quarta-feira, 2 de maio de 2018

A noite não adormece nos olhos das mulheres - Conceição Evaristo

A noite não adormece nos olhos das mulheres
      Em memória de Beatriz Nascimento

A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória.

A noite não adormece
nos olhos das mulheres
há mais olhos que sono
onde lágrimas suspensas
virgulam o lapso
de nossas molhadas lembranças.

A noite não adormece
nos olhos das mulheres
vaginas abertas
retêm e expulsam a vida
donde Ainás, Nzingas, Ngambeles
e outras meninas luas
afastam delas e de nós
os nossos cálices de lágrimas.

A noite não adormecerá
jamais nos olhos das fêmeas
pois do nosso sangue-mulher
de nosso líquido lembradiço
em cada gota que jorra
um fio invisível e tônico
pacientemente cose a rede de nossa milenar resistência

– Conceição Evaristo, em Cadernos Negros, vol. 19.

Um ano já se passou: João Victor descanse em paz

João Victor descanse em paz e que sua família tenha conforto nesse momento difícil, carregando uma dor que marca pro resto da vida.

João, já vi semelhantes nossos sendo espancados em postes, e eu acreditando depois de tudo, que aquilo não aconteceria mais, por mais que a ancora do jornal o chamava de marginalzinho incitando sua morte. Lembro, também, da Luana em Ribeirão Preto que morreu após ser espancada por pms, e te juro que acreditei, após tanta brutalidade, que ali pararia essa onda de violência. Mano, chorei ao ver o vídeo do Renatinho (Peterson) pedindo socorro enquanto era covardemente torturado e assassinado por militares da força tática de sp. Acreditei piamente que o Ítalo viveria após ter feito sua ousada peripécia de criança, mas ele pagou com a vida aos 10 anos de idade. Agora, quando assassinaram o sr Luis Carlos Ruas daquela forma desumana e disseram que a estação do metro teria o nome dele, aí eu de novo tive a mesma esperança de que tudo isso acabaria. João, são tantos mal entendidos nesses casos,...de que fizeram confusão no alvo, de que bateram só pra dar um susto, de que teve disparo acidental, de arma que disparou sozinha, de que tava no local errado, casos de legitima defesa, que eu quase acreditei que não era ódio exacerbado contra nosso povo. Quase que me esqueci o que significa segurança pública pra nóis, e que a segurança privada replica os procedimentos e vice-versa. Que não dá pra deixar de lado a campanha 'higienista' propagada pelos governos (de todos os lados)! Ainda com apoio de parcela da sociedade. 

Tá chato esse assunto né mano? Desculpa essa mensagem citando esses acontecimentos, poderia ser uma mensagem leve como uma roupa de presente, um bute, um jogo ou um lanche servido no fim da tarde e não algo póstumo.
Fica meus sentimentos. Descanse em paz.




terça-feira, 24 de abril de 2018

Influência do Pensamento de Stokely Carmichael para o Pan Africanismo

Por Kilombo Favela Rua

Convocamos todas as Pretas e Pretos do Rio de Janeiro, indivíduos ,estudantes, trabalhadores, organizações, coletivos e ativistas e militantes no gera,l para uma reflexão sobre o pensamento político de Stokely Carmichael (Kwame Ture) e a tradição radical preta, autônoma e Pan Africanismo. 

Em nossa atual conjuntura, onde debatemos os rumos políticos e o quanto a força da luta partidária influência o rumo do povo preto no Brasil, os convidamos a trocar essa ideia e conhecendo e analisando o pensamento desse influente teórico do Pan Africanismo e os mecanismos necessários para nossa libertação.

Lançaremos também o livro do Poder Preto ao Pan- Africanismo e faremos uma homenagem a Winnie Mandela.

Quando? 28/04/2018
Que horas ? 15:00
Onde? Rua Uruguaiana , 77 - Museu do Negro

Venham e convidem as pessoas próximas de você.
O conhecimento liberta!

Organização:
UCPA - União de Coletivos Pan Africanistas
Ocupa Alemão Favela/ Quilombo
Kilombo Favela Rua




sexta-feira, 20 de abril de 2018

O aumento da cultura do ódio? - breve nota

A cultura do ódio tem se tornada mais evidente, até mesmo devido os avanços tecnológicos na área de comunicação, mas não necessariamente deve-se pontuar um crescimento de agora. Esse aumento mantêm-se gradativamente, impulsionado pelo contexto histórico-cultural deste projeto de nação chamado Brasil.

A forma como a comunicação se desenvolve na atualidade permite uma interação imediata entre os interlocutores. Antes, essa troca era dada internamente, mais demorada e menos viralizada. Na televisão e no rádio a transmissão de informação, opiniões e doutrinas é feita de forma unilateral. Com o advento das redes sociais na internet, essa interação torna-se massiva, prática e de certa forma resguarda anonimato. Isso encoraja as pessoas a exporem e reproduzirem o que se é acumulado, tem-se maior alcance e é instantâneo.

A história do Brasil, até o surgimento da república e após esse período, tem acontecimentos de extrema violência, dominação (forçada e não forçada), e intolerância. Mas esse país assume um papel nefasto e dissimulado de romantizar a história do processo de consolidação da nação, afirma que que as integrações foram feitas respeitando as diferenças culturais, linguísticas, sociais, religiosas e econômicas.

Começa a aparecer mais facilmente todo ódio contido por trás dos mitos de um país de todos, multicultural, multirracial e de colonização benevolente, pois até então, todo esse ódio que desencadeia uma série de problemas, principalmente violência, estava mascarado. Os grupos detentores de poder puderam tornar seus atos legítimos ao longo de séculos, assim naturalizar essas diversas atrocidades e por muito tempo evitar que se pautasse seriamente o assunto.

Portanto, é preciso analisar e estudar as raízes desse problema que age de forma transversal na diferença de classes sociais, de gênero, mas acimo de tudo, a cultura de quem dominou/colonizou e não apenas se espelhar ou reproduzir o pensamento europeu e a forma de vida nos moldes da civilização ocidental. O complexo de superioridade desse berço civilizatório culmina no desejo de desmantelar outras culturas em nome de uma (ocidental) tida como universal. É inegável que o ódio está atrelado ao medo do outro, medo do estrangeiro e violações de diversos direitos.

Fuca  - 09/2017

terça-feira, 17 de abril de 2018

Koumba Tam - Mateus Aleluia / Léopold Sédar Senghor

Koumba Tam - Letra - Mateus Aleluia

Verde palma vela febre dos cabelos
Acobrei a curva afronte
As pálpebras quebradas dupla face
As fontes seladas
Esse fino crescente esse lábio mais negro e quase pesado
E o sorriso da mulher cúmplice.

As patenas das faces, o desenho do queixo
Cantam mundo acorde
Rosto de máscara serrada ao efêmero
Sem olho, sem matéria
Perfeita a cabeça de bronze
Com sua pátina do tempo
Sem vestígios de pinturas
Nem de rubor, nem rugas, nem de lágrimas, nem de beijos.

O rosto tal qual Deus te criou
Antes mesmo da memória da cidade lembrança da aurora do mundo
Nao te abras
Pra receber no colo meu olhar que te afaga
Adoro-te óh beleza
Com meu olhar monocórdio.

Dorme Koumba Tam
Dorme Koumba Tam
Ela dorme e repousa seu rosto na candura da areia.

Dorme Koumba Tam
Dorme Koumba Tam
Ela dorme e repousa seu rosto na candura da areia.

Adaptado/traduzido do poema: Máscara Negra de Léopold Sédar Senghor




sábado, 9 de dezembro de 2017

17° Encontro dos Filhos da África - Stokely e os Black Panther

Confirme presença no facebook: https://pt-br.facebook.com/events/331257310681805/


O Encontro dos Filhos da África, é uma confraternização Pan Africana, realizado desde 2001. Momento exclusivo de nosso povo.
Tema: Stokely e os Black Panther
Mesa

Raquel Barreto : doutoranda em história pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora da História dos Panteras Negras

Fuca: Orientador socio educativo e rapper no Insurreição CGPP.

Rap
Beto Cruz

Lançamento surpresa:
Um livro de cabeceira sobre os Black Panther

* Contribuições: Suco, frutas e salgados.
Entrada: Franca.




quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Em memória STOKELY CARMICHAEL 29/06/1941 - 15/11/1998

Em memória STOKELY CARMICHAEL 29/06/1941 - 15/11/1998


Stokely Carmichael (Kwame Ture), referência máxima pro povo preto. Uma trajetória brilhante de uma vida dedicada à luta. Um amadurecimento ideológico invejável mesmo antes dos 30 anos de idade e a conduzir grandes movimentos como o Black Power (Poder Preto). Incentivo irrestrito aos estudos pretos e principalmente da história do continente Africano e sua diáspora, para assim definir e seguir uma ideologia coesa visando a emancipação, refortalecimento e reorganização da África para os Africanos, sendo sua evolução máxima o Pan-africanismo. Bastante influenciado por Frantz Fanon, Malcolm X e posteriormente por Kwame Nkrumah, seus discursos e atos eram inflamados e violentos inspirando outros grandes movimentos e lideres como Steve Biko. Com certeza Kwame Ture não injetou a droga talidomida da integração e viveu o amor incondicional pelos Africanos. Casou-se duas vezes, sua primeira esposa foi a cantora sul africana Miriam Makeba e a segunda a médica Marlyatou Barry, da Guiné.



Na década de 60 foi perseguido por Edgar Hoover que tinha medo de surgir um novo messias do nacionalismo preto e mais à frente espalhou, como estratégia de divisão dos movimentos (inclusive o Partido dos Panteras Negras), que Stokely era um agente infiltrado da CIA. Nos anos 70, Ture se mudou para a Guiné, viveu por quase três décadas no continente Africano e fez sua passagem aos 57 anos devido um câncer de próstata. Hoje faz 19 anos de sua morte, mas suas ideias seguirão com nosso povo.

E Bora pro evento, no dia 03/12/2017, o coletivo Ujima Povo Preto vai organizar uma roda de conversa acerca das contribuições do irmão Kwame Ture. só colar https://www.facebook.com/events/511106279253384/



Livros:

Black Power : The Politics of Liberation

Stokely Speaks: From Black Power to Pan-Africanism

Ready for Revolution: The Life and Struggles of Stokely Carmichael (Kwame Ture)