sábado, 15 de fevereiro de 2014

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 2



Black Power Speech (2/7) - Universidade da Califórnia, Berkeley - EUA
tradução livre Fuca


PRIMEIRA PARTE:Discurso de Stokely Carmichael (Kwame Ture) em 1966

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 2

Antes de movermos, devemos falar das atitudes da supremacia branca que estavam no pensamento consciente ou no subconsciente e como esses pensamentos existem na sociedade de hoje. Por exemplo, os missionários que foram enviados para a África. Eles foram com o pensamento de que os negros eram automaticamente inferiores. Na realidade, o primeiro ato dos missionários, quando chegaram à África, foi a de nos fazer cobrir nossos corpos, porque eles ficavam excitados. Nós não poderíamos mais ficar com os peitos nus, porque eles ficavam excitados.

Agora, quando os missionários vieram para nos civilizar porque não eramos civilizados, educar-nos porque eramos sem instrução, e nos dar alguns estudos de alfabetização porque eramos analfabetos, eles cobraram um preço. Os missionários vieram com a bíblia, e nós tínhamos a terra. Quando eles partiram, eles tinham a terra, e nós ainda temos a bíblia. E essa tem sido a racionalização para a civilização ocidental e como ela se move através do mundo, roubar, saquear e estuprar todos em seu caminho. No raciocínio deles, o resto do mundo é incivilizado e são eles de fato civilizados. Mas na verdade, eles que são incivilizados. O que temos hoje é o que chamamos de "modernos missionários do Corpo da Paz", eles entram em nossos guetos e dizem sobre vantagens, avanços e sobre as fronteiras com a sociedade branca, porque eles não querem enfrentar o problema real, de um homem ser pobre por uma única razão: porque ele não tem dinheiro - Se você quer se livrar da pobreza, você dá às pessoas o dinheiro - E você não deveria me dizer sobre as pessoas que não trabalham, que você não pode dar às pessoas dinheiro sem trabalhar, porque se isso fosse verdade, você teria que começar a parar Rockefeller, Bobby Kennedy, Lyndon Baines Johnson, Lady Bird Johnson, toda a standard Oil, a Corp Golfo, todos eles, incluindo, provavelmente, um grande número de pessoas do Conselho de Curadores desta universidade. Portanto, a questão não é se uma pessoa pode ou não trabalhar, é quem tem o poder? Quem tem o poder de fazer seus atos serem legítimos? Isso é tudo. E neste país, que o poder é investido nas mãos de pessoas brancas, eles fazem seus atos serem legítimos. É agora, portanto, a hora dos negros fazerem seus atos legítimos.

Estamos engajados em uma luta psicológica neste país, e isto significa se os negros terão ou não direito de usar as palavras que eles querem usar sem precisar da permissão dos brancos, e que mantemos, quer se goste ou não, vamos usar a palavra "Black Power" - e deixá-los dirigir para isso, mas que não vamos esperar por pessoas brancas para sancionar Black Power. Estamos esperando cansados, toda vez que os negros tem que se mover neste país, eles são forçados a defender a sua posição antes. É tempo das pessoas que deveriam estar defendendo a sua posição fazer isso. As pessoas brancas. Elas devem começar a se defender por que elas que são exploradoras e opressoras. Agora é claro que, quando o país começou a se mover em termos de escravidão, a razão para um homem ser escolhido como um escravo era única - por causa da cor de sua pele. Se fosse negro era automaticamente inferior, não era humano e, portanto, apto para a escravidão, de modo que a questão de saber se somos ou não suprimidos individualmente é sem sentido, e é uma grande mentira. Somos oprimidos como um grupo, porque somos negros, não porque somos preguiçosos, não porque somos apáticos, não porque somos ignorantes, não porque fedemos e temos um bom ritmo. Nós somos oprimidos porque somos negros.

E para sair dessa opressão devemos exercer o poder do grupo que se tem, e não o poder individual que este país define com os critérios segundo os quais um homem pode se incluir. Isso é o que é chamado no país de integração: "Você faz o que eu disser para você fazer e, em seguida, vamos deixá-lo se sentar à mesa com a gente." O que estamos dizendo é que temos que ser oposição a isso. Temos agora de estabelecer critérios e que, não será qualquer integração, vai ser uma coisa de mão dupla. Se você acredita na integração, você pode vir morar em Watts. Você pode enviar seus filhos às escolas no gueto. Vamos falar sobre isso. Se você acredita na integração, então vamos começar a adotar algumas pessoas brancas para viver em nosso bairro. Por isso, é claro que a questão não é de integração ou segregação. A integração é a capacidade do homem poder se mover por ele próprio. Se alguém quiser viver em um bairro branco e ele é negro, essa é a sua escolha. Deveria ser o seu direito, mas não, os brancos não iriam permitir, agora vice-versa: se um homem negro quiser viver nas favelas,os negros irão deixá-lo. Essa é a diferença. E é uma diferença em que este país faz com que uma série de erros lógicos quando eles começam a tentar criticar o programa articulado pelo SNCC.

Agora vamos manter que não podemos nos dar ao luxo de nos preocupar com 6% das crianças neste país, as crianças negras, que lhe permitem entrar em escolas de brancos. Temos 94% que ainda vivem em barracos. Estaremos preocupados com os 94%. E vocês devem estar preocupados com eles também. A questão é: Será que estamos dispostos a nos preocupar com os 94 por cento? Estamos dispostos a nos preocupar com os negros que nunca vão chegar a Berkeley, que nunca vão chegar a Harvard, e não podem receber uma educação para que você nunca tenha a chance de conviver com eles e dizer: "Bem, ele é quase tão bom como nós somos, ele não é como os outros" A questão é: Como pode a sociedade branca começar a se mover para ver os negros como seres humanos? Eu sou negro, logo existo, não que eu seja preto e tenho de ir para a faculdade para provar a mim mesmo. Eu sou negro, logo existo. E não me prive de nada e dizer que você deve ir para a faculdade antes de ter acesso a X, Y e Z. Isso é apenas uma racionalização para a própria opressão.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Milton Nascimento - Em nome do Deus - Música

 




Em nome do Deus de todos os nomes
-Javé
Obatalá
Olorum
0ió.

Em nome do Deus, que a todos os Homens
nos faz da ternura e do pó.

Em nome do Pai, que fez toda carne,
a preta e a branca,
vermelhas no sangue.

Em nome do Filho, Jesus nosso irmão,
que nasceu moreno da raça de Abraão.
Em nome do Espírito Santo,
bandeira do canto
do negro folião.

Em nome do Deus verdadeiro
que amou-nos primeiro
sem dividição.

Em nome dos Três
que são um Deus só,
Aquele que era,
que é,
que será.

Em nome do Povo que espera,
na graça da Fé,
à voz do Xangô,
o Quilombo-Páscoa
que o libertará.

Em nome do Povo sempre deportado
pelas brancas velas no exílio dos mares;
marginalizado
nos cais, nas favelas
e até nos altares.

Em nome do Povo que fez seu Palmares,
que ainda fará Palmares de novo
-Palmares, Palmares, Palmares
do Povo!

http://letras.mus.br/milton-nascimento/1281136/

Texto por Dom Pedro Casaldáliga

Em nome de um deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs tem adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vem sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e à morte. No Brasil, na América, na Africa mãe, no Mundo.

Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barata os canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos desaculturados, clandestinos, inviáveis. (Enchem ainda de sub-gente -para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos- as cozinhas, os cais, os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes).

Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinaí Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome do Deus de todos os nomes", "que fez toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue".
Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exílio da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda.

E estão aí, de pé, quebrando muitos grilhões -em casa, na rua, no trabalho, na igreja, fulgurantemente negros ao sol da Luta e da Esperança.
Para escândalo de muitos fariseus e para alivio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa, diante de Deus e da História, esta máxima culpa cristã.
Na música do negro mineiro Milton e de seus cantores e tocadores, oferece ao único Senhor "o trabalho, as lutas, o martírio do Povo Negro de todos os tempos e de todos os lugares".

E garante ao Povo Negro a Paz conquistada da Libertação. Pelos rios de sangue negro, derramado no mundo. Pelo sangue do Homem "sem figura humana", sacrificado pelos poderes do Império e do Templo, mas ressuscitado da Ignomínia e da Morte pelo Espírito de Deus, seu Pai.
Como toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal: celebra a Morte e a Ressurreição do Povo Negro, na Morte e Ressurreição do Cristo.

Pedro Tierra e eu, já emprestamos nossa palavra, iradamente fraterna, à Causa dos Povos Indígenas, com a "Missa da Terra sem males", emprestamos agora a mesma palavra à Causa do Povo Negro, com esta Missa dos Quilombos.

Está na hora de cantar o Quilombo que vem vindo: está na hora de celebrar a Missa dos Quilombos, em rebelde esperança, com todos "os Negros da Africa, os Afros da América, os Negros do Mundo, na Aliança com todos os Pobres da Terra".




segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Revolta dos Malês 24 e 25 de Janeiro de 1835, 179 anos da Insurreição

                          Revolta dos Malês 24 e 25 de Janeiro de 1835, 179 anos da Insurreição 








  “é aminhã, Luiza Mahin falô”
Ouve-se nos cantos a conspiração
vozes baixas sussurram frases precisas
escorre nos becos a lâmina das adages
Multidão tropeça nas pedras
Revolta
há revoada de pássaros
sussurro, sussurro:
“é amanhã, é amanhã.
Mahin falou,” é amanhã”
A cidade toda se prepara
Malês
bantus
geges
nagôs
vestes coloridas resguardam esperanças
aguardam a luta
Arma-se a grande derrubada branca
a luta é tramada na língua dos Orixás
 ”‘é aminhã, é aminhã”
sussurram
Malês
bantus
geges
nagôs
Miriam Alves



       Hauçás, Nupes e outros povos islamizados tornaram-se comuns entre os escravos na Bahia, especialmente a partir de volumosos desembarques de cativos de fala Ioruba no século XIX. As origens       desses escravizados muçulmanos podem estar relacionadas ao contexto próprio das áreas interioranas da Baía de Benin e à jihad do Xeque Usman dan Fordio (morto em 1817), fundador do Califado de Sokoto, promovendo o islamismo militante através de sua cultura de leitura e escrita . Revoltas PELA TOMADA DE PODER foram realizadas pelos Malês a partir de 1807 até 1935, constituídas sempre de uma ampla rede que se comunicava com outros estados como o Rio de Janeiro

   LUIZA MAHIN foi trazida da Costa da Mina (Nagô de Nação), que foi o principal ponto de partida de africanos escravizados durante o século XVIII e início do século XIX. Quitandeira e escrava de ganho, Mahin NUNCA SE SUBMETEU AO CATIVEIRO e vivia na condição de liberta na época da insurreição. “Pagã, pois sempre recusou o batismo e a doutrina cristã” participou também da Sabinada no Rio Janeiro em 1937 (movimento que proclama uma república provisória em repúdio ao poder monárquico central) sendo deportada para África. Segundo seu filho, Solano Trindade, era o último registro do qual tinha conhecimento sobre sua mãe, da qual dizia ter a cor de um preto retinto e sem lustro, “tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa”, ERA UMA REVOLUCIONÁRIA “impaciente, irrequieta e INCAPAZ DE CONFORMAR-SE COM SITUAÇÕES DE INJUSTIÇA”.

   Dos 1500 pretos no processo revolucionário em 1837, 70 tombaram. Alguns foram exilados, mortos ou escravizados pelo arbítrio dos tribunais brancos. Insurgiram-se contra a sociedade baiana cristã e escravista em busca de poder político na forma de cidadania e da libertação de nosso povo apontando um caminho, o da INSURREIÇÃO.

Mahin é sinônimo de luta e de resistência do povo preto

Minha Mãe

Era mui bela e formosa,
Era a mais linda pretinha,
Da adusta Líbia rainha,
E no Brasil pobre escrava!
Oh, que saudades que eu tenho
Dos seus mimosos carinhos,
Quando c‘os tenros filhinhos –
Ela sorrindo brincava.
Éramos dois — seus cuidados,
Sonhos de sua alma bela;
Ela a palmeira singela,
Na fulva areia nascida.
Nos roliços braços de ébano.
De amor o fruto apertava,
E à nossa boca juntava
Um beijo seu, que era a vida.
[...]
Os olhos negros, altivos,
Dois astros eram luzentes;
Eram estrelas cadentes
Por corpo humano sustidas.
Foram espelhos brilhantes
Da nossa vida primeira,
Foram a luz derradeira
Das nossas crenças perdidas.
[...]
Tinha o coração de santa,
Era seu peito de Arcanjo,
Mais pura n‘alma que um Anjo,
Aos pés de seu Criador.
Se junto à cruz penitente,
A Deus orava contrita,
Tinha uma prece infinita
Como o dobrar do sineiro,
As lágrimas que brotavam,
Eram pérolas sentidas,
Dos lindos olhos vertidas
Na terra do cativeiro.
Solano Trindade

Leia também

LUIZA MAHIN: UMA RAINHA AFRICANA NO BRASIL - Aline Najara da Silva Gonçalves em http://www.institutobuzios.org.br/documentos/Luiza%20Mahin_Uma%20Rainha%20Africana%20noBrasil.pdf

 LUIZA MAHIN ENTRE FICÇÃO E HISTÓRIA - - Aline Najara da Silva Gonçalves em http://www.ppgel.uneb.br/wp/wp-content/uploads/2011/09/goncalves_aline.pdf

Luiza Mahin: da carta autobiográfica de Luiz Gama ao romance histórico de Pedro Calmon – - Aline Najara da Silva Gonçalves em
Rebeliões da Senzala – Clóvis Moura em

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Discurso do Stokely Carmichael (Kwame Ture) em 1966

Discurso do revolucionário Stokely Carmichael, conhecido também como Kwame Ture, na Universidade da California Berkeley, EUA, em outubro 1966.
tradução livre Fuca





Muito obrigado. É uma honra estar no gueto dos intelectuais brancos do ocidente. Nós queremos dizer algumas coisas antes de começarmos. A primeira é que, baseado no fato que a SNCC (Student Nonviolent Coordinating Committee), através da articulação deste programa pelo seu presidente, foi capaz de ganhar eleições na Georgia, Alabama, Maryland, e devido a nossa presença aqui poderá ganhar uma eleição na Califórnia, em 1968 irei me candidatar para Presidente dos Estados Unidos...(pausa) Não posso me candidatar pelo fato de eu não ter nascido nos Estados Unidos. É a única coisa que me impossibilita.

Queremos também dizer que, aqui é uma conferencia estudantil, como deve ser realizada em um campus,e que nós não estamos sempre a ser pegos pela masturbação intelectual envolvendo a questão do negro. Essa é a função das pessoas que são anunciantes, mas que se intitulam repórteres. Oh, para meus companheiros e amigos da imprensa, meus críticos brancos autonomeados, eu estava lendo o Sr Bernard Shaw dois dias atrás, e veio uma importante citação, que eu acredito ser apropriada para vocês. Ele diz que “toda critica é uma autobiografia”.

Os filósofos Camus e Sartre levantaram a questão da qual um homem pode ou não se auto-condenar. O filosofo existencialista negro que é pragmático, Frans Fanon, respondeu. Disse que não. Camus e Sartre não eram. Nós no SNCC tendemos a concordar com Camus e Sartre, que um homem não consegue condenar a si próprio. Um exemplo seria os nazistas, qualquer prisioneiro nazista que admitiu,(depois de ser capturado e preso, ter cometido crimes, e ter matado pessoas), cometeu suicídio. Os que permaneceram vivos foram os que nunca admitiram que tivessem cometido tais crimes contra as pessoas, ou seja, acreditavam que os Judeus não eram seres humanos e mereciam a morte, ou que eles estavam apenas cumprindo ordens.

Num cenário atual, os oficiais e a população (a população branca em Neshoba County, Mississipi – onde fica Filadelfia), não condenaram o (Xerife) Rainey, seus adjuntos, e nem os outros 14 homens que mataram 3 seres humanos. Eles não puderam porque eles haviam elegido o Sr Rainey para fazer exatamente o que ele fez, então condená-lo seria praticamente condenar a eles também. Parece-me que as instituições que funcionam no país são claramente racistas, e que elas são construídas com base no racismo. E a questão é, como os negros podem se mover no interior deste país? E então, como é que as pessoas brancas que dizem que não fazem parte dessas instituições começam a se mover? E como, então, podemos começar derrubar os obstáculos que temos na sociedade, para vivermos como seres humanos? Como podemos começar a construir instituições que permitem que as pessoas se relacionem umas com as outras como seres humanos? Este país nunca fez isso, especialmente em torno do país de branco ou preto.

Várias pessoas ficaram irritadas porque nós dissemos que a integração era irrelevante quando iniciada por negros, e que na verdade era um subterfúgio. Vemos que nos últimos seis anos ou mais, este país vem nos alimentando com uma "droga talidomida de integração", que alguns negros estavam andando por uma rua dos sonhos conversando sobre sentar ao lado de pessoas brancas; mas isso não resolve o problema; em Mississippi não fomos para sentar ao lado de Ross Barnett; não fomos para sentar ao lado de Clark, fomos para tirá-los do nosso caminho, e as pessoas devem entender que, nós nunca estivemos lutando pelo direito de integrar, lutávamos contra a supremacia branca.



Agora, então, a fim de entender a supremacia branca, devemos rejeitar a noção falaciosa de que as pessoas brancas podem dar a alguém a sua liberdade. Nenhum homem pode dar a alguém a sua liberdade. Um homem nasce livre. Você pode escravizar um homem depois que ele nasce livre, e é de fato o que este país faz. Ele escraviza os negros depois que eles nascem, de modo que o único ato que os brancos podem fazer é parar de negar aos negros a sua liberdade, ou seja, eles devem parar de negar a liberdade.

Queremos levar isso para a sua extensão lógica, para que possamos entender, então, que a relevância seria em termos de novos projetos de lei de direitos civis. Afirmo que cada projeto de lei dos direitos civis neste país foram feitos para as pessoas brancas, não para as pessoas negras. Por exemplo, eu sou negro, eu sei disso, eu também sei que enquanto eu sou negro, eu sou um ser humano e, portanto, eu tenho o direito de entrar em qualquer lugar público. Os brancos não sabiam disso. Toda vez que eu tentava entrar em algum lugar eles me barravam. Assim, alguém teve que escrever um projeto de lei dizendo para o homem branco, "Ele é um ser humano, não o pare". Esse projeto era para o homem branco, não para mim. Eu sabia disso o tempo todo. Eu sabia o tempo todo.

Eu sabia que podia votar e que isso não era um privilégio, que era meu direito. Toda vez que eu tentava eu era baleado, morto ou preso, espancado ou economicamente carente. Então, alguém teve que escrever um projeto de lei para dizer para as pessoas brancas que: "Quando um homem negro for votar, não incomodá-lo." Esse projeto de lei, novamente, foi para as pessoas brancas, não para o povo negro. E quando falamos sobre ocupação livre, eu sei que posso viver em qualquer lugar que eu queira viver. São as pessoas brancas em todo o país que são incapazes de me permitir viver onde eu quero viver. Você que precisa de um projeto de lei dos direitos civis, não eu. Eu sei que posso viver onde eu quero viver.

As falhas para aprovar uma lei de direitos civis não existem por causa do Black Power, não é por causa do SNCC Student Nonviolent Coordinating Committee, não é por causa das rebeliões que estão ocorrendo nas grandes cidades. É a incapacidade dos brancos de lidarem com seus próprios problemas, dentro de suas próprias comunidades. Esse é o problema do fracasso do projeto de lei dos direitos civis. E assim, em um sentido mais amplo, devemos então perguntar: Como é que as pessoas negras se movem? E o que fazemos? Mas a questão em um sentido maior é: Como as pessoas brancas que são a maioria, e que são responsáveis por assegurar a democracia podem fazê-la funcionar? Eles falharam miseravelmente a este ponto. Eles nunca fizeram com que democracia funcionasse, seja dentro dos Estados Unidos, Vietnã, África do Sul, Filipinas, América do Sul, ou em Porto Rico, onde quer que o americano tenha passado, não foi capaz de fazer a democracia funcionar, de modo que em um sentido mais amplo, não só condenar o país pelo que é feito internamente, mas devemos condená-lo por aquilo que ele faz externamente. Vemos esse país tentando dominar o mundo, e alguém tem que se levantar e começar a articular, pois este país não é Deus, e não pode governar o mundo.



Parte 2: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power.html
Discurso na integra (em inglês)
youtube: http://youtu.be/IMYTN0-2ugI
American Rhetoric:
http://www.americanrhetoric.com/speeches/stokelycarmichaelblackpower.html

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O dia em que Dorival encarou a guarda - Curta-Metragem

Todo homem tem seu limite, e Dorival resolve enfrentar a tudo e a todos para conseguir o que quer. A história da luta desigual de um homem contra um sistema sem lógica e sem humanidade.

Diretor: Jorge Furtado, José Pedro Goulart
Elenco João Acaiabe, Pedro Santos, Zé Adão Barbosa
Ano 1986 - País Brasil - Local de Produção: RS

Prêmios: Melhor Ator no Festival de Gramado 1986 -Melhor Curta no Festival de Gramado 1986 -Melhor Filme - Crítica no Festival de Gramado 1986 - Melhor Filme - Júri Popular no Festival de Gramado 1986 - Melhor Curta no Festival de Havana 1986 - Melhor Filme no Festival de Huelva 1986 - Melhor Filme - Crítica no Festival de Huelva 1986
Festivais: Sundance Film Festival 1991

fonte: http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=399#





Um curta-metragem de 1986 que retratou muito bem a truculência, a burocracia e o obedecimento de ordens sem motivo fundando.

Dorival, um preso que exigia seu direito ao banho, pois estava um calor infernal, e fazia 10 dias que não ia ao chuveiro, não podendo exercer o minimo da dignidade humana. Com a ameaça de fazer um escândalo na cela, Dorival fez seu pedido à diversas hierarquias desde o cabo ao tenente, nenhum deles saberia o porquê da ordem que proibia Dorival do direito ao banho, apesar dos próprios guardas estarem, também, pingando de suor.

Dorival visto esgotado seus meios soltou uma cusparada na cara do tenente. O mesmo ordenou que abrisse a cela, mas antes, ordenou que chamasse reforço, pra covardemente espancar Dorival. Para limpar o sangue, adivinhe para onde que ele foi?

Esse curta nos faz refletir em diversos assuntos, não foi a toa que recebeu vários prêmios.
Além de pensar no sistema carcerário, nos remete a luta pelo transporte, pela moradia, ou seja, também, tudo que há de resquício da ditadura militar nesse pais.

Carlos R. Rocha

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Entre a Luz e a Sombra - Documentário Rap

Descrição do vídeo no youtube:
Entre a Luz e a Sombra é um documentário brasileiro lançado em 2009 que investiga a violência e a natureza humana a partir da história de uma atriz que dedica sua vida para humanizar o sistema carcerário, da dupla de rap 509-E formada por Dexter e Afro-X dentro do Carandiru e de um juiz que acredita em um meio de ressocialização mais digno para os encarcerados.

Lançado nos cinemas no dia 27 de novembro de 2009, em 14 de novembro já recebeu o primeiro prêmio: venceu a 4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. Dexter manifestou-se contrário a diversas cenas do filme.


sábado, 23 de novembro de 2013

Favela No Ar - Documentário Rap

Descrição do vídeo no Youtube 
O rap é a chave. O rap é a única música que reúne multidões pra falar de consciência. É o poder da comunicação. Uma co-produção internacional entre a brasileira 13 Produções, a dinamarquesa Rosforth e a sueca Stocktown, Favela no Ar retrata, na lata, o despertar do jovem pobre paulistano para a consciência social na identificação da vida que imita a arte com a arte que imita a vida. É o capítulo paulistano da história cultural do respeitado rap nacional na voz de seus principais expoentes. A auto-recuperação de Dexter e Afro-X por meio do rap, a última entrevista gravada de Sabotage, o fortalecimento do movimento hip-hop com a sigla 4P -- Poder Para o Povo Preto --, o dilema da exposição na mídia no entender de KL Jay e no contraponto informado de Xis, o poder transformador do hip-hop como movimento local na voz do RZO... Favela no Ar marca a batida deste movimento de muitos movimentos.