Nós Matamos o Cão Tinhoso é
um conto de Luiz Bernardo Honwana, foi publicado pela primeira vez em 1964 em
Moçambique. Esta obra faz parte de um livro de sete contos de Honwana sendo
esse o maior deles e o que carrega o titulo do livro. (ou o livro que leva o
titulo do conto).
Bom, se não fosse o fato de
ser considerado um conto clássico, devido principalmente ao contexto histórico
em que foi escrito e lançado, a trama do texto já teria sua importância para
pensar na subjetividade do ser humano. Ginho é uma criança esperta para algumas
atividades, mas se deixa levar facilmente por determinações que outras pessoas
colocam. Ele representa a dúvida, um leque de atitudes para tomar, representa
um momento de escolhas e afirmação! Mas qual caminho seguir?
Sua dúvida maior é a de que
se deveria ou não matar o cão sujo que todos ignoram, nem outros cães chegam
perto dele, por isso Cão Tinhoso, que remete a sujeira/sarna e não a teimosia,
como no português brasileiro. Aliás, o texto que li era o português de
Moçambique e continha algumas expressões próprias de lá, assim como, por vezes,
a linguagem de uma criança, pois Ginho é quem narra o conto.
Apenas Isaura é quem mantém
afeto ao cão, que dá carinho e divide seu lanche com o Cão Tinhoso. Não é a toa
que ela é tida como louca na escola, assim pensam.
Desse modo, trazendo ao
momento político de Moçambique, as décadas de 60 e 70 foram cruciais para as
lutas de libertação e de independência, não só em Moçambique como no continente
africano. Eram lutas violentas contra o poderio colonial, foi um momento de
busca de autodeterminação política e histórica, momento de emancipação, novos rumos
a renascer outros caminhos.
Afinal, que lado o Cão
Tinhoso representa? Por que matar o cão? Quem mandou matar o cão? O que as
crianças armadas representam nesse momento, especialmente Ginho e Isaura? Essas
são algumas das reflexões e analogias possíveis a partir desse conto.
Pra mim o cão tinhoso deveria
representar o sistema colonial! No entanto, tudo indica que o cão demonstra a
situação das pessoas pretas, e Ginho, um menino preto, deveria matar a serviço
e a mando do sistema branco, que procuram justificativas para amenizar as
culpas. Seria, então, Ginho um capitão do mato? E pior, o que nem recebe nada
por isso a não ser o prestígio de ser aceito num grupo...
Enfim, um conto rápido que
evidencia todo esse sistema hierarquizado até os dias de hoje.
Fuca, Insurreição CGPP
2020
Tem a edição de 2017 da
editora Kapulana.
Sobre o Autor
LUÍS BERNARDO
HONWANA nasceu em 1942, na cidade de Lourenço Marques (atual Maputo, capital de
Moçambique), e cresceu em Moamba, cidade do interior, onde seu pai trabalhava
como intérprete. 1964 foi o ano da primeira publicação de Nós matamos o Cão
Tinhoso!. No mesmo ano, Honwana, militante da FRELIMO (Frente de Libertação de
Moçambique), foi preso por suas atividades anticolonialismo, e permaneceu
encarcerado por três anos. Em 1970, foi para Portugal estudar Direito na
Universidade Clássica de Lisboa. Após a Independência de Moçambique, em 1975,
foi nomeado Diretor de Gabinete do Presidente Samora Machel, e participou
ativamente da vida política do país. Em 1982, tornou-se Secretário de Estado da
Cultura de Moçambique e, em 1986, foi nomeado Ministro da Cultura de
Moçambique. Em 1987, foi eleito membro do Conselho Executivo da Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Em 1991, fundou e
foi o primeiro Presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa. Em 1994,
foi convidado para entrar para o Secretariado da UNESCO e foi nomeado Diretor
do escritório regional da organização, com base na África do Sul. Honwana é
membro fundador da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique, da
Associação Moçambicana de Fotografia e da Associação dos Escritores
Moçambicanos. Atualmente, é o diretor executivo da Fundação para a Conservação
da Biodiversidade (BIOFUND).
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