Um blog sobre os pensamentos e ações do grupo de rap Insurreição CGPP. Aqui se encontram os textos produzidos, notícias do grupo, letras de rap, clipes e traduções. Além de indicações de leituras, notas e trechos de textos literários, acadêmicos, políticos e de rap. Membro atual: Fuca
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Milton Nascimento - Em nome do Deus - Música
Em nome do Deus de todos os nomes
-Javé
Obatalá
Olorum
0ió.
Em nome do Deus, que a todos os Homens
nos faz da ternura e do pó.
Em nome do Pai, que fez toda carne,
a preta e a branca,
vermelhas no sangue.
Em nome do Filho, Jesus nosso irmão,
que nasceu moreno da raça de Abraão.
Em nome do Espírito Santo,
bandeira do canto
do negro folião.
Em nome do Deus verdadeiro
que amou-nos primeiro
sem dividição.
Em nome dos Três
que são um Deus só,
Aquele que era,
que é,
que será.
Em nome do Povo que espera,
na graça da Fé,
à voz do Xangô,
o Quilombo-Páscoa
que o libertará.
Em nome do Povo sempre deportado
pelas brancas velas no exílio dos mares;
marginalizado
nos cais, nas favelas
e até nos altares.
Em nome do Povo que fez seu Palmares,
que ainda fará Palmares de novo
-Palmares, Palmares, Palmares
do Povo!
http://letras.mus.br/milton-nascimento/1281136/
Texto por Dom Pedro Casaldáliga
Em nome de um deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs tem adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vem sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e à morte. No Brasil, na América, na Africa mãe, no Mundo.
Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barata os canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos desaculturados, clandestinos, inviáveis. (Enchem ainda de sub-gente -para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos- as cozinhas, os cais, os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes).
Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinaí Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome do Deus de todos os nomes", "que fez toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue".
Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exílio da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda.
E estão aí, de pé, quebrando muitos grilhões -em casa, na rua, no trabalho, na igreja, fulgurantemente negros ao sol da Luta e da Esperança.
Para escândalo de muitos fariseus e para alivio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa, diante de Deus e da História, esta máxima culpa cristã.
Na música do negro mineiro Milton e de seus cantores e tocadores, oferece ao único Senhor "o trabalho, as lutas, o martírio do Povo Negro de todos os tempos e de todos os lugares".
E garante ao Povo Negro a Paz conquistada da Libertação. Pelos rios de sangue negro, derramado no mundo. Pelo sangue do Homem "sem figura humana", sacrificado pelos poderes do Império e do Templo, mas ressuscitado da Ignomínia e da Morte pelo Espírito de Deus, seu Pai.
Como toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal: celebra a Morte e a Ressurreição do Povo Negro, na Morte e Ressurreição do Cristo.
Pedro Tierra e eu, já emprestamos nossa palavra, iradamente fraterna, à Causa dos Povos Indígenas, com a "Missa da Terra sem males", emprestamos agora a mesma palavra à Causa do Povo Negro, com esta Missa dos Quilombos.
Está na hora de cantar o Quilombo que vem vindo: está na hora de celebrar a Missa dos Quilombos, em rebelde esperança, com todos "os Negros da Africa, os Afros da América, os Negros do Mundo, na Aliança com todos os Pobres da Terra".
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Revolta dos Malês 24 e 25 de Janeiro de 1835, 179 anos da Insurreição
Revolta dos Malês 24 e 25 de Janeiro de 1835, 179 anos da Insurreição
“é aminhã, Luiza Mahin falô”
“é aminhã, Luiza Mahin falô”
Ouve-se nos cantos a
conspiração
vozes baixas sussurram
frases precisas
escorre nos becos a lâmina
das adages
Multidão tropeça nas pedras
Revolta
há revoada de pássaros
sussurro, sussurro:
“é amanhã, é amanhã.
Mahin falou,” é amanhã”
A cidade toda se prepara
Malês
bantus
geges
nagôs
vestes coloridas resguardam
esperanças
aguardam a luta
Arma-se a grande derrubada
branca
a luta é tramada na língua
dos Orixás
”‘é aminhã, é aminhã”
sussurram
Malês
bantus
geges
nagôs
Miriam Alves
Hauçás,
Nupes e outros povos islamizados tornaram-se comuns entre os escravos na Bahia,
especialmente a partir de volumosos desembarques de cativos de fala Ioruba no
século XIX. As origens desses
escravizados muçulmanos podem estar relacionadas ao contexto próprio das áreas
interioranas da Baía de Benin e à jihad do Xeque Usman dan Fordio (morto em
1817), fundador do Califado de Sokoto, promovendo o islamismo militante através
de sua cultura de leitura e escrita . Revoltas PELA TOMADA DE PODER foram
realizadas pelos Malês a partir de 1807 até 1935, constituídas sempre de uma
ampla rede que se comunicava com outros estados como o Rio de Janeiro
LUIZA
MAHIN foi trazida da Costa da Mina (Nagô de Nação), que foi o principal ponto
de partida de africanos escravizados durante o século XVIII e início do século
XIX. Quitandeira e escrava de ganho, Mahin NUNCA SE SUBMETEU AO CATIVEIRO e
vivia na condição de liberta na época da insurreição. “Pagã, pois sempre
recusou o batismo e a doutrina cristã” participou também da Sabinada no Rio
Janeiro em 1937 (movimento que proclama uma república provisória em repúdio ao
poder monárquico central) sendo deportada para África. Segundo seu filho,
Solano Trindade, era o último registro do qual tinha conhecimento sobre sua
mãe, da qual dizia ter a cor de um preto retinto e sem lustro, “tinha os dentes
alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa”, ERA
UMA REVOLUCIONÁRIA “impaciente, irrequieta e INCAPAZ DE CONFORMAR-SE COM SITUAÇÕES DE INJUSTIÇA”.
Dos
1500 pretos no processo revolucionário em 1837, 70 tombaram. Alguns foram
exilados, mortos ou escravizados pelo arbítrio dos tribunais brancos. Insurgiram-se
contra a sociedade baiana cristã e escravista em busca de poder político na
forma de cidadania e da libertação de nosso povo apontando um caminho, o da
INSURREIÇÃO.
Mahin é sinônimo de luta e
de resistência do povo preto
Minha Mãe
Era mui bela e formosa,
Era a mais linda pretinha,
Da adusta Líbia rainha,
E no Brasil pobre escrava!
Oh, que saudades que eu tenho
Dos seus mimosos carinhos,
Quando c‘os tenros filhinhos –
Ela sorrindo brincava.
Éramos dois — seus cuidados,
Sonhos de sua alma bela;
Ela a palmeira singela,
Na fulva areia nascida.
Nos roliços braços de ébano.
De amor o fruto apertava,
E à nossa boca juntava
Um beijo seu, que era a vida.
[...]
Os olhos negros, altivos,
Dois astros eram luzentes;
Eram estrelas cadentes
Por corpo humano sustidas.
Foram espelhos brilhantes
Da nossa vida primeira,
Foram a luz
derradeira
Das nossas crenças perdidas.
[...]
Tinha o coração de santa,
Era seu peito de Arcanjo,
Mais pura n‘alma que um Anjo,
Aos pés de seu Criador.
Se junto à cruz penitente,
A Deus orava contrita,
Tinha uma prece infinita
Como o dobrar do sineiro,
As lágrimas que brotavam,
Eram pérolas sentidas,
Dos lindos olhos vertidas
Na terra do cativeiro.
Solano Trindade
Leia também
LUIZA MAHIN:
UMA RAINHA AFRICANA NO BRASIL - Aline Najara
da Silva Gonçalves em http://www.institutobuzios.org.br/documentos/Luiza%20Mahin_Uma%20Rainha%20Africana%20noBrasil.pdf
LUIZA MAHIN ENTRE FICÇÃO E HISTÓRIA - - Aline Najara da
Silva Gonçalves em http://www.ppgel.uneb.br/wp/wp-content/uploads/2011/09/goncalves_aline.pdf
Luiza
Mahin: da carta autobiográfica de Luiz Gama ao romance
histórico de Pedro Calmon – - Aline
Najara da Silva Gonçalves em
Rebeliões
da Senzala – Clóvis Moura em
Assinar:
Postagens (Atom)