sábado, 31 de agosto de 2019

Breve nota – Relatório Professores Excelentes do Banco Mundial

Com base na leitura do relatório Professores Excelentes (2014) do Banco Mundial acerca da melhoria na aprendizagem dos estudantes da América Latina e Caribe, traço abaixo um breve comentário sobre minha sensação pós leitura de tal manual, nota essa que se atem ao reflexo de um cenário neoliberal na educação, abstraindo ainda (nessa nota) uma leitura que contenha um viés racial e de gênero, que de fato existem.

É de causar no mínimo um estranhamento ao relacionar e/ou enxergar as ações do Banco Mundial apenas pelo viés do altruísmo despendido aos Países do chamado Terceiro Mundo. Se faz necessário perpassar, mesmo que superficialmente, pelo contexto em que o Banco Mundial foi criado e consolidado. É de suma importância, também, buscar revelar algumas questões e consequências que estão imbricadas no pano de fundo deste ato de ajudar, ao suposto estimulo de reduzir a pobreza, ou de se preocupar com o desenvolvimento dos Países da América Latina e do Caribe, - para se utilizar apenas de algumas falas que essa instituição gostaria que existisse ao se avistar sua estrutura de forma rasa.
Para se chegar direto ao ponto, baseando aqui na análise de Mike Davis em Planeta Favela, são justamente essas ações do Banco Mundial em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (F.M.I) que culminam nas faltas de estruturas, aumento da pobreza, favelização, e a precarização das condições de trabalho nos países do chamado terceiro mundo. E por mais que a crítica de Davis não esteja voltada unicamente à educação, é importante frisar que toda esta falta de estrutura e austeridade imposta por estas instituições se consubstancia na precarização do sistema educacional, direta ou indiretamente.
O Banco Mundial em conjunto com o FMI ao intervirem na estrutura política dos países do terceiro mundo, visam nitidamente implantar uma reestruturação neoliberal nas economias do terceiro mundo, sobretudo nas economias urbanas, pois tais países se encontram endividados devido os juros elevados que são cobrados como condição aos empréstimos cedidos pelo Banco Mundial e FMI. (DAVIS, 2006:151). Ao prefaciar Istvan Meszaros em A Educação Para Além do Capital, Emir Sader revela em síntese o que representa o viés neoliberal para educação.
“No reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do sistema público de ensino, pressionado pelas demandas do capital e pelo esmagamento dos cortes de recursos dos orçamentos públicos. Talvez nada exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se vende, tudo se compra”, “tudo tem preço”, do que a mercantilização da educação. Uma sociedade que impede a emancipação só pode transformar os espaços educacionais em shopping centers, funcionais à sua lógica do consumo e do lucro. ” (Prefácio de Emir Sader, p.16)
É interessante notar, em suma, que estes empréstimos são mais uma das reinvenções que o capital se submete para conseguir manter seu constante acumulo, pois assim aufere a imposição dos seus Planos de Ajuste Estrutural (PAE) agindo através do desenvolvimento geográfico desigual que é um dos principais sustentáculos do capitalismo. Toda a acumulação infinita de capital existe certamente de forma combinada, é uma ação meticulosamente organizada, e isso reflete na maneira com a qual este relatório do Banco Mundial tratou o sistema educacional, tanto na parte estrutural quanto na parte regional.
Na estrutura buscou-se personificar a educação no sentido de que o pleno êxito da escola estaria puramente condicionado na produtividade de uma aula dos professores, tratando, assim, o conhecimento e a educação como mercadoria. Portanto, a aula de cada docente seria travestida em força de trabalho, que não deixa de ser uma mercadoria no sistema capitalista em que o trabalhador deve vender para gerar a mais-valia num produto, pois é basicamente a força de trabalho que transforma dinheiro em capital.
No que tange à regionalização proposta pelo relatório, ela se inspira na divisão feita pelo Consenso de Washington, que foi outra recomendação de ode ao neoliberalismo na América Latina e Caribe, tendo como orientação uma reforma fiscal, a abertura de mercado, políticas de privatizações, dentre outras medidas. Há de se perceber que tal relatório (Professores Excelentes) não foi desenvolvido para outros países do terceiro mundo.
Vale lembrar que na ótica de Davis, as crises desencadeadas entre as décadas de 70 e 80, no mundo subdesenvolvido, foram mais devastadoras do que a Grande Depressão de 1929, apenas para se ter uma dimensão do que os ajustes dessas instituições alcançaram, ou seja, intensificaram a precariedade e a degradação em países que já tinha passado outrora pela pilhagem e brutalidade das colonizações cometidas pelos países imperialistas.
“Entre 1974 e 1975, o Fundo Monetário Internacional, seguido pelo Banco Mundial, mudou o seu enfoque dos países industriais desenvolvidos para o Terceiro Mundo, que cambaleava sob o impacto dos preços cada vez mais altos do petróleo. Ao aumentar passo a passo os seus empréstimos, o FMI ampliou aos poucos o alcance das ‘condicionalidades’ coercitivas e ‘ajustes estruturais’ que impunha aos países seus clientes. Como enfatiza a economista Frances Stewart em importante estudo*, os ‘fatos exógenos que precisavam de ajuste não foram atacados por essas instituições, os maiores deles sendo a queda dos preços das commodities e os juros exorbitantes das dívidas’, mas todas as políticas nacionais e todos os programas públicos foram alvo de excisão. ” (DAVIS, 2006:156)
*Stewart, Adjustment and Poverty, p.213



Fuca cgpp - 19

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Esboço de texto/projeto sobre o Quilombo do Cedro - SP


NOTICIA: QUILOMBOLAS SÃO CONDENADOS A PAGAR R$ 6 MILHÕES POR INCÊNDIO QUE DESTRUIU AS SUAS CASAS
https://theintercept.com/2019/04/18/quilombolas-incendio/

ESBOÇO

A LUTA PELA POSSE FUNDIÁRIA: o caso do Quilombo Cedro em Barra do Turvo - SP

1)      Objetivo Geral

Este projeto tem como objetivo compreender os entraves institucionais, pós abolição da escravatura, que acarretam no adiamento contínuo do processo pela posse definitiva da terra no Quilombo Cedro, em Barra do Turvo - SP.

1.2) Objetivos Específicos

Através do resgate histórico-social, demonstrar como se deu o processo de aquisição e regulamentação de terras no Brasil a partir da década de 1850 e, sobretudo, no período pós abolição. Mais adiante, analisar as mutações existentes com a promulgação da Constituição Federativa de 1988 e como essa legislação reverberou de fato nas comunidades tradicionais quilombolas. Para então compreender os conflitos de interesses (por vezes violentos) entre o Povo Tradicional do Quilombo Cedro e os mais diversos setores, a exemplo de fazendeiros, latifundiários, posseiros, e inclusive o próprio Estado.

2) Fundamentação Teórica

A partir do acesso à alguns documentos que retratam a execução de dois incêndios criminosos cometidos por terceiros em parte da área que está em movimentação de adquirir a propriedade da terra definitiva pertencente ao Quilombo Cedro, será possível aglutinar alguns fatores que agem como forças antagônicas à comunidade tradicional do Cedro. Em suma, os incêndios ocorreram num intervalo de seis anos, e como já existia o procedimento de reconhecimento das terras quilombolas em andamento, o Estado (Ministério Público Estadual) decidiu que a comunidade deveria arcar com as despesas do incêndio e também da fiscalização das terras. Após o primeiro incêndio criminoso, como estavam sem acompanhamento jurídico, os próprios quilombolas assumiram a responsabilidade do reflorestamento do local incendiado e devastado com recursos da própria comunidade. No segundo incêndio, em 2016, a comunidade foi multada em seis milhões de reais. Essa multa se torna mais uma forma de retardar ainda mais a consolidação da posse fundiária definitiva.

Esses entraves não são pontuais, e com base nisso, através da historiografia dos Quilombos de Flávio dos Santos Gomes em Mocambos e Quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil, esta pesquisa resgatará a origem, a formação e a definição do que foi (do que é) e representa os quilombos tanto no passado como no presente, para então chegar em um dos pontos de sua exclusão, o racismo anti africano. Adota-se, então, que um quilombo era organizado a partir de escravos fugitivos e que surgiu por volta de 1575 na Bahia, ou seja, dos canaviais e engenhos da região nordeste do Brasil que se têm as primeiras evidências das fugas de escravizados para estabelecer uma vida organizada em comunidade num território estratégico e afastado. Porém, nem todo escravo fugitivo se constituía um quilombo ou fugia para um já existente. (SANTOS, 2015) Vale frisar que cada quilombo se desenvolveu e interagiu de formas distintas de acordo com cada espaço geográfico ocupado dentro do Brasil.

Para ir além de interpretar quilombos apenas como modo de organização isolada geograficamente e de composição de escravos fugitivos, será utilizado o trabalho de Ilka Boaventura Leite, Os quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas, que aborda de forma mais aprofundada as questões conceituais e normativas dos quilombos no Brasil. Não é no sujeito individual que se reconhece um quilombola e sim no coletivo, na comunidade. A terra é extremamente importante, mas não é pela terra que se define um quilombola, com isso, levanta-se a questão de visualizar um quilombo como apenas sinônimo de preservação de um patrimônio cultural ou se é uma questão de direito à terra e à diversidade étnica. (LEITE, 2000)

Após essa conceituação, este trabalho perpassará para outro fator que concretiza a exclusão e desigualdade no campo, e em particular das comunidades quilombolas, que é a questão da propriedade privada absoluta. Até a primeira metade do século XIX, a terra quando negociada de forma relativa servia somente de instrumento de conquista de riqueza, a terra em si não detinha um preço. A riqueza era medida através do escravo, ou seja, o escravo e sua força de trabalho eram os referenciais de riqueza, que no período de transição do trabalho escravo ao trabalho livre, e com a promulgação da Lei de Terras (Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850), a terra para a ser valor de riqueza e a única maneira legitima de aquisição é a mercantilização da terra culminando, em linhas gerais, na propriedade privada absoluta dos fazendeiros. (SUZUKI, 2007)

Este quesito vai de encontro à luta da comunidade quilombola do Cedro em Barra do Turvo - SP, que se encontra numa posição de consolidação do reconhecimento de suas terras historicamente habitadas (com seus laços familiares já comprovados pelo certificado da Fundação ITESP e Fundação Palmares) e entre a especulação de lotes para terceiros nas imediações do seu território, além da usurpação de suas terras pelos fazendeiros. A titulação da propriedade quilombola é imprescindível não somente para evitar que suas terras sejam tomadas, mas para que a comunidade passe a ter acesso aos programas governamentais e assim poder melhorar suas condições de vida.

3) Metodologia
               
Na realização desse trabalho será desenvolvida a pesquisa de bibliografias referentes ao campesinato, a questão agrária e as comunidades quilombolas, seja em livros, teses e dissertações, artigos disponíveis na internet, análise documental e pesquisas de campo contendo entrevistas com moradores, lideranças comunitárias, representantes de organizações não governamentais (ONGs) que atuam no território, gestores públicos, e funcionários dos Mosaicos das Unidades de Conservação na qual o Quilombo Cedro faz parte.

4) Cronograma
5) Referências:

LEITE, I. B. "Os quilombos no Brasil : questões conceituais e normativas.". Florianopolis : Nuer-UFSC, 2000.

MARTINS, J. de S. "Os camponeses e a política no Brasil". São Paulo : Petrópolis, 1981.

SANTOS, F. G. dos. "Mocambos e Quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil". São Paulo : Claro Enigma, 2015.

SOUSA, A. A. G. de. Limites da propriedade privada absoluta: luta das comunidades quilombolas Poça e Peropava pelo direito de posse no Vale do Ribeira/SP. São Paulo : dissertação USP, 2011.


SUZUKI, J. C. Modernização, território e relação campo cidade - uma outra leitura da modernização da agricultura. São Paulo : Agrária online, 2007.

Fuca CGPP 2019

segunda-feira, 24 de junho de 2019

TRABALHAR O SAL E AS MIGRAÇÕES INTERNAS


TRABALHAR O SAL E AS MIGRAÇÕES INTERNAS

“Trabalhando o sal
É amor, o suor que me sai
Vou viver cantando
O dia tão quente que faz
Homem ver criança
Buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro
Pra vida de gente levar”
(Milton Nascimento. Canção do Sal)

No intuito de estabelecer uma relação entre migração e a obrigatoriedade de venda da força de trabalho por parte dos trabalhadores, este texto visa abarcar o contraste capitalista entre cidade e campo e o âmbito das migrações internas brasileira, e como neste sistema capitalista o trabalhador se torna submetido ao capital através da sua mobilidade da força de trabalho.
Para evidenciar esses paralelos será utilizada a música Canção do Sal, de Milton Nascimento, em conjunto com dois textos estudados em sala de aula, um de Jean-Paul de Gaudemar, O conceito marxista de mobilidade do trabalho e outro de Paul Singer, Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo.
A música, neste caso, pode ser engendrada como uma representação social das realidades e dos conflitos vividos seja na cidade ou no campo e, sobretudo, pode reforçar a perspectiva legitima do espaço vivido para além ou conectado com o espaço percebido e concebido.
A música Canção do Sal relata o trabalho na salina, onde se é submetido a uma jornada de trabalho extensa para, quiçá, se obter os meios de subsistência tanto do trabalhador em si como de sua família. Pode-se perceber que há uma divisão do trabalho reduzida na descrição contida na letra, algo mais típico nos campos onde o mesmo trabalhador geralmente desenvolve e realiza diversas funções e etapas na fabricação de um mesmo produto. Parte do processo deste trabalho se encontra no trecho a seguir:

“Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar”
(Milton Nascimento. Canção do Sal)

Existe um conjunto de disparidades entre cidade e campo que culmina, entre outras coisas, na desvalorização do trabalho no campo, seja região litorânea ou rural, devido a concentração de capital nas cidades industrializadas e urbanizadas. A questão da divisão social do trabalho configura uma das diferenças entre cidade e campo.
A introdução de uma adequada divisão do trabalho com funções imbricadas entre si gera um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho. De acordo com Adam Smith, a agricultura não comporta muitas subdivisões do trabalho como a manufatura pode proporcionar, e com base nisso Smith julgava, ainda, que uma sociedade estaria num estágio primitivo se sua divisão de trabalho fosse reduzida, pois a agricultura não conseguiria acompanhar o aprimoramento das forças produtivas da manufatura rumo a aquisição de riquezas.
A propensão do ser humano em realizar trocas está na origem da divisão do trabalho, no caso do trabalhador deve-se vender uma grande quantidade de sua força de trabalho como mercadoria de troca no sistema capitalista.
Existem diversos condicionantes para que os trabalhadores possam vender sua mercadoria, a força de trabalho. Gaudemar evidencia que a mobilidade do trabalho é algo crucial que o trabalhador deve obter para vender sua mercadoria já que é inerente ao capitalismo a constante mutação espacial em busca de capital. O sustentáculo do capitalismo se dá na perpetuação de desigualdades geográficas onde por um lado gera fatores para aglomeração de capital, que assim necessita de maior abundância de força de trabalho nesses espaços, ocorrendo o movimento oposto/inverso em outros espaços, que por vezes já foram explorados.
Para se adaptar a essa mobilidade há algumas características a serem cumpridas pelo trabalhador, tais como qualificação e liberdade. Na canção do Sal o trabalhador almeja um futuro melhor para seu filho através dos estudos, assim não precisaria se submeter ao trabalho semelhante ao do pai, que trabalha o dia inteiro sob o sol quente para receber pouco.

“Filho vir da escola
Problema maior de estudar
Que é pra não ter meu trabalho
E vida de gente levar. ”
(Milton Nascimento. Canção do Sal)

Mas é necessário abordar melhor a mobilidade do trabalho assim como a força de trabalho se caracteriza numa mercadoria. O valor de troca é medido pela quantidade de trabalho socialmente necessário à produção da mercadoria considerada. Chama-se trabalho abstrato o suor, o esforço e a quantidade de energia humana do trabalhador dispensados num produto. E o que gera valor ao produto é a força de trabalho, o valor não se dá na circulação nem na troca de mercadorias. É a própria força de trabalho que torna possível se ter um valor de uso superior ao valor de troca de um produto, transformando dinheiro em capital.
Para a força de trabalho se consolidar como mercadoria no sistema capitalista, é necessário que ela esteja propensa a mobilidade e que essa força de trabalho seja, de certa forma, indiferente perante ao trabalho a ser exercido no cenário de fluidez do capital, no sentido de que se deve ter a capacidade de aplicar a força de trabalho em diversos ramos e atividades. Então, antes de tudo (ou outra condição), o trabalhador precisa encontrar-se livre, tanto na questão da "liberdade de escolher" onde empregar sua força de trabalho como livre em não se ter outra ocupação ou fonte de renda.
Sendo assim, a mobilidade da força de trabalho é uma exigência ao trabalhador e ao mesmo tempo o baluarte do capitalismo, ou seja, a existência do capitalismo se desenvolve e permanece porque existe a mobilidade da força de trabalho.
Então, na canção, quando o trabalhador da salina se refere aos estudos do filho, indiretamente se trata do possível desenvolvimento de uma capacidade maior de migrar, já que no campo não se terá a mínima valorização de sua mão-de-obra se o filho permanecer imóvel na mesma função do pai.
O trabalho precisa ser produtivo, e é considerado um trabalho produtivo aquele que consegue valorizar o capital, ou em outras palavras, que se possa ser efetivo na realização da mais-valia.

“Trabalhando o sal
Pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa
Encontrar a família a sorrir”
(Milton Nascimento. Canção do Sal)

Se na música tem-se retratada a vida de uma família, é importante frisar que as condições e os motivos de migrar estão atrelados a uma determinação de classes, a abordagem da questão migratória deve se dar como um processo social dada as condições históricas de um grupo social ao invés da atividade de um indivíduo apenas. Uma pessoa ou um grupo quando migra carrega consigo sua posição de classe.
As migrações internas seguem basicamente o rearranjo espacial das atividades econômicas, Paul Singer utiliza o conceito de aglomeração espacial das atividades - que se traduz em sua urbanização, sendo um requisito de sua crescente especialização e consequente complementariedade na relação cidade/campo.
Uma aglomeração também no sentido de polos de crescimento pode ser vista, que remete ao tempo (abstrato, que é dinheiro no capitalismo) que deve ser reduzido pelas facilidades dos polos industriais, mas que após certo tempo de exploração e de acumulação exacerbada vem o êxodo, assim o capital terá que visar outros espaços.
As migrações internas podem ser datadas desde a década de 1930 a partir da legislação do trabalho, mas que se intensificou depois dos anos 1950 atingindo, então, seu ponto culminante pós década de 1970, época de uma industrialização e urbanização rápida. Vale frisar que a industrialização não ocorre de forma espontânea no capitalismo, pois exige alguns arranjos institucionais para que se consolide a sua "explosão".
Ao se voltar para canção, portanto, pode constatar a precariedade das condições de trabalho onde o trabalhador no auge de sua liberdade se encontra obrigado a trabalhar o dia inteiro sob o sol quente para poder sobreviver minimamente, já seu filho está fadado ao mesmo destino se não buscar as vias de migração.

Referências:

GAUDEMAR, J. P. de. O conceito marxista de mobilidade do trabalho, In: A mobilidade do trabalho e acumulação do capital. Lisboa: Estampa, 1977, p.180-210.

Milton Nascimento. Canção do Sal. Disponível em <https://www.letras.mus.br/milton-nascimento/1160872/>, acesso em 10/05/2019

SINGER, P. I. Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo, In: Economia política da urbanização. São Paulo: Brasiliense/CEBRAP, 1975 (1*ED. 1973). p.29-60.

SMITH, A. A riqueza das nações. Nova cultural, 1988, v.1, p.17-54.


Fuca CGPP 2019

sábado, 9 de março de 2019

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 2.

Miguel Angelo (LIL X) - CEO na empresa W-BOX - GOLD. 
Posse Entre o Céu e o Inferno, Insurreição CGPP.

Vou continuar essa incursão na produção cientifica sobre o rap no contexto da cultura Hip Hop seguindo com a referência de KRS-ONE (Knowledge Reigns Supreme), a Realeza do Conhecimento Supremo pra mim. O Fuca (CEO do Insurreição CGPP), sentiu essa falta e eu fiquei muito sensível a demanda, então bora lá!

Eu sou um professor original, ponto final (KRS-ONE)

“Comecei a militar na escola contra o sistema público de educação, mas as horas vagas pertenciam as quadras de basquete” (KRS-ONE)

Nosso pioneiro de certa forma do gangsta rap do lado leste, hoje com 54 anos, lançou “The Gospel of Hip Hop: First Instrument” em 2009 e é a terceira obra (The Science of Rap é de 1995 e Ruminations - Welcome Rain de 2003) deste rapper que além do mais é também um filósofo de ponta nos EUA, um aclamado professor e palestrante (mais de 500 palestras registradas em diversas universidades norte-americanas), e, sem dúvidas, um dos maiores e mais importantes militantes da causa negra no universo conhecido. Considerada uma obra prima, o livro que segue o mesmo formato da bíblia tem nada menos que 800 páginas, se tornou um manual para os membros da cultura Hip Hop e chama atenção quanto a ousadia em apresentar uma abordagem epistemológica que dialoga muito original, amalgamando filosofia prática, espiritualidade (sua mãe o introduziu nos estudos em teologia ainda quando ele era uma criança) e experiência prática recontando a história do Hip Hop com a agência de quem viveu o movimento desde seu surgimento, preservar o futuro é a incumbência do movimento Hip Hop segundo KRS. KRS-ONE (nascido Lawrence Parker) conta a história do Hip Hop como quem conta sobre sua própria biografia a partir de sua adolescência sem lar pelas ruas do Brooklyn (NY), filho de um homem da Jamaica e de uma mulher afro-americana com mestrado em educação, as primeiras rimas que o levaram ao mainstream, e os estudos que em sua filosofia da “auto-criação”. A obra se enquadra na linha de pesquisa que busca identificar na cultura Hip Hop os elementos da transformação social; saúde, amor, consciência e riqueza são alguns dos valores e metas que KRS-ONE apresenta como partes integrantes da plataforma de transformação que o movimento Hip Hop construiu para a comunidade negra. Foram nada menos que 14 anos de pesquisa empírica no desenvolvimento da obra que, segundo seu autor, busca acima de tudo a paz, a autoconfiança e a verdade (num dialogo interessante com os princípios do MAAT e a escola filosófica de Pth em KMT). O jornal Guardian chamou KRS de “Apostolo do Hip Hop”, o próprio disse na matéria de setembro de 2009; “Daqui a 100 anos esse livro será a nova religião da Terra” (talvez em menos de um século eu diria), e prossegue; "Em cem anos, tudo o que estou dizendo para você será de conhecimento geral. As pessoas ficarão tipo 'Por que ele teve que explicar isso? Não era óbvio? No meu tempo, não é óbvio. “Sou o Hip Hop” é a proposta da obra, entenda bem “Nós” somos o Hip Hop, pois essa é a lógica do valor de autoconfiança a qual a obra remete. Em termos de espiritualidade KRS explica o Hip Hop como religião; "Eu respeito o cristianismo, o islamismo, o judaísmo, mas esse tempo acabou. Eu não tenho que passar por qualquer religião [ou] linha de pensamento. Eu posso me aproximar de Deus diretamente. Nós tínhamos passado por todas as religiões do mundo no momento em que eu ainda tinha doze anos de idade" Mas a proposta não é nada simples e realmente é ousada; “A proposta é definitivamente controversa porque eu também estou dizendo que estou disposto a desistir da minha identidade afro-americana para me tornar Hip hop. Muitas pessoas não gostam disso. Americanos negros podem ser "hiphop", mas também nigerianos, cubanos e italianos. Estou disposto a ir além da minha cultura nata para criar toda uma nova civilização."

“Quando sai de casa minha mãe me deu uma ordem; me tornar um artista de rap e estudar a filosofia metafísica” (KRS-ONE)

“Não sou um filósofo de terno e gravata ou tweed, sou daqueles que veio de baixo, que saiu do seminário das ruas” (KRS-ONE)

“Existe um momento na vida em que o ritualismo e o intelecto deve ser posto de lado para que possamos pegar as armas” (KRS-ONE)

KRS-ONE começou a carreira no Boogie Down Productions, que com Criminal Minded de 1986 basicamente fundou o gangsta rap na costa leste pela originalidade da lírica de conteúdo violento e de contestação social, o próprio Ice Cube afirma que Ice T e KRS-ONE são os primeiros. O Boogie Down Productions saiu de uma articulação com Scott Sterling, um assistente social que o auxiliava KRS no tempo em que este viveu em um abrigo para jovens. Sterling foi assassinado no Bronx um ano após o lançamento de Criminal Minded. Como ativista é importante lembrar do coletivo “Stop the Violence” ainda em 1988 que deste então reúne diversos membros da cultura hip hop em turnês pelos guetos dos EUA buscando soluções pacíficas para os conflitos existentes nas comunidades. As batalhas de rima foi justamente uma proposta do “Stop the Violence” para a redução da violência armada entre jovens negros; “Você pode matar com o poder das palavras, na batalha das ideias” disse o Professor KRS-ONE, mas ponderou; “O Mundo é violento, a realidade é violenta, e muitas vezes as pessoas se utilizam de violência contra mim, evidentemente que em situações assim eu posso reagir também com violência”. Nelly, Method Man, Busta Rhymes, The Game, Hakiem fazem parte do Stop the Violence. Na área da educação desenvolveu o projeto HEAL (Educação Humana Contra Mentiras) em 1990 que se articula com o álbum Civilization vs. Technology do mesmo ano (o objetivo cumprido deste álbum foi arrecadar dinheiro para fazer 16 milhões de cópias em fitas cassetes com a gravação de uma de suas palestras na Universidade de Stanford). Na sua longeva carreira como rapper KRS-ONE tem 19 álbuns no catálogo, 3 de ouro com mais de 500 mil cópias vendidas, fora as incontáveis participações colaborativas.

“Eu não faço parte do entretenimento, eu sou o edutain-KRS-One- entertaining "!

“A lei das ruas é a única lei que eu realmente respeito.” KRS-One

Vou fechar essa nota com a entrevista/debate de/com KRS na matéria “O Professor Pode ser Ensinado?” em colaboração com Michael Lipscomb, o artigo foi publicado pela editora da Universidade de Indiana e é produto do Centro de Pesquisa Hutchins para africanos e afro-americanos da Universidade de Harvard.

Michael Lipscomb:
É óbvio que a história é importante para você. A história é como a auto-estima para você. Mas me parece que você deposita a história na política, e isso nem sempre pode funcionar. Por que usar a história como ferramenta política?

KRS-One:
Porque é distorcendo a história que muitas pessoas se tornam poderosas. Então, nitidamente a história é uma ferramenta política. É o tecido de nossas vidas. Sua cultura, e você mesmo.

ML: Mas há muitas maneiras de olhar América. Existem alguns que digamos, e eu sou um deles, que veem a América, em aspectos importantes, uma experiência cultural africana. O que é irônico é que quando um branco de classe média quer ser considerado culto, ele ou ela vai para essa análise.

KRS: Certo.

ML: O que, de certo modo, contradiz o que você está dizendo. O domínio político não é correspondido pelo domínio cultural. Como você acha que a política se relaciona com conhecimento cultural e como se pode usar conhecimento cultural como uma maneira edificante de auto estima?

KRS:
Temos que olhar para a nossa história. Para entender a natureza da fera você tem que entender sua história. Esta cultura americana não é de todo como a cultura africana. Isto é a cultura africana depois de ter nos enlouquecido. Esta é a cultura africana depois de ter sido assassinada, roubada, espancada. Antes do colonialismo nossa história é rica, desenvolvemos nossa própria civilização que teve sua própria cultura. Eles se vestiram, agiram, falei, fiz tudo de forma totalmente diferente. Eu uso a história como uma ferramenta política para rastrear como as pessoas chegaram ao poder. Eles não derrubaram a África por causa da cor, do preconceito. Foi economia - e foi também uma questão de poder. Agora, o que é o indivíduo sem a cultura?

ML: A cultura africana?

KRS: A cultura correta. O indivíduo faz parte das massas. As massas vêm primeiro e o indivíduo vem por último. Na América, o indivíduo vem em primeiro lugar e as massas vêm por último. Se massas vierem antes do indivíduo é a cultura que virá antes do indivíduo. Você faz parte de uma multiplicidade de pessoas que aprenderam e lutaram por anos e no fim a luta é sua cultura. Isso é o que te dá conteúdo. Isso é o que faz de você o africano, o asiático, o Japonês: Você é o que sua cultura lhe ensinou a ser, como você age e inclusive o que vc pensa de uma certa maneira. Quando essa cultura é despojada de você, você é deixado sem nada. Você é como um copo vazio. E as pessoas podem derramar qualquer coisa que quiserem em vc.

ML:
Eu fiquei surpreso, aliás, que W. E. B. Du Bois estava ausente da lista de leitura que você propaga, porque ele é muito importante para lidar com isso. Eu duvido que fomos totalmente despojados nossa cultura. Olhe para a história americana em meados do século XIX, em escritores como Emerson e Thoreau. Eles estavam preocupados com a ideia de Europa e a tarefa de sair debaixo de uma noção da antiguidade europeia, para que pudessem forjar outra identidade cultural. Teve uma profunda ambivalência nesta questão. Ao mesmo tempo, nas regiões do sul os aristocratas enviaram seus filhos para a Europa para "cultura". Então, nesse sentido, éramos os únicos americanos verdadeiros, porque nós tínhamos crescido aqui. Nós tivemos que lidar com essa realidade.

KRS: Não necessariamente. Eu sinto como se a América nem existe. Os únicos verdadeiros americanos são os índios americanos e eles não chamam esse lugar de América. Assim, o que é a América?

ML: América é a sombra; eu penso isso, imagino que é o que você está tentando dizer. Para muitos, a América é uma espécie de Europa bastarda. É provável que muitos europeus tenham perpetuado essa noção. Os negros fizeram a América. Como James Baldwin costumava dizer, "somos Americanos porque não sabemos nada". Por outro lado, temos formações culturais complexas como o jazz, que não é música africana ...

KRS: Jazz é música africana.

ML: Tem elementos africanos como polirritmia ....

KRS: Qualquer coisa criada por um homem negro é africana. As pessoas dividem as coisas ferrenhamente em decorrência da maneira como fomos ensinados. Nós fomos mortos mentalmente. Se um gato tinha gatinhos no forno, você vai chamá-los de muffins?

ML: Eu acho que lidar com a África e com as pessoas, sempre vai ser um pouco mais complicado que isso. Apesar de tudo, a África é uma formação profundamente heterogênea múltiplas de culturas e grupos étnicos. A cultura iorubá é distinta da cultura ibo e ambos são distintos da cultura Hausa, e elas não coexistem exatamente em harmonia perfeita. É como a Europa: lá não existe uma quantidade substancial de unidade coesa, eles tiveram duas guerras mundiais que atestam isso.

KRS: Mesmo assim, o título afro-americano é um título falso. É um título de escravo. Qualquer coisa ligada à americano é o equivalente a deixar cair a bomba em Hiroshima na história da escravidão e na história da aniquilação dos indígenas. ..

ML: Estamos falando de dois diferentes tipos de América. Eu concordarei que há todo um segmento da América que está atada a uma concepção europeia de socialismo. Mas na África, vê-se mesma coisa. Abaixo do vigésimo paralelo há mais do que um punhado de nações que tem ditaduras negras e cuja os cidadãos não podem votar.

KRS: Bem, isso é hoje, depois do neoliberalismo. A África na sua história antiga, antes da invasão da Pérsia, da Grécia e Roma, era economicamente, psicologicamente e tecnologicamente estável; racialmente e culturalmente era um lugar estável para se estar.

ML: Ainda havia luta, ainda havia conflitos, havia ainda a expansão e contração dos impérios indígenas.

KRS: Não, não antes da invasão de Grécia e Roma.

ML: Essa é uma conjectura duvidosa

KRS: Na verdade, a razão pela qual eles foram derrotados é porque eles não tinham as armas sofisticadas que Roma, Grécia e Pérsia tinham quando o Egito foi invadido. A África não evoluiu para esse estágio de tecnologia porque tinha alcançado um estágio de civilização que foi afastando-se disso. Claramente, nosso tempo e dinheiro estavam indo para a educação e conhecimento. É quando eu encontro o declínio do povo africano: quando eles foram introduzidos na Europa. Na verdade, toda essa corrida para nos introduzir na Europa só fez nos destruir.

ML: Eu acho que isso é simplesmente superstição. Até mesmo o Chanceler Williams, que escreveu "A destruição da civilização negra", afirmou que, entre suas principais fontes utilizou Heródoto, "o pai da história", que foi alguém que admirava a África. Ele teve que se passar por "escravizado", a fim de obter a história sobre África. O que ele fez foi apenas pegar, através de várias fontes, as imagens boas sobre a África em meio o que havia de ruim sobre a África. Então ele simplesmente realizou uma seleção; justamente o que os brancos fizerem, mas dando ênfase em suas dimensões negativas. Você cria uma história oficial e depois começa a construir uma cultura teórica em torno disso, enfatizando qualquer coisa que suporte sua história e deixando de falar do restante. O perigo é que muito dos rappers podem cair em uma contraficção com outra história oficial e acabam fazendo exatamente o que eles condenam os europeus por terem feito.

KRS: Eu estou atentando sempre para não fazer. Toda minha história vem de um ponto de vista lógico, realmente não é ponto de vista histórico. Se você for a uma outra terra e saqueia, estupra e mata povos mentalmente e fisicamente - para o seu próprio benefício, você é um assassino e um ladrão.

ML: Você está dizendo que os africanos nunca fizeram isso?

KRS: A cultura egípcia fez isso constantemente. Sim, há muita culpa na cultura africana, mas a cultura africana, ao contrário da cultura europeia, estava muito longe deste universo. Nós estávamos passando por um estágio do que realmente podemos chamar de capitalismo. Na televisão, eles mostram isso como escravidão, mas em seu sentido político era capitalismo. O Egito estava avançando e evoluindo em um estado de harmonia universal ou de unidade -porque os africanos viajaram o mundo. Em qualquer lugar do mundo, se você queria aprender, você tinha que ir até o Egito.

ML: Mas eu até questiono toda essa ideia do Egito como berço cultural. A historiografia ainda está evoluindo. Há historiadores brancos importantes que defendem o Egito como berço cultural. Você leu o "Athenas Negra" de Martin Bernal?

KRS: Sim.

ML: Ele traça as questões culturais em parte através do desenvolvimento da língua grega. E o que você encontra em grego é algo com ambas influências níticas e semíticas. E tem havido uma quantidade crescente de pesquisas arqueológicas sobre as antigas civilizações enterradas sob o Sudão. Então eu estou desconfortável com esta ideia predominante que retrata o Egito como único farol da iluminação da África.

KRS: Eu dou ênfase no Egito porque foi um dos principais locais de aprendizagem. Este foi o primeiro lugar que a Grécia atacou: foi provavelmente uma das mais populosas áreas para os estudiosos. Mas a África como um todo fez parte de um grande desenvolvimento do aprendizado. Meu ponto, voltando para ele como ferramenta política, é que a subjugação dos outros é a forma como as pessoas ganham seu poder político, e eles fizeram isso tirando nossa história. Conhecimento é por saber, uma coleção de fatos; a inteligência é a capacidade de conhecer, avaliar e questionar. Obviamente, se alguém está lhe dando conhecimento, e você não tem a inteligência para assimilar isso, você é basicamente um escravo para a pessoa que lhe deu o seu conhecimento. Eles ditam como eles querem a forma como vc deve ser e agir. O que aconteceu é que o africano tem sido despojado não de conhecimento, não de suas datas, fatos e números, mas de sua inteligência, de sua capacidade de avaliar o que está sendo arrebatado ao seu redor

ML: Afro-americanos são frequentemente uma fotografia confusa, mais ou menos libertos de suas contrapartes africanas. Muitos Afro-americanos tomaram parte de movimentos modernos. Marcus Garvey não pôde iniciar seu movimento na Jamaica. Ele tinha que vir para a América. Interessantemente seu herói era Booker T. Washington. Então, o que eu vejo são diferentes níveis de Africanidade. Onde você está posicionado em relação a isto? Parte do que traz sua música é a variedade de sons de reggae que você emprega. Como Bob Marley, você joga reggae em uma tradição do rock.

KRS: Meu pai é jamaicano. Minha mãe é americana. . . eu sou nascido na América. Denuncio essa ideia de identidade americana.

ML: Eu acho que isso tem muito a ver com o fato de que os índios negros do oeste nunca foram capazes de aceitar o fato de que os negros são uma minoria na América. Você lida com isso em uma de suas próprias músicas. Mas você não acha interessante que Jamaicanos fujam da ilha onde são a maioria tão rapidamente quanto os cubanos brancos fugiram de Castro?

KRS: Bem, a razão é a desgraçada pobreza que existe lá. Todo mundo está perseguindo os itens materiais. Jamaicanos não são diferentes. Eles querem uma casa, um carro, uma garota ou um homem. A América é apresentada a eles na televisão como sendo a terra onde as ruas são pavimentadas com ouro. Então naturalmente eles deixam sua terra pobre para vir para a América. Eu só acho que todos os africanos sobre o mundo deveriam ser africanos, chamar si e reconhecer-se como africanos. Assim como os italianos se reconhecem como italianos.

ML: Por quê? A América é um fenômeno diferente comparado a Itália.

KRS: Mas a América não existe.

ML: Sim, isso acontece: na verdade, o norte Americano criou uma cultura que é distinta do que podemos ver em qualquer região da Itália. Historicamente, as pessoas quem vem aqui porque querem fugir de sua terra natal, por várias razões, filhos, como você disse, e muitas vezes motivados pela perspectiva de novas oportunidades. Mas talvez eles simplesmente queriam fugir. Para começar de novo.

KRS: Certo.

ML: Frequentemente eles estavam interessados em manter sua cultura, seus laços com uma existência mais antiga. Isso é o que D. H. Lawrence pode ter tido em mente quando disse que a América é uma Europa recriada. Mas parte do que é básico e distintivo para a cultura é a experiência da escravidão, o drama interracial, James Baldwin fala que se criou não só um novo tipo de homem negro, mas um novo tipo de homem branco também. Por esse raciocínio, então, quem pode dizer que os americanos negros não são americanos, eu posso?

KRS: Se negros americanos fossem americanos, nós não teríamos vindo para cá em navios negreiros.

ML: Você está negando a realidade da transição. Ela está aqui.

KRS: É como chegamos aqui. Todo o mundo mais veio aqui procurando uma maneira melhor da vida. Os africanos vieram algemados. Nós não pedimos para vir para cá. Então agora que estamos aqui e você se adapta e gera filhos que cresceram aqui na América, nós rapidamente somos chamados de americanos. Quando, na verdade, a América é o que tem nos matado por quinhentos anos.

ML: Por outro lado, nós estamos construindo a América por quinhentos anos.

KRS: Com base na força do opressor

ML: Legalmente, estamos na América. E há a décima terceira, décima quarta e a décima quinta emenda do nosso lado. Desde a 1865, fomos tomados como parte da Política americana.

KRS: Olhe para a Proclamação de Emancipação. Diz que a partir de janeiro, 1 de janeiro de 1863, todas as pessoas mantidas dentro de um estado ou parte de um estado em rebelião armada era livre. Os estados que estavam em rebelião armada eram estados confederados. Os estados do norte não tinham rebeldes armados em rebelião. Em última análise, Lincoln enganou as pessoas africanas ao fazerem-nas acreditar que elas seriam beneficiadas quando na verdade tudo fazia parte de um acordo com todas as pessoas tidas como escravos dentro de um estado que estava em rebelião armada. Então todos os estados do sul, todos os escravos do Sul estavam livres quando, na verdade, lá era um governo totalmente diferente. O Norte tinha escravos.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 1.

Rap e História; a arte da revolução e a revolução da arte. Parte 1.
Miguel Angelo (LIL X) - CEO na empresa W-BOX - GOLD. 
Posse Entre o Céu e o Inferno, Insurreição CGPP.

Foi em meados dos anos 90 (séc XX) que a cultura Hip Hop ganhou notável espaço nas universidades dos EUA. Com estudos intensos buscando a compreensão de um fenômeno que realmente mudou a lente que a sociedade estadunidense utilizava para apreender a realidade surgiram diversos estudos nas áreas das ciências humanas, com destaque para as análises históricas, jornalísticas e comunicação & artes. Vamos começar com algumas delas;

• Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America

Uma referência importante nesse sentidos é da Professora Trice Rose que é socióloga lecionando na Brown University associada ao departamento de estudos africanos e diretora do Centro de Estudos de Raça e Etnia na América da mesma universidade. Ela escreveu o livro "Black Noise: Rap Music and Black Culture in Contemporary America" em 1994 a partir de sua tese de doutorado, que alias foi a primeira tese de doutorado da história dedicada exclusivamente a cultura Hip Hop. Black Noise esteve entre os 24 livros mais lidos segundo a The Village Voice à época e recebeu o premio, o American Book Award da Before Columbus Foundation em 1995. 

• "kickin' Reality, Kickin' Ballistics: 'Gangsta Rap' and Postindustrial Los Angeles" 

O historiador Robin Keley (Robin Davis Gibran Kelley) , que é professor de História Americana na UCLA, tem um capítulo, "kickin' Reality, Kickin' Ballistics: 'Gangsta Rap' and Postindustrial Los Angeles" dedicado a cultura hip hop em seu livro "Race Rebels: Culture, Politics, and the Black Working Class de 1994 em que trata da história e cultura afro-americana enfocando seus movimentos sociais privilegiando as relações raciais nos EUA. 

• "Hip Hop America"

Nelson George colunista de música, crítico cultural, jornalista e cineasta indicado duas vezes ao National Book Critics Circle Award e vencedor duas vezes do ASCAP-Deems Taylor publicou "Hip Hop America" em 2005. A obra é não-academica o que permitiu atingir um grande e diversificado público, as temáticas centrais são a política, cultura e a economia nos negócios do Hip Hop. George é um mais populares colunistas da cultura pop afro-americana hoje nos EUA e, evidente, fã da cultura Hip Hop. Nelson George ainda é supervisor de produção e roteirista da séria da Netflix "The Get Down"; "Hip Hop America é o relato definitivo da colisão entre a cultura da juventude negra e a mídia de massa e seu impacto na mudança social."

• "When Chickenheads Come Home to Roost: A Hip Hop Feminist Breaks it Down"

Joan Morgan, que atualmente cursa o doutorado na New York University, publicou "When Chickenheads Come Home to Roost: A Hip Hop Feminist Breaks it Down" em 1999 gerando impacto importante e se tornando sua mais famosa obra. Esse livro discute a complexidade de uma identidade feminista entre as mulheres negras dentro de um movimento centrado no homem negro, as contradições e possíveis reconciliações em um contexto de sociedade de tipo patriarcal analisando rappers como Lil 'Kim e Queen Latifah. Janet Mock da New York Redefining Realness considera a obra representante de toda uma geração de mulheres negras que começaram a revindicar seu espaço como protagonistas no movimento Hip Hop, a chamada geração pós feminista. Joan cunhou o termo "hip-hop feminism" nesta obra. 

• Rap Music and the Poetics of Identity

O hoje já falecido, professor branco de análise musical da Nottingham University no Reino Unido, Adam Krims, nos legou a obra "Rap Music and the Poetics of Identity" escrita em 2000 surpreendendo os próprios membros da cultura Hip Hop com a facilidade de compreensão de o autor conseguiu articular para explicar a apreensão da forma de organização do movimento e para a formação das identidades ocorrem em seu seio. A obra ataca os críticos culturais que à época reduziam o rap a um discurso apolítico e de pouco impacto social positivo com a análise das obras de rappers do calibre de Ice Cube, Goodie Mob e KRS-One.

• Rap Music and Street Consciousness

A professora de etnomusicologia da Escola de Música Herb Alpert da UCLA, Diretora da pós-graduação em musica popular americana e história e cultura da música rap, Cheryl L. Keyes, lançou "Rap Music and Street Consciousness" em 2004 que foi ganhador do premio CHOICE por melhor título acadêmico no mesmo ano. Keyes é pioneira em análises etnográficas da música rap, e "Rap Music and Street Consciousness" é a primeira obra que analisa o rap a partir da metodologia musicológica realizando uma verdadeira arqueologia do gênero desde a tradição musical dos povos da África Ocidental, passando pelo Dancehall jamaicano e as expressões vernaculares afro-americanas até o mainstream da época. Keyes define o rap como; " [...] um fórum que aborda a marginalização política e econômica de jovens negros e outros grupos, promovendo o orgulho étnico e exibindo valores e estética culturais". A obra trás a analise das obras de referencias centrais da cultura Hip Hop como Afrika Bambaataa, que considera seu padrinho, da Zulu Nation, George Clinton & Parliament-Funkadelic, Grandmaster Flash, Kool 'DJ' Herc, MC Lyte, LL Cool J, De La Soul, Public Enemy, Ice T, DJ Jazzy Jeff & Fresh Prince e The Last Poets sempre desafiando análises acadêmicas externas ao Hip Hop. As pesquisas etnográficas foram realizadas em Nova York, Los Angeles, Detroit e Londres e trás entrevistas com artistas, produtores, diretores, fãs e empresários da cena. Muitos temas novos foram abordados na obra com a questão do surgimento dos (as) rappers brancos (as), os impactos legais das novas inovações tecnológicas, o impacto dos vídeo-clipes de rap, o gangsta rap, o Rap do Sul e os subgêneros do rap centrados na dança. Uma parte do livro é dedicada a questão das carreiras cruzadas de rappers que se tornaram milionários também em outras áreas como no cinema, os casos de Queen Latifah, Will Smith e Ice Cube, assim como o império multimídia de Sean 'P. Diddy' Combs, a Death Row Records, as tensões entre as costas oeste e leste, os assassinatos de Tupac Shakur e Christopher 'The Notorious Big' Wallace assim como as tentativas de unificação da Nação do Islam com a Nação Hip Hop.

• The Hood Comes First

Obra de 2002, The Hood Comes First foi escrita pelo professor branco associado de música e estudos da comunicação da Nottingham University no Reino Unido, Murray Forman. Nesta obra, Murray buscou captar as ressonâncias da música rap a partir do espaço urbano, nas territorialidades dos guetos onde vivem os negros afro-americanos. É um estudo que busca entender como o rap, nas suas mais varias vertentes e meios (como cinema, rádio e vídeos clipes) explicam o território e as identidades individuais e coletivas trabalhando com as categorias "gueto", "centro da cidade" e "bairro". O método de Murray busca uma negociação entre a linguagem acadêmica e a linguagem das ruas na dinâmica raça, espaço social e juventude. Mostra a centralidade do território na discursividade do rap, defendendo inclusive que o espaço geográfico é central na identidade autêntica do movimento Hip Hop, que modifica as ideias de raça, classe e identificação nacional. Uma das contribuições da obra se refere a análise dos processos dentro da industria cultural que culminou na projeção internacional da música rap.

• Check It While I Wreck It: Black Womanhood, Hip Hop Culture, ans the Public Sphere.


A Socióloga professora de estudos da mulher e estudos de gênero do College of Arts & Sciences ligado a Syracuse University, Gwendolyn D. Pough publicou "Check It While I Wreck It: Black Womanhood, Hip Hop Culture, ans the Public Sphere" em 2015, esta obra, de certa maneira, está em diálogo com a de Joan Morgan no sentido de realizar uma provocação central; Por que as mulheres negras no seio da cultura Hip Hop ainda lutam por igualdade mesmo com a projeção da música rap no mainstream? Como Joan, Gwen busca compreender a complexa relação que as mulheres negras vivenciam ao articular a vivencia na cultura Hip Hop com o feminismo. A análise de Gwen articula a cultura musical afro-americana de suas raízes até o rap assim como articula as identidades das primeiras gerações de mulheres negras influentes de Sojourner Truth, passando pelas referencias da luta pelos direitos civis e do movimento Black Power até chegar em Queen Latifah, Missy Elliot e Lil ' Kim que para Gwen são referencias chave hoje para compreender como as mulheres negras estão recuperando um legado que visa atrapalhar e ocupar a esfera pública patriarcal dominante. Gwen discute ainda como as jovens negras de hoje veem lutando contra a linguagem estereotipada do passado ("castrating black mother," "mammy," "sapphire") e do presente ("bitch," "ho," "chickenhead"), e defende a música rap como uma ponte que mulheres negras encontraram para contar sobre suas vidas, construir suas identidades e desmantelar representações negativas do passado e do presente referentes a feminilidade negra utilizando como exemplo a própria relação que se dá atualmente na produção de raps da mulheres negras que utilizam a retórica masculina sobre o amor como meio de dar poder as suas discursividades. A obra defende o papel da música rap como método pedagógico assim como sua importância para os movimentos negros e o feminismo negro. Em síntese a obra é uma defesa da cultura Hip Hop e da música rap assim como uma denúncia ao sexismo e a misoginia inerente ao mainstream.






segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Trechos do livro "A educação para além do capital" de István Mészáros

Trechos do livro "A educação para além do capital" de István Mészáros


“(...)Em A educação par além do capital, Mészáros ensina que penar a sociedade tendo como parâmetro o ser humano exige a superação da lógica desumanizadora do capital, que tem no individualismo, no lucro e na competição seus fundamentos. Que educar é – citando Gramsci – colocar fim à separação entre Homo faber e Homo sapiens; é resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias. E recorda que transformar essas ideias e princípios em práticas concretas é uma tarefa a exigir ações que vão muito além dos espaços das salas de aula, dos gabinetes e dos fóruns acadêmicos. “ (apresentação de Ivana Jinkings, p.9)

“(...)Se no pré-capitalismo a desigualdade era explicita e assumida como tal, no capitalismo – a sociedade mais desigual de toda a história - , para que se aceite que “todos são iguais diante da lei”, se faz necessário um sistema ideológico que proclame e inculque cotidianamente esses valores na mente das pessoas.
No reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do sistema público de ensino, pressionado pelas demandas do capital e pelo esmagamento dos cortes de recursos dos orçamentos públicos. Talvez nada exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se vende, tudo se compra”, “tudo tem preço”, do que a mercantilização da educação. Uma sociedade que impede a emancipação só pode transformar os espaços educacionais em shopping centers, funcionais à sua lógica do consumo e do lucro.” (prefácio de Emir Sader, p.16)

“(...) Tendo em vista o fato de que o processo de reestruturação radical deve ser orientado pela estratégia de uma reforma concreta e abrangente de todo o sistema no qual se encontram os indivíduos, o desafio que deve ser enfrentado não tem paralelos na história. Pois o cumprimento dessa nova tarefa histórica envolve simultaneamente a mudança qualitativa das condições objetivas de reprodução da sociedade, no sentido de reconquistar o controle total do próprio capital – e não simplesmente das personificações do capital que afirmam os imperativos do sistema como capitalistas dedicados – e a transformação progressiva da consciência em resposta às condições necessariamente cambiantes. Portanto, o papel da educação é soberano, tanto para a elaboração de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como para a automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social metabólica radicalmente diferente. É isso que se quer dizer com a concebida “sociedade de produtos livremente associados”. Portanto, não é surpreendente que na concepção marxista a “efetiva transcendência da autoalienação do trabalho” seja caracterizada como uma tarefa inevitavelmente educacional.
A esse respeito, dois conceitos principais devem ser postos em primeiro plano: a universalização da educação e a universalização do trabalho como atividade humana autorrealizadora.(...)”(István Mészáros p.65)

(...) a globalização do capital não funciona nem pode funcionar. Pois não consegue superar as contradições irreconciliáveis e os antagonismos que se manifestam na crise estrutural global do sistema. A própria globalização capitalista é uma manifestação contraditória dessa crise, tentando subverter a relação causa/efeito, na vã tentativa de curar alguns efeitos negativos mediante outros efeitos ilusoriamente desejáveis, porque é estruturalmente incapaz de se dirigir às suas causas.
A nossa época de crise estrutural global do capital é também uma época histórica de transição de uma ordem social existente para outra, qualitativamente diferente. Essas são as duas características fundamentais que definem o espaço histórico e social dentro do qual os grandes desafios para romper a lógica do capital, e ao mesmo tempo também para elaborar planos estratégicos para uma educação que vá além do capital, devem se juntar. Portanto, a nossa tarefa educacional é, simultaneamente, a tarefa de uma transformação social, ampla e emancipadora. Nenhuma das duas pode ser posta à frente da outra. Elas são inseparáveis. A transformação social emancipadora radical requerida é inconcebível sem uma concreta e ativa contribuição da educação no seu sentido amplo...”(István Mészáros p.76)



Fuca CGPP

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Um Grão de Trigo - Ngugi wa Thiong'o - breve nota

"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. - João 12,24
(versículo sublinhado em preto na Bíblia de Kihika)"

Kihika, um grande combatente nas lutas pela Independência do Quênia nos fins dos anos 50. Nome proeminente no caminho da conquista da Uhuhu sofreu uma emboscada e foi assassinado. Mas quem teria sido o traidor? O autor perpassa de forma literária o difícil processo de libertação anticolonial, são vários personagens alocados a maioria em aldeias ou em posição de guerra na floresta, e os brancos comandando em suas grandes casas. Eis que chega então o dia tão esperado da comemoração e consolidação da Uhuru com todas as suas expectativas, medos, traições, surpresas e honrarias. Vale a pena mergulhar nesse cenário queniano através desses escritos de Ngugo wa Thiong'o publicado originalmente em 1967.

"Ngugi wa Thiong'o nasceu em Limuru, Quênia, em 1938. É romancista, ensaista, dramaturgo e um dos principais escritores e estudiosos africanos em atividade. Seu primeiro romance, Weep Not, Child, foi publicado em 1964, enquanto estudava na Inglaterra. Em 1977, ele escreveu uma peça teatral que contrariou o governo do Quênia e acabou preso por mais de um ano pelo regime ditatorial.
Um grão de trigo (1967) é o seu terceiro romance. As obras posteriores incluem Petals of Blood (1977), Wizard of the Crow (2006) e uma trilogia de memórias. Vive atualmente nos Estados Unidos, onde é membro da American Academy of Arts and Letters e professor da Unidade da Califórnia, em Irvine."



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