Por Fuca
Ao debater esse assunto temos, muito
comumente, divergências relativas à identidade. O padrão branco europeu, há tempos,
vem sendo disseminado em nossas vidas desde a mais tenra idade, onde tivemos
também uma política de miscigenação no intuito de embranquecer a população
brasileira quebrando as barreiras para inserção no mundo dos brancos. O abrasileiramento
é então a chave para aceitação do povo preto, sendo assim, a busca pela
branquitude é sistematicamente angariada. A experiência própria nessa questão
de morder a isca dos brancos ainda me faz crer que poucos escapam e que a
maioria em dado momento da vida reproduziu a branquitude. A questão da raça
negra agora passa a ser travestida em raça humana, nos afirmar como pessoas
pretas e identificar nossos inimigos pode para alguns se tornar uma atitude
preconceituosa, ou seja, racismo inverso. Stokely Carmichael (Kwame Ture) num
trecho duma entrevista disse algo sobre o branco ser vitima de preconceito:
"Eu acho que o problema é que
muitas pessoas na América pensam que o racismo é uma atitude. E isso é
incentivado pelo sistema capitalista. Assim, eles pensam que o que as pessoas
pensam é o que os torna um racista. O racismo não é uma atitude. "Se um
homem branco quer me linchar, isso é problema dele. Se ele tem o poder de me
linchar, aí esse problema é meu. O racismo não é uma questão de atitude, é uma
questão de poder. "O racismo obtém sua energia a partir de capitalismo.
Assim, se você é antirracista você deve ser anticapitalista.
O poder para o racismo, o poder para o sexismo, vem do capitalismo, e não de uma
atitude. "Você não pode ser racista sem energia. Você não pode ser um
machista sem energia. Mesmo os homens que espancam suas esposas obter essa
energia da sociedade que lhe permite, tolera-o, encoraja-o. Não se pode ser
contra o racismo, não se pode ser contra o sexismo, a menos que um é contra o
capitalismo".
Se formos às ruas e perguntar se o
preconceito de cor existe, provavelmente teremos algumas pessoas dizendo que
sim; se perguntarmos se elas têm esse preconceito teremos um não e teremos
ainda uma condenação do preconceito como algo que é prejudicial pra quem o
comete, não há empatia alguma com quem o sofre. A miscigenação traz um mito da
democracia racial, como se vê ou tentam nos fazer ver é que existe hoje em dia certa
harmonia entre as raças, como se isso interessasse para o povo preto, essa
harmonia é migalha, o combate tem que ir mais a fundo, tem que atingir o RACISMO
INSTITUCIONAL.
A negação da existência do racismo é
interessante para os brancos que detém privilégios, e aos que aparentemente não
se encaixam como privilegiados e dizem que o racismo não existe acabam “prestando
o serviço” de reproduzir e blindar os acúmulos historicamente injustos dos
brancos.
Ao analisar, mesmo que
superficialmente, o Brasil de 2015, o povo preto continua com seus lugares
predestinados, que é viver em favelas, não se alimentar bem, não ter educação,
não ter direito a saúde e trabalhar nos cargos mais precarizados na lógica de
escravos. Ao analisar, mesmo que superficialmente, o Brasil de 2015, o povo
preto continua com seus lugares predestinados, que são as celas lotadas do
sistema carcerário, a própria rua como moradia, ou covas rasas com caixões
lacrados sem direito a velório. Nos colocam goela abaixo que trabalhando duro
teremos sucesso, pura mentira! Se fosse verdade teríamos que ser donos de tudo,
de tudo, porque o que vemos é quem não trabalha ter as riquezas concentradas.
Num sistema capitalista a classe
menos favorecida é explorada. Com as pessoas negras além da exploração que é
uma mesma raça te explorando, ocorre todo o processo de colonização e de
coisificação, que é uma raça (branca) exercendo o poder de dominação sobre o
povo preto. É algo sim mais profundo, não se deve igualar as desigualdades
sociais com as desigualdades raciais. Parece que tendemos a aceitar concessões
e colocar o pé no freio, parece que tendemos a aceitar as anestesias e nos
contentar com pequenos “avanços”. Em meio a toda essa falta de estrutura e toda
essa negação de direitos, não me privarei do direito de ter ódio do algoz e
suas características, e se o ódio contra os brancos tem que ser justificado
tenho motivos de sobra para isso.
(...) “O ‘dilema racial brasileiro’
é complicado. Não tanto por desempenharem os brancos e negros os papéis que
deles se esperam de disfarçar ou negar o ‘preconceito de cor’ e a
discriminação de cor, mas porque o único caminho aberto à mudança da situação
racial depende da prosperidade gradativa, muito lenta e irregular dos negros.
Sob esse aspecto, é fora de dúvida que o preconceito e a discriminação, nas
formas que assumem no Brasil, contribuem mais para manter o modelo assimétrico
das relações de raça do que para eliminá-lo.” (Florestan Fernandes).
Talvez esteja provado que essa
problemática secular do racismo não deve ser uma luta somente das pessoas
negras devida dimensão da coisa, mas o cuidado deve prevalecer para que não sejamos
mais uma vez na história pautados pela classe dominante e que possamos unir
forças contra o inimigo em comum. O meu preconceito contra os brancos visa atingir
seus lucros, seus privilégios e seus padrões que foram impostos. Enquanto
lutarmos para escapar das dominações, lutaremos contra os brancos e todas as
instituições que os servem.