quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Gíria Vermelha - Lutar é Preciso - O Som e o Grupo de Rap Maranhense



LUTAR É PRECISO
Letra:

De pé o vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

Se for pra mim morrer e ter que nascer de novo/ eu prefiro ser novamente o que eu sou/ por isso eu vou escrevendo a minha própria história/ entre pedras e espinhos que no caminho rola/ do núcleo do meu crânio algo me perturba/ meu coração ao em conexão com os meus olhos me diz/ vai a luta pois teu povo é pobre e sofre/ se comover qualquer um se comove/ então, mova-se pra ver se a coisa muda/ a arte pela arte para nós é surda e muda/ não. Não fede e não cheira/ pra periferia tem que ir pra lixeira/ se no Zaire um corpo sem vida cai/ se na faixa de gaza um palestino do Hamas vai/ explodir o próprio corpo não é que seja louco/ é a paz que está em jogo infelizmente, sente/ um cheiro podre no ar/ é a paz da USA/ mortalha armada pra pobre que sofre a ONU/ há muito tempo perturba  o sono / de quem não compactua com os planos tiranos do Tio Sam/ novamente foi covarde/ Irã, Iraque, Hiroxima, Nagashaki/ Libano deus livra-nos/ do mal que se aproxima/ do mal que prega a paz e gera carnificina/ Não! Ditaduras, bombardeios/ novamente deus não veio/ salvar aquele velho de turbante/ que pros cus de olho azul do Ocidente é ignorante/amante da guerra, fantástico/ eu to com o povo palestino e não abro/ pra quem perdeu se filho acredite/ enfrentando armas pesadas com estilingue/  ato heroico e sublime, palmas/ pra burguesia fanatismo, calma/ palavras  são palavras , atitude é atitude/ Kofi Anan, renegada negritude/ negro, branco, índio,mulheres, homens/ uni-vos ô vitimas da fome

De pé o vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

O meu nordeste a muito tem pó é manchete/  no lixão do Irmã Dulce um pivete quase morto/ só pele e osso/ se arrastando pois o crânio é muito grande para o seu franzino corpo/ pareço louco, mas não sou louco/ meu mano nasceu coxo e movimenta-se com os mochos/ mas sua mãe ora e chora todo dia/ seu sonho de papel só chove covardia/ mundão em crise ponta a ponta na gangorra/ Cajapior, saca só que vida loka/ prêmio Nobel da miséria onde a paz agoniza/ e muitos se alimentam com manga e farinha/ aê turista bate a foto miséria absoluta/ só não ver quem não quer ou quem bebeu cicuta/ família ferrabraz, Sarney finge que esquece/Maranhão de ponta a ponta é pior que Bangladesh/ e febre amarela é meningite, é caxumba/ Ei povo sofrido, poder filha da ..../ mas não é isso que eu vejo na Mirante/ um mundo rosa pendurado num podre barbante/ imagem cínica, da moça cínica/ o gás sonífero maligno e mortífero/ televisível em alto novel é um absurdo/ mas o seu dinheiro estava lá nos malotes da Lunus/ a culpa é minha, é sua é nossa?/ infelizmente alguns se vendem ai é foda / mas, minha família é de rocha e não abre/ Quilombo Urbano faz  da guerra uma arte/ com banho de sangue , na benção do padre/ na cruz ou no punhal me diz então quem sabe/ quantos quilates vale a liberdade dos homens/ ô vitimas da fome, ô vitimas da fome/

De pé ô vitimas da fome/ de pé famélicos da terra/ da ideia a chama já consome/  a crosta bruta que assoterra/

Gíria Vermelha

O Gíria Vermelha é um dos grupos de rap que fazem parte do Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão “Quilombo Urbano” que em 2010 completou 20 anos de existência. O Gíria Vermelha, por sua vez, foi formado em 2002, mas dois de seus membros, Hertz e Verck, são remanescentes dos grupos mais antigos que se formaram no interior do Quilombo Urbano. Na sua atual formação, além de Rosenverck Estrela Santos (Verck), 33 anos, e Hertz da Conceição Dias (Hertz), 39 anos, o grupo conta ainda com a participação da reconhecida cantora de MPB do Maranhão, Luciana Pinheiro, 38 anos.

Na sua filosofia política está claramente presente uma posição que combina a luta de classe com a de raça. Na perspectiva de negação do “sistema fonográfico burguês” (Hip Hop Militante) o discurso rimado do grupo aponta para construção de uma alternativa de esquerda para arte de um modo geral, uma arte que seja engajada na lutas sociais e em defesa da juventude de periferia “a arte pela arte pra nós é surda e muda/ não, não fede e não cheira/ pra periferia tem que ir pra lixeira”, conforme afirmam na música “Lutar é Preciso” um dos rap´s mais apreciado do grupo em diversos estados do país.

Hertz e Verck são formados em história e pós-graduados em educação, já Luciana Pinheiro é formada em Farmácia. No entanto, uma das proezas do Gíria Vermelha é conseguir dialogar, de forma didática/ musical, com setores da classe trabalhadora tanto do universo letrado (das academias) como universo plebeu (das periferias) e do universal sindical.

Os temas tratados em suas letras são sínteses dessa visão que ultrapassam os muros das universidades e as fronteiras das periferias e favelas do Brasil. É possível encontrar em suas músicas, relatos e análises da vida dura de quem vive em meio ao barbarismo da “guerra interna” das periferias brasileiras, como nas canções “Tão Só” e “Liberdade Sem Fronteiras”, como na marcha revolucionária da canção “A Hora do Revide” ou no grito de solidariedade ao povo palestino presente nas canções “Lutar é preciso” e “Coração Destemido”.

O local e o internacional se entremeiam nas poesias cortantes de suas letras e nelas o orgulho negro e a denúncia das desigualdades raciais não são meros apêndices, mas questão de centro como consta na envolvente “Herói de Preto é Preto”, em fim raça e classe não se sobrepõe, mas se mostram como face de uma mesma moeda: a do sistema capitalismo.

Em setembro 2008 o Gíria Vermelha lançou seu primeiro trabalho intitulado “A HORA DO REVIDE” com 16 faixas, em janeiro de 2010 participaram da coletânea de em homenagem aos 20 anos de Quilombo Urbano com duas canções “O flautista e a Rataria” que retrata de maneira crítica e irônica a volta do grupo Sarney ao governo do Maranhão após a cassação do então governador Jackson Lago (PDT) e “ Coração de Mãe” que narra um conflito que resultou em diversas mortes na virada do ano de 2009 para 2010 no bairro da Liberdade, bairro de maioria negra em São Luís do Maranhão cujo ambiente é fonte de inspiração e de convivência social do grupo, haja visto que todos os seus três principais membros tem parentes nessa comunidade.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

CARTA-DENÚNCIA SOBRE A RETALIAÇÃO IMPOSTA PELA PM


CARTA-DENÚNCIA SOBRE A RETALIAÇÃO IMPOSTA PELA PM (COM MANDO DO GABINETE DE VC SABE QUEM) AO COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA E AO FÓRUM DE HIP HOP MSP.

Fala do Fórum de Hip Hop na Reunião da Subcomissão de Juventude da Câmara Municipal de São Paulo 29/09/2013



Antes de fazer qualquer comentário especificamente sobre o tal Plano Juventude Viva, sou obrigado, nesse primeiro momento, a declarar repúdio às últimas opções políticas dessa tal Casa do Povo. Não é apenas um repúdio pessoal, mas um repúdio que expressa o Fórum de Hip Hop, as demais 129 entidades que compõe a frente Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica e demais organizações dos Direitos Humanos, incluindo uma ampla gama de entidades que se colocam ao nosso lado na luta não só pela consolidação da democracia em nosso país, mas pela real emancipação de nossa Juventude Preta, Pobre e Periférica. Esta, ausente de reparação e imersa em uma lógica não distante daquela descrita no período de acumulação primitiva do capital, sustentáculo desta empresa colonial, para nós, longe de ser superada.
No dia 03/09/2013, 37 vereadores desta casa sujaram suas mãos de sangue ao aprovar a tal "Salva de Prata" às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). O proponente da homenagem e seu colega da famosa “Bancada da Bala” são os mesmos que estiveram ao lado de mais 323 PM’s que, sem as respectivas insígnias e crachás massacraram 111 presos no Carandiru há quase 21 anos atrás, 111? O Mano André do Rap disse em 2004 “[...] Vários companheiros foram mutilados pelos cachorros, um deles teve os testículos arrancados, centenas foram triturados no caminhão de lixo [...]”. Esses ninguém contou...

No dia 17/09/2012
Os vereadores aprovaram a concessão da Medalha Anchieta e do Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo ao capitão da PM Dimas Mecca Sampaio. Pior, só 5 vereadores votaram contra. Ele recebeu um diploma e uma medalha justamente por participar da Operação Castelinho onde, segundo o MP os PM’s; “todos previamente ajustados com identidade de propósitos e unidade de desígnios, agindo por motivo fútil, mediante meio do qual resultou perigo comum e valendo-se de emboscada e dissimulação, recursos que dificultaram a defesa dos ofendidos, mataram mediante disparos de armas de fogo.” Assassinaram mais 12 dos nossos. O pedido de votação nominal não aconteceu como nas três tentativas de votação da homenagem à Rota, pois houve acordo para não trancar a pauta.
No dia 26/08 a Câmara Municipal de São Paulo realizou sessão solene para homenagear os 29 policiais militares feridos durante as manifestações de junho nas ruas de São Paulo, promovidas pelo Movimento Passe Livre. É bom lembrar que mais de 200 pessoas foi presas nessas manifestações, o número de feridos entre civis a Secretaria de Segurança pública nem ao menos sabe dizer. Que cerimônia é realizada aos militantes que são reprimidos por exercerem seu livre direito de manifestação?

Para completar temos tramitando aqui o PROJETO DE LEI 0100002/2013
“Proíbe a utilização de vias públicas, praças, parques e jardins e demais logradouros públicos para realização de bailes funks, ou de quaisquer eventos musicais não autorizados e dá outras providências” e a nova obra-prima da Bancada da Bala que visa proibir a utilização de mascaras em manifestações. Tanto essa como aquela, provada na primeira votação com ampla maioria, é expressão daquilo que os movimentos sociais já vinham falando, a Câmara Municipal, não diferente dos demais espaços do exercício político da cidade e do Estado, está militarizada.

Certamente a homenagem ao Desembargador que autorizou a reintegração do Pinheirinho em São José dos Campos vai entrar em pauta...

Isso é reflexo de um desenvolvimento tresloucado. Só isso prá entender como os Capitães do Mato podem chegar ao poder político direto sobre a sociedade.
Que fique registrado, estamos de luto...
Bom, com o tempo que resta, vou trazer um pouco da pequena aproximação que o Fórum, mas também o Comitê vem tendo com o Plano. Pelo pouco que disse antes, é evidente a horrível conjuntura de nossa Cidade para o Movimento Social. Há quase 1 ano eu quase que só conto corpos. O PSDB de São Paulo, não é o mesmo das Alagoas, mas não é só ai que está à disputa de valores e da concepção do programa, ela está em cada palmo institucional da Cidade. Nesse sentido, qual Estado? Ou, Qual ideia no Estado e na Sociedade Civil pode agir conjuntamente para avançarmos com esse Plano? Esse é o ponto de partida, vamos fazer de baixo para cima? Se vamos, é importante ter em mente que isso exige um maior papel aos Movimentos Sociais. Os articuladores locais precisam ter em mente não só isso, mas também o debate racial que permeia toda a construção do Plano. Não só falo do ENJUNE, a qual não estive presente e admito conhecer pouco, mas da história desta pauta que o livro-denúncia de Abdias Nascimento em fins da década de 1970 é um bom exemplo... A Coordenadoria de Juventude e a Secretaria de Igualdade Racial precisam fazer mais do que replicar a concepção do Plano imprimida pelo Governo Federal, é necessário se envolver mais, produzir coisa nova, o site mesmo é muito pobre de informações, é muito vago “Direitos Humanos”, “Prevenção da Violência Contra a Juventude Negra”. Andei olhando algumas informações indiretas sobre o Plano em Alagoas e admito que, aparentemente, reconhecemos melhor essa violência aqui, mas ainda vejo esses setores do governo muito preocupados com articulações internas do que as na base.

Não é de hoje que os Movimentos Sociais, principalmente os Populares, reivindicam a infraestrutura e demais direitos ao Estado, disputando ele... O que é novo, o que não podemos perder, é o corte racial claro que o Plano trás. Trata-se de um reconhecimento, de certa maneira modesto, mas evidente de que somos nós, pela nossa cor, que sofremos mais, logo o Genocídio, por uma opção de nossa burguesia, a mais atrasada do país.
Não acho que seja uma questão de fazer pura e simplesmente o estado chegar, isso pode se dar das piores madeiras possíveis, vide as UPP’s. Mas sim uma oportunidade de aproveitar o enraizamento dos Movimentos Sociais e não apenas apostar em sua capacidade de monitorar, mas de capitanear esse processo. Sabemos que o individualismo, a fragmentação social, a submissão e a desmobilização política são pilares centrais dos valores culturais inseridos pelo neoliberalismo nas sociedades modernas. Logo, é importante reconhecer que não estamos imunes neste processo. Dos partidos aos “coletivos horizontais” o conflito entre o individual e universal se perpetua, a autocrítica permanente teve ser o instrumento mais fomentado durante o processo que se abre em nosso horizonte. Não dá prá achar que a sociedade civil não é permeada por esses processos, é por ai que fica mais claro o protagonismo que os Movimentos Sociais se faz necessário. Porém, minha questão é, vamos ou não vamos lutar para pautar o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica? Até quando vamos ficar na zona de conforto?
Não é possível dar mais nenhum passo sem a clareza da realidade concreta colocada, mas isso é impossível sem pessoas que possam agir nessa realidade. O Plano como infraestrutura de organização é o que é capaz de transformar as demandas em conquistas concretas através de suas práticas próprias de reivindicação. A conclusão é simples, os territórios só serão transformados, no sentido de mudar a realidade de espaços onde a morte é impressa em negrito, com o fortalecimento das práticas dos Movimentos Populares locais. De que maneira um Plano municipal irá dar conta da violência da PM e seus grupos de extermínio? Não irá, mas para os Movimentos não há normativas que o algemem, ou não deveria ter ao menos, eles podem explorar alternativas e os articuladores devem ter isso em mente.
Vejam, já temos 19.470 prisões efetuadas esse ano, a Civil matou 4 até agora e a PM 37, aumentou desde nossa última consulta, isso só pra falar dos tais “Autos de Resistência”, já que nem informar a cor de quem morre a Secretaria de Segurança Pública faz. Ai a prefeitura nem consegue chegar, é por essas e outras que não devemos perder a base, ou seja, jovem negro como protagonista através das práticas que os Movimentos vêm forjando com o tempo. Meu ponto de vista hoje é o de que o Núcleo Territorial deve ser priorizado no processo, não só porque trabalho com a perspectiva de protagonismo dos Movimentos (e não é das ONGs que me refiro aqui, e sim aos Movimentos de base Popular), mas porque é uma maneira mais do que necessária de disputar com esse Estado que ai está, palmo a palmo, uma sociedade civil que naturaliza o projeto Genocida em voga. Por isso também que temos uma Audiência no dia 28/10, é justamente para dizer que não vamos recuar agora, queremos o fim da Operação Delegada (que ainda está no plano diretor, lugar que o Plano Juventude Viva não esta), assim como queremos a imediata implementação do da Lei n°400/2003 que institui o Programa Estação Juventude regional no município. Queremos acesso ao que realmente ocorre com novos jovens pretos quando são resgatados pelo SAMU em operações da PM. Queremos romper com todos os obstáculos que brecam a vida desses jovens. Não dá para esquecer que a mesma prefeitura que pauta o Juventude Viva também chamou o CHOQUE para desalojar as famílias do Itajaí no Grajaú/ZS

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Miguel Angelo – Fórum de Hip Hop MSP

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Projeto de Decreto Legislativo 06/2013 para homenagear a ROTA‏

C  O  M  U  N  I  C  A  D  O

Boa tarde, pessoal!
acho de extrema importância, essa divulgação hoje, por volta amanhã as 15 hs tentarão,
 NOVAMENTE, votar, a Homenagem Salva de Prata à Rota. Proposta do Cel.Telhada.
Na 1ª eramos 6, na 2ª, 16 e nesta 3ª pretendemos ser mais de 50 pessoas,com  faixa:
"DESMILITARIZAR AS POLÍCIAS", "CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA"
importante,estarmos AMANHÃ com um número acima de 50 na galeria, eles tentarão APROVAR
o projeto do vereador Telhada, eles não conseguiram os 37s votos, faltou 1 voto. ATENÇÃO:::
entrar direto para a Galeria e sentarmos nas cadeiras (sem alarde),  se preciso for, no momento
certo e oportuno, nos manifestaremos.

FAVOR REPASSAR E CONVIDAR SEUS COLEGAS E ENTIDADES.
Por favor, tentem divulgar em redes sociais, nos coletivos etc.


EVENTO NO FACEBOOK
Ato contra a salva de prata em homenagem â Ronda Tobias de Aguiar.

Descrição do Evento:

Nessa terça feira vai à plenário a votação da Salva de Prata à ROTA. Para barrar esse absurdo teremos que nos mobilizar e marcar presença antes e durante a votação, que é nominal. Há grandes chances de aprovação caso não exista pressão popular.

Segue o Manifesto do Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica:

"Srs. vereadores e sras. vereadoras da Câmara Municipal de São Paulo, estamos indignados!

O Projeto de Decreto Legislativo 6/2013, proposto pelo vereador Coronel Telhada (PSDB), que pretende homenagear a Ronda Tobias de Aguiar com uma ‘Salva de Prata’ contou com a adesão de 36 dos 55 vereadores da Câmara Municipal de São Paulo em primeira votação. Passou pela Comissão de Constituição de Justiça e também foi aprovado, mais recentemente, pela Comissão de Educação, Cultura e Esportes. É escandaloso que um símbolo do desrespeito aos direitos humanos, da ação brutal e ineficiente da polícia seja objeto de honrarias, ao custo do bolso da população.

Após a proposta repercutir na imprensa e redes sociais a justificativa do projeto – que fazia a apologia à ação violenta da ROTA durante a ditadura militar - teria sido alterada por um texto mais ameno. No entanto, qual seria uma explicação plausível para qualquer tipo de honraria a uma corporação que esteve na invasão do Carandiru e foi responsável por um punhado das 111 execuções? Qual seria a justificativa para uma polícia que recebeu o nome de "Batalhão de Caçadores” e que é conhecida pela estrema truculência e por ações ilegais denunciadas inclusive pelo premiado jornalista Caco Barcellos no seu livro ‘Rota 66’??

A alta letalidade policial, como demonstram estudos e especialistas em segurança pública é ineficiente no objetivo de conter a violência e é uma expressão da selvageria institucionalizada, financiada pela população. Em especial, as principais vítimas da violência policial são os jovens negros e moradores das periferias, como aponta o Mapa da Violência (2011/2012).

Leia o trecho do livro trecho do livro Rota 66:

“O resultado do confronto do nosso Banco de Dados com os arquivos da Justiça Civil revela que 65 por cento das vítimas da PM que conseguimos identificar eram inocentes. Havíamos levado ao cartório de distribuição criminal as fichas com o nome de 3.846 pessoas mortas em supostos tiroteios com a polícia. Fora as cerca de trezentas fichas devolvidas sem informações, os funcionários nos entregaram dois outros pacotes que continham o resultado mais esperado por mim desde o início da investigação. Em um deles se encontravam as 1.220 fichas das pessoas já arroladas em processos criminais. O outro, no entanto, abrigava um volume ainda maior de fichas. Eram os nomes de 2.303 pessoas que nunca estiveram envolvidas em crimes no município de São Paulo. Um total que representa quase o dobro em relação ao número de vítimas que eram criminosas! Prova estarrecedora de que, de cada dez pessoas mortas pelos policiais militares, menos de quatro tiveram participação em algum crime. Mais de seis tinham o passado limpo. Suas fichas nos foram devolvidas com um carimbo de duas palavras: nada consta.”

Assim como fez o jornalista Caco Barcellos após a publicação do livro, o seu colega André Caramante teve que sair em 2012 do país - após ameaças à sua vida - após denunciar a violência policial, evidenciando que se trata de um problema grave e atual. A existência de grupos de extermínio, embora negada pelo Comando da PM paulista, vem sendo amplamente reconhecida, inclusive pelo Ex-Delegado Geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro Lima, que afirmou haver indícios, segundo investigações, da sua existência.

As pessoas estão com medo e demandam aos seus representantes maior segurança. No entanto, não é isso que o policiamento ostensivo, baseado na truculência, deu à nossa população ao longo de tantos anos. O que esse tipo de polícia vem conseguindo mostrar é que a alta letalidade policial tende a vitimar inocentes e é incapaz de combater a criminalidade. Vende a ideia de pacificar, mas espalha o terror em comunidades, especialmente as mais pobres, cujos cidadãos têm dificuldade de acessar a justiça ou a imprensa. Sabemos muito bem a que vem servindo a Ronda Tobias de Aguiar- ROTA. Uma corporação que merece ser lembrada não pela Salva de Prata, mas pela chuva de balas que há décadas é lançada contra a população paulistana, alçando candidaturas sob o custo da vida de pessoas inocentes.

Por isso, vereadores e vereadoras, estamos e estaremos atentos ao posicionamento de vossas excelências em relação ao PDL 06/2013. Acreditamos firmemente nos valores democráticos e humanos e temos a certeza que serão capazes de corrigir os rumos que essa matéria vem tomando. Temos a convicção que a Casa tem um trabalho importante a fazer e não aceitará retrocessos, prestando-se a exaltar a ditadura militar, o Massacre do Carandiru e a violência institucionalizada.

GRUPO TORTURA NUNCA MAIS E COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA"

Para mandar emails pedindo o voto contrário: policeneto@camara.sp.gov.br, julianacardosopt@camara.sp.gov.br, vereadoralfredinho@camara.sp.gov.br, contato@florianopesaro.com.br, joseamerico@camara.sp.gov.br, nabil@nabil.org.br, miltonleite@camara.sp.gov.br, tripoli@camara.sp.gov.br, arselino@tatto.com.br, andrea@andreamatarazzo.com.br, toninhovespoli@camara.sp.gov.br, jairtatto@camara.sp.gov.br, senival.pt@ig.com.br, gvmcovas@camara.sp.gov.br, marcoaureliocunha@camara.sp.gov.br, reisvereador13651@gmail.com, natalini@camara.sp.gov.br,afriedenbach@camara.sp.gov.br, contato@vereadorgoulart.com.br, jmadeira@r7.com, ota@camara.sp.gov.br, abouanni@uol.com.br, alessandroguedes@camara.sp.gov.br, adilsonamadeu@camara.sp.gov.br, afriedenbach@camara.sp.gov.br, vereadoracr@terra.com.br, atiliofrancisco@camara.sp.gov.br, vereadorclaudinho@uol.com.br, davidsoares@camara.sp.gov.br, vereador.predemilson@camara.sp.gov.br, edirsales@edirsales.com.br, contato@eduardotuma.com.br, gilsonbarreto@camara.sp.gov.br, policeneto@camara.sp.gov.br, julianacardosopt@camara.sp.gov.br, vereadormarquito@camara.sp.gov.br, martacosta@camara.sp.gov.br, noeminonato@camara.sp.gov.br, orlando.silva@camara.sp.gov.br, paulofiorilo@camara.sp.gov.br, paulofrange@camara.sp.gov.br, reisvereador13651@gmail.com, ricardoyoung@camara.sp.gov.br, sandratadeu@camara.sp.gov.br, vavadotransporte@camara.sp.gov.br, wadihm@camara.sp.gov.br, sandratadeu@camara.sp.gov.br , arselino@tatto.com.br, falecomigo@aureliomiguel.com.br, daltonsilvano@camara.sp.gov.br, jeanmadeira@camara.sp.gov.br, vereador@toninhopaiva.com.br, vereadornelorodolfo@camara.sp.gov.br, nomura@camara.sp.gov.br, gilsonbarreto@camara.sp.gov.br, calvo@camara.sp.gov.br, contato@eduardotuma.com.br
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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Coleção História Geral da África em português (PDF)

Download gratuito (somente na versão em português)


Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.



Volume I: Metodologia e Pré-História da África (PDF, 8.8 Mb) > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190249POR.pdf






Volume III: África do século VII ao XI  >
http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190251POR.pdf



Volume IV: África do século XII ao XVI > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190252POR.pdf



Volume V: África do século XVI ao XVIII > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190253POR.pdf



Volume VI: África do século XIX à década de 1880 > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190254POR.pdf



Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935  > http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001902/190255POR.pdf





terça-feira, 30 de julho de 2013

Contradições do Desenvolvimento: algumas considerações sobre o plano Juventude Viva no Estado das Alagoas.

Contradições do Desenvolvimento: algumas considerações sobre o plano Juventude Viva no Estado das Alagoas.

“Seja bem vindo a um lugar que deus esqueceu;
Seja bem vindo a um capítulo da história que o demônio escreveu;
Os personagens aqui não são heróis não;
Na nossa história estão no cemitério ou na detenção;
Ou no meio do mato se transformando em carniça;
Com vários tiros no corpo, esperando o IML que virá um dia;
To com o passado na mente e eu me lembro;
De cadáveres ensanguentados, fulano sentando o dedo;
“Inúmeros enterros, quantos no IML por migalhas...”.
                                                          
    Facção Central - Um Lugar Em Decomposição








O Juventude Viva é um plano, ou seja, é o resultado de um acúmulo de projetos, pesquisas e demais papeis que diagnosticaram um determinado problema; os jovens negros são o maior alvo da violência no período atual (devemos considerar que todo esse acúmulo surge de um determinado ponto no tempo, e quando se diz “período atual” estamos dizendo apenas que o plano não visa corrigir um problema latente em toda a história do país, mas apenas minimizar uma sequela que para a governo federal, por assim dizer, não assume ser histórica, mas pontual ao menos oficialmente).

       O plano apresenta que o jovem negro, com idade entre 15 e 29 anos, é o principal alvo da violência tanto física como simbólica, principalmente na esfera institucional, e se propõe a combater esse quadro através de uma articulação local permeada por uma intervenção estatal no território com a oferta de equipamentos de cultura e demais serviços públicos de toda ordem que são desenhados de acordo com a realidade de cada território. Textualmente, é inovador e bem avançado no sentido de reconhecer, com limitações naturais que dizem respeito à produção geracional do racismo, o lócus a qual esse jovem negro de baixa escolaridade está exposto. Podemos dizer que é um plano típico das demandas da atual conformação político-social do país, dialogando com o rearranjo eleitoral do pós 2002 (chegada de Lula ao poder, levando em conta a alternativa da burguesia e do capital internacional que apostaram no PT como aparelho burocrático gerencial do Estado brasileiro e no consequente bloqueio a luta de classes que tal conjuntura geraria), o reformismo conservador e a permeabilidade que setores antes excluídos politicamente que passam a disputar com a burocracia cutista e petista pela concepção das políticas sociais.
      

            O exposto acima serve apenas para seguirmos daqui tendo uma ideia mínima do que se supõe quando pensamos em plano. Ideia mínima, pois não é nenhuma novidade que até isso é negligenciado pela imprensa capitalista quando vende a desinformação como informação. De qualquer maneira, a concepção quanto ao que viria ser o Juventude Viva esta em disputa e não pretendo  aqui trabalhar com a ideia de que ele é um só onde quer que esteja.

            No segundo semestre de 2012, o governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho (PSDB) se reuniu em Brasília com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e com a Secretaria-geral da presidência. Alagoas foi o primeiro estado a implantar o Juventude Viva, sendo visto como uma espécie de enclave para o Brasil Mais Seguro, esse último, um plano que, mesclado entre outros com o Juventude Viva, iria nortear o Programa Nacional de Segurança Pública.

            Interessante nesses encontros intersetoriais é como cada secretaria vive de defender a sua existência. Quando o problema é violência, por exemplo, o discurso é tipo assim;

Secretaria da Cultura – A violência deve ser enfrentada com esporte, lazer, educação, saúde e cultura.

Secretaria do Estado da Mulher (essa é bem interessante, pois é também da Cidadania e dos Direitos Humanos)- A violência deve ser enfrentada com esporte, lazer, educação e saúde focando a mulher.

Secretaria da Defesa Social - A violência deve ser enfrentada com esporte, lazer, educação e saúde focando a assistência social.

            Funciona assim da micro à macropolítica, mas na macro costuma ser um efeito direto de uma pressão de base eleitoral – “fragmentação da sociedade contemporânea” - e de conjuntura econômica do capital, pois esse rearranjo que é promovido entra e saí governo não altera nada que não seja a concepção da implantação de uma política, importante quando falamos de Juventude Viva, mas inútil do ponto de vista da luta de classes.

            Bom, neste encontro referido acima, Vilela afirma que o Alagoas tem problemas sérios com a violência em decorrência da taxa de pobreza absoluta que atinge metade da população, enxergando o problema como basicamente socioeconômico. É através não só da ação policial, mas também através do trabalho social, educação, saúde e esportes que essas pessoas irão adentrar as portas da cidadania, são suas colocações.

            Apesar de reconhecer a intersetorialidade do programa (o fato de estar ali já fala um pouco sobre isso) ressaltou que estava atendendo um pedido da presidenta Dilma, que também foi quem o convenceu a implantar o Brasil Mais Seguro. Imagino que Dilma usou uma técnica típica do que alguns chamam de lulismo; “Antes ter, apesar das contradições, do que não ter”, o que soa bem do ponto de vista de quem deseja uma ação prá ontem quanto à situação atual, mas que por outro lado nada mais é que a expressão das necessidades matérias do PT em se manter no poder em um momento onde setores da própria burguesia digladiam pelo mesmo deixando translúcido o avanço das contradições do regime burguês. Mas o que vem a ser política para o que chamam de “o outro projeto para o Brasil”? O que viria a ser política para os tucanos? Quem não faz ideia do que é a política, na sua forma oficial, para o PSDB, aqui vai uma dica;

“A política, como meu pai, o ‘Velho Menestrel das Alagoas’, o velho Teotônio Vilela apregoava, ela é a política como um instrumento. Uma ferramenta para promover o bem comum, do contrário é politicagem. E o PSDB existe para fazer essa política, assim que o presidente Fernando Henrique fez no Brasil, assim que os governadores que o PSDB tem elegido por todo esse país, entre eles, Aécio Neves em Minas Gerais. Mudando uma história para melhor; de gestão, de organização, dos serviços sociais. É o Estado, em parceria com a sociedade, construindo um futuro comum”.
                                                                                              Teotônio Vilela Filho (PSDB)

            Vilela é presidente de seu partido e um aparente fã da retórica. Sabemos dos fatos, que tudo o que foi dito acima é anos luz da realidade. Talvez a única informação relevante, não por isso inédita, é que Aécio Neves sai contra Dilma na corrida eleitoral do ano que vem.

Até aqui, vimos que nesse pequeno fragmento do contexto onde habita a disputa por um plano ou política nada foi dito sobre seu objeto, ou seja, o negro jovem que perfaz o perfil que mais paga a conta da violência. Muito pelo contrário, Alagoas tem um fascitoide burocrata filho de outro que era um autêntico dono de fazenda, membro da UDN depois da ARENA e estrategicamente do MDB no pós-ditadura civil-militar (contradições nítidas em “Menestrel das Alagoas” de Milton Nascimento). Deixemos as querelas e vamos olhar o Alagoas por dentro das Alagoas.


Alagoas mata negro a rodo. Em 2010, das 2.286 vítimas da violência, 81% eram negras, o que corresponde a taxa de 80, 5 por 100 mil habitantes, um índice três vezes maior que o do país (lembrando que aquela altura o Brasil era o quinto colocado no ranking por essa taxa sem o corte étnico/racial). A maioria, do sexo masculino, com idade entre 15 e 29 anos. A cada um branco morto, morriam 18 negros (1.700%), 26 se pegarmos apenas a cidade de Maceió. Nas Alagoas é onde morrem mais negros, mas curiosamente é onde morrem menos brancos.

E como esses jovens negros morrem? Por arma de fogo na maioria das vezes, 200% (2000 - 2010) foi o crescimento da incidência fazendo esse corte entre as mortes por causas externas, que é o que se trata aqui. Passou de 9° para 1° nesse ranking nacional com um taxa global de 55.3 para cada 100 mil habitantes. Não tenham dúvidas quanto a forma em que se enquadra a arma de fogo, homicídios.

Em 2011 a taxa de mortalidade se mantém maior entre os jovens, mantendo homicídios por arma de fogo como causa principal com a taxa ainda maior que a do ano anterior, ou seja, manteve sua posição no ranking. Os municípios mais problemáticos são; Arapiraca, Maceió, Marechal Deodoro, Pilar, Rio Largo e São Miguel dos Campos com uma taxa pouco superior a 100 para cada 100 mil habitantes, ou seja, quase 10 vezes acima do que a OMS chama de limiar da epidemia de violência (acima de 10 para cada 100 mil habitantes). Se realizarmos um corte étnico/racial aqui, teremos 200 para cada 100 mil habitantes, só contando jovens negros. Logo, entre 2002 – 2011, a taxa de homicídios entre brancos caiu 30,8% e entre negros subiu 212,9%. Lembre-se do que coloquei acima, morrem cada vez mais negros e cada vez menos brancos nas Alagoas.

Aparentemente a Secretaria de Estado da Defesa Social não curte dizer qual a cor de quem tá morrendo, apesar disso, pode-se trabalhar com o mínimo mesmo. O relatório 2012 mostram 1.644 mortes por arma de fogo culminando em uma taxa de 52.3 para cada 100 mil habitantes, um leve recuo aparente. Digo aparente, pois para essa Secretaria de Defesa Social essas pessoas são apenas nome, nome da mãe, idade, causa, cidade, bairro e mês, ou seja, no máximo metade de uma folha A4, sabe lá as circunstâncias de tais mortes quanto mais seu número real. Das 1.644 mortes, 1.238 está na faixa etária entre 15 e 29 anos sendo as ocorrências distribuídas entre: arma de fogo (PAF), arma branca, espancamento, asfixia, arma de fogo + arma branca, esganadura, queimadura, estrangulação, não identificado, sem informação e outra que não consegui identificar “pardo”, todos entrando no critério de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI). Portando temos uma taxa de 139 para cada 100 mil habitantes nessa faixa etária. Apesar da carência de informações, o relatório Relação de Vítimas de Crimes Violentos e Intencionais-Janeiro a Novembro de 2012, é bem desanimador. Para fechar vamos para 2013.
Usando a mesma base, podemos encontrar 779 mortes por PAF, no período de janeiro a maio, o que representa 83.73% dos CVLI. De todas CVLI, 95.02% ocorreram em pessoas do sexo masculino e em 54.49% atingiu a faixa-etária entre 18 e 29 anos (esse critério de faixa etária é interno da policia, por isso não é do entre 15 e 29 anos utilizado até agora), logo já estamos com uma taxa de 106 para cada 100 mil habitantes nessa faixa etária.
“(...) através não só da ação policial” disse o governador Teotônio Vilela. Tão só é o que os números dizem.
Segundo o deputado federal Paulão (PT-AL), os focos do Juventude Viva é o analfabetismo, qualificação de mão de obra, acesso ao mercado de trabalho, microcrédito na zona rural e programas preventivos para a questão do crack. Descreveu bem a articulação no alto escalão: a Secretaria de Juventude - vinculada à presidência da república - é quem coordena o programa através de uma articulação interministerial com educação, saúde, assistência social, trabalho e seppir. Nem o negro, antes petista, Paulão focou com vontade na questão do jovem negro por outro lado. Só garantiu as benesses do cargo com a propaganda interminável do governo federal que fez “o milagre dos peixes” com a ativação do consumo pelo microcrédito e todo o pacote das políticas a toque de caixa que eles vivem de decorar. Porém o que nos interessa é saber o que muda, mesmo que cedo para saber, em Maceió, Arapiraca, Marechal Deodoro e Rio Largo, é lá que o Juventude Viva está, ou deveria ao menos.

A cidade mais importante de Alagoas fechou o período descrito para 2013 (janeiro a maio) com uma redução muito sensível, sendo maior para o mês de janeiro e caindo exatas 20 mortes até maio (sensível, pois o mês de março superou a taxa dos dois anos anteriores quanto ao mês) totalizando 368 mortes (CVLI) no período, logo 2.44 por dia, ocorrendo preferencialmente aos sábados e domingos.  O perfil é o mesmo, 95.11% do sexo masculino e 53.53% na faixa etária entre 18 e 29 anos, 83.42% por PAF sendo que as ocorrências são em 48.10% dos casos em locais públicos e em 43.75% na casa ou nas imediações da casa da vítima. Apesar disso tudo a taxa de mortalidade por CVLI entre 18 e 29 anos caiu para 93 para cada 100 mil habitantes.

Considerada a segunda mais importante cidade do estado e vizinha da região metropolitana de Marechal Deodoro, Arapiraca obteve uma redução de apenas 12 mortes no período descrito acima. Com muitas oscilações computou 73 mortes (CVLI), sendo 80.82% por PAF, 56.16% em locais e vias públicas e 31.51% em casa ou imediações. Foram 0.48 mortes/dia com uma distribuição mais homogênea entre os dias da semana. 98.63% ocorreram entre o sexo masculino e em 52.05% (38) dos casos na faixa etária entre 18 e 29 anos, temos uma taxa de 77 mortes para cada 100 mil habitantes na faixa etária referida. Do ponto de vista quantitativo, a situação ainda é aguda e a cidade tende a não superar, em tempo, o quadro.

Pegando todas as faixas etárias e trabalhando com inferências justificadas com o perfil das cidades citadas teríamos 30 mortes para cada 100 mil habitantes (21 mortes no período) em Rio Largo e 53 mortes para cada 100 mil habitantes em Marechal Deodoro (25 mortes no período).

Reconhecendo a pobreza de qualquer análise qualitativa que poderíamos fazer com os números acima para o Juventude Viva, fica no ar saber até que ponto o plano pode avançar em um momento em que o país insiste na política macroeconômica do modelo neoliberal e aprofunda cada vez mais suas contradições internas. Cabe ao Movimento Social buscar conectar cada realidade particular concreta, ou seja, suas formações sociais, estrutura econômica, estrutura ideológica, ideias predominantes nas massas, estruturas de poder e suas contradições internas com o plano Juventude Viva no sentido de utiliza-lo como combustível às lutas que inevitavelmente acompanharão às contradições deste novo período. Mas focar cada território não significa colocar a cabeça dentro da terra como um avestruz para encontrar respostas, mas se atentar para articulação nacional e internacional a qual o território de insere.    


 MIGUEL ANGELO