segunda-feira, 1 de setembro de 2014

100 Para Cada 100 Mil: Diretamente das Valas Oficiais

“... Policia matando e muita gente dando risada...”.
Massacre no Bairro Africano – Immortal Conspiração

No interior das políticas públicas da nação genocida vigora o racismo, bradamos a resolução de uma política de desassistência, porém aos poucos o poder público foi nos mostrando a realidade na prática de gerir; essa desassistência não é só a regra, para o ser ela assim foi projetada.


Interferimos no Plano Diretor da cidade e também no Plano de Metas, as demandas foram entregues, a gestão recuou, pressionamos, mas a efetivação foi meia boca (que efetivação então?). A questão do Juventude Viva talvez possa explicar uma boa parte do que enfrentamos na terra dos capitães do mato que subiram de cargo; o Plano veio de cima pra baixo, as secretarias municipais puxaram o freio de mão, vereadores desinteressados mantiveram-se na zona de conforto e os coxinhas fizeram a festa. Se pra efetivar as leis da já distante gestão Marta Suplicy, aquilo que já há tempos cobramos como possível rede de proteção (Estação Juventude e Casas de Cultura Hip Hop etc.) é um caos, para investir mais que o dobro do investimento para o Juventude Viva em uma ação para entupir as subprefeituras de PM’s strikes bastou uma canetada. 

Cada vez mais imersa em uma complexidade que daria infinitas teses é uma anátema de nome racismo institucional. Estrutural e estruturante a pedra no meio do caminho de equipamentos como os CEUS acaba por ser um facilitador para o outro céu, filosoficamente ou não, fomos deixando ele cada vez mais preto para garantir a branquitude que quem aqui está a gargalhar com as mãos cheias de sangue de nosso povo.
Produzem nas cabeças embranquecidas a ideia de que é impossível conflitar com aquilo que chamam de concepção hegemônica daquilo que vem a ser segurança pública. Bom, se assim for devo aceitar prontamente que o Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta Pobre e Periférica e o Fórum de Hip Hop MSP vivem em universos paralelos e que só nossas cabeças produzem conexões sinápticas que permitem utilizar justamente aquilo que todo ser humano apresenta como condição de existência; a razão.

Permitam-se refletir que:
- A letalidade policial acumulou 236% de aumento nos dois primeiros trimestres do ano comparado ao ano passado.
-Para cada PM morto morrem 56 civis (pretos, pobres e periféricos) se utilizarmos o último trimestre como referência.
-Que a referencia para se publicizar a queda nos latrocínios pela SSP é mensal, o mês de julho apresentou 48% de queda.
-Que a PM e toda a cúpula de segurança pública esteve comemorando por esses dias não um aumento da queda nas proporções de roubos gerais, mas uma redução do aumento. Realmente a PM estourou o champanhe quando publicaram um aumento de “apenas” 14,7% em junho, porém com esse último dado podemos dizer que na verdade de janeiro de 2013 até junho de 2014 houve um acúmulo de 191% nesse quesito.
-Existe um mercado por detrás da política tucana de segurança pública, caso contrário não seriam roubos de carros e homicídios os “melhores” indicadores.
- Enfrentar o PCC na cabeça de quem pensa a política de segurança pública do Estado é saturar os bairros com maior índice de violência. Curioso, não? Foi justamente o advento do PCC que contribuiu para a redução da violência nas localidades mais pobres e foi justamente a PM que contribuiu para aumentar esse mesmo indicador.
-Então a proposta foi a seguinte; socaram 400 PM’s em Vila Brasilândia, Vila Penteado e Parada de Taipas e assim os homicídios por lá caíram. Porém as mortes por intervenção policial não entram nessa conta (putz). Sim, a letalidade policial subiu e nós ficamos meses e mais meses contando corpos tombados ora pelos grupos de extermínio (PM’s não fardados que representam algo em torno de 60% dos homicídios do Estado) e pelos PM’s fardados (que devem estar mantendo a marca dos 20% de todos os homicídios do Estado).
-A SSP criou assim um novo programa de saturação, o Prev Paz (Política Pública de Prevenção Criminal e Manutenção da Paz e da Ordem Pública) e colocou o nome dos Direitos Humanos da PM como cabeça, coronel Glauco para executar o programa. E o que ele fez? Deu um up nos efetivos de policiamento de transito (CPTRANS) e no CHOQUE, mas o melhor, logicamente o pior, estava por vir...

Hoje o programa está na ZN (2° região) e antes estava na ZS (1° região), nessa última em Capão Redondo, Jd Ângela e Campo Limpo. O que mais deveria estar lá segundo a Secretaria de Direitos Humanos, Coordenadoria de Juventude e a SMPPIR? Ora, o Juventude Viva! Fica escuro que só estava os eventos que funcionam como palanque eleitoral, mas que na prestação de contas se transmutam na categoria de “Ações de Promoção da Cultura de Paz”. O estatístico que luta para não se afogar no mar de sangue que suas medidas se esforçam dia pós dia para manipular disse que entre 1 e 10/8 os homicídios caíram 60% e que somados todas as categorias relativas a roubos e furtos de autos a queda superou a casa dos 70%. É muita piada branca da fato, o que esse tipo de informação diz do Prev Paz? E como está a letalidade policial para o mesmo período? Evidente que ninguém tá nem ai para o que deveria ser o primordial para refletir a efetividade ou não de um direito social denominado segurança pública.

Antes de tudo é crucial que não aceitemos o discurso do opressor. Se for pra discutir a política de segurança pública não é de PCC que iremos discutir. O PCC é só uma parte da política de segurança pública (isso mesmo, ele é parte e importante do jogo). Tá a fim de entender o jogo? Tem como. Primeiro vc lê o depoimento do Marcola na CPI das armas de 2006, depois vc lê o relatório “São Paulo Sob Achaque” e com essas duas leituras vc vai saber o que mais é importante ler para compreender o que se passa de fato. Algumas horas depois poderá ler uma matéria da Folha ou do Estadão para confirmar o quanto absurda e incoerente são as informações sobre segurança pública por essas bandas.
Passado todo esse tempo desde o Salve Geral (da mídia e da cúpula de segurança pública de São Paulo) a civil alega que a prisão do Tucano e do MK essa semana serviu para instabilizar o Marcola, afinal eles ocupavam os cargos de “Sintonia Final Nacional” da organização política (e não criminosa!). Bom, quem leu só o que é oficial sabe que o Marcola está neutralizado serve apenas para justificar a política de segurança pública do Estado, “afinal, eu sou o líder perante a imprensa” e é só isso que importa. Enquanto a maioria fica no cao de que o Estado está em guerra com o PCC ninguém discuti o motivo da Lei de Execução Penal não estar sendo cumprida. Alguém ai está acompanhando a situação de Cascavel no Paraná? Alguém se ligou nas reinvindicações dos jovens insurretos? Exatamente o cumprimento da Lei de Execução Penal.

Bom, enquanto a alienação é a regra a resolução de crimes é menor que 2% e os DP’s de Vila Matilde, Freguesia do Ó e Pq São Jorge prenderam 1 pessoa no 1° semestre desse ano enquanto que só nos DP’s de São Mateus e Capão Redondo (Juventude Viva, mas presa) prenderam 241 pessoas no mesmo período (com mandato).
Sim, antes que eu me esqueça. Os roubos de caixa eletrônico que estão rolando por ai são praticados por policiais da Força Tática. Quem sabe isso não venha a público daqui uns anos, justamente o tempo necessário para que não tenha efeito legal e mais uma vez os opressores usem nosso sangue para justificar suas medalhas.


Miguel Angelo
Fórum de Hip Hop MSP
Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta Pobre e Periférica

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