quarta-feira, 22 de abril de 2020

Diário de Bitita – Carolina de Jesus – Breve Nota

Diário de Bitita – Carolina de Jesus – Breve Nota

Tá aí um livro que me surpreendeu, pois com o relato de Carolina de Jesus, deu pra imaginar o cenário racializado do Brasil na primeira metade do século passado. Neste livro, Carolina retrata sua trajetória desde a sua infância até a sua chegada em São Paulo. A meu ver, é uma escrita bem direta, de fato como anotações de um diário com uma pitada de arte literária. Assim o livro vai oscilando entre relatos e literatura; realidade e, o que eu imagino, de ficção.

De uma forma simples, a autora expressa sua visão de mundo e com diversas sacadas que parecem ingênuas no que tange à ciência (sociais, economia, história), mas são bem didáticas, talvez por serem ancoradas no senso comum. Mas, para mim, revelou-se que Carolina de Jesus procurava pensar nos problemas do mundo e pensar numa vida melhor para o país. A diferença é que ela vivia todo aquele turbilhão de mazelas, que se agravava com o estilo seminômade na busca por trabalho e terra.

São situações pesadas, diversas discriminações raciais, condição de miséria e a todo tempo uma vida instável, fazendo-a estar sempre em desajuste social, sobretudo quando se fala de aspecto físico e vestimenta.  Por vezes, ela se encontrou sozinha em sua caminhada e ainda sendo desassistida pelos seus próprios parentes.

Um fato interessante é que muito lhe agradava a figura do presidente Rui Barbosa, do inicio ao fim do livro a autora fez menção a ele, o colocando como um possível salvador da pátria. Getúlio Vargas também foi muito citado.

Vale lembrar que o livro Quarto de Despejo já havia explodido de sucesso, e que o Diário de Bitita foi publicado postumamente, em 1986. Eu, particularmente, curti mais esse último diário. Achei incrível a forma que ela relatou sua infância, e como ela juntou memória, vivência e opinião numa história.

Fuca, Insurreição CGPP, 2020

Infos:
Carolina de Jesus, nasceu dia 14/03/1914 em Sacramento- MG e faleceu em 13/02/1977 São Paulo-SP.

(Nova Fronteira) “Poucos antes de morrer, Maria Carolina de Jesus – a autora de Quarto de Despejo, que na década de 60 teve repercussão internacional de público e crítica – entregou a jornalistas franceses que vieram entrevista-la os cadernos manuscritos que compõem este Diário de Bitita. Neles a autora escreveu sobre sua infância e sua luta contra a miséria e o preconceito racial. Dirigindo um olhar atento à realidade à sua volta e narrando com sensibilidade suas vivências pessoais, Carolina de Jesus criou um texto de força impressionante, que expressa a visão de mundo e também o papel histórico de uma imensa parcela oprimida da população brasileira. Escrito com inteligência e numa linguagem original, Diário de Bitita significa bem mais que um testemunho pessoal: é um exemplo espontâneo de contestação, onde a experiência vivida se torna mensagem literária.”

  



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