quarta-feira, 31 de outubro de 2018

As Ideias de Gramsci para pensar no hoje– Breve nota

As Ideias de Gramsci de James Joll– Breve nota 

Esta nota/texto tem como objetivo traçar minimamente um paralelo entre o livro "As Ideias de Gramsci" e o momento atual, no qual se tem um crescimento mais explicito de ideais fascistas, embora se saiba que o fascismo nunca esteve morto, no máximo adormecido. Sendo assim, algumas ideias e parte da trajetória de Antonio Gramsci podem trazer algumas reflexões acerca do caminho a ser percorrido, além de entender melhor a atualidade e o que pode acontecer no futuro. (Em meio a escuridão do Bolsonaro eleito presidente) 

Que momento é esse, afinal? Basicamente, a tão falada cultura do ódio tem sido alastrada, principalmente pelas redes sociais da internet. Uma síndrome do medo põe em pauta medidas desastrosas e superficiais no que tange à segurança pública, orientada por mídias policialescas e do crescente militarismo e autoritarismo como saída plausível. O crescimento “silencioso” das doutrinas religiosas neo pentecostais que trabalharam na questão de adaptar seus ideais na linguagem do povo. O momento de polarização política exacerbada, como se fosse uma continuação da guerra fria, no Brasil o antipetismo se iguala ao anticomunismo. A descrença na política e nos políticos. Acrescenta-se um barulho de uma parcela da juventude atraída pelo liberalismo econômico e o conservadorismo nos costumes. Com tudo isso, a intenção declarada de eliminar (por diversas formas) quem discorde dessas ideias, de atacar as ditas minorias e silenciá-las está presente, novidade? 

Gramsci viveu 46 anos, de 1891 a 1937. Nisso, foi estudante por 10 anos se tornando um jornalista político, por 5 anos viveu como liderança do Partido Comunista da Itália no mesmo tempo do aumento organizacional do movimento fascista de Mussolini, que ao consolidar o regime fascista, prendeu Gramsci por 10 anos entre cadeias e clinicas. Gramsci morreu devido à debilidade de sua saúde, condição agravada na prisão. 

O livro sobre "As Ideias de Gramsci" escrito por James Joll, professor de história das universidades de Oxford e Londres, é dividido em 9 capítulos separados em 2 partes. A primeira parte traz a origem, seus primeiros movimentos como estudante, nos conselhos de fábricas, no partido comunista e o percurso de suas ideias como militante e jornalista até sua prisão. A segunda parte abarca o florescimento e a cristalização de suas contribuições intelectuais - definições, conceitos, ideias - para o pensamento marxista do século XX. Perpassa, então, por todo o desenvolvimento e critica acerca do materialismo histórico e a dialética. Mas o objetivo deste texto é se deter de apenas alguns pontos. 

O primeiro ponto a se falar vem da característica de sua vida, onde pensamento e ação foram inseparáveis. Portanto, o agir individual não se dissocia do social, assim como as aspirações devem ser criadas e cristalizadas através da ação e do pensamento entre sociedade e ser humano, e vice-versa. Outro ponto é na verdade a distinção que Gramsci faz entre movimentos orgânicos e movimentos conjunturais, ou seja, de tendência a projeções de longo prazo na sociedade e de movimentos ocasionais/imediatos, respectivamente. Por fim, um ponto que remete as formas de dominação. O conceito de hegemonia de Gramsci sintetiza isso na lógica da luta de classes, onde uma classe política consegue persuadir as demais classes sociais a aceitar seus valores culturais, morais e políticos. Se essa classe dominante é bem sucedida nessas questões, menos força precisará usar para manter o domínio. Atrelado a isso vem a ideia de “bloco histórico” no qual as forças materiais são o conteúdo e as ideologias são a forma, as estruturas e superestruturas formam o bloco histórico. 

As grandes transformações ou ditas revoluções são preparadas pela critica e pela criação de uma nova atmosfera cultural que é precedida de forma ampla pela educação. Não é a toa que ainda no contexto brasileiro a educação pode ser a via mais viável de alicerce critico para as futuras gerações e algo ainda palpável nesta sociedade. Com essa preparação educacional para a revolução, implicaria numa profunda mudança de consciência das massas, que então passaria de meros receptores de medidas governamentais para tomar parte ativa dessas medidas. Simplificando toda essa ideia, a partir do primeiro ponto apresentado, culmina que o ato de pensar, a intelectualidade, as rodas de conversa e de formação, não devem estar distantes das praticas inerentes ao cotidiano do povo. Em outras palavras, as relações e reações entre teoria e prática, entre forças materiais e ideologia devem estar inteiradas e conectadas entre si visando convergir estrutura (relações sociais de produção) e superestrutura (ideias, costumes, comportamentos morais), dispensando todo o mecanicismo nestas relações. Assim, através desse pensamento se sustenta uma grande dica que vai fornecer uma solução para o problema de como os movimentos sociais devem atuar num sistema político e econômico não favorável, ou pelo contexto de Gramsci, sistema não comunista. Ainda como estratégia deve-se pretender “atrair e conservar o apoio das massas, deve propor-lhes um programa político que objetive obter benefícios concretos imediatos para seus adeptos paralelamente à perspectiva eventual de uma nova sociedade, e deve mostrar-se capaz de vincular as atividades cotidianas do ‘partido’ com a esperança de vitória revolucionária final” (p.10) 

Desta maneira, fica mais evidente a distinção entre movimento orgânico e movimento conjuntural. Uma luta não deve ser estruturada somente através das causas/ pautas bombas, ou melhor, no constante e unicamente apagamento de incêndios por partes das organizações, que de certa forma, esse tipo de ação é necessária, mas que não deixa legado de continuidade ou de uma organização concreta. Por ora, um movimento apenas conjuntural pode confundir ainda mais o povo, sem realmente aproximar a um cenário revolucionário ou de uma atmosfera cultural transformadora. 

Da confusão vem o desespero e a descrença, onde se perder num emaranhado de problemas é regra, desviando portanto do projeto de construção de uma vida social mais igualitária, e se esquecendo de atacar todo e qualquer tipo de disparidade na distribuição dos meios de produção, dos meios de comunicação, das terras, da distribuição rendas ou de tudo que permeia a sociabilidade em si. 

Se uma classe social para vencer precisa, muitas vezes, já ter estabelecido sua liderança intelectual e moral mesmo antes de chegar ao poder, então é fato que o papel dos intelectuais e pensadores é crucial nesse processo de reforma de consciência. Mas "o erro dos intelectuais consiste em acreditar possível conhecer sem compreender e especialmente sem sentimento e paixão (...) que o intelectual pode ser um intelectual (...) se for diferente e distante do povo-nação, sem sentir as paixões elementares do povo, sem compreendê-las, explicá-las e justificá-las numa determinada situação histórica, vinculando-se dialeticamente às leis da História, a uma concepção superior de mundo (...) A história e a politica não podem ser feitas sem paixão, sem esse elo emocional entre os intelectuais e o povo nação(...)" 
"(...) Se a relação entre os intelectuais e o povo-nação, entre dirigentes e dirigidos, é o resultado de uma participação orgânica na qual sentimentos e paixão se tornam em compreensão, logo em conhecimento (...) Somente então ocorre uma troca de elementos individuais entre lideres e liderados, governantes e governados, isto é, a concretização de uma vida em comum que por si mesma é uma força social, somente então está criado o "bloco histórico"." (P.78) 

Para concluir essa nota, se faz necessário enfatizar que a relação de hegemonia é praticamente uma relação pedagógica porque a hegemonia é uma "doutrina que explica parcialmente como determinado sistema social e econômico se sustenta e mantém sua base de apoio. Como somente ocorreu com alguns marxistas, Gramsci compreendeu que o domínio de uma classe sobre outra não depende apenas do poder econômico ou da força física, mas principalmente de persuadir a classe dominada e compartilhar dos valores sociais, culturais e morais da dominante.”.


Fuca, Insurreição CGPP

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Clipe: Pesadelo do Sistema - Marcos Favela + Insurreição CGPP



Fuca – letra:

Pesadelo do Sistema caneta pesada não vou abandonar
Fuca Insurreição , chega mais Marcos Favela
Sem trégua nos trampo de base, debate, na formação
Comendo pelas beiradas em outra geração: Revolução
Então, vamos lá, mãos a obra no RAP
Descolonizando os versos que outrora me libertou
Os livros como escudo, as palavras de Malcolm (hou)
A luta consciente é por isso que aqui estou
Passando minha mensagem, exemplo e atitude
Viver após a morte a minha pretitude
Respeito aos que lutaram antes
Meus ancestrais tão orgulhosos e nunca estão distantes
Até poderia romantizar minha obra,
mas o alvo principal das balas é pele preta
Ser indireto pra gerar as massas de manobra
Governo genocida, da esquerda à direita!
Derrubar quem tá no poder
O Favela deu a letra: Morte ao Estado
Nenhum partido pra nos foder
Se é anticapitalismo, estamos lado a lado
Pra politizar os brutais acontecidos
Tudo que nos assola feito uma praga
Seja Amarildo ou Davi desaparecidos
Ou as prisões injustas de Rafael Braga
Vejo o trabalhador sempre precarizado
o acumulo absurdo nos paraísos fiscais
Mas eis que surge um povo politizado
Por outro lado, distante o caminho da paz!

Marcos Favela – letra:

Já não posso mais sair nas ruas
Sem tropeçar em viatura
Já não posso mais andar tranquilo
Posso até levar um tiro
Eles vêm na sede pra matar
Se não matar, eles vão querer prender
Eles vêm na sede pra forjar
Kit flagrante só pra nos foder
Eles vêm na caça de quem tá na quebra
na boa, naquela com manos, família que não deixa goela
o baguiu tá foda, esses vermes ramela
Arrasta o role e tira nossa paz
Faz a mãe sofrer mais um filho aqui jaz
O mais foda é que esses vermes
Tem aval do próprio Estado
Falta pouco pra esse RAP
De terrorista ser taxado
A lei protege os machistas,
os fascistas e os racistas
Falta pouco pros nazistas,
também estarem nessa lista
Eu sei que de forma indireta a lei já protege
Esses verme na terra, por isso é regra é tiro na testa
Vai! Vai!
Justiça, esse é nosso lema
Nos tornamos pesadelo do sistema!!!

domingo, 7 de outubro de 2018

Insurreição CGPP (Álbum 2018)

Formado na periferia de São Paulo, o Insurreição CGPP, traz de forma rimada um cotidiano de luta contra as opressões que ainda insistem em existir. Após quatro de anos gravando de forma independente e intermitente, o grupo disponibiliza, enfim, seu primeiro álbum. Que representa a revolta contra as desigualdades sociais, econômicas e raciais que pairam o nosso cotidiano. Os estúdios das quebradas permitiram que esta etapa fosse alcançada. Confiram!


Contando com faixas gravadas entre 2014 e 2018, de forma autônoma, independente e radical, fica disponibilizado um conjunto de ideias rimadas que representa um pouco do desdobramento do cotidiano de luta. Batalha travada nos quatro cantos da cidade e região metropolitana de São Paulo, onde a ilusão do pequeno progresso imaginário do acesso ao consumo material não brecou o cotidiano violento e a falta de estrutura. Pelo contrario, o projeto da supremacia branca da camada mais rica e suas diversas elites visa nossa destruição nessa nação ingrata chamada Brasil. Se muitas vezes é tratado o eixo sp/rj sabe-se que o restante do país sangra da mesma maneira conforme as pautas que travamos. Quando não nos matamos, o Estado mostra que detêm o poder letal. Então os insurretos gritam e clamam levante!

A arte pela arte é surda é muda, risada pela risada é alienação é comodismo. Entre os erros e acertos fica a autenticidade desse trampo. A indignação, a revolta, a denúncia.

Fuca - Insurreição CGPP


contato: email- spqvcnaove@gmail.com