quinta-feira, 31 de março de 2016

O Conteúdo Racista nas Alucinações dos Brancos: o fenótipo do medo

O que é fantástico, o que é temível ao homem branco do ocidente? Esse texto visa apresentar como o medo branco do fenótipo negro é apresentando no sub texto das alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas a partir de uma leitura lateral do texto "No Limiar do Sono in: Mente Assombrada" de Oliver Sacks.

Por Miguel Angelo*


O etnólogo africano-cubano, Carlos Moore, fez o que talvez tenha sido uma das maiores contribuições para a compreensão do racismo na contemporaneidade. Pesquisando esse fenômeno através da história ele apresentou o argumento de que o racismo não é uma mera produção da ideologia, mas sim uma consciência historicamente determinada contra o fenótipo do negro. Com isso o racismo não é produto de uma sistematização de ideias e valores europeus, não tem uma relação de causa-efeito com o conceito biológico de raça, logo não é uma produção apenas europeia. Sem negar a importância que o conceito biológico de raça teve para a justificativa de negar a humanidade do africano ele sozinho não criou o fenômeno, mas sim é produto de um critério fenotípico que já ocorria em escala planetária. Povos atravessaram a história realizando conflitos decorrentes de diferenças fenotípicas e são essas diferenças que sempre foram levadas em conta nas atribuições de qualidades positivas e negativas entre os seres humanos. Sendo o racismo uma realidade histórica, uma realidade social, cultural desde a antiguidade, assombrando o imaginário social, como seria possível ele não se expressar nas alucinações do homem branco europeu?

A abordagem sobre a questão da produção alucinatória do homem branco europeu realizada por Sacks está em um enquadramento conceitual iluminista/racionalista, que apesar de ser particular, reclama universalidade. Dado que a visão eurocêntrica do mundo tem valor de norma em nossa sociedade, ou seja, está naturalizada, isso precisa ser sempre reforçado. Logo deve-se reconhecer que as alucinações de que Sacks fala, só podem ser pensadas como alucinações no contexto branco-europeu com seus valores e cultura o que equivale dizer que as categorias "alucinação", "sonhos", conceitos como "hipnagógicas" e "hipnopômpicas" não podem ser aplicadas aos mais diversos povos e culturas pois os conteúdos desses termos são particulares e historicamente determinados. Concordando com Moore não irei afirmar que a crença de atribuição negativa do fenótipo africano é apenas um produto intelectivo dos europeus, minha intenção é apenas a de observar que, em decorrência de uma consciência historicamente determinada social e culturalmente o europeu tem uma moral que leva em conta o fenótipo e, entre outros, o fenótipo africano está ligado à qualidades negativas. Vamos aos casos citados nesse texto de Sacks;

Nabokov tem uma alucinação com; "(...) um anão de feições grosseiras e avermelhadas com nariz ou orelhas inchados"

Andreas Mavromatis cita um caso em que um homem teve alucinações com rostos; "(...) Antes eram rostos fascinantemente feios. Eram humanos, mas pareciam animais, porém esses animais não tinham semelhantes na criação, e sua aparência era diabólica. [...] Ultimamente os rostos têm sido de uma beleza primorosa. Formas e traços de impecável perfeição agora sucedem uns aos outros em variedade e números infinitos."

Dr. D; "Era uma noite tranquila de verão. Acordei por volta das duas da manhã, como às vezes me acontece no meio da noite, e em pé ao meu lado estava um índio americano de quase dois metros de altura. Era um sujeito enorme, de músculos esculpidos, cabelos e olhos pretos. Percebi, aparentemente ao mesmo tempo, que se ele quisesse me matar não havia nada que eu pudesse fazer, e que ele não podia ser real. No entanto, lá estava ele, como uma estátua, mas vivíssimo. Minha mente trabalhou depressa: como ele poderia ter entrado na casa?...Por que estava imóvel?...Isto não pode ser real. No entanto, a presença dele me dava medo. Ele se tornou diáfano depois de cinco a dez segundos, vaporizou-se delicadamente até se tornar invisível".

Na mesma linha do Dr. D estão as alucinações de Spinoza e Allan Kardec no entender de Sacks, Spinoza com o temor de africanos e Kardec com alucinações envolvendo espíritos, fantasmas e etc.

Em todos os casos a questão fenotípica é presente e determina a qualidade da alucinação em experiência positiva ou negativa. Nabokov parece ter tido uma alucinação com uma representação típica de um gaulês (povo celta), Andres teve uma alucinação primeiro com fenótipos distintos do padrão que ele reconhece como próprios da humanidade e posteriormente com uma "beleza primorosa" que não deixa dúvidas quanto o fato de que ele se refere muito provavelmente à sua imagem no espelho. O Dr D. ficou horrorizado com a possibilidade de ver um "índio americano", Spinoza viu um "negro leproso do Brasil" e Kardec alucinando ou não atribuía a qualidade dos fenótipos à qualidade das entidades.

Para aprofundar no exemplo, vou focar no caso de Spinoza e no de Allan Kardec. Para o primeiro caso vou utilizar o artigo: "Um Certo negro brasileiro" um sonho político-filosófico de Spinoza de Nicolás Alberto González Varela e em seguida o artigo: "Frenologia Espiritualista e Espírita - Perfectibilidade da Raça Negra" do próprio Kardec. Trabalhar esses dois exemplos será uma forma de argumentar que, como afirma Carlos Moore, a questão do racismo se concentra antes no fenótipo dado que na época de Spinoza ainda não existia o conceito de raça e no de Kardec ele já vigora. Perceberemos como o central do discurso, da percepção que atribui qualidades negativas ao africano, ocorre independente do conceito de raça. 

"Digo-lhe que não é caso raro, e posso confirmar que se passou comigo algo semelhante no inverno passado em Rijnsburg, que explicarei. Quando, uma manhã, despertava de sono muito pesado, o céu já clareando, as imagens que que vira no sonho apareciam ante mim, como se fossem coisas reais, em particular a aparição de um certo negro brasileiro leproso, que nunca vira antes. Esta imagem desaparecia quase por completo quando, para distrair-me com alguma coisa e manter-me ocupado, meus olhos fixavam-se num livro ou em outra coisa; se tirava os olhos desse objeto e não fixava minha atenção em nada de especial, por momentos reaparecia a imagem do etíope (Æthiopis), com igual intensidade anterior, até que se ia desvanecendo até desaparecer. O mesmo que aconteceu nos meus sentido internos deve ter ocorrido ao seu ouvido."

Trate-se uma carta de Spinoza escrita em 1664 em resposta à seu amigo Peter Balling que acabara de perder um filho e dizia ter tido alucinações com vozes e gemidos que pareciam anunciar a fatalidade.

Essa é única referência feita, de forma explícita, à instituição escravidão e à escravidão do negro em particular feita por Spinoza. Da mesma maneira que o Dr. D, nem Spinoza nem Balling teriam dúvidas da negatividade da experiência de ter uma alucinação com o fenótipo negro. O medo do ser humano de fenótipo africano é algo realmente concreto tanto a Balling, patrício médio e comerciante transatlântico, como ao filósofo que aplica termos altamente negativos aos africanos para o padrão da época "nigri" (negro) e etiope (do grego etiop; cara queimada). Kant e Hegel (esse último mais abertamente racista com a tese de que a África era um continente sem história) utilizavam os termos no mesmo sentido. É evidente que essa alucinação é produto do próprio sistema de crenças do filósofo, para ele produto de uma realidade objetiva, uma orientação "inquestionável" do quadro axiológico que viviam, segundo Varela; 

"A causa imediata do sonho pode ter sido alguma forma de delírio, mas o conteúdo do sonho – quer dizer, a imagem aterradora de uma colônia nativa de escravos e trabalhadores braçais em rebelião contra seus amos europeus – não podia ser explicado por causas puramente físicas, mas, sim, pela confusa consciência mental de Spinoza, do capitalismo holandês, da própria empresa colonial em si mesma, do sonho imperial de uma Hollandas-Brasilis, de uma grande Nova-Holanda e das representações dessa empresa em sua cultura, calvinista e liberal, no núcleo mais duro e mais reprimido da Ideologia holandesa".

Inegavelmente o escravismo atravessava de maneira transversal a vida de Spinoza, dado ser o negócio local de Amsterdã onde os judeus controlavam 20% do comércio até 1630. Seu irmão, Gabriel, tinha plantações de açúcar e empregava trabalho de africanos escravizados em Barbados. Apesar do ponto de Varela ser mais sugerir que Spinoza teve uma alucinação bem semelhante Balling, no sentido que a alucinação representava um mal presságio sobre a campanha holandesa para estabelecer uma colônia no Brasil, fazendo um diálogo com Sacks inclusive, e compreendendo, aparentemente o racismo como um fenômeno da ideologia (seguindo uma lógica marxista) meu ponto é o de que é a questão do fenótipo que marca a experiência alucinatória de Spinoza.

Voltemo-nos agora para Allan Kardec. Em "Frenologia Espiritualista e Espírita - Perfectibilidade da Raça Negra" de 1862, seu ponto é incorporar o espiritismo no contexto científico e assim demonstrar que o que a ciência vigente não pode explicar o espiritualismo pode. A questão colocada é se o africano está condenado a ser "uma espécie de animal doméstico, preparado para a cultura do açúcar e do algodão" pura ou simplesmente ou se seria possível aperfeiçoar a "raça". Para Kardec, respeitando as teses do racismo científico, em termos de corpo biológico é impossível aperfeiçoar o negro, de acordo com a frenologia materialista, mas para a frenologia espírita isso seria possível dado que de acordo com as reencarnações, em uma determinada etapa, o ser que antes possuiu o fenótipo negro pode vir a reencarnar no fenótipo do europeu. 

"(...) Por assim dizer, essa questão é resolvida pela precedente: apenas temos que deduzir algumas consequências. Elas são perfectíveis para o Espírito que se desenvolve através de suas várias migrações, em cada uma das quais adquire pouco a pouco as faculdades que lhe faltam; mas, à proporção que essas faculdades se ampliam, necessita de um instrumento apropriado, como uma criança que cresce precisa de roupas maiores. Ora, sendo insuficientes os corpos constituídos para o seu estado primitivo, necessitam encarnar em melhores condições, e assim por diante, à medida que progridem."

Seguindo a lógica de Hegel em "História da Filosofia" a África seria a terra da criancice. A humanidade encontra sua forma evoluída e acabada, na sua orientação teleológica, no caucasiano europeu;

"Assim, as raças são perfectíveis pelo corpo, pelo cruzamento com raças mais aperfeiçoadas, que trazem novos elementos, aí enxertando, por assim dizer, os germes de novos órgãos. Esse cruzamento se faz pelas migrações, as guerras e as conquistas. Sob esse ponto de vista, há raças, como há famílias, que se abastardam, se não misturarem sangues diversos. Então não se pode dizer que haja raça primitiva pura, porquanto, sem cruzamento, essa raça será sempre a mesma, pois seu estado de inferioridade se prende à sua natureza; degenerará, em vez de progredir, o que resultará no seu desaparecimento, ao cabo de certo tempo." [destaque do autor]

Seria então com o contato, com a transmissão via cruzamento que a tal "raça primitiva" iria se alterar, mas não necessariamente se aperfeiçoar. Está bem em evidência que o fenótipo é a marca da inferioridade natural para Kardec;

"Por isso as raças selvagens, mesmo em contato com a civilização, permanecerão sempre selvagens; porém, à medida que as raças civilizadas se espalham, as selvagens diminuem, até desaparecerem completamente, como aconteceu com a raça dos Caraíbas, dos Guanches e outras. Os corpos desapareceram; quanto aos Espíritos, em que se transformaram? Muitos deles, talvez, se encontrem entre nós (...)

(...) Em resumo, o homem atual quer compreender. O princípio da reencarnação ilumina o que estava obscuro. Eis por que dizemos que este princípio é uma das causas que faz com que o Espiritismo seja acolhido favoravelmente."

O artigo de Kardec nos dá uma visão bem acabada do fenômeno racismo. Sua posição expressa que o racismo anti-africano está também no que Sacks chama de dimensão alucinatória já presente no sub texto de seu texto.

Referências:


Kardec, Allan. Frenologia Espiritualista e Espírita. Perfectibilidade da Raça Negra. Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Ano V, Abril de 1862. Número 4. 


Moore, Carlos. Racismo & Sociedade. Novas bases epistemológicas para a compreensão do racismo na História. Belo Horizonte. Mazza Edições, 2007.


Sacks, Oliver. No Limiar do Sono in: Mente Assombrada. São Paulo, Companhia das Letras.


Varela, Nicolás González Varela. Racismo & Filosofia. “Cierto negro brasileño leproso”. Sobre un sueño de Spinoza. Copyleft 2013.


*Miguel Angelo é estudante de Saúde Pública na FSP-USP, membro fundador da Frente Negra Grajaú, e membro do Comitê Contra o Genocídio do Povo Preto e Periférico - SP.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Mais um abuso da PM paulista na zona leste de SP - Vídeo

No Dia 07/03/2016 Policiais Militares espancaram um rapaz após uma discussão numa abordagem feita por PMs da viatura M-51315. Isso aconteceu na zona leste de SP no Jd Piratininga, Cangaíba. O rapaz foi levado para o hospital desmaiado e liberado no dia seguinte. A população do local sofreu agressões após a chegada de outra viatura (M-51304) conforme mostra no vídeo. 
Absurdo, essa é a forma que o Estado insiste em chegar nas quebradas de SP. Eis a política de segurança pública para o povo preto!!!


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Divulgação - ATO: UM ANO DA MORTE DO RENATINHO!

Zona Leste Exige um Basta de Violência Policial
ATO: UM ANO DA MORTE DO RENATINHO!

Data: 19/03/2016
Horário: 15h as 19h
Local: Rua José de Toledo, 2 - Itaim Paulista (Próximo ao Hospital Santa Marcelina)








No dia 18/03/2015 Peterson Conti (Renatinho), 21 anos, foi brutalmente espancado e torturado até a morte por PMs do 29º Batalhão da Força Tática.
O PMs apresentaram uma versão fraudulenta dos fatos e assim permanecem soltos. Exigimos rigor e imparcialidade nas investigações. Queremos Justiça!

- CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE
- PELO FIM DO RACISMO INSTITUCIONAL
- CHEGA DE TORTURA
- CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO PRETO E DA PERIFERIA!!!

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Cronograma do Ato:
15h as 18h:
- Fala das mães e familiares de vítimas
- Apresentações de RAP
- Fala de representantes de movimentos sociais
- Intervenções Poéticas
- Microfone Aberto

18h30:
- Projeção de um vídeo em homenagem ao Renatinho

19h:
Marcha de encerramento do ato.

VENHAM, ESTÃO TODAS E TODOS CONVOCADOS PRA MAIS ESSA ETAPA DA LUTA... TRAGA SUA ARTE, SEU PROTESTO, SUA FAIXA, SEU CARTAZ!!!

Saiba mais sobre o caso:





terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Texto e Fotos - Ato SP Manicômio Genocida - 25/01/2016

COMITÊ CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE PRETA POBRE E PERIFÉRICA

FÓRUM DE HIP HOP

III ATO - SÃO PAULO: MANICÔMIO GENOCÍDA CONTRA A POPULAÇÃO PRETA PERIFÉRICA.

Pelos idos de 1554 os homens brankkkos (kkk faz referência a ku klux klan) chegam nessas terras com seu Deus racista, sexista, homofóbico, xenofóbico. Homens que defendem um Deus que está acima da razão humana e que até determina essa razão. O padre jesuíta José de Anchieta era um representante daquele braço que visava a "salvação" pela via da aculturação dos indígenas e evidentemente isso não está desarticulado com o roubo da terra dos povos originários, escravização, estupro, enfim, todo o receituário da empresa colonial.

Ao falarmos de São Paulo falamos de supremacia brankkka que é, sob uma base histórica, o sistema que institucionalmente perpetuou a exploração e opressão de continentes, nações e povos não- brancos por pessoas brankkkas e suas nações do continente europeu com a finalidade de manter e defender um sistema de riqueza, poder e privilégio. Essa é a base sobre a qual se sustenta o genocídio. Enquanto ela vigora, vigora também o genocídio.

Assim funciona o racismo em países que vigora falácias como a "Democracia Racial"

1. Aceitação implícita da brancura como norma ideal.
2. Negação da raça como categoria socialmente relevante.
3. Negação da raça como realidade física e louvação da mistura racial.
4. Negação da existência de uma especificidade cultural africana e louvação da mistura cultural.
5. Corte espacial ("não aqui").
6. Corte temporal ("não mais").

Sobre essa base estão justificados os aparelhos de controle e repressão que servem ao Estado como os presídios, manicômios, hospitais psiquiátricos, escolas (que ensinam o povo preto a se odiar), a polícia entre outros.
Os valores desta Supremacia Braankkka não são valores que estão apenas no conteúdo das políticas sejam elas de governo ou de Estado, esses valores são os valores da sociedade. Toda sociedade apertou os gatilhos junto com a polícia civil e militar matando 311 pessoas até o terceiro trimestre de 2015 (segundo a secretaria de segurança pública), é também essa sociedade que apoia a criminalização dos movimentos sociais, das torcidas organizadas (chegando ao extremo de uma chacina que vitimou 8 pessoas na quadra da torcida Pavilhão 9 em 2015), que apoia o encarceramento de crianças, adolescentes, adultos, pessoas com sofrimento mental, e a xenofobia (principalmente no caso da perseguição de bolivianos e africanos diaspóricos do Haiti). Para essa receita sabemos quem são as vítimas, foi assim contra a República de Palmares, Canudos, foi assim para massacrar centenas no Carandirú, é assim em 2015 quanto as chacinas na capital; Parelheiros, Jd. São Luiz e na região metropolitana; Osasco, Barueri e Guarulhos. Evidentemente são ações perpetradas por grupos de extermínio (policiais) com o consentimento do Estado (incluindo seu judiciário que só serve para legitimar as ações genocidas do mesmo, e de seu, nesse caso, aparelho repressivo), ou seja, da totalidade da sociedade que apoia essas ações.

A cidade dos Bandeirantes (que a história oficial louva, mas que na verdade não passaram de caçadores de seres humanos à serviço dos supremacistas brankkkos) é a cidade da Força Tática, ROTA, dos presídios que mais prendem, de manicômios, comunidades "terapêuticas", hospitais psiquiátricos, da intolerância aos migrantes e imigrantes, e também da intolerância aos homoafetivos (já houveram 21 mortes motivadas pela homofobia no país em 2016, sendo que o Brasil representa sozinho mais de 50% de todas as mortes do mundo motivadas pela homofobia em 2014). É a cidade que mais aposta no controle, que mais combate as lutas sociais, é a cidade modelo do projeto genocida nacional, este a base de sustentação do projeto nacional, de uma nação que trás o lema na bandeira; Ordem (hierarquia racial) e Progresso (genocídio do povo preto).

* Contra a redução da maioridade penal: Pelo fim de todas as instituições de internação de crianças e adolescentes e pela emediata implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA.

* Pelo fim do machismo

* Pelo fim da homofobia

* Pelo fim do racismo institucional: Implementação imediata da Lei 10.639/03 (obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana nas escolas)

* Pela imediata desmilitarização da polícia/ Pelo fim da política de segurança pública vigente no país.

* Contra a xenofobia

* Contra o aprisionamento em massa : Fim dos presídios e imediata reparação de todos os presos políticos vítimas da política de drogas.

* Contra a criminalização das torcidas

* Contra a criminalização dos movimentos sociais

* Contra os manicômios: renúncia imediata do novo coordenador geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, Valencius Wurch

* Pela demarcação das terras indígenas e quilombolas e não à PEC 215.

http://spqvcnaove.blogspot.com.br
https://www.facebook.com/contraogenocidiodopovopreto/?fref=photo
Forumhiphopeopoderpublico.blogspot.com

FOTOS:























quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Divulgação: Ato SP Manicômio Genocida Contra a População Preta, Periférica!

LINK EVENTO NO FACEBOOK
https://www.facebook.com/events/214674728866621/

DIA 25/01/2016 - ATO: SAO PAULO MANICOMIO GENOCÍDA CONTRA A POPULAÇÃO PRETA PERIFERICA.

09H AS 15H - VENHA! CONTRA A DECADA DAS CHACINAS.

FAÇA SEU VIDEO DE COMPARECIMENTO! E DIVULGUE!
forumhiphopeopoderpublico.blogspot.com.br

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Forum de Hip Hop MSP junto com Comitê Contra o Genocidio Juventude Preta, Pobre e Periferica vem fazer a 3 edição do ATO em repudio Genocidio do Povo, Preto, pobre periferico:

"São Paulo Manicômio Genocida Contra a População, Preta e Periférica"

Em pleto dia 25 de janeiro dia do aniversário da cidade BANDEIRANTES, vamos para centro ocupar,denunciar nossas mazelas sociais escondidas e legitimas por esses governantes brankkkos.

Teremos intervenções com os 4 elementos do Hip Hop, intervenções danças tradicionais africanas e indigenas entre outras ações !

Encosta em peso, de punho cerrado e sem sorriso !!!


#ContraoGenocidiodoPovoPretoPobrePeriferico
#ContraoGenocidiodoPovoIndigena
#NoisPorNois
#manicomionuncamais #foravalencius


Videos Chamadas de artistas, militantes, enfim de quem irá comparecer!!!

Video1
https://www.facebook.com/francisco.egde/videos/1644229729177889/

Video2
https://www.facebook.com/aliado.uc/videos/952716428156158/


Video3
https://www.facebook.com/aliado.uc/videos/952931531467981/

Video4
https://www.facebook.com/marcos.renato.7169/videos/568954969934906/

Video5
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/195788217440191/

Video6
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/192467531105593/

Video7
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/195788130773533/

Video8
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/195788257440187/

Video9
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193476877671325/


Video10
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193475901004756/
Video11
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193475841004762/


Video12
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/193475644338115/


Video13
https://www.facebook.com/515studio/videos/1009537492425847/


Video14
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/192468551105491/


Video15
https://www.facebook.com/marcos.renato.7169/videos/565982020232201/


Video16
https://www.facebook.com/andrerapperpirata/videos/192467531105593/

Video17
https://www.facebook.com/100001707205778/videos/993841770682720/


Video18
https://www.facebook.com/aliado.uc/videos/947450095349458/

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Fala do Miguel Angelo no 14° Congresso Paulista de Saúde Pública

O Congresso foi realizado na UFSCAR em São Carlos entre 26 e 30 de setembro de 2015 e teve como lema: "Saúde e Poder: Reconectando Cidadãos e Trabalhadores ao SUS".
Teve três eixos de debate:
28.9 - "Desmercantilizar o SUS";
29.9 - "Produzir Coletivos e Co-Gestão";
30.9 - "Reinventar o Trabalho em Saúde”.
O 14º Congresso Paulista de Saúde Pública foi organizado pela Associação Paulista de Saúde Pública e a UFSCAR, veja link:
http://www.14congressoapsp.com.br/



Trecho da Fala do Miguel Angelo no 14° Congresso Paulista de Saúde Pública

São Carlos, 29/09/2014, 14° Congresso Paulista de Saúde Pública.
 Saúde e Poder. Reconectando Cidadãos e Trabalhadores ao SUS

Por Miguel Angelo


Boa tarde, libertário(a)'s, ativistas, militantes, lutador(a)'s, camaradas, companheiro(a)'s , irmã's e irmão's que lutam por um projeto de sociedade chamado Sistema Único de Saúde!

Minha comunicação será dividida da seguinte forma; Primeiro vou-lhes dizer o que minha vivência de luta com o povo africano (africanos diaspóricos) me levou a entender o que vem a ser esse projeto de genocídio. Em seguida irei pontuar algumas das possibilidades de nós defensores do Sistema Único de Saúde temos para fazer resistência a esse projeto, basicamente o que nós, africanos diaspóricos vislumbramos como possibilidade de intervenção, o que esperamos do Sistema Único de Saúde.

O povo africano (africanos continentais e dispóricos) está sendo destruído progressivamente em todo o mundo para garantir a égide da supremacia brakkka. Escrevo brakkka com três "k" fazendo referencia a Kan Klux Klan haja vista que essa raça histórica e cultural (para usar a acepção dada por Abdias do Nascimento em Quilombismo e não correr o risco que ouvir de intrigantes, maliciosos, ignorantes e racistas de que estou trabalhando com um categoria biológica) brankkka opera, ao menos na dimensão da ideologia, da mesma forma que essa organização abertamente racista nascida no sul dos EUA; cinicamente sabem o que fazem e ainda assim o fazem. Respeitam seus padrões de civilidade perante a comunidade e a noite saem a caça para nos matar, seja com suas armas brancas ou de fogo, com sua inação frente a necessidade de lutar abertamente contra seus privilégios, seja pelo seu silêncio de consentimento. O povo africano não inventou o racismo, o racismo não é um mero produto intelectivo do povo africano, aqueles aqui que são identificados como pessoas brancas são racistas em decorrência de serem privilegiados e socializados com base na raça por um sistema de supremacia brankkka (racista). Todas as pessoas brancas (ou seja, as pessoas de ascendência europeia) que vivem no Brasil, independentemente de classe, gênero, religião, cultura ou sexualidade são racistas. Os que aqui se identificam enquanto brancos e se consideram não racistas eu lhes afirmo que essa definição nada mais é do que uma maneira de negar a responsabilidade pelo racismo como fenômeno sistêmico, para forjar uma falsa inocência diante da opressão racial transferindo essa responsabilidade não apenas ao povo africano, mas também para todos os povos não-brancos. Ao invés disso, aqueles aqui que fizeram uma escolha consciente de agir para contestar alguns de seus privilégios brancos assim como o próprio sistema de supremacia brankkka que se considerem anti-racistas. 
Sigamos...

A supremacia brankkka operou e opera de diversas formas que certamente não são exclusivas entre si. A forma mais explícita da supremacia brankkka se expressa como um processo físico de pura violência, muitas vezes extremamente brutal. Aqui falamos de um processo de escravização, realizada pelos europeus, contra milhões de africanos durante centenas de anos, falamos também do extermínio dos povos indígenas na América, falamos da matança e do aprisionamento de milhões de africanos durante a colonização, falamos de uma lista aparentemente interminável de atos de terror perpetrados por supremacistas brankkkos em todo o planeta afinal. 

A supermacia brankkka é também um processo social e econômico onde milhões perdem sua soberania, sua própria terra, os supremacistas apropriam os mais básicos recursos que garantiriam a existência de milhões para interesses particulares. Fundamentalmente a supremacia brankkka é necessariamente um processo mental, é o encarceramento mental do africano. Quando apropriado o espaço mental do africano a visão de mundo do europeu de torna naturalizada, o disfarce da barbárie através de ideias conceitos e teorias que se põe como universais. A Europa forjou muito de sua identidade moderna à nossa custa justamente construindo a ideia de que nós somos o espelho negativo do mundo, que somos primitivos, supersticiosos, incivilizados, aistóricos e que eles são o exato contrário. 

Se você der uma olhadinha no Iluminismo irá se deparar com isso. Um Hume e um Liceu, que dizem que nossa vida mental é distinta da do Europeu. Um Buffon e um Blumenbach, dizendo que concentração de melanina é sinônimo de doença. Um Edward Long, dizendo que os povos não-brancos estão no meio da cadeia evolutiva entre o homem europeu, que assume o topo, e os símios, sua base. Não dá para esquecer Popkin, dizendo por lá que a criação mais plena da humanidade foi a caucasiana.

Os supremacistas brakkkos produzem um jogo onde eles sempre ganham e isso é dado como natural, como verdade. Nós africanos sempre estamos "em progresso", "em desenvolvimento" por que o que está valendo é os critérios deles que lhes permitem sempre estarem em primeiro lugar. Lembrem-se sempre que os africanos tanto de conexão interna (continente africano) como nós, os da conexão externa (espalhados pela diáspora) sempre ouvimos o discurso supremacista brakkko de que estamos em condições negativas em ternos sociais, econômicos e políticos por que não seguimos a lógica européia, mas é justamente por seguir essa lógica que estamos vivendo uma crise social, econômica e política, ou seja, é um ciclo fechado. Nesse momento o supermacista brankkko nos olha e diz; "A cultura do outro, a cultura deles é a marca de sua inferioridade", e dai temos o genocídio cultural como marca do "desenvolvimento", como marca do "progresso".

Nós africanos quando em condição de encarceramento mental internalizamos o discurso supremacista brakkko (A isso podemos chamar de racismo internalizado onde; (1) O veneno do racismo se infiltra na psique dos pretos, até que nós acreditemos que somos aquilo que os brankkkos dizem que somos - que somos inferiores aos brancos; (2) O comportamento de um(a) preto(a) para com outro(a) preto(a) decorrente desta intoxicação psíquica. Muitas vezes chamado de "hostilidade inter-racial"; e (3) A aceitação por pret@s dos valores eurocêntricos, como observado supra). A libertação física que operamos destruindo com nossas próprias mãos o regime escravocrata não significou a supressão da ideologia do supremacismo brankkko. Não se esqueça de como isso funciona no Brasil. Em lugares que vendem a ideia de que existe um "paraíso racial", Frances Winddance diz que os argumentos são assim;

1. Aceitação implícita da brancura como norma ideal.
2. Negação da raça como categoria socialmente relevante.
3. Negação da raça como realidade física e louvação da mistura racial.
4. Negação da existência de uma especificidade cultural africana e louvação da mistura cultural.
5. Corte espacial ("não aqui").
6. Corte temporal ("não mais").

Já dizia Diop; "[...] os brancos costumam negar a realidade das raças ao mesmo tempo que tentam destruir uma raça. Geneticamente, não pode haver raças; a noção fenotípica e sociocultural de raça ainda define a maioria das relações humanas até hoje."

Brankkkos se utilizam das afirmações das mais obtusas contra nós, criminalizam nossa práticas sociais sob seus critérios particulares, de forma implícita quando africanos se utilizam do mimetismo para se tornarem aturáveis à branquitude e explícita quando nos utilizamos da negritude. Sobre o ângulo da psicanálise, é possível afirmar, olhando a estratégia do mimetismo, que eles tentam fazer com que imaginemos gozar todas as orgias brankkkas secretas, qualquer coisa, por que no racismo o outro não é simplesmente o inimigo, ele está também envolvido em algum gozo perverso, ou, de um modo distorcido o outro (nós) pode ser alguém que tenta roubar do brankkko seu gozo, seu estilo de vida perverso. É uma maneira de operar a ideologia que se encaixa naquilo que Aimé Cesaire identificou como a única barbárie que a supremacia brankkka identificou como barbárie de fato, o momento em que a Europa assistiu Adolf Hitler brotar de seu projeto básico para operar dentro de seu continente civilizado, racional e histórico um massacre. Lá os nazistas tinham um discurso para judeus do gueto e outro para os judeus "adaptados" de Berlim, esses últimos eram aqueles que queriam roubar o gozo ariano.

Em poucas palavras; A supremacia brankkka é, sob uma base histórica, o sistema que institucionalmente perpetuou a exploração e opressão de continentes, nações e povos não- brancos por pessoas brankkkas e suas nações do continente europeu com a finalidade de manter e defender um sistema de riqueza, poder e privilégio. Essa é a base sobre a qual se sustenta o genocídio. Enquanto ela vigora, vigora também o genocídio.

Como efeito, por não ser a verdade descrita acima um pressuposto do SUS, ou seja, por ele, enquanto para uns como projeto de Estado e para outros projeto de sociedade, em si não reconhecer esse projeto genocida como negativo contribuindo para o seu avanço, inclusive, que eu fiz questão da descrição acima.