sábado, 27 de junho de 2015

DENÚNCIA- Chacina em Parelheiros: Repressão à Manifestação e Prisões Arbitrárias

Denúncia feita pelo Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica sobre a chacina de parelheiros, que ocorreu no dia 15/04/2015. Foi enviado em forma de documento e protocolado na Secretária Municipal de Direitos Humanos. Foi feita a denúncia na Ouvidoria das Polícias, na Defensoria Pública, na Secretaria Geral do Conselho Nacional do Ministério Público, no Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GECEP), foi prestado depoimento no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e na Corregedoria da Policia Militar.


Em memória das vítimas e toda solidariedade pros familiares


São Paulo, 27 de Abril de 2015


Solicita-se providências ao Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GECEP) no sentido de apuração e acompanhamento dos fatos ocorridos no distrito de Parelheiros, onde seis pessoas foram assassinadas por disparos de armas de fogo na noite do dia 15 de abril de 2015, sendo que as pessoas responsáveis por cometer essas execuções não foram identificadas. Quatro vitimas morreram na Vila Roschel e no dia 16 de Abril de 2015, no período da manhã, os moradores tentaram organizar uma manifestação pacifica que consistia em bloquear a Estrada Engenheiro Marsilac na altura do número 2000. A manifestação teve inicio de forma tímida, em torno de vinte pessoas participavam do ato que foi reprimido com violência extremamente abusiva por parte da Policia Militar de São Paulo gerando atropelamento, espancamentos, apreensões e prisões de forma arbitrária.


Da Chacina:

Por volta das 21 horas, dois carros passaram pela Rua Alice Bastide e na altura do numero 29 abriram fogo contra duas pessoas, Wlisses Dias Junior, 35 anos, e Marcondes (vulgo Índio). Em seguida foram em direção à Rua Sônia e na altura do número 7 dispararam novamente na direção de mais duas pessoas, Renato Dias da Silva, 40 anos, e seu filho Wendel Costa Dias, 19 anos. Todas as vítimas sofreram disparos na cabeça e nas partes vitais do corpo, isso evidencia que os atiradores possuíam vasta experiência no manuseio de armas de fogo. Acredita-se que Policiais Militares organizados em Grupos de Extermínio estejam envolvidos nessas mortes, pois no mesmo dia o PM Leonilson Figueiredo Filho foi assassinado na porta de sua casa com sua própria arma quando saía de manhã para ir a um curso. A chacina teria sido uma vingança pela morte do PM, no sentido de expor uma retaliação pública à sociedade, mesmo que as vítimas não tivessem algum envolvimento com a morte do PM. Neste caso as provas materiais e testemunha ocular são muito difíceis de aparecer, mas foi encontrada, mesmo depois do trabalho da pericia, uma cápsula de ponto 40 ao lado do local do crime na Rua Sônia. Os atiradores utilizavam “toucas ninjas” no rosto, fato típico de quem age em grupos de extermínios com base em outros casos já noticiados anteriormente na imprensa.

As outras duas vitimas, Cleiton Moura da Silva, 21 anos, e Rodrigo da Silva Costa, foram mortas na Rua Fonte Nova, 29 e tem uma vítima que sobreviveu e está internada, que segundo relatos dos moradores essa pessoa estaria escoltada pela policia, fato que também precisa de apuração.


Do trabalho da pericia:

Ao comparecer nos locais dos crimes, além de encontrar uma cápsula de ponto 40 vimos um total descaso com as pessoas que foram assassinadas e seus familiares, pois a simples ação de deixar os instrumentos de trabalho, como por exemplo, luvas, no local crime evidencia um baita descaso. (fotos em anexo)


Da tentativa de fazer uma manifestação pacifica:

No dia 16 de Abril por volta das 11 horas, os moradores já se prepararam para fazer um ato em repúdio às mortes ocorridas na noite anterior. O ato de cunho pacifico foi impedido antes mesmo de começar, pois policias militares chegaram em sete viaturas, desceram com arma em punho no sentido de impedir a livre manifestação dos moradores, amigos e familiares das vítimas. Quatro viaturas permaneceram no local, numa distancia de 300 metros. Por volta das 13 horas os manifestantes iniciaram o bloqueio na Estrada Engenheiro Marsilac, porém conseguiram bloquear apenas uma faixa, pois tinha em torno de vinte pessoas. 

Então, os veículos ainda circulavam quando em menos de dez minutos juntaram novamente as sete viaturas e repentinamente eles adentraram a Rua Sônia, todos em alta velocidade, foi quando atropelaram um menino que estava de bicicleta. Foi quando fizeram diversas abordagens já espancando os moradores e foi quando levaram quatro pessoas pra delegacia sem motivação nenhuma. Ninguém quebrou nada, ninguém danificou nada e muito menos atirou. Essa repressão foi totalmente no sentido de calar a população perante uma conduta que há suspeitas de envolvimento de policiais. Conseguimos acompanhar uma das abordagens onde a vítima estava com a boca sangrando devido aos golpes dos PMs e com escoriações no pescoço e na nuca. As viaturas responsáveis por essa abordagem possuem o número de M-50110 e M-50002. (Conforme fotos em anexo). Pedimos apuração e a responsabilização imediata das pessoas envolvidas nessa brutal repressão.


Das prisões arbitrárias:

Como não pudemos acompanhar as prisões tivemos que comparecer noutro dia no bairro para saber das pessoas que foram levadas para a delegacia. As quatro pessoas foram liberadas no mesmo dia, após horas de canseira, pois os policiais alegaram que os manifestantes atearam fogo em ônibus na via e estavam aguardando a presença dos motoristas para fazerem a denúncia na delegacia. Obviamente, ninguém apareceu até porque não houve dano em patrimônio algum. Pedimos a punição dos policiais que tentaram fraudar uma situação para incriminar os manifestantes.


Do toque de recolher:

A frequência da ronda da policia na região aumentou causando um toque de recolher “implícito”, pois perante os fatos apresentados e a sensação de abandono (por parte do poder público) que essas pessoas sentem não se pode confiar na policia que faz a segurança do local. Os moradores relataram também a presença de carros estranhos que não passavam por ali antes, por exemplo, um uno bege. Os moradores foram orientados em anotar as placas dos carros que para eles parecerem suspeitos. É preciso um acompanhamento especial nessa região e até pensar em intervenções envolvendo diversas instituições do poder público em conjunto com movimentos sociais e a sociedade civil.

Atenciosamente,

Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica


Fotos:























quarta-feira, 22 de abril de 2015

Única Chance - Entrevista Rap

Direto da zona sul de São Paulo, periferia! O Única Chance é mais um grupo que resiste, e que através de formação e informação age principalmente no Jd Clipper. Aqui eles falam sobre o grupo, sua origem e das intervenções com o Cine Gueto pelo coletivo Dona Maria Antifascista. E já adiantamos, o som é pedrada!



Spqvcnaove - Quem são os integrantes do Única Chance? É a mesma formação desde o inicio?

U.C: José Dellano (Vulgo Aliado treze) e Roberto Almeida (vulgo Bethoven), sim é a mesma formação !

Spqvcnaove - Qual é a quebrada de origem do grupo? Tem como vocês descreverem essa quebrada?


U.C: A nossa quebrada é um conjunto de favelas da zona sul de São
Paulo são: Jardim Iporanga, Jardim Presidente, Jordanopolis, Vila Clipper! É como todas as quebradas do Brasil, sofre com o baixo investimento da políticas publicas, sem educação, saúde, emprego, sobra crime e tráfico pra nóis; onde único órgão governista que chega até a favela é a Policia fascista.

Spqvcnaove - Qual o porquê do nome Única Chance?

U.C: A representatividade do nome “Única chance” reflete toda trajetória percorrida por nós, passamos por todas mazelas sociais que a periferia sofre: fome, falta de uma estrutura educacional, sobrevivemos ao tráfico de drogas e as investidas da policia. Com passagem por outros grupos de rap sem sucesso, fomos apresentados em uma noite fria, na base da garoa olhando na “bolinha do olho” no campo do Iporanga (caldeirão), foi firmada essa parceria e que seria nossa Única Chance em fazer Rap!

Spqvcnaove - De onde veio a necessidade ou a decisão de ser um Rapper?

U.CBethoven: tive o meu primeiro contato com o rap através do lixo! Na época eu tinha entre 11 e 12 anos estava trabalhando com
o meu pai, na casa do meu irmão no jardim Guarujá; quando saí da casa encontrei uma sacola com várias fitas misturadas com lixo doméstico (fiquei com medo do meu pai brigar comigo por estar mexendo no lixo), então, peguei umas três fitas e escondi no bolso depois guardei na minha mochila. Fomos pra casa no fim do dia, no dia seguinte meu pai foi trabalhar e minha mãe tinha saído (não me recordo o que ela ia fazer) liguei o toca fita e comecei escutar uma sessão de peso, “dinamite” não entendia nada, mas as batidas e as levadas me deixaram alucinado. Passado algum tempo na empolgação ainda da novidade jogando bola na rua de casa escuto um som que eu compreendia, pois relatava muito o dia a dia da periferia, era os Racionais mc's disco sobrevivendo no inferno! Anos depois conheci alguns rappers e tinha alguns grupos na quebrada acho que foi o momento que decidi ser Rapper também ao ver conhecidos no palco!
Aliado 13: o rap surgiu como brincadeira mesmo, quando Douglas, Everton (outros manos do Parque Alto) em uma roda de zoeira disse: "Você leva jeito pra fazer rap." No começo achei irônico, mas sempre ouvi bastante rap: Racionais, Facção Central, Rzo, Sabotage, etc. Comecei escrever e ler bastante. A partir desse start percebi: "tá aqui onde vou expressar todo meu ódio contido, onde vou fazer minha liberdade de expressão valer e gritar para todos os cantos, somos seres humanos e temos direitos e não só deveres."

Spqvcnaove - Como é a atividade desse grupo? Tem algo além das apresentações?


U.C: Somos um grupo novo, desde 2013 estamos realizando as atividades musicais, tivemos uma grande projeção no ano passado (2014), diversas apresentações desde CEUs, casas de culturas, quebradas, espaços libertários. Além das apresentações musicais, estamos engajados na luta pela sobrevivência da população periférica, e resgate da matriz africana na quebrada. Somos uns dos idealizadores do projeto “Cine Gueto”, que visa trazer o poder do questionamento aos nossos, resgate da historia negra, enfatizar que podemos produzir, e reproduzir cultura sem precisar esperar pelo Estado. A partir desse projeto foi criado o Coletivo Dona Maria Antifascista, que tem o propósito de difundir a cultura subversiva, através de ações voltada contra o extermínio da população negra e pobre, machismo, gênero, racismo, etc; pois, não adianta fazer todo um questionamento se não estamos realizando nada pra mudar nosso espaço, nossas favelas!

Spqvcnaove - Nessa caminhada no Rap, tem como vocês citarem mais sobre as fases do grupo? Se a perspectiva de hoje era a mesma de ontem? E o que vocês diriam do futuro?

U.C: Do inicio até os dias atuais foi aprendizagem, tanto na questão pessoal quanto na questão musical, todo esse ciclo deixa uma única certeza, a resistência e luta define nosso Time. A perspectiva do grupo continua a mesma, utilizar o rap como ferramenta de construção da mudança para periferia, mostrando que a voz das estática nunca serão silenciadas, como diz Marighela “Há os que têm vocação para escravo, mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.”(Rondó da Liberdade). O futuro é apenas somatório do passado, com a construção no presente, estamos para lançar nosso primeiro cd chamado “Made in Brazil”, estaremos produzindo a partir desse trabalho físico, Clipes, DVD e já temos projetos musicais a serem feitos, e a guerra continua seja na militância e na musical; pelo gueto para o gueto !

Spqvcnaove - O álbum "Made in Brazil" tem previsão de lançamento? O que podemos esperar desse trampo?


U.CComo foi dito inicialmente, será lançado via web e o lançamento físico estamos fazendo o planejamento de como por o trampo na rua para facilitar a compra do mesmo, promoções em algumas rádios do gênero, estamos estudando ainda. O que esperar desse trampo mano muita resistência, vivência e postura de rua.

Spqvcnaove - Como vocês avaliam o movimento hip hop na atualidade?

U.CMano pra avaliar aqui em termo nacional eu consigo ver uma transição de gerações onde podemos ver, por exemplo, o ilustre Nelson triunfo, um personagem histórico do movimento hip hop, há anos vem divulgando o hip hop, teve grande participação na abertura da casa de hip hop de diadema, local que realiza trabalho com as crianças/adolescentes onde os participantes dessas oficinas têm contato com todos os quatros elementos do hip hop. Mas agora na atualidade vejo um cenário inverso os elementos separados, cada um por si só vejo evento grande com o MC e o DJ, perdendo toda a essência e significado do movimento, esse ano participamos de um evento (mês do hip hop 2015) que contemplou e contextualizou o movimento em seus todos os elementos, evento esse que foi
construído todas as discussões no tema Genocídio da População Negra, Pobre e Periférica um dos maiores problemas das periferias brasileiras e mundiais; pra sintetizar: analisamos que o movimento está distante, que a preocupação de uma parcela não é a construção e difusão da cultura hip hop, motivo a capitalização “dos nossos” e os distanciamento dos movimentos negros do rap, após os “90”; e entenda tem muitos pelo movimento, pelo gueto só não tem a mesma visibilidade!

Spqvcnaove - Vocês acreditam que o Rap pode “resgatar” vidas?



U.CSim, com certeza. Temos diversos casos bem conhecidos de pessoas no rap nacional e internacional que cresceram ao lado da criminalidade (ou eram do crime) que ao colidir com o rap mudaram totalmente sua postura perante individuo, sociedade.

Spqvcnaove - Pra vocês cantar Rap é uma ação mais artística ou mais política?


U.CJá que não temos partido, não carregamos bandeira e não somos patriotas; cantar é uma ato político sim, você mostra que aos governantes que o estado/pais está ruim, que a política governamental é voltada apenas ao burguês, e você faz uma “outra campanha”, dando visibilidade a quem não tem foco, colocando o dedo na ferida e dialogando direto com seu povo!

Spqvcnaove Deixa um salve ae pros leitores.

U.CSalve quebradas, família Única Chance deixou um abraço de coração a todos e nunca desistam dos seus sonhos, somos do tamanho deles!!!

Página Única Chance no Facebook
https://www.facebook.com/unicachanceuc?fref=ts

Sound Cloud:
https://soundcloud.com/unicachance


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Entrevista com a MC Simony

"Totalmente contra a redução (da idade penal)! Querem negociar a vida dos nossos meninos e meninas, e isto é inegociável."

Confira a Música:
Mc Simony - Não Pago Simpatia
https://soundcloud.com/rapperpirata/simoni-nao-pago-simpatia
Facebook: https://www.facebook.com/simony.marques.50





Entrevista

Spqvcnaove - Quem é a Mc Simony?
SIMONY - A Mc Simony é uma mulher comum, mãe, rapper, e articuladora de alguns projetos.

Spqvcnaove - Como surgiu o Rap na sua vida? Desde quando atua como Mc?
SIMONY - O rap na minha vida surgiu desde muito nova nas festas de rap que existiam nas ruas da minha quebrada, Jd Guarani vila Brasilândia. Minha mãe me levava pra igreja eu chegava e corria pro rap, rs. Então me identificava com as letras porque falava da realidade que eu fazia parte. Já escrevia algumas coisas, mas aos 16 anos compus a minha primeira letra falando da realidade de uma adolescente na periferia, dali comecei a me apresentar nas quermesses do meu bairro sempre com o pensamento de passar a mensagem pra fortalecer assim como daquelas festas que eu ia e sempre a mensagem me fortalecia.

Spqvcnaove - Já fez ou faz parte de algum grupo de Rap?

SIMONY - Sim, já fiz. Participei do grupo Hulda, começamos como um projeto de hip hop e formamos o grupo de rap Hulda, fiquei na formação por três anos e foi muito loko.

Spqvcnaove - Por que cantar Rap?
SIMONY - O rap pra mim é a força das palavras transformada em canção, uma forma de luta uma cultura que é muito foda, que conta nossa história como realmente é. Sempre quando me perguntam isso faço questão de responder: "não escolhi o rap, mas ele me acolheu". Eu ouvia minha realidade nas letras de rap que ouvia.

Spqvcnaove - Como você vê o movimento Hip Hop na atualidade?
SIMONY - O movimento Hip Hop é forte um movimento das ruas, que unido tem uma missão pesada, porém acho que atualmente o movimento tem se dividido, e é ruim porque acredito que juntos somos mais fortes, os elementos do hip hop ainda continuam salvando muitas vidas, mas sempre vou preferir acreditar que juntos somos mais fortes, não tem preço ver os 4 elementos um fortalecendo o outro. Foda!

Spqvcnaove - Quais são suas influências musicais? O que te inspira a compor?
SIMONY - Minhas influências... sempre ouvi de tudo, lá em casa desde sempre meu pai ouvia Elis Regina, Clara Nunes, Michael Jackson, muito samba raiz, e sempre fui apaixonada por todos esses sons também, gosto desde Lauren Hill a James brown, de Dina Di ao fundo de quintal, ouço de tudo. Gosto de musica.

Spqvcnaove - Você tá trabalhando algum álbum? Poderia adiantar algo sobre?
SIMONY - Atualmente acabei de lançar a música do meu novo trampo solo. A musica "NÃO PAGO SIMPATIA", e agora estou pra lançar o clip da musica e trabalhando em um E.P com 4 musicas pra apresentar essa nova fase. Que vai se chamar "Recomeço".

Spqvcnaove - Quais projetos você participa?
SIMONY - O projeto que mais tenho atuado e me dedicado hoje é o projeto Oz guarani, onde realizo trabalhos com o hip hop junto com os adolescentes e as adolescentes da aldeia tekoa pyau. O hip hop é visto por eles como mais uma arma de luta, o que faço é simplesmente fortalecer isso.


Spqvcnaove - Você está próxima de grupos indígenas, o que você desenvolve com el@s? E quais são os mitos criados sobre a questão indígena?
SIMONY - Existem varias questões quando se trata dos grupos indígenas, só que estes grupos não são totalmente nativos tendo que se adaptar a algumas coisas por questões de sobrevivência, acaba sofrendo preconceito dentro do próprio bairro por serem indígenas. Isso acaba mexendo muito com a autoestima dos adolescentes meninos e meninas, que não se sentem parte dali, mas que também não podem hoje viver plenamente sua cultura. São articulados e suas lideranças é lição pra todos nós, porém precisamos unir forças pra lutar em prol dos nossos irmãos indígenas e o hip hop tem tido esse papel hoje dentro das aldeias. O hip hop é considerado por eles como mais uma arma de luta para que suas causas sejam ouvidas.


Spqvcnaove - Em março de 2015 tivemos no município de São Paulo o maior evento de Hip Hop no Brasil, O Mês do Hip Hop. Março esteve tomada pelo Hip Hop, um feito enorme pautado pelo próprio Hip Hop, qual a sensação de ter participado desse momento histórico?
SIMONY - Bom!! Saber que o hip hop uniu forças e conquistou uma parada assim já é muito gratificante, ver artistas de todas as zonas construindo juntos e realizando é muito loko, as discussões pautadas sobre o genocídio nos CEUs, oficinas, ver a semana de hip hop virar mês e ver que podemos mais, este ano poder participar desse bang não só como espectadora, mas como atuante, foi sem palavras!!!

Spqvcnaove - Qual é sua avaliação sobre o protagonismo das mulheres no Hip Hop?
SIMONY - O protagonismo da mulher no hip hop, estamos aí temos nosso espaço, o que precisamos é ocupa-lo, claro que tem muito ainda a se conquistar, mas como mulher hoje vejo caminhos pra gente buscar se unir e juntas fortalecer umas as outras, e continuar lutando para que a mulher não seja silenciada. A cena da mulher no rap e em todo hip hop está pesada, mas temos muito ainda pra buscar. 

Spqvcnaove - Quais são as maiores dificuldades enfrentadas numa sociedade machista?
SIMONY - A dificuldade é desde quando nascemos que querem nos transformar em boneca de porcelana, frágil e indefesa que precisaremos casar e construir família, isso ai já é pesado porque causa aquela falsa sensação que o sucesso da mulher só será conquistado estando nestes padrões. O tempo todo agressão as mulheres são normalizadas por uma sociedade que acha que mulher apanha porque gosta, e isso não é verdade!! Muitas são as coisas que passam uma mulher desde o abuso do olhar do cara pra sua bunda até a culpa de ser a responsável por ter sido estuprada, agredida e até mesmo morta. Isso precisa mudar!!!

Spqvcnaove - Os setores mais conservadores da sociedade apoiam a redução da maioridade penal, você acredita que é esse o caminho?
SIMONY - Jamais! Totalmente contra a redução, querem negociar a vida dos nossos meninos e meninas, e isto é inegociável. Acho extremamente importante, o movimento hip hop pautar sim a questão das mortes, alem da cultura a realidade é pesada demais e infelizmente se não for nós por nós quem esperamos que vá falar discutir por nós? Infelizmente não dá pra pensar só em shows e palcos enquanto as ruas são lavadas de sangue dos nossos pelas balas do estado genocida!

Spqvcnaove - Por que a morte do boy comove mais?
SIMONY - A morte do boy comove mais porque ele é boy. Porque normalizam a morte e o extermino de quem é da favela, acham que só uma classe tem direito de viver, e não é a nossa. Neguinho de favela pros coxinha sempre será suspeito, sempre!

Spqvcnaove - Você acredita em dias melhores para a população preta e para a população indígena?
SIMONY - Acredito que a conscientização e problematizcao das causas é um avanço, mas que de fato as forças precisam se unir, porque a única força que a gente vê de fato acontecer é a mão do Estado matando a rodo, a discriminação, o preconceito, o racismo ainda é muito forte, mas não passarão!!

Spqvcnaove - Pra finalizar, deixe um salve pra geral!
SIMONY - Agradeço o espaço, por a gente estar trocando essas ideias, e que possamos nos unir cada vez mais manos e manas nas lutas, no hip hop e na caminhada. Muita Luz pra tod@s!!!


Spqvcnaove - Valeu Simony, sucesso na luta!

sexta-feira, 3 de abril de 2015

PRETA - Poema

Preta

Preta é Razão
é o temor do feitor que se alimenta da opressão.
Preta é Divino
é pecado para o que lhe nega a humanidade, cristianismo.
Preta é Amor
como algo utópico, subversivo para a moral do homem branco.

A Razão é Preta
quem provou foi o Ocidente, o racista, burguês, escravagista e iluminista.
A Divindade é Preta
Obriga, Paulo de Tarso inventa. Agostinho aprofunda. É Tomás de Aquino que enxerta na bíblia a filosofia que o grego bola na África até que venha a Contra-Reforma abraçar a sanha capitalista que odeia pele preta.
Amar
é rompimento com o imposto que vem lhe apresentar quem é você, Preta! Chega a hora de dizer que é preta a história do ser.

(Miguel Angelo)

segunda-feira, 23 de março de 2015

Missa de sétimo dia da morte de Rogério dos Santos - morto pela pm

Ontem dia 22/03/2015 ocorreu a Procissão das Mães em homenagem ao jovem Rogério Luis dos Santos de 20 anos. Por volta das 18h30 iniciou-se o trajeto até a igreja da paz (Paróquia nossa senhora da paz na baixada do Glicério) onde ocorreu a missa de sétimo dia. Aproximadamente 150 pessoas compareceram fazendo uma marcha pacifica, apesar da pm cercar e fazer a ronda com armas em punho.

Rogério foi executado pela policia militar de São Paulo dentro de sua casa. O caso foi registrado e noticiado como se tivesse ocorrido troca de tiros, mas Rogério estava desarmado.
Mais um absurdo dessa pm que serve pra matar preto, pobre e periférico, e pra sondar as famílias com intuito de coibi-las.

Que a família tenha força para superar essa perda e tenha força pra lutar. Que a verdade seja dita.

Em Sp assim como no Brasil o luto nas periferias é diário e o genocídio é consolidado.

Foto: Rua dos Estudantes com familiares e vizinhança carregando velas nas mãos usando camiseta branca com a foto do Rogério.

Foto: Igreja da Paz, missa de sétimo dia da morte do Rogério dos Santos.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Proposta de GT na Comissão da Verdade "Mães de Maio"

No dia 12/03/2015 foi feita a proposta na reunião do conselho deliberativo da Comissão da Verdade Mães de Maio para que diversos movimentos trabalhem em conjunto nos eixos apresentados e seus sub-tópicos, podendo assim pautar na pesquisa e no relatório o racismo como elemento base e transversal.

COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA, POBRE E PERIFÉRICA

COMISSÃO DA VERDADE "MÃES DE MAIO"

Proposta:
O acúmulo dos trabalhos do Comitê até fins de 2012 culminou em 11 pontos, são eles; Encarceramento em Massa, Procedimentos em Hospitais que Recebem Feridos em Confronto, Indenizações e apoio a Familiares e Vítimas Fatais ou Não,  Apurações de Funcionamento de grupos de Extermínio, Acesso a Informações e Produção de Dados, Elucidações das Chacinas e Mortes e Punições Aos Possíveis Policiais Envolvidos, Comissão Mista Para Desenvolver Propostas Para a Redução da Letalidade, A Retirada dos Autos de Resistência, Garantia de Segurança para Denúncia, Autonomia do IML, Autonomia e Fortalecimento da Ouvidoria de Polícia.

Em fins de 2014 começou-se a discussão sobre a atualização dos pontos, supra, e no ato de 25 de janeiro de 2015 aprovamos a "soma" dos pontos em dois eixos; violência policial e encarceramento em massa. Apresentamos neste mesmo ato um panfleto com os dizeres; "Fim da Polícia e Fim dos Presídios".

Com isso propomos um GT conjunto com as demais organizações onde possamos a partir desses dois eixos trabalhar não só aspectos dos antigos 11 pontos mas também demais questões caras ao Comitê como Redução da Maioridade Penal e Fundação Casa.
Esperamos de nossa parte, que seja a oportunidade de pela primeira vez poder explicar esses eixos também pelo fenômeno do racismo, categoria essa marginal nas análises sobre o tema, garantir um relatório sem os preconceitos comuns a todos até agora onde esforça-se para humanizar a vida daqueles que foram mortos não pela humanidade inerente a eles, mas sim pela afirmação de que aquela pessoa não praticou ato "ilícito".

O preconceito acima citado nada mais é do que a mais pura expressão do racismo no seu significado ideológico que atribui no corpo biológico um padrão social "desviante", e essa afirmação serve de base para o reconhecimento de que esse fenômeno complexo é "uma programação social e ideológica a qual todos estão submetidos" nos dizeres da Bióloga Fernanda Lopes.

Alguns Pressupostos
* Não procedemos ruptura com o fenômeno ideológico do racismo. Esse dado permite a afirmação de que ele evoluiu junto com a sociedade, se revitalizou com as conjunturas históricas e segue fabricando e multiplicando vulnerabilidades. Ou seja, "a dicotomia racial branco versus preto que alicerçou a ordem escravocrata por três séculos" é atual "e persiste ativa na atualidade, resistindo à urbanização, à industrialização, às mudanças [no] regime político".

* Além dos privilégios relacionados a classe em nossa sociedade temos privilégios relacionados a "raça" tanto na relação com o Estado como na relação com os demais grupos sociais que procedem essas relações de privilégios no plano intersubjetivo.  

* A naturalização do quadro atual permite o discurso vigente de que o racismo produz uma hierarquia social que só diz respeito ao negro com seu "passado inequívoco e sem continuidade nos dias atuais".

Ponto a se retomar:

* Sugestão de alteração na composição dos gts quando ao coordenador: Proporemos que o pesquisador professor doutor não seja selecionado via edital mas sim indicado pelos membros dos gts constituídos.
Foto durante reunião da comissão - por Rafael Mellin

sábado, 7 de março de 2015

Luan Pereira Felix - Presente

Via Contra o Genocídio do Povo Preto

Hoje, 06/03/2015, faz um ano que o ainda adolescente Luan foi executado pela policia militar na zona leste de SP. Após suspeita de roubo Luan fugiu, entrou no estabelecimento do seu pai e se rendeu, tirou a camiseta para mostrar que estava desarmado, mas mesmo assim o Soldado Elton da Silva Bezerra e o policial Edson José Cremonesi Junior ordenaram para que todos saíssem do local e executaram o Luan com três tiros.

Os PMS alegaram que houve confronto, mas Luan estava desarmado. Esperaram mais de 40 minutos para prestar socorro, plantaram um revolver Taurus calibre 38 no local, além do mais os PMS dispensaram a SAMU (que compareceu no local) e levaram o Luan pro Hospital Municipal de São Mateus na própria viatura da PM, contrariando o teor da resolução SSP 05/2013, lá Luan apareceu com mais uma perfuração de tiro.

A direção dos tiros, que foram de cima pra baixo, aponta que realmente ele estava rendido. Só um lado da loja teve marcas de tiros, ou seja, grandes indícios de execução.
Após um ano o inquérito policial não foi finalizado, as testemunhas não foram intimadas, e a família continua sem auxilio. Na época foi feita a denúncia na ouvidoria da policia também. 

No dia 10 de março de 2015, se estivesse vivo, Luan completaria 17 anos, sua família sente muito sua falta. Luan está na memória! Que apareça a verdade! Que condenem os homicidas de farda!



Estamos de Luto! Estamos na Luta!