sábado, 27 de maio de 2017

As insurreições Ussás - 27 de maio de 1807

No dia 27 de maio de 1807, na Bahia, uma grande Revolta Urbana de Escravizados estava planejada, a maioria Ussás. O objetivo era a tomada do poder, mas que foi delatada por um escravo traidor. Essa fez parte de uma série de Insurreições Escravas ou também chamadas Revolução dos Malês. Mesmo com o fracasso desse ano, os africanos escravizados continuaram a mobilização e organização de diversas revoltas, ano após ano. Unidos evidentemente pela Pretitude.

Abaixo segue o trecho extraído do livro A Revolução do Malês de Décio Freitas.

As insurreições Ussás

"(...) A revolta dos Ussás vinha sendo organizada paciente e meticulosamente. Sabe-se que tinha dois chefes principais: o liberto Antônio e o escravo Baltazar. Antônio vivia de pequeno comércio entre Salvador e Santo Amaro, gozando de grande prestígio entre os demais negros e muita confiança entre os comerciantes. Com o titulo de embaixador, era o coordenador geral do movimento. Baltazar, escravo do seringueiro Francisco das Chagas, morador no Corpo Santo, usava o titulo de capitão e servia de elemento de ligação entre Antônio e os demais conspiradores. Consta que Antônio era um negro de singular inteligência e simpatia. No seu casebre compareciam assiduamente os negros Florêncio, escravo do capitão José Antônio Guimarães; Guilherme, escravo de João Branco; André, escravo da viúva de Jacinto Damásio; Luis, escravo do capitão Joaquim Portugal. Afora estes, conhecemos os nomes de outros negros que exerciam intensa atividade conspirativa em diferentes pontos da cidade. Faustino e Alexandre, escravos de José Gomes de Araújo; Miguel, escravo de José Carvalho de Albuquerque; Simplício, escravo de Antônio Barreto e Tibúrcio, escravo de pessoa ignorada. Um negro de nome Inácio, escravo de Custódio Duarte e oficial de ferreiro, vinha fabricando os ferros das flechas e facas a serem usadas. Além disso, os conspiradores haviam reunido pistolas e espingardas. O armamento vinha sendo armazenado em pelo menos dois lugares: o casebre de Antônio e o do escravo Francisco, de propriedade de Antônio da Silva Lisboa. No casebre de Antônio havia cerca de quatrocentas flechas, molhos de varas para arcos, meados de cordel, espingardas, pistolas e um tambor. 

Os escravos do Recôncavo, principalmente os da vila de Santo Amaro, participavam da conspiração. 
O plano consistia em se apoderarem da Casa da Pólvora e das Armas, provendo-se assim de mais material bélico. Ao mesmo tempo, outros incendiaram a alfândega e a capela do arrabalde de Nazaré. O objetivo dos incêndios era desviar a atenção da tropa e do povo. Nessa altura, chegariam os rebeldes do Recôncavo. Haveria uma matança dos senhores, e, uma vez vitoriosos, constituiriam um governo, elegeriam um rei e se apossariam das embarcações surtas no porto, para retornar à África. O levante estava marcado para a madrugada do dia 27 de maio. No dia 21, entretanto, o escravo de um advogado chamado Elias Abreu delatou a insurreição ao amo. No dia seguinte, o advogado pediu audiência ao conde da Ponte e lhe transmitiu o que ouvira do escravo. O conde pediu ao denunciante que obtivesse mais pormenores e os transmitisse ao seu ajudante de ordens João Girão, encarecendo especialmente que descobrisse os nomes dos líderes e localização do casebre de Antônio. Na véspera do dia 27, o governador recebeu as informações solicitadas.

O dia marcado para a insurreição era o da procissão de Corpus-Cristi. Como se nada houvesse, o governador participou calmamente da procissão. Findo o ato religioso, agiu rapidamente, expedindo ordens de próprio punho aos chefes dos corpos de infantaria e artilharia para que ficassem de prontidão e preparassem patrulhas. As 6 horas da tarde, silenciosamente - "sem toque de tambor, sem que na cidade soasse o menor ruído" - as patrulhas bloquearam as entradas e saídas da cidade. Os capitães-do-mato saíram pelos caminhos prendendo todos os escravos que encontravam. O ajudante João Girão e o capitão João de Chastinet, à frente de forte contingente, cercaram e invadiram a casa de Antônio, prendendo-o juntamente com treze outros negros que lá se encontravam. Em outros pontos da cidade, as patrulhas prenderam os demais cabeças, o mesmo fazendo os capitães-do-mato no Recôncavo.

No dia seguinte, o conde da Ponte publicou bando em que ordenava que todo escravo encontrado nas ruas da cidade depois das 9 horas da noite sem escrito de seu senhor, ou em companhia dele, fosse preso e açoitado nas cadeias públicas. Comunicando a medida a Lisboa. dizia que "este passo que poderia ser reparável em outra qualquer ocasião, foi geralmente aprovado por todos os habitantes, que não podiam por si sós conter a liberdade e falta de sujeição dos seus escravos.

(...) Pouco menos de um anos depois, a 28 de março, os negros Antônio e Baltazar foram condenados à morte e os demais a açoite em praça pública.

(...) O fracasso de de 1807 não desanimara os ussás. Desde a metade do ano de 1808, trabalhavam na organização de novo levante. Aliciaram escravos e libertos de outras nações, principalmente nagôs e geges. 



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