Metrópoles: a paz atrás da cerca elétrica
“Se conforma
com a paz atrás da cerca elétrica
Se por o pé
pra fora plá plá já era.”
(Há Mil Anos
Luz da Paz, Facção Central)
O objetivo nesta nota
é avaliar os “possíveis” conflitos de classe nas cidades, apenas como nota do
texto “Alguns Aspectos da Dinâmica Recente da
Urbanização Brasileira”, de Marcelo Lopes de Souza. Por isso omiti a questão racial aqui.
Ao tratar a
urbanização brasileira não se pode deixar de analisar o fenômeno da metrópole,
principalmente no que tange a metropolização de São Paulo assim como a do Rio
de Janeiro. É possível apontar que após a consolidação da urbanização e dessas
duas grandes metrópoles na década de 70, vem ocorrendo uma involução
metropolitana, que se dá não pela redução do tamanho urbano, mas, sobretudo,
pela precarização das condições gerais de vida e habitação que abrange a
dimensão espacial e sociopolítica das cidades.
Desde a fase do
capitalismo industrial, constata-se que as cidades se tornam o berço da
burguesia e mais adiante, como consequência da industrialização, o berço do
proletariado industrial. E se o baluarte do capitalismo está no seu
desenvolvimento geográfico desigual, é na cidade que se acirra os conflitos de
classes. (na sociedade moderna) “A história de qualquer sociedade até nossos
dias é a história da luta de classes”. Pois cada classe deverá agir conforme
seus interesses.
São inúmeros os
desdobramentos dessa equação conflituosa, em suma, para apontar dois deles: a
extrema concentração riqueza para a minoria que detém os meios de produção; e a
pobreza para a maioria, que se dá na classe trabalhadora que por vezes não
encontra demanda onde possa vender sua força de trabalho. As metrópoles
mencionadas (RJ e SP) aglutinam essas duas faces socioespaciais.
O grandes centros urbanos
industrializados também são minoritários e maioria das pessoas, para
sobreviver, necessita migrar para esses centros para vender sua força de
trabalho. Ora, se a liberdade que a classe trabalhadora detém é a de “escolher”
onde empregar sua força de trabalho, neste sistema não se vê, enquanto classe,
na liberdade de não empregar sua força de trabalho, que acaba por ser uma liberdade
contraditória. Se torna necessário assim obter uma “aptidão” de mobilidade (qualificação)
para escapar do Exército Industrial de Reserva e por vezes do
“lumpemproletariado”, que cada vez cresce mais nas grandes metrópoles. Quando
uma pessoa ou uma família migra, carrega também sua condição de classe, devido
a isso deve-se compreender tal situação como um desdobramento coletivo e
inserido num contexto de crise global do trabalho e das migrações.
Os conflitos urbanos
estão longe de serem pacíficos, contudo cria-se regionalizações no sentido de
conter a sensação de insegurança, exemplo disso são os condomínios fechados,
que representam a autossegregação, uma maneira ilusória de solução para o
problema das cidades, mas que ancorados nos valores capitalistas, é exemplo de
excelência numa redoma. A favelização se torna uma saída mais barata e
plausível de habitação para quem detém menor poder econômico, e muitas vezes,
são territórios não assistidos pelo Estado, gera-se assim um comando interno
para além do Estado. Já nos espaços neutros que estão a mercê da segurança
pública, com seus espaços públicos ou privados, ocorre a conexão de todas as mazelas,
pois muitas vezes cada território está interligado e mesmo para os que se auto
segregaram, ao sair do portão automático poderá se deparar com algumas
consequências desses conflitos.
Contudo, apenas para provocar, e ainda no âmbito desse conflitos (que não foram elencados aqui), estaria hoje a burguesia mais protegida do que as regiões periféricas das cidades? A cerca elétrica de fato funcionou nesses grandes centros e que não detém tais meios fica a mercê das consequências? Pode ser um convite pra mim mesmo de aprofundar e continuar essa nota pra um texto.
Carlos R. Rocha
(Fuca),
Insurreição CGPP, 2019!
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