É inegável a importância que o Mês do Hip Hop, mais uma vez, tem no
processo de Educação de crianças, adolescentes e jovens, e também na
formação de novos artistas de luta trazendo à tona novamente a questão
do povo preto, desta vez discutindo a Diáspora Africana e a Lei
10639/03. Ter a oportunidade de aprender e falar sobre meu povo através
da cultura é o que me impulsiona a escrever esse texto.
Por FUCA (Insurreição CGPP)
Falar
de Hip Hop nos seus quatro elementos e desconsiderar o povo preto, é
simplesmente fazer por fazer e ter um desconhecimento da história do Hip
Hop. Não me espantaria em dizer que muito dessa essência tem se perdido
no movimento, até porque vivemos num país totalmente RACISTA onde
vigora o genocídio.
Ao falar de Genocídio do Povo Preto e de
Brasil, temos que falar do projeto de nação republicana que no início do
século passado se iniciou visando e consolidando a exclusão dos negros
nesse processo. Então após o “fim da escravidão” o que seria o momento
do Negro no trabalho livre, o fluxo de imigrantes vindos da Europa
aumentou de forma exacerbada com o intuito nítido de se ter um modelo de
trabalhador padrão (branco/europeu), e se existe quem seja contra
qualquer tipo de política afirmativa para negros, nessa época esses
imigrantes brancos tiveram todo o auxilio desse país. O objetivo de
branqueamento da população esteve escancarado nesse período e se mantém
até hoje. Os pontos de exclusão (periferia / favela) ainda existem e é
onde o Estado não chega e quando vem é a através da repressão policial, é
nessa área dos excluídos que se é legitimo torturar, matar, chacinar e
ainda desaparecer com os corpos.
Ao falar de Genocídio do Povo
Preto e de Brasil, temos que falar do período de colonização e de
coisificação do nosso povo (quase quatro séculos), que apesar de toda
atrocidade dos brancos que sequestraram, estupraram, acabaram com nossos
laços familiares, nossa cultura, nossa religião, o povo preto tem um
histórico riquíssimo em resistência às opressões dos brancos, seja
através de revoltas, insurreições e a capacidade de constituir
QUILOMBOS, a exemplo da primeira republica afrikana, Quilombo dos
Palmares, que venceu diversas batalhas contra os europeus.
Mas
para além disso, temos que contar a história do Continente Africano como
os primeiros seres humanos a habitarem a terra, a África o Berço da
Humanidade com vasta contribuição ao desenvolvimento humano. A vida do
nosso povo não começou em 1500, muito
pelo contrário, de 1500 pra cá é um período curto de nossa história para nos condicionar a escravos.
Como
que não devo escrever sobre a oportunidade de falar da história do meu
povo onde o ocidente insistiu e insiste em ocultar e/ou falsificar quem
somos?
“... os países da diáspora negaram, mutilaram e
falsificaram a história dos africanos e de seus descendentes, fazendo-os
aparecer geralmente como objetos e raramente como sujeitos da ação
humana do tempo. Omitiram a participação dos negros na construção das
economias, culturas, identidades e transformações políticas desses
países. Atribuíram a luta pela abolição da escravatura aos humanistas
brancos e não aos protagonistas negros.” (Kabengele Munanga).
A
lei 10639/03 torna obrigatório o ensino da história e cultura
afro-brasileira, mas passados 13 anos ainda percebemos resistência pra
implementar de fato esses ensinos, até mesmo um dos pontos é a falta de
difusão de escritores de autores e cientistas pretos ou pretas. Difusão
de quem estudou e pesquisou sobre a verdadeira história da África e de
seus avanços pirateados pelos europeus, (os gregos estudaram por um
longo período no Egito Antigo, (KEMET, terra dos homens pretos)). Os
europeus são plagiadores, falsificaram a história e a ciência a nos
impor algo vindo da Europa como universal.
“O que estou dizendo é
que eles tinham que vir para a África e estudar com os sábios do antigo
Egito, que eram negros, para ter condições de aprender medicina,
matemática, geometria, arte e assim por diante. Isso aconteceu muito
antes da existência de qualquer civilização.” (Molefi Kete Assante).
Então
o Hip Hop vem fazer esse papel importante e crucial para nossa
educação, pra que visemos reverter esse processo de genocídio que é
estruturado pelo racismo, para que atinjamos a nossa autoestima e a dos
alunos ao saber um pouco da verdadeira história de seu povo e para que
busque reabilitar o nosso ser individual e a emancipação como um povo
descendente de Africanos.
Se liga nesses pontos:
“- A África foi o berço da humanidade.
- A maior parte da história humana se desenvolveu nesse continente
-
Os primeiros seres humanos foram africanos de pele negra que se
espalharam por outras partes do mundo, em várias ondas migratórias.
- Os seres humanos de hoje pertencem a uma só espécie cuja ancestralidade comum é negra e africana.
-
As “raças” humanas de hoje são todas descendentes de africanos de pele
negra e entre elas não há grandes diferenças genéticas.
- Durante
a maior parte da história humana a África foi o berço dos mais
importantes avanços tecnológicos e científicos./ povos africanos de pele
negra foram os autores desses avanços.” (Elisa Larkin Nascimento).
Enfim,
que ao longo do tempo possamos criar mais mecanismos pra adentrarmos de
fato nesses espaços, assim como na rua, (a rua é a essência do Hip Hop)
e poder demonstrar esses pontos citados acima extraídos do suplemento
didático “O tempo dos Povos africanos”. Não temer em falar de nosso
povo, muitos querem atribuir esse conteúdo como algo segregacionista ou
excludente sendo isso totalmente ao contrário, é em busca de justiça
social e da autenticidade histórica, que reflete no interno da pessoa,
nas relações interpessoais e tudo mais. E outra, o debate sempre foi
racializado nos colocando como inferiores, como quem não tem capacidade
de produzir conhecimento, tecnologia e civilização...racializaram desde
os testes de pureza do sangue para assumir cargos em igreja, no Estado,
etc. segregação em espaços públicos e tudo mais. Vamos falar de África
sim, esse é o caminho e sigamos, com muito Rap, Break, Discotecagem e
Grafite.