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quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Considerações ao Livro de Malcolm X - O Fim da Supremacia Branca no Mundo

Comunidade com unidade 

O nosso principal inimigo ainda se faz tão presente em nossas vidas que fica até difícil não falar da importância de nos debruçarmos sobre história do povo preto, ou seja, na trajetória de guerreiras e guerreiros pretos ao longo do curso da humanidade. O que falaram, como lutaram, o que estudaram, como agiram, quais foram os tropeços e os legados, e em quais circunstâncias puderam demonstrar seu grande amor aos povos africanos, seja no continente ou na diáspora. É com o estudo da história que sabemos que as primeiras civilizações do mundo foram erigidas por pessoas Pretas, incluindo a noção de escrita, da medicina, da arquitetura, da religião, artes, ciências, etc. Também nessa mesma linha de estudo, podemos esmiuçar como a supremacia branca conseguiu reverter tudo isso em questão de poucos milênios e mais incisivamente depois do século XVI - modernidade, que levanta a ideia de desenvolvimento capitalista, industrialização, expansão e hegemonia cultural da Europa. 

Por que o inimigo se faz presente? A supremacia branca permanece com seu projeto de dominação muito bem estruturado e consolidado, processo que utilizou e utiliza atos violentos, extrema violência física por centenas de anos contra os povos africanos e não brancos. E para ser mais direto: Invasão, Colonização e Escravidão! Isso reflete talvez na maior destruição já vista neste planeta, brutalidade que gerou riqueza para os brancos e o inferno para os pretos. Culminando no maior assalto já presenciado na face da terra, pois os supremacistas brancos dispuseram de armamento pesado. Se fosse para eu descrever todos seus métodos utilizados eu me depararia com uma lista infindável de atos de terror. Que não é o caso, pois Malcolm X, por exemplo, fez isso muito bem neste livro e de forma sincera, verdadeira e radical. O que vale aqui é pontuar algumas reflexões desses quatro discursos do irmão X, que sintetizam seu pensamento no ano derradeiro de seu vinculo de liderança na Nação do Islã, em 1963. 

Agora, por mais que tenha sido combatido, o inimigo ainda se faz presente porque ele agiu em diversas frentes, se falamos a pouco de arma de destruição física, vale enfatizar da mesma maneira a arma de desmantelamento cultural. A arma cultural quando tem suas munições bem disparadas ela resguarda uma dominância de longa duração, pois age direto na mentalidade, nos costumes, nas religiões, nas relações sociais, linguísticas, no núcleo familiar, etc. Ocasionando, entre outras coisas, o encarceramento mental e o desvio espiritual. Ao estudarmos história, é bem comum encontrarmos fatos de dominações e ondas migratórias desde que mundo é mundo, mas jamais poderemos encontrar dominação de caráter tão genocida quanto essa perpetrada pelo mundo ocidental, pelo mundo branco, pelo mundo europeu! Contra o mundo africano. 

Agora, o que as pessoas pretas necessitam é primeiramente resgatar sua noção de povo. Para de forma consciente construir um projeto de nação independente, autônoma e separada das nações controladas pelo ocidente, visando a reestruturação e reorganização do povo africano no continente e na diáspora, e é aí que a importância da história entra em jogo. Mas também não pode ser qualquer história, não pode ser qualquer projeto. E é aí que se encontram outros desafios, que continuarão sendo enfrentados para que alcancemos a plena libertação da opressão e que possamos ter controle pleno sobre tudo o que tange a vida de nosso povo. 

Os países de passado colonial terão que ter conhecimentos profundos acerca dos povos colonizadores e escravistas, deve-se pesquisar atentamente o comportamento dos invasores, deve-se compreender quais foram os reais objetivos desses povos, qual a interação desses povos com o mundo: o natural e o humano. Deve-se esmiuçar o complexo desses povos, no caso o de superioridade e de universalizar seu modo de ser. Sendo assim, pode-se, de certa forma, chegar a como se ocorreu sua prevalência epistemológica. Chegando à visão critica do comportamento dos colonizadores fica desvendado o epistemicidio cometido em conjuntos de outras ações (violentas e não violentas) e a partir disso percebe-se que vozes foram silenciadas, que grandes feitos, descobertas, e avanços foram ‘pirateados’, e que, para além disto, grande parte do que foi produzido e contado historicamente, teve um viés do dominador, de tendência colonizadora. 

Então é preciso separar-se enquanto povo das garras do mundo europeu, do mundo branco! Separação física, mas também mental, espiritual, psicológica, epistemológica - auto nomeação, auto definição e atualização de nossa matriz cultural. E nesse ponto estamos por nossa própria conta, a responsabilidade recaí sobre nosso povo. É urgente que passemos da fase infantil, pois como o irmão Malcolm disse, ainda somos crianças para o homem branco! A partir do momento que os brancos precisam montar fábricas, escolas, negócios, governos para nosso povo e não conseguimos fazer isso por nós mesmos. Ainda somos crianças. “Porque uma criança é alguém que fica sentado e espera que seu pai faça por ele o que ele deveria fazer por si mesmo”. (sem deslegitimar as crianças, mas é verdade.) 

(...)Retomando o problema da História do negro no Brasil: que somos nós, pretos, humanamente? Podemos aceitar que nos estudem como seres primitivos? Como expressão artística da sociedade brasileira? Como classe social, confundida com todos os outros componentes da classe economicamente rebaixada, como querem muitos? Pergunto em termos de estudo. Podemos, ao ser estudados, ser confundidos com os nordestinos pobres? Com os brancos pobres? Com os índios?

Pode-se ainda confundir nossa vivência racial com a do povo judeu, porque ambos sofremos discriminação? Historicamente, creio não haver nenhuma semelhança entre os dois povos, mesmo se pensarmos em termos internacionais. Em termos de Brasil, nem em fantasia podemos pensar assim; o judeu no Brasil é um branco, antes de tudo judeu, isto é, poderoso como povo, graças ao auxilio mutuo que historicamente desenvolveram entre si.

Não será possível que tenhamos características próprias, não só em termos "culturais", sociais, mas humanos? Individuais? Creio que sim. Eu sou preta, penso e sinto assim.

(NASCIMENTO, Beatriz. Por uma história do homem negro. In: RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Instituto Kuanza, 2007). . 

A noção de povo é crucial para que possamos desenvolver um caminho rumo a liberdade e para que possamos ser um povo de Poder novamente. Separação é diferente de segregação, separação se dá por vontade própria, já a segregação por vontade alheia. Separação pode-se controlar seu território por si mesmo, a segregação o controle é estrangeiro. É viável o povo preto pensar na separação para consolidar sua união e liberdade, pois o futuro que o mundo branco nos reserva é de destruição, é de genocídio! Nesse ponto, mais uma vez, a ideia de Malcolm X continua atual. Toda a experiência histórica da chamada integração nos aponta isso. Genocídio! 

No Brasil não é diferente, a segregação existe e é exercida principalmente pelo poder econômico. Algumas manobras feitas desde o período da chamada abolição, restringiram o povo preto ao acesso (com base no fenótipo) à terra e ao trabalho, sem nem precisar de uma lei como Jim Crown. Mas nos resguardou a posição de cidadãos de segunda classe da mesma forma. Na parte cultural investiram no famigerado mito da democracia racial, de convivência em harmonia entre raças, colonização benevolente, onde na verdade cada um sabe seu lugar. E são manobras ousadas que só quem detém o Poder consegue incrustá-las tão facilmente. Um dos aspectos do processo de genocídio se exalta como um fato democrático: a miscigenação. E a história de Yacub, dita pelo Malcolm, não pode ser mais didática nesse sentido. 600 anos foram necessários para transformar o preto em branco. Hoje em dia quantas bisavós ou mesmo avós pretas não veriam ou veem seus netos ou bisnetos com pele clara? 

O advento da miscigenação a là brasil, por exemplo, não tem nada de democrático como muitas vezes possa parecer, pois direta ou indiretamente evidencia uma pessoa deslocada e sem orientação cultural e identitária buscando refugio em algum povo – de forma consciente ou inconsciente. E nunca será democrático uma ferramenta que foi utilizada politicamente para embranquecimento de um povo. E no caso do Brasil novamente, as primeiras interações inter-raciais foram feitas no período da escravidão. Chega de escravidão! 

Malcolm nos diz que vamos começar de forma pequena, mas em questão de tempo iremos nos elevar, a exemplo de um negócio próprio de um irmão que começou em um bairro e logo estava empregando dezenas de pessoas pretas. Então, comunidades com unidade se tornarão cidades, estados, Nações! E a cooperação entre diversas nações pretas no âmbito político, social, cultural e econômico se aproxima do Pan-Africanismo, unidade! Um só destino! A propósito, comunidade com unidade se inicia através da ligação de diversas organizações, coletivos, movimentos Pan-Africanos! Relações comunitárias! 

A agenda nesse caso é o que une essas organizações, baseadas em projetos autônomos de longa duração e para as gerações vindouras. Em adição, são Organizações que também não se abstém das ações necessárias no curto e médio prazo. Seja de assistência e apoio ao nosso povo, seja de apoio em cobranças, levantes, revoltas, atos inerentes ao nosso povo de forma consciente e organizada. Junto com os nossos irmãos e irmãs que vivem em favelas da diáspora africana ou com os irmãos e irmãs do continente que estejam em situação de refugiados. 

Ao priorizar a questão racial, nosso povo não assume uma posição sectária, pois o 'primeiro raça' não exclui outras pautas e questões que inclusive devemos discutir entre nosso povo, pelas nossas próprias referencias e definições. De pé, cabeça erguida e corpo ereto, pois o próprio irmão Malcolm disse que não devemos nos curvar já que não viemos das cavernas. 

Por fim, vale refletir essa característica tão africana no irmão Malcolm, a religiosidade. Somos um povo de espiritualidade e de crenças, assim, nesses discursos ele se posicionava pertencente a uma organização religiosa e de forma magistral conseguia emplacar sua posição política: o Nacionalismo Preto! 

Amandla Awethu! 

Carlos R. Rocha (Fuca) 

São Paulo, Junho de 2018


sábado, 26 de maio de 2018

Malcolm X: A Revolução Preta (junho de 1963)


Malcolm X: A Revolução Preta (junho de 1963)

Dr. Powell, convidados ilustres, irmãos e irmãs, amigos e até nossos inimigos. Como um seguidor e ministro do Honorável Elijah Muhammad, que é o Mensageiro de Allah para o chamado Negro Americano, estou muito feliz em aceitar o convite do Dr. Powell para estar aqui esta noite na Igreja Batista Abissínia para expressar ou pelo menos tentar representar os pontos de vista do Honorável Elijah Muhammad sobre este tema bem oportuno, A Revolução Preta.

Primeiro, no entanto, há algumas perguntas para fazer a vocês. Uma vez que as massas pretas aqui na América estão agora em revolta aberta contra o sistema americano de segregação, essas mesmas massas pretas irão se voltar para a integração ou se voltarão para a completa separação?

Estas são apenas algumas perguntas rápidas que eu acho que irão provocar alguns pensamentos em suas mentes e em minha mente. Como os chamados Negros que se dizem líderes iluminados esperam que a pobre ovelha preta se integre numa sociedade de lobos brancos sedentos por sangue, lobos brancos que já sugam nosso sangue há mais de quatrocentos anos aqui na América? Ou será que essas ovelhas pretas também se revoltarão contra o "falso pastor", o líder tio Tom Negro escolhido a dedo, e buscarão a completa separação para que possamos escapar do covil dos lobos em vez de sermos integrados aos lobos no covil dos lobos? E já que estamos na igreja e a maioria de nós professa crer em Deus, há outra pergunta: quando o “bom pastor” chegar, ele integrará suas ovelhas perdidas com lobos brancos? De acordo com a Bíblia, quando Deus vier, ele não deixará suas ovelhas se integrarem às cabras. E se suas ovelhas não podem ser seguramente integradas com as cabras, elas certamente não estarão seguramente integradas aos lobos.

O honorável Elijah Muhammad nos ensina que nenhum povo na terra se encaixa mais no quadro simbólico da Bíblia sobre o Carneiro Perdido do que os vinte milhões dos chamados Negros americanos e nunca houve na história um lobo mais cruel e sedento de sangue do que o homem branco americano. Ele nos ensina que por quatrocentos anos a América não passou de lobos para os vinte milhões dos chamados Negros, vinte milhões de cidadãos de segunda classe, e esta revolução preta que está se desenvolvendo contra o lobo branco hoje, está se desenvolvendo porque o honorável Elijah Muhammad, um pastor enviado por Deus, abriu os olhos de nosso povo. E as massas pretas agora podem ver que todos nós estivemos aqui nesta casinha de cachorro (doghouse) branca há muito tempo. As massas pretas não querem segregação nem queremos integração. O que nós queremos é uma separação completa. Em suma, não queremos ser integrados ao homem branco, queremos ser separados do homem branco. E agora o nosso líder religioso e professor, o honorável Elijah Muhammad, nos ensina que esta é a única solução inteligente e duradoura para o presente problema racial. Para entender completamente por que os seguidores muçulmanos do Honorável Elijah Muhammad rejeitam as hipócritas promessas de integração, primeiro deve ser entendido por todos que somos um grupo religioso e, como um grupo religioso, não podemos de forma alguma ser equiparados ou comparados aos grupos de direitos civis não religiosos.

Somos muçulmanos porque acreditamos em Deus. Somos muçulmanos porque praticamos a religião do Islã. O honorável Elijah Muhammad nos ensina que existe apenas um Deus, o criador e sustentador de todo o universo, o Todo-Poderoso e Ser Supremo Todo-Poderoso. O grande Deus cujo nome próprio é Allah. O honorável Elijah Muhammad também nos ensina que o Islã é uma palavra árabe que significa “completa submissão à vontade de Allah, ou obediência ao Deus da verdade, Deus da paz, o Deus da justiça, o Deus cujo nome próprio é Allah.” E ele nos ensina que a palavra Muçulmano é usada para descrever alguém que se submete a Deus, alguém que obedece a Deus. Em outras palavras, um muçulmano é aquele que se esforça para viver uma vida de retidão. Você pode perguntar o que a religião do Islã tem a ver com a atitude de mudança do chamado negro americano em relação a si mesmo, ao homem branco, à segregação, à integração e à separação, e que parte essa religião do Islã desempenhará na atual revolução preta que está varrendo o continente americano hoje? O honorável Elijah Muhammad nos ensina que o Islã é a religião da verdade nua, a verdade despida, a verdade que não é fantasiada, e ele diz que a verdade é a única coisa que realmente libertará nosso povo.

A verdade abrirá nossos olhos e nos permitirá ver o lobo branco como ele realmente é. A verdade nos sustentará em nossos próprios pés. A verdade nos fará caminhar por nós mesmos, em vez de nos apoiar em outros que não são bons para o nosso povo. A verdade não só nos mostra quem é o nosso verdadeiro inimigo, mas a verdade também nos dá a força e habilidade para nos separarmos desse inimigo. Somente um cego vai entrar no abraço aberto de seu inimigo, e somente um povo cego, um povo que é cego para a verdade sobre seus inimigos, procurará abraçar ou se integrar com aquele inimigo. Ora, o próprio Jesus profetizou: Conhecerás a verdade e ela te libertará.

Amados irmãos e irmãs, Jesus nunca disse que Abraham Lincoln nos libertaria. Ele nunca disse que o Congresso nos libertaria. Ele nunca disse que o Senado ou a Suprema Corte ou John Kennedy nos libertariam. Jesus, dois mil anos atrás, olhou para a roda do tempo e viu a sua e a minha situação hoje e ele sabia que a alta corte, a Suprema Corte, as decisões de dessegregação apenas nos acalmariam a um sono mais profundo, e as enganosas promessas dos políticos hipócritas sobre a legislação dos direitos civis seria projetada apenas para promover você e a mim da antiga escravidão a escravidão moderna. Mas Jesus profetizou que quando Elijah (Elias) viesse no espírito e poder da verdade, ele disse que Elijah lhe ensinaria a verdade. Elijah te guiaria com a verdade te protegeria com a verdade e te libertaria de fato. E irmãos e irmãs, o Elijah, aquele que Jesus disse que viria, veio e está na América hoje na pessoa do honorável Elijah Muhammad.

Este Elijah, aquele que eles disseram que viria e que veio, ensina aqueles que são muçulmanos que os senhores (brancos) de escravos sempre conheceram a verdade e sempre souberam que somente a verdade nos libertaria. Portanto, este mesmo homem branco americano manteve a verdade escondida do nosso povo. Ele nos manteve na escuridão da ignorância. Ele nos tornou espiritualmente cegos, privando-nos da luz da verdade. Durante os quatrocentos anos que passamos confinados às trevas da ignorância aqui nesta terra de escravidão, nossos escravocratas americanos nos deram uma overdose de sua própria religião cristã controlada por brancos, mas mantiveram todas as outras religiões ocultas de nós, especialmente a religião do Islã. E por essa razão, o Deus Todo Poderoso Allah, o Deus de nossos antepassados, elevou o honorável Elijah Muhammad do meio de nossos oprimidos aqui na América. E esse mesmo Deus enviou o honorável Elijah Muhammad para espalhar a verdade nua e crua aos vinte milhões dos chamados Negros americanos, e a verdade por si só fará com que você e eu fiquemos livres.

O honorável Elijah Muhammad nos ensina que existe apenas um Deus cujo nome próprio é Allah, e uma religião, a religião do Islã, e que este Deus não descansará até que ele tenha usado sua religião para estabelecer um mundo - universal, uma Irmandade mundial. Mas para estabelecer seu mundo justo, Deus deve primeiro derrubar esse mundo branco perverso. A revolução preta contra as injustiças do mundo branco faz parte do plano divino de Deus. Deus deve destruir o mundo da escravidão e do mal a fim de estabelecer um mundo baseado na liberdade, justiça e igualdade. Os seguidores do honorável Elijah Muhammad acreditam religiosamente que estamos vivendo no fim deste mundo perverso, o mundo do colonialismo, o mundo da escravidão, o fim do mundo ocidental, o mundo branco ou o mundo cristão, ou o fim do mundo ocidental perverso do cristianismo e do homem branco.

O honorável Elijah Muhammad nos ensina que as histórias simbólicas em todas as escrituras religiosas pintam uma imagem profética de hoje. Ele diz que a Casa Egípcia de Escravidão era apenas uma imagem profética da América. A poderosa Babilônia era apenas uma imagem profética da América. As perversas cidades de Sodoma e Gomorra pintaram apenas uma imagem profética da América. Ninguém aqui nesta igreja pode negar que a América é o governo mais poderoso da Terra hoje, o mais poderoso, o mais rico e o mais perverso. E ninguém nesta igreja hoje ousa negar que a riqueza e o poder da América se originaram de 310 anos de trabalho escravo contribuído pelo chamado Negro americano.

O honorável Elijah Muhammad nos ensina que esses mesmos chamados Negros americanos são pessoas há muito perdidas de Deus que são simbolicamente descritas na Bíblia como a ovelha perdida ou a tribo perdida de Israel. Nós, que somos muçulmanos, acreditamos em Deus, acreditamos em suas escrituras, acreditamos em profecias. Em nenhum lugar nas escrituras Deus alguma vez integrou o seu povo escravizado com seus senhores de escravos. Deus sempre separa o seu povo oprimido do seu opressor e depois destrói o opressor. Deus nunca se desviou de seu padrão divino no passado e o honorável Elijah Muhammad diz que Deus não desviará desse padrão divino hoje. Assim como Deus destruiu os escravizadores no passado, Deus vai destruir este perverso escravagista branco do nosso povo aqui na América.

Deus quer que nos separemos desta raça branca perversa aqui na América porque esta Casa Americana de Escravidão é a número um na lista de Deus para destruição divina hoje. Repito: Esta Casa Americana de Escravidão é a número um na lista de Deus para a destruição divina hoje. Ele nos adverte a lembrar de que Noé nunca ensinou integração, Noé ensinou a separação; Moisés nunca ensinou integração, Moisés ensinou a separação. O inocente deve sempre ter a chance de se separar do culpado antes que o culpado seja executado. Ninguém é mais inocente do que o pobre negro cego americano, que foi desviado por líderes negros cegos, e ninguém na terra é mais culpado do que o homem branco de olhos azuis que usou seu controle e influência sobre o líder negro para liderar o resto do nosso povo perdido.

Amados irmãos e irmãs aqui, uma bela igreja, a Igreja Batista Abissínia no Harlem, por causa dos males feitos pelos Estados Unidos contra os chamados negros, como o Egito e a Babilônia antes dela, a própria América agora está diante do tribunal de justiça. A América está agora enfrentando seu dia de julgamento, e ela não pode escapar porque o próprio Deus é o juiz. Se a América não pode reparar os crimes que cometeu contra os vinte milhões dos chamados Negros, se ela não pode desfazer os males que ela brutal e impiedosamente acumulou sobre o nosso povo nestes últimos quatrocentos anos, o honorável Elijah Muhammad diz que a América assinou sua própria desgraça. E vocês seriam tolos em aceitar suas ofertas enganosas de integração a essa data tardia em sua sociedade condenada?

A América pode se salvar? A América pode reparar? E se sim, como ela pode reparar esses crimes? Em minha conclusão devo salientar que o honorável Elijah Muhammad diz que um teatro dessegregado, um balcão de almoço dessegregado não resolverá nosso problema. Melhores trabalhos não resolverão nossos problemas. Uma xícara de café integrada não é suficiente para quatrocentos anos de trabalho escravo. Um emprego melhor na fábrica do homem branco, um emprego melhor nos negócios do homem branco ou um emprego melhor na indústria ou economia do homem branco é, na melhor das hipóteses, apenas uma solução temporária. Ele diz que a única solução duradoura e permanente é a separação completa em alguma terra que podemos chamar de nossa. Portanto, o honorável Elijah Muhammad diz que este problema pode ser resolvido e resolvido para sempre apenas enviando nosso povo de volta para nossa terra natal ou de volta ao nosso povo, mas que este governo deve fornecer o transporte e tudo mais que precisamos para começar de novo em nosso próprio país. Este governo deve nos dar tudo o que precisamos na forma de maquinário, material e finanças, o suficiente para durar vinte a vinte e cinco anos até que possamos nos tornar um povo independente e uma nação independente em nossa própria terra. Ele diz que, se o governo americano tem medo de nos mandar de volta para nosso próprio país e para nosso próprio povo, então a América deveria separar algum território aqui no hemisfério ocidental, onde as duas raças podem viver separadas umas das outras, já que certamente não nos damos bem quando estamos juntos.

O honorável Elijah Muhammad diz que o tamanho do território pode ser julgado de acordo com a nossa população. Se um sétimo da população deste país é preta, dê-nos um sétimo do território, uma sétima parte do município. E isso não é pedir demais porque já trabalhamos para o homem por quatrocentos anos.

Ele diz que não deve ser no deserto, mas onde há muita chuva e muita riqueza mineral. Queremos ter terras férteis e produtivas nas quais possamos cultivar e fornecer alimentos, roupas e abrigo para nosso próprio povo. Ele diz que esse governo deveria nos fornecer naquele território as máquinas e outras ferramentas necessárias para cavar a terra. Dê-nos tudo o que precisamos por vinte a vinte e cinco anos até que possamos produzir e suprir nossas próprias necessidades.

E, na minha conclusão, repito: não queremos fazer parte da integração com essa raça maligna de demônios. Mas ele também diz que não devemos partir da América de mãos vazias. Depois de quatrocentos anos de trabalho escravo, temos algum pagamento atrasado. Uma conta que nos é devida e deve ser coletada. Se o governo da América realmente se arrepende de seus pecados contra o nosso povo e indeniza dando-nos nossa verdadeira parcela da terra e da riqueza, então a América pode se salvar. Mas se a América espera por Deus para intervir e forçá-la a fazer um acordo justo, Deus vai tirar todo o continente do homem branco. E a Bíblia diz que Deus pode, então, dar o reino a quem lhe agrada.

Obrigado!



quinta-feira, 25 de maio de 2017

Stokely Carmichael - Mensagem da Guiné





Stokely Carmichael - Mensagem da Guiné* 

Universidade de Libertação Malcolm X,** outubro de 1969. 

Irmãos e irmãs, sinto muito não poder estar com vocês na abertura da Universidade de Libertação Malcolm X, um evento que considero ser um dos mais importantes na nossa luta. Digo que é importante devido o que esta instituição significará para nós, a direção que deve e vai dar aos nossos irmãos e irmãs que estarão estudando aqui. E é um marco, é a primeira vez que nos reunimos entre nós, sentamos e planejamos os meios pelos quais nossos jovens nos Estados Unidos terão uma educação verdadeiramente negra, uma educação africana. Isso também serve para o Centro de Educação Negra, que abriu recentemente em Washington, D.C.; Eu entendo que é uma instituição irmã da Universidade de Libertação Malcolm X. 

Acompanhei de perto o desenvolvimento desta instituição através de amigos e colegas de trabalho que estão ajudando a desenvolver a escola; Eles enviaram todos os planos e informações sobre a escola, levei todas estas informações para o irmão Sékou Touré, presidente da Guiné, e para o irmão Kwame Nkrumah, o Presidente legítimo de Gana. Eles também sentem que esta universidade representa uma das instituições mais frutíferas e promissoras dentro dos Estados Unidos. E é claro que apoiam plenamente os conceitos subjacentes que guiaram e orientaram os vossos esforços - o conceito de que todos nós somos um povo africano, o conceito de que todos estamos a trabalhar para construir uma nação africana forte e unida onde quer que estejamos, o conceito de que devemos trabalhar para a unificação da África - ou seja, o conceito de pan-africanismo. 

Quando olho para trás nos últimos dez anos de nossa luta, dos direitos civis ao Poder Negro, e para onde estamos hoje, fica evidente para mim que todos os nossos esforços nos levaram gradualmente para onde nós temos de ir como povo. Muitos de vocês que estão presentes nas cerimônias de abertura do MXLU (ULMX), e muitos de vocês que ajudaram a desenvolver esta instituição, passaram muitos anos trabalhando e organizando nosso povo no sul, provavelmente um bom número trabalhou no SNCC (Comitê Não Violento de Coordenação Estudantil). Se olharmos para trás ao longo desses anos, lembramos que, ao passar por todos esses anos, sabíamos que o que estávamos trabalhando naquela época não era a resposta. Mas tivemos de trabalhar em programas como sit-ins (manifestação sentada, protesto não violento), “passeios pela liberdade”, “escolas de liberdade”, “organizações de liberdade” e “controle da comunidade”, apenas para desenvolver a consciência política em nosso povo e aumentar as contradições na sociedade americana. Tivemos que fazer nosso povo ver que os interesses dos Estados Unidos não são nossos próprios interesses. 

No início dos anos sessenta, quando estávamos lutando pelo direito de comer um hambúrguer ao lado dos brancos, a maioria de nós via os sit-ins apenas como estratégia e tática para despertar a consciência em nosso povo - para que o povo pudesse ver o que era a América realmente. Muitos de nós passaram a formar "organizações políticas independentes" e "escolas de liberdade", e sabíamos que, novamente, isso era apenas mais um passo para aumentar as contradições na América. Tivemos que convencer nosso povo de que não havia lugar no sistema político americano para nós. Avançamos então nas demandas dos negros, ao controle comunitário das empresas, da polícia e das escolas, e assim por diante, mas a maioria de nós reconheceu que isso não é possível nos Estados Unidos, não há como operarmos feito uma ilha independente cercados por uma polícia da comunidade branca hostil e forças militares. Todas essas experiências e lições nos ensinaram que devemos olhar apenas uns para os outros (em cada um de nós) para encontrar a solução de nossos problemas - nossa solução não pode ser encontrada na América, mesmo que aqueles de nós que vivem nos Estados Unidos possam permanecer ai fisicamente. Não podemos olhar para os nossos opressores, aqueles que nos oprimem, para nos libertar ou mesmo ajudar na nossa libertação. Pois eles desejam e devem servir ao seu próprio interesse, que sempre envolve oprimir-nos, o povo Africano. 

Agora, devemos reconhecer que os negros, seja em Durham, São Francisco, Jamaica, Trinidad, Brasil, Europa ou no continente mãe, são todos um povo africano. Somos africanos, não pode haver dúvida sobre isso. Viemos da África, nossa raça é africana. As coisas que sempre nos distinguem dos brancos, europeus, são coisas africanas. Todos nós sofremos a mesma opressão nas mãos dos brancos, quer seja em Lynchburg, Virginia; Money, Mississípi; Acra, Gana; ou Johanesburgo, África do Sul, nossa opressão tem sido a mesma, fomos colonizados e desumanizados. É também uma questão de termos interesses em comum. É do nosso interesse prosseguir uma luta implacável contra a Europa - e incluo a América (EUA) como parte da família europeia - americanos, brancos, europeus. Temos que travar esta luta contra o mundo europeu, uma vez que a Europa e a América devem, por definição, manter-nos oprimidos e alienados, se quiserem sobreviver. Para manter-se viva e para apoiar seu sistema racista e desumano, a América deve sugar a força vital da África e dos povos africanos, como ela também deve fazer na Ásia e na América Latina. 

Gostaria de ler algumas palavras do irmão Malcolm. Devemos ouvir Malcolm muito de perto, porque temos que entender nossos heróis. Não podemos deixá-los ser usados por outras pessoas, não podemos deixá-los ser interpretados por outras pessoas para dizerem outras coisas. Precisamos saber e entender o que nossos heróis estavam dizendo a nós - nossos heróis, não os heróis da esquerda branca ou o que vocês tenham. 

Malcolm disse, 

Você não pode entender o que está acontecendo no Mississípi se você não entender o que está acontecendo no Congo, e você não pode realmente estar interessado no que está acontecendo no Mississípi, se você não está também interessado no que está acontecendo no Congo. Ambos são os mesmos. Os mesmos interesses estão em jogo. As mesmas ideias são elaboradas. Os mesmos esquemas que estão em trabalho no Congo, estão em trabalho no Mississípi. A mesma estaca, nenhuma diferença. 

E o irmão Malcolm escreveu uma carta de Acra em 11 de maio de 1964: 

Após um estudo mais atento, pode-se facilmente ver um projeto gigantesco para manter os africanos aqui e os afro-americanos longe de se reunirem. Um funcionário africano me disse. "Quando se combina o número de pessoas de ascendência africana na América do Sul, Central e América do Norte, elas totalizam mais de 80.000.000. Pode-se facilmente compreender as tentativas de evitar que os africanos se unam com os afro-americanos". A unidade entre os africanos do ocidente e os africanos da pátria mudará bem o curso da história. Estando agora em Gana, a fonte do pan-africanismo, os últimos dias da minha turnê devem ser intensamente interessantes e esclarecedores. Assim como o judeu americano está em harmonia política, econômica e culturalmente com o judaísmo mundial, é hora de todos os africanos-americanos se tornarem parte integrante dos pan-africanistas mundiais, e embora nós possamos permanecer fisicamente na América enquanto lutamos pelos direitos que a Constituição nos garante, devemos retornar filosófica e culturalmente à África e desenvolver uma unidade de trabalho no quadro do pan-africanismo. 

Se reconhecermos e aceitarmos as verdades que o Irmão Malcolm estava tentando nos dizer, ficará claro para nós que para sobrevivermos como povo, iremos para a guerra contra a América e a Europa. Uma vez que farão tudo o que estiver no alcance deles para proteger os interesses deles, isto significa que devem oprimir-nos e manter-nos num estado semi-humano. Nós, por sua vez, nunca seremos um povo forte, orgulhoso e livre a menos que libertem a África e tiremos da América o que a América está tentando proteger. Agora estamos numa guerra fria com a América e a Europa. Quando começarmos a avançar militarmente em todas as frentes, será uma guerra de corrida total, África versus Europa. Isso pode não parecer agradável para alguns de nossos irmãos e irmãs, mas é uma questão de quem vai sobreviver - eles ou nós. Eu acho que a lei natural da sobrevivência vai responder isso, mesmo para aqueles de nós que recuam e não querem enfrentar o que está por vir. Lembro-me do que o Irmão Malcolm disse em Chicago, em 1962: "O que é uma boa notícia para alguns é uma má notícia para os outros". 

Para que possamos realizar o que devemos realizar e ir para onde devemos ir, vamos precisar de técnicos qualificados e politizados para nos ajudar a construir uma nação. Quando os estudantes saírem da Universidade de Libertação Malcolm X, eles estarão em posição de oferecer suas habilidades e serviços para o nosso povo, onde for mais necessário, na América, na África, nas Índias Ocidentais (que são na verdade ilhas africanas), Nova Escócia. Onde quer que vocês trabalhem, estarão contribuindo seus esforços para a construção de uma nação africana forte. 

O desenvolvimento desta instituição é um exemplo vivo do desenvolvimento e crescimento da nossa luta, porque aqueles de vocês que foram os fundadores e deram direção a esta escola, todos compreenderam claramente a nossa luta. Através de anos de trabalho árduo, organização e aprendizagem, finalmente chegamos ao círculo completo para reconhecer o fato de que somos um povo africano, que devemos construir uma nação, que devemos treinar e desenvolver quadros de jovens, irmãos e irmãs, que terão as habilidades para nos ajudar a fazer isso. 

O desafio que isso apresenta ao MXLU (ULMX) é esmagador. Nosso povo tem esperado quatro séculos para que saíssem essas pessoas - todo o nosso povo tem esperado tanto tempo; Alguns não sabiam que estavam esperando por isso, e alguns ainda não sabem. Muitos são muito lentos em reconhecer este fato, mas eventualmente virão em torno - a repressão, a opressão e a depressão da América verão isso. 

Vocês nunca devem se sentir isolados ou fracos se vocês forem atacados de fora de nossa comunidade ou de dentro. Os ataques externos virão de europeus, brancos, que reconhecem que finalmente aprendemos a verdade sobre o que devemos fazer; Eles sabem que isso soletra sua morte e inaugura seus funerais. Os ataques de dentro virão de nossos irmãos e irmãs que estão onde muitos de nós estávamos há alguns anos. Mas eles virão. É trabalho de vocês, é nosso trabalho, trazê-los para casa. 

Aqui em Guiné, estou trabalhando muito perto do Dr. Kwame Nkrumah. Estamos tentando ajudar as massas de Gana que estão se esforçando para trazer Nkrumah de volta para Gana, e para iniciar novamente um governo pan-africanista revolucionário naquele país, que servirá como uma base de terra de língua inglesa para o nosso povo nas Américas. O movimento deve começar agora e é necessário que vocês nos deem todo o apoio necessário. Nos últimos anos, vimos a América se mover contra Gana e Mali derrubando seus governos. Vimos o irmão Malcolm e o irmão Patrice Lumumba assassinados pela América. Vimos nossos postos avançados revolucionários diminuir a quase nada - tudo nas mãos dos Estados Unidos da América e de suas irmãs europeias. 

A Guiné, um dos últimos postos avançados do governo revolucionário africano na África Ocidental, está sendo isolada e assediada pela América e pela Europa. Houve cinco tentativas de golpes e tentativas de assassinato contra o Presidente Sekou Touré. Se tal golpe for bem-sucedido, os irmãos Sekou Touré e Nkrumah serão exterminados - sim, exterminados. Não podemos deixar que isso aconteça com dois dos maiores líderes. Eles levaram o irmão Malcolm e nós não fizemos nada. Eles levaram Patrice Lumumba e nós não fizemos nada. Levaram também Pierre Mulele, também do Congo, e não fizemos nada. Nós não podemos sentar e permitir que eles matem os irmãos Sekou Touré e Nkrumah. Temos de nos mover para lhes dar proteção e tirar parte da pressão sobre a Guiné. Uma maneira de começar a fazer isso é certificar-se de que o Dr. Nkrumah volte para Gana e restabeleça outra base revolucionária na costa oeste da África. Está claro em minha mente que este é um passo muito necessário para a construção da nossa nação, para a libertação total do nosso povo. 

Não há muito mais que eu possa dizer a vocês sem entrar em uma discussão muito longa. Por causa do meu trabalho neste lado do oceano, na terra mãe, eu não poderei estar com vocês hoje em Durham, pelo menos não fisicamente. Vou manter-me em contato com o progresso e desenvolvimento de vocês. Como nós enquanto povo sempre conseguimos fazer, vamos encontrar as formas de comunicação, interferência com o correio, telefonemas e telegramas via "homem". Num futuro próximo, espero ter alguns panfletos escritos para que possamos aprofundar a discussão sobre a qual levei ligeiramente em consideração hoje. Na verdade, foi uma honra cumprimentá-los hoje, da Guiné. Nunca pense que a Guiné ou a África está longe ou que eu os deixei, estamos muito mais perto do que vocês possam imaginar. Nós estamos juntos, e trabalharemos para o dia em que voltaremos a caminhar na face da terra como um povo orgulhoso, livre, forte e poderoso - não com apenas algumas migalhas lançadas para nós da América ou do controle nos nossos guetos. Seremos um povo unificado em todo o mundo e no continente. "Voltar à África" não será apenas um sonho, mas será uma realidade. Vamos mudar o curso da nossa história, vamos chegar ao caminho para a libertação total, e estou certo de que a Universidade de Libertação Malcolm X vai se tornar uma força motriz em nossa luta. 

Com amor eterno para o povo negro, onde quer que estejamos. 

Stokely 

(Entregue por Howard Fuller em nome de Stokely Carmichael) 

*Carta extraída do Livro "Stokely Speaks." Do original "Message from Guinea". Tradução livre Carlos Rodrigo (Fuca - Insurreição CGPP) 

**A Universidade de Libertação Malcolm X foi uma instituição educacional experimental inspirada pelos movimentos do Poder Negro e do Pan Africanismo, localizada em Durham e Greensboro, Carolina do Norte. Howard Fuller (também conhecido como Owusu Sadaukai), Bertie Howard e vários outros ativistas afro-americanos na Carolina do Norte fundaram a escola, que funcionou do dia 25 de outubro de 1969 até o dia 28 de junho de 1973. Uma das principais razões pro fechamento da escola foi os conflitos políticos que danificaram a reputação da escola, dificultando o financiamento. Devido aos contratempos financeiros, a escola funcionou por apenas três anos. (adaptação Wikipédia) 


Stokely Carmichael (1941-1998) trabalhou no Comitê Não Violento de Coordenação Estudantil (SNCC) no início de 1960 e se tornou presidente do comitê em 1966. Seu discurso "Black Power" reacendeu o movimento do mesmo nome, e em 1967 ele e Charles Hamilton escreveram o livro Black Power. Em 1968 e 1969, ele serviu como Primeiro-Ministro Honorário do Partido dos Panteras Negras; ele também se mudou com sua esposa, a cantora africana Miriam Makeba, para a Guiné, onde se tornou um estudante e assessor dos presidentes Kwame Nkrumah e Sekou Touré e ajudou a organizar o Partido Revolucionário de Todo o Povo da África. Em 1978, ele mudou seu nome para Kwame Ture.

sábado, 1 de novembro de 2014

Malcolm X - Mensagem a Grassroots (mensagem as bases) - parte1

Este discurso de Malcolm X foi feito em 10 de Novembro de 1963, em Detroit. Pouco depois, Malcolm se separou da Nação do Islã.




... E durante os poucos momentos que nos resta, queremos ter apenas um bate-papo, sem algo preparado, entre você e eu - nós. Queremos falar direto para a terra numa linguagem que todos aqui poderão facilmente compreender. Estamos todos de acordo esta noite, todos os oradores concordam, que a América tem um problema muito sério. Não apenas a América tem um problema muito sério, mas o nosso povo tem um problema muito sério. Somos nós o problema norte americano. Nós somos o problema. A única razão pela qual esse país tem um problema é que ele não nos quer aqui. E cada vez que você olhar para si mesmo, seja você preto, marrom, vermelho ou amarelo – ou um chamado *Negro (negro/nigger) - Você representa uma pessoa que é um problema tão grave para a América, porque eles não querem você. Enfrente isso como um fato, então você pode começar a traçar um caminho que fará você parecer inteligente, em vez de pouco inteligente. 

O que você e eu precisamos fazer é aprendermos a esquecer de nossas diferenças. Quando nos reunimos, não estamos a nos juntar como batistas ou metodistas. Você não irá para o inferno por ser um batista, e você não irá para o inferno porque é metodista. Você não irá para o inferno por ser batista ou metodista. Você não irá para o inferno por ser democrata ou republicano. Você não irá para o inferno por ser um maçom ou um alce, e certamente você não irá para o inferno porque é americano; porque se você é americano, você não irá para o inferno. Você vai para o inferno porque você é uma pessoa negra. Você vai para o inferno, todos nós vamos para o inferno, por essa mesma razão.

Então, todos nós somos negros (Black people), chamados negros (Negroes), cidadãos de segunda classe, os ex-escravos. Você não passa de um ex-escravo. Você não gosta de ser chamado assim, mas o que mais vocês são? Vocês são ex-escravos. Vocês não vieram aqui no **"Mayflower". Vocês vieram pra cá em um navio de escravos - em cadeias, como um cavalo ou uma vaca ou uma galinha. E vocês foram trazidos aqui por pessoas que vieram aqui pelo "Mayflower". Vocês foram trazidos pelos assim chamados Peregrinos, ou ***fundadores . Eles foram os únicos que lhe trouxeram pra cá.

Temos um inimigo em comum. Temos isso em comum: Temos um opressor em comum, um explorador em comum, e um discriminador em comum. E uma vez que nós todos percebemos que temos este inimigo, então nos unimos na base do que temos em comum. E o que temos de principal em comum é o inimigo - o homem branco. Ele é um inimigo de nós todos. Sei que alguns de vocês pensam que alguns deles não são inimigos. O tempo vai dizer.

Em Bandung, voltando se não me engano em 1954, foi a primeira unidade em séculos de pessoas negras se reunindo. E uma vez que você estudar o que aconteceu na conferência de Bandung, e os resultados da Conferência de Bandung, na verdade serve de modelo para que nós usemos o mesmo procedimento para ter os nossos problemas resolvidos. Em Bandung todas as nações se uniram, eram nações escuras da África e da Ásia, algumas delas eram budistas, algumas delas eram muçulmanas, algumas delas eram cristãs, alguns delas eram confucionistas, algumas eram nações ateias. Apesar de suas diferenças religiosas, elas vieram juntas. Algumas eram comunistas, algumas eram socialistas, algumas eram capitalistas. Apesar de suas diferenças políticas e econômicas, vieram juntas. Todas elas eram preta, marrom, vermelha ou amarela.

O único que não foi autorizado a participar da conferência de Bandung foi o homem branco, ele não pôde ir. Uma vez que excluiu o homem branco, eles descobriram que eles poderiam ficar juntos, uma vez que o manteve de fora, todo mundo seguiu na mesma linha. Esta é a coisa que temos que entender, e essas pessoas que estavam juntas não tinham armas nucleares; elas não tinham aviões a jato; elas não tinham todos os armamentos pesados ​​que o homem branco tem, mas elas tinham a unidade.

Eles foram capazes de submergir suas pequenas diferenças e concordaram em uma coisa: que o Africano do Quênia estava sendo colonizado pelos ingleses, que o Africano do Congo estava sendo colonizado pelo belga, que o Africano de Guiné estava sendo colonizado pelos franceses, que o de Angola estava sendo colonizado pelo Português. Quando eles vieram para a conferência de Bandung, eles olharam pro português, pro francês, pro inglês, pro holandês, e aprenderam ou perceberam que a única coisa que todos eles tinham em comum: todos eles eram da Europa, eles eram todos europeus, loiros, de olhos azuis e pele branca. Eles começaram a reconhecer quem era o inimigo. O mesmo homem que foi colonizar nossas pessoas no Quênia foi colonizar nossas pessoas no Congo. O mesmo do Congo estava colonizando o nosso povo na África do Sul, na Rodésia do Sul, na Birmânia, na Índia, no Afeganistão, no Paquistão. Eles perceberam que em todo o mundo as pessoas negras estavam sendo oprimidas, elas estavam sendo oprimidas pelo homem branco; onde as pessoas negras estavam sendo exploradas, estava sendo exploradas pelo homem branco. Então se reuniram sob esse critério - que tinham um inimigo comum.

E quando você e eu aqui em Detroit ou em Michigan e na América, que foram despertados e olhar à nossa volta hoje, também percebemos que aqui na América todos nós temos um inimigo em comum, quer seja na Geórgia ou Michigan, na Califórnia ou em Nova York. Ele é o mesmo homem: olhos azuis, cabelos loiros e pele clara - mesmo homem. Então o que temos a fazer é o que eles fizeram, eles concordaram em parar de brigar entre si, qualquer pequena briga que eles tinham, eles resolviam entre si - não deixe que o inimigo tome conhecimento que você tem um desentendimento.

Em vez de expor nossas diferenças em público, temos de perceber que somos todos da mesma família e quando você tem uma briga entre família, você não sai na calçada. Se você fizer isso, todo mundo te chama rude, bruto, incivilizado, selvagem. Se você fizer isso em casa e resolver em casa; você tem no armário e discute por trás de portas fechadas. E então, quando você sai na rua, você expõe uma frente comum, uma frente unida. E é isso que precisamos fazer na comunidade, na cidade e no estado. Precisamos parar de expor nossas diferenças em frente ao homem branco. Número um, deixe o homem branco fora de nossas reuniões e, em seguida, sentar e conversar sobre os planos e trabalhos. Isso é o que temos que fazer.



*As 'Negro People' são diferentes das 'Black People', pois basicamente não possuem consciência de raça e estão do lado e a serviço dos brancos.( ele explicará mais detalhadamente no decorrer do discurso)

** (termos históricos) o navio Mayflower em que os Pilgrim Fathers partiu de Plymouth para Massachusetts em 1620)

***(Convenção que redigiu a Constituição dos EUA em 1787)