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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Trechos do livro "A educação para além do capital" de István Mészáros

Trechos do livro "A educação para além do capital" de István Mészáros


“(...)Em A educação par além do capital, Mészáros ensina que penar a sociedade tendo como parâmetro o ser humano exige a superação da lógica desumanizadora do capital, que tem no individualismo, no lucro e na competição seus fundamentos. Que educar é – citando Gramsci – colocar fim à separação entre Homo faber e Homo sapiens; é resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias. E recorda que transformar essas ideias e princípios em práticas concretas é uma tarefa a exigir ações que vão muito além dos espaços das salas de aula, dos gabinetes e dos fóruns acadêmicos. “ (apresentação de Ivana Jinkings, p.9)

“(...)Se no pré-capitalismo a desigualdade era explicita e assumida como tal, no capitalismo – a sociedade mais desigual de toda a história - , para que se aceite que “todos são iguais diante da lei”, se faz necessário um sistema ideológico que proclame e inculque cotidianamente esses valores na mente das pessoas.
No reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do sistema público de ensino, pressionado pelas demandas do capital e pelo esmagamento dos cortes de recursos dos orçamentos públicos. Talvez nada exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se vende, tudo se compra”, “tudo tem preço”, do que a mercantilização da educação. Uma sociedade que impede a emancipação só pode transformar os espaços educacionais em shopping centers, funcionais à sua lógica do consumo e do lucro.” (prefácio de Emir Sader, p.16)

“(...) Tendo em vista o fato de que o processo de reestruturação radical deve ser orientado pela estratégia de uma reforma concreta e abrangente de todo o sistema no qual se encontram os indivíduos, o desafio que deve ser enfrentado não tem paralelos na história. Pois o cumprimento dessa nova tarefa histórica envolve simultaneamente a mudança qualitativa das condições objetivas de reprodução da sociedade, no sentido de reconquistar o controle total do próprio capital – e não simplesmente das personificações do capital que afirmam os imperativos do sistema como capitalistas dedicados – e a transformação progressiva da consciência em resposta às condições necessariamente cambiantes. Portanto, o papel da educação é soberano, tanto para a elaboração de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como para a automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social metabólica radicalmente diferente. É isso que se quer dizer com a concebida “sociedade de produtos livremente associados”. Portanto, não é surpreendente que na concepção marxista a “efetiva transcendência da autoalienação do trabalho” seja caracterizada como uma tarefa inevitavelmente educacional.
A esse respeito, dois conceitos principais devem ser postos em primeiro plano: a universalização da educação e a universalização do trabalho como atividade humana autorrealizadora.(...)”(István Mészáros p.65)

(...) a globalização do capital não funciona nem pode funcionar. Pois não consegue superar as contradições irreconciliáveis e os antagonismos que se manifestam na crise estrutural global do sistema. A própria globalização capitalista é uma manifestação contraditória dessa crise, tentando subverter a relação causa/efeito, na vã tentativa de curar alguns efeitos negativos mediante outros efeitos ilusoriamente desejáveis, porque é estruturalmente incapaz de se dirigir às suas causas.
A nossa época de crise estrutural global do capital é também uma época histórica de transição de uma ordem social existente para outra, qualitativamente diferente. Essas são as duas características fundamentais que definem o espaço histórico e social dentro do qual os grandes desafios para romper a lógica do capital, e ao mesmo tempo também para elaborar planos estratégicos para uma educação que vá além do capital, devem se juntar. Portanto, a nossa tarefa educacional é, simultaneamente, a tarefa de uma transformação social, ampla e emancipadora. Nenhuma das duas pode ser posta à frente da outra. Elas são inseparáveis. A transformação social emancipadora radical requerida é inconcebível sem uma concreta e ativa contribuição da educação no seu sentido amplo...”(István Mészáros p.76)



Fuca CGPP

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Documentário Orí - (Beatriz Nascimento)

A história dos movimentos negros no Brasil entre 1977 e 1988 é contada no documentário Ôrí, lançado pela cineasta e socióloga Raquel Gerber. Tendo como fio condutor a vida da historiadora e ativista, Beatriz Nascimento, o filme traça um panorama social, político e cultural do país, em busca de uma identidade que contemple também as populações negras, e mostrando a importância dos quilombos na formação da nacionalidade.

Ôrí significa cabeça, um termo de origem Iorubá, povo da África Ocidental, que, por extensão, também designa a consciência negra na sua relação com o tempo, a história e a memória.

Com fotografia de Hermano Penna, Pedro Farkas, Jorge Bodanzky, entre outros, música de Naná Vasconcelos e arranjos de Teese Gohl.




sábado, 6 de agosto de 2016

Trechos sobre Marcus Garvey

Segue trechos que explanam um pouco do legado de Marcus Garvey. Trechos extraídos de três livros: O primeiro 'A Matriz Africana No Mundo', o segundo 'Afrocentricidade: a teoria da mudança social' e o terceiro 'Os Jacobinos Negros'.

Marcus Garvey - Discurso em julho de 1921

O movimento popular de Marcus Garvey

Um dos mais importantes líderes do pan-africanismo foi o jamaicano Marcus Garvey, fundador da Associação Universal para o avanço Negro (UNIA), o maior movimento africano da história interncional. A Unia contou em suas fileiras com milhares de pessoas: só nos Estados Unidos tinha 35 mil membros. Cuba tinha 52 filiais em 1926; a África do Sul e Honduras tinham oito cada uma; Panamá e Costa Rica tinham 47 e 23 organizações filiadas, respectivamente. Havia sucursais da Unia em Barbados, Equador, Nigéria, Porto Rico, Austrália, Nicaragua, México, Serra Leoa, Inglaterra e Venezuela, entre outros países. Quando Marcus Garvey foi preso pelo fbi, 150 mil pessoas de várias nacionalidades desfilaram no Harlem, bairro negro de Nova York, para exigir sua liberdade. Outros atos públicos e desfiles da Unia levaram às ruas multidões de dez mil a 25 mil pessoas durante toda a década de 1920.

O movimento de Garvey exerceu influência inequivoca na África. Na Primeira Convenção dos Povos Africanos no Mundo, realizada em Nova York em 1920, 25 mil delegados de todos os cantos do mundo africano lançaram uma declaração de Direitos, na qual condenavam o colonialismo e afirmavam "o direito inerente do negro de controlar a África". Entre outras medidas, a Unia adotou o verde, o preto e o vermelho como as cores simbólicas da emancipação dos povos afrodescendentes; reivindicou o fim do linchamento e da discriminação racial nos países da diáspora; pleiteou o ensino da história africana nas escolas públicas.

Garvey não advogava a volta pura e simples à África:

...Não pregamos nenhuma doutrina pedindo a todos os negros que saiam daqui para ir à África. A maioria da nossa gente pode ficar aqui, mas devemos mandar nossos ciêntistas, mecânicos e artesãos, para que lá construam estradas de ferro, edifiquem as grandes instituições educacionais e outras instituições necessárias. (Apud Essien-Udom, 1964, p.385)

O objetivo de Garvey se resumia no lema "A África para os africanos, no próprio continente e no exterior", o que significava a construção de uma África unida, livre da hegemonia européia, bem erigida como baluarte de força e apoio para os negros em todo o mundo.

(A Matriz Africana no Mundo p.169)


"Garveyismo"

O Garveyismo, apesar dos ataques e acusações arremessados a ele até recentemente, foi a mais perfeita, consistente e brilhante ideologia de libertação na primeira metade do século 20. Em nenhuma nação no mundo houve um tratamento filosófico mais criativo de um povo oprimido do que o Garveyismo. Ele era usado como veículo para a ascensão de um povo, assim como uma arma contra aqueles brancos e pretos que tinham investido interesses em status quo. O Garveyismo foi uma ideia que preencheu sua Era. Ele pegou o homem comum, de ascendência africana, desenraizado de sua cultura, e o fortificou.

Marcus Mosiah Garvey nasceu em St. Ann, Jamaica, em 17 de agosto de 1887, por Marcus e Sarah Garvey. Desde cedo, ele expressou um intenso desejo de ver o movimento de elevação de nossa raça. Garvey viajou a Costa Rica, Venezuela, Nicarágua, Honduras e Colômbia. Em cada lugar, viu africanos nos piores empregos e nas casas mais pobres. Deixando a América do Sul, retornou à Jamaica por curto tempo, até enquanto conseguiu navegar para Londres em 1912. Nas metrópoles do Império Britânico conheceu o robusto nacionalista pan-africano Duse Mohammed, editor do African Times e Orient Review e, posteriormente, da Comet, fundada em Londres e, mais tarde, em Lagos, respectivamente. Mas foi ao ler "Up from Slavery" de Booker T. Washington que realmente moveu o Garveyismo em direção aos EUA e à criação da Universal Negro Improvement Association (U.N.I.A.). Ele se tornou resoluto de que deveria ajudar a construir a nação do homem preto.

Em 1914, Garvey estava certo de que podia unir todos os povos pretos do mundo em um grande corpo para estabelecer um país e um governo (Garvey, 1969). Seu programa oferecia estas sete etapas:

1. Despertar e unir todos os africanos;
2. Transformar o pensamento dos despertos em potencial;
3. Canalizar energias emocionais em direção a interesses raciais construtivos;
4. Trabalho sacrificial de massa;
5. Através da educação em ciência e indústria e da construção de caráter, enfatizar a educação de massa;
6. Preparar nacionalistas para governar nações;
7. Manter as novas nações unidas depois que elas fossem formadas.

Essas etapas estavam enraizadas no amor imortal de Garvey pelo povo. Ele entendeu que a asseveração e a afirmação da herança cultural africana eram necessárias para a verdadeira libertação dos africanos diaspóricos.

A ideia básica do Garveyismo – Poder Racial – apresenta pouca inovação, porque a ideia de poder racial sempre caracterizou a visão branca do mundo. Poder racial tinha sido a ideia central no pensamento europeu, desde Bartolomeu Las Casas. Ela dominou os principais filósofos da Europa: Darwin, Wagner, Nietzsche e mesmo Marx. Esses europeus podem ter diferido em suas conceitualizações de poder racial, mas nenhum questionou a ideia central em si. Seja ela uma ideia biológica ou mecânica, ela é prevalecente. Consequentemente, o Garveyismo se inspirou nos ensinamentos dinâmicos de Edward Blyden, Martin Delaney e Bispo Henry McNeal Turner. Como tal, Garvey estava em excelente companhia com a ideia de poder racial.

O trabalho de Garvey era multidimensional. Embora a imprensa tenha concentrado no conceito de Volta-à-África, isso nunca foi uma parte central do programa de Garvey. Ele instituiu símbolos culturais que capturaram a essência de uma filosofia nacionalista; sua mente estava afiada e engenhada para os meios de comunicação. Como um manipulador de mídia, crescendo em seus anos de jornalista e publicador, Garvey sabia como comunicar-se com seu público. O Garveyismo foi uma filosofia popular entendida desde os menos aos mais sofisticados de seu público. As imagens panorâmicas de Garvey cativavam os jornalistas que observavam o movimento. Elas pareciam tiradas com a eloquência de seus símbolos e a substância de suas mensagens.

Garvey foi um Pan-africanista. Ele via nitidamente a relação de africanos no continente e na diáspora como variações de um povo, um projeto cultural gigante.

O nome completo de sua organização enfatizou seu comprometimento Pan-africano, a Associação Universal de Melhoria do Negro e a Liga das Comunidades Africanas - U.N.I.A. e A.C.L. Garvey era descaradamente devotado a uma doutrina de “raça primeiro”, não “raça apenas”, mas certamente, “raça primeiro”. Como Tony Martin mostrou em suas brilhantes obras sobre Garvey, o íntegro Garvey foi um nacionalista Pan-africano cuja vida inteira foi dedicada a ver africanos oprimidos e pisados sendo respeitados e respeitando a si mesmos.

As concepções teleológicas do Garveyismo são produtivas. Garvey procurou produzir o novo homem preto, moldá-lo, civilizá-lo e desenvolvê-lo. Um forte comprometimento teleológico direciona a produção de um novo povo, organizado em instituições de construção de caráter e construção de nações para o futuro. Sua visão prefigurou a estrada Afrocêntrica para o auto respeito e a dignidade. Em retrospecto, podemos dizer que o Njia foi a ideia por trás do impacto de Garvey sobre o povo africano.

Como um ponto de vista, o Garveyismo não pode ser negado, uma vez que o povo rendeu suporte ao seu movimento e que Garvey ultrapassou todos os seus contemporâneos. Garvey fez sentido, tocou o senso comum do povo; que foi a favor dessa posição porque soou verdadeira. Não há lutas contra fatos, apenas lutas por fé. Toda a estratégia de Garvey foi para obter um esmagador voto de confiança do mundo africano. Mais de 10 milhões pagaram suas contribuições e prometeram fidelidade à recuperação da África para os africanos. O que Garvey mostrou a eles e o que é demonstrável hoje e amanhã é que o povo africano responde à sua memória coletiva do continente. Tal aceitação o coloca nos altos escalões dos lugares sagrados. Qualquer análise concreta do Garveyismo revelará o apoio decisivo a nossos símbolos, que poderosamente constroem nações e dialogam conosco.

O Garveyismo representa o protótipo de movimentos de massa gerais e movimentos nacionalistas específicos. O espírito de Marcus Mosiah Garvey é encontrado em toda página de desenvolvimento e ideologia nacionalistas. Ele construiu uma moldura para futuros construtores. Gênio de imensas proporções, ele poderia ter sido professor de universidade, poeta, dramaturgo, historiador ou general militar; ele foi, entretanto, o de que nossa história necessitava num momento de crise."

- Molefi Kete Asante, "Afrocentricidade: a teoria da mudança social" pag 21-23


Dois negros das Índias Ocidentais, usando a tinta da negritude escreveram seus nomes para sempre nas primeiras páginas da História de nossa época. Marcus Garvey destacou-se como líder. Garvey, imigrante jamaicano, é o unico negro bem-sucedido a formar um movimento de massa entre os negros americanos. As especulações a respeito do número de seus seguidores já alcançam o número de milhões. Garvey defendeu o retorno da África para os africanos e seus descendentes. Ele organizou, muito precipitadamente e com pouca competência, a Black Star Line, uma companhia de navios a vapor para transportar pessoas de linhagem africana do Novo Mundo para a África. Garvey não foi muito longe. Seu movimento tomou forma realmente eficaz por volta de 1921, e lá por 1926 encontrava-se em uma prisão norte-americana (um processo por uso indébito dos correios); da prisão foi deportado de volta à Jamaica. Mas tudo isso é apenas a fachada. Garvey nunca botou os pés na África. Não falava nenhuma língua africana. Suas concepções da África pareciam ser as de uma ilha das Índias Ocidentais e do seu povo multiplicadas por mil. Mas Garvey conseguiu transmitir aos negros (e ao resto do mundo), em todos os lugares, sua crença passional de que a África era o lar de uma civilização que ja fora grande outrora e que o seria novamente. Quando se imagina a escassez de recursos que tinha, as avassaladoras forças materiais e as penetrantes concepções sociais que inconcientemente visavam a destruí-lo, seus esforços continuam sendo um dos milagres propagandísticos deste século.

A voz de Garvey reverberou dentro da própria África. O rei da Suazilândia disse á esposa de Marcus Garvey que conhecia o nome de somente dois homens do mundo ocidental, Jack Johnson, o boxeador que derrotou o branco Jim Jeffries, e Marcus Garvey. Jomo Kenyatta relatou a este escritor que, em 1921, os nacionalistas do Quênia, como não sabiam ler, reuniam-se em volta de um leitor de jornal de Garvey, o Negro World, e escutavam a leitura de um artigo duas ou três vezes. Depois, debandavam pela floresta, para repetir com cuidado tudo o que tinham na memória para os africanos, ávidos por uma doutrina que os libertasse da consciência servil na qual viviam. O dr Nkrumah, estudante de pós-graduação em História e Filosofia em duas universidades norte-americanas, declarou que, entre todos os escritores que influênciaram sua formação, Marcus Garvey está em primeiro lugar. Garvey acreditava que a causa dos africanos e dos povos em ascendência africana era não somente negligênciada como tratada com pouca consideração. Em pouco mais de cinco anos, ele a tinha tornado parte da conciência política mundial. Não conhecia a palavra "Negritude", mas sabia do que se tratava. Teria escolhido o termo com entusiasmo e reclamado sua parternidade com justiça.

O outro negro das Índias Ocidentais era George Padmore, de Trinidad, nas Índias Ocidentais Britânicas. Padmore tirou a poeira das estagnadas Índias Ocidentais dos pés, no início da decada de vinte, e foi para os Estados Unidos. Quando morreu em 1959, oito países mandaram representantes ao seu funeral, em Londres. Suas cinzas foram sepultadas em Gana. E tudo indica que, nesse país das manifestações políticas, nunca houve uma manifestação política como a provocada pelas exéquias de Padmore. Camponeses de áreas remotas, que poderíamos pensar que nunca tivessem ouvido falar seu nome, dirigiam-se a Acra para prestar o último tributo a esse negro das Índias Ocidentais que havia levado a vida a serviço de seu povo...

Trecho do livro "Os Jacobinos Negros" apêndice 'De Toussaint L'Ouverture a Fidel Castro'(p. 349/ 50) escrito por C.L.R James


Digitado por Fuca



sexta-feira, 29 de julho de 2016

Trechos do livro "Afrocentricidade: A Teoria da Mudança Social"

Trechos do livro "Afrocentricidade: A Teoria da Mudança Social" - Dr MOLEFI KETE ASANTE

Pra Baixar:
https://onedrive.live.com/?authkey=%21AAIBxauqHbTZ_mM&cid=EB48622F585FE35A&id=EB48622F585FE35A%21324&parId=EB48622F585FE35A%21105&o=OneUp

https://pt.scribd.com/doc/317048911/Molefi-Kete-Asante-Afrocentricidade-A-Teoria-Da-Mudanca-Social


Definição

Afrocentricidade é um modo de pensamento e ação no qual a centralidade dos interesses, valores e perspectivas africanos predominam. Em termos teóricos é a colocação do povo africano no centro de qualquer análise de fenômenos africanos. Assim é possível que qualquer um seja mestre na disciplina de encontrar o lugar dis africanos num dado fenômeno. Em termos de ação e comportamento, é a aceitação/ observância da ideia de que tudo o que de melhor serve a consciência africana se encontra no cerne do comportamento ético. Finalmente, a Afrocentricidade procura consagrar a ideia de que a negritude em si é um tropo de éticas. Assim, ser negro é estar contra todas as formas de opressão, racismo, classismo, homofobia, patriarcalismo, abuso infantil, pedofilia e dominação racial branca.
Vemos, dessa forma, coo a Afrocentricidade é a peça central de regeneração humana. Ela desafia e critica a perpetuação de ideias supremacistas raciais brancos no imaginário do mundo africano, e, por extensão, de todo o mundo. Na medida em que tem sido incorporada nas vidas de milhões de africanos no continente e na diáspora, ela tem-se tornado revolucionária, atacando as muitas falsificações de verdade e atitudes de auto ódio que tem oprimido a grande maioria de nós. (p.3)

(...) Agência significa que toda a ação tem de ser fundamentada em experiências africanas. Como tal, a Afrocentricidade oferece tanto ao teórico como ao praticante canais de análises nítidos e precisos. (p.4)

(...) A prática da Afrocentricidade torna-se um agente transformador, através do qual todas as noções velhas se tornam novas, e produz uma transformação de atitudes, crenças, valores e comportamento na vida das pessoas criando, inter alia, uma perspectiva revolucionária sobre todos os fatos. (p.5)



Libertação da linguagem


Nossa libertação do cativeiro da linguagem racista é a prioridade do intelectual. 'Não pode haver liberdade alguma até que haja liberdade da mente'. A primeira regra para a liberdade da mente é a liberdade da linguagem. Como Lorenzo Turner disse, linguagem é essencialmente o controle do pensamento. Não será possível direcionar nosso futuro sem primeiro controlarmos nossa linguagem. O sentido da linguagem está na precisão de vocabulário e na estrutura em um contexto social particular. Se nos deixarmos aprisionar pelos conceitos dos outros, então sempre falaremos e agiremos como eles. (...)p.52

(...) A linguagem é o instrumento essencial de coesão social. Coesão social é o elemento fundamental de libertação.
Toda linguagem é epistêmica. Nossa linguagem provê nosso entendimento de nossa realidade. 'Uma linguagem revolucionária não deve ser hermética; não pode servir para confundir'. Cabe aos críticos a tarefa de clarificar a linguagem pública sempre que acreditarem que ela pode solucionar questões. Nós ganhamos conhecimento através da ciência e da retórica; eles são sistemas paralelos de epistemologia. Retórica é arte e arte é um modo de conhecer tanto quanto ciência. (...)
(...) A linguagem do explorador é vil, corrupta e vulgar. Para ele, o racismo não existe porque o que existe hoje é meramente discriminação ou pragmaticamente falando desigualdade de oportunidades. Não podemos permitir esta deslocação fácil na retórica do explorador. 'Não existe racismo negro contra brancos; este racismo é pura fantasia; a visão negra sobre os brancos é baseada em fatos'. A linguagem racista faz da vítima o criminoso. Devemos repudiar essa forma de pensar. P.53/ 54


Tipos de Inteligência

Três tipos de inteligência existem no mundo: a inteligencia criativa, a inteligência re-criativa e a inteligência consumidora. O tipo de inteligência mais valioso é aquele que comunica com a terra inteira por permanecer aberto a associações, ideias, espaços, eras e possibilidades. Atitudes disciplinadas enraizadas em imagens e símbolos Afrocêntricos podem criar combinações intermináveis; existem inúmeros exemplos em nossa história do potencial construtivo de combinações criativas.
Intelectuais re-criativos são capazes de elevar a visão dos intelectuais criativos a novas alturas. Eles o fazem usando constantemente essas ideias e propagando-as com grande clareza. Assim, durante em certo período, Malcolm X foi a mente reprodutora do trabalho de Elijah Muhammad; (...)

(...) O terceiro tipo de inteligência é a do intelectual prático que nem cria nem recria, mas consome e utiliza ideias. Numa sociedade Afrocêntrica, toda inteligência é aceita como contendo a força de Deus. No entanto, sabemos que nem todos conseguem utilizar este poder em qualquer circunstância. Algumas pessoas são executantes e re-criativas, enquanto outras são ativamente utilizadoras e consumidoras. Não há nada inerentemente errado com o consumo; deve-se é saber o que está sendo consumido. (p.61/ 62)


Níveis de Transformação

A Afrocentricidade é um poder transformador que nos ajuda a captura a verdadeira essência de nossas almas. Há cinco níveis de consciência que levam à transformação. O primeiro nível é chamado ‘reconhecimento de pele’, que ocorre quando uma pessoa reconhece que sua pele e/ou herança, porém não consegue compreender a realidade mais além. O segundo nível é o ‘reconhecimento do meio’. Nesse nível, a pessoa percebe como o meio define sua negritude através da discriminação e do abuso. O terceiro nível é a ‘consciência de personalidade’. Ocorre quando uma pessoa diz “eu gosto de música, ou de dança, ou de chitterlings”*, e sem dúvida está falando com toda honestidade, mas isso não é Afrocentricidade. O quarto nível é a ‘preocupação/ interesse’, onde a pessoa reconhece os três outros níveis e demonstra interesse e preocupação com os problemas negros e tenta lidar de maneira inteligente e preocupação com os problemas negros e tenta lidar de maneira inteligente com os erros do povo africano. No entanto, aqui também falta Afrocentricidade no sentido de que não se tornou um comprometimentos com a base cultural Afrocêntrica. ‘Consciência Afrocêntrica’, o quinto nível, é quando a pessoa se deixa transportar completamente para um nível consciente de envolvimento na libertação de sua própria mente. Apenas quando isso acontece podemos dizer que a pessoa está consciente da determinação da consciência coletiva. Um imperativo de vontade, poderoso, incessante, enérgico e vital, entra em ação para erradicar qualquer traço da falta de poder. A Afrocentricidade é como um ritmo; dita a cadência de sua vida... (p.78/ 79)

Trechos do livro "Textos Para o Movimento Negro" - Henrique Cunha Jr


Trechos do livro "Textos Para o Movimento Negro" - Henrique Cunha Junior





Percepção da Discriminação Racial na Escola pela Criança

(...) Os fatos
A denúncia da discriminação racial na escola, por parte da criança, somente ocorre nos casos de discriminação aberta. Dessa forma, não trataremos, aqui, de um conjunto de práticas discriminatórias sistemáticas que ocorrem no sistema educacional brasileiro, através do livro didático, da representação na história e geografia, da prática ideológica do (as) professores (as), diretores (as) e funcionários (as).
Os fatos denunciados pelas crianças podem ser agrupados em quatro níveis: no relacionamento com os colegas, no relacionamento com os professores e funcionários; quando da exposição de fatos quaisquer; e na proibição de participação em posição de destaque.

(...) Em todas as situações parece haver uma indecisão dos pais, devido, em parte, ao fato deles não acreditarem na existência do racismo brasileiro ou por procurarem sistematicamente negá-lo, pois, admiti-lo, é admitir a condição de ser inferior. Outro motivo de indecisão relaciona-se aos resultados do protesto motivado pela injustiça sofrida. Primeiro, porque a experiência mostra que tal protesto não levado em conta por ninguém. Segundo, porque ficam, por vezes, com medo da criança ficar marcada e ser perseguida.





(...) Bases do Sistema Educacional Brasileiro
Henrique Cunha Jr

(..) podemos notar nas ações desta elite nacional o desejo de branqueamento do país quer pelo esforço miscigenador ou pelo exterminador. Mas esta composição entre credo racial, mão-de-obra e conservação do poder que vai direcionar a elaboração dos sistemas educacionais brasileiros e nossa inserção no mundo do trabalho livre. Pela tradição escravocrata, nossa aptidão é para o trabalho e dele é excluída, na mesma visão, todo seu conteúdo intelectual. O trabalho que nos cabe é o trabalho pesado, tarefeiro. Por outro lado, o processo de industrialização implica um trabalho cada vez mais especializado, evoluindo numa das vertentes para um operariado treinado e um setor de serviços desenvolvido, demandando trabalho cujos níveis educacionais passam por constante aprimoramento. Sendo assim gera-se um processo de criação de moderno e uma sistemática exclusão nossa deste moderno.

(...)Dois Momentos- Dentro e Fora da Escola
(...) a educação numa sociedade racista possui conteúdo racista em todos os níveis e perfaz um processo de socialização excludente e inferiorizante. Neste sentido, a educação informação se completa ou se reforça com a educação formal.

(...) Esta ideia e pratica de conviver com a sociedade racista produz um conjunto de regras que vai desde driblar as dificuldades até comportamentos passivos de não deixar aflorar as dificuldades(...)

(...) A escola, por um lado vai proporcionar mais um aprendizado das relações raciais, sempre desvalorizando o negro e valorizando o branco.
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XIV - Reflexão sobre o 20 de novembro
(...) O primeiro sucesso do racismo no Brasil é o medo que muitos têm de ser negros,é a esclerose que muitos sofrem do significado objetivo de afirmar as nossas raízes comuns. Este medo e esta esclerose afetam a nossa consciência de direitos e de cidadania. Outro sucesso do racismo brasileiro é a farsa onde todos se declararam não racistas. Existe um medo da verdade que não atenua os fatos, que se confunde e não permite o desenvolvimento de uma consciência ativa de combate anti-racista.




Título Textos para o movimento negro
Editora Edicon, 1992
Original de Universidade do Texas
Num. págs. 142 páginas

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Trechos: Origens africanas do Brasil contemporâneo

Trechos: Origens africanas do Brasil contemporâneo - Kabengele Munanga

(...)Em termos gerais, tem-se da África uma imagem muito simples e reducionista, ilustrada por expressões como “na África é tudo a mesma coisa; na África é tudo diferente”. Esqueceu-se que se trata de um continente com 56 países; uma superfície de 30 milhões de quilômetros quadrados e uma população de cerca de 600milhões de habitantes. (...)

(...) Não apenas o significado da palavra “África” tornou-se objeto de especulação científica, mas também o próprio povoamento do continente. Controvérsias sustentadas por motivos ora científicos, ora ideológicos, continuam a confundir as mentes. Com efeito, durante muito tempo, os historiadores ocidentais defenderam a tese asiática da origem dos povos africanos. Fundamentada na descoberta do Homem de Java, na China, em 1891, outrora considerada o berço da humanidade, essa tese também foi fortemente influenciada pelos filósofos da época, em especial por Hegel. Este dividia o mundo em povos históricos e não históricos. Os primeiros seriam responsáveis pelo progresso humano, enquanto a passividade dos outros os teria mantido à margem do desenvolvimento espiritual da humanidade. (...)

(...) A descoberta do Autralopithecus pelo dr Leakey no leste da Tanzânia, em 1924, gerou as primeiras dúvidas quanto à origem asiática do primeiro homem e do homem africano. A partir do momento em que as novas descobertas científicas colocam o berço da humanidade no continente africano, as teorias que explicam o povoamento africano a partir da Ásia deviam ser totalmente abandonadas. É a partir disso que se coloca a origem da humanidade na África, sustentada pela teoria monogenista da humanidade,e não mais na Ásia; ou seja,os primeiros elementos da cultura africana foram elaborados dentro do continente africano e não trazidos de fora.(...) P.20/21

(...)O Australopiteco passou por um longo processo evolutivo, seguido pelos estágios de Homo habilis e Homo erectus antes de atingir o estágio de Homo sapiens, de quem descende o homem moderno. Todos estes estágios evolutivos foram realizados no próprio continente africano, o que gera a dúvida quanto à presença anterior do ser humano em outros continentes. A tese migratória apoiada por evidências cronológicas comprova que os homens de outros continentes (por exemplo, o homem de Neandertal, Cro-Mignon, de Grimald etc.) são descendentes do australopiteco. Há cerca de 1,5 milhões de anos,os ancestrais humanos viviam num Éden que abrangia principalmente as savanas altas entre a Etiópia e o Cabo (África do Sul). A partir desse período, o Homo erectus, que já tinha cultura bastante desenvolvida, elaborada em utensílios acheulenses, espalhou-se sobre grande parte das áreas tropical e subtropical do mundo antigo,desde a África meridional até a Ásia e a Europa. (...)P.41/42

(...) Resumidamente, a espécie humana originou-se nos pés da montanha de Lua, no Vale da Grande Fenda, marcados por grandes lagos onde estão as nascentes do rio Nilo. Foi desse lugar que os homens e as mulheres partiram para povoar o próprio continente e o resto do mundo. Disso resultou a hipótese de que os primeiros seres humanos, por terem origem nos trópicos, em torno dos grandes lagos, apresentavam, certamente, no início, pigmentação escura. Foi pela adaptação em outros climas que a matriz original se dividiu mais tarde em populações diferentes chamadas raças, por causa de suas características distintivas quanto à cor da pele e outros traços morfológicos. P.43


Os africanos que povoaram o Brasil e suas contribuições

(...) Os bantos, os primeiros a chegar, deram o primeiro exemplo de resistência à escravidão na reconstrução do modelo africano do “quilombo”, importado da área geográfico-cultural Congo-Angola. Os escravizados foragidos das fazendas se agruparam em áreas não ocupadas e de difícil acesso, organizando ali novas sociedades que apelidaram de quilombos. De origem da língua umbundu de Angola, “quilombo é um aportuguesamento da palavra kilombo,cujo conteúdo remete a uma instituição sociopolítica e militar que resulta delonga história envolvendo regiões e povos de lunda, ovimbundu, mbundu, luba, kongo e imbangala ou jaja, cujos territórios se situam hoje nas repúblicas de Angola e dos dois Congo. É uma história de conflitos pelo poder, de cisão de grupos, de migrações em busca de novos territórios e de alianças políticas entre grupos alheios.
Em seu conteúdo, o quilombo brasileiro é, sem dúvida, uma cópia do quilombo afro-banto reconstruído pelos escravizados para se opor à estrutura escravocrata, pela implantação de outra estrutura política na qual se juntaram todos os oprimidos. (...)

(...) Durante todo o século XVII,Palmares rechaçou mais 35 expedições comandadas pelos holandeses e portugueses. Mas foi a última expedição comandada em 1692,após quase um século de sua existência,por Domingos Jorge velho, que, depois de dois anos de luta, colocou fim à república palmerina, quando seu líder máximo, Zumbi dos Palmares, foi traído e morto por um de seus chefes subalternos. Foi sem dúvida uma estrutura política inspirada nos moldes organizacionais banto, certamente liderada por banto e seus descendentes, como comprovado pelo próprio nome do quilombo e pelos nomes de seus maiores líderes; Ganga Zumba e Zumbi, que significariam feiticeiro,imortal (Ganga de Nganga, em diversas línguas bantu; e Zumba, em kikongo, imortalidade;e Zumbi,de Nzumbi ou Nzambi, significaria espírito ou deus em várias línguas bantu).

Além desse modelo de resistência política apenas superada pela revolta dos escravizados africanos no Haiti,todos os estudiosos unanimemente reconhecem que as contribuições bantu na língua portuguesa do Brasil são mais fortes que a dos sudaneses. Não apenas introduziram uma parte do léxico desconhecido em português original como influíram na fonética e no uso de algumas expressões idiomáticas e até mesmo na fonologia de algumas palavras. (...)p.93

(...)No campo da religiosidade,as contribuições dos povos da área ocidental, particularmente do chamado Golfo de Benin, se destacam. Eles legaram ao Brasil um panteão religioso organizado segundo o modelo cultural jêje-nago, conhecido como candomblé da Bahia. P.94

O objetivo deste livro é resgatar a história e a beleza da África antes da exploração e dominação brutal a que os africanos foram submetidos para justificar e legitimar a colonização estrangeira. Com textos e fotos, o autor busca arrancar a máscara bárbara imposta àquele continente, com o intuito perverso de divulgar ao mundo uma África rude, selvagem e desprovida de humanidade, e nos revelar sua verdadeira, desconhecida e harmoniosa face.
A África é tão complexa e diversa que sua história não poderia se esgotar nessas páginas. Porém, com este livro, espera-se atender às premissas da Lei nº 10.639/03, que propicia aos estudantes brasileiros um conteúdo adequado sobre as origens, as línguas, as culturas e as civilizações do imenso continente que vive em cada um de nós.

Filme: Abolição (1988) - Zózimo Bulbul

Sinopse:

Produzido em 1988, faz o resgate de 100 anos de abolição no país, através de um olhar preto. Entrevistas com personagens importantes para a preservação da cultura, como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalés, Beatriz do Nascimento, Grande Otelo, Joel Ruffino, Dom Elder Câmera em contraposição com D. João de Orleans e Bragança e Gilberto Freire. Um importante documento das ideias desses pensadores, como também de presidiários, mendigos e artistas populares na sua maioria negros. Questiona que tipo de abolição houve neste país já que a situação 100 anos depois continuava de muita luta, desigualdade e racismo.





sábado, 1 de novembro de 2014

Malcolm X - Mensagem a Grassroots (mensagem as bases) - parte1

Este discurso de Malcolm X foi feito em 10 de Novembro de 1963, em Detroit. Pouco depois, Malcolm se separou da Nação do Islã.




... E durante os poucos momentos que nos resta, queremos ter apenas um bate-papo, sem algo preparado, entre você e eu - nós. Queremos falar direto para a terra numa linguagem que todos aqui poderão facilmente compreender. Estamos todos de acordo esta noite, todos os oradores concordam, que a América tem um problema muito sério. Não apenas a América tem um problema muito sério, mas o nosso povo tem um problema muito sério. Somos nós o problema norte americano. Nós somos o problema. A única razão pela qual esse país tem um problema é que ele não nos quer aqui. E cada vez que você olhar para si mesmo, seja você preto, marrom, vermelho ou amarelo – ou um chamado *Negro (negro/nigger) - Você representa uma pessoa que é um problema tão grave para a América, porque eles não querem você. Enfrente isso como um fato, então você pode começar a traçar um caminho que fará você parecer inteligente, em vez de pouco inteligente. 

O que você e eu precisamos fazer é aprendermos a esquecer de nossas diferenças. Quando nos reunimos, não estamos a nos juntar como batistas ou metodistas. Você não irá para o inferno por ser um batista, e você não irá para o inferno porque é metodista. Você não irá para o inferno por ser batista ou metodista. Você não irá para o inferno por ser democrata ou republicano. Você não irá para o inferno por ser um maçom ou um alce, e certamente você não irá para o inferno porque é americano; porque se você é americano, você não irá para o inferno. Você vai para o inferno porque você é uma pessoa negra. Você vai para o inferno, todos nós vamos para o inferno, por essa mesma razão.

Então, todos nós somos negros (Black people), chamados negros (Negroes), cidadãos de segunda classe, os ex-escravos. Você não passa de um ex-escravo. Você não gosta de ser chamado assim, mas o que mais vocês são? Vocês são ex-escravos. Vocês não vieram aqui no **"Mayflower". Vocês vieram pra cá em um navio de escravos - em cadeias, como um cavalo ou uma vaca ou uma galinha. E vocês foram trazidos aqui por pessoas que vieram aqui pelo "Mayflower". Vocês foram trazidos pelos assim chamados Peregrinos, ou ***fundadores . Eles foram os únicos que lhe trouxeram pra cá.

Temos um inimigo em comum. Temos isso em comum: Temos um opressor em comum, um explorador em comum, e um discriminador em comum. E uma vez que nós todos percebemos que temos este inimigo, então nos unimos na base do que temos em comum. E o que temos de principal em comum é o inimigo - o homem branco. Ele é um inimigo de nós todos. Sei que alguns de vocês pensam que alguns deles não são inimigos. O tempo vai dizer.

Em Bandung, voltando se não me engano em 1954, foi a primeira unidade em séculos de pessoas negras se reunindo. E uma vez que você estudar o que aconteceu na conferência de Bandung, e os resultados da Conferência de Bandung, na verdade serve de modelo para que nós usemos o mesmo procedimento para ter os nossos problemas resolvidos. Em Bandung todas as nações se uniram, eram nações escuras da África e da Ásia, algumas delas eram budistas, algumas delas eram muçulmanas, algumas delas eram cristãs, alguns delas eram confucionistas, algumas eram nações ateias. Apesar de suas diferenças religiosas, elas vieram juntas. Algumas eram comunistas, algumas eram socialistas, algumas eram capitalistas. Apesar de suas diferenças políticas e econômicas, vieram juntas. Todas elas eram preta, marrom, vermelha ou amarela.

O único que não foi autorizado a participar da conferência de Bandung foi o homem branco, ele não pôde ir. Uma vez que excluiu o homem branco, eles descobriram que eles poderiam ficar juntos, uma vez que o manteve de fora, todo mundo seguiu na mesma linha. Esta é a coisa que temos que entender, e essas pessoas que estavam juntas não tinham armas nucleares; elas não tinham aviões a jato; elas não tinham todos os armamentos pesados ​​que o homem branco tem, mas elas tinham a unidade.

Eles foram capazes de submergir suas pequenas diferenças e concordaram em uma coisa: que o Africano do Quênia estava sendo colonizado pelos ingleses, que o Africano do Congo estava sendo colonizado pelo belga, que o Africano de Guiné estava sendo colonizado pelos franceses, que o de Angola estava sendo colonizado pelo Português. Quando eles vieram para a conferência de Bandung, eles olharam pro português, pro francês, pro inglês, pro holandês, e aprenderam ou perceberam que a única coisa que todos eles tinham em comum: todos eles eram da Europa, eles eram todos europeus, loiros, de olhos azuis e pele branca. Eles começaram a reconhecer quem era o inimigo. O mesmo homem que foi colonizar nossas pessoas no Quênia foi colonizar nossas pessoas no Congo. O mesmo do Congo estava colonizando o nosso povo na África do Sul, na Rodésia do Sul, na Birmânia, na Índia, no Afeganistão, no Paquistão. Eles perceberam que em todo o mundo as pessoas negras estavam sendo oprimidas, elas estavam sendo oprimidas pelo homem branco; onde as pessoas negras estavam sendo exploradas, estava sendo exploradas pelo homem branco. Então se reuniram sob esse critério - que tinham um inimigo comum.

E quando você e eu aqui em Detroit ou em Michigan e na América, que foram despertados e olhar à nossa volta hoje, também percebemos que aqui na América todos nós temos um inimigo em comum, quer seja na Geórgia ou Michigan, na Califórnia ou em Nova York. Ele é o mesmo homem: olhos azuis, cabelos loiros e pele clara - mesmo homem. Então o que temos a fazer é o que eles fizeram, eles concordaram em parar de brigar entre si, qualquer pequena briga que eles tinham, eles resolviam entre si - não deixe que o inimigo tome conhecimento que você tem um desentendimento.

Em vez de expor nossas diferenças em público, temos de perceber que somos todos da mesma família e quando você tem uma briga entre família, você não sai na calçada. Se você fizer isso, todo mundo te chama rude, bruto, incivilizado, selvagem. Se você fizer isso em casa e resolver em casa; você tem no armário e discute por trás de portas fechadas. E então, quando você sai na rua, você expõe uma frente comum, uma frente unida. E é isso que precisamos fazer na comunidade, na cidade e no estado. Precisamos parar de expor nossas diferenças em frente ao homem branco. Número um, deixe o homem branco fora de nossas reuniões e, em seguida, sentar e conversar sobre os planos e trabalhos. Isso é o que temos que fazer.



*As 'Negro People' são diferentes das 'Black People', pois basicamente não possuem consciência de raça e estão do lado e a serviço dos brancos.( ele explicará mais detalhadamente no decorrer do discurso)

** (termos históricos) o navio Mayflower em que os Pilgrim Fathers partiu de Plymouth para Massachusetts em 1620)

***(Convenção que redigiu a Constituição dos EUA em 1787)

sábado, 6 de setembro de 2014

Fala Tu (2003) - Documentário Rap

"Fala Tu" acompanha o cotidiano de três pessoas da zona norte do Rio de Janeiro. Suas vidas, seus sonhos, suas intimidades. Elas não se conhecem, mas têm uma coisa em comum: são rappers e sonham em se tornar músicos profissionais.
Macarrão, 33 anos, pai de duas filhas, é apontador do jogo do bicho e mora no Morro do Zinco, no Estácio. Combatente, 21 anos, trabalha como operadora de telemarketing, frequenta a Igreja do Santo Daime e mora em Vigário Geral. Toghum, 32 anos, é vendedor de produtos esotéricos, budista e morador de Cavalcante. O filme mostra o local de trabalho, os estúdios improvisados, as rádios piratas, as cerimônias religiosas, a casa e a família dos três, procurando entender como o rap mudou o cotidiano deles e como usam a experiência de vida para escrever as letras das canções.
O filme participou da Seleção Oficial do Festival de Berlim, em 2004.

Direção: Guilherme Coelho
Produção: Maurício Andrade Ramos, Mano Thales, Nathaniel Leclery, Guilherme Coelho
Roteiro: Nathaniel Leclery
Fotografia: Alberto Bellezia

quinta-feira, 31 de julho de 2014

QUAL É O MOIO? POLITICA CULTURAL PARA HIP HOP MSP


Qual é o moio? Direito pros manos e pras manas

Cultura na periferia, tem? Quem faz? Quem acessa?
O Fórum Hip Hop MSP entregou uma carta para efetivação de politicas culturais para prefeitura de prefeitura de SP no ano de 2013 e aprovou na conferência de cultura do mesmo ano como 11ª proposta com 108 votos, garantia da efetivação da semana Hip Hop com a autonomia do movimento Hip Hop efetivação de 5 casas de Hip Hop como centros de referencia, memória, e politicas de circulação.
Queremos um fundo voltado para o movimento Hip Hop politico cultural onde o DJ, BREAK, GRAFFIT, MC, BBOX sem haver detrimentos dos artistas e articuladores do Hip Hop junto com a efetivação de todas as leis e projetos de leis voltados para Hip Hop em SP na câmara municipal e a valorização do Hip Hop em suas localidades na periferia e sua história com ação por toda cidade que as politicas de cultura sejam para difusão do conhecimento e fortalecimento do Hip Hop para combate ao racismo institucional brasileiro, por que?... Essas pessoas vão dizer no vídeo abaixo.

Por André Luiz
Reportagem e imagem
Julho 2014






quinta-feira, 17 de julho de 2014

H. RAP BROWN - Discurso Free Huey P. Newton 1968

H. Rap Brown* - Discurso pela liberdade do aniversariante Huey P. Newton do Partido dos Panteras Negras - Oakland 17 de Fevereiro de 1968



Discurso

Antes de tudo, eu gostaria de começar agradecendo o irmão (Eldridge) Cleaver e o Partido dos Panteras Negras pela Autodefesa. Veja, ao contrário do que a America gostaria que acreditássemos, o maior problema enfrentado neste país, hoje, não é a poluição e o mau hálito... É o povo negro. O povo negro. Veja, essa é apenas uma das grandes mentiras que a América diz a vocês e que vocês acreditam porque são idiotas. Uma das mentiras que contamos a nós mesmos é que estamos progredindo, mas a cadeira do Huey está aqui vazia. Não temos progresso algum. Tendemos a equiparar o progresso com concessões, não podemos mais cometer esse erro. Você vê, quando nos deram esse astronauta negro, disseram que estávamos progredindo, mas eu disse que eles iriam perdê-lo no espaço. Ele não foi tão longe. (aplausos) Deram-lhe Thurgood Marshall, e vocês disseram que estávamos fazendo progressos. Thurgood Marshall é um tom da mais alta ordem, qualquer um que se senta... alguém que se senta diante de James O. Eastland - um bafo de camelo, honky (insulto ao branco), peckerwood, um branco ignorante desagradável do Mississippi ... (aplausos) ... e deixa James O. Eastland sujeita-lo ao tipo de questionamento que ele fez, ele é uma raça estranha do homem. Vocês colocaram Adam Clayton Powell no cargo público e vocês não puderam mantê-lo, o que vocês acham que eles vão fazer com Thurgood Marshall quando eles se cansarem dele? Deram-lhe Walter Washington, de Washington DC, e você disse que estávamos progredindo, isso não é progresso. Veja, não existe meio termo: ou você é livre ou você é um escravizado. Não há tal coisa como uma cidadania de segunda classe. Seria como dizer que estou um pouco 'grávida'. (risos, aplausos)

A única política neste país que é relevante para as pessoas negras, hoje, é a política da revolução ... nenhuma outra. (aplausos) Não há diferença entre o Partido Democrata e o Republicano, as semelhanças são maiores do que as diferenças nesses partidos. Qual é a diferença entre Lyndon Johnson e Goldwater? Nenhuma! Mas muitos de vocês ficam por aí falando de vocês democratas, e os democratas colocam vocês no maior truque. Dizem, "Não é nossa culpa, é dos Dixiecrats". A única diferença entre George Wallace e Lyndon Johnson é que a esposa de um deles tem câncer. (alvoroço... aplausos) Essa é a única diferença, mas vá em frente! Vocês vão com eles porque vocês são idiotas! A única coisa que vai libertar Huey é pólvora. Black Power. Huey Newton é o único revolucionário ativo neste país hoje. Ele tem pagado suas dívidas! Ele pagou por isso!

Quantos brancos vocês mataram hoje? (tumulto)... Mas vocês são revolucionários! Vocês são revolucionários! Che Guevara disse que há apenas duas maneiras de deixar o campo de batalha: vitoriosos ou mortos. Huey está na cadeia! Isso não é a vitória, é uma concessão. Os negros se tornarão sérios sobre a luta revolucionária na qual eles estão inseridos - podem reconhecer isto ou não - só quando começarem a derrubar as pessoas que estão os oprimindo, e começarem a deixar esse povo impotente, este será o momento que a luta revolucionária se desenrola. (aplausos)

Veja, eu quero desenvolver em cima do que Bobby (Seale) estava falando do poder verde, porque o poder verde é um mito. Não há nada de poder verde, enquanto o honky que tem o poder de mudar a cor do dinheiro. É o poder que controla este país. Para mostrar o uso arbitrário da América e abuso de poder em relação a dinheiro, internacionalmente, a América mudou o padrão monetário de ouro para o ouro papel. Sua reserva de ouro tinha diminuído de 13,7 bilhões de dólares. França teve 12,9... é por isso que De Gaulle estava levantando do inferno. De Gaulle diz: "Eu tenho quase tanto ouro como você! Então, como você vai ter mais votos que eu no sistema monetário?" Os Estados Unidos são 'eficientes' porque eles têm poder. Eles mudaram para algo que tem uma abundância de... papel dourado. Ouro papel. Você vê, os negros são idiotas. Se os Estados Unidos disser para trazer todas as pedras deste país para ele, que ele vai dar-lhe um milhão de dólares por isso, vocês acreditariam e fariam isso! E no dia seguinte os EUA iriam dizer, "Nós usamos pedras para a moeda, idiota!" (tumulto, aplausos) Vocês fariam isso porque vocês gostam de ser enganados, vocês gostam de ser enganados. Vocês encontram as suas seguranças nas mentiras que a América branca diz. Por 400 anos ela ensinou a vocês o nacionalismo branco e vocês aceitaram. Vocês ensinaram seus filhos a pensar que tudo de preto era ruim. Vacas pretas não dão bom leite. Galinhas pretas não põem ovos. Preto para funerais, branco para casamentos. Você vê, tudo de preto é ruim. O único personagem bíblico preto que você conhecia era Judas. Isso é tudo. Isso é o nacionalismo branco, papai noel: um honky branco que desliza numa chaminé preta e sai branco. (tumulto, aplausos) Cor de carne de band-aids: eles tinham um irmão que usou um e pensei que algo estava errado com a sua pele. Isso porque vocês são idiotas, você acreditam neles! Você gosta do nacionalismo branco! **Huntley e Brinkley: os negros tem mais confiança em Huntley e Brinkley que os católicos têm no Papa.  Segundo Huntley e Brinkley,  através do combate no Vietnã, estamos combatendo o inimigo. E vocês acreditam, é isso que vocês querem ouvir, e vocês se intitulam revolucionários. Bem, se vocês são revolucionários, vocês devem assumir a postura revolucionária. O presidente Mao disse: o poder vem do cano de uma arma. (aplausos)

Sim, a política é guerra sem derramamento de sangue e a guerra é uma extensão dessas políticas, mas não há nenhuma política neste país que é relevante pra nós...pras pessoas negras. Bobby Kennedy finalizou os negros, ele não está interessado em pessoas negras. Ele convocou uma ação vigilante neste verão, ele diz que os bons cidadãos devem repudiar, junto com os policiais, os infratores. Vocês sabem quem são os infratores neste país. Lyndon Johnson definiu a atitude... a atmosfera, ao contrário, para o vigilantismo no país, quando ele apareceu em seu último discurso... - acho que posso chamar assim - e disse que um dia cidadãos cumpridores da lei vão subir para acabarem com os infratores, uma semana mais tarde, os estivadores aproximaram-se e bateram no movimento pela paz com ganchos. Isso é ação vigilante. A mesma coisa aconteceu durante a Batalha da Argélia - a Revolução argelina, quando a França passou a proclamação estabelecendo milícias do povo. Isso é o que este país está fazendo. É por isso que os brancos estão comprando armas: eles compram (contra) vocês! E entender, as diferenças de classe não irão te salvar. Não existe tal coisa como uma classe média negra. Se vocês não acreditam, vão para Detroit. (aplausos) Não há nada de classe média negra, não batem na sua cabeça porque você tem um Cadillac ou porque você tem um Ford; batem em você porque você é negro! Estruturas de classe são um luxo que não podemos pagar, eles não podem nos dividir dizendo que você é de classe média ou que você é de classe baixa. Eles matam porque vocês são negros. Os campos de concentração - eles têm 37 no país - apenas eu e (Stokely) Carmichael não preencheremos todos eles, eles têm que partir pra outras pessoas. (aplausos)

Vocês têm que parar de se dividir. Temos que nos organizar, concordo com Bobby (Seale): não estamos em menor número, estamos desorganizados. Vocês têm que se organizar em todo nível. Todos na comunidade negra devem se organizar, e então decidir se faremos alianças com outras pessoas ou não, mas não até que estivermos organizados. (aplausos)

Em termos de revolução, eu acredito que a revolução será uma revolução do povo espoliado neste país: é o mexicano-americano, o porto-riquenho-americano, o índio americano, e as pessoas negras. (aplausos) Temos que ser a vanguarda dessa luta revolucionária, porque somos os mais despossuídos. Um velho líder Africano disse sobre liderança, ele diz que a liderança nunca deve ser compartilhada, que deve sempre permanecer nas mãos das pessoas despossuídas. Nós que lideraremos a revolução. (aplausos)

Quero terminar, porque o irmão Carmichael tem uma mensagem para você. Tenho certeza que ele tem muito a dizer sobre a sua luta revolucionária, sobre a luta revolucionária. (alvoroço... pedem para que Brown continue) OK... vocês me pediu, irmãos. OK, vamos falar sobre a lei e a ordem versus a justiça na América. Você vê, Lyndon Johnson sempre pode sentar-se e falar sobre isso... ele sempre levanta uma discussão sobre a lei e a ordem, porque ele nunca fala sobre justiça. Mas os negros caem para o mesmo argumento, e sai por aí falando infratores. Nós não fazemos as leis neste país. Não somos nem moralmente nem legalmente circunscritos nessas leis. Essas leis que eles mantêm são para nos deixar inferiores. Temos que começar a entender isso. (aplausos) A justiça é uma piada neste país, e fede a sua hipocrisia. Johnson é filho ilegítimo de Hitler... (aplausos)... e J. Edgar Hoover é sua meia-irmã. E temos que conduzir nossa luta neste nível. Estamos lutando contra inimigos do povo! A América por séculos... por anos tem chantageado as pessoas oprimidas com a ameaça de guerra nuclear, e a guerra em geral. A reação natural torna-se a não temer a guerra. Esta é a lição que aprendemos com o Vietnã. (aplausos) Eles dizem que seu problema é o desemprego. Bem, eu tenho um programa que pode empregado toda pessoa negra neste país durante a noite. (alvoroço... aplausos) Não há ninguém no Vietnã desempregado. Pense no que você precisa de um emprego! (aplausos)

Nós estamos falando de revolução, porque essa é a época que vocês estão, vocês estão dentro de uma era revolucionária. Veja, os negros estão respondendo a um poema que Langston Hughes escreveu há muito tempo - um poema que tinha a forma de uma pergunta que nunca foi respondida. O poema era "O que acontece com um sonho adiado?" Ele diz: "O que acontece com um sonho adiado? Será que se seca como uma uva passa no sol? Ou será que apodrece como uma ferida e depois se vai? Ou será que se cai como uma carga pesada? Ou será que ele explode?" Detroit respondeu isso. (aplausos) Veja, eles costumavam chamá-lo de Detroit, agora eles ...(áudio pulou). Mas os Estados Unidos está se movendo para combater isso. Ele está dizendo, neste verão, o que não podemos fraudar, nós vamos matar. É por isso que ele está construindo seus arsenais. Entenda isso! Isto é tudo o que a Guarda Nacional é. Isto é o que as novas armas são. Você vê, o programa de pobreza nos últimos cinco anos têm sido programas de 'suborno'. No Harlem, que tem sido uma das maiores vítimas do programa de pobreza, como você age é nada mais que um ato; isso é tudo o que é. Eles dão aos irmãos quarenta e cinco dólares por semana para ir à mão de obra... para vir para a aula para a formação de mão de obra. Que quarenta e cinco dólares por semana vão para as drogas; isso é apenas o suficiente para manter o irmão viciado. Isso é tudo - eles te pagam o suficiente para mantê-lo viciado. O programa de pobreza não foi projetado para eliminar a pobreza, ele não fala sobre o fim. Ele não fala sobre como a pobreza é incorporada nesta sociedade. Em vez disso, ele fala sobre os efeitos da pobreza, e não as causas. Os negros devem dirigir-se às causas da pobreza. Isso é a opressão no país.

Então, as pessoas negras em todo o país estão se unindo. Elas devem se unir, e elas devem se organizar. Todo mundo tem uma responsabilidade na comunidade: mulheres, homens, crianças - é tirá-los dos escoteiros, para um guarda negro. (aplausos) Vocês devem começar a assumir as suas instituições... suas escolas, porque é onde as mentes jovens estão. A última vez que estive aqui foi para o piquenique Watts. Veja, eu não acredito na Watts incendiada, para que possam fazer um piquenique a cada ano. Mas o que eles fizeram durante esse tempo foi que eles ... (áudio pulou) piqueniques em aviso fim de semana eles se reúnem até sete mil crianças e os levou para um campo militar. Isso é uma coisa perigosa. No próximo ano, eles dizem que esperam levar um milhão. E se eles tomarem um milhão e eles não voltarem? Quem vai combate-los, idiotas? (aplausos) Vocês devem se dirigir a estes problemas. Estes são os problemas que vivemos diariamente. Eles não querem seus antigos chefes rígidos; eles querem as mentes jovens. Você vê, os nossos pode ir ou morrer, mas para os pequenos irmãos, deve ter a razão para isso. (aplausos)

Então, agora, eu realmente terminarei e pra finalizar (ele diz em suaíli),  "Nós venceremos sem dúvida." Black Power! 



*Hubert Gerold Brown ou H. Rap Brown atuou como presidente da SNCC. Em 1967, ele foi acusado de incitar um motim em Cambridge, Maryland, onde ele declarou a centenas de afro-americanos: "É hora de Cambridge explodir. Os negros construíram a América, e se a América não for pra nós, nós iremos queimar toda a America."
Mais tarde, ele se juntou ao Partido dos Panteras Negras (ministro da justiça), procurou capacitar os afro-americanos a enfrentar e vencer as injustiças sociais.
Após o fim do Partido dos Panteras Negras, H. Rap Brown se converteu ao Islã, passou-se a se chamar Al-Amin, enquanto estava na prisão cumprindo cinco anos por um assalto que terminou em um tiroteio com a polícia de Nova YorK. Al-Amin mais tarde mudou-se para Atlanta, abriu uma mercearia e foi o líder espiritual de uma mesquita no bairro.
Hoje ele cumpre prisão perpetua, pois o júri o considerou culpado de todas as 13 acusações contra ele, supostos crimes cometidos em março 2000.

**NBC equipe de reportagem Chet Huntley e David Brinkley. 1956 o início do Huntley-Brinkley, um programa de notícias da noite 15 minutos - o primeiro de seu tipo. Expandiu-se para 30 minutos em 1963

Tradução Carlos R. Rocha

Confira ---> Stokely Carmichael - Discurso Free Huey Newton 1968 
http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/05/stokely-carmichael-discurso-free-huey.html

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Quando Eu Me Chamar Saudade (Documentário)

Documentário vencedor do EXPOCOM Sudeste 2014 na categoria "Produção Laboratorial de Videojornalismo e Telejornalismo".
No dia 1º de julho de 2012, dois jovens, ambos de 20 anos, foram mortos por policiais militares, na cidade de São Paulo. No boletim de ocorrência, os agentes de segurança pública enquadraram o caso como "resistência seguida de morte", alegando uma suposta troca de tiros durante a abordagem. Essa versão foi contestada pelo pai de uma das vítimas, que empreendeu, por conta própria, uma investigação que culminou na prisão dos PMs envolvidos na morte de seu filho.
Este documentário foi produzido originalmente como trabalho de conclusão do curso de jornalismo, pela Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM).
Lançamento: Dezembro de 2013.
Autores:
Renan Xavier - Lailson Nascimento - Daniel Santos

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Stokely Carmichael - Discurso Free Huey Newton 1968 p.1

Stokely Carmichael (Kwame Ture) - Discurso pela liberdade do aniversariante Huey P. Newton dos Panteras Negras - Oakland 17 de Fevereiro de 1968 - Parte 1 de 2


Tradução livre por Carlos R. Rocha - Fuca,  começa a fala após o 1º minuto.

Boa noite. Está ficando tarde, mas temos ainda muito o que falar essa noite, e temos de ser sérios. Antes de começar, eu queria apresentar duas pessoas, uma é o nossa diretora de comunicação, que veio de Atlanta para passar o aniversário com o irmão Huey Newton, senhorita Ethel Minor. Ethel, onde está você? (aplausos) 

A outra pessoa é um dos nossos jovens guerreiros, que estava envolvido no Roxbury Rebellion onde ele teve uma série de acusações. Ele está fora da cadeia. Ele acabou de voltar de uma viagem através das águas. Ele foi para os países revolucionários onde honkys (termo que usado para insultar caucasianos) não podem ir...Chico (Aplausos).

Agora, então, esta noite temos de falar sobre várias coisas. Estamos aqui para celebrar o aniversário do irmão Huey P. Newton. Nós não estamos aqui para celebrar como Huey Newton o indivíduo, mas como a parcela de negros existentes onde quer que estejamos no mundo. (aplausos) E assim, ao falar sobre o irmão Huey Newton, nós temos que falar sobre a luta do povo negro, não só nos Estados Unidos, mas no mundo de hoje, e como ele se torna parte (áudio pulou) ... como podemos seguir em frente, para que o nosso povo possa sobreviver na América. (aplausos)

Portanto, nós não estamos falando de política esta noite, nós não estamos falando sobre a economia esta noite; estamos falando sobre
a sobrevivência de uma raça de pessoas - isso é tudo o que está em jogo. Estamos falando sobre a sobrevivência dos negros, nada mais ... nada mais ... nada mais, e vocês têm que entender isso. 

Por que é necessário falarmos sobre a sobrevivência de nosso povo? Muitos de nós sentimos... muitos de nossa geração sentem que eles estão se preparando para cometer um genocídio contra nós. Muitas pessoas dizem que é uma coisa horrível de se dizer, mas se é uma coisa horrível de se dizer, então devemos fazer como irmão Malcolm disse: devemos examinar a história, o nascimento desta nação foi concebido sobre o genocídio do homem vermelho... genocídio do homem vermelho ... do homem vermelho. 

Para que este país existisse, o honky teve que exterminar completamente o homem vermelho, e ele fez isso! E ele fez isso! Ele fez isso! (Aplausos) E ele fez isso, e nem sequer teve pudor ou se sentiu culpado, e ainda ele romantiza isso, colocando na televisão cowboy e índios ... cowboy x índios.

Então, a pergunta que devemos nos fazer é, se ele (o branco) foi capaz de fazê-lo contra o homem vermelho, ele também poderá fazer contra nós? Vamos examinar a história um pouco mais. As pessoas dizem que é uma coisa horrível falar que os brancos realmente pensam em cometer genocídio contra o povo negro. Vamos verificar a nossa história. (áudio pulou) ... que construímos este país - ninguém mais. 

Eu vou explicar isso para você. Quando o país começou, era um país economicamente agrícola, a receita de dinheiro no mercado mundial era de algodão e nós que colhemos o algodão! (aplausos) Nós colhemos o algodão! Nós fizemos! Então nós que construímos este país. Nós que lutamos nas guerras do país. Este país está se tornando cada vez mais tecnológico, de modo que a necessidade das pessoas negras está rapidamente desaparecendo. Quando a necessidade das pessoas negras desaparecer ele irá conscientemente nos exterminar. Ele conscientemente nos exterminará. 

Vamos verificar a Segunda Guerra Mundial, ele não vai fazê-la ao seu próprio país, repare que ele deixou cair uma bomba atômica sobre algumas pessoas amarelas indefesas em Hiroshima, algumas pessoas amarelas indefesas em Hiroshima... em Hiroshima. Se você não acha que ele é capaz de cometer genocídio contra nós, confira o que ele está fazendo com os nossos irmãos no Vietnã! Confira o que ele está fazendo no Vietnã! (aplausos) 

Temos que entender que estamos falando sobre a nossa sobrevivência e nada mais, de como esta bela raça de pessoas vai sobreviver na terra ou não, é o que estamos falando - nada mais... nada mais. 

Se vocês não acreditam que ele é capaz de nos exterminar, analise a raça branca: onde quer que ela esteve ela dominou, conquistou, assassinou, e atormentou. Sendo a maioria ou a minoria, eles sempre dominaram! ... eles sempre dominaram!  Observem o modelo de como eles fazem isso. Eles vieram para este país, eles não sabiam a mínima coisa (áudio pulou) ... O Homem Vermelho mostrou-lhes como se adaptar a este país, mostrou-lhes o cultivo de milho, mostrou-lhes como caçar, e quando os índios mostraram tudo, ele acabou com os Índios! Exterminou. 

Ele não estava satisfeito, ele foi para a América do Sul, os índios astecas disseram: "Esta é a nossa prata, este é o nosso cobre, estes são os nossos metais, estas são as estátuas que construímos pela beleza do nosso povo." Depois que os índios mostraram a ele, ele pegou e os exterminou! Ele foi para a África, nossos ancestrais disseram, "este é nosso modo de vida, tocamos tambores, nós gostamos de nós mesmos, temos ouro, fazemos diamantes e outras coisas para nossas mulheres." Ele levou o ouro, ele nos fez escravos, e hoje ele domina a África! África! (Aplausos) 

Ele foi para a Ásia, os chineses mostraram tudo o que tinham, mostraram a pólvora: "Nós usamos isso para fogos de artifício em nossos aniversários, em nossos dias de festividades." ele pegou e transformou numa arma, e então conquistou a China.

Estamos falando de um certo tipo de complexo de superioridade que existe no homem branco onde quer que ele esteja. E isso é o que temos que entender hoje, para que tudo saia pela janela, e falarmos de sobrevivência. Isto é tudo. Podem cortar todo esse lixo sobre o programa de pobreza, educação, habitação, assistência social... estamos falando sobre a sobrevivência, e, irmãos e irmãs, vamos sobreviver à América! Nós vamos sobreviver a América! (aplausos).

Agora, então, temos que entender o que está acontecendo, não só neste país, mas no mundo, especialmente na África. Porque somos um povo africano, nada mais. Nós sempre fomos um povo africano, sempre mantivemos os nossos próprios valores, e eu vou provar isso para vocês. Por mais que ele tenha tentado, o nosso povo resistiu por 413 anos nessa selva, e resistiu para esta geração realizar o que precisa ser feito. Não podemos decepcionar nossos ancestrais (aplausos)... Não podemos decepcionar os nossos antepassados...não podemos falhar com nossos antepassados. 

Resistimos em vários sentidos, veja o idioma inglês, há "gatos" que vêm aqui da Itália, da Alemanha, da Polônia, da França e em duas gerações eles falam inglês perfeitamente. Nós nunca falamos Inglês corretamente! (aplausos) Nunca falamos Inglês corretamente. Nunca! Nunca! Nunca! E isso é porque nosso povo resistiu conscientemente a uma linguagem que não pertence a nós - nunca pertenceu, nunca será. De qualquer forma eles tentam impor goela abaixo, não aceitaremos! Não aceitaremos. Vocês devem entender isso como um nível de resistência. Qualquer um pode falar essa linguagem simples do honky corretamente. Qualquer um pode fazê-lo. Nós não fizemos isso porque temos resistido... resistido.

Confira o nosso modo de vida. Não importa o quanto ele tenha tentado, ainda mantemos uma forma comum de vida em nossas comunidades. Não enviamos idosos para lares de idosos; isso é lixo! (aplausos) Isso é lixo! Nós não chamamos nossas crianças de ilegítimas em nossa comunidade, nós cuidamos de qualquer criança em nossa comunidade...(aplausos) qualquer criança em nossa comunidade. 

É um nível de resistência que temos de começar a olhar para o nosso povo. Analise esse segmento para fazer o que tem que ser feito para que o nosso povo sobreviva. Três coisas: Primeiro e mais importante, ele tem sido capaz de fazer com que odiamos uns aos outros. Ele transpassou o ódio e o amor de um para o outro, por um amor ao seu país... seu país. 

Temos que desenvolver o número um, e isso é a coisa mais importante que podemos fazer como um povo. É preciso primeiro desenvolver um amor eterno para o nosso povo... pro nosso povo. (aplausos)... nosso povo... o nosso povo. Devemos desenvolver o amor eterno como é personificado no irmão Huey P. Newton. Amor eterno para o nosso povo... amor eterno. Se não fizermos isso, vamos ser exterminados. Devemos desenvolver o amor eterno para o nosso povo. Nosso slogan será: "Primeiro o nosso povo, então, e só então eu e você como indivíduos." Nosso povo em primeiro lugar... o nosso povo em primeiro lugar. (aplausos) 

Depois disso vem em segundo lugar, a palavra de ordem: Todo Negro (Negro) é um potencial homem negro (Black man), não afastaremos deles!... (aplausos)... não afastaremos!

Entenda o conceito de "Negro" e o conceito de "Black Man". Nós viemos para este país como "Black Man" e como africanos. Levou 400 anos para tornar-nos "Negros", entenda isso. Isso significa que o conceito de um homem negro ("Black Man") é aquele que reconhece sua cultura, sua história e as raízes de seus grandes ancestrais, que eram os maiores guerreiros na face da Terra. Africanos! (aplausos) africanos! Africanos! Muitos dos nossos tiveram a mente embranquecida, se um negro vem até você e você vira as costas para ele, ele vai correr para o honky. Temos que ter tempo e paciência com o nosso povo, porque eles são nossos! ... Eles são nossos! Com todos os *Uncle Tom iremos sentar e conversar. Quando eles baterem, vamos curvar. Quando eles derem tapas vamos curvar. E vamos tentar trazê-los para casa. E se eles não vierem pra casa, vamos (áudio pulou) isso é tudo... isso é tudo... isso é tudo. (aplausos)

Temos que saber quem é o nosso maior inimigo. O grande inimigo não é o seu irmão, carne de sua carne e sangue do seu sangue. O principal inimigo é o honky e suas instituições racistas. Esse é o grande inimigo! Esse é o maior inimigo! E sempre que alguém se prepara para a guerra revolucionária, se concentra no principal inimigo. Nós não somos fortes o suficiente para lutar entre nós e também lutar contra ele. Não lutaremos entre nós hoje! Não vamos lutar uns contra os outros. Não haverá lutas na comunidade negra entre os negros, não haverá brigas, não haverá interrupções. Estaremos unidos! (aplausos)

Em terceiro lugar, e mais importante, devemos entender que para os negros, a questão da comunidade não é uma questão de geografia, é uma questão de cor. É uma questão de cor, mesmo se você mora em Watts, se você vive em Harlem, Southside Chicago, Detroit, West Filadélfia, Geórgia, Mississippi, Alabama. Onde quer que vá, em primeiro lugar o seu povo - e não o território, o seu povo. Para nós a questão da comunidade é uma questão de cor e nosso povo, e não a geografia! Não o território! Não a geografia! Com isso quebramos o conceito de que as pessoas negras que vivem nos Estados Unidos são os negros americanos. Isso não faz sentido! Temos irmãos na África, temos irmãos em Cuba., temos irmãos no Brasil, temos irmãos da América Latina, temos irmãos em todo o mundo! Em todo o mundo! Em todo o mundo! E uma vez que começamos a entender que o conceito de comunidade é simplesmente um, o nosso povo, não faz diferença onde estamos. Estamos com o nosso povo e, portanto, estamos em casa... (aplausos)... portanto, estamos em casa.

Agora, então, ao falar de sobrevivência, é necessário entender as articulações dos inimigos. Os Estados Unidos trabalham sobre o que chamam de **Três m: Os missionários, o dinheiro, e os fuzileiros navais. Essa é precisamente a forma como ele se articulou em todo o mundo. É a maneira como ele se move contra nós. Eles enviaram os missionários; nós mandamos embora. Eles enviaram o dinheiro com o programa de pobreza, os vietnamitas e os coreanos estão retirando. A próxima coisa que vem são os fuzileiros navais. E se estamos falando sério, temos que estar preparados. Agora, se alguns negros não acham que o homem branco vai nos eliminar completamente, então não terá nenhum dano estarmos preparados caso ele decida fazer... apenas no caso de ele decidir fazer. Então, não haverá mal algum em estarmos preparados para os fuzileiros navais. Agora há um monte de táticas que podemos aprender. A VC (Viet Cong) está nos mostrando a melhor maneira de se articular... melhor maneira de fazer. 

E não tenha medo de dizer isso, diga a eles: "Sim, você quer que o vietnamita os derrote, porque eles erraram no salto." Não chegue até lá e jogue com eles, você nunca viu na TV: "Bem, na verdade, estávamos errados ao ir pro Vietnã, mas não podemos sair, a menos que salvemos nossa face." Para salvar a face do honky, milhões de vietnamitas teve que morrer. Isso é um monte de lixo. Se você está errado, assuma que está errado e saia! (aplausos) Saia! Saia! Saia!

Temos que, em seguida, ir para os programas que são colocados goela abaixo e ver como eles se relacionam com a gente. O primeiro deles é o voto . Eles têm uma coisa nova agora: "Black Power é o voto." A votação no país é, foi, e sempre será irrelevante para a vida das pessoas negras! Isso é um fato. Nós sobrevivemos no Mississippi, Alabama, Georgia, Louisiana, Texas, South Carolinia, Norte Carolinia, Virgínia e Washington, DC, sem o voto... sem o voto. (aplausos) os últimos dois anos, quando Julian Bond foi eleito pelo povo negro na Geórgia, eles o levaram para o mar. Não houve representação; os negros na Geórgia estão sobrevivendo até hoje.

Eles tiraram Adam Clayton Powell pra fora do escritório por um ano e meio, os negros do Harlem ainda estão sobrevivendo. Isso deve nos ensinar que o voto não é nada além de um truque do honky... nada além de um truque do honky. Se falamos sobre a votação de hoje, falamos sobre isso como uma coisa: uma ferramenta de organização para reunir o nosso povo... nada mais!... (aplausos)... nada mais ... nada mais. Torna-se um veículo para a organização; ele não pode ser outra coisa. Para acreditar que o voto vai salvar é acreditar no caminho que o irmão Adam Clayton Powell fez. Ele está em Bimini agora. Isso é o que nós temos que entender.

A segunda coisa que nos colocam goela abaixo é este programa de pobreza, você tem que entender o programa da pobreza, ele é projetado para, número um: dividir a comunidade negra, e número dois: dividir a família negra. Não há nenhuma dúvida sobre isso, dividir a comunidade negra. As pessoas que começaram a brigar por migalhas, porque é tudo que o programa de pobreza é, migalhas. Se você deixar as migalhas e passar a organizar, poderíamos tomar o pão inteiro, porque ele pertence a nós... nos pertence (aplausos).

Mas o que acontece é que o programa pobreza envia algumas centenas de milhares de dólares para a comunidade e grupos se organizam para lutar por esse dinheiro; assim, automaticamente você tem divisões na comunidade. Watts é o maior exemplo que temos hoje, foi o primeiro a obter o programa de pobreza após a rebelião, e hoje é a comunidade negra mais dividida no país. 

A segunda coisa que temos de reconhecer é o que esse programa de pobreza faz. Em qualquer raça, a juventude é instintivamente mais revolucionária, porque a juventude está sempre disposta a lutar, e o programa de pobreza é voltado propriamente à nossa juventude, para impedi-la de lutar. Isso é tudo que o programa de pobreza faz: é para parar as rebeliões e não para cuidar de pessoas negras - parar as rebeliões. Como é que você se sente sendo um pai e tem um filho para sustentar em casa com noventa dólares por semana, mas você está ainda desempregado. O que o programa de pobreza está fazendo pelos nossos pais? Se eles estavam preocupados com a comunidade negra, se eles acreditavam que o lixo que corre sobre a família negra, eles dariam empregos para os nossos pais, os chefes de família, para termos um pouco de respeito por eles... (aplausos) ... poderíamos ter um pouco de respeito por eles. 

Mas é precisamente porque o programa pobreza visa sufocar a nossa juventude, que eles fazem isso. E todas as pessoas que administram o programa de pobreza não vão colocar suas crianças nesses programas, que deveriam ser bom para nós.

Passemos á educação, e temos que falar claramente sobre este conceito de educação. Frantz Fanon disse muito claramente: "A educação é nada mais que o re-estabelecimento e o reforço dos valores e instituições de uma determinada sociedade." o que o irmão disse é que, tudo o que esta sociedade achar que é certo, na escola eles vão dizer que é certo, e você tem que executá-lo. Se você executar bem, você recebe um "A". Se eu digo que Colombo descobriu a América em 1492 e eu sou seu professor, você diz: "Não, Colombo não descobriu a América em 1492, existiam Índios aqui", eu digo que você foi reprovado no curso.

Portanto, a educação não significa o que eles dizem que isso significa. Temos de usar a educação para o nosso povo e para entender nossas comunidades. Em nossas comunidades há viciados em narcóticos; há cafetões; há prostitutas; existem traficantes; há professores; há empregadas domésticas; há porteiros; há pregadores; há gangsters. Se eu for para a escola, eu quero aprender a ser uma boa empregada, um bom porteiro, uma boa prostituta, um bom cafetão, um bom pregador, um bom professor, ou um bom porteiro. E a educação deve preparar para viver em comunidade, se o sistema educativo não pode fazer isso, ele deve ensinar-nos a mudar a nossa comunidade ...e a como mudar a nossa comunidade (aplausos). 

É preciso fazer um ou o outro, as escolas que enviamos nossos filhos para fazer um ou o outro, eles não fazem nem um nem outro; eles fazem algo absolutamente oposto. E quando os nossos jovens que são mais inteligentes do que todos aqueles honkeys na lousa, abandonam a escola por que eles percebem que não vai ajudá-los, então voltamos contra eles e gritamos com eles, dividindo nossa comunidade novamente ... dividindo nossa comunidade novamente.

Devemos entender que a menos que controlemos o sistema de ensino, onde ele começa a nos ensinar a mudar a nossa comunidade, onde vivemos como seres humanos, não há necessidade de mandar ninguém para a escola - é apenas um fato natural. Não temos outra alternativa a não ser lutar, quer gostemos ou não, em todos os níveis neste país, as pessoas negras tem que lutar! Tem que lutar! (aplausos) Temos que lutar!

Temos em nossa comunidade negra, as massas e a burguesia. Isso é sobre o nível de colapso. Temos de trazê-los para casa. Temos de trazê-los para casa, por muitas razões. Temos de trazê-los porque eles têm as habilidades técnicas que devem ser colocadas para o benefício de seu povo, não para o benefício do país, que é contra o seu povo. Temos de trazê-los para casa. (aplausos) Uma das maneiras de trazer o nosso povo para casa é usando de paciência, amor, fraternidade e unidade, não a força... não a força. Amor, paciência, fraternidade e união. Nós tentaremos e tentaremos e tentaremos, quando eles tornarem um deleite, então deixaremos. (aplausos) 

Mas é preciso começar a entender o conceito de formar dentro de nossa comunidade uma frente unida ... uma frente negra unida, que envolva todos os setores, todas as facetas e que cada pessoa dentro da nossa comunidade trabalhe para o benefício do povo negro... (aplausos)... trabalhar para o benefício do povo negro. E isso é para a sobrevivência de cada um.

Um monte de gente na burguesia me diz que eles não gostam de Rap Brown, quando ele diz: "Eu vou queimar o país." Mas cada vez Rap Brown diz: "Eu vou queimar o país" Eles recebem um programa de pobreza... eles pegam o programa de pobreza. Muitas pessoas me dizem: "Nós não gostamos dos Panteras Negras pela Auto-Defesa andando com armas." Eu digo a você agora, se os honkys em San Francisco tirar os lutadores que representam os Panteras Negras pela Auto-Defesa - não há nenhum corpo nesta comunidade preparado para lutar agora - estaríamos mortos. Temos que ter todos para a nossa sobrevivência! Desde os revolucionários até os conservadores, um frente única negra é o que estamos prestes a fazer. (aplausos)

Agora, algumas pessoas podem não entender o irmão Rap quando ele fala sobre com quem nos aliamos. Ele disse que temos que nos aliar com os mexicanos-americanos, os porto-riquenhos, e os despossuídos da terra; ele não mencionou brancos pobres. 

Nós temos que entender isso, não vou negar que os brancos pobres neste país são oprimidos, mas existem dois tipos de opressão: uma é a exploração, a outra é a colonização. E nós temos que entender a diferença entre os duas. (aplausos) Exploração é quando se explora alguém de sua própria raça; colonização é quando se explora alguém de uma raça diferente. Nós somos colonizados, e eles são explorados...(aplausos)... eles são explorados.

Agora vamos explicar como o processo de exploração e colonização funciona. Se eu sou negro e estou explorando outros que também são negros - temos os mesmos valores, a mesma cultura, a mesma língua, a mesma sociedade, as mesmas instituições, de modo que não há necessidade de destruir as instituições. 

Mas se você é de outra raça - se você tem uma cultura diferente, língua diferente, valores diferentes, eu tenho que destruir todos aqueles que fazem você se curva contra mim. E essa é a diferença entre negros e brancos pobres, os brancos pobres têm sua cultura, têm seus valores, têm as suas instituições; os nossos foram completamente destruídos ... completamente destruído (aplausos)... completamente destruído. 

Então, quando você fala sobre (áudio pulou) alianças, tentando reconstruir sua cultura, tentando reconstruir sua história, tentando reconstruir sua dignidade, pessoas que estão lutando por sua humanidade. As pessoas brancas pobres não estão lutando por sua humanidade, eles estão lutando por mais dinheiro. Há um grande número de povos brancos pobres neste país, você não viu nenhum deles rebeldes ainda, não é? Por que é que os negros estão se rebelando? Você acha que tudo isso é só por causa dos empregos miseráveis? Não acreditem no que o lixo do honky diz, não é só por causa dos subempregos, é uma questão de um povo encontrar a sua cultura, a sua natureza, e de lutar por sua humanidade!... por sua humanidade! (aplausos)... por sua humanidade!...

Temos sido tão colonizados, que temos vergonha de dizer que os odiamos, e esse é o melhor exemplo de uma pessoa que está colonizada. Você está sentado em sua casa, um honky caminha em sua casa, te agride, estupra sua mulher, espancar seu filho, e você não tem a humanidade para dizer: "Eu te odeio!" Você não tem isso. Isso mostra o quão desumanizados nós somos. Estamos tão desumanizados que não podemos dizer: "Sim! Nós odiamos você por aquilo que você tem feito com nós!" Não posso dizer isso. Não posso dizer isso. E temos medo de pensar para além desse ponto.

Quem você acha que tem mais ódio dentro de si, os brancos para os negros, ou pessoas negras para pessoas brancas? Os brancos para negros, obviamente, o ódio tem sido bem maior. O que nós fizemos para eles para que eles construíssem esse ódio? Absolutamente nada. No entanto, nós nem sequer queremos ter a chance de odiá-los pelo o que eles fizeram contra nós, e se o ódio deve ser justificado TEMOS a melhor justificativa do mundo para odiar o HONKYS! Nós temos isso! (aplausos) Nós temos isso! Nós temos isso!

Nós fomos tão desumanizados, somos como um cão que o mestre pode chutar, que o mestre pode por pra fora de casa, que o mestre pode cuspir, e sempre que ele chama, o cão vem correndo de volta. 

Nós somos seres humanos e temos emoções. Estamos lutando pela nossa humanidade! Estamos lutando por nossa humanidade! E ao recuperar nossa humanidade, reconhecemos todas as emoções que temos em nós. Se você tem amor, você tem que ter ódio. Você não tem emoções só de um lado, você sempre tem dois lados: quentes, frios, branco, preto... tudo o que acontece... o amor, o ódio. Porque se você não tem ódio, você não pode diferenciar o amor. Você não pode diferencia-lo! Não pode.

Agora, então, isso nos leva ao ponto sobre comunismo e socialismo. Vamos ao ponto, de uma vez por todas. O comunismo não é uma ideologia adequada para pessoas negras. (aplausos) O socialismo não é uma ideologia voltada para as pessoas negras!(aplausos) Eu vou dizer o porquê e deve tornar-se claro em nossas mentes. Agora não digo isso porque os honkys nos chamam de comunistas; não importa o que eles nos chamam, não faz diferença.

As ideologias do comunismo e socialismo falam da estrutura de classes, falam das pessoas que oprimem o povo. Não estamos apenas enfrentando exploração, estamos diante de algo muito mais além. Estamos diante do racismo, porque somos as vítimas de racismo. O comunismo nem o socialismo falam sobre o problema do racismo, e o racismo para os negros deste país é muito mais importante do que a exploração, porque não importa quanto dinheiro você tem quando se vai para o mundo branco, você ainda é um negro... (aplausos) você ainda é um nigger... você ainda é um nigger. De modo que, para nós, a questão do racismo se torna mais prioritária em nossas mentes. Torna-se em primeiro lugar em nossas mentes. 

Como é que vamos destruir as instituições que procuram manter-nos desumanizados. Isso é tudo o que estamos falando, a questão da exploração vem em segundo lugar. Agora para os brancos que são comunistas, a questão dos comunistas vem em primeiro, porque eles são explorados por outras pessoas brancas. Se fossemos explorados por outras pessoas negras, então se tornaria uma questão de como dividir os lucros. Não é o nosso caso, é uma questão de como podemos recuperar a nossa humanidade e começar a viver como gente. E não fazemos por causa dos efeitos do racismo no país. 

Temos que, portanto, conscientemente galgar uma ideologia que lida com o racismo em primeiro lugar. E se fizermos isso, reconhecemos a necessidade de se juntar com os 900 milhões de pessoas negras no mundo de hoje. (aplausos)

Isso é o que nós reconhecemos, então isso significa que a nossa situação política deve se tornar internacional; ela não pode ser nacional. Não pode ser nacional. (aplausos) Deve ser internacional Deve ser internacional porque sabemos que os honkys simplesmente não exploram somente a nós, eles exploram todo o Terceiro Mundo: Ásia, África, América Latina. Eles se aproveitam da Europa, mas eles não colonizam a Europa, eles colonizam a Ásia, a África e a América Latina. Eles estão indo para o conflito no Oriente Médio, devemos declarar de que lado nós estamos! E não estaremos em nenhum outro senão com os árabes. (aplausos)

Não pode haver nenhuma dúvida em nossa mente! Sem dúvida em nossa mente! Sem dúvida, porque Israel pertencia aos árabes em 1917 os britânicos deu a um grupo de sionistas que foram para Israel, tiraram os árabes palestinos com grupos terroristas, e organizou o Estado, e não chegaram a lugar nenhum até que Hitler veio e eles (áudio pulou) o Estado em 1948. Esse país pertence aos palestinos. Não é só isso: eles estão se movendo para assumir o Egito. O Egito é a nossa Pátria - é na África! (aplausos) Africa! 

Nós não entendemos o conceito de amor. Aqui é um grupo de sionistas que querem entrar em qualquer lugar para organizar amor e sentimento para um lugar chamado Israel, que foi criado em 1948, onde a juventude está disposta a ir e lutar por Israel. Egito pertence a nós. Quatro mil anos atrás, e estamos aqui apoiando os sionistas? Temos que apoiar os árabes! Isso significa que nós também apoiaremos o resto do Terceiro Mundo e entender exatamente o que está acontecendo.
*Uncle Tom - Refere-se uma pessoa que fará de tudo para satisfazer os brancos, inclusive trair seus companheiros.
** Três M: Missionaries, Money, Marines (Os missionários, o dinheiro, e os fuzileiros navais)

PARTE 2:

Stokely Carmichael - Discurso Free Huey Newton 1968 (2/2)

http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/07/stokely-carmichael-discurso-free-huey.html
Tradução livre.