Com base na leitura do
relatório Professores Excelentes (2014) do Banco Mundial acerca da melhoria na
aprendizagem dos estudantes da América Latina e Caribe, traço abaixo um breve
comentário sobre minha sensação pós leitura de tal manual, nota essa que se
atem ao reflexo de um cenário neoliberal na educação, abstraindo ainda (nessa
nota) uma leitura que contenha um viés racial e de gênero, que de fato existem.
É de causar no mínimo um
estranhamento ao relacionar e/ou enxergar as ações do Banco Mundial apenas pelo
viés do altruísmo despendido aos Países do chamado Terceiro Mundo. Se faz
necessário perpassar, mesmo que superficialmente, pelo contexto em que o Banco
Mundial foi criado e consolidado. É de suma importância, também, buscar revelar
algumas questões e consequências que estão imbricadas no pano de fundo deste
ato de ajudar, ao suposto estimulo de reduzir a pobreza, ou de se preocupar com
o desenvolvimento dos Países da América Latina e do Caribe, - para se utilizar
apenas de algumas falas que essa instituição gostaria que existisse ao se
avistar sua estrutura de forma rasa.
Para se chegar direto ao
ponto, baseando aqui na análise de Mike Davis em Planeta Favela, são justamente
essas ações do Banco Mundial em conjunto com o Fundo Monetário Internacional
(F.M.I) que culminam nas faltas de estruturas, aumento da pobreza, favelização,
e a precarização das condições de trabalho nos países do chamado terceiro
mundo. E por mais que a crítica de Davis não esteja voltada unicamente à
educação, é importante frisar que toda esta falta de estrutura e austeridade
imposta por estas instituições se consubstancia na precarização do sistema
educacional, direta ou indiretamente.
O Banco Mundial em conjunto
com o FMI ao intervirem na estrutura política dos países do terceiro mundo,
visam nitidamente implantar uma reestruturação neoliberal nas economias do
terceiro mundo, sobretudo nas economias urbanas, pois tais países se encontram
endividados devido os juros elevados que são cobrados como condição aos
empréstimos cedidos pelo Banco Mundial e FMI. (DAVIS, 2006:151). Ao prefaciar
Istvan Meszaros em A Educação Para Além
do Capital, Emir Sader revela em síntese o que representa o viés neoliberal
para educação.
“No reino do capital, a
educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do sistema público de
ensino, pressionado pelas demandas do capital e pelo esmagamento dos cortes de
recursos dos orçamentos públicos. Talvez nada exemplifique melhor o universo
instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se vende, tudo se compra”, “tudo
tem preço”, do que a mercantilização da educação. Uma sociedade que impede a
emancipação só pode transformar os espaços educacionais em shopping centers,
funcionais à sua lógica do consumo e do lucro. ” (Prefácio de Emir Sader, p.16)
É interessante notar,
em suma, que estes empréstimos são mais uma das reinvenções que o capital se
submete para conseguir manter seu constante acumulo, pois assim aufere a
imposição dos seus Planos de Ajuste Estrutural (PAE) agindo através do
desenvolvimento geográfico desigual que é um dos principais sustentáculos do
capitalismo. Toda a acumulação infinita de capital existe certamente de forma
combinada, é uma ação meticulosamente organizada, e isso reflete na maneira com
a qual este relatório do Banco Mundial tratou o sistema educacional, tanto na
parte estrutural quanto na parte regional.
Na estrutura buscou-se
personificar a educação no sentido de que o pleno êxito da escola estaria
puramente condicionado na produtividade de uma aula dos professores, tratando,
assim, o conhecimento e a educação como mercadoria. Portanto, a aula de cada
docente seria travestida em força de trabalho, que não deixa de ser uma
mercadoria no sistema capitalista em que o trabalhador deve vender para gerar a
mais-valia num produto, pois é basicamente a força de trabalho que transforma
dinheiro em capital.
No que tange à
regionalização proposta pelo relatório, ela se inspira na divisão feita pelo
Consenso de Washington, que foi outra recomendação de ode ao neoliberalismo na
América Latina e Caribe, tendo como orientação uma reforma fiscal, a abertura
de mercado, políticas de privatizações, dentre outras medidas. Há de se
perceber que tal relatório (Professores Excelentes) não foi desenvolvido para
outros países do terceiro mundo.
Vale lembrar que na
ótica de Davis, as crises desencadeadas entre as décadas de 70 e 80, no mundo
subdesenvolvido, foram mais devastadoras do que a Grande Depressão de 1929,
apenas para se ter uma dimensão do que os ajustes dessas instituições
alcançaram, ou seja, intensificaram a precariedade e a degradação em países que
já tinha passado outrora pela pilhagem e brutalidade das colonizações cometidas
pelos países imperialistas.
“Entre 1974 e 1975, o
Fundo Monetário Internacional, seguido pelo Banco Mundial, mudou o seu enfoque
dos países industriais desenvolvidos para o Terceiro Mundo, que cambaleava sob
o impacto dos preços cada vez mais altos do petróleo. Ao aumentar passo a passo
os seus empréstimos, o FMI ampliou aos poucos o alcance das ‘condicionalidades’
coercitivas e ‘ajustes estruturais’ que impunha aos países seus clientes. Como
enfatiza a economista Frances Stewart em importante estudo*, os ‘fatos exógenos
que precisavam de ajuste não foram atacados por essas instituições, os maiores
deles sendo a queda dos preços das commodities e os juros exorbitantes das
dívidas’, mas todas as políticas nacionais e todos os programas públicos foram
alvo de excisão. ” (DAVIS, 2006:156)
*Stewart,
Adjustment and Poverty, p.213
Fuca cgpp - 19