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terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Guia de Estudos Pretos Para Uma Educação Positiva -Baba Zak A. Kondo (pdf)

https://drive.google.com/file/d/1ynF46TSSlVqdDbRIFzfzp46313Q-JvWX/view?usp=sharing

Baba Zak A. Kondo - Guia de Estudos Pretos para uma Educação Positiva - (pdf aqui)

"Este ensaio argumenta que os estudantes pretos devem lutar para libertar as massas de nosso povo neste país no âmbito econômico, político, espiritual, cultural e social. Para fazer isso, no entanto, eles devem primeiro libertar suas mentes. Este ensaio ajuda nossos estudantes a libertar suas mentes. Além disso, identifica e define as responsabilidades e deveres dos estudantes pretos de hoje."



Este ensaio visa combater a deseducação dos estudantes pretos. A deseducação é definida neste texto como mulheres e homens pretos sendo ensinados a se odiar e/ou a se ver como brancos. Essas criaturas ou ‘Negroes’ são anormais, antinaturais, autodestrutivos e prejudiciais aos pretos em todo o mundo. Os ‘Negroes’ negam aos pretos o direito inalienável de serem únicos, bonitos, independentes e orgulhosos de nossa herança cultural.

Como estudante de ensino superior por vários anos, vi mais ‘Negroes’ do que gostaria de me lembrar. Meus encontros com esses ‘Negroes’ me levaram a trabalhar diligentemente para diminuir seu número neste país. Para fazer isso sistematicamente, devemos começar a educar nossos estudantes em casa enquanto eles são crianças e suas mentes ainda estão vivas e férteis. Além disso, devemos estabelecer escolas pretas independentes como a Ujamaa Shule, em Banneker City (Washington, D.C) e ter um papel ativo na tomada de decisões no sistema de escolas públicas neste país.

Para educar adequadamente nossos filhos, devemos ensiná-los sobre nossas raízes e culturas Afrikanas. Devemos ensiná-los a se amar, a se valorizar e a acreditar em si mesmos. Devemos incutir valores positivos em favor dos Afrikanos que enfatizem sinceridade, confiança, virtude, justiça, orgulho, coletividade, autodeterminação e condição de povo. Esses valores devem ser incorporados à educação de nossos filhos. Pais, educadores, líderes, acadêmicos, políticos, organizadores, pensadores sérios e empresários pretos devem cuidar para que essa incorporação seja realizada e concluída com sucesso.

Mas o que fazemos nesse ínterim com os estudantes pretos do ensino médio, da faculdade e de pós-graduação neste país? Devemos dar-lhes orientação adequada e encorajá-los a se tornarem irmãos e irmãs positivos e sérios. Somente irmãos e irmãs positivos e sérios podem fazer uma mudança qualitativa na vida dos pretos nos EUA e no exterior.

Este ensaio argumenta que os estudantes pretos devem lutar para libertar as massas de nosso povo neste país no âmbito econômico, político, espiritual, cultural e social. Para fazer isso, no entanto, eles devem primeiro libertar suas mentes. Este ensaio ajuda nossos estudantes a libertar suas mentes. Além disso, identifica e define as responsabilidades e deveres dos estudantes pretos de hoje.

A maioria dos brancos e seus satélites ‘Negroes’ acharão este ensaio desnecessário na melhor das hipóteses, e antibranco na pior. Nenhuma das constatações será precisa. A mentalidade doentia e a ação nojenta do preto “educado” neste país mais do que provam a necessidade de um ensaio dessa natureza. Chamar este ensaio de antibranco desvia completamente sua mensagem. Este ensaio é pró-preto, não antibranco. Os estudantes são encorajados a amar e a servir ao povo preto, não a odiar e prejudicar os brancos. Espero que vocês, estudantes pretos, aceitem este esforço com o espírito positivo e fraterno como o que se oferece.

Z.A.K.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

AGYEI AKOTO - Nacionalismo Afrikano: Teoria e Prática de uma Educação Afrikano-Centrada (pdf)

NACIONALISMO AFRIKANO: 

TEORIA E PRÁTICA DE UMA EDUCAÇÃO AFRIKANO-CENTRADA

KWAME AGYEI AKOTO

O livro traduzido está disponível no link abaixo (arquivo pdf).

https://drive.google.com/file/d/1VcrgZxnAxkO5JT7hYgonFHud5iDZZGMo/view?usp=sharing

Por Fuca, Insurreição Cgpp.

arquivo pdf (aqui)





Apresentação da edição de 1992, por MARIMBA ANI 

As formulações conceituais de Agyei Akoto têm o benefício de seus mais de 20 anos de experiência como Pan-Afrikanista Nacionalista. Como resultado, finalmente temos uma declaração evidente do paradigma Nacionalista Afrikano. Neste trabalho, ele delineia evidentemente o processo e a estratégia de Construção da Nação [Nacionalismo Afrikano] e sua relação inextricável com a educação Afrikano-centrada. 

Numa altura em que o nosso diálogo é determinado pelas definições da academia europeia e pelos meios de comunicação controlados pelos europeus, a perspectiva de Akoto é revigorante e autenticamente enfocada no Povo Afrikano. 

É evidente que ele não está se dirigindo aos não-Afrikanos, nem é prejudicado pela dependência de concepções eurocêntricas. Ele escreve com autoridade e compromisso com o povo Afrikano, livre da ambivalência ideológica que tem atormentado os Afrikanos na diáspora e no continente por muitas décadas. 

Dra. MARIMBA ANI (Dona Richards) 
Autora de Let the Circle Be Unbroken
Professora no departamento de Estudos Pretos e Porto-riquenhos 
Hunter College (Faculdade Hunter)


Trecho do conteúdo.

(...) Alguns anos atrás, nas últimas semanas de setembro de 1989, o professor John H. Clarke transmitiu uma mensagem à Sociedade Ankobia, de Washington, D.C., dizendo que independentemente do que possamos empreender, “se não se trata da construção da nação [Afrikana], então não se trata de nada.” É uma declaração que pode ser tomada literalmente. 

A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é a aplicação consciente e focada dos recursos, energias e conhecimentos coletivos de nosso povo na tarefa de libertação, e de desenvolver o espaço físico e psíquico que identificarmos como nosso. Envolve o desenvolvimento de comportamentos, valores, linguagens, instituições e estruturas físicas que elucidem nossa história e cultura, que possam projetar e concretizar o presente e assegurar a futura identidade e independência da nação. 

A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é a projeção deliberada, intensamente dirigida, focada, e enérgica da cultura nacional e da identidade coletiva. A construção da nação (Nacionalismo Afrikano) é ocasionada pela geração e liberação de enormes quantidades de energia, não muito diferente de uma gravidez e um novo nascimento, ou de uma tempestade de primavera e o novo cultivo que se segue. 

Com qualquer uma das analogias, é fundamental que os termos e condições que ocasionam o surgimento dessa nova realidade sejam claros e inequívocos. Essas condições, termos e linguagem descritiva devem ser definidos pelos criadores dessa nova realidade. Essa nova realidade, para nós, é uma consciência nacional e cultural renovada. 

O surgimento desta nova consciência, esta realidade renovada e Afrikano-centrada, marca o renascimento da personalidade Afrikana e a revitalização da nacionalidade Afrikana. Isso é a construção da nação (Nacionalismo Afrikano). (...)



sábado, 17 de outubro de 2020

[Atualizado] John Henrik Clarke - Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano - (PDF)

https://drive.google.com/file/d/1wwqL9M40gfPWPsRpA0fpI6hdu8pUDw_W/view?usp=sharing

Dr. John Henrik Clarke 

Cristóvão Colombo e o Holocausto Afrikano: escravidão e a ascensão do capitalismo europeu.  

(Livro pdf)

Este trabalho curto, mas oportuno, dá ao leitor um senso da urgência da história africana e mundial. Como muitos dos estudiosos Africano-centrados que foram professores do Dr. Clarke e sua fonte de inspiração, ele não apenas fornece análises e descrições precisas da história, mas também prescreve o que os povos africanos devem fazer para criar um novo futuro. 

"Jamais perdoar nem esquecer"

Traduzido por Carlos R. Rocha (Fuca)
Insurreição CGPP, 2020.
atualizado em 2021

trecho;

,,,"Lembro-me de que, quando menino em uma fazenda, ficava batendo a manteiga até chegar ao topo. E apurando as batidas no leite eu perguntei à minha bisavó: “Qual das batidas traz a manteiga?” “Todos elas meu filho”, disse ela. “Mas qual?” “Não apenas uma, mas todos elas.”

Temos que perceber que não é o esforço de qualquer um de nós que levará à liberdade, mas o trabalho coletivo de todos nós que somos sinceros. Isso resultará na liberdade e na libertação de nosso próprio povo e na doutrinação de nossos próprios filhos para que eles, por sua vez, assumam a responsabilidade e criem uma era em que você nunca terá que pedir liberdade novamente, porque nunca haverá qualquer necessidade para pedir isso. Desse dia em diante, sempre a teremos. Esta é a nossa missão e, por sua vez, o legado que precisamos deixar para nossos filhos e os ainda mais belos que irão nascer.

Nossa escravidão, o naufrágio e a ruína dos Estados soberanos da África começou no início da Era Colonial. Nossa escravidão e o estupro dos serviços de nossos países ajudaram a lançar as bases do capitalismo atual. Mais uma vez, os europeus desperdiçaram sua riqueza em guerras e conflitos estúpidos que poderiam ter sido evitados. Eles já provaram que têm uma missão em mente, independentemente de religião, política ou afiliação cultural e que essa missão é dominar o mundo e todos os seus recursos por todos os meios necessários. A nova justificativa para esse domínio é agora chamada de Nova Ordem Mundial. Todos os africanos e outros povos não europeus deveriam estar em alerta, porque uma nova forma de escravidão poderia ser mais brutal e mais sofisticada do que a escravidão da era de Cristóvão Colombo.

Os africanos e outros povos não europeus devem planejar e criar estratégias para uma Nova Ordem Mundial distintamente própria, que será desenvolvida por eles, para eles. A nossa missão não deve ser conquistar a Europa, mas conter a Europa dentro das suas fronteiras e fazer saber que tudo o que a Europa quiser de outras partes do mundo pode ser obtido através de um comércio honroso.

Se entendermos nossa missão, acho que tomaremos consciência de que estamos em posição de dar ao mundo uma nova humanidade que trará à existência um novo mundo de segurança e respeito para todos os povos.

As civilizações africanas do rio Nilo deram ao mundo sua primeira humanidade, seus primeiros sistemas de crenças, seu primeiro pensamento social e sua primeira filosofia. Com a restauração da nossa autoconfiança, precisamos dizer a nós mesmos: “Se fizemos uma vez, podemos fazer de novo” ".




domingo, 27 de setembro de 2020

Ler “A Destruição da Civilização Preta” mudou minha vida

Original por Asad Malik do Pan-African Alliance.

https://www.panafricanalliance.com/destruction-of-black-civilization-summary/

Tradução por Carlos R. Rocha (Fuca) 

https://insurreicaocgpp.blogspot.com.br

 (Arquivo em pdf aqui)

O livro A Destruição da Civilização Preta escrito pelo Dr. Chancellor Williams é um dos livros mais poderosos que já li.

De fato, aprendi mais sobre a história do Povo Preto em 14 capítulos do que em 12 anos de escola pública.

Pergunte a qualquer membro influente de nossa comunidade e eles concordarão que este livro é a porta de entrada para a Consciência Preta.

Quando olhamos para o mundo hoje, seríamos perdoados por acreditar que o Povo Preto não tinha história antes da chegada dos brancos.

Isso porque, quando olhamos para a África, vemos um continente que está atrás do resto do mundo. Na África Subsaariana, os registros arqueológicos são difíceis de encontrar mesmo na melhor das hipóteses.

E o único lugar no continente com um tesouro de conhecimento antigo - Kemet - é ocupado por árabes.

Mas nem sempre foi assim.

Nós sabemos, a partir (do livro) A Destruição da Civilização Preta, que muito do registro arqueológico africano foi destruído por invasores brancos. Sabemos que a civilização preta foi interrompida por ondas de invasão, guerra inter-racial e escravidão. E também sabemos que os fundadores de Kemet eram tão pretos quanto o céu noturno.

Mas, como o Dr. Chanceler Williams pergunta, “o que aconteceu? Como essa Civilização Preta tão avançada foi tão completamente destruída que seu povo, em nossos tempos e por alguns séculos passados, se viu não apenas atrás dos outros povos do mundo, mas também, a cor de sua pele um sinal de inferioridade, má sorte e a insígnia do escravo, quer seja cativo ou livre?”

A Destruição da Civilização Preta foi a resposta do Dr. Williams para essas questões.

Biografia do Dr Chancellor Williams.

“Mas ele teve que dominar a história, pois ser ignorante da história é simplesmente ser ignorante. Em seu estudo da história mundial, preste atenção especial à instituição da escravidão através dos tempos e das forças por trás dela. Estude a escravidão branca também, disse a si mesmo, pois os brancos fingem esquecer que eles próprios foram escravos e tentam usar a escravidão preta como prova de inferioridade racial.” - The Second Agreement With Hell, [O segundo acordo com o inferno] por Chancellor Williams.

Chancellor James Williams (nascido em 22 de dezembro de 1898) era filho de um ex-escravizado. Ele nasceu durante um período na história americana em que a escravidão e a Guerra Civil estavam frescas na memória de muitos homens e mulheres pretos.

Seu interesse pela história africana começou cedo na vida. Em suas próprias palavras: “Eu li tudo de Booker T. Washington, DuBois e o The African Abroad de William Henry Ferry. E eu não estava lendo apenas por diversão, eu estava procurando por respostas. E em minha própria mente participei de debates entre Booker T. e DuBois. Fiquei do lado de Booker T.”

Para escapar da pobreza e do racismo do Sul [EUA], muitos pretos começaram a migrar para o Norte em busca de novas oportunidades. Lugares como Nova York, Chicago e Washington D.C. se tornaram novas mecas pretas que deram origem a movimentos políticos, culturais e intelectuais.

Chancellor Williams foi arrebatado por estes tempos e saiu de sua cidade natal na Carolina do Sul para Washington D.C. aos 12 anos de idade.

Em 1930, ele se formou na famosa e historicamente preta Universidade de Howard, onde fez um mestrado em história pela Howard. Mais tarde, ele concluiu um doutorado em sociologia na Universidade Americana.

Ele trabalharia como professor pelo resto de sua vida, ao mesmo tempo em que fundou uma padaria e construiu outras fontes de renda para si e para sua extensa família.

Quando o Dr. Chanceler Williams fez sua transição de volta ao reino ancestral em 7 de dezembro de 1992, ele deixou 14 filhos, 36 netos, 38 bisnetos e 10 tataranetos.

 

Outros livros do Chancellor Williams são:

The Rebirth of African Civilization (O RENASCIMENTO DA CIVILIZAÇÃO AFRICANA)

Have You Been to the River?

The Second Agreement with Hell

 

Mas de todas as obras intelectuais que o Dr. Williams produziu (e ele produziu muitas) nenhuma foi tão revolucionária e inspiradora quanto A Destruição da Civilização Preta.

Seu livro é amplamente lido em prisões, escolas domésticas e em organizações comunitárias. Até mesmo membros de nossa organização são obrigados a ler A Destruição da Civilização Preta como parte de nosso currículo fundamental.

Resumo e Resenha.

“‘O que aconteceu com o Povo Preto da Suméria?’ Perguntou o viajante ao mais velho, ‘pois registros antigos mostram que o povo da Suméria era Preto. O que aconteceu com eles?’ ‘Ah’, o velho suspirou. ‘Eles perderam a sua história, então eles morreram.’” - Citação de abertura de A Destruição da Civilização Preta.

Eu cresci acreditando que "o Egito" era um país árabe. Eu fui ensinado que os gregos ou algum grupo asiático de pele clara construíram as pirâmides. Minha deseducação foi confirmada quando assisti filmes como Cleópatra - o filme de 1963 com um elenco todo branco.

Então eu li A Destruição da Civilização Preta.

Este livro me ensinou a verdade: que os pretos de Kemet (terminologia apropriada ao Egito) construíram e lideraram as maiores dinastias da história. E quando invasores brancos e árabes invadiram Kemet, os pretos do Nilo foram empurrados para o Sul.

O Dr. Williams escreve que “os árabes estavam se espalhando e penetrando nas fronteiras dos estados pretos, anteriormente proibidas. Eles puderam, dessa forma, entrar em território preto do qual os brancos eram barrados. Esses árabes confundiram os líderes africanos em todos os lugares, aumentaram as tensões e guerras tribais entre eles e ajudaram poderosamente a destruir a independência dos estados africanos”.

Apesar de empurrados para o Sul, continuamos a construir impérios como Kush, Axum, e preservamos a prática de construção de pirâmides em toda a Núbia.

De tempos em tempos, o mesmo tema se desenrolou: fomos deslocados por invasores, nos reestabelecemos e reconstruímos, e fomos novamente deslocados.

A Profecia Mossi.

As únicas circunstâncias em que as nações africanas foram capazes de se proteger e se preservar foi quando a Grande Profecia Mossi foi respeitada:

Em suma, os Mossis viam o islamismo e o cristianismo como veículos de conquista do homem branco. Foi a única nação preta a tempo de ver isso. De fato, a profecia Mossi afirmava que quando o primeiro homem branco aparecesse na terra, a nação morreria.

A política Mossi de excluir brancos ou limitar rigidamente o número e controlar suas atividades no país ilumina ainda mais uma experiência africana que já é tão evidente que não deveria exigir luz adicional: Todos os Estados africanos que começaram a se desenvolver novamente após a grande dispersão, reconstrução e expansão, foram prósperos e avançaram como Estados pretos, desde que eles barrassem os brancos agressivos e severos de seus países; e sua destruição tornou-se certa somente quando eles aliviaram essa política e deixaram os asiáticos e europeus entrarem.

Sobre isso, o registro é totalmente claro.

Os Mossis mantiveram-se firmes na religião africana e nas instituições africanas e sobreviveram por mais de quinhentos anos, até o século 20.

Libertação e Organização.

“[A libertação de nossas mentes é a] Tarefa Número Um. A atual visão confusa do povo africano é o resultado de séculos de aculturação caucasiana, um processo bastante natural onde um povo está sob o domínio econômico, político e social de outro povo.” Citação de A Destruição da Civilização Preta.

Nos capítulos The Liberation of Our Minds [A Libertação de Nossas Mentes] e Organizing a Race for Action [Organizando uma Raça para Ação], Chancellor Williams mostra como os brancos, árabes e cada vez mais asiáticos podem controlar facilmente as comunidades pretas suprimidas, mesmo depois de libertadas.

Isto se consegue usando manipulação mental, religião e, o mais importante, ideologias.

Na página 331 está escrito que “As ideologias e o sistema de valores dos opressores se tornam inconscientemente parte dos oprimidos, mesmo quando o resultado é demonstrativamente contra eles mesmos (os oprimidos). Mas todos os outros povos oprimidos, indianos, chineses ou japoneses, foram capazes de manter obstinadamente seu próprio orgulho racial e herança cultural como o último recurso para a sobrevivência como povo. Ao contrário dos pretos, eles nunca foram completamente separados da sustentação dessa linha de vida de cada povo.”

Ao contrário de outras raças - nós, os Pretos, somos Escravos Voluntários, mesmo depois de libertados, porque fomos ensinados a acreditar em um sistema de valores brancos, e subordinamos nossa cultura à de outros grupos. É somente depois de quebrarmos esse sistema de crenças que começaremos a elevar nossa estima racial coletiva.

Quebrar os sistemas de crença da supremacia branca e, assim, mudar nossas atitudes só pode acontecer através da reeducação das massas pretas.

Dr. Williams escreve o seguinte:

“A reeducação será necessária para as duas mudanças obrigatórias de atitude: 1) Em relação um ao outro em termos de respeito mútuo e 2), uma mudança de atitude em relação à eficiência e especialização em gestão de negócios, responsabilidade e administração financeira. A menos que comecemos a desenvolvê-las e expandi-las primeiro, um grande movimento de sobrevivência fracassará, assim como muitos outros esforços nobres fracassaram porque a pressa negligenciou a base necessária”

Tal é o poder de livros como A Destruição da Civilização Preta - não apenas informa, mas corrige os danos causados pela deseducação, reeduca o leitor e inspira o tipo de mudança de atitude que serve de base para o nosso renascimento.

Um Plano Mestre Para Unir Os Clãs (Masterplan)

“… Embora o povo africano possa continuar seu atual curso de fraqueza para o futuro com milhares de organizações não-unificadas, impotentes e dependentes como meio-homens incapazes de usar seus próprios cérebros, (com este plano mestre), nunca mais poderemos dizer que ninguém estudou os principais problemas e os obstáculos às suas soluções baseadas na história, e depois ofereceu um plano geral como uma das possíveis linhas de direção como fuga do caos.” - citação de A Destruição da Civilização Preta.

O último e mais importante capítulo do livro nos dá um projeto para o renascimento da civilização africana.

Desde o nascimento do pan-africanismo, milhares de organizações “Pretas” vêm e vão.

Chancellor Williams argumenta que essas organizações falham porque não incluem toda a raça e não têm um plano claro de ação e organização de longo prazo.

As organizações pretas tendem a ser organizadas em torno de:

Organizações religiosas como a Nação do Islã

Organizações ativistas, como o Movimento Black Lives Matter

Organizações políticas como o Congresso Nacional Africano (ANC em inglês)

Mas esses tipos de organizações se concentram em subconjuntos estreitos dos problemas e excluem os pretos que não demonstram obediência inquestionável ou lealdade a algum desses. Se você se recusa a aceitar um líder religioso como um Deus na Terra, ou se discorda da política partidária, você é excluído do grupo.

Em vez disso, o Dr. Chancellor Williams nos ensina a construir "organizações baseadas na Raça" que priorizem a raça antes da religião, orientação sexual ou partido político.

Ele escreve, “Organização Racial aqui significa uma organização nacional apenas de pessoas pretas... a organização deve ser estruturada de forma a incluir todos os elementos da população preta que reflita a voz da América Preta como um todo. Não temos uma organização assim entre nós; portanto, nenhuma unidade real existe entre nós.”

Ele continua dizendo; “Longe de ser um movimento separatista, nossa organização seria cooperativa. Pois as massas pretas não vão desistir de seus 400 anos de investimento em sangue e trabalho que foram usados para construir a América. Elas não estão prestes a se separar ou migrar para qualquer lugar, deixando todos aqueles séculos de labuta como um presente gratuito para os brancos.”

Ele também aponta algumas coisas que devem ser entendidas:

A unidade que buscamos não pode ser alcançada apenas com organização.

A unidade real será alcançada, não por pregação, súplica ou exortações, mas quase inconscientemente quando as pessoas trabalharem juntas para benefícios mútuos e o avanço da raça como um todo. Atividades práticas e significativas que envolvam até mesmo as crianças no ataque aos problemas de sua raça serão o vínculo que chamamos de unidade.

As atividades econômicas são fundamentais em qualquer movimento verdadeiramente ascendente.

A mentalidade de escravo faz com que milhões de nós evitem essa regra de vida porque ela requer mais iniciativa, treinamento e trabalho, e menos conversa de política [ou pregação]. O resultado é que o resto do mundo nos vê como uma raça dependente para candidatos a emprego, incapazes de nos envolver na produção em grande escala de qualquer uma das necessidades da vida, sejam os sapatos que usamos ou os alimentos que comemos. Consequentemente, os bilhões de dólares que gastamos a cada ano, apenas nessas categorias, devolvemos ansiosamente aos brancos para que fortaleçam seu poder sobre nós e, ao mesmo tempo, tornem-se cada vez mais ricos. As atividades de desenvolvimento econômico são atividades diretas de sobrevivência.

Todas as empresas comunitárias, ao contrário do capitalismo, serão propriedade e operadas pelo povo. Os membros da comunidade serão os acionistas, e todo o pessoal treinado em cada loja, fábrica ou qualquer outra empresa será acionista (e, portanto, coproprietários) de tais estabelecimentos, sendo que todos os lucros pertencerão ao povo, mas a total responsabilidade para o serviço de primeira classe será o de administradores eleitos, e não os membros em geral.

Uma organização baseada em raça poderia dar certo?

Chancellor Williams descreve uma série de razões pelas quais apenas um movimento racial pode ter sucesso.

A importância de uma organização de âmbito nacional, escreve ele, é que ela pode influenciar a política externa americana em relação a questões importantes que afetam as nações africanas "tão efetivamente quanto os judeus americanos podem influenciar as relações deste país com Israel.”

Uma organização racial mudaria os padrões de vida e despesas de todos os homens e mulheres pretos.

“Aluguéis mais altos e preços mais altos são pagos por bens e serviços nos ‘cortiços centrais’ do que aqueles pagos nos subúrbios brancos afluentes. Esta guerra aberta, mas silenciosa, contra os pretos está sendo aceita porque estamos impotentes e desorganizados.” Dr Williams escreve.

“Tal movimento racial seria realmente superficial se prosseguisse sem seu fundamento principal, que é a propriedade de vastas extensões de terras agrícolas e madeireiras em várias partes do país (a Nação do Islã já está trabalhando nisso, comprando enormes parcelas de terras agrícolas e imóveis em todo o país). A terra é para produção. E sua propriedade e uso se tornarão cada vez mais necessários para a sobrevivência, pois mesmo agora 75% da população americana está concentrada em apenas 2% das terras nas cidades e vilas.”

Um movimento racial pode ter, em nome da diáspora africana, um Banco Nacional Central como o depositário nacional do povo. Os pretos têm proteção arbitrariamente negada ou são cobradas taxas muito mais elevadas do que as pagas pelos brancos.

Durante o período que antecedeu a crise financeira de 2006, os bancos empurraram os tomadores de empréstimos minoritários para empréstimos subprime, mesmo quando muitos deles se qualificaram para empréstimos prime.

Wells Fargo teve talvez as práticas mais horríveis neste departamento, chamando os empréstimos subprime que eles promoviam em bairros pretos pobres de “empréstimos do gueto”.

Uma organização racial pode dar uma nova esperança e um novo sentido de direção aos milhares atrás dos muros da prisão e, com o tempo, praticamente esvaziar as prisões dos condenados por crimes pelos quais os brancos são libertados.

Os homens e mulheres que saíssem da prisão teriam algo para fazer: treinamento e preparação para serviços tão necessários para ajudar a construir e avançar sua raça e a eles próprios.

Mais importante ainda, as crianças pretas, que foram gravemente enganadas por esta estrutura de poder branco, [que] sabem que seus pais fazem parte ativamente de um grande movimento racial, serão inspiradas a participar da luta também.

Como construir uma organização baseada em Raça.

O livro inclui um projeto para construir o tipo de organização de que nosso povo precisa. Ele sugere que esta organização consista em vários departamentos específicos, incluindo:

- O Departamento de Promoção de Empresas Cooperativas Comunitárias

- O Departamento de Finanças, Bancos e Cooperativas de Crédito

- A Instituição de Tecnologia e Treinamento de Pessoal

- Escritório Central de Controle de Contabilidade e Finanças

- Departamento de Recuperação de Terras e Agricultura

- Agência de Transporte e Distribuição

- Agência Central de Compras e Abastecimento

- Divisão de Ação Política

- Divisão de Educação Pública

- Divisão de Serviços Comunitários (incluindo clínicas comunitárias)

- Divisão de Atividades da Juventude

- Divisão de Assuntos Pan-africanos (para coordenar nossos esforços no exterior)

- Divisão de Inteligência e Segurança

- A Comissão de Vida Espiritual e Assistência (para construir conexões entre as filosofias religiosas dispersas da diáspora)

“Com o desenvolvimento de um movimento dessa magnitude, os pretos podem começar a aprender finalmente como é totalmente fútil compreender as ideologias desenvolvidas pelo mundo branco para as pessoas do mundo branco. O que é necessário agora, portanto, não é nem “Capitalismo Preto” ou “Comunismo Preto” - mas o que é necessário é uma ideologia de Africanismo Preto, operando dentro de valores originais.”

O projeto completo está no livro. Se você é membro de uma organização ou está construindo uma, não há necessidade de inventar a roda. Em vez disso, fique sobre os ombros desse gigante para que possamos tornar os sonhos de nossos ancestrais uma realidade para nossos filhos.







quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Trecho: Discurso Sobre a Negritude - Aimé Cesaire, org. Carlos Moore

...A raça e o racismo foram erigidos pelos não-negros em uma metaconsciência totalizadora, definidora do humano em termos puramente tautológicos, maniqueístas e essencialistas, como fruto de uma metavisão hegemônica. A Revolução Industrial e a emergência do capitalismo industrial as transformariam numa “consciência/estrutura” hegemônica planetária. De modo que, do século VIII aos dias atuais, o chamado Mundo Negro – principal alvo das agressões e depredações do expansionismo ocidental – nunca escapou da noção de raça definida fora dos seus domínios, sem a sua participação e sempre contra ele. Portanto, desde séculos atrás, a “questão racial” constituiria um dos grandes eixos de reflexão teórica e de práxis política que caracterizara a Modernidade. As lutas dos povos de pele preta, pela sua emancipação, particularmente aqueles de ascendência africana, não teriam como evitá-la. 

A Revolução Haitiana foi pioneira na constituição de um contraponto político-teórico inteligível do Mundo Negro à metavisão racializadora. Lá, elaborou-se, pela primeira vez, e de maneira global, uma resposta do mundo africano escravizado ao mundo ocidental, hegemônico e escravagistas. Aquilo que, hoje, reconhecemos como Negritude foi colocado de maneira radical e inequívoca diante do mundo, estão dominado totalmente pelo Capitalismo predador, expansionista e militarista do Sec. XIX.

O Haiti produz a primeira Revolução radical de essência antirracista, anticolonialista e anti-imperialista. Um desafio global a proposta monstruosa da desigualdade congênita entre as raças humanas e a superioridade natural de uma sobre a outra. Ela é o grande divisor de águas da modernidade, relativo à reivindicação fundamental dos direitos inerentes à condição humana. Não por acaso, Joseph Antenor Firmin (1850-1911), antropólogo haitiano, foi o primeiro intelectual negro a transferir esse desafio para o campo teórico e cientifico. Sua obre, 'A Igualdade das Raças Humanas'. publicada em Paris em 1885, respondia ponto por ponto às teses de Arthur de Gobineau.

Paralelamente a Firmin, ao longo do século XIX, os intelectuais haitianos se mostrariam preocupados por definir uma resposta teórica global às teses dominantes no Ocidente sobre a inferioridade dos negros. Assim, os pensadores haitianos Louis-Joseph Janvier (1855-1911) e Hannibal Price (1841-1893) contribuíram para a fundação das bases antropológicas do Panafricanismo e da Negritude.

Alexander Crummell (1819-1898), dos Estados Unidos, e Edward Wilmont Blyden (1832-1912), das Ilhas Virgens, são conceituados como verdadeiros precursores do Panafricanismo. Com seu 'O Cristianismo, o Islã e a Raça Negra), Blyden produziu uma das obras consideradas hoje fundantes do Panafricanismo. É dele o famoso slogan "A África para os Africanos", que o jamaicano Marcus Garvey converteria em uma expressão emblemática da descolonização. 'As Almas da Gente Negra', obra prima do grande sociologo e lider negro norteamericano Willian Edward Burghart DuBois, é, sem dúvidas, incontornável na perspectiva dos fundamentos teóricos basilares do Panafricanismo e da Negritude.

O primeiro conclave panafricano - "Primeira Conferencia Pan-Africana" - foi realizado em Londres, em 1900, sob o impulso de Henry Sylvester Willian, advogado de Trinidad e Tobago, e com o apoio moral de Blyden, Firmin e DuBois. Os dois últimos assistiram essa congregação de dirigentes negros mundiais em torno ao ideal da emancipação da Mãe África. O evento aconteceu num contexto de correlação de forças preponderantemente favorável às nações imperiais da Europa, com seus debates e conclusões refletindo essa realidade. As reivindações de mudanças do momento não implicavam na impugnação da Europa em si. Assim, essa primeira fase do Panafricanismo (1900 A 1925) TEVE UMA POSTURA DOUTRINAL MODERADA, SENÃO APOLOGÉTICA, NÃO FALTANDO RESSALVAS RECONFORTANTES Às potencias colonizadoras.

Tudo isso mudaria com a ascensão do brilhante e carismático líder Marcus Garvey e o Panafricanismo politico e econômico radical inaugurado por ele, apoiando-se na maior organização negra conhecida na história, a UNIA. O projeto politico transnacional garveysta se desdobrava numa afirmação valorizada e defensiva da raça negra: "Desconsidero fronteiras no que diz respeito ao Negro; o mundo inteiro é a minha província até que o Negro livre seja". No tocante à questão da Identidade racial, também não cabia ambiguidades no seu discurso: "O Negro deve sentir tanto orgulho de ser negro quanto o branco de ser branco."

Fundada logo após a Primeira GUERRA MUNDIAL (1914-1918), a UNIA se converteu em uma gigantesca organização que, no seu apogeu, nas décadas de 1920 e 1930, chegou a somar entre dez e quinze milhões de afiliados. Sua meta: congregar todos os povos negros do mundo sob um mesmo guarda-chuva ideológico e politico; a união entre os povos da diáspora e os da África, a fim de expulsar as potencias imperiais, libertar todo o continente africano e unificá-lo. Na Convenção Internacional de Povos Negros do Mundo (1920) - o primeiro dos quatro congressos mundiais da UNIA -, um "Governo Interino Provisional da África" foi criado por votação e Garvey eleito como "Presidente Provincial".

Marcus Garvey levou o Pan-africanismo a uma etapa superior de militância anticolonialista e anti-imperialista com um proposito grandioso: a constituição dos "Estados Unidos da África", grande potência industrial e militar continental. Um estado capaz de defender os direitos de todos os povos africanos e dos negros do mundo e coexistir em pé de igualdade com todas as nações. Defendeu, sem ambiguidades, a urgência de uma mudança radical no mundo: a expulsão compulsória das potências coloniais do Continente Africano; a independência politica imediata de todos os povos colonizados; a luta intransigente contra a supremacia branca. Resumiu demandas no slogan: "Europa para os europeus. Ásia para os Asiáticos. A África para os africanos, no continente e no além-mar!" 

Livro Discurso Sobre a Negritude - Aimé Cesaire, org. Carlos Moore


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Abdias Nascimento sobre Marcus Garvey em 05/06/1997 - Pronunciamento no senado.

O SR. ABDIAS NASCIMENTO (PDT-RJ. pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, SRªS E SRS. senadores, Sob a proteção de Olorum, inicio este pronunciamento.

 

Acontecimento mais relevante da história deste milênio, a invasão do Continente Africano por europeus a partir do século XVI, com a escravização e migração forçada de milhões de seus filhos e a transformação dos restantes em súditos coloniais, alterou para sempre a face do planeta. Pode-se afirmar, sem medo de exagero, que o transplante de enormes contingentes de africanos para o outro lado do Atlântico não apenas moldou a face das sociedades americanas, mas constituiu o principal motor de processos fundamentais, como a Revolução Industrial e a ascensão do capitalismo, responsáveis pela configuração do mundo, tal como hoje o conhecemos. Dentre as consequências negativas desse fato histórico encontram-se os principais vetores da instabilidade de que padece não apenas a África mesma, mas igualmente boa parte das Américas, sem esquecer a própria Europa. Questões como o racismo e a xenofobia, que têm nos descendentes de africanos no Novo e no Velho Mundo seus alvos preferenciais, encontram-se nas raízes de problemas como a violência urbana, as crianças de rua, a favelização das metrópoles. Ao mesmo tempo, as sequelas do colonialismo se espelham com clareza no empobrecimento e nas sangrentas lutas fratricidas que nos acostumamos a associar a determinadas regiões da África, frutos da atomização e do artificialismo que presidiram à imposição das atuais fronteiras dos países africanos pelos centros político-militares europeus de força.

Com todo o sofrimento e toda a dor que constituíram parte integrante desse processo cruel, a história da resistência africana na própria África e nas Américas é também uma saga repleta de heroísmo, bravura, determinação e criatividade. Qualidades que possibilitaram que um povo dominado pelo poder das armas, reforçado por toda espécie de ideologia mistificadora, conseguisse impor boa parte de sua cultura, de seus valores, de sua arte, de sua religião aos seus dominadores, a despeito da suposta superioridade por estes autoproclamada. Tudo isso não aconteceu de graça, mas em resultado de uma luta tão multifacetada quanto as próprias estratégias de dominação elaboradas pelos escravizadores europeus e seus descendentes. Uma luta a um tempo nos planos material e ideológico, envolvendo não somente as armas convencionais de cada época e lugar em que tem sido travada, mas igualmente a palavra e o pensamento, tendo por meta a derradeira conquista das consciências e mentes de europeus, africanos e seus descendentes. Objetivo último dessa luta: a supremacia final, para uns, ou a plena liberdade, para outros.

Uma das noções mais antigas entre os povos africanos escravizados nas Américas é a de que sua liberdade não se resgataria com simples apelos emotivos ao coração do dominador. Mais do que isso, a percepção de que uma África unida, livre da hegemonia europeia, constituiria uma fonte de força e apoio aos negros em todo o mundo. Essa visão, raiz mais profunda daquilo que viria a ser conhecido como pan-africanismo, encontra-se presente, mesmo que de forma incipiente, no ideário dos principais movimentos de luta organizada contra a escravidão nas Américas. Estava presente em Palmares, que congregava africanos de todas as origens, assim como seus descendentes, em busca da mesma liberdade por que lutaram os maroons do Caribe, os revoltosos da Centro-América e os revolucionários libertadores do Haiti.

O pan-africanismo é a teoria e a prática da unidade essencial do mundo africano. Não há nenhuma conotação racista nessa unidade, que se baseia não em critérios superficiais, como a cor da pele, mas na comunidade dos fatos históricos, na comunidade da herança cultural e na identidade de destino em face do capitalismo, do imperialismo e do colonialismo. O pan-africanismo reivindica a unidade do Continente Africano e a aliança concreta e progressista com a diáspora unida, que incorpora populações asiáticas, como os dravídicos da Índia e os aborígenes australianos, saídos do Continente Africano há dezenas de milhares de anos. E também a nova diáspora negra na Europa, constituída, fundamentalmente nos últimos 30 anos, pela migração procedente da África e do Caribe.

O primeiro registro histórico de uma reivindicação de caráter tipicamente pan-africano data de meados do século XVIII, na forma de uma petição em que escravos da colônia inglesa que um dia se transformaria nos Estados Unidos da América pleiteavam a volta à África depois de libertados. A mesma ideia presidiu à fundação em 1787, por um grupo de afro-americanos, da cidade de Freetown - que mais tarde viria a ser a capital da Serra Leoa -, revertendo um projeto originalmente racista e paternalista que só ganhou força quando ressuscitado e recuperado por africanos e descendentes oriundos do Caribe e da América do Norte.

O século XIX assistiu ao crescimento e consolidação do ideal pan-africano, impulsionado, nos Estados Unidos, por nomes como Prince Hall, John Russworm, o Bispo McNeil Turner e o grande ativista Edward Blyden. O mesmo ideal que, sob diferentes formulações, propelia ao mesmo tempo os movimentos anticoloniais africanos. Na África do Sul, por exemplo, desde a sua criação, no início deste século, o Congresso Nacional Africano, que décadas mais tarde concretizaria o sonho aparentemente utópico de um governo de maioria negra, incorporou integralmente ao seu programa o ideal pan-africano. Como se percebe no profético discurso do nacionalista sul-africano Isaka Seme, proferido em 1905 na Columbia University:

O gigante está acordando! Dos quatro cantos da terra os filhos da  África marcham em direção à porta dourada do futuro, carregando o registro de proezas de valor realizadas.

Dentre os inúmeros intelectuais e ativistas dedicados à causa pan-africana nestes últimos dois séculos, um nome se destaca: o de Marcus Garvey, responsável pela fundação do principal movimento internacional negro em toda a história - a UNIA (Universal Negro Improvement Association, Associação Universal para o Avanço Negro), organização que chegou a ter 35 mil militantes inscritos nos Estados Unidos, 52 filiais em Cuba, oito em Honduras, oito na África do Sul, 47 no Panamá e 25 na Costa Rica -, onde tive a oportunidade de visitar o casarão histórico em que funcionou seu quartel-general para a região, ainda preservado na Província de Limón. Além de sucursais no Brasil, Equador, Nigéria, Porto Rico, Austrália, Nicarágua, México, Barbados, Serra Leoa, Inglaterra e Venezuela. 

Marcus Garvey nasceu em St. Ann's Bay, na Jamaica, a 17 de agosto de 1887. Filho de um pedreiro do mesmo nome, descendente dos aguerridos maroons, que desafiaram - por vezes com sucesso - a ordem colonial britânica na Jamaica e em todo o Caribe, cedo demonstrou uma aguda inteligência e uma inquietação em face de problemas sociais e raciais que iria acompanhá-lo até a morte. Já aos 16 anos, como aprendiz de gráfico, seu primeiro emprego, o jovem Garvey iniciava sua atuação como ativista político, participando de uma greve de sua categoria. Pouco depois, publicou seu primeiro jornal, The Watchman (O Vigilante), em que expunha suas ideias e preocupações sobre temas vinculados a raça e classe.

Essas preocupações o levariam em frequentes viagens ao exterior, nas quais a visão dos descendentes de africanos ocupando em toda parte a base da pirâmide social acabaria consolidando suas posições ideológicas e forjando os elementos essenciais de sua plataforma anti-racista, antiimperialista e anticolonialista. Assim foi no Panamá, porto de destino de milhares de jamaicanos atraídos pelos empregos oferecidos com a construção do Canal, mas discriminados em favor dos operários brancos. Também no Equador, na Nicarágua, em Honduras, na Colômbia e na Venezuela, onde os negros, empregados na mineração ou nas plantações de tabaco, pareciam incapazes de melhorar as humilhantes condições em que viviam. 

Em 1912, Marcus Garvey, aos 25 de idade, chega a Londres, onde vai trabalhar, estudar e desenvolver-se na percepção de novas dimensões da luta negra. A capital do Império Britânico, ainda nos picos de seu poderio, era o ponto focal da efervescente atividade intelectual e política que marcou o período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial. Um ano antes, em 1911, a cidade abrigara um Congresso Mundial sobre Raça, organizado sob os auspícios do Movimento Inglês de Cultura Ética - o mesmo Congresso em que o representante brasileiro declarou candidamente estar o Brasil resolvendo seu problema racial por meio da miscigenação, que acabaria com os negros dentro de um século. À miscigenação, acrescente-se, devemos somar as péssimas condições de vida que ajudariam a liquidar o povo afrodescendente neste país. A literatura, as atitudes e os debates relativos a esse Congresso ainda eram motivo de acesas polêmicas quando Marcus Garvey chegou a Londres. Igualmente importante era a nova literatura anticolonial produzida na África Ocidental.

As ideias do jovem Garvey sobre a redenção africana ganharam contornos definitivos quando se associou ao intelectual nacionalista Duse Mohammed Ali, um egípcio de ascendência sudanesa que publicava o jornal mensal The African Times and Orient Review. O período londrino completou a educação política de Marcus Garvey. Ele estava pronto para a sua tarefa. Em 1914, retornou à Jamaica e fundou uma organização, que denominou Associação Universal para o Avanço Negro e Liga das Comunidades Africanas. Dois anos depois, encorajado pelo líder afro-americano Booker T. Washington, desembarca em Nova York. No Harlem, toma contato com as especificidades da questão racial nos Estados Unidos. Os negros do Sul fugiam para o Norte, deixando atrás de si o sistema aparteísta do Jim Crow, os linchamentos, a falta de direitos políticos, a servidão e a miséria. No Norte, ganhavam melhores salários nas fábricas, que agora tinham de alimentar a máquina de guerra, mas eram obrigados a viver em casas caindo aos pedaços, em bairros miseráveis, e seus filhos frequentavam escolas precárias, tanto nas instalações quanto no ensino. Os poucos que ousavam usar estratagemas para comprar residências em bairros de brancos viviam apavorados pela possibilidade de bombas racistas explodirem em suas casas ou de suas famílias serem ameaçadas na rua.

Não existia nessa época uma organização verdadeiramente negra em Nova York. As que havia eram multirraciais, dirigidas por brancos e mestiços de pele clara. Garvey começou sua pregação discursando nas esquinas do Harlem. Logo precisou ocupar espaços maiores, na medida em que crescia o público interessado em sua mensagem positiva, que falava de uma ação internacional em favor do negro. Essa reação estimulou Garvey a instalar nos Estados Unidos a sua UNIA, que se distinguia das demais organizações por ser exclusivamente negra e defender um programa ousado e radical. Categorizando a luta negra como de direitos humanos, e não somente de direitos civis, o que implicitamente estabeleceria seu caráter internacional, já em 1920 Marcus Garvey articulava a distinção fundamental assinalada por Malcolm X nos anos 60, contribuindo para elevar a luta negra a um patamar superior ao do integracionismo liberal.

Garvey compreendeu três necessidades básicas do negro em todo o mundo: a de dignidade e auto-respeito como povo unido; a de uma África independente e unida como base de força central; e a de instituições autônomas para impulsionar a vida das comunidades negras. Além disso, como nenhum outro, antes ou depois dele, Marcus Garvey percebeu a importância das comunidades negras das Américas Central e do Sul para a luta pan-africanista internacional, inspirada no lema "A África para os africanos, na própria pátria e no exterior".

Em 1920, no auge do prestígio de Garvey, a UNIA organizou a I Convenção dos Povos Africanos do Mundo, com a presença de 25 mil representantes e delegados de todos os continentes. O produto mais importante dessa Convenção foi a Declaração de Direitos dos Povos Negros do Mundo, que condenava o colonialismo, afirmava o "direito inerente do negro de governar a África", instituía o vermelho, o preto e o verde como as cores simbólicas do pan-africanismo, e exigia o fim dos linchamentos e da discriminação racial nos países da diáspora africana, bem como o ensino da História Africana nas escolas públicas.

A independência econômica era outro fator enfatizado no programa da UNIA. Garvey exortava seus seguidores a "comprar de negros", a preferir negociantes de sua própria raça. Atendendo o apelo de Booker T. Washington à auto-suficiência, a UNIA iniciou diversos projetos na área empresarial, incluindo a Corporação de Fábricas Negras, destinada a ajudar empresários da comunidade. O que é mais importante, Garvey fundou a Black Star Steamship Line, para funcionar como laço comercial e espiritual entre os negros de todos os lugares que seus navios alcançassem. Para surpresa de seus críticos, entre 1919 e 1925 Garvey juntou dinheiro suficiente para adquirir quatro navios e estabelecer ligações comerciais com o Caribe.

Embora os navios da Black Star Line transportassem tanto carga quanto passageiros, o objetivo não era um retorno físico de todos os negros à África, que ele sabia ser impossível, mas antes um retorno de caráter simbólico e espiritual. Garvey acreditava, contudo, ser dever dos descendentes de africanos contribuir, com seu trabalho, conhecimento e tecnologia, para o fortalecimento do Continente-Mãe, tendo em vista uma futura derrubada de fronteiras e a criação de uma nação unificada. Nesse sentido, chegou a estabelecer negociações com o Governo da Libéria. 

Se granjearam uma legião de seguidores, as ideias de Garvey também o fizeram colecionar desafetos, entre brancos e negros, à direita e à esquerda do espectro político. Creio não ser preciso enfatizar o perigo que ele representava para o establishment, com suas ideias de autonomia, dignidade e auto-respeito. Problemas com a administração da Black Star Line acabaram fornecendo o pretexto para que o FBI o prendesse, em 1923, sob falsas acusações, o que causou uma gigantesca passeata de protesto, que reuniu 150 mil pessoas, de várias nacionalidades, nas ruas do Harlem. Deportado para a Jamaica em 1927, Garvey foi recebido pelo povo de Kingston, a capital, como um verdadeiro chefe de estado - mas como uma ameaça pela elite, branca e negra. Essa oposição, materializada sob a forma de dificuldades jurídicas, não o impediu de se eleger, na capital, para um cargo correspondente ao de vereador, nem de publicar um novo jornal, The New Jamaican (O Novo Jamaicano).

Em 1935, ano em que a Itália de Mussolini invade a Etiópia, então a única nação independente da África, provocando um acirramento das discussões sobre colonialismo e racismo, Garvey retorna à Inglaterra, onde passará seus últimos anos. Seu propósito era cobrar diretamente do Império Britânico a redenção do Continente Africano. Os ingleses não se preocuparam muito. O Império vivia seu último período de esplendor, dominação e arrogância. Não estava, assim, inclinado a dar ouvidos a esse súdito da Coroa que agia como um cidadão, exigindo os direitos básicos da cidadania. Era também a época da Grande Depressão, cujas consequências se abatiam com maior impacto sobre os descendentes de africanos. Garvey viveu seus últimos anos na pobreza, embora sem perder o orgulho de maroon que o projetara mundialmente nas décadas precedentes. Em janeiro de 1940, um ataque de paralisia o pôs de cama, e alguns jornais publicaram que ele havia morrido na miséria. Cartas e telegramas choveram sobre seu escritório. A secretária evitava que essa correspondência chegasse a suas mãos, mas ele acabou tendo acesso a ela. As manchetes falando de sua morte causaram-lhe um choque do qual não se recuperou, vindo a falecer no dia 10 de junho de 1940. Hoje, decorridos 57 anos de sua morte, sua mensagem ao mundo continua válida:

Ó África, acorda

A aurora está chegando

Não mais és maldita

Ó bondosa Terra-Mãe 

De longe teus filhos e filhas

Se dirigem de volta a ti

Sobre as águas ressoam seus gritos

De que a África será livre.

A filosofia de Garvey não é perfeita, nem fornece uma base adequada para a moderna teoria e prática da luta africana. Em consequência, é fácil e legítimo levantar críticas construtivas às suas ideias e ao seu movimento. Mas não se pode negar o legado que ele deixou como fundamento essencial à organização política do negro. Seu espírito continua vivo, apesar dos incansáveis esforços de seus adversários em destruí-lo. Em seu livro The Black Jacobins (Os jacobinos negros), o intelectual antilhano C.L.R. James - que em vida foi meu amigo e apoiou as reivindicações do Movimento Negro brasileiro ao VI Congresso Pan-Africano, realizado em 1974 na Tanzânia - observa que dois caribenhos, "usando a tinta da Negritude, inscreveram seus nomes de maneira indelével na história de nosso tempo". James está se referindo a Aimé Césaire e Marcus Garvey. Para ele, Garvey está na vanguarda do grupo de negros radicais do século XX cujas ideias e programas ainda reverberam nos movimentos de libertação de nossos dias. Isso se deve, em grande medida, ao trabalho incansável daquela que por décadas o acompanhou na luta e que, depois de sua morte, dedicou a existência à preservação de sua memória e à divulgação de suas ideias. Estou falando de sua viúva, Amy Jacques Garvey, por quem tive a honra de ser recebido em minha passagem pela Jamaica, em 1973. 

O garveísmo inspirou muitos líderes africanos, como o ganês Kwame Nkrumah, apóstolo do pan-africanismo, bem como a jovem liderança que, nos anos 60, faria avançar a um ponto sem precedentes a luta dos afro-americanos. Sua preocupação com a auto-imagem dos negros, com o valor do ensino da História Africana, com a unidade dos povos da África e da diáspora, mas sobretudo sua disposição de homem simples e prático, capaz de traduzir para as massas negras despossuídas a mensagem do pan-africanismo, e de tomar medidas práticas para concretizá-la - tudo isso fez de Marcus Garvey um homem que merece a admiração e o respeito, não apenas dos africanos e seus descendentes, mas de todos aqueles comprometidos de coração com a mudança efetiva das relações sociais e raciais.

Axé, Marcus Garvey!

https://www25.senado.leg.br/web/atividade/pronunciamentos/-/p/texto/206794