quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

(Livro) Chancellor Williams: O Renascimento da Civilização Africana (pdf)

Baixar em pdf: https://drive.google.com/file/d/1FkBk1qJM0UBXYFY7-RY9vGkBMWoJb99W/view

O RENASCIMENTO DA CIVILIZAÇÃO AFRICANA
Chancellor Williams

Este livro [edição de 1961] é uma afirmação da Educação e uma defesa da Democracia Cooperativa como forma de vida para a nova África. Contém também um relatório sobre estudos sociais e as dimensões filosóficas e espirituais da vida africana e suas perspectivas para o futuro. Assim como em seu livro mais proeminente, A Destruição da Civilização Preta, Chancellor Williams fornece estratégias e táticas perspicazes para organizações, ativistas e acadêmicos sérios que trabalham na agenda do Renascimento Africano.

A ideia de unidade Pan-Africana, a união de um bilhão de pessoas africanas no mundo, não é apenas fantasia. Essa demanda surge em um momento em que a própria sobrevivência cultural e econômica do povo africano está em jogo. O impulso para tornar a unidade cultural, a continuidade histórica e a cooperação econômica do mundo africano uma realidade é a mensagem que o Chancellor Williams apresenta neste livro.

Chancellor Williams (1898-1992) foi escritor, professor universitário, historiador e o autor de "A Destruição da Civilização Preta: Grandes Questões de uma Raça, entre 4500 a.C. e 2000"."




sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Leiam o Jornal Yanda Panafrikanu - 4 edições de 2020

Eu, Fuca, fui convidado e colaborei com um conto no número 3 e com um texto no número 4. Enorme satisfação. No mais: confiram que o editorial é pesado, e um órgão oficial de difusão do pan-africanismo.

***

YANDA quer dizer REDE em kimbundu, língua bantu concentrada no noroeste de Angola, nomeadamente nas províncias de Luanda, Bengo, Malanje e Kwanza Norte, e falada pelo povo Ambundu. A ideia para o nome YANDA PANAFRIKANU partiu de diferentes imagens de rede, tanto pela nossa missão de uma construção política em rede, entre filhos e filhas no continente africano e na sua diáspora, para fortalecermos diálogos e ações, como também na perspectiva de uma rede que é lançada ao mar, buscando a autonomia para pescarmos as nossas ideias, identidades, culturas e alimentos. YANDA é simultaneamente trabalho colectivo e trabalho autônomo numa luta comum da negritude.

Página do Jornal Yanda Panafrikanu: https://www.facebook.com/pg/Yanda-PanAfrikanu-105000434608944/posts/

Segue as edições:

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº4

https://drive.google.com/file/d/1PoQjjzHHrL_w68iP1dzgn4-ju8HUc5CP/view

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº3

https://drive.google.com/file/d/10j1OFhjQdh5IeuYllL09kLJxjEiDsotk/view

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº2

https://drive.google.com/file/d/1ptH-WCSJwXR9iB8zXY2DKLxXPLvx8-0g/view?fbclid=IwAR2lgkTo8Roje7B2E3LgjoDP4MGpRl3nR7hNZxqPUiefWbfIndJI9_wsbVY

YANDA PAN-AFRIKANU - ANO I, Nº1

https://drive.google.com/file/d/1XDP_IWDLoebYysXq1YRlIq_o-3ikbB6Z/view?fbclid=IwAR0ekUM4qqLmmAZC9_EonGmh1TdgztN3bkO-vf1DXv3_EJ7Cc4jLuJ0iY1w


*O logotipo foi concebido por Cintia Ataliba, inspirado na ideia de redes como raízes ou rizomas conectados desde o continente até à diáspora.


sábado, 16 de janeiro de 2021

Podcast: Kitabu - Kwame Ture - Depois da Roda - out/20

Iniciativa da Biblioteca Comunitária Assata Shakur, imensamente grato pelo salve e pela troca que fizemos!!!


Podcast: KITABU - Kwame Ture - Depois da Roda - out/20

Descrição do episódio
Estamos de volta, hein?

Dessa vez pra falar sobre o grande Kwame Ture mais conhecido como Stokely Carmichael, que fez parte do SNCC e do partido dos panteras pretas.

O livro é: do poder preto ao pan-africanismo e para isso convidamos uma pessoa muito especial, o Fuca. Fuca é rapper do grupo Insurreição CGPP e tem traduzido o Kwame Ture. Vai perder? Da o play.

Confira mais do trabalho do Fuca através do blog https://insurreicaocgpp.blogspot.com/?m=1


ou pode dar o play aqui também:



Sigam a página da brilhante Biblioteca Comunitária Assata Shakur em todas as redes sociais que possuir.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

JALIL A. MUNTAQIM - A LUTA NACIONAL E INTERNACIONAL

A LUTA NACIONAL E INTERNACIONAL

Rumo a uma Nova Estratégia Global Revolucionária Pan-Afrikana

Por Jalil A. Muntaqim

Para compilados de textos em pdf aqui: Jalil Mutaqim - Escritos da Prisão

https://drive.google.com/file/d/1T-nw7vNcH5eD8KtFQ7OLbl3w_Wh7UEiD/view?usp=sharing

Estamos lutando por uma sociedade sem racismo e sem exploração, mas muitos não sabem que tipo de governo e sistema social isso implicaria. Portanto, pode parecer uma afirmação contraditória, mas eu sou da opinião que se este ponto não está evidente para o povo, então o povo não saberá onde precisa direcionar suas energias. É essencial que os revolucionários distribuam materiais e propaguem informações que forneçam a compreensão e a direção sobre o objetivo final da revolução. Os revolucionários devem assumir a responsabilidade e demonstrar o que propagam em realidade, atendendo às necessidades do povo. Por outro lado, se o povo não decide assumir a responsabilidade pelo tipo de sociedade em que deseja viver, não deve reclamar de sua opressão. Ser revolucionário significa ter um compromisso político e assumir a responsabilidade por esse compromisso.

No que diz respeito à autodeterminação Afrikana, nacionalidade e independência nos Estados Unidos, deve-se entender que os Estados Unidos são uma nação de colonos. A evolução histórica deste país é baseada na colonização e dominação de nativos americanos, Afrikanos, mexicanos/porto-riquenhos e asiáticos por colonos europeus. O sucesso desses colonos europeus no processo de colonização fez dos Estados Unidos a nação mais poderosa do mundo. Ainda assim, os conflitos socioeconômicos internos persistem, devido a forma como os Estados Unidos passaram a existir. A resolução dessas contradições/conflitos pode resultar na dissolução dos Estados Unidos, à semelhança do que aconteceu na URSS. Portanto, postula-se que a separação/independência pode ser o método para resolver essa contradição. Esta é uma abordagem particularmente viável à medida que os povos que são ‘colonizados domésticos’ nos EUA quiserem estabelecer sua soberania, e não se eles têm o direito de fazê-la. Ao tomar essa decisão, a luta manifestada por um movimento de independência muda inevitavelmente as dimensões socioeconômicas e políticas deste país. Afeta o determinante histórico, bem como o fundamento moral/espiritual cujo esta nação foi fundada. A luta pela libertação nacional dos povos que são colonizados domésticos obriga este país a ser responsável por esses colonizados. Ela força o país a considerar sua história, como seu povo vive em relação aos meios de produção e como a riqueza do país é então distribuída.

Uma vez que os EUA estão novamente ativos no continente Afrikano, o Afrikanos nos EUA devem se preocupar em como isso os afeta internamente. Essa ação dos EUA deve fazer com que a OUA se torne mais responsiva às necessidades do povo Afrikano. Para resolver o problema geral na Somália e em outras áreas da Áfrika, a OUA deve buscar os meios e métodos para estabelecer um governo somali e garantir a reforma democrática em outras partes do continente. Infelizmente, só depois que a Áfrika desenvolver uma força militar representativa intracontinental, a Áfrika será capaz de se estabelecer seriamente perante os assuntos globais. O que foi feito na tentativa de resolver a luta destrutiva na Libéria oferece possibilidades quanto ao que precisa ser desenvolvido em todo o continente Afrikano.

Em última análise, trata-se do problema do combate ao capitalismo internacional. No conceito marxista de desenvolvimento socioeconômico e nas relações das pessoas com os meios e o modo de produção, existe uma grande contradição entre dois grupos sociais. Esses grupos são identificados como a burguesia, os proprietários e controladores dos meios de produção; e o proletariado, os trabalhadores e operários que produzem riqueza para a burguesia. Esses antagonismos de classe estão diretamente centrados na distribuição da riqueza produzida pelo proletariado. Atualmente, a classe burguesa evoluiu para um corpo internacional de estrategistas globais, que continuam a se apropriar da riqueza do corpo internacional de proletários.

Nos últimos quinze anos, particularmente durante as presidências de Carter, Reagan e Bush, o corpo internacional de estrategistas globais, representando os interesses da classe burguesa, consolidou a hegemonia do capital monopolista. Essa consolidação evoluiu com o advento do G-7, da OTAN, do FMI, do Banco Mundial e da influência dominante dos EUA na ONU. Isso inclui outras organizações não governamentais (ONG’s), como a Comissão Trilateral, o Grupo de Bilderberg e órgãos supranacionais semelhantes. Em virtude dessas organizações internacionais conectadas e unidas por meio de uma rede de entidades corporativas, tem havido uma ascensão em direção a uma nova ordem internacional.

Com a dissolução da URSS comunista, que originalmente deu origem à internacional comunista, a classe do proletariado foi despojada, globalmente, de representação internacional. Embora existam organizações como a Organização Internacional do Trabalho e outros fóruns trabalhistas da ONU, elas foram cooptadas pela burguesia internacional.

É possível, então, compreender o desenvolvimento das relações internacionais com base nos determinantes econômicos e entender como esses determinantes se desenvolvem tanto no campo nacional quanto no internacional. Dentro da classe do proletariado, os esquerdistas continuam a se opor ao domínio do monopólio capitalista, mas estão desordenados e sem um centro de gravidade para a liderança, originalmente detido pelo Partido Comunista da URSS. Atualmente, frentes revolucionárias como a Brigada Vermelha, a Action Directe e a Facção do Exército Vermelho estão envolvidas em discussões sobre o futuro de seus movimentos à luz da unificação da Alemanha, da dissolução da URSS e do Tratado de Maastricht. Elas estão preocupadas com a consolidação da nova ordem internacional da burguesia capitalista e do imperialismo dos EUA. Os esquerdistas europeus lutam procurando os meios para restabelecer uma força política para combater a burguesia internacional e organizar um novo internacionalismo proletário.

Nos Estados Unidos, a burguesia capitalista, com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), forjou uma frente econômica unida entre os EUA, o Canadá e o México. A classe trabalhadora nos Estados Unidos, particularmente os sindicatos industriais, teme que o NAFTA se traduza na perda de empregos para os trabalhadores americanos. O interesse dos líderes corporativos dos EUA no NAFTA é a continuidade dos lucros para os proprietários (ações) das empresas envolvidas no NAFTA. Embora aparentemente o NAFTA e o Tratado de Maastricht sejam dois desenvolvimentos socioeconômicos e políticos distintos, na realidade os arquitetos desses estratagemas econômicos e políticos são os representantes da nova ordem internacional.

Parte da contradição neste desenvolvimento internacional é entre nações desenvolvidas e nações subdesenvolvidas. Com a consolidação das nações desenvolvidas em um sistema de economia de mercado internacional, essas nações desenvolvidas competem entre si pelo domínio do mercado. Isso inclui competir por influência e controle de recursos e trabalho em nações subdesenvolvidas, enquanto as nações subdesenvolvidas lutam para manter a interdependência econômica e política na proliferação do sistema de economia de mercado internacional. Essa competição entre as nações desenvolvidas tem o potencial de tornar a nova ordem internacional nula e vazia, ou de criar um equilíbrio de poder global hegemônico que dividirá o mundo em dois campos permanentes. As nações desenvolvidas podem se envolver em uma guerra econômica, como pode ser visto nos desacordos comerciais entre a França e os EUA, entre os EUA e o Japão, e/ou a continuação da divisão econômica global entre o Norte e o Sul. A contradição interna dentro do corpo político da burguesia internacional e do imperialismo capitalista oferece esperança para o proletariado internacional e as nações subdesenvolvidas.

Essencialmente, a esperança do proletariado internacional e das nações subdesenvolvidas é que a nova ordem internacional se fracione. Se a nova ordem internacional se fragmentasse em sistemas concorrentes de economia de mercado, isso permitiria às nações em desenvolvimento a oportunidade de negociar os meios e os métodos de seu desenvolvimento na arena econômica internacional mais ampla e no contexto político. Isso permitiria que a classe trabalhadora e seus representantes influenciassem o seu governo no que melhor serviria aos seus interesses. A divisão de entidades corporativas hegemônicas globais e seu controle governamental representativo dos assuntos internacionais permitem que estados-nação menores, mais fracos e subdesenvolvidos possam competir dentro das fissuras das divisões internacionais.

Como exemplo deste conflito Norte/Sul, o Dr. Mohammad Ibn Chambras, Secretário Adjunto das Relações Exteriores e líder da Delegação de Gana à Quadragésima Sétima Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, declarou:

“Em seu relatório anual, Development Cooperation 1991, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) confirmou, embora indiretamente, os temores da comunidade internacional de que a preocupação com os desenvolvimentos na Europa Oriental e na ex-União Soviética agravaria a marginalização da África. De acordo com a OCDE, não apenas a ajuda da ex-União Soviética e da Europa Oriental para a África Subsaariana quase caiu a zero; o desembolso de ajuda para a mesma área oriunda de outros países permaneceu estagnado. Em contraste, a OCDE estimou que as promessas de seus membros em novembro de 1991 para a Europa Oriental totalizaram US$ 45 bilhões, em comparação com seus compromissos oficiais anuais com a África de cerca de US$ 34 bilhões. Além disso, em sua reunião em Munique em julho deste ano, o Grupo dos Sete países industrializados endossou um pacote de assistência financeira de US$ 24 bilhões somente para a Federação Russa. Não é de se admirar, então, que o Banco Mundial, em seu relatório intitulado African External Finance in the 1990, preveja, para a África Subsaariana, um déficit financeiro variando entre US$ 7 bilhões em 1995. É neste cenário desanimador que o meu Governo apoia não só o apelo à anulação de dívidas por credores oficiais e bancos comerciais, como também por instituições multilaterais, mas também a convocação da proposta conferência internacional sobre o financiamento do desenvolvimento, que assume uma nova urgência em face desses fatos.”

Sem dúvida, o conflito entre Norte e Sul no desenvolvimento da nova ordem internacional deve ser resolvido por meio da convocação de uma conferência multilateral internacional que considere a disparidade econômica entre as nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas. Por outro lado, afirma-se que na perspectiva de fortalecimento da nova ordem internacional, a burguesia capitalista deve estar preparada para reduzir suas margens de lucro e expectativas de expansão de longo prazo. (Consequentemente, a classe trabalhadora dos estados-nação desenvolvidos sofre uma diminuição do padrão de vida, impostos mais altos, alto desemprego e estagnação crônica). Em essência, a hegemonia da nova ordem internacional se baseia em ajudar os estados-nação subdesenvolvidos a se tornarem competitivos. Internacionalmente, deve forjar uma maior uniformidade em direção ao desenvolvimento econômico e político em estados-nação subdesenvolvidos. Sendo assim, a competição desses sistemas de economia de mercado será menos antagônica e o comércio internacional evoluirá em direção aos determinantes de oferta e demanda equitativos. Desse modo, a mais-valia de bens, trabalho/serviços, estará sujeita ao planejamento internacional e a investimentos no mercado global. As corporações multinacionais funcionariam como instituições governamentais, no lugar da ou na formação política e econômica direta, planejando, formulando e desenvolvendo as metas e aspirações políticas e socioeconômicas globais dos povos do mundo. Este é, em essência, o coração e o espírito da nova ordem internacional, onde a hegemonia global não é baseada na acumulação de capital por estados-nação individuais, ou seja, capitalista - imperialismo, mas sim Uma Ordem Mundial – um Governo.

Com base nessa análise, o coração e o espírito da nova ordem internacional é o advento de um governo mundial. Deve ser informado que tal ideia não é estranha aos que estão construindo a nova ordem internacional. Com a formação do G-7, da Comissão Trilateral, da OTAN, do FMI, do Banco Mundial, do Tribunal Mundial e das Nações Unidas (para citar as instituições mais proeminentes que refletem essa ideia), a nova ordem internacional tem em vigor as instituições essenciais para mover o mundo em um governo mundial. O que inibe este desenvolvimento são as condições econômicas desiguais acima mencionadas entre os vários estados-nação (Norte/Sul), as contradições ideológicas e econômicas internas entre a burguesia e o proletariado (divisões de classe); além da competição econômica interna e o conflito dentro do corpo político dos estados-nação dos sistemas capitalistas de economia de mercado.

Mas com a crescente dependência e influência da ONU para resolver conflitos internacionais, e o uso crescente do FMI e do Banco Mundial para controlar e distribuir riqueza internacionalmente sob os ditames do G-7, as contradições mencionadas são menos antagônicas para acomodar e garantir a manifestação de um governo mundial único.

O principal obstáculo para essa transição é a existência de sistemas de crenças (religiões) e ideologias/filosofias políticas divergentes. Aparentemente, esses obstáculos de “pensamentos” não impedirão um governo mundial único, mas simplesmente retardarão sua manifestação como autoridade global suprema. Por exemplo, a revolução islâmica e os movimentos fundamentalistas estão em oposição direta ao imperialismo dos EUA. Os estados-nação islâmicos e os movimentos fundamentalistas islâmicos subsequentes não se opõem a um governo mundial. Esses movimentos islâmicos estão lutando para estabelecer instituições e governos político-religiosos, socioeconômicos e socioculturais que reflitam a ideologia islâmica de um governo mundial. Claro, essa contradição está na base da cumplicidade do G-7 no bombardeio dos EUA à Líbia e ao Iraque, no seu fracasso em apoiar os muçulmanos na Bósnia, nas relações neocoloniais dos EUA com a Arábia Saudita, Kuwait e Egito e o conluio dos EUA com o sionismo de Israel resultando em danos para o povo palestino. Assim, a visão de mundo islâmica ressalta a contradição entre os estados-nação islâmicos e os sistemas de economia de mercado exemplificados pelo imperialismo capitalista.

Portanto, é uma hipótese que a nova ordem internacional deva criar uma nova “religião” que seja universal em qualidade, abraçando o conceito de um governo mundial dentro da crença holística de uma religião mundial (A Vinda do Messias e Mádi). Essas percepções podem oferecer aos revolucionários engajados nessas lutas uma compreensão de como melhor responder ao capitalismo internacional. Por exemplo, em Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo, de Lenin, no Capítulo V – “A Divisão do Mundo entre as Associações Capitalistas”, ele apresenta:

“As associações monopolistas capitalistas - cartéis, sindicatos, trustes - dividem entre si, em primeiro lugar, todo o mercado interno de um país, e impõem seu controle, mais ou menos completamente, sobre a indústria daquele país. Mas, sob o capitalismo, o mercado interno está inevitavelmente ligado ao mercado externo. O capitalismo criou há muito tempo um mercado mundial. À medida que aumentava a exportação de capitais e as relações externas e coloniais, as 'esferas de influência' do grande monopolista se combinavam, se expandiam, as coisas tendiam 'naturalmente' para um acordo internacional entre essas associações e para a formação de cartéis internacionais.”

Obviamente, esses cartéis internacionais cooptaram e agora controlam seus governos, e esses governos (ou seja, o G-7) operam como agentes do capital internacional. Com relação a este desenvolvimento internacional do capital, Lenin apresentou ainda a respeito do imperialismo como esses cartéis internacionais operariam:

“Já que estamos falando de política colonial no período do imperialismo capitalista, deve-se observar que o capital financeiro e sua correspondente política externa, que se reduz à luta das grandes potências pela divisão econômica e política do mundo, dão origem a uma série de formas transitórias de dependência nacional. A divisão do mundo em dois grupos principais - de países proprietários de colônias por um lado e colônias por outro - não é a única característica típica deste período: também há uma variedade de formas de dependência; países que, formalmente, são politicamente independentes, mas que estão, de fato, enredados na nova dependência financeira e diplomática. Já nos referimos a essa forma de dependência - a semicolônia”.

É o caso de muitos estados-nação Afrikanos e latino-americanos, cujas economias estão em dívida com o FMI e o Banco Mundial, que são supostamente controlados em parceria corporativa pelo G-7.

No Capítulo VII, “Imperialismo como Estágio Particular do Capitalismo”, Lenin explica as cinco características essenciais do desenvolvimento do imperialismo capitalista. Ele então estabelece:

“Imperialismo é o capitalismo naquele estágio de desenvolvimento em que se estabeleceu a dominação dos monopólios e do capital financeiro; em que a exportação de capitais adquiriu grande importância; em que se iniciou a divisão do mundo entre os trustes internacionais; e em que a partição de todos os territórios do globo entre as grandes potências capitalistas foi concluída.”

Para entender melhor esse desenvolvimento, os revolucionários devem revisar e repensar como a nova ordem internacional evoluiu. O que foi apresentado oferece possibilidades particulares para o desenvolvimento futuro da nova ordem internacional - Governo Mundial Único.

Visto que a luta enfrentada pelas frentes revolucionárias é o desenvolvimento e a evolução do Governo Mundial Único, devemos aprender como fazer disso um desenvolvimento revolucionário.

Naturalmente, o desenvolvimento de um Pan-Afrikanismo internacional revolucionário depende de nossa compreensão do desenvolvimento do imperialismo capitalista e da nova ordem internacional. Nossa capacidade de combater o imperialismo capitalista está sujeita à nossa capacidade de organizar um novo movimento revolucionário anti-imperialista e pró-socialista Pan-Afrikanista. O curso de reconstrução de um movimento Pan-Afrikanista revolucionário será baseado em nossa capacidade de organizar movimentos populares de massa pela social-democracia e o controle dos meios e modos de produção. Esta organização do proletariado deve ser baseada no aumento de sua compreensão política tanto da natureza do capitalismo/imperialismo internacional quanto de como os sistemas de economia de mercado são controlados globalmente por alguns capitalistas monopolistas e seus governos representativos.

Por exemplo, sob a liderança enganosa de capitalistas monopolistas nos Estados Unidos, mais de 5 milhões de pessoas estão desabrigadas, 37 milhões não têm seguro saúde, 30 milhões são analfabetas, mais 30 milhões são analfabetas funcionais, mais de 1 milhão estão encarceradas e 60 milhões vivem na pobreza e lutam dia a dia. Em contraste, uma pequena fração da população controla uma riqueza enorme. O patrimônio líquido médio do 1% do topo das famílias nos EUA é 22 vezes maior do que o patrimônio líquido médio dos outros 99% das famílias. O ativo financeiro líquido médio do 1% do topo das famílias é 237 vezes maior do que o ativo financeiro líquido médio de 99% da população. Esse 1% possui 99% das ações em circulação.

A riqueza dos 5% mais ricos da população aumentou 37,7% de 1977 a 1988; a riqueza do 1% mais rico aumentou 74,2%. Ao mesmo tempo, o número de pessoas em situação de pobreza aumentou em 33%.

Metade de todos os Afrikanos nascidos nos Estados Unidos vive na pobreza. Isso é um aumento de 69% nos últimos anos. Um em cada dois filhos de pais Afrikanos na América nasce na pobreza e um em cada três idosos vive na pobreza. A expectativa de vida dos homens pretos no Harlem, em Nova York, é menor que a dos homens em Bangladesh. Embora este país prenda mais cidadãos do que qualquer outra nação industrializada, os EUA prendem homens pretos a uma taxa quatro vezes maior do que o apartheid na África do Sul e nove vezes mais do que os euro-americanos. Os pretos são apenas 12,5% da população americana, mas representam 47% da população carcerária do país, enquanto outros 30% da população carcerária é composta por latinos e outras pessoas de cor. Além disso, deve-se observar que 6% de todas as mulheres encarceradas são mulheres pretas, latinas, asiáticas e nativas americanas.

Com base no exposto, acredita-se que o futuro depende da capacidade dos revolucionários Pan-Afrikanos de educar e organizar a classe trabalhadora em sua relação com o monopólio/capitalismo internacional. É necessário apresentar e propor como o seu controle sobre os meios e os modos de produção melhor servirão suas vidas e o futuro de seus filhos.

Em última análise, a luta é uma questão da relação dos proletários com os meios e o modo de produção. É uma questão de como os revolucionários irão tirar a riqueza mundial do controle dos capitalistas internacionais, e colocá-la no controle do proletariado internacional. A redistribuição da riqueza mundial é o ideal da revolução internacional, e o fundamental para esse desenvolvimento é fazer com que a classe trabalhadora compreenda sua relação com os meios e o modo de produção. Dentro deste processo revolucionário está a luta para compreender a dinâmica de um nacionalismo revolucionário contra o imperialismo cultural, a democracia revolucionária em oposição à plutocracia e a democracia burguesa, e a construção do comunalismo Pan-Afrikano revolucionário em oposição ao capitalismo/imperialismo.

O desafio que se coloca à Áfrika, Europa e América Latina nesta conjuntura histórica é o de expansão e consolidação da socialdemocracia. É essencial que nesses três continentes se desenvolva uma frente revolucionária intracontinental que estabeleça uma agenda e uma plataforma política continental. A agenda e a plataforma política revolucionária devem evoluir a partir dos problemas comuns e mutuamente reconhecidos que confrontam a maioria dos Afrikanos, europeus e latino-americanos, ou seja, exploração capitalista, neocolonialismo e hegemonia imperialista.

Revolucionários em geral concordam sobre a natureza da opressão de seus povos e identificam adequadamente os inimigos dos oprimidos. Frequentemente, os revolucionários enfrentam e combatem diferentes aspectos da opressão, de acordo com a realidade do sofrimento das pessoas na época. No entanto, é sempre importante para os grupos revolucionários mais desenvolvidos estar na vanguarda, fornecendo liderança aos menos desenvolvidos. Esta liderança inclui análise e direção política, bem como ação que serve para expor e ampliar as contradições entre a classe burguesa capitalista internacional e o proletariado internacional. De muitas maneiras, isso é feito combatendo o oportunismo, o liberalismo, o revisionismo e apresentando continuamente posições políticas revolucionárias Pan-Afrikanistas firmes.

A política revolucionária Pan-Afrikana deve ser inclusiva, em vez de exclusiva. Embora a política revolucionária Pan-Afrikana mergulhe na dialética filosófica e teórica da luta, ela não deve, jamais, falar com os oprimidos e marginalizados de uma posição de elitismo, ao invés de se comunicar na própria linguagem do povo. Devem sempre oferecer liderança que atenda às necessidades imediatas dos pobres e oprimidos. O nível de desconfiança que o povo em geral tem em relação aos esquerdistas, em parte é devido ao fracasso dos esquerdistas em abraçar as demandas dos oprimidos. Os revolucionários Pan-Afrikanos não podem impor suas ideias e demandas de governo ao povo; é responsabilidade dos revolucionários Pan-Afrikanos dar credibilidade às demandas do povo e, desta forma, construir o Poder com o povo.

Esta é uma lição que os revolucionários precisam reaprender em termos da fórmula de trabalho desenvolvida pelo antigo Partido dos Panteras Negras (BPP, em inglês). A força do BPP estava na sua capacidade de falar com o povo sobre suas necessidades, e como o povo nas várias comunidades se identificavam com a luta. O BPP foi então capaz de desenvolver programas que aliviavam algumas das condições de privação de direitos e empobrecimento que o povo sofria. Ao fazer isso, o povo se uniu ao Partido e começou a aceitar a linha do Partido como sendo sua. Naturalmente, a diferenciação deve ser feita entre a linha das massas e da organização revolucionária. Esta lição fundamental deve ser implementada pelos revolucionários Pan-Afrikanos, onde houver necessidade, para construir um movimento popular de massa pela socialdemocracia.

Nos Estados Unidos, e particularmente no que diz respeito ao New Afrikan Independence Movement [Movimento de Independência da Nova Áfrika], o NAFTA deve ser realizado em justaposição à necessidade de zonas de livre comércio a serem desenvolvidas em comunidades empobrecidas. Este objetivo socioeconômico e político deve, no mínimo, desenvolver uma linha das massas em direção à redistribuição da riqueza, reparações, oposição socialdemocrata ao neocolonialismo doméstico, forjando o Pan-Afrikanismo com o propósito de estabelecer dupla cidadania no movimento de independência. No mesmo sentido, o apoio aos presos políticos de guerra é um objetivo político essencial que serve para validar a determinação militante da luta. Isso dá crédito a um segmento da comunidade-nação oprimida que lutou bravamente contra o racismo e a opressão nacional. A linha das massas deve confrontar a burguesia negra neocolonialista e seu desenvolvimento do capitalismo negro. Este é um assunto particularmente importante para o recente desenvolvimento do (pseudo) Pan-Afrikanismo por membros da burguesia negra.

A linha das massas na Europa deve incluir o determinante socioeconômico e político geral do Tratado de Maastricht e as questões específicas que abordam cada território no campo de batalha europeu. Enquanto isso, na Áfrika e na América Latina, uma linha das massas de proporção intracontinental deve ser desenvolvida para combater a hegemonia imperialista, o neocolonialismo, a questão da dívida externa e o desequilíbrio da dependência econômica entre o Norte e o Sul.

Uma vez que a linha das massas tenha sido identificada, acordada e ratificada pelos revolucionários (elementos de vanguarda) nas Américas, na Europa e na Áfrika, cada partido revolucionário, aliança, coalizão ou frente será responsável por apoiar a linha das massas.

Este apoio da linha das massas estará na base de como cada território aplica sua linha de partido, particularmente em termos de sua posição em relação às lutas populares, mobilizações das massas e luta armada. É fundamental ter em mente que o povo não luta por ideias e polêmicas filosóficas. Eles lutam por comida, abrigo, roupas e empregos, e no decorrer da luta por essas necessidades básicas, os revolucionários Pan-Afrikanos devem educá-los sobre como suas vidas são controladas pelo imperialismo capitalista. Ao obter esse entendimento, os oprimidos e marginalizados estarão mais dispostos a lutar pelo controle dos meios de produção e apoiar a revolução socialista.

Consequentemente, há a necessidade de impulsionar os objetivos da organização da linha das massas que acabará por desenvolver as lutas democráticas populares pela socialdemocracia e pela libertação nacional. E quando as lutas populares pela socialdemocracia e pela libertação nacional estiverem forjadas, a luta armada atinge seu mais alto grau de combate. É quando a mobilização popular de massa e a luta armada poderão tomar a ofensiva, exigindo o controle dos meios de produção. Até lá, os revolucionários Pan-Afrikanos devem continuar a se preparar em dois níveis: construir organizações sociais populares e formações revolucionárias de massa; e lutando para unificar uma vanguarda revolucionária Pan-Afrikana de significado internacional em apoio à capacidade dos revolucionários Pan-Afrikanos de se engajarem na luta armada.

Nos Estados Unidos, assim como na Europa e na Áfrika, várias formações revolucionárias do Novo Afrikano estão envolvidas em um sério debate e diálogo para o desenvolvimento de uma frente de libertação nacional. Prevê-se no processo de organização para a frente de libertação nacional, que essas formações continuarão a educar e organizar a classe trabalhadora contra os criminosos da pequena burguesia e da classe burguesa capitalista, e que eles continuarão a construir um apoio para os prisioneiros políticos revolucionários, e a vincular essas lutas aos movimentos de massa contra o imperialismo capitalista. Além disso, os revolucionários Pan-Afrikanos devem continuar a desenvolver cada uma de suas lutas para estabelecer alianças que estendam a unidade nas lutas revolucionárias em oposição à nova ordem mundial.

O futuro da luta revolucionária Pan-Afrikana, seu crescimento e desenvolvimento, e suas vitórias e derrotas repousa na resolução revolucionária de continuar as batalhas, de desenvolver uma compreensão crescente das lutas de libertação nacional e do internacionalismo revolucionário e, especialmente, de aprender as lições que ganharão as mentes e o comprometimento destemido da próxima geração de revolucionários Pan-Afrikanos.

Fonte:

Jalil A. Muntaqim, We Are Our Own Liberator: Selected Prison Writings, pp.199-211.

 

Jalil A. Muntaqim (Anthony Bottom -1951) - Preso político nos EUA por quase meio século (50 anos). Ex-membro do Partido dos Panteras Negras e da ala Exército de Libertação Negra.

Revolucionário e estudioso da FROLINAN - Front for the Liberation of the New Afrikan Nation [Frente para a Libertação da Nova Nação Afrikana].

Em breve estará disponível outros ensaios de Jalil A. Muntaqim, incluindo um manual revolucionário e as estratégias da FROLINAN, e seus escritos na prisão.

Por Fuca, 2021.