Diário de Bitita – Carolina de Jesus – Breve Nota
Tá aí um livro que me surpreendeu, pois com o relato de
Carolina de Jesus, deu pra imaginar o cenário racializado do Brasil na primeira
metade do século passado. Neste livro, Carolina retrata sua trajetória desde a
sua infância até a sua chegada em São Paulo. A meu ver, é uma escrita bem
direta, de fato como anotações de um diário com uma pitada de arte literária.
Assim o livro vai oscilando entre relatos e literatura; realidade e, o que eu
imagino, de ficção.
De uma forma simples, a autora expressa sua visão de mundo e
com diversas sacadas que parecem ingênuas no que tange à ciência (sociais, economia, história), mas são bem
didáticas, talvez por serem ancoradas no senso comum. Mas, para mim, revelou-se
que Carolina de Jesus procurava pensar nos problemas do mundo e pensar numa
vida melhor para o país. A diferença é que ela vivia todo aquele turbilhão de
mazelas, que se agravava com o estilo seminômade na busca por trabalho e terra.
São situações pesadas, diversas discriminações raciais,
condição de miséria e a todo tempo uma vida instável, fazendo-a estar sempre em
desajuste social, sobretudo quando se fala de aspecto físico e vestimenta. Por vezes, ela se encontrou sozinha em sua
caminhada e ainda sendo desassistida pelos seus próprios parentes.
Um fato interessante é que muito lhe agradava a figura do
presidente Rui Barbosa, do inicio ao fim do livro a autora fez menção a ele, o
colocando como um possível salvador da pátria. Getúlio Vargas também foi muito
citado.
Vale lembrar que o livro Quarto de Despejo já havia
explodido de sucesso, e que o Diário de Bitita foi publicado postumamente, em
1986. Eu, particularmente, curti mais esse último diário. Achei incrível a forma que ela relatou sua infância, e como ela juntou memória, vivência e opinião numa história.
Fuca, Insurreição CGPP, 2020
Infos:
Carolina de Jesus, nasceu dia 14/03/1914 em Sacramento- MG e faleceu em 13/02/1977 São Paulo-SP.
(Nova Fronteira) “Poucos antes de morrer, Maria Carolina de
Jesus – a autora de Quarto de Despejo, que na década de 60 teve repercussão
internacional de público e crítica – entregou a jornalistas franceses que
vieram entrevista-la os cadernos manuscritos que compõem este Diário de Bitita.
Neles a autora escreveu sobre sua infância e sua luta contra a miséria e o
preconceito racial. Dirigindo um olhar atento à realidade à sua volta e
narrando com sensibilidade suas vivências pessoais, Carolina de Jesus criou um
texto de força impressionante, que expressa a visão de mundo e também o papel
histórico de uma imensa parcela oprimida da população brasileira. Escrito com
inteligência e numa linguagem original, Diário de Bitita significa bem mais que
um testemunho pessoal: é um exemplo espontâneo de contestação, onde a
experiência vivida se torna mensagem literária.”
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