sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Meu preconceito contra os brancos

Será que tenho que ser cauteloso ao discutir o racismo no Brasil com as pessoas não negras?

Por Fuca


Ao debater esse assunto temos, muito comumente, divergências relativas à identidade. O padrão branco europeu, há tempos, vem sendo disseminado em nossas vidas desde a mais tenra idade, onde tivemos também uma política de miscigenação no intuito de embranquecer a população brasileira quebrando as barreiras para inserção no mundo dos brancos. O abrasileiramento é então a chave para aceitação do povo preto, sendo assim, a busca pela branquitude é sistematicamente angariada. A experiência própria nessa questão de morder a isca dos brancos ainda me faz crer que poucos escapam e que a maioria em dado momento da vida reproduziu a branquitude. A questão da raça negra agora passa a ser travestida em raça humana, nos afirmar como pessoas pretas e identificar nossos inimigos pode para alguns se tornar uma atitude preconceituosa, ou seja, racismo inverso. Stokely Carmichael (Kwame Ture) num trecho duma entrevista disse algo sobre o branco ser vitima de preconceito:

"Eu acho que o problema é que muitas pessoas na América pensam que o racismo é uma atitude. E isso é incentivado pelo sistema capitalista. Assim, eles pensam que o que as pessoas pensam é o que os torna um racista. O racismo não é uma atitude. "Se um homem branco quer me linchar, isso é problema dele. Se ele tem o poder de me linchar, aí esse problema é meu. O racismo não é uma questão de atitude, é uma questão de poder. "O racismo obtém sua energia a partir de capitalismo. Assim, se você é antirracista você deve ser anticapitalista. O poder para o racismo, o poder para o sexismo, vem do capitalismo, e não de uma atitude. "Você não pode ser racista sem energia. Você não pode ser um machista sem energia. Mesmo os homens que espancam suas esposas obter essa energia da sociedade que lhe permite, tolera-o, encoraja-o. Não se pode ser contra o racismo, não se pode ser contra o sexismo, a menos que um é contra o capitalismo".

Se formos às ruas e perguntar se o preconceito de cor existe, provavelmente teremos algumas pessoas dizendo que sim; se perguntarmos se elas têm esse preconceito teremos um não e teremos ainda uma condenação do preconceito como algo que é prejudicial pra quem o comete, não há empatia alguma com quem o sofre. A miscigenação traz um mito da democracia racial, como se vê ou tentam nos fazer ver é que existe hoje em dia certa harmonia entre as raças, como se isso interessasse para o povo preto, essa harmonia é migalha, o combate tem que ir mais a fundo, tem que atingir o RACISMO INSTITUCIONAL.

A negação da existência do racismo é interessante para os brancos que detém privilégios, e aos que aparentemente não se encaixam como privilegiados e dizem que o racismo não existe acabam “prestando o serviço” de reproduzir e blindar os acúmulos historicamente injustos dos brancos.

Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que é viver em favelas, não se alimentar bem, não ter educação, não ter direito a saúde e trabalhar nos cargos mais precarizados na lógica de escravos. Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares predestinados, que são as celas lotadas do sistema carcerário, a própria rua como moradia, ou covas rasas com caixões lacrados sem direito a velório. Nos colocam goela abaixo que trabalhando duro teremos sucesso, pura mentira! Se fosse verdade teríamos que ser donos de tudo, de tudo, porque o que vemos é quem não trabalha ter as riquezas concentradas.

Num sistema capitalista a classe menos favorecida é explorada. Com as pessoas negras além da exploração que é uma mesma raça te explorando, ocorre todo o processo de colonização e de coisificação, que é uma raça (branca) exercendo o poder de dominação sobre o povo preto. É algo sim mais profundo, não se deve igualar as desigualdades sociais com as desigualdades raciais. Parece que tendemos a aceitar concessões e colocar o pé no freio, parece que tendemos a aceitar as anestesias e nos contentar com pequenos “avanços”. Em meio a toda essa falta de estrutura e toda essa negação de direitos, não me privarei do direito de ter ódio do algoz e suas características, e se o ódio contra os brancos tem que ser justificado tenho motivos de sobra para isso.

(...) “O ‘dilema racial brasileiro’ é complicado. Não tanto por desempenharem os brancos e negros os papéis que deles se esperam de disfarçar ou negar o ‘preconceito de cor’ e a discriminação de cor, mas porque o único caminho aberto à mudança da situação racial depende da prosperidade gradativa, muito lenta e irregular dos negros. Sob esse aspecto, é fora de dúvida que o preconceito e a discriminação, nas formas que assumem no Brasil, contribuem mais para manter o modelo assimétrico das relações de raça do que para eliminá-lo.” (Florestan Fernandes).

Talvez esteja provado que essa problemática secular do racismo não deve ser uma luta somente das pessoas negras devida dimensão da coisa, mas o cuidado deve prevalecer para que não sejamos mais uma vez na história pautados pela classe dominante e que possamos unir forças contra o inimigo em comum. O meu preconceito contra os brancos visa atingir seus lucros, seus privilégios e seus padrões que foram impostos. Enquanto lutarmos para escapar das dominações, lutaremos contra os brancos e todas as instituições que os servem.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

3º Ato Contra o Genocídio do Povo Preto

Confirme presença: https://www.facebook.com/events/1542528749343910/?pnref=story

No próximo dia 25 de janeiro de 2015, domingo, o poder público, instituições de educação e cultura e a imprensa irão promover a comemoração de aniversário da maior cidade da América Latina: os 461 anos de construção de cidade de São Paulo. A festa, contudo, esconde uma verdade histórica, que é necessária denunciar, a política de genocídio em desenvolvimento.

O conceito de Genocídio significa o plano coordenado de ações objetivando a destruição dos alicerces fundamentais da vida de grupos nacionais com o fim de aniquilar uma população, segundo o judeu polonês Lemkin (1959), considerada inimigo do Estado ou da nação. Historicamente, genocídios justificaram-se sob o lema da defesa da identidade nacional, da raça, da religião, ou em razão de diferenças étnicas, políticas e sociais, como o genocídio cambojano (1975 e 1979), o genocídio em Ruanda (1994), o genocídio na Bósnia (1995), o genocídio na Guerra do Paraguai e o Holocausto Judeu (II Guerra Mundial).
E por que é possível dizer que há um genocídio no Brasil?
Não há dados nem relatos que demonstrem práticas de extermínio sistemáticas de descendentes de italianos, alemães, judeus e outros, no Brasil, por exemplo. Mas há, sim, uma realidade de constantes mortes de jovens nas periferias da cidade motivadas pelas ações da polícia (de farda ou em grupos de extermínio), e do crescente encarceramento dessa população, em razão, muitas vezes, de flagrantes forjados e da conduta arbitrária do Poder Judiciário, que decide quem é ou não é traficante.

A juventude preta, pobre e periférica é a principal vítima dos casos de homicídio do município, do Estado e do País. Chacinas e assassinatos promovidos por homens encapuzados em motos são cenas frequentes nas periferias de São Paulo. Todos os dias jovens são alvejados pela Polícia Militar em supostos confrontos sob a justificativa de combate ao tráfico de drogas.

Também outras instituições, como as de ensino superior, contribuem para promover formas de exclusão e não de garantia de direitos. Além da precariedade da vida, são a Letalidade Policial e o Encarceramento em Massa duas grandes estratégias de genocídio promovidas atualmente na cidade de São Paulo e pelos interessados em sua perpetuação.

Neste sentido, o Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica irá promover um ato no mesmo dia, para debater e denunciar tal realidade. O tema do ato é a denúncia dos ‘461 anos de genocídio’ e a comemoração dos 180 anos da revolução malê – uma importante rebelião ocorrida em janeiro de 1835, em Salvador, promovida por negros escravos ou libertos das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais haussas e nagôs, de origem islâmica. Essa revolta, contra a escravidão e a imposição do catolicismo, significou uma mudança nas formas de resistência, substituindo as estratégias de fugas, crimes contra feitores ou suicídio pela tomada do poder.

A concentração e as atividades do ato ocorrerão na praça da Sé a partir das 9h da manhã, com apresentação musical (RAP), poesias e falas de conscientização – o microfone estará aberto para quem quiser falar algo sobre o tema.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Ato - 461 ANOS DE GENOCÍDIO DO POVO PRETO, POBRE E PERIFÉRICO‏


No dia 25 de janeiro de 2015, aniversário da Cidade de São Paulo, acontecerá o 3º ato contra o genocídio do povo preto: 461 anos de genocídio, que será realizado na praça da sé em frente a Catedral. O ato começara a partir da 9 horas com panfletagem na missa e imediações, e logo após teremos diversas apresentações de Rap e microfone aberto para falas, poesias e demais manifestações. Essa é a terceira edição deste ato que ocorre desde 2013 e é organizado pelo Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica.

O aniversário da Cidade de São Paulo é o aniversário de uma estratégia genocida. Nada menos do que um dia para se celebrar a fundação de um colégio jesuíta que se justificava para aculturar os povos nativos. Ocorre que tal estratégia se volta para o povo preto de maneira diferente, não aculturar para incorporar, mas para destruir. Do projeto descrito por Abdias que preconizava aculturação por imposição da cultura eurocêntrica e extermínio físico via miscigenação convivemos hoje com uma etapa superior do processo, manutenção da não identidade de povo. A ideologia da democracia racial permitindo o sucesso de uma programação racista transversal nos induz a naturalização de todos os privilégios (branquitude) e de toda auto-negação (embranquecimento) a qual somos vítimas. A cidade que mais mata em um estado que concentra mais de 10% de todas as mortes do país, que mais prende em um estado que concentra quase 50% de todo o sistema carcerário, que mais vê passivelmente pessoas em condição de miserabilidade aumentar mais do que em todo país nos últimos dois anos certamente é também uma das Cidades que mais oprime a Juventude Preta, Pobre e Periférica.

180 Anos da Insurreição Malê!

Contamos com sua presença!

FIM DAS POLÍCIAS!


FIM DOS PRESÍDIOS!