricos e psíquicos”. [Diop, em Great
African Thinkers, p.268].
Ainda
segundo Diop, o fator psíquico é o domínio de poetas, cantores, contadores de
histórias. Observe o exemplo dos irmãos Grimm que, colecionando contos
populares alemães em seus contos de fadas de Grimm, lançaram as bases psíquicas
da identidade nacional alemã; também observe o papel do épico Kalevala na
promoção da identidade nacional na Finlândia; também o papel do épico de
Mahabharata na promoção da consciência nacional indiana e o papel da lenda de
William Tell na identidade nacional da Suíça. Da mesma forma, o Antigo
Testamento tem sido uma âncora indispensável para a identidade judaica; para os
japoneses, o Nihon gi ou Crônicas do Japão, que foi compilado em 720 dC e o Kojiki
ou Registros de Assuntos Antigos, que foi compilado em 712 dC, com suas
coleções de mitos, lendas, relatos históricos, canções, costumes, adivinhações
e práticas mágicas do Japão antigo, forneceram a base psíquica da identidade
nacional japonesa.
Em
seguida, vamos para a historiografia de Jacques Barzun:
“Do
que consiste uma nação? Grande parte da resposta a essa pergunta é: memórias
históricas comuns;... uma linguagem comum, um núcleo de memórias históricas com
heróis e vilões;... uma nação é forjada em unidade por sucessivas guerras e
pela passagem do tempo... É preciso uma guerra nacional para unir as partes,
dando a indivíduos e grupos memórias de uma luta em comum. Desnecessário
acrescentar que o nacionalismo só pode surgir quando uma nação nesse sentido
pleno surgir.” [Jacques Barzun, Dawn to Decadence, pp. 775, 776, 695, 435]
Finalmente,
vamos para a etologia, a ciência biológica do comportamento animal, através de
Robert Ardrey:
“Uma
nação biológica é um grupo social... que possui uma área contínua de espaço
como propriedade exclusiva, que se isola de outras do seu tipo por meio de
antagonismos externos e que, através da defesa conjunta de seu território
social, alcança liderança, cooperação e capacidade para ação combinada. Não
importa muito se essa nação é composta por 25 indivíduos ou 250 milhões. Não
importa muito se estamos considerando o verdadeiro lêmure, o macaco uivante, o
anu-de-bico-fino, a cidade-estado grega ou os Estados Unidos da América. O
princípio social permanece o mesmo.” [Robert Ardrey, The Territorial
Imperative, pp. 210-211]
O
que Diop, Robert Ardrey e Jacques Barzun juntos nos dizem é que uma nação é
formada por linguagem compartilhada, memória histórica de lutas realizadas em
conjunto e um corpo compartilhado de mitos, lendas, épicos, músicas etc., e
demonstra sua nacionalidade por antagonismo externo e defesa de seu território
comum.
Não
é preciso muita reflexão para entender o fato de que, por esses critérios,
ainda não existe uma nação africana, e nunca houve. A nação africana, embora
falada em alguns círculos pan-africanistas, permanece apenas uma aspiração. As
línguas são diversas; não existe um corpo compartilhado de mitos, lendas,
épicos, músicas etc; e a consciência histórica nunca foi fomentada.
Sem
surpresa, não nos comportamos como uma nação. Não defendemos nosso território
conjunto. Se já existisse uma nação africana hoje, ela teria manifestado sua
nacionalidade ao defender coletivamente as partes do território negro africano
comum que estão sendo atacadas pelos árabes no último meio século, como na
Mauritânia e no Sudão. Em particular, um exército totalmente negro-africano
teria ido defender o povo de Darfur do ataque árabe desde que a limpeza étnica
começou lá. Mas o resto da África Negra deixou os mauritanos e os
afro-sudaneses à sua sorte, como se fossem estrangeiros, e tal fatalidade não
nos interessou.
O
teste comportamental da defesa territorial à parte, o contraste entre Índia,
China, Arábia, por um lado, e a África negra, por outro, deve destacar o fato
de que a África não é e nunca foi uma nação. A Índia estava politicamente
unificada no século IV aC e compartilhava uma cultura comum há séculos, mesmo
antes disso; A China foi politicamente unificada no século III aC e desde então
tem compartilhado uma história e cultura comuns. Os árabes se tornaram uma
nação através de Maomé quando finalmente, e pela primeira vez, compartilharam a
mesma religião e liderança política, e depois se dispersaram, numa explosão de
agressão imperial, da península Arábica e se espalharam para ocupar as terras
do Golfo Pérsico para o oeste até a costa atlântica de Marrocos. Assim, os
árabes se tornaram uma nação há 14 séculos e compartilham uma consciência
histórica comum desde então. Por outro lado, foi apenas no século XX, com a conquista
e colonização europeia de toda a África, que os negros africanos começaram a
pensar em si mesmos como uma nação. E eles ainda precisam estar unidos política
e culturalmente, sem falar na religião.
Cada
um desses países negros africanos de hoje não é uma nação, mas um núcleo
inicial (noyau), ou seja, "uma
coleção de indivíduos mantidos juntos por animosidade mútua, que não poderiam
sobreviver se não tivessem amigos para odiar". Todos os países da África Negra de
hoje são povoados por pessoas de muitas nações pré-coloniais e são como um
campo de refugiados no qual as populações de muitas nações genuínas foram
reunidas à força.
O
que seria necessário para se tornar nações esses campos de concentração
coloniais que os europeus construíram no final do século XIX durante sua luta
para conquistar a África? E o que seria necessário para transformar a raça
africana em uma nação? Lições podem ser aprendidas com os Ashanti, os Zulus, a Índia,
a China. Uma luta compartilhada contra nossos inimigos árabes seria um bom
começo para uma consciência histórica comum.
Mas
seria muito útil tentar transformar a África Negra em uma nação tardiamente?
Acho que não. As tarefas diante de nós neste século XXI podem ser realizadas
sem que a África Negra se torne uma nação. Promover a união negra africana
através de vários métodos é mais viável e desejável. Seria muito mais fácil
transformar a SADC (Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral) e a CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) em nações,
em superpotências modernas, do que começar a fazer o que a Índia e a China
fizeram há três milênios por conquista.
Por
Chinweizu (2009)
É
absolutamente surpreendente, bastante trágico e um grande pecado de omissão,
que a segurança coletiva não tenha sido explicitamente o objetivo primordial do
pan-africanismo desde 1958. Para um povo cujos problemas nos últimos 2500 anos
(desde a queda dos Faraós do Egito Negro para os persas brancos em 525 aC)
resultaram de sua incapacidade de proteger suas fronteiras e garantir suas
terras, populações, sociedades, culturas, valores, etc., alcançar a segurança
coletiva deveria ter sido e ainda deve ser a principal preocupação. Além da
repetida demanda de Nkrumah por um Alto Comando Africano; e da menção de
Azikiwe, em 1962, sobre a necessidade de alguns arranjos para a segurança
coletiva; e a menção de Haile Selassie a essa necessidade em seu discurso de
1963 na inauguração da OUA, não encontrei nos registros nenhum outro tratamento
que tenha relação com o assunto. Nkrumah, Azikiwe e Selassie realmente
levantaram a questão da segurança coletiva; no entanto, eles fizeram isso de
uma forma a-histórica, a forma errada.
A questão do "nunca
mais"
Considere
um homem que acabou de escapar, meio ferido, da toca de um bando de leões
famintos. Se ele é sábio, sua primeira ordem de negócios é fazer votos de
“nunca mais!” e se perguntar como ele escapou dali em primeiro lugar, e depois
tomar medidas para nunca mais cometer aquele erro. Se ele não fizer isso, se
não aprender com sua experiência angustiante, ele é estúpido e merece se tornar
o jantar para o próximo leão que aparecer em seu caminho. Ao não se perguntar e
responder que “nunca mais”, a geração de “independência” da África Negra
decepcionou a África Negra e nos desviou.
Infelizmente,
como a geração de "independência" não possuía a orientação sankofa
ancestral, a questão da segurança coletiva não foi colocada na forma histórica
correta, pois a nossa experiência passada permitiria apontar uma resposta para
o futuro.
O
Alto Comando Africano que Nkrumah incitou não foi suficientemente longe para
resolver o problema fundamental. Estava limitado a "um Alto Comando
Africano que poderia resistir... a atos que ameaçavam a integridade territorial
e a soberania dos Estados africanos".
[Revolutionary Path, p.345]; planejaria “uma guerra revolucionária e
iniciaria uma ação” para que a África fosse libertada em breve. [Revolutionary
Path, p.482]. Não era uma doutrina que colocava ou respondia à abrangente
questão histórica de como caímos em uma história de escravização, conquista e colonialismo
em primeiro lugar, e como poderíamos garantir que nunca mais se repetisse.
Unidade para segurança e
sobrevivência
Desde
1958, o pan-africanismo tornou a unidade africana seu principal projeto. Agora,
o motivo usual para a unificação voluntária dos estados é segurança e
sobrevivência. No entanto, o pan-africanismo tem sido estranhamente obtuso
sobre a questão da segurança e sobrevivência para seu público. Não encontro
Nkrumah, Padmore, Diop, Azikiwe e os demais defensores da unificação continental
em nenhum lugar articulando [e devo ser corrigido] o argumento de que o
objetivo primordial da unificação continental é a sobrevivência e a segurança
dos africanos. Se eles fizessem, pensassem bem no assunto e se preocupassem em
educarem-se sobre a natureza das relações históricas afro-árabes dos últimos
dois milênios, eles seriam simplesmente suicidas ou insanos por terem proposto
uma unificação de árabes e africanos sob um Continente-Estado.
Nem
mesmo Nkrumah, para quem a unificação parece uma panaceia, [observe seu longo
catálogo de benefícios que ele disse que traria], considerou adequado incluir
segurança e sobrevivência, explícita ou implícita, entre suas razões para
advogar a unificação continental. À luz das ambições árabes articuladas e
demonstradas na África nos últimos 1.500 anos, qualquer unificação de negros
africanos com os colonos árabes colonizadores na África seria tão suicida para
os negros como uma unificação entre ratos e gatos seria para ratos.
Nossa situação perigosa
Considere
esta verdadeira história do Sudão:
"A
disputa pelo petróleo", Victoria Ajang começa, ”tornou-se uma questão de
vida ou morte para mim em 1983. Naquele ano, o governo iniciou seu programa
para canalizar petróleo de nossas terras no sul até o norte. Os estudantes da
minha cidade ficaram bastante chateados com o fato de nossos recursos serem
desviados pelo governo e, portanto, realizaram uma marcha de protesto do lado
de fora da escola local. Mas o governo não toleraria isso.
"Numa
noite de verão, as forças da milícia do governo subitamente invadiram nossa
vila. Estávamos em casa relaxando, à noite, quando homens a cavalo com
metralhadoras invadiram, atirando em todos. Vi amigos caírem mortos na minha
frente. Enquanto meu marido cuidava de nossa filha Eva, eu corria com os poucos
bens que podia carregar. Ao nosso redor, vimos crianças sendo [atingidas] no
estômago, na perna, entre os olhos. Contra o céu escuro, vimos as chamas das
casas que os soldados haviam incendiado. Os gritos das pessoas presas dentro
das casas encheram nossos ouvidos enquanto queimavam até a morte. Nosso povo
estava sendo transformado em cinzas”.
A
história de Victoria Ajang sobre o que aconteceu com sua vila ilustra os
perigos que eles se expõem a quem não toma medidas para garantir sua segurança.
Eles estarão relaxando e se divertindo quando seus inimigos fizerem um ataque
surpresa e os destruírem. Essa é a situação em que os negros africanos se
permitem viver a 2500 anos e se recusam a tomar medidas para impedir isso.
Uma pergunta não feita
Duas
perguntas vitais deveriam ter sido feitas e respondidas em 1958 pela
Conferência de Todos os Povos Africanos (All-African People‘s Conference), a
saber: (a) "Como libertaremos o restante da África Negra do
colonialismo?". (Felizmente, isso foi realmente perguntado e respondido) e
(b) "Como garantir que nunca mais seremos escravizados, conquistados e
colonizados por alguém?" (Isso, infelizmente, não foi questionado e
permanece sem questionamento e sem resposta até hoje). Em vez de assumir a segunda
tarefa, fomos desviados para outras coisas. Nas próprias palavras de Nkrumah:
“Antes
de 1957, deixei claro que as duas principais tarefas a serem empreendidas após
o fim do domínio colonial em Gana seriam o processo vigoroso de uma política
pan-africana para promover a Revolução Africana e, ao mesmo tempo, a adoção de
medidas para construir o socialismo em Gana". [Path, p.125]
No
desejo de estabelecer uma nova ordem social - aparentemente sem se preocupar em
como se protegeria de nossos inimigos - Nkrumah começou a construir o
"socialismo científico" em Gana; Nyerere começou a construir o
socialismo africano (Ujamaa) na Tanzânia; Kaunda começou a construir o
humanismo africano na Zâmbia; Houphouet Boigny começou a construir o capitalismo
na Costa do Marfim; e outros começaram a construir outros sistemas nos outros
países, mas ninguém achou oportuno fazer a pergunta primordial da segurança
coletiva africana, a saber: "Como garantir que nunca mais seremos
escravizados, conquistados e colonizados por alguém?" Essa pergunta
deveria ser formulada por qualquer nova ordem social que eles se propusessem a
construir, mas não o fizeram. Qual é o resultado hoje?
Consequências da falta de
foco histórico na segurança coletiva
Vários
erros muito caros resultaram dessa nossa falta de atenção adequada [sankofa] à
nossa segurança coletiva.
A]
Nossa busca pela unidade africana foi equivocada em três aspectos:
A1]
Procuramos unir um território - todo o continente africano - que é grande
demais para nossas necessidades de segurança.
A2]
Ao não descobrir quem são nossos inimigos históricos, incluímos nossos inimigos
árabes entre aqueles com os quais buscamos nos unir;
A3]
Ao não entender nossos requisitos de segurança, falhamos em realizar seriamente
a industrialização.
B]
Mesmo que ainda reconheçamos que eles foram nossos inimigos históricos durante
os séculos do comércio de escravos e do colonialismo, falhamos em perceber que
os europeus não deixaram de ser nossos inimigos com o fim do colonialismo
político [1957-1994]. Em nossa amnésia e tolice, tratamos nossos inimigos
europeus brancos históricos como nossos melhores amigos, como nossos mentores
em desenvolvimento e agora como nossos chamados "parceiros de
desenvolvimento"; e tratamos nossos inimigos árabes históricos como nossos
irmãos e aliados africanos e, assim, nos deixamos totalmente despreparados para
seus ataques inimigos, por exemplo:
B1]
A explosão da AIDS na África Negra pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
pelos EUA nos pegou totalmente de surpresa;
B2]
Por 50 anos, permitimos que as instituições imperialistas europeias - a ONU, a
OMC, e especialmente a troika FMI - Banco Mundial - Acordo Geral de Tarifas e
Comércio (GATT em inglês), e nossos “ex-colonizadores” europeus nos ensinassem
e nos orientassem para o mau desenvolvimento e a pobreza crônica.
B3]
Por 50 anos, falhamos em reconhecer e resistir coletivamente ao expansionismo
colonialista árabe e ao racismo contra os africanos negros, bem como à
escravização persistente dos africanos negros pelos árabes.
Por
50 anos, por falta de um interesse explícito e apropriado em nossa segurança
coletiva, deixamos de atender ao princípio estratégico fundamental:
Conheça
o seu inimigo e a si mesmo, e em cem batalhas você nunca será derrotado. [-Sun
Tzu]
Se
tivéssemos procurado conhecer nossos inimigos brancos, o que teríamos aprendido
com nossos próprios sábios que já os haviam estudado? Teríamos aprendido o
seguinte:
"A
atitude da raça branca é subjugar, explorar e, se necessário, exterminar os
povos mais fracos com quem eles entram em contato." (Marcus Garvey)
“No
relacionamento com a raça negra, os europeus são psicopatas.” (Bobby Wright)
“Mulheres
e homens negros, quando vocês deixarão de se desviarem pelo caminho que leva ao
extermínio da raça negra?” (Azikiwe)
Durante
50 anos, devido à nossa falta de foco em nossa segurança coletiva, pagamos um
alto preço com a AIDS, não apenas os milhões que morreram com ela, mas também
as consequências multigeracionais das deslocações sociais causadas pela morte
de pais e o abandono de milhões de bebês como órfãos da AIDS.
Por
50 anos, devido à nossa falta de foco em nossa segurança coletiva, também
pagamos um alto preço pela guerra econômica travada sobre nós pelas potências
europeias que nos colocaram em sua armadilha da dívida e nos empobreceram.
Por
50 anos, devido à nossa falta de foco em nossa segurança coletiva, também
pagamos um preço muito alto nos milhões de mortos ou escravizados pelos árabes
e nas terras que eles apreenderam dos negros africanos.
"Moralidade
pacifista" e nossa falta de consciência em segurança?
Devemos
observar que não foram apenas os líderes que deixaram de fazer a pergunta vital
sobre nossa segurança coletiva; toda a geração de "independência"
parece ter falhado em fazê-la. Eles não suspeitavam dos mestres coloniais que
haviam escravizado, conquistado e explorado a África Negra por séculos; e até
agora não suspeitamos dos europeus e dos árabes, e é por isso que damos às ONGs
acesso descontrolado às nossas aldeias, sem monitorá-las rigorosamente para
garantir que não subvertam nossa sociedade ou cultura. Quando um comportamento
é desenfreado em uma sociedade, é útil procurar uma explicação na cultura. Eu
acho que essa falta suicida de consciência em segurança está arraigada em nossa
cultura.
Cheikh
Anta Diop, em sua teoria dos dois berços, lista a "moral pacifista"
como um dos traços das culturas do berço do sul das quais a África Negra faz
parte.
Nkrumah,
ao elogiar a Personalidade Africana, disse: “Temos presentes de riso e alegria,
amor pela música, falta de malícia, ausência de desejo de vingança por nossos
erros, coisas de valor intrínseco em um mundo doente de injustiça, vingança,
medo e ânsia.” — [Revolutionary Path, p.114]
Esses
traços da personalidade africana não são uma virtude no mundo como ele é. O
mundo exige uma "moral guerreira", não uma "moral
pacifista".
Foi
Steve Biko quem observou e, corretamente, pensou que "não somos uma raça que
suspeita".
Alguns
podem pensar que essa característica é uma virtude, mas não é. Pode ser uma virtude
na "moral pacifista", mas é um vício na "moral dos
guerreiros". E o mundo em que vivemos exige "moral dos
guerreiros".
Para
ilustrar a mentalidade de guerreiro que nos falta, aqui está uma história de
Meiji Japão:
Em
um hospital japonês, o último paciente da noite, um menino com menos de quatro
anos, é recebido por enfermeiros e cirurgiões com sorrisos e lisonjas gentis,
às quais ele não responde de maneira alguma... Ele está com medo e com raiva -
especialmente com raiva - por se encontrar em um hospital hoje à noite: alguma
pessoa indiscreta garantiu que ele estava sendo levado ao teatro; e ele cantou
de alegria no caminho, esquecendo a dor do braço; e isto não é o teatro!
Existem médicos aqui - médicos que machucam pessoas. . . Ele deixa-se despir e
faz o exame sem estremecer; mas quando lhe dizem que ele deve se deitar sobre
uma mesa baixa, sob uma lâmpada elétrica, ele pronuncia um enfático
"Não!"... A experiência herdada de seus ancestrais assegurou-lhe que
deitar na presença de um possível inimigo não é bom; e pela mesma sabedoria
fantasmagórica ele adivinhou que o sorriso do cirurgião tinha a intenção de
enganar... “Mas será tão agradável em cima da mesa!” Observa persuasivamente
uma jovem enfermeira; “Veja o lindo tecido vermelho!” “Não!” Repete o garotinho
- ainda mais cauteloso com esse apelo ao sentimento estético... Então eles
colocaram as mãos sobre ele - dois cirurgiões e duas enfermeiras - o levantaram
habilmente, levaram-no à mesa com o pano vermelho. Então ele grita seu pequeno
grito de guerra - pois ele tem um bom estoque de luta - e, para o espanto
geral, luta com mais coragem, apesar do braço quebrado. Mas eis que um pano
branco molhado desce sobre seus olhos e boca, e ele não pode chorar, e há um
cheiro doce e estranho em suas narinas, e as vozes e as luzes flutuam muito,
muito longe, e ele está afundando, afundando, afundando na escuridão
ondulada... Os membros leves relaxam; por um momento o peito se agita
rapidamente, na última luta dos pulmões contra o anestésico paralisante: então
todo movimento para...
(De Lafcadio Hearn, Writings from
Japan, editado por Francis King, Harmondsworth: Pengiun, 1984, p. 164)
O
povo da geração "independência" não teve a suspeita que foi exibida
por aquele menino japonês! Nem a adquirimos até hoje.
Nossa tragédia
Por
que digo que é trágico não termos tornado a segurança coletiva nossa principal
preocupação? Se tivéssemos feito da segurança coletiva nossa preocupação
primordial, isso teria nos forçado a responder corretamente à pergunta: unidade
para quem? Teríamos investigado para determinar aqueles inimigos dos quais
precisamos nos proteger; e isso nos obrigaria a examinar a história de nossas
relações com os árabes e com os europeus. E, tendo verificado que os árabes são
nossos inimigos mortais, não teríamos buscado a união continental com eles.
Essa é uma maneira pela qual nossa falta de clareza sobre a questão de quem são
nossos inimigos históricos nos custou caro.
Basta
considerar a longa guerra no Sudão entre os árabes negros que estão entrincheirados
no poder em Cartum e os africanos negros do sul do Sudão. A África Negra teria
se mobilizado e vencido a guerra há muito tempo se tivéssemos uma doutrina e um
órgão de segurança coletiva. Nesse caso, o genocídio em Darfur não teria
surgido. Da mesma forma, a escravização dos negros africanos na Mauritânia
pelos árabes brancos teria terminado com a intervenção coletiva da África
Negra. Além disso, a atual campanha árabe para apreender um cinturão das
fronteiras do Sahelian que se estende do Senegal ao Mar Vermelho teria sido
verificada. O mesmo acontece com a ambição árabe de apreender toda a bacia do
Nilo, até o sul de Kampala.
Essa
falta de definição de quem são nossos inimigos coletivos também nos impediu de
estar em guarda contra os europeus. Muitos de nós nem sequer reconhecem que os
europeus sejam nossos inimigos, apesar de terem nos escravizado, colonizado e
explorado por muitos séculos. Como não estamos em guarda contra eles,
permitimos que eles entrem e saiam sem vigilância em nossos países, e foi assim
que eles entraram e nos infligiram a AIDS usando vacinas infectadas pela AIDS
para vacinar 97 milhões de negros africanos em uma suposta campanha para
erradicar varíola.
Então
o que fazemos agora?
Eliminar traços de
moralidade pacifista
Como
Cabral nos ensinou, precisamos lutar contra nossas próprias fraquezas. Como
indiquei, uma das nossas fraquezas é a nossa moral pacifista. Manifesta-se em
nossa falta de suspeição, com nossa falta de malícia, com uma ausência do
desejo de vingança por nossos erros, especialmente erros recebidos pelas mãos
dos brancos.
Diop
apontou que a função mais essencial que uma cultura deve servir é a
sobrevivência [Great African Thinkers, p. 244] Como vimos, a moral pacifista de
nossa cultura tem sido pouco adaptativa e nos expôs a muitos perigos letais.
Precisamos reparar nossa cultura. Precisamos desenvolver uma nova cultura
africana que reduza a mentalidade pacifista e inculque uma mentalidade de
guerreiro em todas as crianças desde os quatro anos de idade. Mas essa mudança
pode ser efetuada? Sim, pode. Basta considerar o que Shaka fez, em apenas dez
anos, com suas reformas. De fato, em apenas um dia assustador, ele eliminou a
covardia da nação Zulu. Portanto, se começarmos as coisas corretamente, podemos
mudar de uma moral pacifista para uma moral guerreira, mesmo em uma geração.
Essa é uma tarefa para o nosso sistema educacional. Precisamos mudar nossos
métodos de criação dos nossos filhos e adotar algum equivalente funcional da
educação samurai que produziu aquele menino japonês de quatro anos. Então
devemos complementar isso enfatizando as artes marciais e o jogo de xadrez nas
escolas. Deveríamos, em seguida, finalizar instituindo serviço militar
obrigatório para todas as pessoas de 18 anos. É improvável que os produtos
desse sistema tenham uma mentalidade pacifista ou sejam obtusos sobre segurança
coletiva. Pode ser útil indicar o básico de uma educação samurai como um modelo
do que devemos reproduzir funcionalmente.
Uma educação samurai
“Mas
os filhos de samurais eram severamente disciplinados naqueles dias: e aquele de
quem escrevo tinha pouco tempo para sonhar. O período de carícias foi
dolorosamente breve para ele. Mesmo antes de investir em seu primeiro hakama,
ou calça - uma grande cerimônia naquela época -, ele foi desmamado o mais longe
possível da influência afetuosa e ensinado a verificar os impulsos naturais da
afeição infantil. Pequeno camarada, perguntavam a ele ironicamente: 'Você ainda
precisa de leite?' se o vissem sair com a mãe, embora ele pudesse amá-la em
casa tão demonstrativamente quanto quisesse, durante as horas em que poderia
passar ao lado dela. Estas não foram muitas. Todos os prazeres inativos foram
severamente restringidos por sua disciplina; e até confortos, exceto durante
doenças, não lhe eram permitidos. Quase a partir do momento em que ele pôde
falar, foi ordenado a considerar o dever norteador da vida, o autocontrole como
o primeiro requisito de conduta, a dor e a morte não importam no sentido
egoísta.
“Havia
um lado mais sombrio nessa disciplina espartana, projetada para cultivar uma
severidade fria para nunca ser relaxada durante a juventude, exceto na
intimidade do lar. Os meninos foram habituados a paisagens de sangue. Eles
foram levados para testemunhar execuções; esperava-se que não mostrassem
emoções e, em seu retorno para casa, eram obrigados a reprimir qualquer
sentimento secreto de horror, comendo abundantemente arroz cor de sangue com
uma mistura de suco de ameixa salgado. Coisas ainda mais difíceis podem ser
exigidas a um garoto muito jovem - ir sozinho à meia-noite para o local da
execução, por exemplo, e trazer de volta a cabeça como prova de coragem. Pois o
medo dos mortos era considerado menos desprezível em um samurai do que o medo
do homem. A criança samurai prometeu não temer nada. Em todos esses testes, o
comportamento exigido era a impassibilidade perfeita; qualquer arrogância teria
sido julgada tão severamente quanto qualquer sinal de covardia.
Quando
o menino cresceu, ele foi obrigado a encontrar seus prazeres principalmente nos
exercícios corporais que eram os preparativos iniciais e constantes dos
samurais para a guerra - tiro com arco e cavalgadas, luta livre e esgrima.
Camaradas foram arranjados para ele; mas esses eram jovens mais velhos, filhos
de retentores, escolhidos por suas capacidades de ajudá-lo na prática de
exercícios marciais. Era dever deles também ensiná-lo a nadar, a manejar um
barco, a desenvolver seus jovens músculos. Entre esse treinamento físico e o
estudo dos clássicos chineses, a maior parte de cada dia era dividida por ele.
Sua dieta, embora ampla, nunca foi delicada; suas roupas, exceto em tempos de
grande cerimônia, eram leves e grossas; e não foi permitido o uso do fogo
apenas para se aquecer. Enquanto estudava nas manhãs de inverno, se suas mãos
esfriassem demais para usar o pincel, ele receberia ordem para mergulhá-las na
água gelada para restaurar a circulação; e se seus pés estivessem entorpecidos
pelo gelo, ele seria instruído a correr na neve para aquecê-los. Ainda mais
rígido foi seu treinamento na etiqueta especial da classe militar; e ele logo
foi levado a saber que a pequena espada em seu cinto não era um ornamento nem
um brinquedo. Foi-lhe mostrado como usá-la, como tirar a própria vida a
qualquer momento, sem retroceder, sempre que o código de sua classe o ordenasse¹.
***
¹Essa
é realmente a cabeça do seu pai? um príncipe certa vez perguntou a um menino
samurai com apenas sete anos de idade. A criança percebeu imediatamente a
situação. A cabeça recém-cortada colocada diante dele não era de seu pai: o
daimyo havia sido enganado, mas era necessário mais engano. Assim, o rapaz,
depois de saudar a cabeça com todos os sinais de pesar reverente, cortou de
repente as próprias entranhas. Todas as dúvidas do príncipe desapareceram
diante daquela prova sangrenta de piedade filial; o pai fora-da-lei conseguiu
escapar; e a memória da criança ainda é honrada no drama e na poesia japonesa.
***
“Também
na questão da religião, o treinamento de um garoto samurai era peculiar. Ele
foi educado para reverenciar os deuses antigos e os espíritos de seus
ancestrais; ele foi bem educado na ética chinesa; a ele foi ensinado algo sobre
filosofia e fé budista. Mas ele também foi ensinado que a esperança do céu e o
medo do inferno eram apenas para os ignorantes; e que o homem superior deve ser
influenciado em sua conduta por nada mais egoísta do que o amor de direito para
o seu próprio bem, e o reconhecimento do dever como uma lei universal.
“Gradualmente,
à medida que o período da infância amadureceu para juventude, sua conduta foi
menos sujeita a supervisão. Ele ficou cada vez mais livre para agir segundo seu
próprio julgamento, mas com pleno conhecimento de que um erro não seria
esquecido; que uma ofensa grave nunca seria totalmente perdoada; e que uma
repreensão merecida devia ser mais temida do que a morte. Por outro lado, havia
poucos perigos morais contra os quais protegê-lo. O vício profissional foi
então estritamente banido de muitas cidades-castelo provinciais; e mesmo o lado
não moral da vida que poderia ter sido refletido no romance e no drama popular,
um jovem samurai pouco sabia. Ele foi ensinado a desprezar essa literatura
comum atraente às emoções mais suaves ou às paixões, como leitura
essencialmente não masculina; e o teatro público era proibido para sua classe.²
Assim, naquela inocente vida provinciana do Velho Japão, um jovem samurai
poderia crescer excepcionalmente de mente pura e de coração simples.
Então
cresceu o jovem samurai a respeito de quem essas coisas foram escritas -
destemido, cortês, abnegado, desprezando o prazer e pronto a qualquer momento
para dar sua vida por amor, lealdade ou honra.”
***
²As
mulheres samurais, pelo menos em algumas províncias, podiam ir ao teatro
público. Os homens não podiam, sem cometer uma violação das boas maneiras. Mas,
nos lares de samurais, ou nos arredores do yashiki, foram realizadas algumas
apresentações particulares de um personagem em particular. Os artistas eram os
personagens errantes. Conheço vários shizoku velhos e encantadores que nunca
foram a um teatro público em suas vidas, e recusam todos os convites para
assistir a uma apresentação. Eles ainda obedecem às regras de sua educação
samurai.
***
(Extraído
de A Conservative in Lafcadio Hearn, Writings from Japan,
pp.291-293)
Se
aprendermos com a educação samurai, não podemos permitir que nossos filhos
sejam criados no Canal O e assim por
diante.
Uma mudança em nosso
conceito de segurança
Além
de incutir uma mentalidade de guerreiro em todos os negros africanos, precisamos
mudar nosso conceito ainda colonial de segurança.
A
noção colonial de segurança era a segurança do estado colonial e das empresas
do povo que veio explorar e oprimir. Essa foi a doutrina de segurança que
concebeu o exército colonial como um apoio à polícia, ou seja, como um exército
a ser usado para controle de distúrbios e expedições punitivas. Essa doutrina
foi herdada pelos estados neocoloniais e não foi alterada. [Na Nigéria, foi
aplicada pelos britânicos para reprimir a insurreição das mulheres Aba e,
recentemente, por Obasanjo para acabar com os povos inquietos de Odi e Zaki
Biam].
Na
África neocolonial, observou-se que um pequeno exército, incapaz de servir como
um instrumento eficaz da política externa, tende a "olhar para
dentro" - a intervir na política doméstica; e que, em geral, as forças
africanas são destacadas apenas contra seu próprio povo em seus próprios
países. Além disso, como Nyerere observou em 1961, "se um estado africano
está armado, então, realisticamente, só pode estar armado contra outro estado
africano". [Ver Opoku Agyeman, Africa‘s
Persistent Vulnerable Link to Global politics, pp. 18, 19, 20, 23]
Esses
exércitos de segurança interna podem defender a África Negra contra a Liga
Árabe, ou a Bélgica, a França ou o Reino Unido, e contra a OTAN?
Aqui
está a sugestão de Azikiwe em uma Convenção Africana sobre Segurança Coletiva.
Isso
deveria fazer provisões seguintes: “um pacto multilateral de defesa mútua...;
um Alto Comando Africano...; uma doutrina de não intervenção na África, nas
mesmas linhas da Doutrina Monroe no Hemisfério Ocidental. Esta doutrina deve
deixar claro que o estabelecimento ou a existência continuada de qualquer
território colonial no continente africano, por qualquer poder europeu ou
americano, asiático ou australiano, será considerado não apenas um ato hostil,
mas um ato de agressão contra o acordo dos Estados Africanos; uma Declaração
Pan-Africana de Neutralismo “[isto é, desalinhamento]... —[Azikiwe, (1962)
―Future of Pan-Africanism‖ in Langley ed., Ideologies, pp.321-322]
Precisamos
adotar e desenvolver essa linha de pensamento. A segurança deve estar contra
nossos inimigos externos: árabes, europeus e quem quer que seja; e contra as
aptidões inimigas, existentes e potenciais. Por isso, precisaremos monitorar a
capacidade inimiga à medida que ela mudar, para não nos encontrarmos preparados
para nos defender contra armas obsoletas e nos preparando para a última guerra,
por assim dizer.
Além
disso, nosso conceito de segurança deve ser ampliado muito além da segurança
militar para incluir segurança econômica, alimentar, sanitária e ideológica, já
que estamos sendo atacados pelos árabes ou europeus em todas essas áreas. De
fato, precisamos de uma segurança coletiva de um tipo total - segurança contra
todos os meios possíveis de ataque, atualmente conhecidos e potenciais, e
contra todos os possíveis inimigos.
Por
Chinweizu (2008)
Para
evitar desperdiçar o tempo de alguém, deixe-me esclarecer com quem não estou
falando, pois como Confúcio disse: "Não há sentido em que as pessoas se
aconselhem juntas e sigam caminhos diferentes". (Analects XV: 40)
Minha
audiência consiste apenas daqueles negros africanos que desejam que o povo
negro africano sobreviva. Se você é um negro africano, mas não se importa se o
povo negro africano sobreviva ou não, não tenho nada a dizer ou discutir com
você. Então, não continue lendo. Apenas vá embora.
Mas
se você deseja que o povo negro africano sobreviva, com dignidade, segurança e
prosperidade, assim como os povos branco ou amarelo desta terra, seja
bem-vindo! Temos assuntos vitais para discutir.
Desde
que os europeus brancos começaram a invadir a África no século XV para
escravizar os cativos negros; desde que árabes brancos invadiram o Egito em 640
dC; e, de fato, desde que os persas brancos conquistaram o Egito Negro em 525
aC, a principal questão para os negros africanos é:
Como
os negros africanos podem se organizar para sobreviver no mundo, com segurança
e respeito?
Essa
questão permaneceu sem resposta por 25 séculos. Hoje devemos enfrentá-la e
respondê-la corretamente para as condições deste século XXI, ou pereceremos.
O
pan-africanismo é uma ideologia composta pelas ideias mais importantes vindas da
raça negra até agora em nossa busca pela libertação do imperialismo e do
racismo, e pela melhoria de nossa condição no mundo; continua a ser o veículo
das esperanças e aspirações dos africanos negros por autonomia, respeito, poder
e dignidade. Essa ideologia está embutida no pensamento de nossos progenitores
intelectuais, de Boukman do Haiti a Biko da África do Sul. Esses pensadores
incluem gigantes como Dessalines, Blyden, Sylvester Williams, Casely-Hayford,
DuBois, Garvey, Padmore, Nkrumah, C.L.R. James, Azikiwe, Malcolm X, Aime
Cesaire, Cheikh Anta Diop, Cabral e Nyerere.
Havia
três principais vertentes do pan-africanismo no século XX: a de DuBois, a de
Garvey e a de Nkrumah. Cada uma dessas vertentes visava realizar a emancipação
da África Negra da dominação branca, mas diferiam no que definiam como o
público a ser emancipado e no projeto pelo qual essa emancipação seria
perseguida. Em outras palavras, eles diferiram em suas respostas às duas
perguntas principais: emancipação para quem? E de que maneira?
Para
DuBois [1868-1963], o grupo eram os negros (povos negros) da África e a
diáspora negra nas Américas; e o projeto era abolir a linha de cores e integrar
socialmente os negros aos brancos.
Para
Garvey [1887-1940], o foco era todos os povos negros do mundo, onde quer que
estivessem; e os meios para alcançar a emancipação era a construção de uma
superpotência negra na África, uma superpotência industrial que seria
“suficientemente forte para proteger os membros de nossa raça espalhados por
todo o mundo e obrigar o respeito das nações e raças da Terra...
Para
Nkrumah [1909-1972], o campeão do continentalismo, o público era, como na OUA,
os habitantes do continente africano, árabes e negros juntos, mas sem a
diáspora negra; e o meio para alcançar a emancipação seria construindo o
socialismo, integrando os estados neocoloniais do continente em um estado
continental com um único governo continental.
DuBois
foi pioneiro, com limitações inevitáveis no trabalho de um pioneiro. Garvey deu
um grande salto à frente de DuBois; e Nkrumah deu um grande salto para trás de
Garvey e DuBois. Por que eu digo isso? DuBois acertou no público e errou no
projeto; Garvey acertou no público e no projeto; Nkrumah errou no público e no
projeto também. Mas esse é um tópico para outra ocasião.
Minha
tarefa hoje é apresentar a vocês o legado de Marcus Garvey. Começarei com um
resumo do que ele fez e depois entrarei no que nos legou e, em seguida, nas
lições que devemos aprender com ele.
[NOTA:
todas as referências de página são para Amy Jacques Garvey, ed., Philosophy and
Opinions de Marcus Garvey, Nova York: Atheneum, 1992. Com uma introdução por
Robert A. Hill]
O que Garvey fez
Entre
1910 e 1914, Garvey viajou para investigar, em primeira mão, a condição dos
negros nos países do Caribe e da América Central, bem como na Europa. Em suas
próprias palavras, enquanto estava em Londres em 1914, depois de ter viajado
por quase metade da Europa, Garvey perguntou:
“Perguntei:
‘Onde está o governo do negro?’ ‘Onde está o seu rei e o seu reino?’ ‘Onde está
o presidente, o país e o embaixador, o exército, a marinha, os homens de
grandes negócios?’ Não consegui encontrá-los e depois declarei: ‘Ajudarei a
criá-los’.” [F&O,II:126] (F&O,
Filosofia e opiniões, do Honorável Marcus Garvey)
E
ele se propôs a ajudá-los a executar a possibilidade do Poder Negro em um mundo
dominado em todo lugar pelo poder branco. Por seu próprio relato, dado em 1925
nos EUA, ele tinha, entre 1914 e 1922, “despertado a mente do negro a todas as
possibilidades de um futuro, de um jeito ou de outro. Fizemos tudo o que era
humanamente possível para despertar a consciência nos negros adormecidos em
todo o país, nas Índias Ocidentais e em todo o mundo. . . ”[P. lxxvii]
Através
da organização que ele fundou, a Universal
Negro Improvement Association (UNIA) [Associação Universal de Melhoria do
Negro] e seus auxiliares, e através de negócios, convenções e desfiles, Garvey
colocou diante dos olhos dos negros as possibilidades políticas, econômicas,
militares, religiosas e sociais do Poder Negro. Encenando nas ruas de Harlem,
Nova York, despertou a imaginação dos negros ao redor do mundo. O impacto da
aparição de Garvey foi sentido em toda parte. Nas palavras de Adam Clayton
Powell, ele havia despertado uma consciência racial que fazia o Harlem se
sentir ao redor do mundo. [p. xix]
Ele
fez sua audiência imaginar coisas em que nunca haviam pensado, coisas em que
haviam sofrido lavagem cerebral para considerar impossível os negros fazerem. É
claro que ele não construiu o Poder Negro, mas, ao colocar no palco os símbolos
de um Império Negro, ele desencadeou um sonho e motivou a próxima geração de
negros a atualizá-lo.
O
garveyismo inspirou Zik na Nigéria, Nkrumah em Gana [pp.xxxviii-xlv]. Seu
trabalho foi acompanhado e lido no Quênia, Gana, Namíbia, África do Sul. Isso
influenciou Harry Thuku, um dos primeiros nacionalistas no Quênia, alguns na
ANC na África do Sul, e os mais velhos de Sam Nujoma na Namíbia pertenciam às
filiais da UNIA na Namíbia. A Nação do Islã de Elijah Muhammad foi fortemente
influenciada por Garvey, e Malcolm X era filho de garveyistas. Tais homens e
seus seguidores, nas gerações seguintes a Garvey, tornaram-se discípulos e
atualizadores do sonho proposto por Garvey.
O
poder branco, é claro, via perigo para si próprio nas ações de Garvey, e
tentava astutamente matar o sonho desacreditando Garvey. Mas era tarde demais.
O sonho já estava implantado nas mentes dos negros de todo o mundo. Prender
Garvey depois que seu show foi realizado foi como fechar a porta do estábulo
depois que o cavalo disparou.
Enquanto
Garvey apenas dramatizava o Poder Negro, Dessalines o havia realizado no Haiti
um século antes. O poder branco rapidamente destruiu o exemplo haitiano e
tentou erradicar toda a memória dele. O Haiti precisou fracassar, para que o
poder branco fosse mais seguro, sustentando a mentira de que os negros não
podem se governar. Pela mesma razão, a egiptologia anexou o Egito Negro dos
Faraós à civilização branca. O exemplo inspirador de Garvey foi desacreditado.
Da mesma forma, o potencial inspirador do programa de Industrialização de
Nkrumah, contido no Plano de Desenvolvimento de Sete Anos que ele lançou em
1964 - e simbolizado pelo Projeto Rio Volta, com seu complexo de usinas
hidrelétricas e barragem Akosombo e a fundição de alumínio em Tema – também
teve de ser desacreditado.
O legado de Garvey
Vou
descrever três aspectos do legado de Garvey, as coisas que ele deixou para nós:
(I)
o exemplo de sua prática como construtor de instituições;
(II)
suas ideias profundas;
(III)
os projetos que ele definiu para seus sucessores implementarem.
I: Sua prática como
construtor de instituições:
Garvey
foi um construtor inovador de uma nação futurista que nos incentivou a criar
nosso próprio futuro. Como ele disse: “Temos uma história bonita e criaremos
outra no futuro que surpreenderá o mundo.” [I, 7]
Seu
trabalho foi fundado em uma análise não sentimental de nossas realidades
históricas globais.
Ele
prospectou problemas que seriam emboscados para nós no futuro e criou soluções
para evitá-los: por exemplo, o problema do extermínio da raça negra pela raça
branca.
Ele
era um empresário versátil, um construtor de instituições. Aqui estão alguns
delas:
-
Instituições políticas: A UNIA, com suas mil (992) filiais e vários milhões de
membros em todo o mundo, e suas Convenções Internacionais Anuais dos Povos
Negros do Mundo;
-
Instituições comerciais: Black Star Line;
Editora Universal; Negro Fábricas Corporation;
o jornal Mundo Negro; o projeto de plantação de borracha na Libéria (que o
governo liberiano entregou à Firestone);
-
Instituições sociais: Enfermeiras da Cruz Negra; A Igreja Ortodoxa Africana; Os
juvenis; honras de pares e cavaleiros [II, 313];
-
Instituições paramilitares: Guarda Africana Real [II 97]; Corpo de Motor
Africano; A Legião Africana Universal;
-
Projeto de colonização: O projeto de “retorno à África” que procurou construir
quatro assentamentos na Libéria, começando com uma cidade no rio Cavalla, a um
custo projetado de US $ 2 milhões [II, 380, 390]
-
Instituições de ensino: Escola de Filosofia Africana, Toronto, 1937
II: Suas ideias:
As
grandes ideias de Garvey incluíram:
1- Princípio de Raça
Primeiro -
Acreditamos na autoridade suprema de nossa raça em todas as coisas raciais.
”[II, 137]: Você pode fazer nada menos do que ser primeiramente e sempre um
negro, e então tudo o mais se ajeitará. ”[Fundamentalismo africano]
2- Privacidade e autonomia
racial -
Exigimos o controle completo de nossas instituições sociais sem interferência
de qualquer raça ou raças estrangeiras. ”[II, 140]
“Se
moramos em nosso próprio distrito, dominaremos e governemos esses distritos. Se
tivermos maioria em nossas comunidades, vamos administrá-las. Formamos a
maioria na África e devemos naturalmente nos governar lá. ”[II, 122];
3- Autonomia intelectual - “Temos direito a nossas
próprias opiniões e não somos obrigados ou vinculados pelas opiniões de
outros.” [Fundamentalismo africano]
4- Autossuficiência - “A UNIA ensina à nossa raça
a autoajuda e autoconfiança ... em todas as coisas que contribuem para a
felicidade e o bem-estar humano.” [II, 23]
“Confio
que você só viverá hoje quando perceber que é dono de seu próprio destino, dono
de sua própria sorte; se há algo que você deseja neste mundo, é para você
atacar com confiança e fé em si mesmo que ira alcançá-la. ”[I, 91];
"Uma
raça que depende exclusivamente de outra para sua existência econômica, cedo ou
tarde morrerá". [I, 48]
5- Construção de uma nação - O negro precisa de uma
nação e um país próprio, onde possa mostrar melhor sua própria habilidade na
arte do progresso humano. ”[II, 23]
“O
. . . plano da UNIA [é] o de criar na África uma nação e um governo para a raça
negra. ”[II, 40]
6- Empreendedorismo - Por que a África não
deveria dar ao mundo seu Rockefeller preto, Rothschild e Henry Ford? Agora é a
oportunidade. Agora é a chance de todo negro se esforçar para alcançar um
padrão comercial e industrial que nos torne comparáveis aos homens de negócios
bem-sucedidos de outras raças. ”[II, 68]
“Ir
trabalhar! Vá trabalhar na manhã de uma nova criação... até que você tenha... alcançado
o auge do auto progresso e, a partir desse pináculo, conceda ao mundo uma
civilização própria...” [II, 103]
7- Industrialização - a raça só pode ser salva
através de uma base industrial sólida. ”[I, 8] 10
“Estar
satisfeito em beber o resto do progresso humano não demonstrará nossa aptidão
como povo para existir ao lado de outros, mas quando, por nossa própria
iniciativa, lutarmos para construir indústrias, governos e, finalmente,
impérios, então e somente então, enquanto raça, provaremos ao nosso criador e
ao homem em geral que estamos aptos a sobreviver e capazes de moldar nosso
próprio destino. ”[I, 8]
***
Garvey
baseou seu trabalho em uma análise profunda das realidades históricas globais,
conforme ilustrado pelas seguintes doutrinas sobre (A) as características do
mundo e (B) as particularidades do negro:
(A) Características
mundiais:
1) Os caminhos da raça
branca - A
atitude da raça branca é subjugar, explorar e, se necessário, exterminar os
povos mais fracos com quem eles entram em contato. Eles subjugam primeiro, se
os povos mais fracos se defenderem; depois explora, e se não for suficiente a
SUBJUGAÇÃO nem a EXPLORAÇÃO, o outro recurso é o EXTERMINIO. ”[I, 13]
2) Propaganda— “Entre alguns dos métodos
organizados usados para controlar o mundo está a conhecida e chamada
PROPAGANDA. A propaganda fez mais para derrotar as boas intenções de raças e nações
do que até a guerra aberta. A propaganda é um método ou meio usado pelos povos
organizados para converter outros povos contra a sua vontade. Nós da raça negra
estamos sofrendo mais do que qualquer outra raça do mundo com propaganda -
propaganda para destruir nossas esperanças, nossas ambições e nossa confiança
em nós mesmos. ”[I, 15]
3) Força – “Os poderes opostos ao
progresso dos negros não serão influenciados por meros protestos verbais da
nossa parte. É claro que a pressão pode se afirmar de outras formas, mas, em
última análise, qualquer influência exercida contra os poderes opostos ao
progresso negro deve conter o elemento FORÇA para cumprir seu objetivo, pois é
evidente que esse é o único elemento que eles reconhecem. ”[I, 16]
“Mencionei
a vocês que o armamento mais forte é a organização, e não grandes armas e
bombas. Mais tarde, podemos ter que usar algumas dessas coisas, pois parece que
alguns povos não conseguem ouvir uma voz humana a menos que algo esteja
explodindo nas suas proximidades. Algumas pessoas dormem muito profundamente
quando se trata de direitos humanos, e você precisa tocá-las com algo mais do
que nossa voz humana comum. ”[II, 112]
4) Conheça o seu inimigo - "Enxergar o seu
inimigo e conhecê-lo é parte da educação completa do homem" [I, 17]
5) Preconceito – “O preconceito pode ser
influenciado por diferentes razões. Às vezes, o motivo é econômico e, às vezes,
político. Você só pode obstruí-lo com progresso e força. ”[I, 18]
“Enquanto
os negros ocuparem uma posição inferior entre as raças e nações do mundo, por
mais tempo os outros serão preconceituosos contra eles, porque será proveitoso
para os outros manterem o sistema de superioridade. Mas quando o negro, por sua
própria iniciativa, se elevar de seu estado inferior ao mais alto padrão
humano, ele estará em posição de parar de implorar e orar, e assim exigir seu
lugar que nenhum indivíduo, raça ou nação será capaz de negá-lo.” [I, 26]
6) Defesa - raças e povos são
salvaguardados apenas quando são fortes o suficiente para se protegerem. ”[II,
107]
7) Poder - A única proteção contra a
INJUSTIÇA do homem é o PODER físico, financeiro e científico. ”[I, 5]
“O
poder é o único argumento que satisfaz o homem. [...] O homem não é satisfeito
ou movido por orações ou petições, mas todo homem é movido por esse poder de
autoridade que o obriga a fazer mesmo contra sua vontade. ”[I, 21, 22]
(B) Fraquezas da raça negra:
1) Uma falta geral - A raça precisa de homens
de visão e habilidade. Homens de caráter e acima de tudo homens de honestidade,
e isso é tão difícil de encontrar. ”[I, 49]
2) Traidores no topo - O traidor de outras raças
geralmente se limita ao indivíduo medíocre ou irresponsável, mas, infelizmente,
os traidores da raça negra geralmente são encontrados entre os homens de alto
nível educacional e na alta sociedade, os companheiros que se chamam de
líderes. ”[I, 29]
3) Falta de respeito pela
autoridade interna - O negro na civilização ocidental... tem pouco ou nenhum respeito pela
autoridade racial interna. Não se pode confiar nele para executar uma ordem
dada por um superior de sua própria raça... Essa falta de obediência às ordens
e à disciplina impede o progresso real e valioso da raça. ”[II, 292]
4) Os intelectuais - É impressionante quão
desleal e egoísta é o intelectual negro médio, da geração que está passando,
para a sua raça. [Ele] é a maior fraude e obstáculo ao progresso real da raça.
Ele foi educado com a psicologia e perspectiva erradas... [e] misturar-se com
os brancos é a sua maior ambição. ”[II, 286]
5) Os políticos negros - Os imprudentes e egoístas
políticos negros venderam a raça de volta à escravidão. ”[II, 103]
6) Os negros ricos - Os ricos são egoístas e
tolos, e seu principal objetivo na vida é imitar os brancos e, o mais rápido
possível, buscar sua companhia com a esperança de absorção social transpondo a
linha racial. ”[II, 88]
7) Deslealdade entre os
negros bem-sucedidos - Nos últimos 50 anos, foram perdidos bilhões de dólares
pela raça negra devido à deslealdade dos negros bem-sucedidos, que preferiram
doar suas fortunas a membros de outras raças, do que legá-las para instituições
e movimentos próprios dignos para ajudar seu próprio povo. ”[II, 92]
Essas
ideias sobre as realidades forneceram a base para as prescrições de Garvey visando
solucionar os problemas da raça negra.
A África de Garvey:
É
importante tomar nota do lugar da África nas ideias de Garvey. Alguns têm deturpado
a ideia de África de Garvey, sequestrando-o para apoiar os Estados Unidos da
África de Kadhafi. Por exemplo, o professor Molefi Asante declarou [em um
e-mail de 31 de março de 2007]: "Apoio os Estados Unidos da África como a
visão de Nkrumah e Garvey antes dele".
Vou
mostrar que o professor Asante está errado.
O
de Garvey era um pan-africanismo da raça negra, um pan-negrismo ao qual ele era
inequivocamente dedicado. Desafio qualquer pessoa a reproduzir qualquer
passagem onde ele possa ser corretamente interpretado como falando pelos negros
e pelos invasores / colonos árabes brancos escravizadores dos negros na África.
Aqui estão alguns exemplos das referências de Garvey descrevendo o que ele
queria fazer na África.
II,
37: Estabelecer uma nação na África para os negros
II,
39: Uma nação africana para negros
II,
40: Criando na África uma nação e um governo para os negros
II,
48: Restauração da África para os povos negros do mundo
II,
49: Pátria nacional dos negros na África
II,
81: Promoção de uma nação negra forte e poderosa na África
II,
230: Dar ao negro um país próprio na África
II,
253: Para fundar e desenvolver uma nação para a raça na África
Eu
afirmo que nada disso pode ser interpretado corretamente como referência à
construção na África de uma união continental de árabes e negros, com um
governo da união continental. Para Garvey, a África era a terra natal dos
negros, um lugar para os negros fazerem grandes coisas por si mesmos.
A ideia de Garvey sobre o
negro - quem ele incluiu entre os negros:
“Eu
sou negro. Não peço desculpas por ser negro. ”[I, 212]
“Nós
[da UNIA] estamos determinados a unir os 400.000.000 de negros do mundo com o
objetivo de construir uma civilização própria. E nesse esforço, desejamos
reunir os 15.000.000 dos Estados Unidos, os 180.000.000 na Ásia, as Índias
Ocidentais e as Américas Central e do Sul e os 200.000.000 na África. Estamos
buscando a liberdade política no continente africano, a terra de nossos pais.”
[II, 95]
“Quando
falamos de 400.000.000 de negros, pretendemos incluir vários milhões da Índia,
descendentes diretos daquele antigo estoque
africano que uma vez invadiu a Ásia. ”[II, 82]
Nenhuma
menção na palavra árabe, seja na África ou na Ásia! Garvey estava preocupado
exclusivamente com os negros e o que eles deveriam fazer na África; nunca com
os árabes e os negros fazendo alguma coisa juntos, muito menos se unindo sob um
governo continental.
III: Os principais projetos
de Garvey:
Garvey
teve dois projetos primordiais:
1]
Ajudar a criar governos, presidentes, embaixadores, exércitos, marinhas, etc.
2]
O projeto de uma superpotência negra na África
Na
década de 1920, Garvey, depois de diagnosticar a perspectiva global dos negros,
prescreveu o remédio para seus problemas quando disse:
“Os
povos negros do mundo devem se concentrar no objetivo de construir para si uma
grande nação na África... [de] criar para nós mesmos um superestado político...
um governo, uma nação própria, forte o suficiente para proteger os membros de
nossa raça espalhados por todo o mundo e obrigar o respeito das nações e raças
da terra...” [P&O, I: 68; II: 16; I: 52]
Enquanto
o primeiro projeto de criação de governos negros foi alcançado em todo o mundo
na segunda metade do século XX, começando com a Gana de Nkrumah em 1957 e
concluindo com a África do Sul de Mandela em 1994, o segundo nem sequer foi
tentado.
***
O desafio do exemplo de
Garvey:
Tendo
vislumbrado o que Garvey fez há um século, o que seu exemplo nos desafia a
fazer neste século. Quais lições devemos aprender com o exemplo dele?
Considere
a variedade de tirar o fôlego dos projetos de Garvey: A UNIA, com cerca de mil
filiais e milhões de membros em todo o mundo; negócios que variavam de uma
empresa a vapor, a restaurantes e lavanderias; projetos de colonização para
construir cidades na Libéria; um projeto maciço de plantação de borracha na
Libéria; grandes convenções anuais de um mês; uma denominação da igreja;
equipamentos paramilitares; etc. Tudo em um espaço de dez breves anos!
Garvey
tentou fazer tudo de uma vez, e é por isso que ele é Garvey, o Grande. E de
longe o maior líder dos negros no século XX.
Eu
afirmo que o desafio para os negros africanos no século XXI é desenvolver o
legado de Garvey seguindo seu exemplo, abraçando suas ideias e implementando
seu projeto de uma superpotência negra na África.
Nós,
pessoas comuns, devemos fazer a parcela que pudermos desse todo; mas devemos
formar um movimento que garanta que todas as dimensões do projeto de construção
de uma nação/ elevação da raça, que ele foi pioneiro, sejam realizadas.
Afirmo
que o que é necessário para o século XXI é um novo pan-africanismo com duas
características fundamentais inspiradas no legado de Garvey:
[a]
um pan-africanismo que possa curar a África Negra da fraqueza e impotência que
tornaram possível a escravidão, o colonialismo e o racismo; uma impotência que
hoje nos expôs ao extermínio - como através da explosão da AIDS e outras armas
biológicas de destruição em massa que visam apenas pessoas de pele negra; e
destruindo nossa segurança e autonomia alimentar, obrigando-nos a usar sementes
GM (geneticamente modificadas); e através das políticas de empobrecimento
impostas pelo regime do FMI-Banco Mundial da OMC.
[b]
um pan-africanismo que aborde os problemas cotidianos das massas negras
africanas, em casa e no exterior.
Eu
afirmo que não precisamos de nenhum tipo de pan-africanismo que não possua
essas duas características, pois não ajudaria os negros africanos a recuperar
sua dignidade ou a sobreviver fisicamente.
Lições de Garvey para o novo
pan-africanismo:
Ao
construir um novo pan-africanismo orientado para as massas, moldado pelo
projeto de superpotência negra de Garvey, faríamos bem em aplicar as seguintes
lições do arsenal de métodos e ideias de Garvey.
1)
Devemos estudar minuciosamente o mundo e proceder a ação a partir de uma
análise fundamental e abrangente de nossas realidades históricas globais.
2)
Deveríamos acabar com o hábito ancestral de não discernir quando o perigo se
aproxima; e criar o hábito de prospectar perigos e problemas futuros e fornecer
soluções bem antes de sua chegada às nossas portas.
3)
Deveríamos insistir em um público monoracial pan-negro.
4)
Devemos insistir, em todas as coisas, na consciência racial, na autoconfiança
racial e na autonomia racial.
5)
Devemos assumir total responsabilidade por nossa sobrevivência, hoje, amanhã e no
futuro mais distante - Garvey estava preocupado com nossa situação 500 anos no
futuro.
A mãe de todos os problemas
na África Negra: a falta de um forte estado central:
Antes
de prosseguir com o esboço do aprimoramento do pan-negrismo de Garvey no século
XXI, deixe-me começar considerando os principais problemas que o garveyismo se
propôs a resolver, problemas que ainda estão muito presentes.
Em
1922, Garvey articulou corretamente o que chamou de "Solução verdadeira
para o problema dos negros" quando disse:
“Estamos
determinados a resolver nosso próprio problema, resgatando nossa Pátria África
das mãos de exploradores estrangeiros e fundando lá um governo, uma nação
nossa, forte o suficiente para dar proteção aos membros de nossa raça
espalhados por todo o mundo e obrigar o respeito das nações e raças da terra.
”[P&O, I 52]
Essa
é uma declaração sucinta da solução para o problema fundamental que tem
atormentado a África Negra desde que o Egito Negro dos Faraós foi conquistado
por invasores brancos, há 2.500 anos! É a solução de todos os problemas da
África Negra, que não tem um estado central forte. Mas essa solução, embora tão
claramente articulada, foi ignorada nos últimos 50 anos, durante os quais poderia
e deveria ter sido implementada. Em algumas outras elaborações de sua solução,
Garvey falou da necessidade de criar "para nós um superestado
político" [II, 16]
Para
quais problemas do negro esse superestado, esse forte estado central, seria a
solução? Esses eram os problemas de (a) sofrimentos e humilhações dos negros e
(b) perspectiva de seu extermínio pela raça branca. Garvey os resumiu:
(a)
Sobre o primeiro problema, Garvey disse:
“Eles
lincham ingleses, franceses, alemães ou japoneses? Não. E por quê? Porque essas
pessoas são representadas por grandes governos, nações e impérios poderosos,
fortemente organizados. Sim, e sempre prontos para derramar a última gota de
sangue e gastar o último centavo no tesouro nacional para proteger a honra e a
integridade de um cidadão lesado em qualquer lugar. ”[I, 52]
Algumas
de nossas pessoas podem pensar que o problema do linchamento de um século atrás
acabou. Não! Apenas lembre-se de Jena! Ainda existem muitos casos de negros
sendo mortos com impunidade pela polícia em todas as partes do mundo, de negros
sendo economicamente linchados pelo perfil racial e outras ilegalidades; de
linchamento judicial, no qual os negros são desproporcionalmente presos por
delitos cometidos por negros e brancos. Em todo o mundo, vidas negras ainda são
consideradas sem valor. Os negros ainda são vítimas em todo o mundo. Eles
continuam sendo um povo marcado para a destruição.
(b)
Sobre o segundo problema, Garvey disse:
“O negro está morrendo... Só há uma coisa para
salvar o negro, e isso é uma realização imediata de suas próprias
responsabilidades. Infelizmente, somos o povo mais descuidado e indiferente do
mundo! Somos indiferentes e irresponsáveis... É estranho ouvir um líder negro
falar nessa tensão, pois o curso usual é a lisonja, mas eu não lisonjearei vocês
para salvar minha própria vida e a de minha própria família. Não há valor na
bajulação... Devo
lisonjear vocês enquanto vejo todos os outros povos se preparando para a luta de
sobrevivência, e vocês ainda sorrindo, comendo, dançando, bebendo e dormindo no
seu tempo, como se ontem fosse o começo da era do prazer? Eu preferiria estar
morto a ser um membro de sua raça sem pensar no dia seguinte, pois pressagia o
mal para quem não pensa. Como não posso lisonjear vocês, estou aqui para dizer
enfaticamente que, se não nos reorganizarmos seriamente como povo e
enfrentarmos o mundo com um programa de nacionalismo [negro] africano, nossos
dias na civilização estão contados, e será apenas uma questão de tempo em que o
negro estará tão completo e complacentemente morto quanto o índio
norte-americano ou o bosquímano australiano.” [F&O, II: 101-102]...
“Se nos sentarmos supinamente e permitirmos que a grande raça branca se eleve em
número e poder, isso significará que em outros quinhentos anos essa raça de
homens brancos exterminará a raça mais fraca de homens negros para esse fim, de
encontrar espaço suficiente nessa esfera mundana limitada para acomodar a raça
que se multiplicará numericamente em muitos bilhões. Este é o ponto de perigo.
O que acontecerá com o negro daqui a quinhentos anos se ele não se organizar
agora para se desenvolver e se proteger? A resposta é que ele será exterminado
com o objetivo de abrir espaço para as outras raças que serão fortes o
suficiente para se defenderem contra a oposição de todos. ”[I, 66]
Três razões para construir o
Poder Negro hoje:
Foi
assim que Garvey, olhando quinhentos anos à frente, caracterizou nosso problema
vital há um século. Como isso pode ser descrito hoje? Eu colocaria assim:
Hoje
temos três tipos de problemas:
(a)
os ataques e humilhações diários que sofremos nas mãos de racistas;
(b)
a pobreza e miséria das massas negras africanas; e
(c)
nosso extermínio que já está em processo hoje.
Devo
enfatizar que o futuro não é longo para os negros africanos, se continuarmos
com nossa tolice em não reconhecer que nosso extermínio já está em andamento -
como através da AIDS e outras armas de guerra biológica que visam apenas
pessoas de pele negra; limpeza étnica como em Darfur; a destruição de nossas economias
pelas políticas do FMI / Banco Mundial / OMC; a destruição de nossa autonomia
alimentar através de alimentos geneticamente modificados; guerras induzidas
pelo inimigo e morte cultural; etc.
Estes
são os problemas que o pan-africanismo deve se oferecer para resolver e ser
capaz de resolver para os negros, se é que isso tem algum valor para nós, se é
que merecem alguma reivindicação de nossa lealdade. Se construíssemos o poder
negro, resolveríamos todos os três problemas e garantiríamos nossa sobrevivência
em dignidade e prosperidade. Quem se atreveria a agredir qualquer pessoa de
pele negra nas ruas de Jena, Munique, Kiev ou Líbia se o mundo inteiro soubesse
que uma superpotência negra estava vigiando, e poderia e deveria punir o
ataque? Os negros africanos deixariam de ser pobres e miseráveis se seus países
produzissem abundância industrial e agrícola. E todo pensamento de exterminar
os negros pereceria se nossos inimigos soubessem que seriam severamente
punidos, militar e economicamente, por meramente cogitar a ideia.
Portanto,
essas são as três razões pelas quais devemos construir hoje uma superpotência
negra na África. Eu diria, então, que o problema do século XXI é o problema do
poder da África Negra: como construí-lo, e o suficientemente para parar o
extermínio dos negros que está em processo e obrigar o respeito de toda a
humanidade e garantir a sobrevivência, a dignidade e a autonomia soberana da
Pan-África.
Deixe-me
primeiro mostrar como o projeto de superestado de Garvey, se atualizado e implementado,
forneceria o Poder de que tanto precisamos. Depois, irei falar um pouco sobre
porque esse projeto tão vital não foi realizado há 50 anos.
O que o projeto de
construção de uma superpotência negra pode fazer pela nossa sociedade.
Permitam-me
destacar como uma liderança que entende a necessidade de construir uma
superpotência negra e está comprometida em construí-la teria que transformar
nossa sociedade e nos proporcionar uma vida muito melhor.
Como
Garvey nos disse há um século: “a raça só pode ser salva através de uma sólida
fundação industrial”. [I, 8] E ele fundou a Negro
Factories Corporation para mostrar o caminho. Agora, uma superpotência de
hoje precisa ser industrializada. Deve construir suas próprias fábricas para
produzir de tudo, de xícaras a computadores, de toalhas a tanques, de livros a
bombas atômicas, de remédios a metralhadoras, de colheres a satélites. Essa é a
moeda corrente do poder nacional e racial nesta era.
Para
que os negros africanos vivam com segurança e sejam respeitados, devemos
fabricar nossos próprios remédios, lâmpadas, potes e panelas; e construir
nossos próprios utensílios de cozinha, eletrodomésticos, geradores,
computadores, foguetes, tanques, porta-aviões, submarinos nucleares, bombas
atômicas, ICBMs, satélites, etc. E um programa de industrialização para nos
permitir fazer essas coisas requer todo tipo de investimentos que transformaria
a vida de nossa população.
Vamos
considerar o caso da Nigéria. Quais são alguns dos problemas que afligem os
nigerianos, dos quais os nigerianos se queixam incessantemente depois de cinco
décadas de evasão deliberada e tola da industrialização? Os nigerianos se
queixam rotineiramente de NEPA (energia elétrica irregular), estradas ruins,
mau sistema de transporte, moradia precária, instalações médicas precárias,
ruas e bairros imundos, sistemas de saúde deficientes, sistema de educação
deteriorado, anarquia nas estradas, uma liderança política incuravelmente
viciada em corrupção, saqueamentos, etc. etc.
Que impacto um programa de industrialização teria sobre esses males?
O
centro de uma sociedade industrial é o seu conjunto de fábricas. Este deve ser
alimentado diariamente com matérias-primas, energia, finanças, máquinas e
trabalhadores qualificados; sua produção deve ser evacuada e transportada para
os mercados, assim, os consumidores comprarem. Isso significa que, diariamente,
deve ser disponibilizada energia elétrica suficiente e constante (uma cidade
industrial não pode arcar com interrupções irregulares da NEPA, quedas de
energia, queimaduras, surtos, etc. senão as máquinas quebrarão, deixando os
trabalhadores ociosos e causando prejuízos financeiros aos proprietários das
fábricas, sejam investidores privados ou do Estado). As máquinas devem ser
atendidas todos os dias úteis, do horário de abertura ao horário de fechamento
(portanto, todos os trabalhadores devem chegar às estações de trabalho a tempo,
para que haja um conjunto completo de mãos para atender as máquinas depois de
ligadas).
Se
centenas de milhares de trabalhadores precisam estar no trabalho por volta das
8 horas da manhã, deve haver um sistema de transporte público eficiente para
chegar lá a tempo de suas casas, preferencialmente nos subúrbios dos
dormitórios. E, para fazer isso cinco dias úteis por semana, o sistema de
transporte deve funcionar com eficiência todos os dias. E como as máquinas
devem ser totalmente equipadas a qualquer momento, o absenteísmo do trabalhador
não pode ser tolerado. Portanto, torna-se importante para os proprietários que
os trabalhadores raramente saiam do trabalho por causa de doenças ou acidentes.
Portanto, instalações sanitárias adequadas devem estar disponíveis na cidade
fabril. Isso também significa que a saúde e a higiene pública se tornam uma
preocupação dos proprietários e das autoridades da cidade. Portanto, ruas e
bairros imundos seriam desencorajados por proprietários de fábricas e
autoridades da cidade.
Como as fábricas devem ter trabalhadores
qualificados e disciplinados, o sistema educacional teria que ser sólido.
Portadores mal treinados e incompetentes de certificados falsos seriam
inaceitáveis na fábrica e na sociedade. E os bandidos dos campus que atrapalham
o trabalho e a vida nos campus teriam que ser exterminados. Do mesmo modo, as
práticas ilegais que tornam os certificados inautênticos e sem valor.
E,
por mais que as fábricas precisem extrair matérias-primas das fazendas, elas
estimularão a agricultura. De fato, são os insumos da industrialização e as
demandas da industrialização que podem galvanizar nossa agricultura e, assim,
aumentar o emprego nas áreas rurais, reduzindo assim a fuga dos pobres rurais
para as áreas urbanas. Abundância de empregos; empregos nas cidades, empregos
nas aldeias, nenhum desesperado com fome e raiva, nenhuma praga de ladrões
armados, nem favelas. Segurança nas ruas. Isso é apenas uma indicação de como
os requisitos de suas fábricas transformariam uma cidade industrial.
Agora
imagine um país cuja vida é moldada e disciplinada por dezenas de milhares de
fábricas industriais. Existem muitos. São os países desenvolvidos para os quais
os membros da elite nigeriana escapam, a fim de aproveitar seus roubos,
mantendo perversamente a Nigéria em desordem e pobreza.
Esse
é o potencial transformador do projeto de industrialização. A propósito, qual é
o potencial transformador da OUA ou da UA ou dos Estados Unidos da África?
Zero! E qual é o potencial transformador da integração racial? Mais uma vez,
zero! Podemos integrar racial ou politicamente todos os países do continente
africano, ou mesmo da África negra, e nada melhorará para nós. Podemos
construir toda a infraestrutura que queremos; podemos cumprir todos os ODMs e
empregar todos os dispositivos neoliberais da NEPAD e cumprir os objetivos do
Mecanismo Africano de Revisão por Pares e ainda deixar nossas economias e
sociedades à beira do mau desenvolvimento. (A propósito, você sabe o que
realmente significam os acrônimos NEPAD e ODM? Vou lhe dizer: NEPAD é o [New European Program for Africa‘s Demise]
Novo Programa Europeu para o Fim da África; e para ver o que significa ODM,
você precisa inverter a ordem das cartas ao GDM, que significa [Goals that will prevent Development in this
Millennium] Objetivos que impedirão o Desenvolvimento neste Milênio).
Considere a OUA, a UA, os EU da África, a integração racial, a NEPAD, os ODMs,
a construção de infraestrutura e todo esse jazz - isso não tirará a África
Negra de sua decadência social, pobreza e impotência. Isso é como construir um
carro com um corpo bonito, mas sem motor.
A
industrialização, afirmo, é o mecanismo que falta em nossas economias e
sociedades, e devemos nos dedicar à industrialização se queremos ser prósperos
e respeitados, e se não queremos perecer. É claro que, no devido tempo,
trabalharemos juntos os detalhes do tipo de programa de industrialização de que
precisamos e as modalidades para realizá-lo, a fim de satisfazer da melhor
maneira possível nossos requisitos de segurança coletiva, bem como de acordo
com nossos requisitos culturais, sociais, econômicos e de necessidades
ecológicas; mas minha tarefa aqui é simplesmente apontar que a industrialização
é absolutamente necessária, é a área prioritária, se queremos ter algum futuro.
Agora,
a óbvia pergunta chave: onde será encontrado o político para criar uma
sociedade assim na África Negra? A resposta é MEDO. Se uma liderança está
ciente dos perigos de ficar para trás na competição entre as potências do
mundo, se entender que será derrotada e exterminada pelas sociedades mais
industrialmente poderosas, encontrará a vontade de empreender tal transformação
de sua sociedade. Foi assim que o Japão, a Rússia e a China encontraram a
vontade política de se industrializar. O mesmo acontece com os países rivais da
Europa desde o final do século XVIII.
Desse
modo, se nossa liderança apreciar o ponto de vista de Garvey sobre o perigo de
todos sermos exterminados pelas raças mais poderosas que desejam tomar nossas
terras e recursos para si mesmos, é quase garantido que eles encontrarão a
vontade política de construir uma superpotência industrializada na África
Negra.
Deixe-me
enfatizar: a vontade política de se industrializar e se tornar uma grande
potência vem de um medo de ser conquistado, desonrado, oprimido, escravizado e
exterminado pela perda de uma guerra. Isso ficou explícito no caso da União
Soviética, quando, em fevereiro de 1931, Stalin previu e advertiu seu povo:
“Estamos 50 ou 100 anos atrás dos países avançados. Devemos corrigir esse
atraso em 10 anos. Ou fazemos ou eles nos esmagam.” E ele dirigiu seu povo com
o proverbial chicote e escorpião, e os forçou a industrializar em um ritmo
desesperado. E a Rússia se industrializou em 10 anos! Bem a tempo e prontos
quando Hitler libertou seus exércitos contra a Rússia em junho de 1941.
No
caso do Japão, o espírito japonês sentiu-se profundamente desonrado em 1853
pela violação do Comodoro Perry de seu isolamento auto imposto e pela
arrogância dos intrusos americanos e europeus. E eles temiam que fossem
colonizados e oprimidos pelas potências mundiais brancas. Para resgatar sua
honra e evitar um destino tão detestado, eles encontraram a vontade política de
industrializar e transformar o Japão em uma potência mundial de primeira ordem
durante a era Meiji, na segunda metade do século XIX.
No
caso da China, foi o medo, em 1919, de a China ser destruída pelas potências europeias
que deram à geração de Mao a vontade de empreender uma guerra civil de trinta
anos contra os fantoches/vassalos chineses e conquistar a China em 1949, e
depois industrializá-la em energia nuclear em 1964.
A
motivação foi a mesma para a Grã-Bretanha, França, Alemanha e os outros membros
da Europa. Durante séculos, o medo de perder qualquer uma das guerras entre
eles motivou cada um a aumentar seu poder. Ninguém queria ser derrotado e
perder sua soberania.
No
século XIX, quase todas as políticas negras africanas entraram em guerra para
impedir a perda de soberania para os europeus invasores. Através de armas
maciças, eles ainda lutavam contra exércitos maiores usando artilharia, armas
máximas, etc., eles lutavam mesmo com lanças, flechas e facas. Foi
"soberania ou morte" por assim dizer! Dada a reação bastante natural
de nossos ancestrais, por que estamos nos comportando de maneira diferente
agora? Por que eu disse "é quase garantido que eles encontrarão a vontade
política de construir uma superpotência industrializada na África Negra"?
Por que eu não disse "isso é garantido"?
É
bem possível que as elites vassalas negras na África hoje tenham degenerado do
nível de humanidade exibido por seus ancestrais, e tenham se tornado subumanas
em sua preferência por insultos estomacais e desonra de bom grado; que são
covardes o suficiente para sofrer humilhação com equanimidade; que estão tão
degradados que podem contemplar sem indignação a perspectiva de extermínio da
raça negra; que eles não têm respeito próprio, falta de senso de desonra e
ficam felizes em viver em estado de vergonha! Caso contrário, por que eles
suportaram a desgraça de serem os últimos em tudo de louvável na terra? Por que
eles estão tolerando um governo grosseiro, um desenvolvimento crônico e uma
falta de poder vergonhosa?
É
bem possível que nossos governantes fantoches negros sejam infantis demais para
assumir a responsabilidade pela segurança coletiva dos negros; infantil demais
ou em coma para se interessar pelos processos de extermínio que já foram
desencadeados por nossos inimigos europeus e árabes; infantil demais para
compreender as abundantes evidências de nosso extermínio; muito demente para
entender que a sobrevivência de um povo não pode e não deve ser deixada ao
acaso ou à boa vontade do inimigo.
Francamente
falando, nossos líderes são como bebês engatinhando que comem sujeira e brincam
na areia sem saber que estão no meio de um campo de batalha. Eles só se
preocupam em encher a boca e se divertir com os sons estrondosos da artilharia,
o rata-ta-ta-ta do fogo das metralhadoras, o espetáculo de explosões e armas a
laser iluminando o céu noturno. Sendo crianças que amamentam bem abaixo da
idade da razão, e muito jovens para ter medo, pensar em sua segurança está
muito além de sua capacidade.
O
ponto é que, se o medo do extermínio não fizer com que nossas elites vassalas
empreendam a industrialização, nada os levará a fazê-lo. Nesse caso, a África
Negra está condenada e finalizada.
Mas
se tivermos algum senso de honra racial e se quisermos sobreviver fisicamente,
precisamos de um novo pan-africanismo, um pan-africanismo com um conjunto de
doutrinas claramente articuladas e consistentes, um pan-africanismo com
objetivos e estratégias corretas, um pan-africanismo comprometido com a
construção de uma superpotência negra na África. Tal pan-africanismo terá dois
méritos vitais:
[a]
criando o poder industrial, curaria a África Negra da fraqueza e impotência que
tornaram possível a escravidão, o colonialismo, o racismo e nosso contínuo
extermínio;
[b]
procurando atender aos requisitos de poder industrial, resolveria os problemas
da vida cotidiana das massas negras africanas e eliminaria a pobreza.
Adiante,
por que esse projeto vital de construção de uma superpotência industrial negra
na África não foi realizado até agora? Existem cinco razões principais.
Primeiro, não foi realizado principalmente porque, durante 50 anos, seguimos
cegamente Nkrumah e Padmore, que haviam desviado o trem do pan-africanismo para
os trilhos errados, os trilhos afro-árabes da OUA / EU da África que não nos
levaram a lugar algum, mas em direção às masmorras do colonialismo árabe. Sua
obsessão em construir a unidade continental por meio de um governo continental
nos desviou da tarefa correta de construir uma superpotência industrial
africana negra.
Precisamos
notar que o pan-africanismo da OUA / UA dos últimos 50 anos falhou em suprir
nossa necessidade mais vital do poder negro que garantiria nossa dignidade e
sobrevivência física. Nem seus dispositivos atuais, como NEPAD, MDG e EU da
África, podem fazer esse trabalho. Todas essas bobagens são vendidas por nossos
inimigos para servir seus próprios interesses africanos anti-negros.
Em
segundo lugar, nossos líderes estavam se saciando de ilusões. Alguns disseram
que estavam construindo o socialismo; todos alegaram que estavam buscando
desenvolvimento; todos alegaram que estavam envolvidos na construção da nação.
Mas, na realidade, todos estavam simplesmente viciados no consumo conspícuo de
camas de ouro, jatos particulares, mansões na Europa e Dubai e contas bancárias
suíças. São tão viciados em consumir que não podem poupar em consideração a
dignidade e a sobrevivência da raça.
Terceiro,
somos confrontados com uma elite vassala em escravidão mental pelos árabes e
europeus; uma elite negra para quem a vida sem mentores e aprovação de brancos
é aterradora demais para ser pensável; uma elite vendida que é aterrorizada ou
estúpida demais para admitir que árabes e europeus são nossos inimigos mortais
há séculos; uma elite de fantoches que está em coma demais para analisar independentemente
nossa situação, diagnosticar nossos problemas e pensar em nossas próprias
soluções.
Em
quarto lugar, a elite da África Negra é tão dispersa que alguns resistem à
evidência do perigo de nosso extermínio por causa da ingênua e falsa crença de
que este é o "mundo moderno" e não será permitido pela "opinião
do mundo"; e alguns confiam estupidamente em Jeová ou Alá, os deuses de
nossos inimigos brancos, para garantir que os negros não sejam exterminados.
Em
quinto lugar, nossa liderança é infantil. São bebês psicologicamente retardados
em corpos adultos. Nunca tendo aprendido sua verdadeira história, são como os
adultos que regressaram ao estado mental dos bebês depois de serem
hipnoticamente privados da memória de seu passado. A mentalidade infantil de
nossas elites os impede de entender o perigo em que vivemos. Como bebês no
seio, não podem reconhecer as evidências abundantes das graves ameaças à nossa
sobrevivência.
Sofremos
de uma profunda falta de conhecimento do mundo e da história negra africana e
exibimos total ignorância dos caminhos desonestos do mundo; e como não
conhecemos ou valorizamos a história da qual precisamos aprender para
sobreviver, não sabemos que muitos povos foram mortos por seus inimigos e não
sabemos que a sobrevivência de um povo não é automática, mas deve ser
assegurada pela previsão, planejamento futuro e ação vigorosa. Como os bebês
são incapazes de monitorar seu ambiente para descobrir quais perigos o futuro
lhes reserva, a segurança de uma sociedade não pode ser confiada a seus bebês,
não importa o tamanho do corpo.
Deixe-me
enfatizar que uma vila está condenada, ao largar sua segurança nas mãos de seus
bebês que ainda amamentam. Os bebês que amamentam preocupam-se apenas com a
comida e o conforto do seu próprio corpo. O hábito de reconhecimento constante
não é para bebês. Nossas elites vassalas são inteiramente como bebês que
amamentam. Elas não podem, portanto, discernir, confrontar e derrotar as forças
que orquestram nosso extermínio.
É
por isso que estamos hoje na situação que Garvey projetou que chegaríamos em
500 anos; estamos na situação em que os nativos americanos dos EUA se
encontraram no século XIX, e os negros australianos no século XIX.
O que é para ser feito?
Antes
de tudo, precisamos aprender nossa verdadeira história afrocêntrica. Isso
requer uma profunda reforma do sistema educacional e, especialmente, uma
reforma do currículo de história. É aqui que devemos começar. A cura para a
mentalidade infantil de nossas elites vendidas
deve começar com a psicoterapia, com um currículo de educação terapêutica que
implante em nossos líderes em todos os níveis um espírito patriótico e uma
consciência coletiva de segurança e ensine a eles as responsabilidades sociais
da liderança. Devemos procurar na psicoterapia outros remédios.
Em
segundo lugar, por meio século, tivemos um pan-africanismo que, devido à
ignorância ou falta de informações apropriadas sobre as realidades históricas,
sociológicas, culturais e de segurança da África Negra, está principalmente
desconectado e não responde aos problemas dos povos africanos negros, suas aspirações
e interesses. Está na hora de acabar com esse tipo de pan-africanismo.
Afirmo
que o pan-africanismo relevante para o século XXI deve ser baseado no pan-negrismo
de Garvey que foi abandonado desde 1958. O pan-negrismo deve ser reintegrado,
aprimorado e seus projetos rapidamente realizados, até o fim deste século XXI.
Não
precisamos integrar ou federar politicamente todos os estados neocoloniais
africanos negros no continente africano para produzir um superestado africano
negro que possa proteger todos os negros africanos onde quer que estejam na
terra.
Para
implementar a ideia de Garvey, o que precisamos, acima de tudo, é apenas um
país africano negro, grande e industrializado o suficiente e, portanto,
poderoso o suficiente para ser da categoria G-8, um país que poderia servir
como o estado central - protetor e líder - da África Negra Global.
Também
precisamos de uma Liga Africana Negra que seja a organização de segurança
coletiva da África Negra Global, nosso equivalente à OTAN e ao extinto Pacto de
Varsóvia. Estas são as duas coisas que precisamos neste século XXI para cumprir
o requisito de Garvey para a sobrevivência dos negros africanos.
Para
a construção de uma superpotência negra africana, como solicitado por Garvey,
uma Federação da CEDEAO (Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental) ou da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) ou algum
equivalente na África Oriental ou Central é mais que suficiente. Apenas um
deles, se integrado e industrializado até 2060, atenderia a necessidade. A
CEDEAO ou a SADC é suficientemente grande em tamanho territorial, população e
dotação de recursos para se tornar uma potência mundial industrializada, desde
que o seu caráter neocolonial seja eliminado.
Vejamos
os números:
País
|
Área
em Km²
|
População
em 1993
|
CEDEAO
|
6,5
milhões
|
185
milhões
|
SADC
|
7
milhões
|
130
milhões
|
Brasil
|
8,5
milhões
|
156
milhões
|
EUA
|
9,5
milhões
|
256
milhões
|
Rússia
|
17,1
milhões
|
148
milhões
|
Índia
|
3,3
milhões
|
900
milhões
|
China
|
9,6
milhões
|
1,2
bilhões
|
EU
|
2,4
milhões
|
350
milhões
|
CEDEAO,
com 16 estados, 6,5 milhões de km² e quase 200 milhões de habitantes; ou SADC,
com 11 estados, 7 milhões de km² e cerca de 130 milhões de habitantes - seria
um país de tamanho subcontinental, e na liga de megaestados, em território,
população e recursos aos quais pertencem os EUA - com 9 milhões de km² e cerca
de 260 milhões de pessoas; Brasil - com 8,5 milhões de km² e 156 milhões de
pessoas; e Rússia, Índia etc. A CEDEAO ou a SADC, se adequadamente integradas,
industrializadas e completamente descolonizadas, seriam um megaestado do tipo
que a África Negra precisa. Então, por que não prosseguimos com a tarefa de
transformar cada um desses em um poder de categoria do G-8?
É
construindo o superestado de negros de Garvey na África que a redenção dos negros
será realizada. Deixe-me traduzir isso para a linguagem de hoje: é através da
construção de uma superpotência negra na África que a raça negra se redimirá de
seu atraso, fraqueza e pobreza, e do racismo e do desprezo do resto da
humanidade.
Para
evitar o integracionismo e a falta de atenção à sobrevivência e segurança
raciais e à construção de poder racial que DuBois e Nkrumah exibiram, é
importante que o novo pan-africanismo receba um nome que reflita seu foco no
poder de um público africano exclusivamente africano. Por isso, proponho que
chamamos de PAN-AFRICANISMO DO PODER NEGRO. Isso também o distingue da
variedade continentalista e integrante irresistível da OUA / UA dos últimos 50
anos.
Conclusão:
É
lamentável que a afirmação de Garvey da solução para o nosso maior problema não
seja tão conhecida como a do Du Bois - afirma que “o problema do século XX é o
problema da linha de cores”. Aqui está Garvey novamente:
“Os
povos negros do mundo devem se concentrar no objetivo de construir para si uma grande
nação na África... [de] criar para nós mesmos um superestado político...um
governo, uma nação própria, forte o suficiente para proteger os membros de
nossa raça espalhados por todo o mundo e obrigar o respeito das nações e raças
da terra...”[P&O, I: 68; II: 16; I: 52]
Deveríamos
fazer dessa declaração de Garvey o mantra central do pan africanismo daqui em
diante, como deveria ter sido nos últimos 80 anos. É a solução para o problema
da linha de cor e muito mais, já que os indivíduos de duas raças que se
coabitam não podem ser socialmente iguais se suas raças são grosseiramente
desiguais em poder, um fato simples que escapou ao nosso instruído Dr. Du Bois,
mas não escapou a Garvey.
Por
fim, proponho os seguintes slogans para este pan-africanismo revitalizado:
[a]
África negra para negros africanos, em casa e no exterior
[b]
O problema do século XXI é o problema do poder dos africanos negros: como
construí-lo, e o suficiente para impedir o extermínio dos negros que está em
andamento e obrigar o respeito de toda a humanidade e garantir a sobrevivência,
dignidade e autonomia soberana da Pan-África.
[c]
Construa primeiro o reino da segurança coletiva, e você poderá, dentro de suas
muralhas, alcançar todos os seus outros desejos!
[d]
Construa uma superpotência negra na África e também construa uma Liga Africana
Negra como órgão de segurança coletiva da raça negra.
[e]
África negra! Industrialize ou pereça!!
E a
última palavra, a solução de Garvey mais uma vez:
“Os
povos negros do mundo devem se concentrar no objetivo de construir para si uma
grande nação na África... [de] criar para nós mesmos um superestado
político...um governo, uma nação própria, forte o suficiente para proteger os
membros de nossa raça espalhados por todo o mundo e obrigar o respeito das nações
e raças da terra...”[P&O, I: 68; II: 16; I: 52]
Finalmente,
recomendo que todo africano negro possua uma cópia do livro Filosofia e Opiniões de Marcus Garvey e
leia-a todos os dias, da maneira que você lê sua Bíblia ou o Corão.
por
Chinweizu (2004)
Agora
que os mestres nazistas americanos do poder branco começaram a implementar sua
solução global final ‘para o que, nos EUA, costumavam chamar de A questão dos
negros‘ [ou seja, O que deve ser feito com o negro?], Um novo e mortal contexto
surgiu para o Movimento Pan-Africano de Reparações.
Relatório sobre a situação
Os
negros africanos, seja na pátria africana ou na diáspora mundial, já estão há
três décadas sob um ataque de genocídio dos mestres bárbaros da Europa Global;
um ataque furtivo feito usando Armas Biológicas de Destruição em Massa
(Bio-WMDs). Aqueles que, durante séculos, orquestraram nossa escravização,
expropriação e superexploração, agora estão (Surpresa! Surpresa!) Orquestrando
nosso extermínio.
Nossas
perspectivas, sem alarde, foram de pior a pior: de mais 1000 anos de
exploração, humilhação e extrema pobreza, até o extermínio definitivo neste
século, se não derrotarmos esse ataque. Infelizmente, a maioria dos africanos
não sabe que estão em guerra; ou que a Europa Global vem construindo uma guerra
sem cessar na Pan-África nos últimos seis séculos; ou que, desde a década de
1970, os senhores nazistas da globalização [sua nova ordem imperialista
mundial] travavam uma guerra secreta para nos exterminar.
Os
africanos conhecem muito bem a AIDS e a epidemia da AIDS que está devastando as
populações pan-africanas; mas eles, e especialmente os da pátria, não sabem ou
são alienados demais para acreditar que o flagelo da AIDS foi deliberadamente
infligido para exterminá-los, por meio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e
de sua campanha de vacinação em massa para, ostensivamente, erradicar a
varíola. Foi nessa campanha que vacinaram 97 milhões de pessoas nos sete países
da África Central que se tornaram o epicentro da pandemia da AIDS: Zaire,
Zâmbia, Tanzânia, Uganda, Malaui, Ruanda e Burundi. [Veja a p.6 do Apêndice 1:
o artigo de Pearce Wright, “Smallpox vaccine Triggered Aids virusThe” The
(London) Times, 11 de maio de 1987, pp.1, 18]
Quem
fabricou o vírus real, mas ainda misterioso, que causa a AIDS? E mais, por que
e como ele entrou nas vacinas da OMS?
O desafio?
Chega
um momento em que um povo deve agir em conjunto ou vai perecer. Para a
Pan-África (todo o mundo negro africano), esse tempo é AGORA! Se não
conseguirmos agir em conjunto, não teremos mais futuro, pois, como outros antes
de nós, seremos varridos do planeta Terra por nossos inimigos seculares: os
mestres bárbaros da Europa Global, viciados em genocídios. Ficaremos desaparecidos
como os nativos americanos dos EUA, como os negros da Tasmânia, como os
aborígines negros da Austrália, como os aborígines tártaros da Sibéria. O
desafio diante de todos os africanos é, portanto, o seguinte:
Travar
uma guerra implacável contra o genocídio e derrotar, por qualquer meio
necessário, essa campanha satânica de extermínio que foi desencadeada sobre
nós. Essa é a tarefa primordial, na verdade a única e estratégica tarefa que
enfrentamos neste século.
O que é para ser feito?
Como
vítimas de um ataque de genocídio, é nosso dever responder com uma Guerra ao
Genocídio.
Para
esse fim,
Devemos
despertar o espírito de luta africano.
Devemos
mobilizar a população da Pan-África.
Devemos
reorganizar as sociedades e comunidades da Pan-África para construir o Poder
Africano para a sobrevivência pan-africana.
Mas o que as reparações têm
a ver com isso?
Tudo!
De
fato, a auto reparação, o aspecto central das reparações, é a chave de tudo.
Como assim?
Os
dois principais obstáculos à mobilização e organização africana são (a) as
populações niggerizadas* da
Pan-África, e (b) O acúmulo de traidores no topo das sociedades e comunidades
pan-africanas: os traidores espirituais, traidores temporais, traidores
intelectuais, traidores políticos, culturais, econômicos etc; Traidores
instalados pelo Poder Branco para nos desorientar e nos desviar, e que diminui
seu próprio povo para o inimigo imperialista estuprar, saquear, explorar e
exterminar.
Lembra-se do Marcus Garvey? Aquele grande profeta
pan-africano que nos alertou, na década de 1920, sobre o genocídio que estamos
vivendo agora? O que nos impediu de atender a seu chamado e organizar o Poder Africano
para impedir ou derrotar esse ataque há muito previsto? Não teria outro motivo
senão nossas mentes (des)africanizadas,
niggerizadas e zumbificadas.
Nosso
primeiro passo em direção à vitória deve ser a de desniggerizar e (re)Africanizar nossas mentes; para nos livrarmos,
especialmente, do niggerismo que
agora está entrincheirado na pátria.
Mas, antes de tudo, quem é o
nigger?
O Nigger é o africano mutilado pelo poder
branco, uma farsa peculiar produzida por séculos de imperialismo europeu e
hegemonia árabe. Após mais de um século nas masmorras do poder branco, todos
nós africanos hoje nos tornamos niggers.
O Nigger é o morto-vivo no qual o Poder
Branco transformou o africano. O Nigger
é um africano falso - uma pessoa de raça africana, que foi despojada da cultura
africana e que é culturalmente eurocêntrico ou arabocêntrico.
O
Nigger é um africano biológico que internalizou superstições da supremacia
branca, e se tornou negrofóbico, e
até eurochauvinista ou arabochauvinista também, em muitos
casos.
O
Nigger é uma pessoa com pele negra, mente branca e espírito branco, um sal
africano que perdeu o sabor, o açúcar mascavo que azedou.
O
Nigger é aquela criatura estranha - o africano nominal que despreza sua raça,
nega a cultura africana, demoniza seus antepassados e ainda espera, e até
exige, que as pessoas de outras raças que se prezem, o respeitem e o tratem
como igual membro da humanidade.
O
Nigger é o morto-vivo africano possuído pelas ideias e ideais da supremacia
branca; o africano negrofóbico que deseja
ser branco fisicamente (por exemplo, Wacko Jacko) ou culturalmente (por
exemplo, a variedade de europeus negros na pátria, afro-saxões na diáspora e
Omar Bashir com seu bando criminoso de traficantes de escravos
Arabizer-Jihadeer fazendo limpeza étnica no Sudão).
O
Nigger, hipnotizado pelo Fantasma da Liberdade / Igualdade / Direitos
Individuais no sistema de Poder Branco do inimigo, imagina-se livre enquanto
tudo na Pan-África - nossas leis, nossos costumes, nossas cidades, nossas
escolas, nossas crenças, nossas ambições - ainda possui as características
estampadas para servir ao imperialismo.
O
Nigger é o africano encantado e viciado no caminho antiecológico da Europa
Global [ou seja, caminho anti-Ma'at]; essa maneira glamorosa e capitalista que
está levando a certa destruição da biosfera e da humanidade.
Alguns
niggers, os super-niggers, estão tão
viciados nos deuses satânicos e vigaristas de seus senhores de escravos brancos
que, na verdade, já são escravizados, não apenas no corpo e na mente, mas também
na alma; não apenas por toda a vida aqui na terra, mas também por toda a
eternidade no além.
Imagine
uma ovelha negra regurgitada após uma semana no estômago de um píton branco e
coberta por um espesso gel de saliva de píton; imagine aquela carcaça meio
digerida cambaleando e desfilando como uma ovelha. Mas esse é o Nigger!
Leva
o Nigger a pensar ou dizer: “Obrigado Deus pela escravidão!” Ou “Obrigado Deus
pelo colonialismo!” Ou seja, contar como bênçãos aquelas duas demolições das
sociedades africanas pelo poder branco: demolições acompanhadas de picadas de
víbora que incorporavam presas e venenos no corpo social da Pan-África, presas
que ainda precisam ser extraídas e venenos que ainda precisam ser sangrados e
neutralizados com antídotos, venenos que ainda fluem em nossos espíritos,
deixando a Pan-África muito atordoada, decrépita e desorientada para agir em
conjunto.
Tal
é o africano Niggerizado, seja da
terra natal ou da diáspora!
E a
mente do Nigger é o ponto de recrutamento do inimigo para se tenha traidores
entre nós.
E
foi o niggerismo que fez com que os
traidores da Pan-África desperdiçassem, em atividades frívolas, os últimos 50
anos de "Independência", e os manteve perseguindo migalhas da mesa do
Poder Branco, ao invés de focar no seu dever estratégico de construir o Poder
Africano. E esses fracassos gratuitos nos colocaram, fracos e indefesos, a este
matadouro de vacinação por genocídio.
Nossa
primeira tarefa em nossa Guerra contra o Genocídio é, portanto, curar a Pan-Africa
do Niggerismo, com suas confusões de
identidade, sua cegueira estratégica, sua consciência deseducada e zumbificada, suas imbecilidades suicidas
e sua infinita tolerância aos traidores no topo.
A auto
reparação consiste em efetuar essa cura. E a prova operacional de uma reparação
bem sucedida será quando construirmos o Poder Africano, e que nos trará a
vitória sobre esse genocídio. Mas o nigger em nós teme e obstrui essa cura.
Lembra-se do H. Rap Brown?
Lembra do grito de guerra dele? "Morra, nigger morra!"
Ainda
estamos a sofrer completamente a sábia cura que ele prescreveu. Ainda existem
muitos negros na Pan-África, causando estragos entre nós em todos os lugares.
De fato, os niggers estão proliferando, principalmente na pátria. Devemos matar
rapidamente o nigger em nós, pois o nigger deve morrer para que o africano
viva!
Lembra-se
de [Amilcar] Cabral, que nos ensinou a nos tornarmos africanos e a lutar contra
nossas próprias fraquezas?
A desniggerização, a re-africanização e a superação de nossas debilidades são os
fundamentos da auto reparação que devemos realizar. Sem elas, nossas chances de
sobreviver a este século XXI são menores do que as de um granizo em um forno de
fusão de metais.
Matar
o nigger é a base do nosso programa de auto reparação. E como o Nigger é tão
difícil de matar, precisamos coletivamente ajudar um ao outro a matar o Nigger
em nós mesmos.
Portanto,
a tarefa básica e urgente do Movimento Africano de Auto Reparação é clara:
Re-africanizar
o nigger, pois essa é a única conversão que pode salvar nossos corpos aqui na
terra e nossas almas no além.
Para
nos africanizar, a nossa mente precisa se tornar afrocentrada.
Depois
de um século ou mais de deseducação abrangente, a nossa primeira necessidade é
conhecer a nós mesmos e conhecer os nossos inimigos.
E
para isso devemos recorrer a nossos sábios e profetas de todos os tempos e
beber de suas fontes de sabedoria que cura:
Devemos
aprender com nossos profetas anti-imperialistas, de Boukman a Biko.
Devemos
aprender com nossos guerreiros e desbravadores intelectuais, com os defensores
do caminho africano: de Garvey, Cheikh Anta Diop, Amilcar Cabral, Martin
Delaney, Malcolm X, Blyden, Fanon, Cesaire, Carruthers e outros.
Devemos
buscar orientação de nossos sábios ao longo dos milênios, de Ptahhotep até
P‘Bitek, e dos provérbios de nossos ancestrais.
Devemos
inspirar-nos em exemplos de organizadores e mobilizadores do poder africano, de
Mena a Menelik, de Senwosre a Shaka, de Seqenenre Tao, Kamose, Ahmose, Piankhy
e Taharka, até Sundiata, Sonni Ali, Osei Tutu, Dessalines, Nzinga, Yaa
Asantewa, Nehanda, Sobukwe e muitos mais.
Devemos
nos armar com a arma da cultura, da cultura africana; devemos fornecer à nossa
mente histórias afrocêntricas, épicos, historiografias, parábolas, enigmas,
instruções, advertências; com as ciências e tecnologias que construíram as
Grandes Pirâmides no Nilo; com as histórias das Boas Obras, Sofrimento, Morte e
Ressurreição de Ausar / Osíris, as tristezas e poderes salvadores de Isis, a
sabedoria de Djehuti e os outros Akhu / (Iluminados) do Sep Tepi.
Para
o nosso espírito africano ressuscitar, como Ausar, após esses muitos séculos de
menticídio, devemos apagar da Pan-África a impressão satânica do poder branco e
sua marca de conhecimento afrocida.
Devemos
acabar com nossa tolerância e admiração pelos demônios traidores niggers, que
são destacados e glorificados pela propaganda inimiga.
Devemos
retirar nossa lealdade de seguidores da estrela Nigger, enganosa, impingindo a
nós canções de manipulação e louvor pelo Poder Branco.
Devemos
abandonar os aclamados Niggers que ensinam doutrinas inimigas e, em vez disso,
devemos absorver a sabedoria de nossos próprios instrutores afrocêntricos:
aqueles que ensinam no interesse africano.
Mas,
enquanto matamos o Nigger dentro e ao redor de nós, e enquanto começamos a Afrocentrar
a nós mesmos e nossas comunidades, não devemos negligenciar que precisamos de algumas
medidas defensivas urgentes para conter este ataque genocida:
1.
Não se submeta a nenhum programa de vacinação em massa, especialmente aqueles
patrocinados por qualquer organização do Poder Branco, como a OMS e outras
agências da ONU.
2.
Sempre pratique sexo seguro e outras medidas anti-AIDS.
3.
Procrie o máximo que puder. A Pan-África tem um problema de subpopulação, não
de "superpopulação", e agora precisamos também nos reproduzir em um
ritmo mais rápido do que a máquina de genocídio do inimigo pode nos derrubar.
4.
Dê aos seus filhos uma educação afrocêntrica completa para garantir que eles se
tornem africanos e não niggers!
5.
Crie estruturas para que nos mantenhamos africanos em mente e espírito.
6.
Torne-se sempre consciente da segurança africana e crie órgãos para o controle
africano dos países e comunidades africanas.
7.
Insista na África para os africanos e no uso dos recursos da África para o
Poder Africano.
8.
Desorganize as estruturas imperialistas que aprisionam seu país, escravizam sua
sociedade e distorcem suas vidas.
Lembre-se,
a todo momento, que a frente de batalha nesta guerra contra o genocídio está
onde você estiver. Portanto, aja onde quer que esteja, hoje e todos os dias:
Mate
o Nigger dentro de si e ao seu redor e Afrocentre-se, você e seus companheiros!
Mate
o Fantasma da liberdade / igualdade / direitos individuais que as sirenes
inimigas bradam para nos iludir e aleijar. A única liberdade / igualdade /
direitos que qualquer africano em qualquer lugar do mundo é a liberdade /
igualdade / direitos garantidos pelo Poder Africano.
Qualquer
outra coisa é uma miragem que aparece e desaparece ao capricho do poder branco.
Reconheça
que afrocentrar-se, como reparação, tem tudo a ver com a construção do Poder
Africano, e reconheça que o problema do século XXI é o problema do Poder
Africano: Como construir o suficiente para garantir a sobrevivência e autonomia
soberana da Pan-África.
Lembre-se
sempre que não há isenção individual nem rota de fuga individual deste ataque genocida.
Um
Colin Powell pode afirmar que ele não é negro ou africano; mas será que ele
pode enganar aqueles vírus novos e aprimorados da Bio-WMD que são geneticamente
modificados para selecionar e matar negros e apenas negros? [Ver p.10 no Apêndice 2: "Biowar and the Apartheid Legacy" by
Salim Muwakkil, In These Times, May 29, 2003]]
Estamos
todos juntos nisso e devemos travar a guerra coletivamente ou perecer
separadamente.
Portanto,
Organize, não agonize!
De
fato, esta Guerra ao Genocídio é uma grande convocação para nos organizarmos,
construirmos coalizões e estabelecermos uma unidade operacional entre as zonas
da Diáspora e Pátria da Pan-África.
É o
momento de missionários zelosos do afrocentrismo se espalharem por toda a
África para reconquistar nosso povo ao nosso interesse coletivo. E, em
particular, todos vocês Afrocentristas
da Diáspora: Venham para a África e ajude-nos a re-Africanizar este terreno
baldio Niggerizado e torná-lo
adequado para construir o Poder Africano para a sobrevivência da Pan-África!
E,
ao aceitar o desafio, vamos armar nossos espíritos com a oração de Boukman de
1791:
“Bom
Deus, que criou o Sol que brilha sobre nós, que elevou o mar e faz o trovão
roncar;
Ouça,
Deus, embora escondido nas nuvens, nos vigia.
O
deus do homem branco invoca o crime, mas nosso Deus deseja boas obras.
Nosso
Deus, que é tão bom, nos ordena a vingança.
Ele
vai direcionar nossos braços e nos ajudar.
Jogue
fora a semelhança do deus do homem branco que tantas vezes nos levou às
lágrimas e ouça a liberdade que fala em todos os nossos corações.”
-
(Boukman, Sacerdote haitiano do Vodun, agosto de 1791; tr. De Jacob Carruthers)
Com
o espírito de Boukman iluminando nosso caminho
Vamos
nos unir e avançar para vencer esta Guerra contra o Genocídio!