Um discurso de Modibo Keita, Presidente do Mali, contido na rubrica geral de um artigo intitulado "Trabalhadores malianos comemoram com entusiasmo o primeiro de maio de 1967" no órgão de língua francesa da União Sudanesa-RDA. L'Sssor Hebdomadaire (The Weekly Progress), Bamako, Vol 9, No 405, 2 May 1967, pp 4, 5.
Palavras de Independência da África II: Nkrumah, Olympio, Keita e Kaunda. (Pdf aqui) ou no link: https://drive.google.com/file/d/1It8Mjb-riPZAuG7gDUOzu15QJ23GJ_Oz/view?usp=sharing
Como em todos os anos, a liderança nacional do partido e do governo se
junta através de mim nas festividades do primeiro de maio, que é um grande dia
para os trabalhadores.
Este dia se comemora uma importante vitória na luta, muitas vezes
mortal, da classe trabalhadora internacional em alcançar maior bem-estar em um
sistema de produção do qual essa classe é o fator determinante. É tanto uma
luta econômica quanto política, porque a classe trabalhadora compreendeu muito
cedo que para se libertar da exploração depende de certas pré-condições
políticas, cuja realização envolve todo o sistema social.
Em setembro de 1960, através de nossa escolha de soberania total e
completa, que por si só foi um ato de verdadeira revolução, também escolhemos
livremente o caminho socialista para o desenvolvimento após uma análise
objetiva das condições reais de nosso país.
Já dissemos que nosso país, em razão de sua posição no continente, longe
dos portos e isolado dos mercados mundiais, não ofereceu incentivo ao
investimento privado sob o regime colonial.
Em condições como essa, deve ficar claro para qualquer pessoa que a
maior despesa e o maior esforço no desenvolvimento de nosso país devam obrigatoriamente
deixar ao Estado.
Além disso, era impensável, devido às condições sob as quais nossa
batalha pela independência nacional foi travada, uma batalha cujo sucesso
dependia em grande parte do espírito indomável de luta das massas, sob a
liderança dos trabalhadores informados das cidades, que nosso Partido deveria
seguir um caminho diferente para o desenvolvimento, cujo único objetivo seria
colocar a riqueza principal da nação à disposição de toda a comunidade
nacional.
Encaramos qualquer outra escolha simplesmente como traição, que teria
enganado as massas de nosso povo em uma vitória que nunca poderia ter sido
conquistada sem sua participação decisiva.
E assim, hoje, como sempre, a liderança nacional do Partido continua
acreditando que apenas o socialismo, que significa a nacionalização dos
principais meios de produção e planejamento, é a maneira razoável e justa capaz
de tirar nosso país de seu estado de subdesenvolvimento.
Mas não é fácil construir o socialismo, como já descobrimos.
Ontem, na fase inicial da batalha que tivemos que lutar, e na qual a
grande maioria dos trabalhadores desempenhou um papel vital, o problema era
ganhar nossa liberdade, destruir um sistema. Hoje, porém, o problema é
construir um Estado, uma nova nação, recusando-se a aceitar os padrões simples
de submissão, ou seja, procurar encontrar o caminho próprio e original, o
caminho certo para nós, o caminho que melhor se adapte às condições objetivas
de nosso país.
O jogo é extremamente difícil e extremamente delicado.
Gostaria de lembrar aqui a todos os trabalhadores que, assim como antes,
quando estávamos lutando contra a opressão colonial, é seu trabalho dar o
exemplo de devoção e altruísmo nesta nova fase da nossa luta, que podemos e
devemos vencer, desde que não esqueçamos as condições para o sucesso em uma
batalha política.
Antes de tudo, e aqui estou falando para todos os quadros do Partido,
nunca devemos esquecer que a primeira condição para vencer uma batalha política
é o apoio total das massas ou lealdade da maioria, se não de todo o nosso povo,
por nossa política, por nossos objetivos e pelos meios que escolhemos para
alcançá-los.
Agora, temos vinte anos de experiência para mostrar que o povo do Mali
nunca nos negou seu apoio e confiança.
Nosso trabalho, então, e o que nunca devemos esquecer ou negligenciar, é
procurar e encontrar novamente o caminho das massas, permanecer solidamente
juntos e explicar-lhes repetidamente nossos problemas e as soluções escolhidas
pelo Partido como um todo. Esse deve ser o ponto principal de nossa atividade
na situação atual. Se não arcamos com isso, outros que não têm as mesmas razões
que a nossa, de se aproximar às políticas do nosso Partido, assumirão o nosso
lugar - e, obviamente, eles farão isso à maneira deles.
Devemos estar cientes de outro fato fundamental: desde 1960, os
problemas de construção econômica que o país enfrenta se tornam cada vez mais
difíceis, cada vez mais complicados. Como consequência disso, nosso Partido
precisa crescer e seus quadros devem ampliar seus conhecimentos para assumir
novas responsabilidades. É óbvio que, para explicar, convencer e mobilizar o
povo, precisamos primeiro nos conhecer e entender os modos de liderança de um
Estado. E isso, por sua vez, é um trabalho que está rapidamente se tornando
cada vez mais difícil e complexo.
Já sabemos que, à medida que avançamos na aplicação de nossa política de
desenvolvimento socialista, todo tipo de dificuldade é encontrada, o que deixa
as massas mais desconcertadas com os problemas econômicos. Sob tais condições,
devemos estar prontos para os questionamentos que irão nos fazer, porque não
importa para onde se vai, o povo precisa entender, se quisermos avançar.
Os quadros políticos e sindicais devem fornecer as respostas a essas
perguntas, que nunca devem ser consideradas como suspeitas a priori.
A única maneira de os quadros serem capazes de assumir essa tarefa
delicada é continuar com seus estudos intelectuais e ideológicos, para
compreender cada vez mais claramente os problemas complexos de nossa construção
nacional em um mundo dividido, cada vez mais conturbado e inquieto.
Devemos estimular e incentivar o diálogo no Partido e em todas as nossas
organizações democráticas e populares. No entanto, é óbvio que nós, líderes
políticos e administrativos que formam os quadros, não ficaremos tentados a
encorajar o diálogo, mesmo que ele seja o sopro de vida para partidos únicos,
se não temos respostas a oferecer e se estamos confusos diante dos problemas
políticos e econômicos que nos pressionam por todos os lados.
Isso nos dá uma compreensão da perigosa tentação de substituir o método
de persuasão e explicação, o único adequado às nossas políticas, por
restrições, matando assim o espírito da livre discussão, ficaria claro que isso
não teria proveito em um governo como o nosso.
Portanto, é dever dos trabalhadores mobilizar dentro de suas
organizações trabalhistas para torná-las movimentos ativos, cientes do fato de
que são os principais seguimentos interessados, pois são as pessoas que mais se
beneficiam com o advento triunfante de uma economia socialista.
Eles também devem entender que cabe a eles o ônus da vigilância, para
garantir que os princípios democráticos estabelecidos por nosso Partido sejam
aplicados adequadamente.
Os trabalhadores também devem redobrar seus esforços no trabalho
cotidiano e despertar para o fato de que nunca construiremos nosso país com
preguiça, desordem e irresponsabilidade.
Em suma, é essencial que, ao fazermos nossas declarações públicas, elas
devem corresponder às nossas ações cotidianas, os quadros trabalhistas e
políticos em todos os lugares fornecem um exemplo de altruísmo, honestidade e
devoção aos ideais daquele socialismo que prometemos construir.
Desde aquele dia, sete anos atrás, quando aderimos à soberania, que
significa responsabilidade, a liderança nacional nunca traiu sua confiança nos
trabalhadores e em seus líderes.
Em nossos serviços públicos, em todas as empresas e empresas estatais,
grupos políticos e comitês sindicais foram criados.
A liderança nacional do Partido e do Governo apontou repetidamente o
papel adequado dos órgãos desses trabalhadores em nossos serviços públicos,
nossas corporações e empresas estatais, que são a base material da economia
socialista que estamos construindo.
O estatuto geral que rege as empresas nacionais atribui às organizações
de trabalhadores certas responsabilidades reais na administração: enquanto os
órgãos do Partido e da União recebem o trabalho de motivação e controle em
todos os órgãos do Estado.
Além disso, o Partido e o Governo nunca hesitaram em confiar as mais
altas responsabilidades aos quadros treinados na luta sindical.
Mas devemos admitir que algumas fraquezas notáveis vieram à tona.
Frequentemente, as Associações de Trabalhadores da Administração, que
representam uma conquista social da maior importância, se tornaram estrelas,
por assim dizer, e alguns líderes se separam dos outros trabalhadores que eles
representam.
Os comitês do Partido e do sindicato, que deveriam promover uma
concorrência saudável entre os trabalhadores, que deveriam criar novas relações
de cooperação em nossas corporações e empresas estatais, nem sempre tiveram
êxito em suas tarefas.
Além do mais, devemos repetir que a luta contra a fraude e a especulação
não chegou a um fim vitorioso, porque os trabalhadores, apesar de sua maioria,
não conseguiram assumir esta tarefa vital na construção de nossa economia.
Os trabalhadores ainda precisam entender que aqueles que pilharam a
riqueza nacional, aqueles que, por suas práticas fraudulentas, põem em risco
nosso governo socialista e suas realizações altamente importantes, devem ser
rastreados impiedosamente e entregues aos órgãos policiais do Estado.
Em muitos casos, os trabalhadores simplesmente não tinham consciência
política e ainda não conseguiram se livrar de certos complexos que os fazem
sentir que isso seria como caguetar, e não uma demonstração de coragem cívica.
No entanto, devemos compreender que o inimigo mais danoso em nosso
governo é a fraude e a especulação em nossa produção essencial.
Todo membro ativo da União Sudanesa das Repúblicas Democráticas
Africanas, e principalmente os trabalhadores, devem entender que a luta contra
práticas especulativas, uma fonte de inflação e de altos custos de vida, não é
simplesmente o trabalho dos serviços especializados do Estado. A extensão do
crime contra a nação é tão grande que exige a ajuda de todos os membros ativos
para que ele chegue ao fim, com todo o rigor necessário.
Camaradas trabalhadores, Mali tem seus detratores juramentados que veem
apenas nossos problemas, as falhas inerentes a qualquer empreendimento humano,
que fecham os olhos para nossas realizações e nossos sucessos, embora estes
estejam lá para todos verem.
E, portanto, nunca podemos voltar com muita frequência para observar as
realizações do nosso Partido durante os breves sete anos desde que conquistamos
nossa independência de volta.
Todos os membros ativos de nosso Partido e de nossas organizações
democráticas e populares devem estar profundamente cientes do alcance e do
significado dessas realizações, para estarmos mais bem armados contra os inimigos do nosso governo, cuja
propaganda insidiosa deve ser combatida com os fatos que existem, palpáveis e
inegáveis. Devo poupar uma enumeração dessas realizações aqui.
Obviamente, tudo isso não poderia ter sido feito sem alguns erros,
alguns graves, ou sem falhas, algumas amargas.
Mas somos um partido com um longo histórico de lutas feitas de reveses e
sucessos, e por isso nunca tivemos medo de encarar nossos erros de frente, e
realizar nossa própria autocrítica, condição indispensável para nossos futuros
saltos de progresso, e lembrar em todas as circunstâncias que nosso país não pôde
ser construído com calma.
Essa política sempre exigiu um grande esforço de austeridade de todas as
pessoas; ainda exige sacrifícios que o Estado deve distribuir de maneira justa
entre o povo, de acordo com a capacidade de cada um de contribuir.
Aqui, novamente, os trabalhadores, a maioria dos quais são pessoas
privilegiadas em comparação com os camponeses, devem dar o exemplo de altruísmo,
e devem se livrar de uma vez por todas da ideia ultrapassada de direitos
finalmente conquistados.
Em nossa situação atual, não pode haver interesse adquirido, direito
adquirido na perpetuidade, desde que nossa principal preocupação seja
economizar para que possamos investir e lançar as bases para o avanço econômico
de nosso país.
Em suma, deve ficar claro a todos os trabalhadores que os salários em
qualquer Estado moderno só pode ser uma função do volume total de produção, que
se resume finalmente às possibilidades econômicas da nação.
Todos nós, em nossos escritórios, nossas lojas e nossos campos, devemos
perceber que é sendo diligente em nosso trabalho, e aumentando nossa
produtividade, que aumentaremos nossa renda nacional, e, assim, permitir ao Estado
pagar mais aos trabalhadores e elevar seus padrões de vida, que é a aspiração
natural de qualquer estado socialista.
Desde 1966, alguns grandes investimentos foram feitos, com a ajuda de
auxilio externo e os enormes sacrifícios que fizemos. Atualmente, o Estado do
Mali possui uma quantidade muito considerável de capital, cuja administração
adequada deve permitir que nossa economia gere o impulso e a expansão
necessários para resolver nossos problemas financeiros.
A consecução desses objetivos pressupõe uma redução no custo de produção
e uma alta taxa de retorno em todos os setores da economia, graças à
competência e consciência que os trabalhadores demonstram ao motivar as
unidades em que atuam. O principal motor do desenvolvimento econômico é o homem
tecnicamente qualificado e politicamente consciente, que deve sempre procurar
ampliar seu conhecimento técnico e sua formação cultural geral.
O grau de consciência política pode ser medido por certas atitudes que
podem ser vistas todos os dias no comportamento do trabalhador em serviço: o
respeito pelo bem geral e pelo bem público, a lealdade à empresa, demonstrada
não apenas pela pontualidade, mas também por seu trabalho duro e constante
durante o horário de trabalho.
Neste momento, a República do Mali precisa de motoristas que mantenham
seus veículos adequadamente e tenham sempre o cuidado de poupar as despesas do
Estado que devem sair de nossas reservas de moeda. Precisamos de trabalhadores
que evitem todo desperdício de material e toda deterioração de material em
nossas fábricas. Precisamos almoxarifes que vigiem atentamente os estoques
confiados a eles.
Se não conseguirmos mais homens como esses em nossas fábricas e nossos
serviços, nossa experiência será irrevogavelmente comprometida pela mediocridade
e descuido dos homens que devem conduzi-la. Todo trabalhador deve entender que
seu destino está ligado organicamente ao de todos os setores da economia.
Falando novamente sobre uma concorrência saudável, um bom método acaba
de ser colocado em prática no estabelecimento do título de "trabalhador de
vanguarda", como recompensa para os trabalhadores que desinteressadamente
fazem seus trabalhos, tornando-os um exemplo para seus companheiros. Por outro
lado, devemos erradicar o efeito nocivo dos trabalhadores incompetentes e
descuidados. Repito que os responsáveis por nossos serviços públicos e empresas
não devem hesitar em tomar as mais severas sanções contra esses homens.
Camaradas, sempre dissemos que a independência, para nós, não é um fim
em si, mas apenas um meio de libertar nosso país da penúria econômica.
Aqueles que tiveram a coragem política de dizer não à escravidão
e assumir sua independência diante de ameaças e
intimidações não podem vacilar em coragem quando chega a hora de enfrentar
todas as consequências do ato. Ao lutar por nossa soberania, nossa ambição era
e é sair da armadilha do subdesenvolvimento – e poder explorar adequadamente a
grande riqueza de nosso vasto e belo país.
Essa ainda é a mesma batalha. Eu já disse muitas vezes que estamos
destinados a ter sucesso, destinados a vencer a batalha pelo futuro do nosso
país, e também porque não há dúvida de que o resto da África achará impossível
permanecer indiferente à experiência do Mali.
Mais uma vez, a ação dos trabalhadores em seus sindicatos, nos órgãos do
Partido e de outras organizações populares, desempenhará um papel
preponderante, se não determinante, no sucesso desse poderoso trabalho de
renovação nacional.
Irrevogavelmente, votamos em favor do socialismo, porque acreditamos que
esse é o caminho do desenvolvimento que responde às verdadeiras necessidades e
interesses de nossa nação.
O capitalismo, apesar dos prodigiosos avanços que fez para a humanidade
nas áreas da ciência e das técnicas, não conseguiu resolver o problema social.
Falhou em abolir a pobreza entre as grandes massas populares e ainda mantém a
grande maioria das pessoas rigidamente excluídas das riquezas e do prazer de
aprender.
Foi dito que "as civilizações morrem por causa de sua
estreiteza". Quanto a nós, finalmente escolhemos um regime econômico
baseado na propriedade coletiva das grandes riquezas de nosso país, para que
nenhuma minoria monopolize os frutos do trabalho da sociedade, e para que uma
divisão justa do produto do trabalho possa estar subjacente à nossa organização
social.
É assim que nos apresentamos diante de todos os nossos parceiros, que
devem nos aceitar como somos.
A contabilidade da ação do nosso Partido está lá e
é positiva, e claramente visível para todos aqueles
que não são impedidos pelo ódio e pela má fé de vê-la.
Foi antes de tudo nossa soberania inquestionável que nos deu liberdade,
a joia mais brilhante de um povo.
São nossas conquistas nos domínios econômico e social que são a
admiração de todos que vêm visitar nosso país sem ideias pré-concebidas.
Mas o trabalho ainda não está concluído, e o caminho a seguir é longo e
difícil.
A liderança nacional do Partido está convencida de que a tarefa de
renovação nacional à qual nos comprometemos não está além dos poderes de nosso
povo, que escolheram irrevogavelmente a liberdade e um caminho de
desenvolvimento que levará a uma sociedade mais justa e equitativa.
Depende do grau de conscientização dos trabalhadores, sua mobilização
contínua para proteger as realizações de nossa revolução, e a pureza da
orientação de nosso Partido, se nossas ambições e aspirações em direção a um
maior bem-estar na justiça social serão realizadas em breve.
O empreendimento, camaradas trabalhadores, é difícil, mas é também inspirador.
Contudo, a evidência não é suficiente para mostrar que a dificuldade nunca
afastou o povo maliano que se apresenta com alternativas heroicas quando se
depara com questões que envolvem sua liberdade?
Agora digo: tenham coragem e com a garantia de que o sucesso está no fim
do caminho, desde que todos ajudem a preservar a unidade política que nós
trouxemos em nosso país, eu terminarei com o grito, viva o Sindicato Nacional
dos Trabalhadores do Mali. Viva a solidariedade internacional dos trabalhadores
em todos os continentes. Viva a União Sudanesa das Repúblicas Democráticas
Africanas!
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