domingo, 16 de fevereiro de 2014

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 5



Black Power Speech (5/7) - Universidade da Califórnia, Berkeley - EUA



PARTE 1: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2013/12/discurso-de-stokely-carmichael-kwame.html
PARTE 2: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power.html
PARTE 3: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power_15.html

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 5

Nós é que colhemos o algodão para nada. Nós é que somos as criadas nas cozinhas de brancos liberais. Nós é que somos os zeladores, porteiros, os homens do elevador, nós que varremos o chão da faculdade. Sim, nós é que somos os que trabalham duro e os mais mal pagos, sim temos os menores salários.
E isso não faz sentido para as pessoas começarem a falar sobre as relações humanas até que elas estejam dispostas a construir novas instituições. Os negros são economicamente inseguros. Liberais brancos são economicamente seguros. Vocês podem começar a construir uma coalizão econômica? Os liberais estão dispostos a partilhar os seus salários com os negros economicamente inseguros por amor? Então, se vocês não estão, vocês estariam dispostos a começar a construir novas instituições que irão fornecer segurança econômica para os negros? Essa é a pergunta que queremos tratar. Essa é a pergunta que queremos tratar.

Temos que examinar seriamente as histórias que nos foram contadas, mas temos algo mais a fazer do que isso. Estudantes americanos são, talvez, os alunos menos politicamente sofisticados do mundo, do mundo, do mundo. Através de todos os países no mundo, enquanto estávamos crescendo, os alunos estavam levando as grandes revoluções de seus países. Nós não fomos capazes de fazer isso, eles têm sido politicamente conscientes da sua existência, na América do Sul, os nossos vizinhos, logo abaixo da fronteira tem um a cada 24 horas apenas para nos lembrar que eles são politicamente conscientes.
E temos sido incapazes de compreendê-los porque sempre nos movemos no campo da moralidade e amor, enquanto outras pessoas estavam politicamente acabando com nossas vidas. E a pergunta é: como é que vamos avançar politicamente e parar de nos mover moralmente? Vocês não podem se mover moralmente contra um homem como Brown e Reagan. Vocês têm de mover-se politicamente para colocá-los fora do negócio. Vocês têm de mover politicamente.

Vocês não podem se mover moralmente contra Lyndon Baines Johnson, porque ele é um homem imoral. Vocês têm de mover politicamente. E temos que começar a desenvolver uma sofisticação política - o que não é para ser um papagaio. "O sistema de dois partidos é a melhor festa do mundo" Há uma diferença entre ser um papagaio e ser politicamente sofisticado.

Temos que levantar questões sobre a necessidade de novos tipos de instituições políticas neste país, e nós do SNCC sustentamos que precisamos agora. Precisamos de novas instituições políticas no país. Pois qualquer hora, qualquer hora Lyndon Baines Johnson pode dirigir um partido com Bobby Kennedy, Wayne Morse, Eastland, Wallace, e todos os outros gatos supostos-a-serem-liberais, há algo de errado com esse partido, eles estão se movendo politicamente, não moralmente. E que se esse partido se recusa a sentar negros do Mississipi e vai em frente e senta racistas como Eastland e sua camarilha, é claro para mim que eles estão se movendo politicamente, e que não se pode começar a falar em moralidade para pessoas desse tipo.

Temos que começar a pensar politicamente e ver se podemos ter o poder de impor e manter os valores morais que nos são elevados. Devemos questionar os valores desta sociedade, e eu afirmo que os negros são as melhores pessoas para fazer isso porque fomos excluídos da sociedade. E a pergunta é, devemos pensar se queremos ou não nos tornar parte dessa sociedade. Isso é o que nós queremos fazer.

E isso é exatamente o que o SNCC está fazendo. Estamos levantando questões sobre este país, eu não quero ser uma parte da American pie. A American pie significa estuprar África do Sul, bater no Vietnã , bater na América do Sul, violar as Filipinas, e violar todos os países em que já esteve dentro. Eu não quero o seu dinheiro de sangue, eu não quero isso - não quero fazer parte desse sistema. E a pergunta é: como é que podemos levantar essas questões? Como é que vamos começar a criá-las?

Somos duma geração que crescemos achando que este país é a potencia mundial, que este país tem que ser o mais rico do mundo. Devemos questionar,  qual origem dessa riqueza? Isso é o que estamos questionando, e se queremos ou não que este país continue a ser o país mais rico do mundo, com o preço de estuprar todos - toda a gente em todo o mundo. Isso é o que temos de começar a questionar. E isso porque as pessoas negras estão dizendo que agora não querem se tornar uma parte de vocês, somos chamados racistas reversos. Isso não é um máximo?

Agora, vamos tocar na questão da não-violência, porque vemos que mais uma vez foi um fracasso da sociedade branca fazer o trabalho de não-violência. Eu sempre fui surpreendido com pregadores religiosos que vieram ao Alabama para me aconselhar a não ser violento, mas não têm a coragem de começar a falar com James Clark sobre a não-violência. É lá que a não-violência deve ser pregada - a Jim Clark, e não para o povo negro. Eles já foram não violentos muitos anos. A pergunta é: será que as pessoas brancas conseguem conduzir escolas não violentas em Cicero onde eles são responsáveis por essa realização, não entre os negros no Mississippi? Podem realizar-se entre as pessoas brancas em Granada?

E aqueles grandalhões que chutam as criancinhas negras - vocês podem realizar as escolas não violentas lá? Essa é a questão que devemos levantar, não a de conduzir a não-violência entre as pessoas negras. Vocês podem me citar um homem negro que hoje matou alguém branco e ainda está vivo? Mesmo após a rebelião, quando alguns irmãos negros jogaram alguns tijolos e garrafas, dez mil deles tiveram que pagar o crime, porque quando o policial branco vem, quem é negro é preso, "Porque todos nós parecemos iguais."

Nós, os jovens deste país, devemos começar a levantar essas questões. E temos que começar a nos mover para construir novas instituições que vão trabalhar com as necessidades das pessoas que delas necessitam. Vamos ter que falar para mudar a política externa deste país, um dos problemas com o movimento pela paz é que ele é muito preso no Vietnã, e que se retirar as tropas do Vietnã esta semana, na próxima semana teria que se arranjar outro movimento de paz para Santo Domingo. E a pergunta é: Como é que se começa a articular a necessidade de mudar a política externa deste país - uma política que é decidida acerca de uma raça, uma política em que as decisões são tomadas na base de obter a riqueza econômica a qualquer preço, a qualquer preço.




Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 4


Black Power Speech (4/7) - Universidade da Califórnia, Berkeley - EUA


PARTE 1: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2013/12/discurso-de-stokely-carmichael-kwame.html
PARTE 2: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power.html

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 4

Agora a pergunta é: como podemos começar a mudar o que está acontecendo neste país? Eu afirmo, como no SNCC, que a guerra no Vietnã é uma guerra ilegal e imoral. Então, o que podemos fazer para acabar com essa guerra? O que podemos fazer para parar essas pessoas que, em nome do nosso país, estão matando bebês, mulheres e crianças? O que podemos fazer para parar com isso? Eu afirmo que não temos o poder em nossas mãos para mudar essa instituição, nem para recriá-la, nem para que eles aprendam a deixar o povo vietnamita em paz, o único poder que temos é o poder de dizer: "O inferno não!" (ou apenas NÃO)

Nós temos que dizer a nós mesmos que existe uma lei maior do que a lei de um racista chamado McNamara. Há uma lei maior do que a lei de um idiota chamado Rusk. E há uma lei maior do que a lei de um palhaço chamado Johnson. É a nossa lei, é a lei de cada um de nós, é o direito de cada um de nós dizer que não vamos permitir que eles nos fazem de assassinos contratados. Não vamos matar ninguém a mando deles. E se decidirmos matar, iremos decidir a quem matar. E este país só será capaz de parar a guerra no Vietnã, quando os jovens que são destinados pro combate começarem a dizer: "Não, nós não vamos."

Há um fracasso, porque o Movimento de Paz tem sido incapaz de sair das universidades, onde todo mundo tem uma 2S e não vai ser elaborado de qualquer maneira. Como vocês podem sair dos guetos brancos deste país e começarem a articular uma posição com os alunos brancos que não querem ir. Não podemos fazer isso, é algo às vezes irônico que muitos dos grupos pacifistas têm começando a nos chamar de violentos e dizem que já não podem nos ajudar. Somos, de fato, a organização mais militante em busca da paz ou dos direitos civis ou de direitos humanos contra a guerra no Vietnã neste país hoje. Não há uma organização que atendeu a nossa posição sobre a guerra do Vietnã, porque nós não apenas dizemos que somos contra a guerra do Vietnã, somos contra todo o esquema. Somos contra o projeto. Nenhum homem tem o direito de tomar um homem por dois anos e treiná-lo para ser um assassino. Um homem deve decidir o que quer fazer da sua vida.

Torna-se claro para o povo negro, pois podemos facilmente dizer que qualquer um que luta na guerra no Vietnã é nada menos que um negro mercenário, e isso é tudo o que ele é. Toda vez que um homem negro deixa o país onde ele não pode votar para supostamente entregar o voto para outra pessoa, ele é um mercenário negro. Toda vez que um homem negro deixa este país, leva um tiro no Vietnã em terra estrangeira, e retorna para casa e você não vai dar-lhe um enterro em sua própria terra natal, ele é um mercenário preto, um mercenário negro.

E que, mesmo se eu fosse acreditar nas mentiras de Johnson, se eu fosse acreditar nas suas mentiras que estamos lutando para dar democracia ao povo do Vietnã, como um homem negro que vive neste país eu não iria lutar para dar isto a ninguém. Eu não daria a ninguém. De modo que temos que usar nossos corpos e nossas mentes da maneira que acharmos melhor. Temos que fazer como o filósofo Camus dizendo: "Não!" Esse é o único ato em que começamos a ganhar vida, e que temos que dizer "Não!" para muitas coisas neste país.

Este país é uma nação de ladrões. Ele roubou tudo o que tem, começando com os negros, começando com o povo negro. Como podemos começar a mudar este país do que ele é - uma nação de ladrões. Este país não pode justificar por mais tempo a sua existência, nos tornamos os policiais do mundo, os fuzileiros navais estão à nossa disposição para sempre levar a democracia, e se os vietnamitas não querem a democracia, então caramba, "Vamos apenas mandar-lhes pro inferno, porque eles não merecem viver, já que eles não querem o nosso modo de vida."

Há, em seguida, em um sentido mais amplo, o que você faz no seu campus universitário? Vocês levantam questões sobre os cem estudantes negros que foram expulsos do campus duas semanas atrás? (Oitocentos? Oitocentos?) E como essa pergunta começa a se mover? Vocês começam a se relacionar com pessoas de fora da torre de marfim e da parede universitária? Vocês acham que são capazes de construir esses relacionamentos humanos do jeito que o país está agora? Vocês estão se auto enganando. É impossível para brancos e negros falarem sobre a construção de um relacionamento baseado na humanidade, quando o país está do jeito que está, quando as instituições são claramente contra nós.

Pegamos todos os mitos deste país e descobrimos que eles são nada mais que pura mentira. Este país nos disse que se nós trabalhássemos duro teríamos sucesso, mas se isso fosse verdade teríamos que ser donos desse país. Donos de tudo!


PARTE 5: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power_9012.html

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 3

Black Power Speech (3/7) - Universidade da Califórnia, Berkeley - EUA





PARTE 1: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2013/12/discurso-de-stokely-carmichael-kwame.html
PARTE 2: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power.html

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 3

Os partidos políticos neste país não atendem as necessidades das pessoas no dia a dia. A questão é: como podemos construir novas instituições políticas que se tornarão as expressões políticas das pessoas na base do dia a dia? A questão é: como vocês podem construir instituições políticas que começarão a atender às necessidades de Oakland, Califórnia? E as necessidades de Oakland, Califórnia, não é de 1.000 policiais com metralhadoras não é isso, precisam menos disso tudo. A questão é: Como podemos construir instituições onde as pessoas podem obter empregos decentes, onde podem obter casas decentes, e onde eles podem começar a participar da política e das grandes decisões que afetam suas vidas? Isso é o que eles precisam, não tropas da gestapo, porque não estamos em 1942.

Como podem os brancos passarem a fazer as principais instituições que têm neste país funcionarem da forma como deveriam funcionar? Essa é a questão real. E podem os brancos se moverem dentro de sua própria comunidade e começarem a derrubar o racismo onde de fato existe? São vocês que vivem em Cícero e nos impede de vivermos lá. São as pessoas brancas que nos impede de nos mover em Granada. São as pessoas brancas que nos condiciona a  vivermos nos guetos deste país. são as instituições brancas que fazem isso. Elas devem mudar. Para a América realmente viver em um princípio básico das relações humanas, uma nova sociedade deve nascer. O racismo deve morrer, e a exploração econômica de povos não brancos ao redor do mundo também deve morrer - também deve morrer.

Existem vários programas no Sul, a maioria em comunidades brancas pobres. Estamos tentando organizar brancos pobres em uma base onde podem começar a se mover em torno da questão da exploração econômica e cassação política. Nós sabemos, nós ouvimos a teoria várias vezes, mas poucas pessoas estão dispostas a ir para lá. A pergunta é: Pode o ativista branco não ser apenas uma geração Pepsi que ganha vida na comunidade negra, mas ser um alguém que está disposto a se mudar para a comunidade branca e começar a organizar, onde é necessária a organização?  Pode fazer isso? A sociedade branca ou o ativista branco pode dissociar-se com dois palhaços que desperdiçam tempo aparando uns com os outros ao invés de falar sobre os problemas que enfrentam as pessoas neste estado? Você pode dissociar-se com aqueles palhaços e começar a construir novas instituições que irão eliminar todos os idiotas como eles.

E a pergunta é: Se vamos fazer isso quando e onde é que vamos começar, e como é que vamos começar? Devemos começar a fazer isso dentro da comunidade branca! Na nossa posição pessoal politica não achamos que o Partido Democrata representa as necessidades das pessoas negras. Sabemos que não. Mas, se de fato, as pessoas brancas realmente acreditam nisso, a questão é, se eles estão indo para mover-se dentro dessa estrutura, como eles vão se organizar em torno de um conceito de brancura com base na verdadeira fraternidade e com base de parar a exploração, a exploração econômica, de modo que haverá uma base de coalizão para os negros? Você não pode formar uma coalizão com base no sentimento nacional. Isso não é uma coligação. Se precisa de uma coalizão para corrigir e fazer as mudanças reais neste país, as pessoas brancas devem começar a construir essas instituições dentro da comunidade branca. E essa é a verdadeira questão, eu acho que, de frente para os ativistas brancos de hoje, eles podem, de fato, começar o movimento para derrubar as instituições que nos colocaram em um saco de enganações nesses últimos cem anos?

Eu não acho que devemos seguir o que muitas pessoas dizem que devemos lutar para ser líderes de amanhã. Frederick Douglass disse que a juventude deve lutar para ser os líderes de hoje. E Deus sabe que precisamos ser líderes hoje, porque os homens que dirigem este país são doentes, são lixos. De modo que podemos em um sentido mais amplo começar agora, hoje, para começar a construir essas instituições e lutar para articular a nossa posição, de lutarmos para sermos capazes de controlar nossas universidades - Precisamos ser capazes de fazer isso - e lutar para controlar as instituições básicas que perpetuam o racismo, destruindo-as e construindo novas? Essa é a verdadeira questão que nós enfrentamos hoje, e isso é um dilema, pois nós, em maioria, não sabemos como trabalhar, e a desculpa que a maioria dos ativistas brancos encontram é a de correr para a comunidade negra.

Agora afirmamos que não podemos ter pessoas brancas trabalhando na comunidade negra, queremos dizer em um fundo psicológico. O fato é que todos os negros muitas vezes questionam se eles são iguais aos brancos, porque cada vez que eles começam a fazer alguma coisa, os brancos querem mostrar-lhes como se fazer. Se queremos eliminar isso para a futura geração, então as pessoas negras devem ser vistas em posições de poder, fazer e articular para si, para si próprios.

Isso não é para dizer que é um racismo inverso, é para dizer que se está movendo em uma terra saudável, é para dizer como filósofo Sartre diz: Um está se tornando "racista anti-racista". E este país não pode entender isso. Talvez seja porque está tudo preso em racismo. Mas eu acho que vocês têm na SNCC é um racismo anti-racista. Somos contra racistas. Agora, se todo mundo que é branco ver a si mesmos como um racista e, em seguida, ver-nos contra ele, eles estão falando de sua própria posição a culpa, não a nossa, não a nossa.




PARTE 4: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power_16.html

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 2



Black Power Speech (2/7) - Universidade da Califórnia, Berkeley - EUA
tradução livre Fuca


PRIMEIRA PARTE:Discurso de Stokely Carmichael (Kwame Ture) em 1966

Stokely Carmichael - Discurso Black Power 1966 - Parte 2

Antes de movermos, devemos falar das atitudes da supremacia branca que estavam no pensamento consciente ou no subconsciente e como esses pensamentos existem na sociedade de hoje. Por exemplo, os missionários que foram enviados para a África. Eles foram com o pensamento de que os negros eram automaticamente inferiores. Na realidade, o primeiro ato dos missionários, quando chegaram à África, foi a de nos fazer cobrir nossos corpos, porque eles ficavam excitados. Nós não poderíamos mais ficar com os peitos nus, porque eles ficavam excitados.

Agora, quando os missionários vieram para nos civilizar porque não eramos civilizados, educar-nos porque eramos sem instrução, e nos dar alguns estudos de alfabetização porque eramos analfabetos, eles cobraram um preço. Os missionários vieram com a bíblia, e nós tínhamos a terra. Quando eles partiram, eles tinham a terra, e nós ainda temos a bíblia. E essa tem sido a racionalização para a civilização ocidental e como ela se move através do mundo, roubar, saquear e estuprar todos em seu caminho. No raciocínio deles, o resto do mundo é incivilizado e são eles de fato civilizados. Mas na verdade, eles que são incivilizados. O que temos hoje é o que chamamos de "modernos missionários do Corpo da Paz", eles entram em nossos guetos e dizem sobre vantagens, avanços e sobre as fronteiras com a sociedade branca, porque eles não querem enfrentar o problema real, de um homem ser pobre por uma única razão: porque ele não tem dinheiro - Se você quer se livrar da pobreza, você dá às pessoas o dinheiro - E você não deveria me dizer sobre as pessoas que não trabalham, que você não pode dar às pessoas dinheiro sem trabalhar, porque se isso fosse verdade, você teria que começar a parar Rockefeller, Bobby Kennedy, Lyndon Baines Johnson, Lady Bird Johnson, toda a standard Oil, a Corp Golfo, todos eles, incluindo, provavelmente, um grande número de pessoas do Conselho de Curadores desta universidade. Portanto, a questão não é se uma pessoa pode ou não trabalhar, é quem tem o poder? Quem tem o poder de fazer seus atos serem legítimos? Isso é tudo. E neste país, que o poder é investido nas mãos de pessoas brancas, eles fazem seus atos serem legítimos. É agora, portanto, a hora dos negros fazerem seus atos legítimos.

Estamos engajados em uma luta psicológica neste país, e isto significa se os negros terão ou não direito de usar as palavras que eles querem usar sem precisar da permissão dos brancos, e que mantemos, quer se goste ou não, vamos usar a palavra "Black Power" - e deixá-los dirigir para isso, mas que não vamos esperar por pessoas brancas para sancionar Black Power. Estamos esperando cansados, toda vez que os negros tem que se mover neste país, eles são forçados a defender a sua posição antes. É tempo das pessoas que deveriam estar defendendo a sua posição fazer isso. As pessoas brancas. Elas devem começar a se defender por que elas que são exploradoras e opressoras. Agora é claro que, quando o país começou a se mover em termos de escravidão, a razão para um homem ser escolhido como um escravo era única - por causa da cor de sua pele. Se fosse negro era automaticamente inferior, não era humano e, portanto, apto para a escravidão, de modo que a questão de saber se somos ou não suprimidos individualmente é sem sentido, e é uma grande mentira. Somos oprimidos como um grupo, porque somos negros, não porque somos preguiçosos, não porque somos apáticos, não porque somos ignorantes, não porque fedemos e temos um bom ritmo. Nós somos oprimidos porque somos negros.

E para sair dessa opressão devemos exercer o poder do grupo que se tem, e não o poder individual que este país define com os critérios segundo os quais um homem pode se incluir. Isso é o que é chamado no país de integração: "Você faz o que eu disser para você fazer e, em seguida, vamos deixá-lo se sentar à mesa com a gente." O que estamos dizendo é que temos que ser oposição a isso. Temos agora de estabelecer critérios e que, não será qualquer integração, vai ser uma coisa de mão dupla. Se você acredita na integração, você pode vir morar em Watts. Você pode enviar seus filhos às escolas no gueto. Vamos falar sobre isso. Se você acredita na integração, então vamos começar a adotar algumas pessoas brancas para viver em nosso bairro. Por isso, é claro que a questão não é de integração ou segregação. A integração é a capacidade do homem poder se mover por ele próprio. Se alguém quiser viver em um bairro branco e ele é negro, essa é a sua escolha. Deveria ser o seu direito, mas não, os brancos não iriam permitir, agora vice-versa: se um homem negro quiser viver nas favelas,os negros irão deixá-lo. Essa é a diferença. E é uma diferença em que este país faz com que uma série de erros lógicos quando eles começam a tentar criticar o programa articulado pelo SNCC.

Agora vamos manter que não podemos nos dar ao luxo de nos preocupar com 6% das crianças neste país, as crianças negras, que lhe permitem entrar em escolas de brancos. Temos 94% que ainda vivem em barracos. Estaremos preocupados com os 94%. E vocês devem estar preocupados com eles também. A questão é: Será que estamos dispostos a nos preocupar com os 94 por cento? Estamos dispostos a nos preocupar com os negros que nunca vão chegar a Berkeley, que nunca vão chegar a Harvard, e não podem receber uma educação para que você nunca tenha a chance de conviver com eles e dizer: "Bem, ele é quase tão bom como nós somos, ele não é como os outros" A questão é: Como pode a sociedade branca começar a se mover para ver os negros como seres humanos? Eu sou negro, logo existo, não que eu seja preto e tenho de ir para a faculdade para provar a mim mesmo. Eu sou negro, logo existo. E não me prive de nada e dizer que você deve ir para a faculdade antes de ter acesso a X, Y e Z. Isso é apenas uma racionalização para a própria opressão.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Milton Nascimento - Em nome do Deus - Música

 




Em nome do Deus de todos os nomes
-Javé
Obatalá
Olorum
0ió.

Em nome do Deus, que a todos os Homens
nos faz da ternura e do pó.

Em nome do Pai, que fez toda carne,
a preta e a branca,
vermelhas no sangue.

Em nome do Filho, Jesus nosso irmão,
que nasceu moreno da raça de Abraão.
Em nome do Espírito Santo,
bandeira do canto
do negro folião.

Em nome do Deus verdadeiro
que amou-nos primeiro
sem dividição.

Em nome dos Três
que são um Deus só,
Aquele que era,
que é,
que será.

Em nome do Povo que espera,
na graça da Fé,
à voz do Xangô,
o Quilombo-Páscoa
que o libertará.

Em nome do Povo sempre deportado
pelas brancas velas no exílio dos mares;
marginalizado
nos cais, nas favelas
e até nos altares.

Em nome do Povo que fez seu Palmares,
que ainda fará Palmares de novo
-Palmares, Palmares, Palmares
do Povo!

http://letras.mus.br/milton-nascimento/1281136/

Texto por Dom Pedro Casaldáliga

Em nome de um deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs tem adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vem sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e à morte. No Brasil, na América, na Africa mãe, no Mundo.

Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barata os canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos desaculturados, clandestinos, inviáveis. (Enchem ainda de sub-gente -para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos- as cozinhas, os cais, os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes).

Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinaí Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome do Deus de todos os nomes", "que fez toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue".
Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exílio da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda.

E estão aí, de pé, quebrando muitos grilhões -em casa, na rua, no trabalho, na igreja, fulgurantemente negros ao sol da Luta e da Esperança.
Para escândalo de muitos fariseus e para alivio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa, diante de Deus e da História, esta máxima culpa cristã.
Na música do negro mineiro Milton e de seus cantores e tocadores, oferece ao único Senhor "o trabalho, as lutas, o martírio do Povo Negro de todos os tempos e de todos os lugares".

E garante ao Povo Negro a Paz conquistada da Libertação. Pelos rios de sangue negro, derramado no mundo. Pelo sangue do Homem "sem figura humana", sacrificado pelos poderes do Império e do Templo, mas ressuscitado da Ignomínia e da Morte pelo Espírito de Deus, seu Pai.
Como toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal: celebra a Morte e a Ressurreição do Povo Negro, na Morte e Ressurreição do Cristo.

Pedro Tierra e eu, já emprestamos nossa palavra, iradamente fraterna, à Causa dos Povos Indígenas, com a "Missa da Terra sem males", emprestamos agora a mesma palavra à Causa do Povo Negro, com esta Missa dos Quilombos.

Está na hora de cantar o Quilombo que vem vindo: está na hora de celebrar a Missa dos Quilombos, em rebelde esperança, com todos "os Negros da Africa, os Afros da América, os Negros do Mundo, na Aliança com todos os Pobres da Terra".




segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Revolta dos Malês 24 e 25 de Janeiro de 1835, 179 anos da Insurreição

                          Revolta dos Malês 24 e 25 de Janeiro de 1835, 179 anos da Insurreição 








  “é aminhã, Luiza Mahin falô”
Ouve-se nos cantos a conspiração
vozes baixas sussurram frases precisas
escorre nos becos a lâmina das adages
Multidão tropeça nas pedras
Revolta
há revoada de pássaros
sussurro, sussurro:
“é amanhã, é amanhã.
Mahin falou,” é amanhã”
A cidade toda se prepara
Malês
bantus
geges
nagôs
vestes coloridas resguardam esperanças
aguardam a luta
Arma-se a grande derrubada branca
a luta é tramada na língua dos Orixás
 ”‘é aminhã, é aminhã”
sussurram
Malês
bantus
geges
nagôs
Miriam Alves



       Hauçás, Nupes e outros povos islamizados tornaram-se comuns entre os escravos na Bahia, especialmente a partir de volumosos desembarques de cativos de fala Ioruba no século XIX. As origens       desses escravizados muçulmanos podem estar relacionadas ao contexto próprio das áreas interioranas da Baía de Benin e à jihad do Xeque Usman dan Fordio (morto em 1817), fundador do Califado de Sokoto, promovendo o islamismo militante através de sua cultura de leitura e escrita . Revoltas PELA TOMADA DE PODER foram realizadas pelos Malês a partir de 1807 até 1935, constituídas sempre de uma ampla rede que se comunicava com outros estados como o Rio de Janeiro

   LUIZA MAHIN foi trazida da Costa da Mina (Nagô de Nação), que foi o principal ponto de partida de africanos escravizados durante o século XVIII e início do século XIX. Quitandeira e escrava de ganho, Mahin NUNCA SE SUBMETEU AO CATIVEIRO e vivia na condição de liberta na época da insurreição. “Pagã, pois sempre recusou o batismo e a doutrina cristã” participou também da Sabinada no Rio Janeiro em 1937 (movimento que proclama uma república provisória em repúdio ao poder monárquico central) sendo deportada para África. Segundo seu filho, Solano Trindade, era o último registro do qual tinha conhecimento sobre sua mãe, da qual dizia ter a cor de um preto retinto e sem lustro, “tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa”, ERA UMA REVOLUCIONÁRIA “impaciente, irrequieta e INCAPAZ DE CONFORMAR-SE COM SITUAÇÕES DE INJUSTIÇA”.

   Dos 1500 pretos no processo revolucionário em 1837, 70 tombaram. Alguns foram exilados, mortos ou escravizados pelo arbítrio dos tribunais brancos. Insurgiram-se contra a sociedade baiana cristã e escravista em busca de poder político na forma de cidadania e da libertação de nosso povo apontando um caminho, o da INSURREIÇÃO.

Mahin é sinônimo de luta e de resistência do povo preto

Minha Mãe

Era mui bela e formosa,
Era a mais linda pretinha,
Da adusta Líbia rainha,
E no Brasil pobre escrava!
Oh, que saudades que eu tenho
Dos seus mimosos carinhos,
Quando c‘os tenros filhinhos –
Ela sorrindo brincava.
Éramos dois — seus cuidados,
Sonhos de sua alma bela;
Ela a palmeira singela,
Na fulva areia nascida.
Nos roliços braços de ébano.
De amor o fruto apertava,
E à nossa boca juntava
Um beijo seu, que era a vida.
[...]
Os olhos negros, altivos,
Dois astros eram luzentes;
Eram estrelas cadentes
Por corpo humano sustidas.
Foram espelhos brilhantes
Da nossa vida primeira,
Foram a luz derradeira
Das nossas crenças perdidas.
[...]
Tinha o coração de santa,
Era seu peito de Arcanjo,
Mais pura n‘alma que um Anjo,
Aos pés de seu Criador.
Se junto à cruz penitente,
A Deus orava contrita,
Tinha uma prece infinita
Como o dobrar do sineiro,
As lágrimas que brotavam,
Eram pérolas sentidas,
Dos lindos olhos vertidas
Na terra do cativeiro.
Solano Trindade

Leia também

LUIZA MAHIN: UMA RAINHA AFRICANA NO BRASIL - Aline Najara da Silva Gonçalves em http://www.institutobuzios.org.br/documentos/Luiza%20Mahin_Uma%20Rainha%20Africana%20noBrasil.pdf

 LUIZA MAHIN ENTRE FICÇÃO E HISTÓRIA - - Aline Najara da Silva Gonçalves em http://www.ppgel.uneb.br/wp/wp-content/uploads/2011/09/goncalves_aline.pdf

Luiza Mahin: da carta autobiográfica de Luiz Gama ao romance histórico de Pedro Calmon – - Aline Najara da Silva Gonçalves em
Rebeliões da Senzala – Clóvis Moura em

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Discurso do Stokely Carmichael (Kwame Ture) em 1966

Discurso do revolucionário Stokely Carmichael, conhecido também como Kwame Ture, na Universidade da California Berkeley, EUA, em outubro 1966.
tradução livre Fuca





Muito obrigado. É uma honra estar no gueto dos intelectuais brancos do ocidente. Nós queremos dizer algumas coisas antes de começarmos. A primeira é que, baseado no fato que a SNCC (Student Nonviolent Coordinating Committee), através da articulação deste programa pelo seu presidente, foi capaz de ganhar eleições na Georgia, Alabama, Maryland, e devido a nossa presença aqui poderá ganhar uma eleição na Califórnia, em 1968 irei me candidatar para Presidente dos Estados Unidos...(pausa) Não posso me candidatar pelo fato de eu não ter nascido nos Estados Unidos. É a única coisa que me impossibilita.

Queremos também dizer que, aqui é uma conferencia estudantil, como deve ser realizada em um campus,e que nós não estamos sempre a ser pegos pela masturbação intelectual envolvendo a questão do negro. Essa é a função das pessoas que são anunciantes, mas que se intitulam repórteres. Oh, para meus companheiros e amigos da imprensa, meus críticos brancos autonomeados, eu estava lendo o Sr Bernard Shaw dois dias atrás, e veio uma importante citação, que eu acredito ser apropriada para vocês. Ele diz que “toda critica é uma autobiografia”.

Os filósofos Camus e Sartre levantaram a questão da qual um homem pode ou não se auto-condenar. O filosofo existencialista negro que é pragmático, Frans Fanon, respondeu. Disse que não. Camus e Sartre não eram. Nós no SNCC tendemos a concordar com Camus e Sartre, que um homem não consegue condenar a si próprio. Um exemplo seria os nazistas, qualquer prisioneiro nazista que admitiu,(depois de ser capturado e preso, ter cometido crimes, e ter matado pessoas), cometeu suicídio. Os que permaneceram vivos foram os que nunca admitiram que tivessem cometido tais crimes contra as pessoas, ou seja, acreditavam que os Judeus não eram seres humanos e mereciam a morte, ou que eles estavam apenas cumprindo ordens.

Num cenário atual, os oficiais e a população (a população branca em Neshoba County, Mississipi – onde fica Filadelfia), não condenaram o (Xerife) Rainey, seus adjuntos, e nem os outros 14 homens que mataram 3 seres humanos. Eles não puderam porque eles haviam elegido o Sr Rainey para fazer exatamente o que ele fez, então condená-lo seria praticamente condenar a eles também. Parece-me que as instituições que funcionam no país são claramente racistas, e que elas são construídas com base no racismo. E a questão é, como os negros podem se mover no interior deste país? E então, como é que as pessoas brancas que dizem que não fazem parte dessas instituições começam a se mover? E como, então, podemos começar derrubar os obstáculos que temos na sociedade, para vivermos como seres humanos? Como podemos começar a construir instituições que permitem que as pessoas se relacionem umas com as outras como seres humanos? Este país nunca fez isso, especialmente em torno do país de branco ou preto.

Várias pessoas ficaram irritadas porque nós dissemos que a integração era irrelevante quando iniciada por negros, e que na verdade era um subterfúgio. Vemos que nos últimos seis anos ou mais, este país vem nos alimentando com uma "droga talidomida de integração", que alguns negros estavam andando por uma rua dos sonhos conversando sobre sentar ao lado de pessoas brancas; mas isso não resolve o problema; em Mississippi não fomos para sentar ao lado de Ross Barnett; não fomos para sentar ao lado de Clark, fomos para tirá-los do nosso caminho, e as pessoas devem entender que, nós nunca estivemos lutando pelo direito de integrar, lutávamos contra a supremacia branca.



Agora, então, a fim de entender a supremacia branca, devemos rejeitar a noção falaciosa de que as pessoas brancas podem dar a alguém a sua liberdade. Nenhum homem pode dar a alguém a sua liberdade. Um homem nasce livre. Você pode escravizar um homem depois que ele nasce livre, e é de fato o que este país faz. Ele escraviza os negros depois que eles nascem, de modo que o único ato que os brancos podem fazer é parar de negar aos negros a sua liberdade, ou seja, eles devem parar de negar a liberdade.

Queremos levar isso para a sua extensão lógica, para que possamos entender, então, que a relevância seria em termos de novos projetos de lei de direitos civis. Afirmo que cada projeto de lei dos direitos civis neste país foram feitos para as pessoas brancas, não para as pessoas negras. Por exemplo, eu sou negro, eu sei disso, eu também sei que enquanto eu sou negro, eu sou um ser humano e, portanto, eu tenho o direito de entrar em qualquer lugar público. Os brancos não sabiam disso. Toda vez que eu tentava entrar em algum lugar eles me barravam. Assim, alguém teve que escrever um projeto de lei dizendo para o homem branco, "Ele é um ser humano, não o pare". Esse projeto era para o homem branco, não para mim. Eu sabia disso o tempo todo. Eu sabia o tempo todo.

Eu sabia que podia votar e que isso não era um privilégio, que era meu direito. Toda vez que eu tentava eu era baleado, morto ou preso, espancado ou economicamente carente. Então, alguém teve que escrever um projeto de lei para dizer para as pessoas brancas que: "Quando um homem negro for votar, não incomodá-lo." Esse projeto de lei, novamente, foi para as pessoas brancas, não para o povo negro. E quando falamos sobre ocupação livre, eu sei que posso viver em qualquer lugar que eu queira viver. São as pessoas brancas em todo o país que são incapazes de me permitir viver onde eu quero viver. Você que precisa de um projeto de lei dos direitos civis, não eu. Eu sei que posso viver onde eu quero viver.

As falhas para aprovar uma lei de direitos civis não existem por causa do Black Power, não é por causa do SNCC Student Nonviolent Coordinating Committee, não é por causa das rebeliões que estão ocorrendo nas grandes cidades. É a incapacidade dos brancos de lidarem com seus próprios problemas, dentro de suas próprias comunidades. Esse é o problema do fracasso do projeto de lei dos direitos civis. E assim, em um sentido mais amplo, devemos então perguntar: Como é que as pessoas negras se movem? E o que fazemos? Mas a questão em um sentido maior é: Como as pessoas brancas que são a maioria, e que são responsáveis por assegurar a democracia podem fazê-la funcionar? Eles falharam miseravelmente a este ponto. Eles nunca fizeram com que democracia funcionasse, seja dentro dos Estados Unidos, Vietnã, África do Sul, Filipinas, América do Sul, ou em Porto Rico, onde quer que o americano tenha passado, não foi capaz de fazer a democracia funcionar, de modo que em um sentido mais amplo, não só condenar o país pelo que é feito internamente, mas devemos condená-lo por aquilo que ele faz externamente. Vemos esse país tentando dominar o mundo, e alguém tem que se levantar e começar a articular, pois este país não é Deus, e não pode governar o mundo.



Parte 2: http://spqvcnaove.blogspot.com.br/2014/02/stokely-carmichael-discurso-black-power.html
Discurso na integra (em inglês)
youtube: http://youtu.be/IMYTN0-2ugI
American Rhetoric:
http://www.americanrhetoric.com/speeches/stokelycarmichaelblackpower.html