Este livro, apesar de pequeno, abrange muitos assuntos de
uma perspectiva radical, comprometida e com os pés no barro, pois aborda temas
como a primeira guerra europeia da perspectiva racial tanto quanto fala sobre
as contradições do movimento ‘compre preto’; desmascara o movimento organizado
dos trabalhadores brancos e também incentiva a valorização da mulher preta e do
jovem preto; trata sobre nosso elo imperecível com a África tanto quanto não
deixa de salientar que temos problemas a tratar aqui; resolve a questão cunhada
em nosso tempo como ‘colorismo’ e também critica as velhas lideranças pretas;
defende a política preta de Raça Primeiro e nos mostra que o mundo não-branco
age sempre a partir da raça; advoga a rebelião preta para cessar com a invasão
estadunidense no Haiti e também faz resenhas de livros, entre tantos outros
assuntos de seu tempo e além. (pág.30)
(...)
No plano pessoal, Hubert Harrison deixou sua esposa irene e
seus cinco filhos para trás. No campo político, Harrison deixou um escopo bem
definido para a nova movimentação preta. Como legado à posterioridade, deixou
as ferramentas de luta política preta utilizada por um amplo espectro de
lutadores pretos, desde o movimentos pelos direitos civis radicais e moderados
até Malcolm X e sua notável utilização das ruas do Harlem como púlpito. Ao
movimento Pan-Africanista Nacionalista, deixou bem fundamentado o conceito Raça
Primeiro, da autodeterminação preta, da cooperação entre povos de cor do mundo,
da excelência cultural e intelectual preta e da autodefesa armada preta. (P.34)
(Prefácio: Ammit Garvey em Quando a
África Despertar- Hubert Harrison, Editora Filhos da África, 2020)
***
(...)
Uma cura para a
Ku-Klux.
Foi na cidade de Pulaski, no condado de Giles, Tennessee,
que a Ku-Klux Klan original foi organizada na última parte de 1865. A guerra
mal havia sido declarada oficialmente terminada quando os covardes
"caipiras", que não podiam vencer os ianques, começaram a se
organizar para tirar vantagem dos Negros. Eles aprovaram leis declarando que
qualquer homem preto que não pudesse mostrar trezentos dólares deveria ser
declarado vagabundo; que todo vagabundo deve ser posto a trabalhar nos serviços
públicos de suas cidades; que três Negros não deveriam se reunir a menos que um
homem branco estivesse com eles, e outros métodos foram usados conforme
necessário para manter a "supremacia branca". Quando o congresso
nacional se reuniu em dezembro de 1865, olhou para essas tensões leves com um
olhar hostil e, já que nada menos que a re-escravização dos Negros poderia
satisfazer os "caipiras", mantiveram eles fora do congresso até que
concordassem em fazer algo melhor. Descobrindo que eles eram teimosos, o
congresso aprovou a 14ª e 15ª emendas e colocaram os estados “caipiras” sob
regime militar até que aceitassem as alterações. O resultado foi que o Negro
obteve o voto como proteção contra “as pessoas que o conhecem melhor”.
Enquanto isso, a Ku-Klux, depois do rompante sob a liderança
daquele traidor, o general Nathaniel B. Forrest, foi derrubada - nocauteada,
como se pensava. Hoje, depois que o Negro foi despojado da proteção do voto
pela conivência de republicanos brancos em Washington e democratas brancos no
sul, a Ku-Klux ousa levantar sua cabeça feia em seu estado ancestral do
Tennessee. Desta vez, eles querem aumentar o excelente tipo de democracia que
todos os editores covardes sabem que os Negros estavam recebendo quando lhes era
pedido para que fossem patrióticos. A Ku-Klux irá matá-los e submetê-los à
tortura e terrores antes que eles mostrem suas feridas e solicitem o voto como
recompensa.
Nesta crise, o que os "líderes" Negros têm a dizer
em nome do seu povo? Onde está Emmet Scott? Onde estão o Sr. Moton e o Dr. Du
Bois? O que a NAACP fará além de escrever cartas frenéticas? Tememos que eles
nunca possam ultrapassar o nível da apelação. Mas suponha que o Negro comum do
Tennessee decida participar do jogo? Suponha que ele deixe saber que, ao tirar
a vida de qualquer soldado ou civil Negro, dois “caipiras” morrerão? Suponha
que ele os informe que será tão caro matar Negros quanto é matar pessoas reais?
Então, de fato, a Ku-Klux seria enfrentada em seu próprio terreno. E porque não?
Todas as nossas leis, mesmo no Tennessee, declaram que
linchamento e racismo são crimes contra a pessoa. Todas as nossas leis declaram
que as pessoas individualmente ou em grupos têm o direito de matar em defesa de
suas vidas. E se a Ku-Klux impede os oficiais da lei de fazer cumprir essa lei,
cabe aos Negros ajudar os oficiais, fazendo cumprir a lei por conta própria.
Por que eles não deveriam fazer isso? Chumbo, aço, fogo e veneno são tão
potentes contra os “caipiras” quanto aos alemães, e vale lutar pela democracia
no Tennessee tanto quanto nas planícies da França. Se os Negros do sul não
reconhecerem essa verdade, ninguém mais a reconhecerá por eles. (pp. 77,78,79)
Quando a África Despertar - Hubert H. Harrison
Capítulo III - O Negro e a Guerra.
Diáspora Africana: Editora Filhos da África, 2020. 1ª
edição. 215 Páginas.
[agora em A nova
consciência da Raça]
(...)
Nos bons e velhos tempos, os brancos derivavam seu
conhecimento do que os Negros estavam fazendo através daqueles Negros mais
próximos deles, geralmente seus próprios expoentes selecionados da atividade
dos Negros ou do seu ponto de vista branco. Uma ilustração clássica desse tipo
de conhecimento foi fornecida pelo Partido Republicano; mas a Igreja Episcopal,
a Liga Urbana ou o Governo dos EUA também serviriam. Hoje o mundo branco é
vagamente, mas inquietantemente, ciente de que os Negros estão acordados,
diferentes e desconcertantemente incertos. No entanto, o mundo branco pelo qual
estão cercados mantém seu método tradicional de interpretar a massa pelo Negro
mais próximo de si em afiliação ou contrato. O partido socialista insiste em
pensar que a “inquietação” agora aparente nas massas Negras se deve à
propaganda que seus adeptos apoiam e acredita que essa revolta funcionará em
grande parte nos moldes do pensamento político socialista. Os grandes jornais,
preocupados principalmente com a tarefa escolhida de serem os mensageiros
mentais da multidão, gritam “propaganda bolchevista” e se lisonjeiam por terem
encontrado a verdadeira causa; enquanto os agentes não confiáveis do governo a
encaram como “deslealdade”. A verdade, como sempre, pode ser encontrada nas
profundezas; mas aí estão todos impedidos de passar pela preguiça mental, pelo
desprezo tradicional e fraqueza com que homens brancos na América, de
estudiosos como Lester Ward a palpiteiros como Stevenson, decidem considerar
uma população de cor de doze milhões.
Em primeiro lugar, a causa do “radicalismo” entre os Negros
americanos é internacional. Mas é necessário estabelecer distinções claras
desde o início. A função da igreja cristã é internacional. Assim como a arte, a
guerra, a família, a alienação e a exploração do trabalho. Mas nada disso
possui o direito especial de ampliar o manto de seu próprio “internacionalismo”
peculiar para cobrir o caso atual do descontentamento dos Negros – embora isso
tenha sido constantemente tentado. O fato internacional ao qual os Negros na
América estão reagindo agora não é a exploração de trabalhadores pelos
capitalistas; mas a sujeição social, política e econômica dos povos de cor
pelos brancos. Não é a linha de classe, mas a Linha de Cor, que é a expressão
incorreta, embora aceita, a Linha Pétrea da inferioridade racial. Esse fato é
um fato na consciência dos Negros e também nas dos outros. A Linha de Cor
Internacional é ambos, a prática e a teoria, dessa doutrina que sustenta que os
melhores quadros da África, China, Egito e Índias Ocidentais são inferiores aos
piores quadros da Bélgica, Inglaterra e Itália e devem manter suas vidas,
terras e liberdades sob os termos e condições que a raça branca decidir
conceder.
Hubert Harrison - Quando a África Despertar.
Capítulo VI.
[mais sobre Raça
Primeiro]
(...)
Agora que seu partido encolheu consideravelmente em apoio
popular e apreço popular, eles estão dispostos a defender nossa causa. (...)
Enquanto eles estavam se recusando a diagnosticar nosso caso, nós mesmo o
diagnosticamos e, agora que prescrevemos a cura – Solidariedade Racial – eles
vêm até nós com sua prescrição – solidariedade de classe. É tarde demais,
senhores! ... E se você é simplório o bastante para acreditar que aqueles,
dentre nós, que atendem aos seus interesses à frente dos nossos, têm algum
monopólio do intelecto ou da informação ao longo das linhas da aprendizagem
moderna, então vocês são, realmente, monumentais idiotas. (...) Falamos Raça
Primeiro, porque vocês insistiram o tempo todo em Raça Primeiro e classe depois
quando não precisavam de nossa ajuda. ...pp.139-130(...)
Durante a recente guerra mundial [1914-1918], ensinou-se aos
Negros da América que, enquanto os brancos falavam em patriotismo, religião,
democracia e outros temas, eles permaneciam leais a um conceito acima de todos
os outros, e esse era o conceito raça. Mesmo no meio da guerra e nos campos de
batalha da França, havia “raça primeiro” entre eles. p.132(...)
Mas vamos nos aproximar de casa. (...) Você encontrará um
Harlem Negro Renascido, com empresas e arranjos culturais...
Todas essas coisas são produtos recentes do princípio de
“Raça Primeiro.” Entre elas, a maior é a Universal Negro improvement
Association (Associação Universal para o progresso do Negro), com seus órgãos
associados, a Black Star Line (Linha Estrela Preta) e a Negro Factories
Corporation (Corporação de Fábricas do Negro). Nenhum movimento entre os Negros
americanos, desde a abolição da escravidão, alcançou essas proporções
gigantescas. (p.134)
(Quando a África Despertar – Hubert Harrison, Editora Filhos
da África, 2020.)
[orientação de busca constante por conhecimento]
Orientamos às massas de nosso povo: Leia! Adquira o hábito
de leitura; gaste seu tempo livre não treinando tanto os pés para dançar, como
treinando a cabeça para pensar. E, desde o início, trace a linha entre livros
de opinião e livros de informação. Sature suas mentes com estes últimos e você
formará suas próprias opiniões, que valerão dez vezes mais do que as opiniões
das maiores mentes da Terra. Vá para a escola sempre que puder. Se você não
puder ir durante o dia, vá à noite. Mas lembre-se sempre de que a melhor
faculdade é aquela em sua estante de livros: a melhor educação é aquela em sua mente.
(...) e se nós, da raça Negra, pudermos dominar o conhecimento moderno – do
tipo que conta – seremos capazes de conquistar, por nós mesmo, os inestimáveis
presentes da liberdade e do poder, e seremos capazes de defende-los contra o
mundo. Hubert Harrison. P.184.