Um blog sobre os pensamentos e ações do grupo de rap Insurreição CGPP. Aqui se encontram os textos produzidos, notícias do grupo, letras de rap, clipes e traduções. Além de indicações de leituras, notas e trechos de textos literários, acadêmicos, políticos e de rap. Membro atual: Fuca
domingo, 28 de julho de 2013
Impresso em Negrito - Poema
Quando me vi sendo avaliado nos mínimos detalhes do corpo
Nunca senti tanto desprezo moral
Fui usado como mercadoria irracional, coisa brutal
E apos uma longa e cruel viagem, é uma pena eu não estar morto.
Eu vi vários morrerem, jogados aos mar, estavam doentes
Mesma raça mas de grupos diferentes, várias intrigas
Sem espaço, com bichos, insetos, pragas, brigas.
Quando escolhido, cortaram os laços com meus entes
Com um pedaço de aço quente me marcaram, fui pro abrigo
O trabalho era duro, 16 horas por dia em uma fazenda
A revolta veio, queria liberdade, queria igualdade, queria renda
A minha fuga falhou, mas os capangas capricharam no castigo
Anos mais tarde, minha mão de obra tornou-se inviabilizada
Enfim, fui libertado porem possuía completamente nada
Precisaram de novos consumidores...
E assim somos para a burguesa, somo meros consumidores,
Pagamos pelo que nós mesmos produzimos , somos explorados.
Chega de escravidão, basta de exploração! Chegar de mortes em negrito.
Aos direitos dos Negros.
(Carlos R. Rocha)
quarta-feira, 17 de julho de 2013
Curso o Método em Marx com José Paulo Netto - Videos
O Professor José Paulo Netto ministrou, em 2002, o Curso O Método em Marx na pós-graduação em Serviço Social da UFPE. O Curso foi gravado originalmente em Fitas VHS. A versão para DVD, dos 5 dias de aula (manhã e tarde), resultou em 2 DVDs por aula, num total de 10 DVDs.
retirado do site: http://www.cristinapaniago.com/jos%C3%A9_p_netto_-_curso_o_m%C3%A9todo_em_marx_-
Aula 1 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 1 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 2 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 2 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 3 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 3 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 4 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 4 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 5 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 5 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 1 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 1 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 2 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 2 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 3 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 3 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 4 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 4 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 5 DVD 1 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
Aula 5 DVD 2 Curso o Método em Marx com José Paulo Netto
sábado, 13 de julho de 2013
Projeto Nova Luz: o discurso midiático/social e científico sobre a ação política na Cracolândia - MSP
Projeto
Nova Luz: o discurso midiático/social e científico sobre a ação política do
município de São Paulo na região da “Cracolândia”.
Introdução
O
espaço urbano passa por um constante processo de transformação, ora de caráter
social ora político, a cidade forma seus próprios núcleos, a classificando e
fragmentando (SANTOS 2009). Munido de um processo histórico de desigualdade
social e a ausência de políticas públicas, tais núcleos transformam-se em guetos, alojando uma população excluída
socialmente (COIMBRA JR, 2000). Tal
situação ilustra-se em diversas cidades do mundo, tal como Lisboa, Amsterdã e
São Paulo, que em comum apresentam guetos
sociais de consumo de drogas ilícitas e diferentes políticas públicas para tal
situação (RODRIGUES, 2006).
Destaca-se
neste caso, a cidade de São Paulo, da qual em seu processo de transformação
urbanístico tornou o centro da cidade um núcleo de excludentes sociais e de
baixo valor político-econômico (ALMEIDA, 2011). Tal situação tornou a região
palco do consumo e venda de drogas ilícitas, com destaque ao crack, responsável pela denominação da
região de Cracolândia.
Apenas
recentemente, através do projeto de revitalização do centro histórico,
denominado Nova Luz, de autoria da prefeitura do município em parceria com o
governo do estado de São Paulo, a região tornou-se alvo de destaque tanto pelas
alterações urbanísticas no projeto, como as ações tomadas pelos órgãos públicos
à população local, em destaque aos usuários de crack (OLIVEIRA, 2011).
Tais
ações de caráter político e policial foram motivadoras de inúmeras críticas
tanto de pesquisadores e profissionais da área social, formadores de opinião
tal como revistas e jornais e de próprios órgãos públicos, demostrando em
todos os casos diferentes visões quanto às ações tomadas pelos órgãos públicos
aos usuários de crack da região da Cracolândia.
Discursos da Geografia
Os discursos descritos contidos nos artigos desde campo
apresentaram posição contrária à totalidade da ação da Prefeitura em parceria
com o Governo do Estado.
Para ALVES (2008) a proposta do Projeto nova luz esta
inserido em um contexto mundial de requalificação dos centros históricos e/ou
tradicionais. Possui apelo pela recuperação do aparelho cultural ali presente e
apresenta uma articulação conjunta do poder público e iniciativa privada. A
ação na Cracolândia é fomentada pela ideia de degradação do meio causada pelos
atores que ali residem como os transeuntes, vendedores ambulantes e até
moradores, pessoas essas de baixo poder aquisitivo que possuem a estigma de
suspeitos. Construído esse consenso de meio como reflexo dos atores pelos
interesses público/privado. Contraditoriamente ao discurso dos interessados,
ocorre mais destruição do tal patrimônio pela lógica do capital demonstrando
que na verdade a requalificação idealizada é sócio-cultural-econômica.
A construção do consenso para a ação de transformação do
meio vem pela moralização que emana do estado, o que é também um discurso de
professores de Geografia que assistem estes processos em outros lugares,
aspecto apresentado por FERREIRA (2010): “a Lapa foi arrasada, assim como a
Cracolândia. Os conteúdos são diferentes, mas ambos os espaços estigmatizados”.
O Projeto Nova Luz soma, neste ponto de vista, desejos eleitorais e financeiros
privados que deseja entregar o espaço à elite que escoou dali no passado, essa
seria a tal “revitalização” de devolveria ao “povo” o espaço que lhe é de
direito.
O impacto do projeto na dinâmica do tráfico de drogas
apresentada por FERREIRA (2010) (“De acordo com a polícia militar, responsável
pela segurança pública na área, já está ocorrendo uma intensa transferência dos
negócios relativos aos comércios de narcóticos da Cracolândia para o entorno,
particularmente Santa Cecília e a área do Largo do Arouche. Nota-se que o
processo de deterioração para a futura revitalização já se encontra em
andamento”) é semelhante à dinâmica do usuário de crack descrita por ADORNO E
RAUPP (2008) no que diz respeito às rotas no contexto, ou seja, dispersão em pequenas Cracolândias.
Discurso da Medicina
Ação
é necessária, porém o método é tido como inconstitucional.
A
Cracolândia é um desafio para a sociedade que deve ser enfrentado de maneira
interdisciplinar e com participação social, foi com a total ausência disso que
a Prefeitura em parceria com o Governo do Estado agiu no contexto do projeto
Nova Luz: “A iniciativa açodada da administração pública não levou em consideração
princípios primários de pluralidade. Reduziu com isso, a complexidade do tema
da toxicomania no espaço urbano a um assunto estritamente policial. E, mesmo no
campo da segurança pública, o assunto foi reduzido à esfera da criminalidade a
ser banida a qualquer custo, ignorando procedimentos humanitários e
integrados”.
O usuário de crack, por possuir um transtorno
mental, merece o respeito da sociedade. Só a abordagem multissetorial poderia
dar fomento à discussão desde usuário, tendo em vista que “... mesmo na esfera
sanitária, está longe de ser atingido o consenso a respeito da atuação
pública no uso, abuso e dependência de substâncias”.
Assim,
condutas não devem ser tomadas sem o julgamento individualizado de caso por
caso sendo que “... as discussões sobre a pertinência ou não da ação
involuntária tornam-se ociosas se não levarem em consideração os diagnósticos
sociais e clínicos corretos para sustentar cada modalidade de tratamento”. É
reforçado o fato de que ação está muito imatura, o que levanta a hipótese de
que a operação na Cracolândia é o que é para obter resultados antes do término
do mandato do prefeito Gilberto Kassab, e é colocado que as propostas
supracitadas nada mais são do que o exercício da defesa aos direitos humanos e à
saúde contidos na Constituição de 1988. A questão é um problema, mas precisa de
mais amadurecimento na sociedade, é possível agir quando o saber
médico-científico e multiprofissional prevalecer “Não há, portanto, espaço para
o voluntarismo terapêutico ou higienista”.
Discurso da Economia
Projetos
como o Nova Luz são necessários, porém o modelo de implantação é criticado.
A ação
na Luz é vista com aspecto interessante do poder público que reconhece que a
inserção de equipamentos de cultura como a Sala São Paulo e o Museu de Língua
Portuguesa não podem resolver o problema do tráfico de drogas que assola a
região assim como as desigualdades sociais gritantes que tornam a questão mais
complexa. MORAES (2012) Coloca que projetos como o Nova Luz são amplamente
formulados em decorrência do bom desempenho internacional dessas políticas de
revitalização dos centros urbanos que começam em meados da década de 90 (séc.
XX) abastecidos pela lógica neoliberal:
“Dentro
de tal quadro, um dos casos mais citados e alardeados é caso da cidade de
Bilbao. Ao longo dos anos 90, a cidade deu conta de alterar totalmente seu
perfil, deixando para trás o passado da cidade portuária e industrial e
tornando-se destino turístico e cultural...”.
A
experiência supracitada teria então dado uma nova lógica de transformação
urbana, uma que “está sempre atrelada a projetos grandiosos e aportes
gigantescos de recursos” uma lógica que o Nova Luz segue a risca.
O
autor, porém apresenta críticas a ações mal elaboradas dando exemplo da própria
Bilbao considerada “creative-clad” que não insere na lógica da implantação do
equipamento de cultura o desenvolvimento local e sim o utiliza como “roupagem
criativa”, ainda dá outros exemplos como o “creative-class” que “... são
aquelas que buscam intervir na cidade a partir da constituição de ambientes
pró-atividade, estimulando a vinda e instalação de profissionais criativos nas
áreas urbanas delimitadas pelas autoridades.” E ainda o modelo “creative-clash”
que “... o objetivo não é o de atrair agentes externos à área, mas sim o de
fomentar produtores criativos do próprio local”. Projetos da magnitude do Nova
Luz precisam vir acompanhados de “um aporte ampliado de estudos, dados
interdisciplinares e índice socioeconômicos” para que não tenha como resultado
“imposições arbitrárias na delimitação e na implementação dessas iniciativas”,
especulação imobiliária e expulsão de moradores e comerciantes locais.
Discurso da Antropologia
Definida
como gentrificação, a ação na Cracolândia através do Nova Luz é integralmente
criticada no discurso.
Para
FRÚGOLI E SPAGIARI (2011) o que prevalece na Luz são “representações
estigmatizadas” especialmente no discurso da “imprensa e televisão”. O Nova Luz
se resume para o autor “na criação de espaços potencialmente sujeitos a
aumentos consideráveis dos preços imobiliários”, mas é apresentado como uma revitalização espacial em resposta a degradação em marcha desde 1990. Sua
pesquisa de campo mostra muito mais que as “representações estigmatizadas” que
ele julga algo inerente ao objetivo da mídia de “criminalização da pobreza”. A
ação do Nova Luz na Cracolândia, segundo o autor, permite apenas, sendo um
grupo itinerante, sua dispersão e constituição de pequenas “cracolândias” nas regiões do entorno
dificultando o trabalho de redução de danos praticados por uma ONG com os
usuários. Está ONG identifica uma transição na forma de a Cracolândia ser vista
pela prefeitura, de um problema social (gestão de Marta Suplicy) para um
problema de saúde (Gilberto Kassab) que só piorou a situação tendo em vista que
isso vende a ideia de solução através da internação dos usuários, “o que
manteve a ação repressiva da polícia”. Esse é um dos argumentos para se fazer
impor o objetivo supracitado do projeto.
O
fenômeno de dispersão de usuários que era realizado de tempos em tempos ora
pelo poder público ora pela iniciativa privada, agora é realizado em conjunto
tanto por esses atores como por outros do próprio meio como os comerciantes que
utilizam a segurança privada para afastar os usuários.
Ainda
FRÚGOLI E SKLAIR (2009), através de uma abordagem etnográfica identifica um
discurso social que seria antagonista do midiático/político que leva a crer que
“... não vêm sendo interpretadas por tais atores sociais como mudanças
significativas, embora o poder local venha tentando transformar ou converter,
ao menos no plano semântico o espaço da ‘Cracolândia’ em ‘Nova Luz’”.
Neste
discurso a ação na Cracolândia através do Nova Luz é classificado como
gentrificação que consiste, segundo HOFFMANN (2007) “num conjunto de processos
de transformação do espaço urbano que ocorre, como ou sem intervenção
governamental, nas mais variadas cidades do mundo. No entanto, o processo tem
um sério impacto sobre os antigos habitantes do recém renovado centro da
cidade”, pois “cada processo de renovação da cidade até agora tem levado a
transformação quase completa da população”.
Discurso do Jornal Folha de São Paulo
Material
permite inferir que o jornal se mostra parcialmente favorável ao projeto, sendo
favorável a revitalização da área, porém dando ênfase a maneira como ele vem
sendo criticado pelo método.
A
primeira matéria selecionada data de 25/01/2012 e possui o titulo “Mais de um
século de espera”, afirma que a região conhecida como Cracolândia é “Assolada
por uma crise de Saúde Pública” e que ações públicas são “criticadas por uma
suposta ‘higienização’ do local” que aguarda mais de um século pela
transformação da Cracolândia em Nova Luz. A ação da polícia militar é criticada
por ter como resultado “... a migração dos viciados para bairros mais
próximos”. O ator social escolhido para participar da matéria é um síndico de
um prédio da região que está ansioso por um projeto que a prefeitura divulga há
20 anos “mas não sai do papel”.
Na
segunda matéria de título “Justiça suspende de novo revitalização na região da
Cracolândia” de 28/01/2012 dá ênfase ao fato de não ser “... a primeira vez que
a reurbanização é brecada pela justiça” sendo que “Em abril do ano passado o TJ
(Tribunal de Justiça) o pedido de liminar de uma Adin (ação direta de
inconstitucionalidade) impetrada pela Associação de Comerciantes da Santa
Efigênia”. Desta vez foi cassada a lei de concessão urbanística com o argumento
de que o projeto não foi discutido com a população. Como atores sociais aparecem
o juiz na ação que argumenta sua decisão também em decorrência da falta de
transparência com os gastos públicos no projeto e a ação da polícia militar:
“Ninguém discute a necessidade do Estado de retomar o espaço público da
Cracolândia (...). No entanto, essa retomada não pode ser marcada somente pelo
desenvolvimento econômico e financeiro, pela exclusão social e pela migração de
bairro de moradores de rua e viciados”. O outro ator social, a Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Urbano, por nota, afirma que “... causa estranheza
a decisão, uma vez que o TJ e a Procuradoria-Geral de Justiça já se
pronunciaram pela constitucionalidade da lei”.
Discurso do Jornal O Estado de São Paulo
Material
parece apresentar certa pobreza quanto o real contexto da Cracolândia e do
projeto Nova Luz que em nenhum momento é criticado, só justificado. Na segunda
matéria é possível identificar ainda certo mal-estar com a suspensão do
projeto.
A
primeira matéria utilizada foi veiculada em 12/01/2012 de título “A presença do
fotojornalista na Cracolândia paulistana” que consiste em imagens tiradas em 2010/2012 focando a degradação da área e o consumo indiscriminado de
crack por menores e adultos, com subtítulos como “A revitalização da degradada
região é o foco do projeto Nova Luz, plano urbanístico da prefeitura para
recuperar, em parceria com a iniciativa privada, esse pedaço do centro
paulistano” e “Menino consome crack na Cracolândia, em São Paulo”.
Já
na segunda matéria “Justiça de SP suspende o projeto urbanístico na Nova Luz”
ocorre a descrição da suspensão com uma ênfase na frase “cabe recurso da
decisão” e o enfoque diferente da Folha de São Paulo na questão do projeto
colocando que “A decisão também suspende o processo que trata da elaboração do
processo urbanístico para a área e seu estudo de viabilidade econômica”.
Discurso do Jornal O Globo
O
material permite dizer que a Cracolândia é um problema de segurança pública,
portanto a ação policial através do projeto Nova Luz é o mais importante para o
veículo. Não há criticas ao projeto em si, pelo contrário, a posição é
totalmente favorável, principalmente ao método.
Primeira
matéria utilizada foi veiculada em 13/01/2012 com o título de “PM volta a
dispersar usuários de crack em São Paulo” e fala de flagrante em usuários de
crack que se reuniram na Rua Helvétia para passar a noite. O ator social escolhido
foi o Secretário de Segurança Pública que disse “... que a ação na Cracolândia
não tem dia para acabar”. Foram apresentados dados da ação da polícia na área
que ora é chamada de Nova Luz ora Cracolândia. Ao final da matéria o Secretário
ainda comenta da proibição de balas de borracha e bombas e efeito moral na
ação: “Os usuários da Cracolândia são tão passivos que nem condições de
resistir eles têm. Não há necessidade de intervenção com o uso de força.”.
A
segunda matéria utilizada “TJ-SP suspende reurbanização de área que engloba a
Cracolândia” de 27/01/2012 além do “cabe recurso” já identificado no jornal Estado de
São Paulo há um “... local ocupado pela policia militar (PM) desde o começo do
ano para afugentar dependentes e traficantes de drogas”. Aparece como ator
social a secretária de Justiça que apresenta dados da ação policial na
Cracolândia considerando um sucesso: “A Cracolândia acabou. A Cracolândia não
existe mais.”.
Discurso da Revista Carta Capital
O
material coletado permite inferir o compromisso da revista em responder as
posições favoráveis ao projeto Nova Luz de maneira crítica. Seu enfoque foi no
intuído, desta maneira, de desacreditar o projeto sem apresentar o amplo
contexto no qual se insere e sim o objetivo lucrativo do mesmo.
A
primeira notícia utilizada foi veiculada em 17/01/2012 como título de “’O
projeto Nova Luz não convenceu o capital privado’” onde a revista através de um
arquiteto e urbanista da USP (Universidade de São Paulo) avalia de maneira
negativa o projeto que “... até hoje não conseguiu atrair o mercado imobiliário
para a região” e esse seria o motivo da ação ostensiva da polícia “... uma
última tentativa da prefeitura de Gilberto Kassab (PSD) de mostrar serviço ao
tentar solucionar o problema dos viciados em crack, instalados há anos no
bairro (...) é o último ano da gestão, não vão conseguir nada”. A matéria
continua descrevendo a proposta do projeto que “... existe a mais de 30 anos e
nunca foi realmente implantado”. A ação policial ainda é chamada de “saneamento
com relação aos viciados” de maneira geral tanto como o projeto, quanto a ação
policial isoladamente só tiveram saldos negativos sendo que, “Assim, o plano
corre o risco de cair em uma atividade eleitoreira, com grande aparição na
mídia, mas sem melhorias concretas, com um trabalho a longo prazo”. Ainda no
final da matéria o ator social afirma: “Essa gestão sairá totalmente
desmoralizada em relação à Luz”.
Em
27/01/2012 a matéria “Justiça suspende projeto de revitalização da Nova Luz” o
discurso não difere em muito dos outros aqui apresentados: “Na prática, isso
paralisa o projeto, mas cabe recurso da prefeitura.”.
Discurso da Revista Caros Amigos
O material explana, através da fala de especialistas, os conflitos
existentes entre os atores sociais, demonstrando as irregularidades na execução
do projeto como sanador dos problemas sociais da região.
A primeira matéria, veiculada no dia 17/01/2012, intitulada
“Churrascão da Cracolândia: veja protesto e leia manifesto” ilustra o protesto,
organizado por movimentos sociais em decorrência dos processos repressivos na
região, com a participação de frequentadores e moradores. A matéria também
divulga um manifesto organizado por diferentes entidades do movimento social
onde demonstram indignação quanto à política de repressão policial adotada pela
prefeitura do município e governo do estado ao usuário de crack, como também
sua política de combate às drogas e a especulação imobiliária, concluindo em
uma denúncia em defesa ao individuo.
A matéria de Raquel Rolnik, intitulada “Pinheirinho, Cracolândia e
USP: Em vez de política, polícia!” veiculada no dia 27/01/2012 faz um
comparativo entre as abordagens políticas e policiais na reintegração de posse
do terreno a qual se encontrava o bairro de Pinheirinho, em São José dos
Campos, da reitoria da Universidade de São Paulo e a ação policial no centro
paulistano para conter o tráfico de drogas. Segundo Rolnik, todos esses fatos
têm em comum “os conflitos na gestão e ocupação do território”, da qual
demandariam políticas de curto, médio e longo prazo devido a sua complexidade,
porém a resposta utilizada foi o uso da truculência policial e a limpeza social
para atores ocultos nos conflitos sociais.
As convergências e divergências nas
posições da academia e da imprensa.
O
material coletado permite inferir que o discurso cientifico é contrário a ação
política da prefeitura do município em parceria com o governo do estado de São
Paulo sobre a Cracolândia. O discurso Geográfico e o Antropológico parecem
contrários a todo o projeto Nova Luz, focando o ponto da especulação
imobiliária e a ação da polícia como maiores agravantes. O discurso Médico e o
Econômico são contrários ao método, porém reconhecem a necessidade do projeto
cada um com seu viés, ou seja, “tratamento” e “lucratividade”.
No discurso midiático/social começam a aparecer
apoiadores a ação sobre a Cracolândia sendo que o jornal Estado de São Paulo
justifica o projeto por um viés de recuperação de um patrimônio social e O
Globo no viés mais voltado para a questão do “saneamento para com os usuários
de crack”, sempre defendendo e otimizando a segurança pública que é a única a
ter voz nas matérias colhidas. O jornal Folha de São Paulo, que possui uma
posição aparentemente neutra, foi o veículo que mais se aproximou de
contextualizar a ação, aspectos como a “migração de usuários para outros
bairros” pactuam com os discursos da Geografia e Antropologia. Outro ponto
considerado positivo foi à presença de um ator social autóctone, o que não nos
ocorre em outros veículos da chamada “grande mídia”, que apostou em
representantes da justiça (O Globo) e na própria posição (Estado de São Paulo),
e na dita mídia alternativa que se utilizou de especialistas para defender seu
ponto de vista. Carta Capital não se preocupou em incutir seus valores, algo
presente em Estado de São Paulo e O Globo, como observado na apresentação das
matérias, parece se focar em contra argumentar os outros veículos listados.
Talvez seu discurso pactue em determinados momentos com o discurso econômico
que prima à lucratividade aliada à justiça social, porém se reduz a este
aspecto negligenciando o que de fato está contido no evento deixando muito vaga
a ideia “saneamento para com os usuários de crack” a quem não teve contado com
o que foi publicado sobre a mesma questão em outros veículos de informação.
Miguel
Angelo Sena da Silva Junior
Yago
Matos Alves
Farah Jorge Farah
...Somente Modo de Expressão Não. Aqui o Rap é Protesto e Manifesto!
(CDR
MC’s – É o Rap)
“Demagogia
nunca fiz, só falo o que vivo.”
(Quero Ver - Negreestyle)
Jovens de idade entre 18 e 25 anos; pardas
(leiam-se negras); com um ou dois filhos; não aceitas como são no sistema
público de educação; trabalhando sem carteira assinada e ganhando um salário
que acaba não cobrindo gastos básicos como alimentação e moradia; sem título de
eleitor (que, em tese, é o documento que garante a cidadania do indivíduo); sem
documento algum, alias, quando presa na maioria das vezes por tráfico, mas
também por furto e roubo. Tráfico aqui se entenda; pequeno porte, muitas vezes
para consumo próprio, e ainda muitas vezes essas mulheres são presas também por
tentar levar a droga no jumbo do marido em dias de visita. Ora, para tanto,
sabemos qual é a cartilha do gambé; humilha, bate, algema e sequestra em seu
navio negreiro “SOS Chevrolet Blazer”. Nunca questionam sobre como se produziu
uma situação e só mais tarde, quando algum pesquisador encontra-la para
produzir um TCC, é que ela terá sua versão exposta. Irei expor aqui algumas
evidências para que possamos caminhar com cada vez mais certeza de que essa não
é uma realidade só estadual ou nacional e sim mundial. Existe algo que é comum
no sentido estrutural no mundo em que vivemos? Sim, ele é capitalista, e para
essas mulheres “quantas prisões estão sendo forjadas” como diz Sankofa que reconhece
que elas “para o Estado é só um número e mais nada”. Exatamente isso, e como
esse Estado burguês insiste em garantir o lucro combatendo a consequência e não
a causa e situação perpetua.
Veja que curioso esse trecho inserido pela (SAP)
Secretaria da Administração Penitenciária em sua página na internet que fala
sobre a inauguração das penitenciárias femininas de Pirajuí (13/07/12), Tupi
Paulista (16/08/11) e Tremembé II = 768 vagas;
“A construção de unidades prisionais é uma responsabilidade que todos
precisam assumir: O Governo, as prefeituras e a sociedade. Ela envolve o
respeito às leis, a manutenção das ações de segurança pública e a proteção da
população”.
Secretaria
de Administração Penitenciaria SAP 2013.
Isso é sério? Querem mesmo que “todos” sejam
responsáveis por encarcerar mulheres nas circunstâncias expostas acima em nome
da lei, da manutenção das ações de segurança e da proteção da população? Sim,
ainda que as mulheres tenham sido ponta de lança das lutas em nossa história como
Dandara; que guerreou bravamente contra os colonizadores e se suicidou na
prisão por não aceitar a condição de escrava; Luísa Mahin, que também foi presa
por lutar nos levantes insurrecionais dos Malês e na Sabinada (meras notas de
rodapé de nossos livros de história de orientação eurocêntrica); até Maria da
Penha, “paraplégica pela violência doméstica”
como bem lembra as lutadoras do Rimação, essa que teve sua experiência
canalizada na luta pelos direitos das mulheres traduzida na lei 11.340 ainda
tão longe de se efetivar. Todas elas vítimas do um sistema “Rico, católico,
conservador e que ama as armas” como bem lembra o Rapper Pirata em “Boneca de
Porcelana”.
Fecho essa introdução deixando claro quem
melhor expôs para nós essa situação das mulheres. Foram anos e anos de pesquisa
acadêmica árdua de marxistas e folcaultianos que nos revelou o atual quadro?
Institutos de Pesquisa e suas ONGs estadunidenses de “Direitos Humanos”? Não,
quem primeiro nos apresentou esse quadro foi a ferramenta filha do
desenvolvimento de elementos culturais de raízes africanas que se difundiu por
todo o chamado “Novo Mundo” a partir holocausto negro iniciado no séc XV para
ganhar diversos moldes e culminar no que hoje chamamos de Rap. Ferramenta essa
inserida no bojo do Hip Hop que se traduz como porta voz dos que sofre a
situação tratada nesse escrito, mas também de tantas outras que fazem parte da
cartilha do genocídio do povo negro que é uma política oficial do Estado
Burguês aplicada antes em quilombos e hoje também nas periferias. O que os
pesquisadores, logicamente fundamentais, (considere um ao quadrado positivo
para os marxistas e um ao quadrado negativo para as ONGs) fizeram foi duvidar
demais, ai quando o demônio mostra a cara todo mundo se diz surpreso. Nada
disso diz respeito ao hoje, é como se o mano Yamada estivesse desafiando esses
que duvidam da nossa cultura como forma de entender a sociedade ao afirmar que
“quem duvidou de mim passou mal”. De fato, mais de vinte anos falando das fita,
eai? Continuam duvidando.
Drogas
“Aqui sou mais um réu, me põe em
julgamento”.
(Próximo Nível - Afavel)
Ao olhar por ai podemos notar que a relação
droga-mulher não é só coisa nossa. Columbia, no Canadá, por exemplo, vem
publicando relatórios a mais de dez anos apresentando essa relação. Até o
campeão mundial de pessoas encarceradas, EUA, não nega isso também. Eles tinham
mais de 1 milhão de mulheres em liberdade condicional no começo do século tendo
mais de 90 mil presas com as taxas aumentando progressivamente. Não é novidade
lá também o fato de que as mulheres são cada vez menos presas por outros
delitos como homicídio, sendo que as penas aumentam lá para a questão das drogas na medida em que aumentam também os
poderes arbitrários de seu Ministério Público, logo, três vezes mais mulheres
negras são presas em um país onde os negros em geral são uma minoria (13% da
população feminina dos EUA são negras, mas nas penitenciarias femininas compõem
48% do total). Adivinha a quem eles culpam por isso? Ora, nada mais nada menos
que a política de “Guerra as Drogas”, mais curioso ainda é que lá, e muito
provavelmente aqui também, todos os grupos étnico/raciais consomem drogas na
mesma proporção. Proporcionalmente também a taxa de crescimento de mulheres
encarceradas lá só entre 1986 (ano em que o então presidente Ronald Regan
assinou a Guerra as Drogas com um investimento de 2 bilhões de dólares) e 1996
foi de 888% para tráfico contra 129% para outros crimes, sendo que o período da
mulher presa acaba sendo maior mesmo com a de Lei de Informação (visa
desmantelar grandes redes de narcotráfico através da oferta de informações que
o réu possa dar em troca de uma redução da pena) pois elas, ocupando cargos
mais baixos no processo de circulação da droga acabam não tendo informações
relevantes. Para a mulher negra o martelo do juiz é uma tonelada mais pesado
afinal. Sendo que para, por exemplo, o crack, que a justiça estadunidense chama
de “droga do negro pobre”, basta a mulher portar algo em torno de dez a
cinquenta doses para ficar cinco anos encarcerada (ainda que dois terços do
consumo dessa droga seja realizado por brancos e latinos, os negros e negras
representam 82% das condenações) enquanto que para a cocaína, que essa mesma
justiça considera “uma droga utilizada pelos brancos dos estratos sociais mais
altos”, a dose para pegar cinco anos de prisão é mil vezes maior, o que provocou
o absurdo que é o negro cumprir em média 58,7 meses de prisão por tráfico
enquanto os brancos cumprem quase a mesma coisa, 61,7 meses, só que para crimes
violentos, ou seja, uma diferença de apenas
0,76% de pena para crimes extremamente distintos no que diz respeito o
critério de reclusão. Lembrando ainda que o país dos “Direitos Humanos” prende
95% dos réus por arbitrariedade do promotor, nem julgados são. Muitíssimo
curioso, pois suas ONGs de Direitos Humanos reduzem os problemas de arbitrariedade
de países Africanos como Guiné Equatorial e Angola argumentando que falta lá
autonomia ao judiciário, quando na verdade sua própria nação reproduz a tal
arbitrariedade mesmo tendo a tal autonomia, deixando explícito o caráter de
cor, classe e gênero que a justiça estadunidense aplica aos réus.
No Reino Unido, que reduziu, juntamente com
os países baixos, o número de presas flexibilizando o sistema penitenciário
para que cada vez menos mulheres fiquem em regime fechado freando a
superlotação dos presídios, ainda apresenta altos índices de mulheres em prisão
preventiva. O número de mulheres presas na Europa vem caindo, apesar de estar
longe do ideal, justamente por ações de redução de danos que discriminalizam o
usuário de drogas adaptando o porte para uso pessoal como é o caso da Holanda
que com a medida impulsionou a rede de saúde mental reduzindo ainda o número de
presos e presas por homicídio, mesmo com a presença de crimes desse tipo, entre
outros, que voltou a aumentar por lá como também, ao menos proporcionalmente,
no resto do mundo por questões da crise capitalista que vou trazer em outro
tópico
Se olharmos para o texto jurídico que
institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas de agosto de
2006 no Brasil, iremos notar o caráter repressivo para a questão onde a ótica
para elaborar uma política pública, por mais enfeites democráticos que forjem
no documento, mantêm-se plenamente restritivo só garantindo a inimputabilidade
(condição onde o réu não pode ser considerado culpado de uma ação) para cultivo
de substâncias psicoativas na utilização de forma ritualista-religiosa seguindo
as orientações dos demagogos das Nações Unidas uma vez em Viena na Convenção de
1971. Se nesse âmbito, o de construir um programa intersetorial com plena participação
social para responder uma questão crítica na sociedade, a visão é essa imagine
os quilos de legislações que partem do mesmo princípio. Pensando dessa forma é
muito difícil “Desenvolver, adaptar e implementar diversas modalidades de
tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional dos
dependentes químicos e familiares às características específicas dos diferentes
grupos: crianças e adolescentes, adolescentes em medida socioeducativa,
mulheres, gestantes, idosos, pessoas em situação de risco social, portadores de
qualquer comorbidade, população carcerária e egressos, trabalhadores do sexo e
populações indígenas, por meio da distribuição descentralizada de recursos
técnicos e financeiros” como prevê o substitutivo de 2010.
Esse ano já são quase 20 mil “infrações”
registradas por tráfico de drogas e mais de 4 mil só no mês de maio e só no
Estado de São Paulo, um número que só é absurdo pois basta ser negra e ser
usuária para ser traficante, negra e pobre então é duplamente qualificado para
os porcos.
Antes de prosseguir é preciso trazer outros
fatos relevantes para compreender o motivo da política retrógrada sobre drogas
pelo mundo.
O capital do narcotráfico é de algo em torno de 1 trilhão de dólares, o
equivalente ao PNB brasileiro (soma total de todos os bens e serviços
produzidos no país em doze meses), se colocássemos na conta as armas, demais
tipos de contrabando e a prostituição a cifra sobe muito além disso. Esse
dinheiro todo não tem outro destino que não os mercados especulativos, daí via
bolsa de valores caem direto nos bancos e nos famosos paraísos fiscais. O
próprio EUA, que lançou a “Guerra as Drogas” foi o mesmo que invadiu o
Afeganistão e derrubou o governo Talibã que havia erradicado o plantio da
papoula (base do ópio, droga que o país foi o maior produtor) e como num passe
de mágica o país voltou a exportar ópio. E você sabe que sentido faz isso?
Então, o dinheiro da venda do ópio afegão hoje serve para os EUA comprar armas
para invadir outros países. Logo aqui em cima temos a Colômbia que pediu para
os EUA construírem uma base lá com o argumento de enfrentar o narcotráfico, mas
por incrível que pareça, tinha um presidente que era ligado aos cartéis de
drogas na época, o senhor Álvaro Uribe. Até agora ninguém conseguiu provar que
o controle do narcotráfico mundial não seja apenas da Central de Inteligência
dos EUA (CIA), pelo menos depois da morte do colombiano Pablo Escobar em 1993.
Isso é só o começo, recentemente um jornalista italiano escreveu um livro
contando como que muitos bancos usaram o dinheiro do narcotráfico para evitar a
bancarrota em 2008.
Saúde
“A saúde é direito
de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”.
Constituição Federal de 1988
Nenhuma palavra sobre presos e presas na
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde lançada em 2011, pelo então Ministro
da Saúde José Gomes Temporão. Porém, a recomendação da OMS (Organização Mundial
da Saúde) em 2003 afirma que "Os reclusos devem ter acesso aos serviços de
saúde disponíveis no país, sem discriminação em razão da sua situação jurídica",
mas ainda que estivesse algo específico no que diz respeito a pessoas
encarceradas sabemos que a situação da saúde entre presos e presas é
deplorável, e já o é não só em consequência das doenças preexistentes (25,8%
dos presos e 37,0% presas ingressam no sistema carcerário com alguma doença e
não tem nenhum acompanhamento clínico no Estado de São Paulo, destas presas
56,1% já vinham sendo acompanhadas antes de ingressarem no sistema carcerário,
sendo mais comuns problemas respiratórios dos mais variados; 25,0%, problemas
psiquiátricos 13,2% e hipertensão 11,0%), mas também pelas torturas físicas e
psicológicas que passam em todo o decorrer do processo que vai do flagrante até
a soltura, agressões essas executadas pela polícia.
Como se não bastasse toda a barbárie a qual
as mulheres passam no processo que vai da apreensão até a condenação ainda são
obrigadas a viver no limite dentro do sistema carcerário. No que diz respeito
aos materiais de higiene pessoal chega a ser gasto apenas algo em torno de 50
reais anualmente por presa para atender essa demanda, o que se traduz na já tão
comum utilização de miolo de pão ou sacolas plásticas substituindo a ausência
do absorvente, miolo de pão ou sacolas plásticas em lugares aonde uma presa
chega a ter apenas 2 metros de papel higiênico para utilizar anualmente, isso
em um Estado que gasta mais de 556 milhões de reais anualmente no sistema.
As pesquisas globais apontam que
praticamente em todos os países a maioria das mulheres encarceradas tem idade
fértil e já sofreram abuso sexual, e isso vale tanto para o Brasil como para o
Canadá. É interessante comparar aquele com esse país tão cheio das aparências,
pois lá a maioria das mulheres encarceradas o foi por envolvimento com drogas,
a maioria é aborígene (minoria étnico/racial que representa 13% da população
local e mais de 40% da população encarcerada), pobre, com péssimas condições de
moradia e são mães. Aqui, assim como lá, as mulheres encarceradas são um dos
grupos de maior prevalência no que diz respeito Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST’s). A última pesquisa realizada
pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo nos presídios femininos mostrou
que a prevalência constatada de HIV foi de 4,8% e de sífilis, 5,7%. Segundo a
mesma, o índice de pessoas com o vírus da Aids (Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida) e outras DST’s é maior na população carcerária que em indivíduos
livres. Segundo os dados da Pastoral Carcerária, soropositivos perfazem 1,9%
(22 casos) da população carcerária, o que representa uma enorme desproporção
ante os dados para a população geral da região Sudeste do país, que é de 19,9
casos para cada 100 mil habitantes. Entre as atrocidades do sistema carcerário
de São Paulo consta inclusive o caso de uma presa que ficou definhando com uma
doença degenerativa em decorrência da ausência de um documento comprobatório da
referida patologia
Não é novidade a mulher encarcerada perder o
direito sobre seu próprio filho quando presa aqui e em diversos países
espalhados pelo mundo. O Canadá retira a guarda de mais de 20 mil mães ao ano em
decorrência do encarceramento. Número esse que é diretamente proporcional ao
número de presas que só veem aumentando no mundo. Essa situação provoca sérias
consequências para o desenvolvimento dessas crianças e torna mais traumático o
período de reclusão aumentando ainda a chance de reincidência. Com isso
segue-se a cartilha estadunidense optando por um Estado que cruza seus vastos
braços quando se faz necessário responder as demandas mais cruciais de
reintegração na sociedade que são; a condição digna de moradia e renda mínima;
promoção de acesso a uma rede mínima de sociabilidade e de luta contra o
estigma social; abertura das políticas públicas e do direito de liberdade
condicional. Em São Paulo ainda a maioria das presas grávidas não faz pré-natal
quando encarceradas, direito esse garantido mais pela construção social da
criança como capital social, ultrassexista e machista (que já começa no próprio
ambiente carcerário que na grande maioria das vezes abarca mulheres em um
espaço concebido por e para homens), do que pela responsabilidade do Estado
quanto à saúde da mulher (e não só da mulher quando mãe), ainda sim um direito
negado.
Quando uma mulher está no sistema carcerário
e precisa de atenção médica o discurso do Estado é automático; “faltam recursos
materiais e humanos”. Ora, ouvimos isso aqui, onde nem existe uma política
concreta para essa questão, assim como ouvimos também no Reino Unido, Canadá,
Cuba entre outros países que tem os melhores sistemas de saúde no mundo, mas
que até hoje “envidam” esforços sem conseguir responder a demanda, lembrando
que Noruega, Reino Unido, França e alguns lugares na Austrália já transferiram
a responsabilidade pela saúde das presas do Ministério da Justiça para o
Ministério da Saúde, medida essa que representa resultados ainda modestos.
Pensando as demandas cruciais no diz
respeito à saúde da mulher enquanto percorre o processo que vai do
encarceramento até a liberdade nosso perfil e o canadense parecem não diferir
muito, sendo;
• Vícios e Saúde Mental.
• HIV, hepatite e outras
infecções.
• Cuidados de saúde na prisão.
• Vida profissional e reinserção
na sociedade.
• Crianças, família e
relacionamentos.
Sendo que essas questões, que ainda não
foram superadas em nenhum lugar no mundo que eu tenha conhecimento (apesar de
que o Canadá reconhece a questão como problema fundamental e vem a anos lutando
contra a desumanização que o sistema carcerário impõe as mulheres), determinantes
claros da possibilidade ou não de reintegração e reincidência.
Capitalismo
“Pelo povo. por justiça, até fim,
até a glória”.
(Próximo Nível - Afavel)
Importante colocar aqui que ascenso do
encarceramento em escala mundial ocorre justamente no contexto em que surgiu o
“capital portador de juros”, fase do capitalismo que apareceu em resposta a
crise de 1970 (a década anterior foi a “fase de ouro do capitalismo”, de lá prá
cá só tivemos crises que são efeitos dessa fase aguda) que impôs a necessidade
de refundar o Estado, alterar as relações sociais e redesenhar as classes
sociais como um todo, é em síntese o que chamamos de neoliberalismo. Nos anos
1980 a direita radical chega ao poder nos Estados Unidos, Reino Unido e
Alemanha, e começaram a fazer prescrições neoliberais em resposta à crise;
corte de impostos diretos, desregulação de mercados laborais e financeiros,
debilitação de sindicatos, privatização de serviços públicos. Justamente nesse
período o Brasil sofreu com o aumento da inflação provocado pela fragilidade do
setor público o que criou um discurso da falência do mesmo. Foi o freio
do desenvolvimentismo (dentro do qual o proletariado forjou uma primeira agenda
social) e a sinalização ao que viria a culminar na adesão plena ao Consenso de
Washington em 1990.
A receita do Consenso é simples; combate à
inflação. O resultado foi a destruição da agenda social no mundo, ou seja, do
Estado de Bem Estar, e a constituição de um “”exército” de pessoas à margem.
Aqui, no biênio 1985/1986 período da saída do regime militar, a Escola Superior
de Guerra deixa um documento ao governo civil afirmando que a inserção de um
país de capitalismo dependente como o Brasil no modelo neoliberal exige um
reforço maior no aparato militar e carcerário em decorrência do inevitável
aumento da massa desempregada e sem proteção social que viria nos próximos
anos, ou seja, o Estado só poderia oferecer repressão e celas à população
desassistida.
É nesse mesmo biênio de 1985/1986 que são
instituídos grupos de trabalho para o processamento de uma agenda de ímpeto
reformista visando superar a óptica deixada pelos militares. Na formatação
desta agenda, as comissões que agrupavam setores ligados à assistência social,
saúde e previdência ganham maior espaço. Podemos evidenciar tal aspecto visto
que houve a inserção, por exemplo, das comissões referentes à assistência
social e previdência ao Ministério da Previdência e Assistência Social e sua
colaboração direta nos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte,
resultando em avanços importantes com relação aos direitos trabalhistas e
principalmente quanto ao direito social, onde são apresentados pela primeira
vez os objetivos de universalidade e equidade, olhando universalidade no sentido
de cobertura e atendimento e equidade quanto à participação e custeio. Porém
muito disso acaba ficando mais do plano jurídico-legal tendo em vista a
conjuntura internacional que acabou barrando a consolidação plena do processo.
É extremamente importante reconhecer essa articulação mundial para entender
como a proposta materializada na Constituição Federal de 1988 era ousada para o
período.
Países aparentemente imunes ao desmonte
neoliberal como a Escócia e País de Gales só viram o número de pessoas
encarceradas aumentarem (País de Gales teve mais oscilações no período) já na segunda
metade da década de 1960. As mulheres sempre são as mais encarceradas
proporcionalmente sendo que entre 2011/12 houve um aumento acima de 60% para um
e de 2,3% para o outro. Se pegarmos só a Inglaterra, notaremos que lá houve queda,
porém essa queda ainda não chega a equiparar os números do período anterior a
década de 1960. Mesmo a Holanda que criou “escudos” para evitar a expansão do
encarceramento de mulheres (mecanismos jurídicos de renúncia de acusação,
sistemas de filas para evitar superlotação e flexibilização de licenças e
indultos) só deu certo até 1980, quando a crise econômica chegou a as taxas de
encarceramento triplicaram. Eles reconhecem que a fase atual do capitalismo
inviabiliza utilizar o sistema carcerário para outra coisa que não um depósito
de vítimas do colapso social e mesmo sendo um país que mantém apenas uma mulher
por cela e que a partir de 2003 liberou mais de 50 mil pessoas da prisão
preventiva para a condicional continua ainda ligado a influencia de sistemas
penais como o estadunidense e o inglês.
De modo geral as taxas de encarceramento não
aumentaram somente em decorrência de mais prisões mais também pela
desaceleração de processos e aumento indevido da pena para os encarcerados
desde 1970.
Por aqui, o aumento global nos últimos 5
anos é de algo em torno de 40%, a maioria dos presídios são violentos e
superlotados e já temos mais de 500 mil presos em nível nacional, destes 175
mil são presos e presas de caráter preventivo, número esse que justifica a
superlotação. Mesmo reconhecendo que a tortura no sistema carcerário é a práxis
na maioria dos países, o Brasil consegue se destacar com uma verdadeira cultura
da prática disseminada em cada centímetro quadrado dos cárceres do país, que
por pressão internacional escreveu um projeto de lei que cria o Mecanismo
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (uma equipe que faria auditorias
surpresa nos presídios para averiguar alegações de torturas e maus-tratos) que
aguarda votação no Senado Federal.
Vamos fechar aqui olhando para os números de
encarceramento dos famosos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)
os tais países em desenvolvimento e que estão cada vez mais distantes das
conquistas sociais dos países desenvolvidos, ainda considerando a agenda
reduzida no plano social global. Todos têm desigualdades de gênero em quase
todos os setores, logo, as mulheres jovens pobres sofrem a opressão do cárcere
dentro e fora do sistema. Esses números englobam tanto homens como mulheres,
lembrando o descrito acima quando é afirmado que, proporcionalmente, são mais
mulheres presas do que homens.
-Brasil = 500 mil, é o 4° colocado mundial, 1° na América do Sul e 2°
nas Américas.
-Rússia = 806 mil e100, é o 1° na Europa e o 3° no mundo.
-Índia = 384 mil e 753, só ficando atrás na China na Ásia, 5° mundo.
-China= 1 milhão 650 mil, é o 1° na Ásia e o 2° no mundo.
- África do Sul = 159 mil e 265, 1° na África
Esses países só perdem para o campeão mundial, o já citado EUA com mais de 2.292,133 pessoas presas.
É preciso considerar que
nosso capitalismo difere do vigente desde a última crise societária ocorrida na
segunda metade do século XX. O neoliberalismo forjou instrumentos para
desmantelar as conquistas do proletariado mundial, mas apresentou em seu
interior novos elementos para a resistência assistida hoje no século XXI. As
experiências do M15 na
Espanha, do Occupy Wall Street nos Estados Unidos, da Primavera Árabe no Magreb
e do MPL hoje em nosso país, apresentam uma resposta a nova configuração
imposta aos Estados e Sociedades nacionais, perspectivas essas que ganham cada
vez mais força a partir da criação do Fórum Social Mundial em 2001. Levando em
conta esse novo acúmulo, deve-se reconhecer avanços e recuos nesses movimentos
sem esquecer que historicamente ainda não obtemos uma alternativa de ação que supere
a do partido revolucionário. Aos Movimentos Sociais cabe travar a luta pela
orientação cultural da sociedade no neoliberalismo, ou seja, contra o individualismo,
a fragmentação social, a submissão e a desmobilização política, esses que são
pilares centrais dos valores culturais inseridos por esse sistema nas
sociedades modernas. Logo, é importante reconhecer que não estamos imunes neste
processo. Dos partidos aos “coletivos horizontais” o conflito entre o
individual e universal se perpetua, a autocrítica permanente teve ser o
instrumento mais fomentado durante o processo que se abre em nosso horizonte.
Não podemos superar
isso sem olhar para a agenda social e tampar os buracos (sou pessimista para o
Brasil, pois a agenda social brasileira é a mais golpeada que conheço). Nesse
momento eu já comprei que nem a socialdemocracia nem o PT e nem democracia
burguesa é capaz de responder o mínimo. É questão de tempo para saber se a
crise vai acabar com mais capitalismo ou com o cumprimento da missão histórica
do proletariado, onde as mulheres, principalmente as negras, terão um papel
fundamental na construção da nova sociedade socialista rumo ao comunismo que o
futuro nos reserva.
“Vamos à revolução, todos munidos de
informação.”
“(...) porque toda revolução começa com um livro e termina
com um fuzil na mão”.
Força
Ativa – Vamos à Revolução.
Miguel
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